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Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Módulo 1 | PBL 3 Objetivos 1. Conhecer a epidemiologia, o agente etiológico, o ciclo de vida e a transmissão da Malária A malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles (mosquito prego); • São mais abundantes nos horários crepusculares (ao entardecer e ao amanhecer); todavia, em menor quantidade, são encontrados picando durante todo o período noturno; • Possuem metamorfose completa, ou seja, passam pelos estágios de ovo, larva, pupa (são aquáticos) e adulto (são terrestres); • O m o s q u i t o n e c e s s i t a , p a r a o s e u desenvolvimento, de criadouros de porte pequeno a médio, água limpa, fria e corrente com sombra; Não é uma doença contagiosa, uma pessoa doente não é capaz de transmitir a doença diretamente a outra pessoa, é necessária a participação do vetor; Toda pessoa pode contrair a malária; aqueles que tiveram vários episódios de malária podem atingir um estado de imunidade parcial, apresentando poucos ou mesmo nenhum sintoma; porém, uma imunidade esterilizante, que confere total proteção clínica, até hoje não foi observada; Epidemiologia A malária representa importante problema de saúde pública global; • De acordo com a OMS, 228 milhões de novos casos da doença foram notificados no mundo em 2018, além de mais de 405 mil óbitos; GUIA DE TRATAMENTO DA MALÁRIA No Brasil, cerca de 99% da transmissão da malária concentra- se na região da Amazônia Legal, ou seja, é considerada a área endêmica do país para malária com 99% dos casos autóctones; A região extra-amazônica, composta pelos outros 17 estados e o Distrito Federal, é responsável por apenas 1% do total de casos notificados no Brasil, que ocorrem geralmente em área de Mata Atlântica e possuem maior letalidade devido, principalmente, ao retardo no diagnóstico e no tratamento; Dados do PNCM mostram que no ano de 2019, o Brasil notificou 157.454 casos de malária; 37 óbitos, sendo 26 (69,4%) desses ocorridos na região amazônica e 11 (30,6%) na região extra-amazônica. • A maioria dos casos de malária notificados na extra-amazônica são importados de outros estados endêmicos ou outros países, tanto das Américas quanto da África e Ásia; • Indivíduos provenientes de regiões livres de malária, que se deslocam para áreas onde existe transmissão da doença, são altamente vulneráveis – têm pouca ou nenhuma imunidade – e muitas vezes, expostos à malária, acabam por ter um diagnóstico tardio ou errado quando regressam ao local de origem; • A endemicidade da doença é dinâmica, ocorrendo variações na incidência e na área de um ano para outro; • A letalidade na região extra-amazônica foi próxima de 2,04%, enquanto na região amazônica foi de aproximadamente 0,02%; a letalidade na região extra-amazônica é cerca de 123 vezes maior; • Atualmente, os casos autóctones de malária da região extra-amazônica representam um terço (1/3) do total de casos notificados, o que demonstra que a doença pode voltar a ser endêmica nessa área, Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII principalmente devido à ocorrência de surtos e à presença dos vetores - Recentemente, a ocorrência de infecção por Plasmodium simium no Rio de Janeiro colocou novo desafio ao controle da doença, porque essa espécie usa macacos como reservatório e o diagnóstico microscópico quase sempre é tido como infecção por P. vivax; embora a distinção com P. simium dependa de técnicas moleculares mais sofisticadas, o tratamento é idêntico ao de P. vivax e esses casos têm evolução benigna, sintomatologia leve e baixa parasitemia; Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, estabelecem no Objetivo 3.3 acabar com as epidemias de malária até 2030; para o alcance, prevê 3 pilares: • Garantir acesso universal à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento da malária; • Acelerar os esforços para a eliminação e obtenção do status livre de malária; • Transformar a vigi lância de malária em intervenção essencial Agente Etiológico Protozoário do gênero Plasmodium; As espécies associadas à malária humana são: P. falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale; • O P. vivax é o mais amplamente