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Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período Malária – A doença: capítulo 13 INFECTIVIDADE DOS PLASMÓDIOS HUMANOS A malária ou paludismo ou, impaludismo, febre palustre, febre intermitente ou, de acordo com suas formas clínicas, por febre terça benigna, febre terça maligna e febre quarta. No Brasil, tem nomes, como: maleita, sezao, tremedeira, batedeira ou, simplesmente, febre. Seus agentes sao esporozoarios do gênero Plasmodium. O homem é o hospedeiro natural de Plasmodiumfalciparum, de P. vivax, de P. malariae e de P. ovale, mas resistente aos plasmódios de outros mamíferos, aves ou répteis. Somente o P. malariae infecta também outros animais (chimpanzés e símios americanos), em condições naturais. O número de esporozoítas encontrados nas glandulas salivares de um anofelino infectado pode variar de uma centena até dezenas de milhares. E cada vez que uma fêmea picar um paciente, muitos deles serão inoculados diretamente nos vasos sanguíneos da pele, com a saliva do inseto. A permanência dos esporozoítas na circulação talvez nao va além de meia hora, havendo indicações de que os parasitas sejam logo transportados até o fígado, onde passam a multiplicar-se por esquizogonia (ciclo pré-eritrocítico), dentro de hepatócitos RESISTÊNCIA AO PARASITISMO decorre da interação de diferentes fatores que regulam as relações parasito-hospedeiro, muitos dos quais têm sido objeto de intensa investigação nos últimos anos. Ela depende tanto de fatores genéticos e de mecanismos fisiológicos inespecíficos, que se opõem à implantaçao dos parasitos no organismo do hospedeiro, como do desenvolvimento de uma imunidade adquirida humoral ou celular, que tende a bloquear os plasmódios, a acelerar sua destruição ou a reduzir os efeitos patogênicos do parasitismo. Imunidade Natural: Varia muito de grau, indo desde uma resistência absoluta, que impede determinadas espécies de infectar o homem (como os plasmódios avitlrios ou os de macacos antropoides), até uma resistência relativa, que toma benignas as infecções por outros plasmódios de símios (Plasmodium simium, por exemplo) e depende da capacidade do organismo hospedeiro mobilizar rapidamente seu sistema macrófago-linfoide contra os parasitos. Certos fatores de defesa sao prevalentes em algumas populações humanas. Os habitantes da África Ocidental, na faixa que vai da Mauritania à República dos Camarões, são refratarios ao Plasmodium vivax, que não é aí encontrado. Essa imunidade decorre essencialmente de características genéticas. Os mecanismos envolvidos relacionam-se ora com os sistemas de grupos sanguíneos, ora com a presença de hemoglobinas anormais. O eritrócito humano contém cerca de 300 ou mais determinantes de grupos sanguíneos diferentes. Os merozoítas reconhecem alguns deles como receptores de membrana específicos, através dos quais desenvolve-se o processo de aderência e penetração do parasito no interior da hemácia. Constatou-se que os eritrócitos humanos do tipo Duffy negativo, Fyab, sao refratarios a penetração do P. vivax e que as pessoas que apresentam o genótipo Fyfy resistem a infecção por esse plasmódio, enquanto a infecção é possível nos indivíduos Duffy positivos (com fenótipos Fya ou Fyb, ambos dominantes, ou seus híbridos). O carater genético FyFy é frequente nas populações negras, o que explica a ausência de P. vivax em muitas regiões da Africa. Os receptores para P.falciparum, nas hemácias, são diferentes dos utilizados por P. vivax, pois aquele plasmódio infecta os indivíduos com qualquer tipo Duffy. Sabe-se, agora, que a glicoforina A é o fator responsevel pela ligação do merozoíta de P.falciparum à membrana da hemácia e por sua penetração. A resistência a infecção malárica está muitas vezes relacionada com a presença de hemoglobinas anormais no sangue dos pacientes. Essas hemoglobinas atípicas 960 resultado de mutações genéticas, herdadas como um carater mendeliano. Elas produzem quadros de anemia crônica nesses indivíduos, pois suas hemácias são frágeis e facilmente hemolisadas, tendo uma vida média relativamente curta. A vida curta das hemácias pode impedir que, em muitos casos, o ciclo esquizogênico sanguíneo se complete, conduzindo a uma redução considerevel de parasitemia. Daí a benignidade da infecção malárica e sua tendência para a cura em prazos mais curtos em pacientes com esses defeitos congênitos: drepanocitose (ou anemia falciforme), hemoglobina e (ou Hb-C) e as talassemias. A resistência ao parasitismo foi encontrada também em indivíduos que apresentam outro defeito genético: uma deficiência da enzima glicose- 6-fosfato- Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período desidrogenase (G-6-PD), nas hemácias. Assim, algumas pessoas conseguem permanecer indenes, em áreas malarígenas, e outras só apresentam quadros benignos da doença. Quanto a fatores fisiológicos, sabe-se que camundongos, ratos e macacos postos em dieta lactea resistem muito mais aos seus respectivos plasmódios. Esse efeito, no entanto, pode ser abolido com a administração do acido p-aminobenzoico, que é um fator de crescimento indispensável aos plasmódios e inexistente no leite. Imunidade Adquirida: Varia com a espécie de Plasmodium, a cepa e o inóculo, mas também com o grau e a duração da infecção. Por outro lado, depende das condições do paciente, inclusive de seu estado nutricional, das condições de repouso ou fadiga, do uso de medicamentos etc. A imunidade adquirida nas regiões hiperendêmicas pode ser passiva durante os três primeiros meses, nas crianças que receberam das maes, por via placentaria, as imunoglobulinas lgG específicas. É possível que a resistência nesse período seja, ainda, aumentada pela dieta lactea. A importancia dos fatores humorais (produção de anticorpos) foi demonstrada pela proteção passiva conferida a hospedeiros suscetíveis que receberam globulinas ou soro de doadores imunes. No entanto, em pacientes infectados com P. falciparum e P. vivax, a presença de altos títulos de anticorpos não impede o parasito de reproduzir-se, de modo que o tratamento quimioterepico segue sendo imprescindível. A imunidade na malaria é específica para cada espécie de parasito e, mesmo, para cada estagio evolutivo de um mesmo parasito, donde se conclui que os antígenos que induzem proteção devem ser diferentes de Plasmodium a Plasmodium e em cada fase do ciclo evolutivo (esporozoítas, formas sanguíneas etc.). A aquisição gradual de uma imunidade protetora, por pessoas expostas à malaria em areas de alta endemicidade, é dirigida contra a fase sanguínea. Ela requer 3 a 6 anos de exposição para assegurar, aos indivíduos que sobrevivem, larga proteção contra os efeitos mórbidos e quase completa eliminação do risco de mortalidade devida a malaria. Mas, ainda que o nível de anticorpos continue a crescer, raramente se alcança uma proteção total. A maioria dos adultos continua a ter parasitos circulando no sangue durante longos períodos. Essa imunidade também não interfere na produção de gametócitos, senão pela redução considerevel dos trofozoftas sanguíneos, a partir dos quais eles são formados. Mecanismos lmunologicos Mecanismos Humorais. Desde as primeiras esquizogonias sanguíneas e a intervalos regulares, uma grande quantidade de antígenos parasitarios é lançada na circulação, compreendendo desde os corpos residuais dos merócitos até as glicoproteínas da superfície externa dos merozoítas que são abandonados por ocasião da penetraçao nas hemacias. Outros produtos do