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GESTÃO EDUCACIONAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA Pablo Rodrigo Bes Gestão das políticas públicas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a base das políticas públicas para a educação. Reconhecer a hierarquia da legislação para a organização da gestão educacional. Relacionar gestão educacional e políticas públicas. Introdução As políticas públicas representam os esforços do Estado para atender às demandas sociais existentes no território brasileiro, procurando sempre o benefício da coletividade. Na área da educação, as políticas públicas fornecem as condições necessárias para que os gestores desempenhem com eficiência as suas atribuições, assegurando o direito à educação que todo cidadão brasileiro possui constitucionalmente. Neste capítulo, você vai conhecer as bases das políticas públicas educacionais. Você também vai verificar a hierarquia existente entre essas políticas e o modo como elas organizam a gestão do setor educacional. Além disso, vai ver como as políticas públicas se relacionam com a gestão das instituições de ensino. Políticas públicas educacionais Para começar, você deve entender o que é uma política pública e quais são as suas fi nalidades. Em síntese, uma política pública visa ao atendimento de alguma demanda social existente. Assim, ela consiste em uma ou mais ações propostas pelo Estado, que procura cumprir as suas atribuições perante a sociedade. Ou seja, para administrar ou realizar a gestão nacional de todas as áreas, a União procura criar ações, planos e programas a fi m de organizar e conduzir os segmentos que estruturam o País, e um desses segmentos é a educação. Veja o que Souza (2003, documento on-line) comenta sobre a área das políticas públicas: Campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações e/ou entender por que e como as ações tomaram certo rumo em lugar de outro (variável dependente). Em outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele através do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão os resultados ou as mudanças desejadas no mundo real. Quando as políticas públicas do governo se relacionam com o campo edu- cacional, passam a ser definidas de forma mais restrita. Nesse sentido, “[...] entende-se por políticas públicas educacionais aquelas que regulam e orientam os sistemas de ensino, instituindo a educação escolar” (OLIVEIRA, 2010, p. 99). Ou seja, para compreender como o sistema de ensino é organizado e regulado e conhecer as orientações referentes ao setor educacional, basta conhecer as políticas públicas educacionais vigentes na atualidade, bem como em cada época histórica em que se tenha interesse. Você deve notar, porém, que o campo das políticas públicas educacionais é muito amplo. Ele envolve questões financeiras, de estruturação curricular e relativas a avaliações, bem como aspectos voltados à formação e à capacitação docente, à educação inclusiva, entre muitos outros. Assim, esse contexto exige empenho para ser conhecido em sua totalidade. Um aspecto importante a respeito das políticas públicas educacionais é o seu embasamento legal, ou seja, os marcos legais sobre os quais todas as políticas educacionais se assentam e costumam ser enquadradas para que sejam produzidas pelo Estado. Esses marcos legais têm como base principal a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN, Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996). A Constituição Federal de 1988 é a lei máxima do Brasil e ocupa o primeiro lugar na hierarquia das leis nacionais. Portanto, todas as áreas que produzirem políticas públicas, incluindo a educacional, não poderão deixar de considerar os preceitos estabelecidos na Constituição Federal. No Capítulo III, Seção I — Da Educação, há várias menções ao direito social do cidadão brasileiro à educação. O art. 205 estabelece que “[...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988, documento on-line). Gestão das políticas públicas2 Além de estabelecer o direito à educação, citando as finalidades da educação escolar e os agentes envolvidos na sua garantia (Estado, família e sociedade como um todo), a Constituição Federal estabelece, no art. 22, inciso XXIV, como uma das competências privativas da União legislar sobre as “[...] diretri- zes e bases da educação nacional” (BRASIL, 1988, documento on-line). Para atender a essa atribuição, impulsionada pelo sentimento de redemocratização e de busca por uma condição de cidadania mais consistente no Brasil, foi formulada a LDBN, homologada em 1996 (BRASIL, 1996). Essa lei continua em vigência até hoje, sendo um documento vivo, constantemente atualizado por novas emendas constitucionais, leis e resoluções pertinentes ao campo educacional. Assim, as políticas públicas educacionais brasileiras seguem os preceitos existentes na Constituição Federal e na LDBN. As