distribuído pelas zonas tropicais e subtropicais do globo; • O P. falciparum, comparado às outras espécies, causa maior morbidade e mortal idade, e apresenta-se hoje como um grave problema terapêutico; Plasmódios que infectam macacos também podem causar doença em seres humanos, como o P. knowlesi e o P. simium, sendo este último já detectado no Brasil; Nunca foi registrada, no Brasil, transmissão autóctone de P . ovale , espécie restr i ta a determinadas regiões da África; Ciclo de Vida O Plasmodium apresenta um ciclo de vida heteroxênico, precisa de dois hospedeiros diferentes: um vertebrado e outro invertebrado; O ciclo assexuado (ciclo esquizogônico) A infecção in ic ia-se quando os parasi tos (esporozoítos) são inoculados na pele pela picada do mosquito vetor, os quais invadirão as células do fígado, os hepatócitos; Nessas células, multiplicam-se e dão origem a milhares de novos parasitos (merozoítos), que rompem os hepatócitos; essa parte do ciclo dura: • P. falciparum: 6 dias • P. vivax: 8 dias • P. malariae: 12 a 15 dias Ao cairem na circulação sanguínea e invadirem as hemácias, da início à segunda fase do ciclo (esquizogonia sanguínea); Ciclo sanguíneo/eritrocítico Aparecem os sintomas da malária; O desenvolvimento do parasito nas células do fígado requer aproximadamente uma semana (para P. falciparum e P. vivax) e cerca de duas semanas (para P. malariae); Nas infecções por P. vivax e P. ovale, alguns parasitos desenvolvem-se rapidamente, enquanto outros ficam em estado de latência no fígado (hipnozoítos; responsáveis pelas recaídas da doença, que ocorrem Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII após períodos variáveis de incubação, geralmente dentro dos 6 primeiros meses após o tratamento, mesmo sem nova picada do mosquito ou ida do indivíduo à área endêmica); • Sem o uso correto das 8-aminoquinoleínas (primaquina ou tafenoquina), as recaídas são muito frequentes, acometendo cerca de 70% das pessoas; • Por esse motivo, todas as pessoas com diagnóstico de malária por P. vivax, desde que não tenham contraindicação, precisam fazer uso de uma dessas medicações; Na fase sanguínea do ciclo, os merozoítos formados rompem as hemácias infectadas e invadem outras, o que dá início a ciclos repetitivos de multiplicação eritrocitária; • Os ciclos eritrocitários repetem-se a cada 48 horas nas infecções por P. vivax e P. falciparum e a cada 72 horas nas infecções por P. malariae; Depois de algumas gerações de merozoítos nas hemácias, alguns se diferenciam em formas sexuadas (gametócitos); O gametócito feminino é o macrogameta e o masculino é o microgameta; Esses gametas no interior das hemácias não se dividem e, quando ingeridos pelos insetos vetores, fecundar-se-ão para dar origem ao ciclo sexuado do parasito e a formação do esporozoíto, forma que é transmitida ao homem no momento da picada pelo inseto; As infecções por P. vivax apresentam gametócitos circulantes desde o 1º dia da infecção clínica, enquanto a infecção por P. falciparum costuma apresentar gametócitos na circulação periférica apenas mais tardiamente, após 7 dias de infecção; por essa razão, o diagnóstico e tratamento oportunos impactam mais rapidamente no controle da malária falciparum; Ciclo biológico do parasito no mosquito A reprodução sexuada (esporogônica) do parasito da malária ocorre no estômago do mosquito, após a diferenciação dos gametócitos em gametas e a sua fusão, com formação do ovo; O zigoto se transforma em uma forma móvel (oocineto) que migra até a parede do intestino médio do inseto, formando o oocisto, no interior do qual se desenvolverão os esporozoítos; O tempo requeridopara que se complete o ciclo esporogônico nos insetos varia com a espécie de Plasmodium e com a temperatura, situando-se geralmente em torno de 10 a 12 dias; Os esporozoítos produzidos nos oocistos são liberados na hemolinfa do inseto e migram até as glândulas salivares, de onde são transferidos para o sangue do hospedeiro humano durante o repasto sanguíneo. 