catabolismo são também eliminados no meio interno. Muitas substancias estranhas ao organismo aparecem como resultado da morte e destruição dos parasitos bem como das hemácias por eles invadidas. No início da infecção, os anticorpos podem desencadear resposta imunecontra os esporozoítos reconhecendo a proteína circum-esporozoítica (CS), localizada na superfície do parasito, e dessa forma impedir a invasão dos hepatócitos por tais parasitos. Porém, essa ação não é suficientemente rápida para impedir totalmente essa invasão, que se realiza em poucos minutos. De grande importancia é a resposta imune contra o estágio eritrocitario dos plasmódios por ser entao que se desenvolvem em maior grau a patologia e a sintomatologia da malária. A resposta imune nesse estágio é, predominantemente, dependente dos mecanismos da imunidade humoral, embora participem também outros mecanismos como a imunidade inata e a produçe.o de citocinas. Os indivíduos expostos aos antígenos do parasito desenvolvem resposta imune mediada por anticorpos. Neles é alta a prevalência de anticorpos contra a fase sanguínea, tais como o antígeno 1 da membrana apical (AMA-1) e as proteínas da superfície do merozoíto (MSPs). Antígenos específicos de Plasmodium são também apresentados na membrana das hemácias parasitadas. Um dos aspectos mais característicos da infecção malarica é a hipergamaglobulinemia. Ela é marcada pela produçao aumentada de IgG, assim como pelos níveis elevados de IgM. No entanto, apenas 5 a 1 % das IgG presentes no soro podem ser absorvidos pelos parasitos da malaria, isto é, reagem com os antígenos maláricos. A abundante Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período produçao de anticorpos não-específicos (inclusive a de anticorpos heterófilos e autoanticorpos) sugere que os plasmódios devem estimular sua produçao seja mediante mecanismos que desencadeiam a multiplicaçao linfocitaria, seja através da inibiçao das células T supressoras (T s) que controlam essa multiplicaçao. Mecanismos Celulares. A hiperplasia do sistema macrófagolinfoide é a base da imunidade celular contra os protozoários em geral e contra os plasmódios em particular. A fagocitose é o principal dispositivo de defesa do organismo contra esses parasitos. Após cada esquizogonia, muitos merozoítas são fagocitados e destruídos, e o mesmo sucede com muitas hemácias parasitadas. Esse trabalho de limpeza desenvolve-se principalmente no baço, que aumenta consideravelmente de volume (esplenomegalla), assim como no fígado e na medula óssea, onde o sistema fagocítico mononuclear (SFM) é também abundante. O ritmo de fagocitose encontra-se bastante incrementado pela colaboraçao dos linfócitos Te. Os mecanismos pelos quais eles participam da destruiçao dos plasmódios sao varios: como células auxiliares dos linfócitos B (aumentando a resposta humoral), como ativadores de macrófagos, ou de células NK (natural killer cells) ou, ainda, pela produçao de substancias capazes de agir sobre os esquizontes, no interior das hemecias (linfocinas). A interaçao do anticorpo com as células imunocompetentes parece ser importante nos mecanismos de defesa antimalárica. Macrófagos provenientes de pessoas imunes sao mais aptos a fagocitar merozoítas do que os macrófagos de indivíduos normais. Esse aumento da atividade fagocitaria é estimulado por anticorpos específicos e relaciona-se unicamente com os merozoítas. As hemacias parasitadas apresentam antígenos específicos do Plasmodium em sua membrana e, portanto, podem ser reconhecidas e destruídas pelo sistema imunológico do hospedeiro. PATOLOGIA DA MALARIA Mecanismos Patogenicos: A malaria é doença sistêmica que provoca alterações na maioria dos órgaos, variando porém sua gravidade dentro de amplos limites, desde as formas benignas até as muito graves e fatais. A principal açao patogênica é exercida pela anóxia dos tecidos, devida a reduçao da capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue. A ela somam-se as perturbações locais do fluxo circulatório e um aumento da glicólise anaeróbia nos tecidos. Anoxia. A falta de oxigênio é uma decorrência da destruição intra e extra vascular de elevado número de hemacias, parasitadas ou nao. Parte de tal destruiçao ocorre quando os merócitos rompem as hemacias onde estao. Os macrófagos fagocitam esses restos celulares, mas também eritrócitos inteiros contendo parasitos, bem como outros que trazem, adsorvidos na superfície, os imunocomplexos com complemento. O complemento destes complexos, além de danificar a membrana celular (mesmo em hemacias que nao contenham plasmódios), facilita sua fagocitose. A reduçao da taxa de hemoglobina começa desde os primeiros dias de febre e se toma evidente ao fim de uma semana. Perturbaçoes Circulatorias. A circulaçao em certas areas é perturbada por vasoconstriçao arteriolar e dilataçao capilar, que agravam a anóxia local (hiperatividade do sistema nervoso simpatico). Na terça maligna, a aderência das hemácias às paredes vasculares é facilitada pelas protrusões digitiformes e pela presença de antígenos que se ligam aos receptores da membrana das células endoteliais (mais abundantes, talvez, nos vasos cerebrais), concorrendo para a obstruçao de pequenos vasos e, consequentemente, para maior anóxia tecidual ou para as necroses isquêmicas focais. Aumento da Glicolise Anaerobia. Outro fator de anóxia histotóxica desenvolve-se no interior das próprias células. Assim, a fosforilaçao oxidativa das mitocôndrias hepaticas é inibida pelo soro de pacientes com malaria aguda, com o que prevalece a glicólise anaeróbia. Algumas dificuldades provêm diretamente do metabolismo dos parasitos, tais como seu elevado consumo de glicose, com reduçao consequente das reservas de glicogênio hepatico. Do catabolismo parasitário resulta o lançamento, na circulação do organismo hospedeiro, de quantidades crescentes de ácido lático, hemozoína e detritos celulares. Mas o aumento do acido latico no líquor, observado em quase todos os casos de malária cerebral, parece devido também a predominancia da glicólise anaeróbia nos tecidos, Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período face a deficiente oxigenaçao. A hipoglicemia ocorre em dois grupos de pacientes, com infecçao por P.falciparum: naqueles com formas graves e em mulheres gravidas ou no puerpério. Ela resulta de um suprimento reduzido de glicose e de uma demanda aumentada (pela hiperinsulinemia, pelo metabolismo anaeróbio dos tecidos e pelo metabolismo dos parasitos). Acumulaçao de Pigmento. A hemozoína lançada na circulação é fagocitada pelos leucócitos, pelos macrófagos e pelos demais elementos do sistema fagocitario. O acúmulo de hemozoína nos tecidos, principalmente nas formas crônicas da malária, leva a uma pigmentaçao escura dos órgaos, especialmente daqueles mais ricos em elementos do SFM. Muito lentamente o pigmento é transformado em hemossiderina, para posterior reutilizaçao do Fe pelo organismo. Antígenos Parasitarios. Na fase eritrocitária da infecção constata-se no sangue a presença dos imunógenos que integram as varias formas do parasito, mas também a existência de antígenos parasitários solúveis, que circulam no plasma, ou que se manifestam na superfície da membrana das hemacias, parasitadas ou nao. Estes antígenos esta o presentes durante as infecções e nas primeiras semanas depois da cura. Ha uma relaçao cinética entre o aparecimento dos antígenos solúveis, a produçao de anticorpos e a formaçao subsequente de complexos imunes. Depósitos do lgM sao encontráveis nos