Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS GUILHERME HENRIQUE DE FREITAS LOPES PINTO A política externa do governo Bolsonaro frente aos conflitos de interesses chineses e americanos com relação à tecnologia 5G FRANCA 2021 GUILHERME HENRIQUE DE FREITAS LOPES PINTO A política externa do governo Bolsonaro frente aos conflitos de interesses chineses e americanos com relação à tecnologia 5G Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito para obtenção do Título de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Passini Mariano FRANCA 2021 GUILHERME HENRIQUE DE FREITAS LOPES PINTO A política externa do governo Bolsonaro frente aos conflitos de interesses chineses e americanos com relação à tecnologia 5G Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como parte das exigências para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais. BANCA EXAMINADORA _________________________________________ _________________________________________ Franca,____ de __________ de 2021 Esse trabalho de conclusão de curso é dedicado à memória do meu avô Adão Justino de Freitas. Esteve comigo no início, mas não viveu para ver o final. Que sua alma descanse eternamente em paz nos desígnios de Deus. AGRADECIMENTOS Esse trabalho é fruto dos meus anos de pesquisa como bolsista CNPq na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho. Naturalmente agradeço ao ambiente universitário, a todos os professores e funcionários dessa incrível instituição. Em especial penso em Matías Ferreyra Wachholtz, por ter sido o primeiro professor a me ensinar como transformar minhas ideias em trabalhos científicos. Agradeço ao Marcelo Passini Mariano por ter me dado a oportunidade de uma bolsa de pesquisa, por ter me guiado nos últimos anos de faculdade dentro dessa incrível área, e por ser meu orientador. Agradeço ao LANTRI, em especial ao Rafael Almeida por ter feito um trabalho complementar ao professor Mariano em guiar meus estudos e sanar minhas dúvidas. Agradeço aos meus pais por sempre investirem em mim, no meu estudo e no meu conhecimento. Sem eles não teria sido possível terminar a universidade que eu tanto desejava cursar. Meus pensamentos também vão para a minha irmã, que sempre esteve comigo Agradeço aos meus amigos durante os anos de faculdade, eles são muitos para nomear, mas todos estão em meus pensamentos. Noites adentro discutindo teorias sobre diversos assuntos é definitivamente algo complementar ao ensino universitário, principalmente quando o mesmo é feito em mesas de bar, igual Kant fazia. Por último, agradeço à Maria Luiza de Castro Pires. A pessoa mais importante em todo o processo. Sem seu amor, apoio, paciência e dedicação à minha pessoa, dificilmente eu teria me esforçado tanto para ser um pesquisador. Sua presença em minha vida é fundamental para alcançar meus objetivos, e sua ajuda é sempre bem-vinda. PINTO, Guilherme. A política externa do governo Bolsonaro frente aos conflitos de interesses chineses e americanos com relação à tecnologia 5G. 2020. (numero de páginas). Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Relações Internacionais) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2020 RESUMO Este trabalho de conclusão de curso se propõe a analisar a política externa brasileira do governo Bolsonaro com relação ao poderio chinês e norte americano, dentro do contexto da implementação da tecnologia 5G em território brasileiro. O foco é entender de que forma revoluções tecnológicas influenciam e são simultaneamente influenciadas pelos Estados modernos, partindo de uma análise brasileira com relação ao assunto. Sabendo-se que a China está cada vez mais presente no cenário latino, e que tem uma estratégia internacional de se infiltrar em território brasileiro, por meio de investimentos estruturais e tecnológicos, o Brasil precisa lidar com a dicotomia entre seguir os interesses nacionais, os interesses chineses, ou se atrelar com o posicionamento norte americano, que é contra o chinês em vários quesitos. A ascensão do projeto nacional chinês em se desenvolver tecnologicamente busca quebrar com equilíbrio de poder atual dos EUA ser uma potência tecnológica. Dessa forma, a quebra da balança de poder gera uma instabilidade na política externa de ambos os Estados. Tal instabilidade afeta o Brasil diretamente, dentro da lógica dos leilões de 5G, e dentro também da nova forma que sua política externa está sendo dirigida. A tecnologia 5G serve como base, nesse caso, para entender melhor a relação da nova política externa brasileira, frente ao cenário mundial de ascensão chinesa, e a conformidade com o governo americano. Palavras-chave: Tecnologia, Política Exterior do Brasil, Ordem Mundial, China, EUA PINTO. Guilherme. The Bolsonaro government's foreign policy in the face of Chinese and American conflicts of interest in relation to 5G technology. 2020. (number of pages). Course Conclusion Paper (Bachelor in International Relations) - Faculty of Human and Social Sciences, São Paulo State University “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2020. ABSTRACT This paper aims to analyze the Brazilian foreign policy of the Bolsonaro government in relation to Chinese and North American power, within the context of the implementation of 5G technology in Brazilian territory. The focus is on understanding how technological revolutions influence and are simultaneously influenced by modern states, based on a Brazilian analysis on the subject. Knowing that China is increasingly present in the Latin scenario, and that it has an international strategy of infiltrating Brazilian territory, through structural and technological investments, Brazil needs to deal with the dichotomy between following national interests, Chinese interests, or to be linked to the North American position, which is naturally against Chinese in several aspects. The rise of the Chinese national project to develop technology seeks to break with the current balance of power. In this way, the breakdown of the balance of power creates instability in the foreign policy of both states. Such instability affects Brazil directly, within the logic of 5G auctions, and also within the new way in which its foreign policy is being addressed. The 5G technology serves as a basis, in this case, to better understand the relationship of the new Brazilian foreign policy, facing the world scenario of Chinese rise, and the compliance with the American government. