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Aula Marianges Rayra Carbonara Inflamação aguda do pâncreas que pode envolver os tecidos peripancreáticos e/ou órgãos à distância. O paciente com pancreatite aguda NÃO está infectado, então não há indicação de antibióticos. ✓ É uma inflamação. Entretanto, no decorrer da pancreatite (grave, principalmente), a partir da segunda semana de pancreatite podem surgir áreas de necrose pancreática → Como os pacientes ficam muito tempo em jejum, pode ocorrer o íleo paralítico (com aumento da permeabilidade intestinal, causando translocação bacteriana que podem infectar as áreas de necrose pancreática). → pode ocorrer supercrescimento bacteriano e aí precisar de antibiótico. ✓ Pacientes graves: Sonda vesical de demora, acesso venoso central → favorece infecção de outros focos. ✓ A infecção também está relacionada com: shunts arterio-venosos, isquemia, iatrogenia/invasão, lesão direta da parede intestinal, imunoparalisia. → 80% das pancreatites são leves. → 20% são moderadas a graves. ✓ Litíase biliar – MAIS FREQUENTE! – causa pancreatite quando os cálculos forem pequenos (microcálculos) ou lama biliar → são capazes de migrar através do colédoco. Quando chegam próximo da papila duodenal, o cálculo obstrui a saída do colédoco e do ducto pancreático, levando a estase pancreática, causando ativação da tripsina → pancreatite. O refluxo biliar do colédoco para o ducto pancreático também pode causar a pancreatite. ✓ Metabólicas o Hipertrigliceridemia (>1.000 – ocorre ativação da tripsina e aí a pancreatite) e hipercalcemia (geralmente crônica). ✓ Tóxicas: Drogas, etanol, veneno escorpião, inseticidas ✓ Infecções, parasitas o Ascaris lumbricoides, CMV, HIV, Caxumba. Para o diagnóstico: geralmente febre baixa + sorologia positiva. ✓ Traumas o Não é causa frequente. O pâncreas é protegido porque todo o seu fluxo sanguíneo é arterial, evitando toxicidade medicamentosa e infecções. Anatomicamente também é bem protegido. Traumas frontais na região do epigastro, comprimindo-o contra a coluna → pancreatite por trauma. ✓ CPRE, papilotomias ✓ Pancreas divisum o Alterações anatômicas por mal formação congênita. Nessa alteração, não ocorre fusão dos ductos pancreáticos no período embrionário - (o principal acaba drenando na papila menor, enquanto a papila maior não recebe fluxo do ducto pancreático, assim, a papila menor não dá conta de drenar todo o fluxo pancreático, causando pancreatite). Não é tão raro, mas só 5% dos pacientes terão alguma repercussão pancreática. ✓ Disfunção Oddi ✓ Lesões císticas / tumores Definição: Etiologias: o Leva à obstrução do ducto por aumento do tumor, causando atrofia pancreática (pode ser aguda e crônica). ✓ Genéticas / Fibrose Cística o Fibrose cística: genes importantes relacionados à pancreatite → Spink1 e PRSS1 ✓ Autoimune o Faz parte da síndrome sistêmica associada ao IgG4 – que não acomete só o pâncreas, mas também de ductos biliares, fibrose retroperitoneal, entre outros. Homens > 50 anos. Imagem apresenta aumento difuso ou focal do pâncreas. É responsivo à corticoterapia (prednisona) – pacientes respondem muito bem. A biopsia fornece o diagnóstico, mas só é feita quando há 2 dos critérios diagnósticos, para evitar pancreatite iatrogênica. ✓ Vasculares ✓ Medicamentos o Geralmente causam pancreatite aguda leve, muitas vezes nem diagnosticada. Ex: estatinas, sulfalazina, azatioprina, ácido valproico, corticoides, IECA, etc Quando o paciente chega na emergência com pancreatite → colher a anamnese, para saber o que ele tem de história prévia (comorbidades e uso contínuo de medicamentos, AINH, etc). Importante interrogar sobre o uso de álcool (pancreatite crônica e aguda). • Álcool → lesão aguda acinar por toxicidade. Mas, geralmente, o