glomérulos renais, desde o terceiro dia de infecções experimentais. A partir da segunda semana, os cortes histológicos mostram depósitos de imunocomplexos contendo IgG e complemento (C3). No início, a deposiçao de imunocomplexos é focal, mas durante as recrudescências e recaídas tende a tomar-se generalizada. A nefrite produzida pela febre quarta (Plasmodium malariae) é mediada por esses complexos imunes. Alteraçoes Anatomo e Fisiopatologicas NoSangue. Mesmo nas infecções benignas, o número de glóbulos vermelhos destruídos é consideravel e tende a levar, caso a doença se prolongue, a certo grau de anemia. Nas infecções pesadas, a anemia instala-se rapidamente ainda na fase aguda da moléstia, pois em cada esquizogonia eritrocítica podem estar envolvidos 0,5% a 1 % das hemacias, na terçã benigna; ou 2% a 25% na terçã maligna, raramente mais. Nos casos de P. malariae e de P. ovale a parasitemia é sempre baixa. Com a diminuição do número de eritrócitos surgem fenômenos de anoxia, tanto mais que as hemacias atualmente parasitadas cedem todo seu oxigênio ao metabolismo do parasito. Hipoproteinemia, aumento da permeabilidade capilar e edema acompanham essa anemia. Na terçã maligna, além de ocorrerem esses fenômenos com particular intensidade, surgem as complicações decorrentes da tendência das hemacias a se aglutinarem, constituindo pequenos êmbolos; ou a aderirem em grande número a superfície dos endotélios vasculares, principalmente no sistema nervoso central, no rim e no baço, formando eventualmente trombos e zonas de enfarte. No sistema nervoso, resultam daí manifestações neurológicas variadas, cuja gravidade pode levar ao coma e a morte do paciente. No Baço. Em consequência das infecções agudas, este órgão torna-se dilatado, congesto e de tonalidade escura. A capsula fica tensa, sujeita a ruptura traumatica. Nao ha alterações histológicas específicas, mas os capilares e seios venosos estao repletos de hemacias parasitadas, com os parasitos em todas as fases evolutivas. A fagocitose aí é intensa No Fígado. Durante a fase aguda, também o fígado apresenta-se congesto, ligeiramente aumentado de tamanho, porém liso e mole. Ao corte, mostra coloração normal, tendendo para o chocolate ou castanho-escuro. Nos casos crônicos, há hepatomegalia, espessamento da capsula e consistência firme do parênquima, que fica castanho-escuro. As alterações histológicas são atribuíveis, em parte, a anóxia devida a Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período circulação lenta através dos capilares do órgao. Ha hiperemia periportal e, nos sinusoides, hiperplasia das células de Kupffer que contêm muito pigmento. Os hepatócitos apresentam alterações patológicas (tais como tumefação turva, alterações nucleares, numerosas mitoses e infiltração gordurosa). Na Medula óssea. Além da congestao, da presença de grande número de glóbulos vermelhos parasitados e de ativa fagocitose, notam-se: hiperplasia do sistema fagocitario mononuclear (SFM), reação eritroblastica com grande produção de reticulócitos (proporcional ao grau de anemia) e inibição da maturação de granulócitos. Com o tempo, vai-se acumulando pigmento malarico. No Cerebro. Nos casos fatais (devido somente a terçã maligna), encontram-se no cérebro congestao e edema, com exsudato nos sulcos, fenômenos de anóxia e eventualmente microembolias ou tromboses capilares. QUADROS SINTOMÁTICOS NA MALÁRIA Quadro Clínico Habitual Período de Incubação. Na malaria, os sintomas variam com a espécie e a cepa do plasmódio, bem como com a resistência do paciente. É também muito variavel. Em alguns casos a febre aguda surge antes que se possa demonstrar a presença dos parasitos no sangue, isto é, no período pré-patente; outras vezes, só alguns dias depois de confirmada a parasitemia. Depois dos surtos agudos, ele volta ao tamanho e condições anteriores. Mas nos casos crônicos, a esplenomegalia persiste; a consistência do órgao continua firme; e a coloração tende para um cinza-chocolate, devido ao acúmulo de pigmento e a redução da hiperemia. Ha hiperplasia dos elementos histiocitarios e dos macrófagos, que contêm granulos volumosos de hemozoína. Ha também fibrose intersticial, espessamento da capsula e das trabéculas . A duração da fase pré-clínica oscila em torno de 12 dias na terçã maligna (9 a 15 dias de incubação), 14 dias na terçã benigna (10 a 20 dias de incubação) e 30 dias na febre quarta (incubação de 20 a 40 dias). Início da Doença. O aparecimento do ataque primario pode ser muito retardado em indivíduos que estiveram tomando drogas antimalaricas com finalidade profilatica. Pela mesma razao, o quadro clínico é passível de profundas modificações. Antes que surjam os acessos febris típicos, o paciente pode apresentar sintomas prodrômicos (precursores) que consistem em dores de cabeça, mal-estar, dores pelo corpo e ligeira elevação da temperatura, especialmente nas infecções pelo P. vivax. O início costuma ser súbito, principalmente com P.falciparum e P. malariae. O Acesso Malarico. Quando começa a febre alta, esta pode nao apresentar o aspecto que tanto caracteriza a doença, sendo, pelo contrario, contínua, renitente ou irregular, Pode ser diária, no princípio, para assumir um ritmo terçã ou quartã dias depois. Três fases podem ser reconhecidas no curso de um paroxismo ou acesso malárico típico: 1) Calafrios marcam a primeira fase. O paciente é rapidamente invadido por forte sensaçao de frio que o faz buscar cobertores e toda sorte de agasalhos. Esse frio é, no entanto, puramente subjetivo, porque sua temperatura ja entrou em ascensao. Mas nada pode alivia-lo e, ao agravar-se o quadro, o doente fica palido, cianótico, a pele fria, enquanto os dentes começam a bater e todo o corpo é sacudido por tremores de frio intensos e incontrolaveis. O pulso toma-se rapido e fino, podendo sobrevir nauseas e vômitos. Depois de 15 minutos a uma hora, o frio passa. Começa a segunda fase. 2) Sensaçao de calor, o rosto afogueado e cefaleia intensa marcam o novo quadro. A temperatura alcança 39 a 40°C, podendo chegar a 4l°C. O pulso agora é cheio, amplo; a pele, quente e seca. Ondas de calor fazem o paciente pedir a retirada das cobertas. Em alguns casos ha delírio. A situaçao permanece estacionaria por duas a quatro horas. Algumas vezes mais. 3) Finalmente, a sudorese aparece, ao mesmo tempo que a temperatura cai. A pele, úmida, logo é regada por abundante transpiraçao que empapa a roupa do paciente e molha os lençóis. Passa a dor de cabeça; e uma sensaçao de alívio substitui o mal-estar anterior. Como resíduo da crise, o doente pode manifestar certo grau de fadiga, ou, então, recuperar-se totalmente. Por vezes, retoma o trabalho como se nada houvera sucedido. O intervalo apirético dura até que se complete um ciclo esquizogônico nas hemacias, repetindo-se o mesmo quadro no terceiro dia, ou seja, dia sim dia não, no caso de infecçao por P. vivaxou P. ovale; e cada 72 horas nas infecções por P. malariae. A irregularidade da febre, no início da doença, seria devida ao assincronismo das esquizogonias. Com o decorrer do tempo, uma tendência a sincronizaçao vai fazer com que os acessos venham a intervalos regulares. Mas, na terça benigna, observa-se algumas vezes ritmo cotidiano. As crises sobrevêm a cada 24 horas, o que indica a existência de dois ciclos eritrocíticos independentes e alternados no tempo: um Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período completando-se nos dias ímpares, outro nos dias pares. O ritmo cotidiano representa, pois, a soma de dois