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01- Mobile Wireless Evolution 24 Figura 02- Espectro de cobertura do 5G 27 Figura 03- Exportações chineses sofreram com a guerra econômica e com o COVID 37 Gráfico 01- Chinese Foreign Investments, 2009-2018 (USD Billion) 39 Figura 04- Perceptions of the New Chinese Silk Road 40 Gráfico 02- Flow and Annual Variation of Chinese Investments in Latin America and the Caribbean 41 Gráfico 03- U.S FDI Position in Brazil by sectors in 2017 (% of total FDI position) 46 Gráfico 04- Greenfield Investments Announced by the US in Brazil by Activities in % 47 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS FDI- Foreign Direct Investment IED- Investimento Estrangeiro Direto UNCTAD- United Nations Conference on Trade and Development BRI- Belt & Road Initiative RI- Relações Internacionais OPEP- Organização dos Países Exportadores de Petróleo ITU- A International Telecommunication Union OMC- Organização Mundial do Comércio WSIS- World Summit on the Information Society SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 10 2. REFERENCIAL ANALÍTICO 22 2.1 Material e métodos 22 2.2 A tecnologia 5G 23 2.3 Vantagens do investimento tecnológico 28 2.4 Teorias de Relações Internacionais 29 2.5 Fatores a serem levados em consideraçãoda guerra comercial EUA X China 35 3. INVESTIMENTOS CHINESES NO MUNDO 39 3.1 Investimentos chineses no caribe e na América Latina 40 3.2 Relações comerciais Brasil e China 41 4 .INVESTIMENTOS ESTADUNIDENSES NO MUNDO 44 4.1 Investimentos estadunidenses no Brasil 45 5. A PRESSÃO EXTERNA BRASILEIRA E O 5G 48 5.1 Base de apoio do governo Bolsonaro 48 5.2 Conflito tecnológico no Brasil 53 6. CONCLUSÃO 56 REFERÊNCIAS 61 11 1.INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O presente trabalho procura analisar a política externa brasileira no governo Bolsonaro em relação à adoção das tecnologias 5G no país, tendo como referência os conflitos de interesses americanos e chineses na questão. O 5G é uma tecnologia que permite a utilização de altas frequências para uma maior conexão e compartilhamento de dados, envolvendo uma grande soma de investimentos e de interesses de Estados no setor tecnológico . Os EUA e a China são os dois os maiores parceiros comerciais brasileiros , e1 ambos investem no setor da tecnologia 5G com interesses estatais e privados. A China quer se colocar como a maior provedora de 5G, demonstrado no plano “Made in China 2025” , e também no seu forte investimento no setor tecnológico estatal, principalmente2 relacionado com a empresa Huawei. Já pelos americanos, Trump demonstrou interesse no assunto, assim como pediu para outros Estados banirem a Huawei e seus serviços de3 5G. Também existem relatórios como os da CTIA (Cellular Telecommunications and Internet Association) , demonstrando interesses ativos em desenvolvimento no setor. A4 guerra comercial entre EUA e China envolvem questões tecnológicas que têm5 5 Em 7 de Julho de 2018 a administração de Trump impôs 25% de tarifa sobre a importação de $34 bilhões de produtos chineses, seguido por tarifas em aço, máquinas de lavar, alumínio e painéis solares. O governo chinês imediatamente impôs 25% de tarifa sobre importação de soja dos produtos americanos (DOLLAR, 2018). Em 24 de setembro de 2018, os EUA escalou sua guerra tarifária com a China com um aumento de 10% na tarifa em aproximadamente $200 bilhões em produtos chineses. (XINHUA,2018). Em junho de 2019 a China retaliou com um aumento de 25% nas tarifas sobre produtos americanos, ocasionando em aproximadamente $60 bilhões em tarifas. A relação sino-americana tornou-se hostil. Hostilidade essa exalta a competição dentro do setor tecnológico internacional (MIN-HYUNG KIM, 2018) 4 Uma associação comercial que representa o setor de comunicações sem fio nos Estados Unidos criada em 1984 sediada em Washington, DC. Disponível em: <https://www.ctia.org/> 3 Trump Wants Apple to be Involved in 5G Infrastructure Building in U.S. Reuters. 21, Nov, 2019. Disponível em:<https://www.reuters.com/article/us-usa-trump-apple-5g/trump-wants-apple-to-be-involved-in-5g-infr astructure-building-in-u-s-idUSKBN1XV1FW> 2 Plano governamental chinês lançado em 2015 que detalha os planos do país a serem alcançados até 2025. Nele se percebe um pesado investimento no setor de indústrias de alta tecnologia como em robótica, e aviação. O objetivo é transformar a China em uma das líderes do mercado tecnológico de inteligência e segurança. Disponível em:<https://isdp.eu/content/uploads/2018/06/Made-in-China-Backgrounder.pdf> 1Largest Trading Partners of Brazil. The Brazil Business. Disponível em:< https://thebrazilbusiness.com/article/largest-trading-partners-of-brazil> 12 repercussão mundial, sendo uma demonstração das tentativas de controle de mercado que ambos realizam mutuamente. (MIN-HYUNG KIM, 2018). O Brasil entra nessa dinâmica econômica como consequência internacional das hostilidades praticadas comercialmente. A interferência externa sobre o Brasil leva à necessidade da busca de um equilíbrio em sua relação com os Estados Unidos e a China. Para com os EUA o Brasil procura um alinhamento ideológico e tem a pretensão de apoio no cenário econômico6 internacional (CASARÕES, 2019; RODRIGUES, 2019). No caso chinês, ao início do mandato de Bolsonaro, o governo se colocava como contra as estratégias de expansão chinesas na América Latina, entretanto, na metade do mandato de 2019, mudou-se a7 forma de agir, com a gradual busca pela cooperação.89 Portanto o problema da pesquisa se concentra na capacidade da política externa brasileira em lidar com as duas potências em relação ao 5G. Ambas têm interesses de implementação tecnológica no Brasil. O pano de fundo dessa implementação envolve questões sensíveis de acordos comerciais e diplomáticos. Dessa forma, como o governo Bolsonaro consegue agir dentro dessa situação, buscando o melhor para os interesses nacionais? O 5G é uma tecnologia que promete revolucionar o mercado, inovando a forma como as pessoas irão interagir entre si e seus objetos eletrônicos. É uma tecnologia em 9 CARIELLO, Tulio. Chinese Investments in Brazil 2018. Brazil-China Business Council. Rio de Janeiro: CEBC - July 2019. Disponível em:< https://cebc.org.br/2019/09/23/chinese-investments-in-brazil-2018-the-brazilian-framework-in-a-global-p erspective/> 8 Tal atitude é bem clara pelas palavras presidenciais: “Uma parte considerável do Brasil precisa da China, e a China também precisa do Brasil. O Brasil é um mar de oportunidades, e queremos compartilhá-las com a China.”. VIDAL, Macarena. Bolsonaro sela sua reconciliação com a China com propostas de investimento. El País. 25, Out, 2019. Disponível em:< https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/25/internacional/1572013550_723764.html> 7 Em editorial, China faz alerta a Bolsonaro sobre riscos de agir como Trump. G1. 01, Nov, 2018. Disponível em:< https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/11/01/china-faz-alerta-a-bolsonaro-sobre-riscos-de-agir-com o-trump.ghtml> 6 Por exemplo, na reunião do Grupo de Lima em 2019, Ernesto Araújo, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, tentou incluir no documento redigido na reunião, uma condenação à Cuba, tentando justificar-se que esse país estava alinhado aos interesses da Venezuela (COLETTA, 2019). Dessa maneira o Brasil se alinha ideologicamente aos EUA, interrompendo sua tradição de votar na Assembléia Geral da ONU contra o embargo à Cuba, tornando-se similar em atitudes com os EUA e Israel (BARROS; GONÇALVES, 2019) https://brasil.elpais.com/tag/china 13 que a última conexão entre a rede e o usuário é essencialmente wireless. Comparativamente às antigas gerações, temos que: a) 2G reinventou e implementou a capacidade de mensagens de texto; b) 3G implementou a conexão à internet de forma mais eficiente e wireless; c) 4G melhorou o compartilhamento com a nuvem e a velocidade de conexão. Entretanto, no 5G o espectro coberto não é de maneira homogênea, e ele pode ser diferenciado entre as frequências de “low-band”, “mid-band” e “high-band”. Todas as três garantem, por meio de características específicas, o funcionamento da tecnologia 5G. O low-band opera dentro da frequência de 1GHz , atualmente usado,10 em sua maioria, dentro do 3G e LTE . A vantagem comparativa é devida a tal11 frequência ter uma boa penetração em prédios, porém, ele tem uma velocidade máxima de rede de 100Mbps. Visto que a tendência dos produtos 5G é a procura de uma conexão mais rápida com a menor latência possível, essa velocidade não é prática para o mundo moderno. O mid-band opera dentro de 1GHz e 6GHz, garantindo uma velocidade maior de conexão e uma latência um pouco mais baixa, esse é onde a maioria dos celulares atualmente operam. O high-band é o normal a se pensar quando se fala de internet das coisas e de 5G, também conhecidos como mmWave . Elas são12 frequências muito altas, operando dentro da escala de 24 a 300 GHz. O ponto fraco das high-band é a baixa área de cobertura, devido à não penetração em estruturas sólidas. Portanto, ao se analisar o 5G e o Brasil, é importante notar a estratégia da utilização das mmWave com outras frequências consideravelmente mais baixas, para lidar com a13 cobertura dentro da logística tecnológica. Wilson Cardoso , líder de soluções para14 14Biografia Wilson Cardoso disponível em:<http://6thglobal5geventbrazil.org.br/wilson-cardoso-2/> 13 HIGA, Paulo. mmWave: o que são as ondas milimétricas que farão o 5G funcionar em altíssimas frequências.Tecnoblog. 