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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE DIREITO PROJETO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SÃO PAULO 2020 LETÍCIA FERREIRA CARVALHO A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO E AUTOMUTILAÇÃO Projeto de pesquisa apresentado no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Hermann Herschander. SÃO PAULO 2020 Sumário I. TEMA ....................................................................................................... 4 II. DELIMITAÇÃO DO TEMA ....................................................................... 5 III. OBJETIVOS DA PESQUISA ................................................................... 7 OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 7 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 7 IV. JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 8 V. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................ 9 VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 10 VII. OUTRAS FONTES ................................................................................ 11 4 TEMA O suicídio é um ato que está presente desde os primórdios da história da humanidade, e consiste no indivíduo provocar sua própria morte. O ato suicida pode envolver diversos aspectos, inclusive sociais, religiosos, filosóficos, culturais, e psicológicos. No ramo jurídico, o suicídio em si não possui relevância visto que, de acordo com o princípio da alteridade, só é punível a conduta capaz de violar o bem jurídico alheio. Todavia, o suicídio possui sua devida importância na área penal quando há um terceiro participando no ato suicida, seja por induzir, auxiliar ou instigar. O agente que possui participação no suicídio de outrem será punido na esfera criminal, já que ele foi a figura imprescindível para a ocorrência do ato, violando o maior bem jurídico do ser humano que é a vida. Com o advento do avanço tecnológico, as pessoas estão cada vez mais conectadas e integradas num mundo virtual através de seus celulares, computadores, notebooks, tablets. Apesar desses modernos meios de comunicação possuírem extrema importância com seus inúmeros benefícios, também possuem diversos malefícios, como por exemplo, a influência para a prática de suicídio. O Código Penal até a data de 25 de dezembro de 2019 punia a participação ao suicídio que se definia através da realização de algum desses verbos do tipo: induzir, instigar ou auxiliar. Todavia, a Lei nº 13.968/2019 alterou o Decreto Lei nº 2.848/1940, e agora também se insere o ato de automutilação no artigo 122 do Código Penal. Logo, qualquer indivíduo que induz, instigue, ou auxilie para a prática da automutilação, também será punido na esfera criminal. É notório que, principalmente nas redes sociais, muitas pessoas querem transparecer uma vida que não têm, exibindo suas rotinas de forma que pareça que tudo é perfeito, e isso consequentemente acaba prejudicando o psicológico daquela pessoa que já está vulnerável e compara sua vida aos dos demais, experimentando um sentimento de inferioridade por não considerar que está vivendo uma vida boa. Logo, as postagens realizadas nas redes sociais são capazes de trazer um vazio existencial para quem está frágil, podendo esse indivíduo buscar a automutilação ou o suicídio como forma de lidar com seus problemas. 5 A Internet está sendo um cenário utilizado, muitas vezes, para destilar o ódio e a maldade. Muito do que se vê no cenário virtual configura-se como cyberbullying, ou seja, é a violência virtual através de palavras, vídeos ou imagens. A vítima de cyberbullying pode ficar com o emocional extremamente abalado, procurando na Internet alguma forma de lidar com isso, e acaba encontrando em sites referências á automutilação ou ao suicídio. O problema relevante para o âmbito jurídico referente a essas pessoas vulneráveis e abaladas psicologicamente é que consequentemente estão mais suscetíveis para serem influenciadas. E, sendo assim, pessoas também conectadas nesse cenário virtual podem aproveitar da fragilidade alheia para induzir, instigar ou auxiliar na realização da automutilação ou do suicídio. O suicídio e a automutilação foram considerados tabus por muito tempo, e pouco se falava a respeito no meio social. Todavia, esse cenário mudou através de séries tratando sobre esses assuntos , principalmente a série “13 Reasons Why” que foi um sucesso mundial, tendo como público alvo as crianças e os adolescentes. Jogos virtuais conhecidos como “Boneca Momo” e “Baleia Azul” tiveram também grande repercussão, atraindo os olhares dos jovens motivados pela curiosidade. Nesses jogos haviam desafios que deveriam ser cumpridos, inclusive a realização da automutilação, e em alguns casos, até mesmo o suicídio. A vítima poderia até por um momento se arrepender de estar fazendo mal para si mesma e querer deixar de jogar, mas os criadores desses desafios impediam a saída dos participantes através de ameaças. A partir desses fatos, a sociedade mostrou-se mais preocupada pela preservação da vida alheia. E, com isso, foram criados vários mecanismos de prevenção ao suicídio, até mesmo nas redes sociais como o Instagram, objetivando auxiliar os jovens, e consequentemente, evitar consequências drásticas. DELIMITAÇÃO DO TEMA Esta pesquisa abordará a influência dos meios de comunicação nas condutas descritas no artigo 122 do Código Penal, bem como analisará as recentes mudanças que trouxeram uma nova vertente para o tipo penal desse artigo. 