2. Explicar a fisiopatologia e a imunopatologia da Malária O sistema imunológico humano reage à presença do plasmódio com uma complexa série de mecanismos que tendem à manutenção das condições de equilíbrio do meio interno do organismo – a homeostasia; Entretanto, o intenso estímulo antigênico induzido pelo plasmódio pode causar a hiperativação do sistema imunológico que, assim desregulado, part ic ipa da fis iopatogenia das pr inc ipais manifestações clinicopatológicas da malária grave: a anemia e os comprometimentos cerebral, renal e pulmonar; Os mecanismos envolvidos na fisiopatologia da malária grave devem-se, em grande parte, à exacerbação de mecanismos fisiológicos envolvidos na defesa contra o plasmódio; A evolução da doença para as formas graves, nos indivíduos infectados pelo P. falciparum, depende de fatores relacionados ao plasmódio, ao indivíduo e ao ambiente; • Entre os relacionados ao parasito, incluem-se a alta taxa de multiplicação, que infecta tanto eritrócitos jovens quanto adultos, e a capacidade dos eritrócitos parasitados de aderirem tanto ao endotélio vascular quanto a eritrócitos não Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII parasitados (reduz o fluxo sanguíneo local e origina e s t a d o d e h i p o x e m i a , q u e f a c i l i t a o desenvolvimento do P. falciparum e cria condições favoráveis para a infecção de novos eritrócitos); • O parasita apresenta alto grau de polimorfismo antigênico e variação antigênica, que propiciam seu escape da resposta imunitária do hospedeiro; • Entre os fatores relacionados ao indivíduo, associados à evolução grave da malária, encontram-se o grau de imunidade ao plasmódio; tanto a falta de imunidade quanto o excesso de reatividade do sistema imunológico podem ser danosos para a saúde do indivíduo infectado. Mecanismos do hospedeiro que se contrapõem ao crescimento excessivo do plasmódio Fagocitose • Mediada por receptores para imunoglobulina e/ou complemento • Mediada por receptores toll-símiles Linfócitos B e anticorpos • Bloqueio da invasão dos hepatócitos pelos esporozoítos; • Facilitação da fagocitose dos esporozoítos pelos macrófagos; • Citotoxicidade dependente de anticorpos dos hepatócitos infectados • Bloqueio da invasão dos eritrócitos pelos merozoítos • I n t e r f e r ê n c i a c o m o d e s e n v o l v i m e n t o intraeritrocitário do plasmódio • Facilitação da fagocitose de merozoítos e de eritrócitos parasitados • Lise via complemento, de plasmódio livre e de eritrócitos infectados • Inibição da formação de rosetas • Inibição da citoaderência de eritrócitos parasitados ao endotélio • Neutralização do efeito patológico de citocinas • Bloqueio da fertilização dos gametas • Bloqueio da maturação de oocinetos Linfócitos T • Citotoxicidade de linfócitos CD4+ e CD8+ para hepatócitos infectados • Ativação de macrófagos com aumento de sua capacidade fagocitária • Linfócitos citotóxicos naturais (natural killers) • Citotoxicidade para o plasmódio e eritrócitos parasitados Citocinas • I n t e r f e r ê n c i a c o m o d e s e n v o l v i m e n t o intraeritrocitário do plasmódio • Interferência com o desenvolvimento intra-hepático do plasmódio • Toxicidade para gametócitos Estratégias de sobrevivência do plasmódio no hospedeiro humano Diversidade antigênica Escape da resposta imunitária; • Polimorfismo; • Variação antigênica: consiste na expressão de formas alternativas de antígenos na progênie de um único clone do parasito durante uma infecção; Mimetismo molecular Moléculas do plasmódio homólogas às do hospedeiro poderiam dificultar seu reconhecimento pelo sistema imunológico; Oplasmódio compartilha sequências peptídicas com o hospedeiro humano. Indução de anticorpos pró-plasmódio Competição com anticorpos protetores ou estimulação da divisão sexuada; Anticorpos formados durante a infecção pelo plasmódio podem favorecer o parasito em detrimento do hospedeiro humano. Indução de imunodepressão Uma das estratégias mais poderosas de que o plasmódio se utiliza para garantir sua sobrevivência é a de interferir com a resposta imunitária do hospedeiro. Por meio da hiperativação dos diferentes segmentos do sistema imunológico, ocorre desregulação da resposta imunitária e, em consequência, imunodepressão; • Redução da reatividade ao plasmódio; • Interferência com a capacidade fagocitária, plasmodicida e de processamento e apresentação de antígenos por macrófagos e monócitos. Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII • Linfócitos CD4+ e CD25+ suprimem a ativação de linfócitos T CD4+ e T CD8+ • Citocinas interferem com a resposta imunitária • Células dendríticas produzem citocinas que inibem a ativação de linfócitos T CD8+ in vitro e suprimem a resposta de linfócitos T CD8+ antiplasmódio no ciclo hepático. 3. Avaliar o quadro clínico da Malária complicada e não complicada O espectro clínico da malária pode variar de manifestações oligossintomáticas até quadros graves e letais; O quadro clínico da malária depende da espécie do parasito, da quantidade de parasitos circulantes (parasitemia), do tempo de doença e do nível de imunidade adquirida pelo paciente; Quadro clínico geral: presença da clássica tríade febre, calafrio e dor de cabeça; Sintomas gerais, como mal-estar, dor muscular, sudorese, náusea e tontura, podem preceder ou acompanhar a tríade sintomática; Malária Complicada Dor abdominal intensa (ruptura de baço, mais frequente em P. vivax); cianose, icterícia; E mais sintomas: prostração, alteração da consc iênc ia , d ispne ia ou h ipervent i lação, convulsões, hipotensão arterial ou choque, edema pulmonar, hemorragias, icterícia, hemoglobinúria, hiperpirexia (> 41ºC) e oligúria; • Exames laboratoriais podem detectar: anemia grave, hipogl icemia, acidose metaból ica, i n s u fi c i ê n c i a r e n a l , h i p e r l a c t a t e m i a e hiperparasitemia Susceptibilidade à forma grave (fatores que contribuem): espécie do parasito; tempo da doença até diagnóstico; primoinfecção/outros episódios; gestantes e crianças (< 1 ano); dosos (>70 anos); pacientes imunodreprimidos. Malária não complicada O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio; • P. falciparum: 8 a 12 dias; • P. vivax: 13 a 17 dias; • P. malariae: 18 a 30 dias; A crise aguda da malária (acesso malárico) caracteriza-se por episódios de calafrio, febre e sudorese; • Tem duração variável de 6 a 12 horas; • Pode cursar com temperatura igual ou superior a 40ºC; Nem sempre se observa o clássico padrão de febre a cada dois dias (terçã); Os paroxismos são acompanhados por cefaleia, mialgia, náuseas e vômitos; Após os primeiros paroxismos, a febre pode passar a ser intermitente; É o retardo no diagnóstico que leva à gravidade da doença; Gestantes, crianças e primoinfectados estão sujeitos a maior gravidade e devem ser acompanhadas preferencialmente por um médico, principalmente se a infecção for por P. falciparum, que é responsável pela maioria dos casos letais; Os sinais e os sintomas provocados por Plasmodium não são específicos, assemelhando-se aos de outras doenças febris agudas tais como dengue, chikungunya, zica, febre amarela, leptospirose, febre tifoide, infecção urinária, gripe e muitas outras A presença de mais de um desses critérios determina a forma Parasitemia alta Dispneia Oligúria Hemorragias Alteração do nível de consciência Convulsões Icterícia Hipoglicemia Febre alta persistente Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC,turma XXXVIII 4. Descrever os exames complementares e os exames específicos (para diagnóstico) Plasmodium falciparum • Parasitemia elevada; 10% ou mais das hemácias encontram-se parasitadas; • Infecção múltipla dos eritrócitos é comum; • Na maior parte das vezes, apenas trofozoítos são vistos no sangue periférico; • Granulações ditas de “Maurer” podem ser visualizadas no interior das hemácias contendo parasitas; • O eritrócito parasitado não aumenta de volume; • Gametócitos em crescente (meia-lua) podem ser vistos alguns dias após a infecção aguda ter sido iniciada (10 a 12 dias); Plasmodium vivax • Parasitemia moderada; 2% ou menos das hemácias estão parasitadas; • Todos os estágios (trofozoítos, esquizontes, merozoítos e gametócitos) são vistos no sangue periférico; • Os eritrócitos parasitados são aumentados de tamanho e contêm, no seu interior, granulações ditas de “Schuffner”; • Os trofozoítos são mais largos e maiores que os do P. falciparum; • Os gametócitos aparecem precocemente e permanecem por curto período no sangue periférico; Plasmodium malariae • Parasitemia leve; poucos parasitas no esfregaço sanguíneo; • Todas as formas evolutivas são encontradas no sangue periférico; • Os