19,Jan, 2019. Disponível em:< https://tecnoblog.net/270324/5g-nr-mmwave-altas-frequencias-ondas-milimetricas/> 12 mmWave representa o espectro de frequência de dados. Os dados são transferidos em frequências de rádio, e eles operam dentro de espectros específicos. mmWaves representam os espectros entre 30GHZ e 300GHZs. Disponível em: https://www.rcrwireless.com/20160815/fundamentals/mmwave-5g-tag31-tag99#:~:text=Millimeter%20w ave%20spectrum%20is%20the,(operating%20at%2060%20GHz). 11 LTE significa “Long Term Evolution”. Ela permite a conexão à redes com maior velocidade e eficiência para transferência de dados. Disponível em: https://www.t-mobile.com/resources/what-is-lte 10 CONTENTO, Marco. Understanding 5G Spectrum Frequency Bands. TELIT. 9 Mai, 2019. Disponível em:<https://www.telit.com/blog/understanding-5g-spectrum-bands-allocations/>. Acesso em: 10, 2020. https://tecnoblog.net/270324/5g-nr-mmwave-altas-frequencias-ondas-milimetricas/ https://tecnoblog.net/270324/5g-nr-mmwave-altas-frequencias-ondas-milimetricas/ 14 América Latina na Nokia, diz que a Anatel ( Agência Nacional de Telecomunicações)15 disponibilizará para leilão as frequências de 2,3 GHz e 3,5 GHz. Isso significa, em um primeiro momento, que o 5G operará no Brasil dentro das capacidades técnicas de uma mid-wave. Entretanto, a própria Anatel expressou possíveis interesses futuros em abrir as frequências de 26 GHz e 700 MHz, ocorrendo possíveis investimentos em infraestrutura na capacidade brasileira em operações mmWaves.16 A nova tecnologia efetivamente diminui a latência necessária com serviços17 utilizadores de nuvem . Aqui o termo baixa latência, segundo Nelson Lago, membro do18 Departamento de Ciência da Computação Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, significa em termos gerais, “abaixo do limiar perceptível pelo usuário”. Como exemplo, Lago se utiliza de um instrumento musical, caso a latência do som seja muito grande, ou seja, o músico demora muito para ter o feedback do som ao tocar, seu correto uso fica difícil ao usuário. A mesma analogia pode ser incorporada em latência de uso mobile. Na prática o 5G interferirá de forma mais rápida entre o usuário da rede, em um serviço wireless como um celular, e a “nuvem” na qual o usuário estiver acessando. A capacidade de streaming, baixar documentos e interpretação de dados será feita em tempo real. O acesso à nuvem rapidamente garante a melhoria de carros conectados inteligentes e carros autônomos, a possibilidade de utilização ampla de aparelhos conectados à net como maçaneta de portas, termostatos, televisões, automatização de serviços da casa (como ligar as luzes, ar condicionado, sistemas de segurança), com a 18New Services and Applications With 5G Ultra- Reliable Low Latency Communications .5G Americas Whitepaper. Nov, 2018. Disponível em:< https://web.archive.org/web/20190419231844/http://www.5gamericas.org/files/5115/4169/8314/5G_Ame ricas_URLLLC_White_Paper_Final_11.8.pdf> . Acesso em: 03, Jan, 2020. 17 Latência baixa descreve uma rede que otimiza o processo de dados em grande volume de forma rápida, com o mínimo de “delay” possível. Tais redes são desenvolvidas para operações de dados que requerem quase acesso em tempo real para mudar os dados rapidamente. What is Low Latency. Informática. Disponível em:< https://www.informatica.com/services-and-training/glossary-of-terms/low-latency-definition.html#fbid=c LofZ4nouNX> (tradução livre). 16 TOZZATO, Luiza. Brasil se Prepara Para Receber o Maior Leilão de 5G do Mundo. Olhar Digital. 09, Ago, 2019. Disponível em:< https://olhardigital.com.br/noticia/brasil-se-prepara-para-receber-o-maior-leilao-de-5g-do-mundo/88949> 15 Workshop na Anatel debate visão da indústria de Telecomunicações sobre o leilão 5G. Agência Nacional de Telecomunicações. 5 de Dezembro de 2019. Disponível em:< https://anatel.gov.br/institucional/noticias-destaque/2456-workshop-na-anatel-debate-visao-da-industria-d e-telecomunicacoes-sobre-o-leilao-5g>. Acesso em: 04, Jan, 2020. https://anatel.gov.br/institucional/noticias-destaque/46-noticias/2456-workshop-na-anatel-debate-visao-da-industria-de-telecomunicacoes-sobre-o-leilao-5g 15 possibilidade de garantir um consumo inteligente de energia ao terceirizar a capacidade de controle energético para uma rede inteligente. Além das potencialidades do consumo pessoal, o 5G oferece uma série de serviços que, inevitavelmente, começarão a abranger Estados e instituições internacionais, abrangendo áreas como sistema de saúde para monitoramento de pacientes e aplicações para desenvolvimento e recolhimento de dados mais rápido para pesquisas. Com um sistema de notificação de emergência integrado, a capacidade de conexão inter e intra automóveis e a manipulação do sistema de tráfego em tempo integral, a capacidade de interação com a produção de produtos em nível industrial, controlando, armazenando e reportando a qualidade e quantidade de equipamentos. Será possível mudar a linha de produção conforme a necessidade, coleta de dados como umidade, velocidade do vento, infestação e conteúdo do solo para técnicas avançadas de agricultura, etc. A capacidade de evolução do 5G é aparentemente infinita, e apresenta potencial de remodelar tudo o que interfere com tecnologia no nosso dia a dia.19 Segundo a CTIA (Cellular Telecommunications and Internet Association) , a20 nova tecnologia conseguirá promover aproximadamente 3 milhões de novos empregos, $276 bilhões em novos investimentos, e um crescimento econômico de aproximadamente $500 bilhões de dólares . Com base nos relatórios da CTIA, é21 demonstrável a preocupação do governo norte americano em estar na frente do setor tecnológico do 5G. Para propagar essa ideia para investidores a CTIA também lançou um estudo de caso explicando toda a vantagem econômica gerada pela tecnologia 4G22 que os EUA tiveram ao se manterem na frente do processo tecnológico. Segundo esse relatório de 2018, a CTIA exemplifica o crescimento de aproximadamente 84% de 22 How America’s 4G Leadership Propelled The U.S. Economy. Recon Analytics. Apr, 16. 2018. 21 How 5G Can Help Municipalities Become Vibrant Smart Cities, Accenture, January 12, 2017,Disponível em; <https://www.accenture.com/t20170222T202102__w__/us-en/_acnmedia/PDF-43/Accenture-5G-Munici palities-Become-Smart-Cities.pdf.>. Acesso em: 06 Dez, 2019. 