políticas educacionais costumam ser formuladas pelos órgãos da administração direta do Ministério da Educação (MEC), que envolvem as suas secretarias: Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica; Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação; Secretaria de Educação Básica; Secretaria de Alfabetização; Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior; Secretaria de Educação Superior. A estrutura de subordinação direta do MEC é complementada ainda pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos e pelo Instituto Benjamin Constant. Além disso, as políticas públicas educacionais podem ser construídas a partir do trabalho dos órgãos da administração indireta, entre eles o Instituto Na- cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A LDBN atual organiza a estrutura do sistema educacional brasileiro, que, segundo Saviani et al. (1996, documento on-line), “[...] é a unidade de vários elementos intencionalmente reunidos, de modo a formar um conjunto coerente e operante”. Esse sistema é composto por: sistema federal de ensino; ■ sisitemas de ensino estaduais e do Distrito Federal; – sistemas de ensino municipais. 3Gestão das políticas públicas Cada sistema possui instituições de ensino e órgãos responsáveis por sua gestão, bem como conselhos que atuam na construção das políticas públicas educacionais requeridas nos respectivos territórios. Além disso, a formulação de políticas públicas educacionais procura acompanhar a tendência interna- cional, reportando-se aos documentos da área da educação produzidos por organismos multilaterais, como o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Para que os gestores das escolas públicas realizem as atribuições de seus cargos, devem levar em conta os princípios da gestão pública estabelecidos na Constituição Federal. Esses princípios são conhecidos pelo acróstico L.I.M.P.E., que significa: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Hierarquia e organização da legislação educacional Como você já sabe, o sistema educacional brasileiro é organizado a partir da LDBN, sendo dividido em: federal; estadual e distrital; e municipal. Em relação às políticas públicas educacionais, é importante você notar que, embora possa haver casos específi cos em que os municípios legislam sobre os aspectos educacionais, todosos entes federativos devem atender à Constituição Federal e à LDBN. Além disso, ao propor as suas políticas educacionais, devem contemplar alguma das 20 metas do Plano Nacional de Educação: 2014–2024 (PNE). Portanto, existe uma hierarquia nas leis que regulam a educação, bem como nos respectivos órgãos responsáveis por essas leis em cada esfera adminis- trativa. Ou seja, um estado ou município, ao criar uma resolução ou lei, deve elaborá-la em consonância com as instâncias superiores que a antecederam, como você pode ver na Figura 1, a seguir. Gestão das políticas públicas4 Figura 1. Hierarquia das leis da educação. Para entender melhor como funciona a hierarquia existente nas legislações da área da educação, acompanhe o exemplo a seguir. Um município brasi- leiro possui seu respectivo Plano Municipal de Educação e sua Secretaria de Educação, bem como um Conselho Municipal de Educação (CME) atuante e composto de forma participativa e democrática. Esse CME, composto por vários representantes da sociedade civil e da esfera administrativa municipal, resolve, por meio de análises e deliberações, tornar obrigatória em seu muni- cípio a educação infantil a partir dos 3 anos de idade. Essa decisão é ilegal, pois contraria as determinações da Constituição Federal, que, em seu art. 208, alterado pela Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009, estabelece o ensino escolar obrigatório dos 4 aos 17 anos de idade para todo o sistema educacional brasileiro (BRASIL, 1988; 2009). Outro exemplo seria o de um diretor de escola que resolve que a institui- ção de ensino que dirige vai ter somente 180 dias letivos em seu calendário. Essa é uma atitude equivocada e ilegítima, pois o calendário escolar já está regulamentado pelo art. 24, inciso I, da LDBN (alterado pela Lei nº. 13.415, de 16 de fevereiro de 2017) (BRASIL, 1988; 2017). Tal artigo define que o ano escolar tem 800 horas distribuídas em, no mínimo, 200 dias letivos. Assim, cabe aos gestores das escolas cumprir tal determinação, podendo ampliá-la, se for o caso, mas não diminuir a programação. 