ciclos normais, cada qual com seu intervalo de 48 horas. Se um dos ciclos desaparecer, a curva térmica passara a ser típica. Também na terça maligna e na quarta podem ocorrer ritmos aditivos. Nesta última, três ciclos, cada um atrasado de 24 horas em relaçao ao outro, dfto em resultado uma febre diaria. O ciclo de P.falciparum é menos sincronizado que os demais, visto que as esquizogonias se realizam com intervalos variáveis de 36 a 48 horas. Por essa razao a febre é com frequência irregular, e os paroxismos mais demorados que nos outros casos. Recrudescencias e Recaídas. Nas infecções por P. vivax os acessos repetem-se durante uma semana, duas oumais. Depois, tomam -se menos intensos, a parasitemia reduz-se consideravelmente e se negativa. O paciente passa bem durante alguns dias ou algumas semanas. Mas a febre pode retomar, com igual ou menor intensidade, constituindo o que se chama de recrudescencia. As recrudescências correspondem, pois, ao reaparecimento a curto prazo de manifestações clínicas, devida a persistência do ciclo hematico e sua reagudizaçao (elevaçao da parasitemia). Distinguem-se das recaídas da malaria porque estas últimas apresentam-se mais tardiamente, por vezes depois de meses ou anos de evoluçao silenciosa do parasitismo. Admite-se, hoje, que as recaídas resultam da lenta maturação de alguns esquizontes - os hipnozoítas - no fígado. O tempo gasto nessa maturaçao é determinado pelas características genéticas de cada esporozoíta, dentro da populaçao de parasitos injetados pelo mosquito. Assim se explicam tanto os casos de malaria com incubaçao muito longa, encontrados na Rússia ou na Holanda, como as recaídas mais precoces ou mais tardias, com cepas de P. vivax e de P. ovale. O P.falciparum só determina umas poucas recidivas a curto prazo, isto é, recrudescências do ciclo sanguíneo, nao havendo, pois, o mecanismo de dormência em seus esporozoítas. Esse mecanismo estaria também ausente em P. malariae, ficando todas as recidivas na dependência da prolongada persistência das formas eritrocíticas. Estas puderam ser comprovadas em pacientes inoculados com sangue parasitado (ciclo hematico) mesmo após mais de 520 dias. O sequestro de hemácias parasitadas por P. malariae, no fígado, ao formar complexos com as células de Kupffer, contribuiria para prolongar a infecçao. Há registro de recrudescência após 30 a 40 anos. Variações Clínicas da Malaria frequentemente grave em crianças e gestantes ou em adultos procedentes de areas endêmicas (sem imunidade) que vão trabalhar ou, simplesmente, visitar zonas com transmissão ativa. É raro que ocorra envolvimento cerebral na terça benigna, se bem que tonturas, vertigens, desorientaçao transitória e síncope possam ser observadas. Nas crianças, a febre nem sempre apresenta o ritmo intermitente, podendo ser ligeira, irregular ou quase continua. As convulsões aparecem mais frequentemente do que nos adultos. Nos casos prolongados, ha anemia progressiva e grande aumento do volume do baço (esplenomegalia), que é mais encontravel em pacientes de pouca idade. O comprometimento intestinal pode resultar numa forma que lembra a cólera; mas também pode simular apendicite, obstrução intestinal ou mesmo peritonite. As formas crônicas da malaria tornam-se cada vez mais raras nos países ou nas regiões que instituíram seu controle. No decurso delas, a sintomatologia que interrompe os períodos assintomáticos reduz-se, muitas vezes, a certo mal-estar, dores de cabeça e musculares, palpitações, cansaço, insônia e irritabilidade. Nas crianças, a malaria crônica compromete o desenvolvimento físico e mental, em vista da anemia crônica, hepatoesplenomegalia, perturbações do aparelho digestivo e do apetite. A febre é recorrente. A evoluçao faz-se em geral para a cura, se bem que possa conduzir também algumas complicações fatais. Dois quadros graves da forma aguda e dois da forma crônica merecem maior destaque: Malaria Grave por Plasmodium falciparum Ela é definida pela presença de formas assexuadas de P. falciparum no sangue, mais alguma das complicações ou manifestações potencialmente fatais enumeradas a seguir: • hiperparasitemia (mais de 5% das hemacias parasitadas); • malaria cerebral, a ser suspeitada sempre que houver qualquer deterioraçao da consciência (confusão, delírio, torpor, embotamento ou coma), distúrbio convulsivo, distúrbio neurológico focal ou psicose. Mas como muitos desses sintomas podem ser consequências do estado febril e reversíveis, utilizam-se como critérios de mataria cerebral: (1) coma profundo (a resposta motora ao estímulo doloroso nao é localizada ou inexiste) e com mais de seis horas de duraçao; (Il) estão afastadas as encefalopatias de outra etiologia; (Ili) ha confinnaçao da infecçao por P.falciparum; • anemia grave: hematócrito abaixo de 20%; hemoglobina inferior a 4,4 mmol/I (ou 7 ,l g/dl); Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período • icterícia: dire tamente visível ou definida como concentração de bilirrubina sérica total acima de 5 0 μ. mol/I (ou 2,9 mg/dl); • distúrbios hidroeletrolíticos e de acido-base que exijam terapia intravenosa; • insuficiência renal, definida por excreçao urinaria inferior a 400 ml/dia e creatinina sérica superior a 265 μ.mol/I (mais de 3,0 mgll), sem melhora após reidrataçao; • hipertermia (temperatura retal acima de 39"C); • vômito da medicaçao administrada por via oral; • colapso circulatório (choque, hipoteoSfto); • outras alterações, como edema pulmonar, hemoglobinúria, disturbios hemorrágicos e da coagulação, hipoglicemia, infecções associadas e complicações. A malaria grave tem sido registrada com maior frequência durante os surtos epidêmicos em indivíduos recentemente infectados, isto é, sem imunidade . Em certas arcas endêmicas, porém, tanto crianças e gestantes como adultos de todas as idades e condições podem ser atingidos, tendo-se notado nesses casos baixos títulos de imunoglobulinas no soro e no líquor, ao contrario dos útulos elevados nos demais membros da populaçao local. As consequências clínicas da malaria perniciosa podem manifestar-se através de uma variedade de síndromes, segundo os órgaos e sistemas mais atingidos. As principais: a malaria cerebral, a malaria aguda das crianças e a das gestantes. Malaría Cerebral . As formas com envolvimento cerebral chegam, em algumas estatísticas, a 10% dos casos com infecção por P.falciparurn. Elas são responsaveis por 80% dos óbitos devidos a malaria. O início da doença é gradual ou súbito. Queixando-se ape nas de dor de cabeça, o paciente pode entrar em coma horas depois. O coma pode ser precedido de convulsões. Sinais de meningite são mais comuns em crianças. Em casos de evoluçao rapida e dramática, os principais sintomas e sinais clínicos são: febre, cefaleia, confusão mental, sonolência, vômitos, diarreia, desidrataçao, convulsões e coma. Os sintomas podem variar consideravelmente. A sintomatologia muda de um momento para outro, surgindo monoplegias, hemiplegias ou disartrias transitórias. Quadros espasticos e ftecidos sucedem-se. E se, em geral, a malaria cerebral sugere um processo de encefalite o u de meningite, outras vezes lembra o alcoolismo, o tétano, a epilepsia e outras condições, sem prejuízo de sua variabilidade. A anemia é uma característica constante de maleria grave, 30% dos pacientes necessitando de transfusões. A icterícia pode ser consequência da hemólise. Ao serem hospitalizados, os pacientes apresentam em geral hipovolemia (baixa pressão venosa central, hipotensão postural, oliguria