20 Uma associação comercial que representa o setor de comunicações sem fio nos Estados Unidos criada em 1984 sediada em Washington, DC. 19 J. G. Andrews et al., "What Will 5G Be?," in IEEE Journal on Selected Areas in Communications, vol. 32, no. 6, pp. 1065-1082, June 2014. doi: 10.1109/JSAC.2014.2328098 16 trabalhos relacionados com serviços wireless de 2011 a 2018. As empresas norte-americanas lucraram aproximadamente $125 bilhões de dólares durante todo o processo, garantindo também a criação de mais trabalho informal e desenvolvimento de empresas correlacionadas a apps. Todo esse dinheiro, segundo o relatório, poderia ter sido realocado para outros países ou organizações, caso o investimento mal colocado das empresas norte-americanas ocorresse. We in the United States are very excited about the potential for the fifth generation of wireless technology to empower a vast array of transformative new applications that will benefit our country as well as societies around the world. 5G is going to have increased amounts of throughput of data up to 100 times what we have currently in 4G technology, as well as very low latency; that is, the time delay that it takes a device to connect to the internet and receive data back. So with those improved technologies, we’re going to see many more devices connected to the internet, devices and sensors of what they call the internet of things. We’llsee tens of billions of those new devices in just the next few years. Those devices will be able to communicate with one another and with systems automatically. That’s going to empower a whole new set of types of critical infrastructure, so we’ll see autonomous vehicles, we’ll see telemedicine. We’re also going to see the current types of critical infrastructure like electricity and water distribution being supplied through things like the smart grid for the case of electricity distribution. Those will occur through the backbone of this 5G technology. (STRAYER, 2019, online) A corrida tecnológica sobre o 5G se torna clara para o lado americano. O seu maior concorrente de mercado, a China, investe de forma pesada no setor, disponibilizando o processo de desenvolvimento da tecnologia por sua empresa Huawei. America has no domestic manufacturer of 5G equipment, so it must rely on European or Chinese suppliers. China already has Huawei and ZTE, the biggest 5G equipment suppliers in the world, allowing it to move to market quickly. In China, 5G is already available in more than 50 cities, while in the United States there is only 5G E, which is no substitute for a truly competitive 5G network. (PAULSON, 2019, online) A opinião expressa na reportagem exemplifica o conhecimento do mercado estadunidense de sua posição relativa à competitividade de mercado. Enquanto números exatos sobre a potencialidade chinesa não são claros, está explícito a capacidade de mercado em diversos documentos liberados pelo Estado.23 Details regarding the direct funding initiatives for 5G technological development and/or trials are not known, however the Chinese government is 23 Dois documentos claros da capacidade emitidos pelo Partido chinês são: “Made in China 2025” e “ 13th Five Year Plan” 17 explicitly backing 5G technology development, industry collaboration and commercial deployment through a range of policies and initiatives, such as the “Made in China 2025” plan and the 13th Five Year Plan. The MIIT has conducted several of its own 5G compatibility trials, and scheduled 5G research and development into a number os specific phases prior to commercial launch in 2020.(Final Report for CTIA, Global Race to 5G, April, 2018, p. 58) Após explicado o cenário internacional dentro do contexto tecnológico 5G é o momento correto de se relacionar o andamento do desenvolvimento com os interesses nacionais do atual governo. Consta que o Brasil tentará se aliar a algum desses dois Estados, ou com ambos, visto tal sentimento já demonstrado por autoridades governamentais, como a nomeação do ministro das relações exteriores Ernesto Araújo, que apresentava uma vontade mais profunda, antes de sua nomeação ao cargo, de seguir as orientações políticas ditadas por Trump . O interesse brasileiro é visível após a24 reunião anual dos BRICS em 2019, ocorrida no Brasil. Na ocasião, o presidente da China, Xi Jinping, demonstrou disposição em investir no território nacional uma somatória de $100 Bilhões , principalmente com relação a projetos de infraestrutura.25 Dentro das discussões, a questão tecnológica também foi mencionada; “Ele apenas mostrou que quer o 5G no Brasil. Não mostrou a proposta, ele mostrou apenas como está a empresa dele no Brasil” (BOLSONARO,2019). Na mesma notícia o presidente também menciona seu conhecimento em outras empresas de desenvolvimento tecnológico: “ Estou sabendo que tem uma firma sul-coreana também está em condições de operar 5G. A melhor oferta né? A gente vai levar para o lado do quê? Oferta e conectividade. É isso aí”26 26 Agência o Globo. Após Reunião com o Presidente da Huawei Brasil, Bolsonaro Nega Ter Tratado Sobre Leilão 5G. Época Negócios. 18, Nov. 2019. Disponível em:<https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/11/apos-reuniao-com-presidente-da-huaw ei-brasil-bolsonaro-nega-ter-tratado-sobre-leilao-5g.html>. Acessado em 18 de Dez, 2019 25 FOLHAPRESS. China pôs US$ 100 bilhões de fundos à disposição do Brasil. 15 de Nov,2019. Disponível em:<https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/11/15/china-poe-us-100-bilhoes-de-fundos-estatais-a-disp osicao-do-brasil.ghtml> . Acessado em 02, Dez. 2019 24 LOUREIRO, Felipe Pereira. Relação de Bolsonaro com EUA tenta repetir Castelo Branco, diz professor: para o autor, é pouco provável que aproximação semelhante à da ditadura funcione agora. Folha de S. Paulo, São Paulo, n. 25 de janeiro de 2019. Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/01/relacao-de-bolsonaro-com-eua-tenta-repetir-cast elo-branco-diz-professor.shtml> 18 O 5G é uma realidade que poderá alterar a forma como o mundo se organiza. Analisando-se a capacidade política brasileira atual, é possível compreender o mundo de forma mais coerente e enxergar novas formas da PEB se colocar no cenário internacional. Atualmente o Brasil está interessado na tecnologia, e se vê como apenas mais um agente dentro do cenário internacional de conflito comercial e tecnológico entre EUA e China. As relações bilaterais também impactam na forma como o soft power econômico se dá, principalmente com relação aos interesses chineses no Brasil. De acordo com Zhou Zhiwei, desde o início do novo século, a ascensão da China tornou-se uma variável estratégica para a política externa brasileira. Com base nisso, a relação entre a China e o Brasil entrou em um estágio de rápidos avanços, com significativos resultados alcançados pela cooperação em vários campos. As relações políticas mostraram uma tendência de "escalada gradual", e a cooperação econômica e comercial alcançou benefícios mútuos e resultados ganha-ganha. Com o conteúdo de parcerias estratégicas, a cooperação em governança global tornou-se um importante ponto de crescimento nas relações bilaterais. (PIRES, 2019, p. 7) A padronização da forma de conteúdo tecnológico garantiu até agora para os EUA um maior controle dos modos e meios operacionais em escala mundial. Por tais meios incluem: a) hardware de operação da rede tecnológica em sua maioria no território estadunidense; b) empresas de criação de app e desenvolvimento para aplicativos; c) empresas que operam no mercado fornecendo os equipamentos necessários para a manutenção das redes (os EUA não são os únicos a possuírem tecnologia, mas o número de empresas em território americano para tais fins é bem maior que em outras partes ). Começar em um mercado mais cedo que outros garante27 que, a partir desse momento, o mercado possui a tendência em seguir a padronização da tecnologia proposta. Tal padronização de conteúdo garante aos EUA um grande soft power internacional, mantido pela estrutura na qual a internet foi criada. (MCCARTHY, 2015). A mudança estrutural que um Estado como a China pode causar se seguir à 27LEE, Timothy. 