5Gestão das políticas públicas A hierarquia existente entre as legislações e os entes federativos colabora para que se organize de forma mais eficiente o trabalho a ser desenvolvido nas instituições de ensino de todo o País. Como você pode imaginar, isso contribui para que os princípios da gestão pública sejam postos em prática também no setor educacional. Os princípios constitucionais da gestão pública, que se aplicam a todos aqueles que administram algum órgão público, em qualquer segmento de atuação, são os seguintes: legalidade; impessoalidade; moralidade; publicidade; eficiência. Os princípios da administração pública estão previstos no art. 37 da Cons- tituição Federal e se aplicam aos servidores que atuam em órgãos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. O princípio da legalidade estabelece que os atos realizados por um gestor público devem estar previstos em lei (BRASIL, 1988). Daí a importância das políticas públicas para a área educacional, uma vez que os gestores da escola dependem delas para atuar em várias dimensões do seu gerenciamento. O princípio da impessoalidade existe para garantir que as relações desenvolvidas pelos gestores e pelas pessoas que usufruem dos serviços prestados tenham uma finalidade pública, coletiva e não pessoal ou com favorecimentos indevidos. Por sua vez, o princípio da moralidade existe para que se busque nos atos realizados um compromisso com a ética e com os bons costumes. A publicidade estabelece o caráter da transparência tão necessária aos gestores públicos; nesse sentido, os atos realizados devem ser sempre tornados públicos. E a eficiência exige do gestor que cumpra com o má- ximo de competência, presteza e perfeição aquilo de que está incumbido em seu cargo. Os princípios da gestão pública se aplicam também aos gestores educa- cionais, em todas as esferas administrativas. Eles proporcionam, assim, uma melhor atuação em busca do bem público e do atendimento das demandas sociais referentes à oferta de uma educação de qualidade a todos os bra- sileiros. Além disso, para que possam atuar dentro de suas instâncias, os gestores precisam respeitar as legislações existentes, como você viu. Isso costuma ser realizado, na esfera educacional, a partir da relação hierárquica e complementar das leis. Gestão das políticas públicas6 Ou seja, um Conselho Municipal de Educação, ao ser acionado por uma demanda gerada por um diretor de escola, vai reunir-se para deliberar sobre o caso. Vai também consultar legislações, normas, programas e políticas educacionais já existentes sobre o caso em questão em todas as demais esferas administrativas. Para isso, deve partir das próprias normativas, das leis orgâni- cas municipais e das resoluções da Secretaria Municipal de Educação. Também deve consultar o Conselho Estadual de Educação e as suas normatizações, bem como o estabelecido pela Secretaria Estadual de Educação, seguindo rumo a uma análise mais ampla de todas as políticas públicas educacionais em vigor criadas pelo MEC. A ideia é que o Conselho produza o seu parecer e resolva o impasse de uma forma que respeite a legislação. Perceba que nessa busca muitas vezes são encontrados subsídios que resolvem o impasse e que produzem uma resposta consistente em propostas anteriores de outro ente federativo. Essas relações de consulta e de complementaridade do trabalho de gestão educacional se potencializam a partir de alguns órgãos colegiados. É o caso da União Nacional dos Dirigentes Municipais (Undime) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Esses órgãos se reúnem sistematicamente para debater as demandas educacionais em seus níveis de atuação e encontrar soluções conjuntas para elas, bem como para trocar conhecimentos e boas práticas, tão importantes para a educação. Como você pode verificar, a educação no Brasil é promovida a partir de um rol de leis e normas que compõem as políticas públicas educacionais e que, por meio de sua hierarquia, organizam o funcionamento das instituições de ensino que integram o sistema educacional brasileiro. Dessa forma, cabe aos gestores escolares o preparo técnico e profissional necessário para que se apropriem de tais políticas educacionais e da legislação pertinente à sua área de atuação. A ideia é que os gestores cumpram com eficiência as suas atribuições, como você vai ver na próxima seção. O Plano Nacional de Educação, que possui vigência decenal, é muito importante para o sistema educacional brasileiro. Esse documento apresenta 20 metas que se referem à educação básica, ao ensino superior e aos aspectos do financiamento da educação. A partir do PNE e de suas metas, são construídos os planos de educação estaduais e municipais. Procure saber se o seu município já possui um plano municipal de educação e aproprie-se do plano de educação de seu estado. 