trofozoítos jovens e ameboides tendem a formar faixas largas atravessando a hemácia, sendo esta sua característica mais marcante; • Gametócitos semelhantes aos do P. vivax e, em geral, pouco numerosos. Exames Complementares Hemograma A anemia normocítica e normocrômica é uma eventualidade comum na malária, particularmente nas formas graves, com hemólise intensa, e nos pacientes crônicos; A série leucocitária é leucopênica, mantendo, em algumas situações, desvio para a esquerda; O desenvolvimento de leucocitose nas formas graves pode ser sinal de mau prognóstico; Nas formas perniciosas, as plaquetas encontram-se diminuídas; Bilirrubinemia Nas formas benignas causadas pelo P. vivax ou mesmo pelo P. falciparum, a icterícia é discreta e, geralmente, há predomínio, em virtude da hemólise, da fração não conjugada da bilirrubina; Entretanto, nas formas graves, a elevação da bilirrubina com predomínio da fração conjugada, expressão do comprometimento hepático, é quase uma constante. Aminotransferases O aumento dessas enzimas hepáticas na malária é geralmente moderado e, em especial, ocorre nas formas graves causadas pelo P. falciparum. Coagulação As manifestações hemorrágicas complicam a malária perniciosa em um pequeno número de casos; Além da plaquetopenia, pode haver prolongamento do tempo de protrombina (TP) e queda de outros fatores da coagulação, consequentes à diminuição da síntese hepática e à coagulação intravascular disseminada. Ureia e creatinina Nas fases iniciais da infecção, pode haver aumentos discretos dessas duas substâncias, em decorrência da desidratação secundária, da sudorese profusa e dos vômitos; Nas formas perniciosas, é possível a ocorrência de uma verdadeira insuficiência renal com necrose tubular, e os níveis de ureia, creatinina e potássio podem elevar-se consideravelmente. Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Exames Específicos Gota espessa O diagnóstico confirmatório da malária baseia-se no encontro de parasitos no sangue; O método mais utilizado é a microscopia de gota espessa de sangue, colhida por punção digital e corada pelo método de Walker; O exame cuidadoso da lâmina é considerado o padrão-ouro para a detecção e a identificação dos parasitos; É o método oficialmente adotado no Brasil para o diagnóstico da malária, pois, mesmo após o avanço de técnicas diagnósticas, continua sendo um método simples, eficaz, de baixo custo e de fácil realização; Sua técnica baseia-se na visualização do parasito por meio de microscopia óptica, após coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), permitindo a diferenciação específica dos parasitos, a partir da análise da sua morfologia, e dos seus estágios de desenvolvimento encontrados no sangue periférico; Esfregaço delgado Possui baixa sensibilidade (estima-se que a gota espessa é cerca de 30 vezes mais eficaz na detecção da infecção malárica); Porém, este método permite, com mais facilidade, a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise de sua morfologia e das alterações provocadas no eritrócito infectado. Testes rápidos Testes rápidos para a detecção de componentes antigênicos de plasmódio, ou seja, testes imunocromatográficos representam novos métodos de diagnóstico rápido de malária; Seu uso deve ser restrito a situações onde não é possível a realização do exame da gota espessa por microscopista certificado e com monitoramento de desempenho, como áreas longínquas e de difícil acesso aos serviços de saúde e áreas de baixa incidência da doença; Estes testes não avaliam a densidade parasitária nem a presença de outros hemoparasitos e não devem ser usados para controle de cura, devido a possível persistência de partes do parasito, após o tratamento, levando a resultado falso positivo; Para a utilização dos testes rápidos, alguns critérios devem ser atendidos: Onde não exista e não seja viável a instalação de serviço de microscopia, especialmente em áreas rurais de difícil acesso, garimpos e áreas indígenas; Onde não exista possibi l idade de garantir diagnóstico em menos de 24 horas de outra forma; Em determinadas localidades que ficam inacessíveis em alguns períodos do ano e somente seja possível disponibilizar o diagnóstico por