40 Maps that Explain the Internet. VOX. 02, jun. 2014. Online. “The biggest internet companies have data centers around the world, but a disproportionate share of their data centers are located in the United States. And American data centers are clustered in a few states, notably Oregon, Iowa, and the Carolinas. These states have several important advantages. One is cheap power. For example, Oregon has cheap hydroelectric power that has attracted several companies to Oregon. Iowa and North Carolina also offer affordable electricity. Tax breaks play a role as well; Iowa recently lured a billion-dollar Microsoft data center by offering $20 million in tax incentives.”. Disponível em:https://www.vox.com/a/internet-maps#:~:text=The%20biggest%20internet%20companies%20have,% 2C%20Iowa%2C%20and%20the%20Carolinas. http://blogs.seattletimes.com/opinionnw/2014/04/28/new-microsoft-data-center-in-iowa-offers-a-billion-dollar-lesson/ http://blogs.seattletimes.com/opinionnw/2014/04/28/new-microsoft-data-center-in-iowa-offers-a-billion-dollar-lesson/ 19 frente da corrida tecnológica pode mudar a forma como as relações cibernéticas acontecem atualmente (FORBES, 2019): Two seemingly unrelated—but actually very much related—newsitems in December are perfectly illustrative of the risks technology standardisation now faces. First came the hints from Huawei that nine months into its U.S. blacklisting, restricting its access to American technology, the world’s largest telecoms equipment manufacturer may be about to forge its own alternative to the standard Android software and services used by more than 2 billion users around the world. For the first time in more than a decade, there might be a genuine alternative to Google’s full-fat Android and Apple’s more heavily controlled iOS. And, unlike other tries, Huawei has 42% of the huge Chinese market and more than 25% of the Russian market to get it started. (DOFFMAN, 2019, online). McCarthy expande sobre os conceitos de poder cibernético e prático em influenciar agendas internacionais: Here the structural power of the US government, its productive power, and the institutional power of the Internet’s form, combine to exert pressure against norms and practices of state sovereignty and self-determination as classically understood [...] Perhaps the most significant element of US discourse is the constant linkage between the free flow of information and an open Internet with the goal of preserving and promoting universal liberal human right.(MCCARTHY, 2015, p. 102-103) McCarthy também demonstra momentos em que a dominação da estrutura cibernética norte americana foi utilizada no World Summit on the Information Society (WSIS): The US believes that the WSIS should affirm the right of all individuals to freedom of opinion and expression, including freedom to hold opinions without interference and to seek, receive and impart information through any media regardless of frontiers, as set forth in Article 19 of the Universal Declaration of Human Rights (UDHR). We believe that the WSIS draft declaration of Principles and draft Plan of Action should refer to these rights as stated in the Universal Declaration. Rather than seeking to create additional rights at the WSIS, States should implement the obligation that they have assumed under human rights treaties. In this vein, we believe that individuals should have the freedom to communicate, access information, and pursue development.(MCCARTHY, 2015, p. 103) Ao mesmo tempo que os EUA expressam a liberdade de informação atrelada ao pensamento neoliberal, eles trabalham ativamente para deslegitimar outros Estados que censuram a rede e vão contra os ideias neoliberais de rede e de mercado: 20 The Internet is arguably the greatest facilitator for freedom of expression and innovation in the world today. The US recognizes the importance of freedom of expression and ideas and the free flow of information on the Internet to economic development and its influence in facilitating greater social and political debate. We also recognize that numerous governments around the world unduly restrict freedom of expression on the Internet despite their international commitments to freedom of expression, such as those made at the WSIS and as found in the UDHR and the International Covenant on Civil and Political Rights. (MCCARTHY, 2015, p. 104) A China entra na dinâmica como um Estado que enxerga no 5G a possibilidade de criar para si uma nova padronização de tecnologia, e, a partir disso, expandir a sua influência política e tecnológica, ao mesmo tempo que tira do processo ganhos econômicos. Tal estratégia chinesa de se tornar a nova provedora tecnológica mundial, pode ser vista pelo anúncio de seu próprio sistema de GPS civil, o Beidou, revelado em dezembro de 2019 como uma alternativa ao sistema de GPS norte americano”. Como o sistema operacional da Huawei, já existe a capacidade de venda do mercado para tal tecnologia. Mais de 70% dos smartphones chineses já estão completamente equipados para se utilizar a nova tecnologia, e ela vai ser amplificada ainda mais com os serviços de rede do 5G.28 A política externa chinesa apresenta passos mais adiantados em se rodear com uma política internacional mais segura para seus interesses pessoais (ARMITAGE, 2007). Os interesses que aparentemente se expressam de forma positiva para o crescimento chinês, como a maior abertura econômica, busca de parceiros comerciais rentáveis, e a procura por energia renovável, poderia causar o impacto estrutural do sistema internacional para ela conseguir expandir sua zona de interesse. Entretanto, apesar de a maior parte da previsão de Armitage estar correta, o incremento no comércio não causou necessariamente o estímulo internacional de mudança de suas práticas liberalizantes. Ao contrário, o governo chinês passou a se utilizar de seu grande poderio econômico para ditar as regras de como produtos entrariam, comercializariam e operariam dentro de seu território. One of the key features of Chinese foreign policy is a requirement to establish secure, reliable access to energy resources that lay beyond China’s borders. Its large and rising energy deficit and lingering distrust of free markets foster a 28Canaltech. O que é Compass ou Beidou-2?. 2019. Disponível em:<https://canaltech.com.br/curiosidades/O-que-e-Compass-ou-Beidou-2/> Acessado em 08, Jan, 2020. 