com alta densidade urinária) e desidratação (falta de turgor cutaneo e tensao ocular diminuída). As complicações podem ser múltiplas, como o edema pulmonar (por sobrecarga de Huidos ou outras causas entre as quais a gravidez ou o puerpério), a hipoglicemia (principalmente em gestantes), as infecções associadas (inclusive septicemia por bactérias gram -negativas) etc. Malaria Grave em Lactentes e Crianças. A infecçao por P. falciparum é potencialmente grave e mesmo fatal para as crianças das areas endêmicas, nos cinco primeiros anos de vida. A malaria congênita é rara devido a resistência das hemacias com hemoglobinas fetais. Nos primeiros meses, a doença é geralmente benigna, graças a imunidade passiva recebida da mãe imune. Depois, o índice parasitario vai aumentando com a idade e pode elevar-se de menos de 10%, nos três primeiros meses, para 80 a 90% ao fim do primeiroano. A taxa de mortalidade a lcança seu maximo durante os dois primeiros anos de vida para baixar em seguida. O grau de imunidade já é importante durante a idade escolar, quando 75% dos casos podem ser de parasitemias assintomaticas. A anemia costuma ser grande, nos casos com alta parasitemia, e, nas crianças que antes já eram anêmicas, acompanha-se de taquicardia, dispnéia e insuficiência cardíaca. Na malária cerebral, as convulsões ocorrem em quase 10% das crianças com menos de 5 anos e em apenas 1,5% das maiores de cinco anos. Elas são seguidas pelo coma, mas este pode instalar-se depois de um estado de sonolência progressivo. Malaria Grave na Gestação. A malária pode representar uma complicaçao muito séria da gravidez, causando a morte materna, o aborto ou morte fetal, a natimortalidade, a prematuridade ou o baixo peso ao nascer; e predispõe a gestante para a eclampsia e para as toxemias nefréticas. Formas latentes da infecçao palúdica tomam-se patentes durante o parto ou o puerpério. Mas nao se sabe se isso é devido a imunodepressao (natural na gravidez), ou a fatores associados com a placenta.que promoveriam acentuada multiplicaçao parasitária. A placenta parece ser o local preferencial para a sequestraçao e o desenvolvimento dos parasites de P.falciparum, que acabam por levar esse órgão a falência e ao Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período sofrimento fetal consequente. O organismo matemo fica muito sujeito a hipoglicemia, que já foi constatada em 50% das gestantes com maleria cerebral, tratadas com quinina. Em outros casos, a hipoglicemia aparece em infecções aparentemente normais tratadas com quinina, em mulheres que se encontravam no segundo ou terceiro trimestre da gravidez. Os sintomas que acompanham são: sudorese, um comportamento anormal ou perda repentina da consciência. Nestes casos, as pacientes respondem logo a injeçao endovenosa de glicose a 50% (até 1,0 mg/kg), seguida de infusão endovenosa de glicose a 10%, controlada por determinações frequentes da glicemia. Outro risco importante, sobretudo depois do parto, é o edema pulmonar agudo, cuja etiologia nao este esclarecida. A malária devida ao P.falciparum pode causar anemia profunda após o primeiro trimestre de gravidez. Por outro lado, ela induz geralmente contrações uterinas e, consequentemente, sofrimento fetal , que costumam passar despercebidos. Febre Hemoglobinúrica. É uma complicaçao rara de terça maligna, especialmente em casos tratados com quinina. A primaquina também pode ajudar a desencadear o processo em pacientes com deficiência de glicose-6- fosfato- desidrogenase nas hemacias. Caracteriza-se pelo aparecimento de crises hemolíticas de intensidade e frequência variáveis. Os sintomas são os da hemólise intravascular aguda, com hemoglobinúria, febre, prostraçao e, mesmo, choque. A anemia instala -se rapidamente, com icterícia ligeira. Nefropatias Malaricas Ainda que lesões renais possam ser produzidas tanto por infecções agudas como por formas crônicas da doença, os quadros anatomopatológicos diferem em vários aspectos. No homem, glomerulonefrites e síndrome nefrótica foram descritas em infecções agudas por P.falciparum, demonstrando-se a presença de depósitos de imunoglobulinas (principalmente IgM) e complemento, na membrana dos glomérulos e nas áreas do me98llgio. Os sintomas clínicos são ligeiros, surgindo duas a três semanas após a infecçao. Com o tratamento antimalárico, os depósitos de imunocomplexos desaparecem rapidamente e as alterações renais mostram-se reversíveis, cessando também a albuminúria e outras anomalias urinarias. Na febre quarta, nao obstante ser a infecção tanto ou mais benigna que a devida ao P. vivax, com períodos apiréticos mais longos e crises febris de mais curta duraçao, as complicações renais são mais frequentes que nas outras formas de malária. Trata-se em geral de um quadro nefrótico, acompanhado de albuminúria e edema. As nefropatias associadas com P. malariae têm carater crônico e progressivo, com proteinúria persistente, nao respondendo ao tratamento específico e reagindo debilmente aos corticosteroides. Histologicamente, encontram-se depósitos granulosos de imunoglobulinas G e M em quase todos os casos, complemento em um terço e antígenos maláricos em um quarto das biópsias estudadas. O fato de só uma pequena proporçao de indivíduos com infecção malárica desenvolver estes tipos de lesão renal e, também, as razões por que os depósitos de imunocomplexos tendem a perpetuar-se nas paredes capilares permanecem sem explicaçao. Suspeita-se o envolvimento de mecanismos de autoimunidade nesse processo. Síndrome Esplenomegálica Tropical Normalmente, os pacientes com malária crônica atravessam uma fase da doença em que a esplenomegalia é notável. Mas com o correr do tempo e o desenvolvimento da imunidade, esses habitantes de zonas endêmicas apresentando uma diminuiçao do volume do baço (ainda que o peso médio do órgao mantenha-se acima do normal), mesmo em presença de altos títulos de anticorpos. Estes últimos 980 mantidos pelas reinfecções, agora com parasitemias autolimitadas, breves e assintomáticas. A esplenomegalia tropical corresponde a uma forma de resposta imunológica aberrante, observada em casos de malária recorrente, com elevaçao exagerada dos níveis de IgM no soro, bem como dos títulos de anticorpos específicos contra a malaria. Ela tem sido registrada em ereas malarígenas da Amazônia, assim como nas de países africanos, asiáticos e do Pacífico. Ocorre tanto em zonas bolo e hiperendêmicas como em áreas mesoendêmicas, quer seja o P.falciparum ou o P. vivax a espécie de plasmódio presente. Sua relaçao com a malária é comprovada por associar-se a elevados títulos de anticorpos Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período específicos; por ter a síndrome desaparecido de regiões onde o paludismo foi erradicado; e por regredirem a anemia, a esplenomegalia e o teor de imunoglobulinas com tratamentos antimalaricos prolongados. A razão de encontrar- se tao raramente essa síndrome, bem como seu mecanismo causal, permanecem ignorados. Clinicamente, o quadro pode ser discreto e sem queixa. Manifesta-se em adultos jovens, com história de febres recorrentes durante muitos anos e esplenomegalia persistente, que começou na infancia ou na adolescência; sensaçao de repuxamento no hipocôndrio esquerdo ou de desconforto abdominal, quando o tamanho do baço é muito grande. Ha, por vezes, crises dolorosas, com reaçao de defesa abdominal, rigidez e sensibilidade da parede, como nos casos de abdome agudo, mas que regridem dias depois com medidas conservadoras. A anemia que acompanha