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TEXTO CRÍTICO: Crise do Estado de bem-estar social, advento do neoliberalismo e seu impacto na América Latina Discentes: Bárbara Guimarães, Carolina Araújo, Jeiel Barbosa, Kauana Santos 1. INTRODUÇÃO As relações entre as características do neoliberalismo, vertente político-econômica presente na maioria dos países do mundo hodiernamente, e o Estado de bem-estar social, que compreende-se como uma posição agradável para a sociedade frente às problemáticas sociais oriundas de seu sistema, são de importante análise para discussão da individualidade e subjetividade das pessoas na sociedade, ou seja, como o sistema socioeconômico vem afetando diretamente a vivência de bem-estar social dos indivíduos que o compõem. Tal sistema vem propagando-se no mundo por meio do advento da globalização, que há anos investe em questões políticas, sociais, econômicas, culturais, etc. No qual, apesar dos seus aspectos positivos que envolvem proximidade de relações humanas, propagação veloz de conhecimento, uso das tecnologias em favor social e afins, traz consigo diversos pontos negativos, principalmente, atrelados ao neoliberalismo e suas facetas. A divisão social do trabalho, a hierarquia presente nas relações internacionais (primeiro, segundo e terceiro mundo), a estratificação social que cresce exponencialmente, são só alguns exemplos dos efeitos negativos junto à globalização e ao sistema neoliberal. Pode-se observar tais efeitos de maneira explícita nos países da América Latina que, desde então, acumulam guerras, sistemas ditatoriais, manifestações populares, reivindicação de povos originários, aumento da desigualdade monetária, marginalização, favelização, entre outros, isso, graças ao descontrole do então chamado Estado de bem-estar social, globalização e neoliberalismo. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Como surgiu o neoliberalismo para a substituição do Estado de bem-estar social. O Estado de bem-estar social se estabeleceu, durante os anos 1930, como um agente responsável por gerir e organizar questões políticas, sociais e econômicas. Dispondo do controle desses âmbitos, o Estado tinha como função garantir bens, serviços e direitos fundamentais para a população, como saúde, educação gratuita e de qualidade, seguro pleno emprego, previdência social, seguro família e afins. Em linhas gerais, o Estado adotava uma postura intervencionista para garantir condições socioeconômicas íntegras para as classes mais vulneráveis com o objetivo de assegurar a ascensão social. Essa época é chamada de Anos Dourados por causa do desenvolvimento econômico, social e político obtido, tanto em países capitalistas quanto nos socialistas. Várias alianças foram firmadas, assim como a inclusão de políticas sociais, o que aumentou o consumo e ascendeu a indústria. Esse episódio histórico tem fim numa larga urbanização que acarreta o aumento no uso de combustíveis fósseis, favorecendo medidas de contenção e acirramento entre israelenses e árabes. Ou seja, a Crise do Petróleo, que além de aumentar os preços do insumo, fomentou as tensões que causariam a Guerra Fria. Por outro lado, a burguesia criticava o Estado de bem-estar social pelo fato de terem que pagar impostos no que diz respeito à lucratividade do setor privado. A partir daqui, as portas estavam abertas para medidas de superação das crises e inflações (estagflação). O neoliberalismo se fortalece nesta oportunidade, apresentado por Perry Anderson, que era contra as ideias keynesianas, como a crença que o Estado não tinha que intervir na economia, de modo que essa fosse livre e sem qualquer entrave. Para esse grupo, a culpa da dívida pública recaiu sobre as políticas de assistencialismo e a providência dos direitos sociais instauradas pelo Welfare State. A solução seria a contenção de gastos e dos sindicatos, além da valorização de organizações que fossem diversificar a economia. A partir desse ponto, o governo social-democrata se finda na maioria dos países, dando lugar à direita com seu laissez-faire e egoísmo individualista, em defesa de um Estado forte que priorize não a emancipação e os interesses do coletivo, mas a estabilidade monetária e o capitalismo financeiro. As principais vertentes do neoliberalismo são a defesa da dignidade moral humana, que é considerada fundamental para a liberdade individual; a participação política, por meio da representatividade na existência de uma constituição que possui papel de estabelecer as relações de poder. Já no âmbito econômico, cabe ao Estado interferir minimamente nessas relações, logo, compete à população a iniciativa privada. Assim, a democracia e o Estado de Direito só seriam efetivos se promovessem o livre mercado. 