21 perception among Chinese leaders that increasing reliance on foreign energy creates vulnerabilities. In the hope of securing the energy required to support China’s domestic demand, especially Persian Gulf oil to meet future transportation demands, China has embarked on an effort to promote supply diversification as well as overseas equity investment. The United States, Japan, and others will be further affected by China’s surging demand for energy and raw materials. Some of the consequences will likely be negative: higher prices for foreign crude, increasing environmental degradation, and competition over disputed maritime boundaries. But there will also be new opportunities for cooperation on energy efficiency, “clean-coal technology,” and nuclear power. It may also be the case that China’s increasing reliance on the outside world will present the United States and its friends with foreign policy opportunities. (ARMITAGE & NYE, 2007, p. 04). Dentre os exemplos mencionados de controle chinês sobre o mercado está o exemplo de boicote aos jogos da NBA. A NBA realizou um acordo de 1.5$ bilhão de dólares com a empresa de broadcast Tencent para se manter a única exclusiva em29 mostrar os jogos no Estado. O número de torcedores é impressionante e é um fenômeno cultural dentro do mercado chinês. Entretanto, em 2019 o gerente do time Houston Rockets expressou em sua conta do twitter o apoio aos protestos que estavam acontecendo em Hong Kong. Isso foi um abalo aos amantes do jogo, principalmente porque o principal time que os chineses torcem é o Houston Rockets, que estreou na década de 80 um dos mais aclamados jogadores da NBA, Yao Ming. Como represália a tal atitude o governo chinês fez questão de censurar e cancelar todas as transmissões de jogos que poderiam acontecer em seu território, e isso abalou o mercado de uma maneira que vários atletas americanos foram afetados. Adam Silver, comissário da NBA garantiu que todos devem ter direito a se expressar como desejarem, entretanto outros atletas como LeBron James, foram contra tais declarações. Toda a situação mostra o quão sensível o mercado chinês é frente a críticas ao seu sistema interno, sendo a favor de um controle de estabilidade e políticas liberalizantes nos seus territórios internacionais, mas impedindo que o mesmo aconteça dentro do próprio território. Nye, 2007, argumenta que uma das formas mais eficientes de se garantir uma estabilidade da política externa americana, no meio asiático, é 29TU, Natan. A restrição de transmissão de jogos da NBA e de e-sports na China. Nexo. 23, Nov, 2019. Disponível em:<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/11/23/A-restri%C3%A7%C3%A3o-de-transmiss%C3 %A3o-de-jogos-da-NBA-e-de-e-sports-na-China> 22 garantir que tais pensamentos liberalizantes possam ser instaurados por meio denegociações e plataformas de acordos internacionais. The modernization and growth of China will insure its power and affluence, but the direction it takes remains an open question. In 2020, China could be a responsible stakeholder, with increased political freedoms and liberal institutions that support economic openness and make for more responsible treatment of its people and its neighbors. On the other hand, China’s conduct could be marked by mercantilism, with illiberal institutions, chauvinistic nationalism, and corruption that distort international norms and threaten neighbors. China will continue to face discrete decision points in the global arena. In such instances, it is important that China has incentives to make those choices that lead it down a path of peaceful integration and benign competition.(ARMITAGE & NYE, 2007, p. 04) Frente ao problema de como a tecnologia foi utilizada e implementada, o trabalho em questão se concentrou em analisar os métodos para a análise do objeto 5G. Em seguida, o contexto socioeconômico dos EUA, da China e do Brasil foram analisados para compreender o impacto que a tecnologia pode ter nos respectivos países, e em como as forças políticas brasileiras trabalham em torno da questão. Na última sessão foi analisado como a política externa brasileira trabalhou entre 2019-2020 em cima da questão do 5G. 23 2. REFERENCIAL ANALÍTICO 2.1 Material e métodos A pesquisa do trabalho é essencialmente qualitativa, com análise comparada entre teorias de Relações Internacionais, notícias de jornais e artigos científicos de Ciência Política, Ciência Social e Economia. O trabalhou também utiliza do método quantitativo em analisar os investimentos nacionais promovido pelos EUA e pela China. Ambos os métodos deram a possibilidade de entender de forma contemporânea as capacidades de atuação de cada um dos atores determinados, e a forma como eles se encontram no mercado mundial. O mercado em si também foi estudado para entender o posicionamento dos países com relação à disponibilidade tecnológica, garantindo uma base de análise sólida para a política externa. Para tal, alguns documentos que já foram exemplificados na justificativa são utilizados como base, principalmente os lançados como fontes oficiais do governo americano, como o “The 5G Ecosystem: Risks & Opportunities for DoD”, e o “Global Race to 5G”, da Analysys Mason30 O tema é extremamente contemporâneo, portanto a melhor forma de acompanhamento foi por meio de notícias. Existem newsletters, que foram acompanhadas com o auxílio do “google alerts", mantendo a pesquisa sempre a par das notícias e assuntos relacionados ao 5G, e a política externa chinesa e americana. Entre os utilizados se encontram: Wired , Telesíntese , Convergência Digital , ITS Rio ,31 32 33 34 Internet Lab , e jornais “clássicos” de notícias nacionais como Estadão, Folha de São35 Paulo, BBC e The New York Times. Há uma base de dados chamada “Tecnologias da Informação e Comunicação em Relações Internacionais” nos servidores do grupo de pesquisa Laboratório de Novas 35 http://www.internetlab.org.br/pt/ 34 https://itsrio.org/pt/home/ 33http://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=site&tpl=hom e 32 http://www.telesintese.com.br/ 31 https://www.wired.com/ 30 “Analysys Mason is a global consultancy and research firm specialising in telecoms, media and technology for more than 30 years. Since 1985, Analysys Mason's consulting and analyst teams have played an influential role in key industry milestones and helping clients around the world through major shifts in the market.” Disponível em:< https://www.analysysmason.com/About-Us/Who-we-are/> https://www.analysysmason.com/About-Us/Who-we-work-with/ 24 Tecnologias em Relações Internacionais (LANTRI) , da UNESP de Franca (Faculdade36 de Ciências Humanas e Sociais), que foi utilizada durante a pesquisa. Está disponível para todos os membros do grupo nos próprios servidores, podendo ser acessada à distância (acesso remoto). Seu conteúdo apresenta materiais primários (documentos, gravações de reuniões, notícias) e secundários (livros, artigos, relatórios de organizações não governamentais e de órgãos privados e públicos), coletados nos últimos cinco anos e sendo periodicamente atualizados. O conteúdo coletado por essa pesquisa também foi agregado à base. O trabalho é atrelado ao grupo, e pesquisas com aplicativo de anexação de dados como Recoll são utilizadas para facilitar a leitura e a37 capacidade de estudo dos pesquisadores. A organização do trabalho foi sistematizada em mapas mentais, utilizando-se a ferramenta Freeplane , que possibilita um acesso38 mais rápido a todo o conteúdo da pesquisa e facilita o acesso ao conteúdo levantado. Para entender e identificar o que o Brasil espera tirar de sua relação clássica com os EUA, e da relação moderna com a China a teoria dos “jogos de dois níveis” (PUTNAM, 2010), serve como base, explicando a capacidade de barganha e dos interesses nacionais que o atual governo pode ter com a forma que exerce sua política externa. Tal pensamento exemplifica como que a ideologia do líder em questão pode interferir nas expectativas internacionais, e como tais expectativas são contrabalançadas com a necessidade de lidar com o governo em âmbito nacional. Como exemplificado na hipótese, será necessário estudar a forma e atitudes governamentais para com o desenvolvimento tecnológico brasileiro. 