6 Até a data de 25 de dezembro de 2019, as únicas condutas que constavam no artigo anteriormente mencionado eram as seguintes: induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. Esse tipo penal era considerado um crime condicionado porque necessitava de uma condição para a conduta ser considerada ilícita, portanto era necessária a consumação do próprio ato de suicídio ou sua tentativa que resultasse em uma lesão corporal grave. O tipo penal foi alterado através da nova redação incluída pela Lei nº 13.968/2019, sendo inserido também o ato de induzir, instigar ou auxiliar na prática de automutilação. Além disso, agora é admissível a tentativa, não sendo preciso à ocorrência do suicídio ou da automutilação para a configuração da conduta delitiva. A presente pesquisa terá foco direcionado ao crime quando envolve crianças e adolescentes, tendo em vista que eles possuem maior vulnerabilidade e passam o maior tempo do dia na Internet, bem como em suas redes sociais. Logo, possuem mais tendência a serem influenciados pela prática de automutilação ou suicídio, visto que no âmbito virtual há muitas pessoas perigosas que se aproveitam do sofrimento alheio para praticar o crime. O ambiente virtual ganhou bastante espaço para a ocorrência da participação na automutilação ou no suicídio, ainda mais porque na Internet muitas pessoas se escondem através do anonimato. Todavia, tudo que é feito nesse ambiente deixa rastro, então é possível identificar quem é o responsável pelo delito através de investigações. Os modernos meios de comunicação, principalmente a Internet, trazem situações ilimitadas pela imprevisibilidade e, sendo assim, o direito tem o dever de acompanhar a evolução tecnológica, buscando-se punir mais severamente quem se utiliza desses meios para atingir aintegridade física ou vida alheia. Em razão disso, o legislador acrescentou na nova redação do artigo 122 do Código Penal os §§4º e 5º. Esses parágrafos descrevem situações em que a pena da conduta delitiva será aumentada por ter sido utilizado o meio virtual como mecanismo para a prática do crime, conforme verificado a seguir: Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: 7 (...) § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) Diante do exposto, é notório que os meios modernos de comunicação influenciam diariamente as pessoas, principalmente aquelas consideradas mais vulneráveis em razão da idade. Por isso, foi uma medida necessária a mudança na redação da legislação penal brasileira em busca da proteção aos bens jurídicos tutelados. OBJETIVOS DA PESQUISA OBJETIVO GERAL Este projeto almeja analisar os motivos que foram responsáveis pela mudança na tipificação penal do artigo 122 do Código Penal, principalmente no que se refere ao aumento da pena nas situações em que o meio virtual é utilizado como mecanismo para a prática de automutilação e suicídio. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever brevemente o contexto histórico da evolução da Internet até os dias atuais. Relacionar a conduta de automutilação com o suicídio, objetivando verificar qual foi à intenção do legislador em colocar dois bens jurídicos distintos no mesmo artigo, visto que um relaciona-se a vida e o outro se refere à integridade física da vítima. Apontar casos que ocorreram no Brasil com relação à influência dos meios de comunicação na prática da automutilação e do suicídio, como por exemplo, os seguintes jogos: “Boneca Momo” e “Baleia Azul”. 8 Coletar dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) acerca dos números de suicídios que ocorreram no território brasileiro, com a finalidade de verificar se houve um aumento nesses números conforme os meios tecnológicos foram sendo inseridos cada vez mais na sociedade. Indicar quais são os meios de comunicação em que é possível acontecer à conduta delitiva. Exemplificar se a conduta de coação exercida para impedir o suicídio é ato ilícito, visto que há um confronto entre dois direitos: o direito á vida e o direito á liberdade. JUSTIFICATIVA A nova redação do artigo 122 do Código Penal feita pela Lei nº 13.968/2019 é recente, visto que passou a vigorar a partir de 26 de dezembro de 2019. E, por isso, há poucos debates e pesquisas realizadas com o objetivo de analisar essa mudança na legislação penal brasileira. Antes dessa mudança, a tentativa na participação do suicídio não era possível, pois deveria ocorrer à morte da vítima, ou pelo menos uma lesão corporal de natureza grave. E, além disso, a participação na automutilação não era considerada um ato ilícito, tendo em vista que não havia nenhuma descrição penal tratando sobre essa conduta. É evidente que essas alterações precisam ser analisadas e estudadas, principalmente para entender o motivo do