7Gestão das políticas públicas Gestão educacional e políticas públicas A gestão de uma escola se relaciona intimamente com as políticas públicas educacionais, que dão subsídios ao gestor para cumprir as suas atribuições. Antes de explorar essa relação entre a gestão educacional e as políticas pú- blicas, que tal retomar o conceito de gestão escolar? Veja o que afi rma Lück (2009, p. 23): A gestão escolar constitui uma das áreas de atuação profissional na educação destinadas a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a coordenação, o monitoramento e a avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais orientadas para a promoção da aprendizagem e a formação dos alunos. Para realizar as suas atribuições na escola, que compreendem o planeja- mento, a organização, a direção e o controle das atividades internas, estendendo essa atuação para as dimensões administrativa, financeira, de gestão de pes- soas e pedagógica, os gestores escolaresse valem das políticas públicas que regulam os processos de cada dimensão. Além disso, exercem a sua função de liderança para motivar e conduzir o grupo de profissionais da educação que atua na escola a cumprir seus papéis com eficiência em busca dos objetivos finais da educação escolar. Assim, o gestor escolar, o diretor e a sua equipe gestora devem pôr em prá- tica os princípios constitucionais da gestão pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Para que isso ocorra, é necessário que a gestão das instituições de ensino execute as políticas públicas educacionais, uma vez que elas são políticas de Estado e visam a determinar, nortear e conduzir as práticas educacionais realizadas nas escolas, atendendo ao direito social à educação. Assim, existe uma relação direta da gestão da escola com as políticas públicas educacionais, que fornecem os preceitos legais e as normas a serem postas em prática na gestão das instituições de ensino. Uma boa maneira de analisar as políticas públicas em torno das atribuições da gestão da escola é verificar como elas se distribuem em relação aos funda- mentos básicos da gestão: o planejamento, a organização, a direção (envolvendo coordenação e liderança) e o controle. É o que você vai ver a partir de agora. Como você já deve ter notado, o planejamento de uma escola vai muito além de uma simples função gerencial, pois costuma ter caráter pedagógico. Ele é utilizado tanto para prever ações administrativas necessárias quanto para preparar aulas e cumprir as políticas públicas curriculares que a escola deve Gestão das políticas públicas8 colocar em prática durante o ano letivo. Cabe ao gestor da escola, nesse caso, seguir as determinações existentes na LDBN, no Plano Nacional de Educação e nas respectivas legislações curriculares atuais, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para as modalidades de ensino sob sua gestão. Você já viu que o princípio da legalidade exige que o gestor educacional conheça amplamente as políticas públicas educacionais postas em prática na instituição de ensino que dirige, não é mesmo? Em seu art. 12, a LDBN lista as incumbências dos estabelecimentos de ensino. Veja: Art. 12 Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I — elaborar e executar sua proposta pedagógica; II — admnistrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III — assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV — velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V — prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI — articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII — informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº. 12.013, de 2009) VIII — notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei; (Redação dada pela Lei nº. 13.803, de 2019) IX — promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei nº. 13.663, de 2018); X — estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas; (Incluído pela Lei nº. 13.663, de 2018); XI — promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias de prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas (BRASIL, 1996, docu- mento on-line). Perceba que as incumbências que os gestores da escola devem colocar em prática são múltiplas e que a LDBN é uma lei viva, constantemente atualizada a fim de abranger as novas demandas sociais para as quais a escola é convocada a prestar os seus serviços. Note, por exemplo, que a lei inclui as temáticas da violência escolar, do bullying, da busca por uma cultura de paz e do enfren- tamento da drogadição. O desconhecimento desses aspectos presentes na lei que é a base para a educação nacional pelo diretor da escola pode fazer com que ele simplesmente deixe de atuar em algumas dessas incumbências, não agindo, assim, de forma eficiente em relação aos seus objetivos. 