2.2 A tecnologia 5G A tecnologia wireless está presente na história desde 1970. O 1G, que se concentra em chamadas telefônicas, com pouca ênfase em transferência de dados. Em 1990 as redes 2G foram as primeiras que melhoraram a qualidade de voz, segurança de dados, e transferência (principalmente por mensagens). Ao final de 1990 também foi 38 https://www.freeplane.org/wiki/index.php/Home 37 https://www.lesbonscomptes.com/recoll/ 36 LANTRI: Laboratório de Novas Tecnologias em Relações Internacionais, se utiliza das dependências do Laboratório de Relações Internacionais do departamento de Relações Internacionais da FCHS – UNESP. Para maiores informações ver lantri.org e < http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/1286639006327641> 25 colocado em prática o 2.5G e 2.75G que aumentaram a capacidade de transferência de dados até 200 Kbps. O 2G trouxe a tecnologia de comutação de pacotes, na qual o 3G se baseou. (DOD, 2019) O 3G aumentou o que vinha sendo feito até então, diminuindo a latência e criando nesse momento a possibilidade de comunicação por vídeo wireless. O 4G foi introduzido em 2008 com a capacidade de transferência de dados 10 vezes mais rápida que o 3G. Figura 01- Mobile Wireless Evolution Fonte:Department of Defense. The 5G Ecosystem: Risks and Opportunities for DoD. Abril, 2019. As tecnologias até o momento trabalham com o alcance de frequência baixo e médio, entretanto o 5G passará a trabalhar com as bandas que se encontram na “high wave”, também conhecidas como mmWaves, a maneira como a tecnologia se estruturar ao redor do hardware necessário para a operacionalização do 5G é o definidor essencial de como as redes de comunicação passarão a funcionar. A banda mmWavez opera entre 30GHz e 300GHz (DOD, 2019). A menor distância entre as ondas garante uma maior velocidade na transferência de dados, garantindo uma menor latência, uma outra vantagem presente no 5G é a maior disponibilidade de high waves do que as presentes na low-mid waves, o que impediria o congestionamento que atualmente existe na transferência de dados (anteriormente ao 5G os únicos dispositivos que operavam na 26 mesma banda eram satélites e radares) (DOD, 2019). Uma das dificuldades atuais que se encontram na implementação da tecnologia é a necessidade de uma infraestrutura, cara e especializada, mas que se for utilizada pode aumentar a capacidade de transferência de dados até 20 vezes mais rápida que o 4G (DOD, 2019). A mesma qualidade que garante a maior conectividade, (frequências mais curtase próximas), também servem como desafios a serem superados, como a necessidade de instalação de várias antenas, compactas, em centros urbanos, para garantir a continuidade do sinal (DOD, 2019). Os testes com o 5G nos EUA e na China operam em ondas diferentes. O básico dos testes realizados nos EUA se concentram no espectro 28 Ghz, enquanto os chineses fazem os testes em sua maioria no 3.4 Ghz, também conhecido como sub 6-5G. A maior frequência utilizada pelos EUA mostra uma preocupação em atender as demandas das expectativas que os consumidores possuem quando se fala na internet das coisas, pois, ao se concentrar na utilização de serviços mobile em um espectro de 28 Ghz, a velocidade de conexão é definitivamente mais rápida. Entretanto, os chineses mostram uma preocupação em desenvolver a tecnologia em larga escala para grandes centros, pois, pelo fato de estar operando em um sub-6, eles abrem mão da alta velocidade que o 5G pode proporcionar, mas garantem a conectividade e a penetração da tecnologia em edifícios. Algumas Sub-6 são consideravelmente rápidas, sendo até mais rápidas que o 4G, mas não é garantia da alta velocidade. A Google fez um estudo de caso para o Departamento de Defesa dos EUA. Usando a configuração de teste que os chineses usam para o 5G e a configuração de teste que os EUA usavam em 2019, observou-se que a cobertura atingida pelo 5G chinês foi de 57.4% para usuários com velocidades de até 100Mbps, e 21% para usuários com até 1Gbps. A configuração americana atingiu 11.6% de cobertura de até 100Mbps, e 3.9% com 1Gbps. (DOD, 2019). Tal resultado mostra uma clara vantagem de cobertura e custo de operacionalização do sub-g 5G. Com tais resultados atualmente, para se garantir 100 Mbps em 28GHz para 72% da população americana, o gasto provável para tal está por volta de $400 bilhões de dólares, segundo o mesmo estudo proporcionado pela Google. Esse número provavelmente irá diminuir devido ao investimento em tecnologia por empresas privadas (DOD, 2019). 27 Ainda com relação ao 5G, vale observar as instituições internacionais que trabalham para sua plena funcionalização. A International Telecommunication Union atualmente assume o papel na liderança de padronização dos produtos de desenvolvimento tecnológico 5G em escala internacional. A ITU está diretamente associada à ONU, representando o caráter internacional que os Estados possuem com relação à tecnologia (LUCCA, 2020). O principal trabalho que a ITU está fazendo é garantir a alocação dinâmica dos aparelhos, que basicamente garante o funcionamento operacional independente da frequência que a torre do 5G estiver utilizando. Os países europeus a seguir decidiram as leis com relação à implementação da tecnologia 5G: Albânia, Áustria, Croácia, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Noruega e Eslováquia, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido (LUCCA, 2020). Ao mesmo tempo, na Ásia e no Pacífico, outros leilões já definidos foram feitos por: Austrália, China, Hong Kong, Japão, Filipinas, República da Coréia e Tailândia. As frequências no Brasil abarcam uma questão delicada, porque assume-se o risco de conflito de rede, no momento em que o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC), lançado em 2017, esteja usando as mesmas frequências definidas pela ITU. Essas frequências especificamente são: De acordo com o site Teleco (2018), a tecnologia 5G utilizará a agregação de portadoras que permitirá a alocação dinâmica das frequências. Além das frequências atuais em 700 MHz, 800 MHz, 900 MHz, 1700/1800 MHz, 1900/2100 MHz e 2500 MHz, as seguintes faixas adicionais estão sendo consideradas: • 3,5 GHz • 28 GHz, 37 GHZ e 39 GHz • 64 - 71 GHz (não licenciada) • 70/80 GHz (LUCCA, 2020, p. 32) Uma das faixas escolhidas para a transmissão de 5G, a de 28 GHz, é utilizada atualmente para satélites, em acordo com resolução 676/2017 ANATEL (LUCCA, 2020). A mesma interferência nos sinais de antenas parabólicas, portanto, podem custar muito dinheiro ao Brasil, a ABRATEL prevê um gasto de pelo menos R$ 2,9 bilhões de dólares (LUCCA, 2020). Legalmente falando o trabalho se concentra em uma definição específica, a Lei Normativa nº 4, de 26 de março de 2020. Ela assim estipula os requisitos de segurança mínimos para a implementação da tecnologia 5G no Brasil. A empresa que por ventura operar no Brasil, deve garantir os requisitos mínimos de interoperabilidade e segurança no setor, para trabalhar com outras prestadoras no território. 