o quadro chega a ser assintomática, por instalar-se lentamente, de modo a permitir uma acomodação do paciente a sua limitada capacidade de esforço. Ela é devida em parte a hemodiluiçao que decorre da elevaçao oncótica causada pela hipergamaglobulinemia. Porém, episódios hemolíticos agudos podem agravar subitamente a situaçao. Ao exame, o paciente apresenta-se pálido, com veias jugulares e do antebraço dilatadas (hipervolemia), pulso em geral lento e pressão baixa, coraçao normal ou ligeiramente aumentado; e hepatoesplenomegalia. DIAGNOSTICO DA MALARIA Diagnostico Laboratorial: A única maneira segura de estabelecer-se o diagnóstico, em pacientes suspeitos de malária, é demonstrar a presença do Plasmodium em exames de sangue. Esta pesquisa deve ser feita em todos os pacientes febris, nas áreas endêmicas, e em todos aqueles que procedam dessas áreas. Isso é indispensável para prevenir as formas graves, imprevisíveis, de malária cerebral, causadas pelo P.falciparum e suscetíveis de se instalarem subitamente, evoluindo eventualmente para o coma e a morte. O examedeve ser feito, portanto, o mais cedo possível. Recomenda-se preparar uma lamina com gota espessa e outra com gota estirada (gota estendida); ou melhor, utilizar os dois processos de diagnóstico na mesma lamina. A gota espessa deve ser cuidadosamente examinada por profissional competente, durante 5 minutos pelo menos, antes de considerar-se o exame negativo. O esfregaço fino, ou gota estirada, requer 1 O a 15 minutos de exame. Se aparecer pigmento malárico em leucócitos, continuar a pesquisa, pois isso constitui sério indício de parasitismo. Se a suspeita clínica ou outras circunstancias justificarem novas buscas, os exames de sangue serão repetidos duas vezes por dia, nos dias subsequentes. O diagnóstico só é completo quando identificada a espécie de Plasmodium, pois o prognóstico a curto e longo prazos, bem como a escolha dos medicamentos, depende, em certa medida, da espécie em causa. Também é útil estimar-se o grau de parasitemia, se bem que nas infecções devidas ao P.falciparum a escassez de trofozoítas no sangue periférico nao assegure nem a benignidade da doença, nem sua evoluçao favorável, se a medicaçao não for estabelecida rapida e energicamente. Ainda que os métodos de demonstraçao de anticorpos, até agora empregados, raramente deem resultados negativos com soros de pacientes que tenham parasitemia patente, Não se deve utiliza-los em lugar da hemoscopia para o diagnóstico de pessoas doentes. A presença de anticorpos no soro de um paciente não significa, necessariamente, a presença de infecçao, uma vez que os anticorpos podem permanecer durante meses, depois da cura parasitológica. Se os testes forem positivos, a norma é procurar os parasitos em exames de sangue. Diagnostico Clínico Quando o exame de sangue nao puder ser feito ou for negativo, apesar das razões que mantêm a suspeita, deve-se considerar como fatos sugestivos e mais vezes relacionados com a malária: 1) febre com carater intermitente, sobretudo se a febre ou os sintomas que a acompanham recorrem com regularidade cada 48 ou 72 horas; 2) anemia de tipo hipocrômico, com taxas de leucócitos normal ou ligeiramente baixa, alta percentagem de monócitos e, talvez, alguns leucócitos com pigmento; a contagem leucocifílica pode elevar-se no início da febre (fase dos calafrios); 3) baço aumentado e doloroso; 4) residência ou procedência de zona endêmica; visita curta ou turismo em zona endêmica; assim como história Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período pregressa de uma exposiçao provavel a picada de mosquitos anofelinos; 5) resposta favoravel e rapida aos antimaláricos. O diagnóstico diferencial tem de ser feito, em certos casos, com a febre tifoide, a febre amarela, a hepatite infecciosa, o calazar, a esquistossomose mansônica, o abscesso amebiano do fígado, a leptospirose, a febre recorrente e outros processos febris. Em crianças pequenas, que podem apresentar quadros clínicos mais variados e menos típicos, ha que excluir as outras causas de doenças febris prevalentes na área, antes de passar ao tratamento. MEDICAMENTOS ANTIMALÁRICOS As Amino-4-quinoleínas: muito eficazes contra as formas assexuadas sanguíneas (efeito esquizonticida sanguíneo), menos ativos contra os gametócitos de P. vivax ou P. malariae e inativos para os gametócitos de P.falciparum ou para as formas esquizogônicas hepaticas. Na pmtica , deslocaram a quinina e os demais antimaláricos desse tipo, em vista do rapido efeito sobre a febre, da baixa toxicidade e da capacidade de retardar o aparecimento de recidivas. São também de baixo custo, fato muito importante na programaçao da luta contra a malaria. A absorçao gastrintestinal faz-se prontamente, localizando-se depois em varios tecidos de onde as drogas são metabolizadas e excretadas lentamente. Os parasitas contidos nas hemacias têm a extraordinaria capacidade de concentrar essas drogas 600 vezes, no interior do glóbulo vermelho, em relaçao a sua concentração no plasma , alcançando assim o nível tóxico para o plasmódio. Cloroquina (Resoquina, Nivaquina, Aralem etc.). É a mais usada das amino-4- quiooleínas, por ser rápida e quase completamente absorvida no intestino, e por alcançar maior concentração no sangue que as outras do mesmo grupo, quando se empregam as mesmas doses. É prescrita na dose inicial de 0,6 grama de base, por via oral, seguida de 0,3 g após seis horas, e mais 0,3 g diariamente até o terceiro ou quarto rua de tratamento, nos casos agudos. Em relaçao ao peso do paciente, a primeira dose é de 10 mg/kg seguida de três doses de 5 mg/kg (total: 25 mg/kg de peso corporal). Desaconselha-se o uso parenteral da cloroquina devido aos possíveis efeitos tóxicos. A cloroquina tem sido o antimalarico mais largamente usado em todo o mundo, nos últimos 4-0 anos. Com as doses recomendadas para o tratamento supressivo da malaria, seus efeitos colaterais são raros e, quando ocorrem, são leves: cefaleia, tonturas, anorexia e perturbações gastrintestinais (nauseas, vômitos ou dor abdominal) e, algumas vezes, prurido. Ainda que incômodos, têm curta duraçao, sem outras consequências. Manifestações tóxicas agudas foram vistas em crianças que ingeriram acidentalmente doses e levadas de cloroquina e em adultos que tomaram deliberadamente a droga para suicidar-se. Doses de cloroquina, entre 150 e 750 mg de base, tomadas de modo sistemático durante longos períodos, podem dar lugar a efeitos tóxicos pela acumulaçao seletiva do produto em certos tecidos. Dois tipos de lesões podem ser observados: (a) opacidades corneanas, cuja frequência nos consumidores de doses elevadas do medicamento situa-se entre 10 e 50%, mas têm carater reversível; (b) lesões retinianas, menos frequentes e irreversíveis, podendo conduzira cegueira. As alterações podem aparecer com a tomada diaria de 100 mg de cloroquina, durante 10 anos, mas nunca foram registradas com doses semanais de 300 mg. Amodiaquina (ou Camoquina). É medicamento do mesmo grupo e mostra-se ligeiramente menos ativa que a cloroquina, sendo utilizada segundo os mesmos esquemas terapêuticos. As Amino-8-quinoleínas: Não obstante a semelhança química com as amino-4-quinoleínas, essas drogas são pouco ativas contra as formas assexuadas sanguíneas, nas doses toleradas (não servindo portanto para o tratamento dos casos agudos), mas são eficientes contra os esquizontes hepaticos e os gametócitos. Elas Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período previnem a instalação do ciclo