legislador ao realizar essas modificações na lei infraconstitucional. Logo, esse projeto busca suprir a falta de discussão sobre o tema, e consequentemente auxiliar outros pesquisadores. A vida é um bem jurídico indisponível, sendo vedada qualquer participação de um terceiro que influencie na prática de suicídio, tanto é que o constrangimento ilegal é um ato ilícito conforme previsão legal no artigo 146 do Código Penal, entretanto quando se trata de coação para impedir o suicídio não terá essa mesma ilicitude, pelo contrário, esse ato é válido e lícito de acordo com o inciso II do artigo anteriormente mencionado. Portanto, é possível notar que o legislador busca a preservação da vida. Sobre a lesão corporal que ocorre com a participação na automutilação, muitos podem se questionar a razão dessa conduta estar inserida no capítulo que se refere aos crimes contra á vida, ao invés de se enquadrar no capítulo que trata das lesões corporais. Sendo assim, é importante relacionar os aspectos em comuns que 9 a automutilação e o suicídio possuem para verificar possíveis hipóteses que justifiquem o motivo dessas duas figuras estarem no mesmo tipo penal. Autores, como André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves, comentam em suas recentes doutrinas acerca do jogo “Baleia Azul” quando trata a respeito do estudo ao artigo 122 do Código Penal. Diante disso, é possível averiguar que esse jogo pode ser um dos fatores fundamentais para a mudança na redação da Lei. Por todos esses aspectos, é importante a reflexão acerca da influência dos meios de comunicação na participação do suicídio ou automutilação, visto que muitas pessoas ficam horas conectadas em seus celulares, tablets, computadores, notebooks. A partir do momento em que acessam a rede virtual, já estão expostas e possuem o risco de se depararem com agentes criminosos que buscam vítimas vulneráveis para a realização da conduta delitiva. A solução do legislador para suprir as lacunas na lei acerca do tema indica ser eficiente, visto que agora a punição é maior para quem induz, instiga ou auxilia na prática de suicídio ou automutilação por meio do ambiente virtual. Logo, a participação no âmbito virtual é mais grave do que aquela que ocorre fora desse ambiente. Até porque no mundo virtual há presença de milhares de pessoas conectadas ao mesmo tempo, o que facilita a ocorrência do crime, e ainda, o anonimato presente na esfera virtual parece num primeiro momento ser uma forma de se livrar da punição pelo crime, e por isso, os agentes criminosos muitas vezes optam na realização da conduta delitiva via Internet e redes sociais. Todavia, mesmo que os agentes estejam preservando suas identidades, ainda assim é possível sua identificação através de investigação e, consequentemente, a devida punição sendo aplicada á eles. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa seguirá uma linha jurídica sociológica, propondo compreender o objeto em particular através da análise histórica do instituto do suicídio e automutilação, que são responsáveis por envolver diversos fatores como socioculturais, políticos e antropológicos. Logo, é necessária a junção do estudo histórico da sociedade juntamente com a evolução do direito para lidar com as inúmeras situações que o ser humano pode criar. E, para isso, será realizada 10 também uma investigação histórica jurídica para analisar as condutas descritas no artigo 122 do Código Penal. O método utilizado será o dedutivo, partindo-se do geral para ser estudado um objeto em particular. Em relação às técnicas de pesquisa concernentes a documentação indireta, será utilizada a pesquisa documental jurídica através de doutrinas, legislação, jurisprudências, bem como também será aplicada pesquisa bibliográfica. A documentação direta também será utilizada para a realização do artigo cientifico, através do método empírico pelo qual haverá entrevistas com os Procuradores da República de São Paulo que trabalham na esfera criminal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de Direito Penal. 14.ed. São Paulo: Saraiva, 2020. CAMPOS, Walfredo Cunha. Tribunal do júri: teoria e prática. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2018. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal – parte especial: arts. 121 a 212. v.2. São Paulo: Saraiva, 2020. ESTEFAM, André. Direito Penal – parte especial: arts. 121 a 234-B. v.2. 7.ed. São Paulo: Saraiva, 2020. GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado – parte especial. 10.ed. São Paulo: Saraiva, 2020. JUNQUEIRA,Gustavo; VANZOLINI, Patricia. Manual de Direito Penal – Parte geral. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2020. MARINELI, Marcelo Romão. Privacidade e redes sociais virtuais. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. NUCCI, Guilherme. Manual de Direito Penal. 16.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. 11 OUTRAS FONTES BRASIL. Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Institui o Código Penal. Disponível: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm> . Acesso em: 03 de mar. 2020.
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