9Gestão das políticas públicas Colombo (2004, p. 33) destaca que “[...] cabe também ao gestor educacional determinar, de acordo com as competências das áreas e as respectivas equipes, os limites de responsabilidades e autoridades, incentivando a cooperação entre os seus membros e prevenindo possíveis conflitos interpessoais”. Dessa forma, para conduzir a escola rumo aos seus objetivos — normal- mente propostos no projeto político-pedagógico e alinhados com as políticas públicas vigentes —, o gestor deve exercer a sua liderança junto ao grupo, realizando a gestão de seu pessoal de forma participativa e promovendo a colaboração de todos. A fim de determinar, dirigir e controlar as competências inerentes à sua equipe, o gestor deve conhecer muito bem as políticas públicas educacionais que cercam as áreas de atuação de cada um. Por exemplo, como um diretor de escola da educação básica pode verificar se o planejamento pedagógico das aulas está sendo realizado de acordo se desconhece o que determina a BNCC? Ou ainda: como vai reportar-se ao conselho tutelar quando necessário se os mecanismos de controle de frequência utilizados em sala de aula não estiverem sendo aplicados corretamente pelos docentes? Perceba como as ações da gestão estão cotidianamente ligadas aos aspectos das políticas públicas e às suas normatizações. Você ainda deve considerar que a equipe gestora da escola costuma se organizar a partir dos cargos de diretor, vice-diretor, supervisor/coordenador pedagógico e orientador educacional. Todos devem se inteirar das políticas públicas educacionais pertinentes às suas respectivas áreas de atuação. Dessa forma, estarão cumprindo o princípio da eficiência em suas ações e a escola poderá atingir os seus objetivos educacionais, ofertando uma aprendizagem de qualidade e significativa aos alunos que a frequentam. Hengemuhle (2004, p. 193) destaca que “[...] também o setor de documentação escolar (secretaria) precisa estar em consonância com o planejamento, em especial com o regimento escolar, que regulamenta, entre outras coisas, a vida institucional dos alunos”. Ou seja, a secretaria também é um importante instrumento de apoio para que os gestores coloquem em prática as inúmeras políticas públicas educacionais a seu encargo. Gestão das políticas públicas10 As ações de planejamento podem ser consideradas a principal função da gestão pública e se estendem também às questões financeiras a serem geridas pelo gestor da escola. Isso fica evidente na Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas para a gestão fiscal das finanças públicas e comenta que “[...] a responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação plane- jada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas” (BRASIL, 2000, documento on-line). Dessa forma, o gestor escolar é o agente fiscal responsável pelo plane- jamento e pela devida utilização dos recursos financeiros que chegam até a escola pelos inúmeros programas e políticas públicas de financiamento da educação escolar. É o caso dos recursos relativos ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e de todos os demais programas administrados pelo FNDE, como o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), o Caminho da Escola, entre outros. Outro importante aspecto a ser considerado na gestão de estabelecimentos de ensino está postodesde a Constituição Federal de 1988 e é reforçado pela LDBN: a gestão democrática. Esse é o modelo de gestão a ser utilizado nas escolas que compõem o sistema educacional brasileiro. A LDBN explicita, em seu art. 3º, que “[...] o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VIII — gestão democrática do ensino público, na forma da Lei e da legislação dos sistemas de ensino” (BRASIL, 1996, documento on-line). Ao analisar a gestão democrática proposta, Libâneo (2004, p. 217) argu- menta o seguinte: Muitos dirigentes escolares foram alvos de críticas por práticas excessivamente burocráticas, conservadoras, autoritárias, centralizadoras. Embora aqui e ali continuem existindo profissionais com esse perfil, hoje estão disseminadas práticas de gestão participativa, liderança participativa, atitudes flexíveis e compromisso com as necessárias mudanças na educação. A gestão democrática é mais uma faceta entre tantas outras que se colocam ao gestor da escola para que ele considere as mudanças do mundo contemporâ- neo, criando espaços que oportunizem a participação da comunidade escolar na instituição de ensino. A comunidade escolar é composta pelos alunos e os seus responsáveis, por docentes, gestores escolares, demais funcionários da escola, pessoas e organizações que residem ou atuam no entorno. 11Gestão das políticas públicas Outro importante aspecto da organização e do funcionamento da educação é a atuação dos órgãos centrais de cada ente federativo em sua respectiva ins- tância. Ou seja, o MEC desenvolve atribuições pertinentes ao sistema de ensino federal e à coordenação de todos os demais sistemas (estaduais, do Distrito Federal e municipais); as Secretarias Estaduais de Educação atuam em seus respectivos territórios; e as Secretarias Municipais de Educação atuam nos sistemas de ensino municipais. Esses entes atuam de forma autônoma em seus sistemas, perseguindo o regime de colaboração proposto constitucionalmente para a educação. Sobre esse aspecto, Cury (2002, documento on-line) reforça que a “[...] Constituição Federal montou um sistema de repartição de competências e atribuições legislativas entre os integrantes do sistema federativo, [...] reconhe- cendo