meio de teste rápido; No período em que a microscopia não esteja disponível no serviço, como plantões e finais de semana; Na região extra-Amazônica, em todas as unidades de referência para o diagnóstico de malária, para orientar imediatamente o tratamento, ainda que sem o resultado do exame por gota espessa; Diagnóstico diferencial da malária O diagnóstico diferencial da malária é feito com a febre tifoide, febre amarela, leptospirose, hepatite infecciosa, leishmaniose visceral, doença de Chagas aguda, febres hemorrágicas e outros processos febris; Na fase inicial, principalmente na criança, a malária confunde-se com outras doenças infecciosas dos tratos respiratório, urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou bacteriana; No período de febre intermitente, as principais doenças que se confundem com a malária são as infecções urinárias, tuberculose miliar, salmoneloses septicêmicas, leishmaniose visceral, endocardite bacteriana e as leucoses; Todas apresentam febre e, em geral, esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia e hepatomegalia. Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII 5. Analisar o tratamento farmacológico, e suas peculiaridades, e profilático Tratamento Farmacológico O objetivo do tratamento consiste em atingir o parasito em pontos chaves do seu ciclo evolutivo, assim, deve-se interromper a esquizogonia sanguínea, destruir as formas latentes e interromper a transmissão. A decisão de como tratar o paciente com malária deve ser precedida de informações sobre: • Espéc ie de p l asmód io i n f ec tan te , pe l a especificidade dos esquemas terapêuticos a serem utilizados; • Idade do paciente, pela maior toxicidade para crianças e idosos; • História de exposição anterior à infecção uma vez que indivíduos primoinfectados tendem a apresentar formas mais graves da doença; • Condições associadas, tais como gravidez e outros problemas de saúde; • Gravidade da doença, pela necessidade de hospitalização e de tratamento com esquemas especiais de antimaláricos; Complicada: A malária grave deve ser considerada uma emergência médica; o principal objetivo do tratamento é evitar que o paciente morra; antimaláricos potentes e de ação rápida devem ser administrados, juntamente com todas as medidas de suporte à vida do paciente Não complicada: As medicações são de acordo com peso e idade do paciente Controle de cura Deve-se realizar por meioda maminha de verificação de cura, da seguinte forma: • P. falciparum – em 3, 7, 14, 21, 28 e 42 dias após o início do tratamento • P. vivax – em 3, 7, 14, 21, 28, 42 e 63 dias após o início do tratamento Profilaxia Prevenção individual: • Uso de mosquiteiros; • Roupas que protejam pernas e braços; • Telas em portas e janelas; • Uso de repelentes. Prevenção coletiva: • Borrifação intradomiciliar; • Uso de mosquiteiros; • Drenagem; • Pequenas obras de saneamento para eliminação de criadouros do vetor; • Aterro; • Limpeza das margens dos criadouros; • Modificação do fluxo da água; • Controle da vegetação aquática; • Melhoramento da moradia e das condições de trabalho; • Uso racional da terra. IMPORTANTE: não existe vacina contra a malária, algumas substâncias capazes de gerar imunidade foram desenvolvidas e estudadas, mas os resultados encontrados ainda não são satisfatórios para a implantação da vacinação; Quinina Age sobre os trofozoítos, esquizontes e merozoítos Cloroquina Age sobre as formas sanguíneas exceto gametócitos de P. falciparum Quinidina Age sobre os esquizontes hepáticos e sobre os gametócitos Primaquina Age sobre formas hepáticas e sanguíneas Mefloquina Profilaxia Lourrane Felício, Medicina UNICEPLAC, turma XXXVIII Referências bibliográficas: 1. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/malaria 2. Veronesi R., Focaccia R. Tratado de Infectologia. 3ª ed. São Paulo: Ed Atheneu; 2005. 3. Boletim Epidemiológico, Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Nov. 2020; 4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Guia de tratamento da malária no Brasil [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. – 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2020. 75 p. : il
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