2.2. Resultados da implantação do sistema neoliberal na América Latina. Sob essa visão, o neoliberalismo tomou proporções mundiais através da globalização, que graças a evolução da tecnologia causa um impacto social sob o discurso visionário de um mundo melhor. Assim, a primeira globalização do colonialismo inicia-se com a ocupação territorial, principalmente na América Latina e, após isso, a segunda é marcada pela fragmentação desse território no fim do século XX. Sendo assim, os países latinos foram os primeiros a adotarem este modelo, mostrando desde o início o seu caráter autoritário, perverso e antidemocrático. Com o discurso de que o Estado de bem-estar social violava a liberdade do indivíduo, desenvolvendo o negacionismo burguês diante das políticas públicas aos mais marginalizados, e a competição essencial para o seu crescimento e prosperidade, o neoliberalismo propõe, de maneira extremamente invasiva, corte em encargos e direitos sociais; manutenção da taxa de desemprego e uma pesada legislação antigreve; incentivo de investimentos privados; diminuição dos impostos sobre as fortunas; autorregulação do mercado e entre outras medidas que visam a maximização do lucro em detrimento dos direitos sociais. As consequências dessas ações numa região historicamente submissa e violenta são crises econômicas, desemprego, acentuação das desigualdades, concentração de riquezas e aumento da taxa de pobreza. Dessa maneira, fica evidente como esse sistema é perturbador para a população, fazendo com que a vivência social se torne cada vez mais dificultosa para os indivíduos, tornando a segregação social evidente e corroborando para o desenvolvimento da criminalidade, do racismo, machismo, entre outras mazelas sociais. Com o advento do fim da Guerra Fria e, consequentemente, a desintegração da União Soviética, os Estados Unidos saíram vitoriosos desse entrave. Ademais, aproveitaram o momento de reerguimento da economia mundial para implantarem sua hegemonia opressiva norte-americana aos demais países do globo, influenciando principalmente as regiões subdesenvolvidas. Um fator que auxiliou a disseminação cultural norte-americana foi a transnacionalização, oriunda da globalização. Produtos importados foram sendo introduzidos, forçadamente na América Latina. Outrossim, durante o século XX o governo norte-americano fomentou inúmeros regimes ditatoriais, como o Regime Militar instaurado no Brasil em 1964. O intuito dessas influências ditatoriais era garantir o poderio dos EUA mundialmente, em detrimento da ameaça comunista, que foi criada pelo próprio país como um artifício para garantir sua hegemonia cultural. O Chile foi um dos primeiros países latino-americanos a adotar o neoliberalismo e seu crescimento econômico teve uma notoriedade significativa, mas é importante ressaltar que não é a população em massa que tira proveito deste desenvolvimento. Apresentando o maior PIB per capita, o Chile se destaca por ter sido a nação mais rica do continente até o ano de 2019, além de ser o primeiro a fazer parte da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Ademais, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) em 2017, o povo chileno estava entre os primeiros 50 países no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano(IDH). Em contrapartida, o país também lidera em níveis de desigualdade, ocupando o terceiro lugar em termos de concentração de renda de acordo com o Relatório da Desigualdade Global, da Escola Econômica de Paris. Além disso, um dos motivos de grande descontentamento popular é a privatização de inúmeros serviços sociais, que deveriam ser públicos, como a educação. No contexto boliviano, as mudanças e políticas neoliberais também não agradaram a população no decorrer do início do século XXI. Dentre as principais implementações feitas neste período, podemos citar a privatização da empresa estatal COMIBOL, que resultou a demissão de mais de 27 mil mineiros, diminuição da porcentagem de exportação de minerais de 53% para 47%, fechamento de 18 das 23 minas, além da falência de médios e pequenos mineradores. Ademais, a flexibilização e a terceirização precariza as relações de trabalho e desmobiliza sindicatos e organizações políticas operárias. A implementação do Consenso de Washington de 1989 propunha reformas pautadas no neoliberalismo, para que os países latino americanos retomassem o seu crescimento e desenvolvimento, com influências diretas dos EUA e instituições como o FMI (Fundo Monetário Internacional), BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) e Banco Mundial, fez com que os países ficassem reféns do cumprimento das diretrizes sob a ameaça de “castigos” (encerramento