a dignidade e a autonomia próprias dos mesmos”. Por isso, é fundamental conhecer as atribuições e competências das Secretarias Municipais e Estaduais de Educação para entender um pouco mais detalhadamente como elas operam na gestão das políticas públicas de seus sistemas. As Secretarias Municipais de Educação têm como finalidade a organização, a manutenção e o funcionamento de seus sistemas de ensino. Tais sistemas compreendem todas as instituições de ensino existentes em seu território, sejam elas públicas ou privadas, da educação básica ou do ensino superior. Para realizar essas atribuições, as Secretarias precisam integrar as suas pró- prias políticas educacionais às do Estado e da União, respeitando os termos existentes na LDBN vigente. Ao se referirem à articulação e à importância das Secretarias de Educação perante o sistema de ensino do município, Werle, Thum e Andrade (2008) apontam, entre as atribuições de um município que assume a sua responsa- bilidade pela educação, a criação de uma proposta pedagógica e o esforço de empreender um projeto de educação. Nesse sentido, está em jogo “[...] a crença de que é possível articular a educação para além da instabilidade de governos, de que é possível e necessário superar procedimentos burocráticos e mecanicistas, que esvaziam o significado humano, político, pedagógico e gratificante do esforço educativo” (WERLE; THUM; ANDRADE, 2008, documento on-line). Dessa forma, a Secretaria de Educação como instância de governo da educação municipal pode perseguir um projeto educacional que envolva a participação dos demais órgãos colegiados que atuam na área, como o Conselho Gestão das políticas públicas12 Municipal de Educação, o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Conselho de Alimentação Escolar, entre outros. A ideia é que tal projeto se perpetue para além dos mandatos eleitorais de cada gestão e persiga e apoie as políticas de Estado da educação. Da mesma maneira ocorre nas instâncias estaduais, em que a Secretaria de Educação se responsabiliza pelo acesso e pela permanência dos alunos em um ensino de qualidade no âmbito de todo o território estadual. Isso implica um trabalho em parceria com os sistemas municipais de educação. A Secretaria de Educação Estadual também se responsabiliza pela coordenação da educa- ção superior do estado em busca de melhorias no desenvolvimento regional como um todo, define políticas educacionais para o funcionamento de seus sistemas de ensino, bem como estabelece diretrizes e políticas de manutenção e reformas das escolas públicas estaduais, entre outras atribuições. Veja como a Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina ([2019], documento on-line) define as suas atribuições: A Secretaria de Estado da Educação é o órgão central do Sistema Estadual de Educação, responsável pela formulação, controle e avaliação das políticas educacionais, bem como pela coordenação das atividades, ações, programas e projetos da educação básica, profissional e superior em Santa Catarina. Sendo assim, é responsável pela administração e orientação do ensino público no Estado, compartilhando essa responsabilidade com o Conselho Estadual de Educação, na forma da legislação em vigor. Como você pode notar, as Secretarias de Educação Municipais e Estaduais são importantes e necessárias para que as políticas educacionais se efetivem e atendam às demandas sociais para as quais foram formuladas dentro dos sistemas de ensino. Elas devem contribuir de forma complementar e cola- borativa para a gestão das políticas públicas, bem como para a atuação dos gestores escolares. Para que um gestor de escola seja eficiente e eficaz, deve cumprir inte- gralmente as suas atribuições, levando a escola a atingir os seus objetivos educacionais, promovendo uma aprendizagem significativa aos seus alunos, desenvolvendo-os plenamente e preparando-os para a cidadania e para o mundo do trabalho. Nesse contexto, as políticas públicas educacionais são fundamentais, pois elas instrumentalizam e fornecem a base para as ações cotidianas e os inúmeros processos internos desenvolvidos pela escola. 13Gestão das políticas públicas As práticas de gestão realizadas nas escolas influenciam diretamente o desempenho educacional dos estudantes. Conheça melhor essas implicações no relatório Práticas de Gestão em Escolas Públicas e Privadas no Brasil, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/r18Uu BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti- tuicao.htm. Acesso em: 10 jul. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional nº. 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. Diário Oficial da União, 12 nov. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/ emc59.htm. Acesso em: 10 jul. 2019. BRASIL. Lei Complementar nº. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. 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