eritrocítico, quando os parasitos se encontram ainda na fase pré-eritrocítica, e asseguram a cura radical depois do surto agudo , por impedir as recaídas e destruir os gametócitos. As principais drogas desse grupo são a primaquina , a plasmoquina e a pentaquina. Elas são absorvidas rapidamente e logo excretadas, muito pouco ficando retido nos tecidos. Somente a primaquina ainda encontra aplicaçao no tratamento da malaria, geralmente associada a um esquizonticida sanguíneo. Os efeitos colaterais limitam grandemente seu uso. Pela elevada toxicidade que apresentam, podem ocasionar dores abdominais, nauseas, vômitos, tonturas e sonolência. Complicações menos frequentes são: anemia hemolítica, hemoglobinúria, cianose, icterícia e atrofia amarela aguda do fígado. Os acidentes hemolíticos são desencadeados em pacientes que apresentam nas hemacias deficiência da desidrogenase da glicose-6-fosfato (G-6-PD), defeito esse de natureza genética. Outros Compostos com Núcleo Quinoleína Quinina. É o mais ativo dentre uma vintena de alcaloides extraídos da casca de quina (Cinchona ledgeriana), tendo em comum com outros antimalaricos um núcleo quinoleína. Outrora foi o único medicamento contra a malaria, mas agora só é empregado nos casos em que os plasmódios desenvolvamresistência aos demais medicamentos, ou nas formas graves devidas ao P. falciparum. Trofozoítas, esquizontes e merozoítas sanguícolas das quatro espécies de plasmódios humanos são destruídos, mas não as formas hepaticas (pré-eritrocítica), nem os gametócitos de P.falciparum. Trata-se, pois, de uma droga que cura os surtos agudos, sem impedir as recaídas. O cloridrato, ou o sulfato de quinina (este último conhecido por quinino), é administrado por via oral na dose de 1 O mg/kg de peso, tres vezes ao rua, durante uma semana ou mais (1,8 grama/dia). Nos casos graves, administrar o bicloridrato de quinina: 10mg/kg de peso corporal, em soluçao fisiológica para perfusão endovenosa, durante 2 a 4horas. Repetir de 8 em 8 horas ou de 12 em 12 horas, até que o paciente possa absorver um medicamento por via oral. Não ultrapassar 2 gramas por dia. Quanto aos efeitos colaterais, a droga desenvolve açao irritativa sobre os tecidos e pode causar fenômenos tóxicos, principalmente nos elementos nervosos do ouvido e da retina, com produçao de zumbido, vertigens, surdez, fotofobia e diplopia; também causa cefaleia, nauseas, vômitos, diarreia e febre. Tais manifestações, entretanto, costumam ser discretas e reversíveis quando se empregam doses terapêuticas, porém graves se houver superdosagem. Mefloquina. É uma quinoleína-metanol, analoga da quinina, que, mesmo nao sendo uma droga ideal para o tratamento da malaria, mostra-se ativa contra os plasmódios resistentes –a cloroquina, em dose única de 750 mg. Pode ser usada só ou em combinaçao com sulfadoxioa e pirimetamina. Vômitos e vertigens são manifestações que podem acompanhar o uso desse medicamento, sobretudo em doses mais elevadas. Dada a necessidade de proteger a mefloquina como alternativa para outros tratamentos de plasmódios resistentes, recomenda-se um controle estrito de seu uso, nas áreas endêmicas, que deve ficar limitado aos casos polifarmaco-resistentes de infecções agudas por P.falciparum. Por ser de eliminaçao muito lenta, permanece muito tempo no organismo em doses subterapêuticas, facilitando assim o desenvolvimento de resistência, caso os pacientes permaneçam na area endêmica. Pirimidinas: A pirimetamina (Daraprim , Malocide ou Cloridrin) é um poderoso agente supressivo da malária. Combate o ciclo esquizogônico hepatico e impede a evoluçao dos gametócitos no mosquito. Sobre a esquizogonia sanguínea, é eficaz porém lenta. A absorçao intestinal é também lenta e a concentraçao no sangue só alcança seu pico após duas horas. A toxicidade é muito baixa e, nas doses usuais, quase nula. Dao- se, no primeiro dia, 50 mg e, no segundo dia, 25 mg para um adulto. As manifestações tóxicas, que aparecem com dosagem alta ou uso prolongado, consistem em ataques convulsivos agudos e anemia megaloblastica. Acidentes graves foram registrados em crianças atraídas pelo sabor doce do medicamento, Nas intoxicações crônicas que surgem após uso prolongado de doses altas, pode haver anorexia, vômitos, dor abdominal, diarreia, anemia, leucopenia e trombocitopenia. A administraçao de pirimetamina, particularmente em áreas com programas de quimioprofilaxia extensiva, induz o Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período aparecimento de linhagens resistentes de Plasmodium falciparum. Sulfamidas e Antibioticos: são de açao prolongada, sao inadequadas isoladamente para o tratamento da malária. No entanto, mostram-se úteis como potenciadores de outros medicamentos, especialmente da pirimetamina, e encontram aplicaçao no tratamento das infecções por P. falciparum resistentes-a cloroquina e outros medicamentos. Sulfadoxina: A combinaçao mais usada é a de sulfadoxina (1.000 mg) mais pirimetamina, encontrada no comércio sob o nome de Fansidar e contendo metade das doses por comprimido. Em lugar de sulfadoxina pode ser empregada a sulfametopirazina ou Sulfalene, na dose de 2 gramas. Antibioticos: Em geral, curam as infecções por P. falciparum se administrados durante sete ou mais dias consecutivos. O cloridrato d e tetraciclina pode ser usado na dose de 1 ou 2 gramas por dia, divididos em quatro doses iguais. Como a açao dos antibióticos é lenta, torna-se necessario usar junto com um esquizonticida sanguíneo de açao rápida . Artemisina e Derivados: Artemisina ou Gingbaosu . É o princípio ativo antimalárico extraído de uma planta chinesa (Artemisia annual) de uso popular ha mais de mil anos. É um esquiterpeno, diferente portanto de todas as outras classes de antimalaricos. Varios derivados da artemisina, que é pouco solúvel, estão sendo utilizados: artemeter solúvel nos lipídios (preparação intramuscular}, e artesinato, hidrossolúvel (endovenoso), são mais eficientes que o princípio ativo vegetal. Agem rapidamente e se o de eliminaçao rápida. Mostram-se superiores as quinoleínas, no tratamento da malaria simples ou grave, e praticamente destituídos de efeitos colaterais. São ativos contra as formas resistentes de P.falciparum. Resistencia aos Quimioterapicos A resistência parece devida, em primeiro lugar, a ocorrência de mutações espontaneas, pois nada demonstra que os antipalúdicos utilizados na clínica exerçam efeitos mutagênicos sobre os plasmódios; e, em segundo lugar, a pressao seletiva desenvolvida pelos medicamentos sobre as populações de parasitos sensíveis (que vao desaparecendo) e de parasitos resistentes (que passam a prevalecer) em determinada região. Essa seleçao é independente da dose utilizada. Assim, a resistência que aparece em casos tratados com pequenas doses toma os parasitos refratários também -as doses altas da droga. Permanecem desconhecidos quais os elos metabólicos que se encontram alterados nos plasmódios resistentes a cloroquina. Sabe-se apenas que sua capacidade de concentrar a droga ficou muito reduzida. TRATAMENTO DA MALARIA Tratamento Segundo o Nível de Atendimento: 1. Nível periferico (cuidados primarios de saúde). O agente sanitário ou enfermeiro deve tomar uma amostra de sangue, em todos os casos de febre (excluídos evidentemente aqueles com etiologia clara, como sejam, em crianças: sarampo, varicela, otites, amigdalites, difteria etc.), e administrar em seguida, aos suspeitos de malaria, um tratamento presuntivo. Se o exame de sangue permitir a comprovaçao parasitológica do diagnóstico, dar o tratamento radical, levando em conta o peso do paciente. Encaminhar todo paciente em estado grave para um centro de saúde ou hospital 2. Nos centros de saúde e hospitais. O diagnóstico de laboratório deve ser estabelecido sem demora, e o tratamento radical instituído após comprovada a parasitemia, a menos que o exame clínico recomende outra orientaçao. As formas mais graves da malaria devem receber a orientaçao de um especialista. Juntamente ou após o tratamento do quadro clínico, medicamentos antimalaricos adequados devem ser administrados para prevenir recrudescências ou recaídas , assim como impedir que a infecçao possa ser transmitida aos anofelinos (medicamentos antirrecidivantes e gametocitocidas ou esporonticidas). Tratamento em Areas com P. falciparum não resistente: Em areas endêmicas de malaria, onde nao se constatou a resistência de P.falciparum a cloroquina (ou em pacientes procedentes dessas arcas), deve-se fazer o tratamento com esse fármaco. Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período Em regiões de alta endemicidade, com populações parcialmente imunes, onde haja dificuldade para fazer o diagnóstico microscópico, pode-se dar o tratamento presuntivo; porém as crianças e os indivíduos nao imunes (primeiro ataque malárico) devem receber o tratamento radical. No tratamento presuntivo, a posologia para as pessoas adultas é de 600 mg de cloroquina-base (ou de amodiaquina) por via oral, um só dia (istoé, 4 comprimidos). O tratamento radical com cloroquina, a ser administrado aos pacientes com confirmaçao parasitológica da infecçao, deve prolongar-se por três dias: • no 1° dia, 600 a 900 mg de cloroquina (e para crianças, 10 mg por quilo de peso corporal), divididos em 2 ou 3 doses, com 4 a 6 horas de intervalo; • no 2° dia, 300-450 mg de base (para as crianças, 5 mg/kg de peso); • no 3° dia, 300-450 mg de base (para as crianças, como acima). Administrar, depois, dose única de 45 mg de primaquina para evitar as recaídas e a transmissão da infecçao aos mosquitos. Nas mulheres gravidas o tratamento radical deve ser feito após o parto, devido aos efeitos colaterais da primaquina. Caso se utilize a amodiaquina, dar no primeiro dia 600 a 800 mg do medicamento; 400 mg no segundo dia e 400 mg no terceiro. Nas infecções por P. vivax e por P. ovale, depois da cloroquina administrar primaquina: 15 mg diários, durante 14 dias, para os adultos; e 5 mg diários para as crianças com mais de dois anos, por igual período. Tratamento em Areas com P. falciparum Resistente: Em areas com P.falciparum sensível as associações antifólico-sulfamida, mas onde as arnino-4-quinoleínas são ineficazes, medicar com: sulfadoxina, 1,5 grama, mais 75 mg de pirimetamina (dose única); ou sulfalene, 1,5 grama, mais 75 mg de pirimetamina (dose única). Nos casos mais graves, convém adicionar a esses esquemas de tratamento 3 a 9 doses de quinina, espaçadas de 8 horas, para baixar rapidamente a parasitemia. A associaçao sulfadoxina- pirimetamina encontra-se no comércio com o nome de Fansidar (comprimidos de 0,5 g de sulfadoxina mais 0,025 g de pirimetamina): usar 3 comprimidos para um adulto. Em regiões com P.falciparum resistente tanto as arnino- 4- quinoleínas como as associações antifólico- sulfamida, seguir um dos esquemas abaixo: a) Quinina, 1.800 mg por dia, durante três dias, mas subdividindo as doses diárias em três, a serem dadas com 8 horas de intervalo. Esse tratamento pode ser continuado por sete dias nas regiões em que se notou uma baixa da sensibilidade a droga. b) Quinina, como acima, mais uma dose diruia de 1 a 2 gramas de tetraciclina (ou doxiciclina, ou minociclina). Tratamento da Malaria Grave Hospitalizar o doente, e instituir imediatamente o tratamento parenteral: Perfusão endovenosa de soro isotônico (10 ml/kg de peso do paciente, com duraçao de 2 a 4 horas), contendo o bicloridrato de quinina na dose de 1 O mg/kg de peso do doente. Repetir essa medicaçao a cada 8 a 12 horas, até que o paciente seja capaz de receber tratamento por via oral, conforme os esquemas terapêuticos. Por seus possíveis efeitos tóxicos, são contraindicados o uso parenteral de cloroquina e o uso de corticoides para o tratamento do acesso pernicioso. Na malária cerebral, deve-se combater a infecção, reduzir o edema cerebral, controlar as convulsões e o equilíbrio hidroeletrolítico. Diazepam é a droga mais indicada para controlar as convulsões (10 a 20 mg por via endovenosa), recomendando-se também paraldeído (paracetaldeído), fenitoína e clorpromazina. O controle do balanço hídrico é muito importante nos casos complicados de malaria, sobretudo em pacientes com perturbações renais, gastrintestinais ou metabólicas. Crianças mal nutridas, com hipoproteinemia, estão sujeitas a desenvolver edema generalizado durante um surto de malária. Ha que prevenir tanto a superidrataçao (que na febre terça maligna pode levar a edema pulmonar, cerebral e coma) como a Gabriella R. Oliveira – Parasitologia – 4º período desidrataçao, que leva a hemoconcentraçao, dificuldade circulatória e anóxia dos tecidos (inclusive do miocardio), ou a oligúria e uremia. Quando a sudorese é intensa, a perda de sódio pode levar a uma hiponatremia. O estado de choque, quando se produz, é basicamente inespecífico e requer imediata infusão de líquido isotônico para restabelecer o volume sanguíneo. Recomenda-se uma mistura salina contendo cloreto de sódio e bicarbonato de sódio em partes iguais. A anemia causada pela malária raramente requer transfusões para seu tratamento. Nos casos graves, porém, elas são necessárias, desde que o hematócrito caia abaixo de 20% ou a taxa de hemoglobina a menos de 4 ,4 mmol/I ou 7, 1 g/dl. A medicação antimalárica e a dieta adequada são, em geral, suficientes para curar a anemia. Mas convém lembrar que, frequentemente, os pacientes de áreas endemicas já apresentavam certo grau de anemia antes da febre, devido a subnutriçao, a ancilostomíase ou a outras causas, e requerem por isso um complemento de ferro na dieta, bem como acido fólico para atender a demanda aumentada pela eritropoese (mormente se a pirimetamina foi empregada no tratamento). PROGNÓSTICO Um tratamento correto assegura quase sempre excelente prognóstico, com total recuperação do paciente. Nas infecções por P. vivax e por P. malariae, costuma haver recaídas, mesmo quando o tratamento da fase aguda tenha sido feito, com toda a correção, pois apenas as amino-8-quinoleínas, como a primaquina, conseguem impedi-las. Essas recaídas podem apresentar- se durante os três anos que se seguem ao ataque primario por P. vivax e, no caso de P. ovale, durante um ano e meio. É ao P. malariae que se devem as recaídas mais tardias, podendo ocorrer mesmo depois de 20 anos. A frequencia com que elas se manifestam depende inclusive das condições epidemiológicas, variando de 15%, em areas de endemicidade baixa, a 80% nos focos epidêmicos de P. vivax. Nas infecções por P.falciparum só se observam recaídas a curto prazo, isto é, recrudescências, extinguindo-se o parasitismo após o tratamento do primeiro surto agudo. Nos doentes com terçã maligna não tratados, o prognóstico é sério, resultando muitas vezes na morte do paciente. O risco é particularmente grande nas crianças de baixa idade, nas gestantes e em pessoas procedentes de areas não-endemicas. Nos casos de malaria cerebral, a mortalidade varia de 5 a 25% e, quando aparecem convulsões ou coma, a proporção de óbitos sobe a 80% dos casos.
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