de alianças, fim de empréstimos, corte de aparatos, etc). Em reflexo a essa lógica, há um déficit na participação democrática dos países sul-americanos no que diz respeito aos seus próprios recursos e às privatizações – como o que aconteceu em Cochabamba, Bolívia na chamada Crise da Água. As sedes de produção dos países mais desenvolvidos passam a se localizar nas nações periféricas devido à flexibilização das leis trabalhistas. Essa lógica também contribui para o crescimento das taxas de trabalhos informais, comumente vistos nas ruas de cidades como Lima, no Peru, afinal mesmo com a carência de respaldo social, esses indivíduos precisam gerar renda para a própria sobrevivência nesse meio capitalista que os inferioriza. 2.3. De que forma o neoliberalismo apresenta-se como risco à democracia republicana. Atualmente é possível observar como se desenvolve esse sistema, não somente nos países latinos, mas em grande parte dos países no mundo e pensando no Chile, primeiro país que aderiu ao sistema, é perceptível a ineficácia das decisões tomadas a partir do pensamento neoliberal. Exemplo disso, são as variadas manifestações populares que ocorreram em outubro de 2019 na nação que não atende aos reais problemas sociais e segue tomando medidas inviáveis para a sobrevivência dos mais pobres, beneficiando apenas a população que concentra maior parte das riquezas. Isso evidencia o caráter autoritário do sistema que mais cresce no mundo atualmente, fomentando somente guerras e confrontos incansáveis, que não fazem bem à sociedade enquanto sistema coletivo. Além disso, vale ressaltar que a opinião popular é cada vez mais desprezada quando o assunto é a tomada de decisões referentes às instituições que viabilizam a vida cotidiana e facilitam o acesso da população marginalizada. Exemplo disso, são as tentativas de privatizações em massa feitas pelo atual ministro da economia no Brasil, Paulo Guedes, como a transportadora Correios, as Universidades Federais e a Eletrobras, grande empresa de energia elétrica. Tais, sem o consenso popular e indicando uma intervenção no Estado democrático de direito. 3. CONCLUSÃO Portanto, fica claro como a globalização propaga os interesses dos países soberanos em detrimento dos menos desenvolvidos. Em analogia, o neoliberalismo se autodeclara como “o fim da história”, rechaçando qualquer forma alternativa de modelo econômico que não seja neoliberal e afirmando que é aplicável universalmente, ou seja, em qualquer país. Evoca o próprio triunfo sem oportunidades e brechas de oposição e sugestões - “renascimento economicista”, como alguns economistas gostam de nomear. O mercado de trabalho vem se decompondo principalmente para os mais pobres e as mulheres, protagonistas das lutas por direitos na maioria das vezes. Há, ainda, um desmonte dos sindicatos, fim das desregulamentações e maiores flexibilizações. Como forma de reação, as camadas mais afetadas organizam revoltas, manifestações e no caso dos países latino-americanos, guerrilhas, assim como formação de facções, narcotráficos e criminalidades em geral, afinal quando o Estado não dá aparato social, os indivíduos procuram meios de se sentir protegidos e incluídos. Em outras situações, essa exclusão em decisões políticas e econômicas gerou um autoritarismo em vários países da América Latina. Por fim, cabe ressaltar que as expectativas geradas pelo livre comércio, supostamente nivelariam os atrasos entre os países, estabilizariam as contas, preços e dívidas públicas, a exportação erradicaria a pobreza e as tecnologias desenvolveriam a economia, fazendo com que os padrões de vida fossem elevados, efetivando a transparência nas transações que serviriam como solução para a corrupção. Porém, como pode-se observar ao longo das críticas construídas no presente texto, a realidade é de corrupção crescente, repressão de movimentos contrários, supressão da soberania popular, uma globalização que aniquila culturas menos hegemônicas e representação de interesses dos mais ricos, o que gera somente revolta da sociedade e não torna o ambiente harmônico para a convivência. 4. BIBLIOGRAFIA Livros: VICENTE, MM. História e comunicação na ordem internacional (online). A crise do Estado de bem-estar social e a globalização: um balanço. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 214 p. ISBN 978-85-98605-96-8. Disponível em SciELO Books <http://books.scielo.org>. Artigos de revistas: IBARRA, David. O neoliberalismo na América Latina. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 31, n. 2, abr./jun. 2011. Material da Internet: FILGUEIRAS, Luiz. Duas vidas do neoliberalismo na América Latina. Bahia, Salvador, dez.2019. 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