álcool causa pancreatite crônica. RESUMO: paciente internou com pancreatite aguda → pensar primeiramente em litíase biliar, que é a principal causa. Investigar a colelitíase com USG de abdome superior. Se aparecer a litíase, o paciente primeiro corrige a pancreatite e depois retira a vesícula, resolvendo completamente. • Se não é litíase e não há dados conclusivos na anamnese → Pedir cálcio e triglicerídeos. o Se tem alteração em algum desses, essa é a causa. Tratamento clínico medicamentoso. • Ausência de alteração em cálcio e TG → pedir exame de imagem mais sofisticado (RM). o RM para avaliar litíase residual no colédoco e neoplasias. • Ressonância magnética normal. E agora? O próximo exame a ser pedido é a ecoendoscopia e IgG4. o Ecoendoscopia → pode mostrar microcálculos não detectados anteriormente; o IgG4 → pancreatite aguda autoimune. Quando o paciente tem pancreatites agudas recorrentes/lesão crônica sem outros diagnósticos → tem indicação de investigar a genética. • Teste inicial (screening): sódio e cloro no suor → sugere fibrose cística quando alterados. Aí pede-se pesquisa de mutações no gene PRSS1 e Spink1. Ter em mente que mais ou menos 20% das pancreatites são IDIOPÁTICAS (sem causa definida). Ordem de pedido de exames: USG abdome superior → cálcio e triglicerídeos séricos → ressonância magnética → ecoendoscopia e IgG4. Se pancreatite aguda recorrente/lesão crônica sem alteração nos exames anteriores: sódio e cloro no suor → mutação nos genes PRSS1 e Spink1. Baseado em 3 fatores: clínica, laboratório, exames de imagem. 1. Critérios clínicos: dor abdominal típica; náuseas/vômitos; 2. Critérios laboratoriais: elevação de amilase/lipase; 3. Critérios de imagem: sinais de pancreatite aguda ou agudização de doença crônica. PELO MENOS 2 dos 3 DEVEM ESTAR PRESENTES!!! - - - - -. 1 L----------- Diai!nóstico: Dor, náuseas e vômitos (dor com irradiação para dorso, em faixa → típica de pancreatite) Situações especiais: • Ausência de dor (ou dor atípica); • Falências orgânicas dominam a apresentação – instabilidade hemodinâmica – hipotensão, choque, insuf respiratória, insuf renal, etc Geralmente inocente. Mas, pode haver distensão abdominal, íleo adinâmico, peritonismo, Sinal de Cullen (equimose periumbilical) e Grey Turner (equimose nos flancos). • Na maioria dos pacientes os sinais de Cullen e Grey Turner NÃO estarão presentes!! As vezes nem a irritação peritoneal estará presente. O quadro, na maioria das vezes, envolve uma dor muito intensa que não condiz com o exame físico. Amilase e Lipase: AMILASE • Pode pedir só amilase, que tem uma boa sensibilidade para diagnóstico de pancreatite aguda; • Falsos-negativos da amilase: pancreatite crônica agudizada e hipertrigliceridemia; • Falsos-positivos: insuficiência renal, macroamilasemia, miscelânea; LIPASE • É mais específica de pâncreas (porque a amilase pode ser produzida por outros órgãos); • Maior interferência em situações de insuficiência renal. Quando as duas estão alteradas → bem provável que tenha origem pancreática!! USG → não é bom para pâncreas (porque é retroperitoneal). Mas DEVE SER SOLICITADO PARA TODO PACIENTE COM PANCREATITE AGUDA para saber se a causa é litíase biliar. TC de abdome → quando há dúvida no diagnóstico (diagnóstico não fechado pela clínica e laboratório) ou insuficiência orgânica persistente (após 48h), pede-se uma tomografia de abdome. ✓ Boa para estratificação de risco e detecção de complicações, como necrose e coleções bacterianas. ✓ No início do quadro a TC não serve para avaliar gravidade → só é solicitada se quadro arrastado e dúvida diagnóstica. o Início da pancreatite → é quando inicia a dor! Nenhum deles é suficiente para avaliar a gravidade, principalmente no início da pancreatite (esperar 48h). ▪ Critérios de Ranson → ≥ a 3 indica quadros graves – não precisa decorar os critérios. ▪ APACHE II → ≥ a 8 indica quadros graves. Indica a gravidade no momento que é realizado. Quadro clínico: Exame físico: Alterações laboratoriais: Exames de imagem: Avaliação daGravidade ▪ Escore de Balthazar-Ranson → ≥ a 6 indica quadros graves. Mostra necrose (o original não incluía). Só considera alterações locais do pâncreas, não leva em consideração o paciente todo. ▪ Revisão da Classificação de Atlanta – mais recomendada! → Leva em consideração complicações locais, sistêmicas e falência de órgãos. o Pancreatite aguda leve → ausência de falência organiza, de complicações locais ou sistêmicas; o Pancreatite aguda moderada → falência organiza transitória (< 48h), presença de complicações locais ou sistêmicas; o Pancreatite aguda grave → falência orgânica persistente. Indicação de UTI! JEJUM (inicialmente apenas) + HIDRATAÇÃO + ANALGESIA → 3 pilares do tto da pancreatite. 1. Medidas gerais 2. Reposição volêmica → MAIS IMPORTANTE!! Irriga os tecidos, evitando falência orgânica. 3. Analgesia 4. Nutrição 5. Antimicrobianos - somente se infecção associada 6. Endoscopia 7. Cirurgia 1. Medidas gerais: internação, monitoração de sinais vitais, saturação de O2, controle de diurese. 2. Reposição volêmica: cristaloides (Ringer lactato ou SF). Manter diurese > 0,5ml/Kg/h Cálculo da reposição: 30 a 40ml/kg em 24h, sendo a metade nas primeiras 6 horas e o restante nas próximas 18h. 3. Analgesia: Analgésicos simples EV Opioides EV – tramadol + antiemético, morfina AINH geralmente não são utilizados – nefrotoxicidade, podem causar pancreatite medicamentosa, lesão péptica. Não é um erro prescrever, até pode, mas tem que ter cuidado. 4. Nutrição: Formas leves: sem necessidade de manejo nutricional específico; Formas graves → na impossibilidade de alimentação oral: ✓ Dieta enteral, SNE x SNG ✓ Dieta parenteral (quando não for possível utilizar a via enteral) Não é vantajoso manter o paciente em jejum prolongado se ele tolera a dieta. Geralmente deixamos em jejum porque eles não toleram – mas o curso da doença acaba sendo pior quando há jejum. Procurar não passar de 48h sem dieta. 5. Antimicrobianos: Somente se infecção!! Maioria dos pctes com pancreatite NÃO ESTÃO INFECTADOS. • Colangite bacteriana aguda; Tratamento: • Colecistite aguda; • Necrose pancreática infectada. 6. Endoscopia: CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica) - com papilotomia e remoção de cálculos biliares em 48-72h. Indicações: ✓ Colangite bacteriana aguda; ✓ Colecistectomizados com pancreatite aguda biliar; ✓ Obstrução biliar por cálculos. A CPRE é usada para TRATAMENTO, antigamente era usada para diagnóstico, mas é um procedimento invasivo. Então, utiliza-se a colangioRM para fins diagnósticos. • Sempre que o paciente tem coledocolitiase há indicação de CPRE para retirada do cálculo. Obs: geralmente os cálculos têm um curso natural de passar pelo colédoco e ir para o intestino sem intervenção. Mas, se ele impactar na papila com sinais de piora da colestase, aumento da icterícia e aumento da dilatação da via biliar com imagem de cálculo impactado → indicação de CPRE e depois colecistectomia. 7. Cirurgia: Colecistectomia → para TODO paciente com pancreatite aguda de ETIOLOGIA BILIAR. Necrosectomia → para casos de necrose infectada com evolução desfavorável. Na maioria das vezes não é necessária. Conclusões: Pancreatite aguda é patologia de grande relevância na prática clínica; Frequentemente encontrada nas salas de emergência; As formas leves são as mais frequentes e autolimitadas; As formas graves levam a necessidade de internações prolongadas e alta mortalidade.
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