28 VI - a empresa prestadora de serviços deverá habilitar mecanismos para verificação da integridade dos dados trafegados nas redes 5G, no caso de estes mecanismos estarem disponíveis pela tecnologia, em consonância com as normas expedidas pela Agência Nacional de Telecomunicações; IX - deve-se promover a diversidade de provedoras de serviço por região e por faixas de frequências com intuito de promover a concorrência e a consequente qualidade dos serviços prestados, bem como a sua continuidade no caso de falha de prestação de serviços por determinada prestadora de serviços ou cessionária; X - as prestadoras de serviço deverão subcontratar fornecedores distintos, de forma que uma mesma área geográfica possua, pelo menos, duas prestadoras utilizando equipamentos de fornecedores distintos.(BRASIL, 2020, online). Observa-se portanto que independente da empresa que operará no Brasil, ela não irá operar sozinha. A interoperabilidade é algo que está sendo usado como um fator de segurança ativo nas redes, entendendo que a diversidade de prestadores diminui também a possibilidade de backdoors , e estimula a competição, garantindo um nível39 tecnológico adequado (BERBERT, 2020). Figura 02- Espectro de cobertura do 5G Fonte: WEISSBERGER, Alan. Extended-range 5G NR data call over mmWave completed; Ericsson & Qualcomm test 5G SA Carrier Aggregation. IEEE. 31, Ago. 2020. Disponível em:<https://techblog.comsoc.org/2020/08/31/extended-range-5g-nr-data-call-over-mmwave-completed-er icsson-qualcomm-test-5g-sa-carrier-aggregation/>. Acessado em 19, Set. 2020 39 Backdoors se refere a qualquer meio que um usuário consegue acessar um dispositivo de maneira autorizada ou não autorizada, ganhando altos níveis de acesso em um software, rede ou sistema. Disponível em: https://www.malwarebytes.com/backdoor/ 29 2.3 Vantagens do investimento tecnológico Existem vantagens comparativas em ser um Estado pioneiro no investimento em tecnologia. A Europa durante o 2G, investiu primeiro que outros países e por consequência empresas como Nokia e Ericsson foram capazes de lançar dispositivos primeiro e já estavam capacitando novos dispositivos 3G enquanto os EUA ainda estavam tendo dificuldades de implementar o 2G (DOD, 2019). Durante a transição para o 3G a Europa perdeu a liderança devido a dificuldades legislativas de implementação, enquanto os EUA apenas reapropriou as usadas durante o 2G. O Estado que tomou a liderança comparativa em seguida foi o Japão, os EUA eventualmente alcançaram a capacidade japonesa, mas no meio tempo os EUA perderam milhares em investimentos e várias empresas foram absorvidas por outras (DOD, 2019). Apesar dos antigos erros os EUA conseguiram se readaptar no processo de implementação do 4G, as leis e a venda de banda larga foram feitas simultaneamente em que a tecnologia estava sendo desenvolvida. Em 2010 as empresas Verizon e AT&T lançaram a rede de 3G baseada no LTE, a tecnologia que permite a velocidade encontrada nos dispositivos móveis da terceira geração. Conforme a mesma tecnologia foi se expandindo para o mundo, empresas como Netflix, Apple e Google já haviam se adaptado a tal tecnologia. Dessa forma, com o desenvolvimento da LTE em outras partes do mundo, como o Brasil, essas mesmas empresas já tinham produtos que obtiveram capacidade de mercado plena e impulsionaram a soberania americana do mercado do 4G. The United States has benefited significantly from thislead. Recon Analytics published a report in April 2018 1 estimating that the introduction of 4G contributed to 70% growth in the wireless industry between 2011 and 2014, bolstering GDP while increasing jobs in the wireless industry by over 80%. By leading the charge on 4G, the United States was able to build a global ecosystem of network providers, device manufacturers, and app developers that shaped the future of 4G and the experience of all other countries implementing it (DOD, 2019, p. 07). O motivo dessa vantagem ser tão aparente é a base de operacionalização. A infraestrutura, hardware e software inclusos. China, por meio da Belt & Road Initiative (BRI) , vai promover a instalação de fibra ótica pela maioria dos territórios da40 40 A Belt & Road Initiative é uma iniciativa proporcionada pelo governo chinês para integrar grande parte da ásia, até a Europa entre vias terrestres, e aumentar os portos atracados. Todo esse desenvolvimento 30 iniciativa, isso dará a estrutura de hardware necessária para empresas chinesas investirem e prosperarem na área, garantindo a infraestrutura do mercado tecnológico da região. O mesmo fenômeno aparenta ocorrer sempre que uma nova tecnologia propõe uma base de operações básica, parece ser tendência do mercado seguir as iniciativas e programas já iniciados, do que inventarem por conta própria os meios necessários (DOD, 2019). A ideia de implementação de cabeamento pela Belt & Road Initiative permitirá a China deixar de depender dos cabos oceânicos de redes que passam pelo Oceano Índico para se comunicar com a Rússia e a Europa, deixando de estar sob a vigília física de tropas americanas presentes nesse mesmo oceano, não sofrendo mais o efeito de uma possível ameaça americana de cortar ou espionar (pelo menos por essa via de rede) .41 2.4 Teorias de Relações Internacionais A política externa é uma sub-área do conhecimento das Relações Internacionais inaugurada primordialmente por Snyder e Sapin em “Decision Making as an Approach to the Study of International Politics” (JESUS, 2014). Assume-se que os indivíduos e as instituições pertencentes são as bases das Relações Internacionais, estabelecendo que as RI poderiam estar baseadas em ciências sociais, assim como suas respectivas teorias. Sendo portanto característica das RI ser generalista, explicando as capacidades dos Estados e suas relações de forma a dar um contexto ao todo, ao contrário, o estudo de política externa garante a análise dos objetos de forma mais específica (JESUS, 2014). A Análise de Política Externa viabiliza, assim, o resgate dessa base ao englobar os processos sociopolíticos, as dinâmicas e as resultantes da formulação da decisão que tenham referência ou consequências para entidades estrangeiras. Isso se dá com a consideração de múltiplas variáveis em diferentes níveis de análise e de informações minuciosas sobre os atores e as instituições. Além de identificar o ponto de interseção entre os determinantes materiais e ideacionais básicos do comportamento estatal nos seres humanos e permitir a incorporação de um conceito mais robusto de agência à Teoria de Relações Internacionais, a Análise de Política Externa possibilita ir além da simples descrição e da postulação de generalizações com base em leis gerais de comportamento estatal para uma explicação mais completa do comportamento estatal que requer a consideração das contribuições dos seres humanos. (JESUS, 2014, p. 82) 41 Susan Crawford, “China Will Likely Corner the 5G Market - And the US Has No Plan,” Wired, 20 February 2019, https://www.wired.com/story/china-will-likely-corner-5g-market-us-no-plan/. melhoraria o desenvolvimento econômico regional e expandir os níveis de influência chinesa. Para mais informações: https://www.cfr.org/backgrounder/chinas-massive-belt-and-road-initiative 31 Os estudos das características nacionais como interferentes nos processos de política externa são bases para a análise de política externa. Também na década de 70 alguns autores como Robert Dahl se debruçaram sob a ótica de como um Estado, seus símbolos internos, o ideário que possui de si mesmo, e como o Sistema Internacional o percebe, interferem ativamente nos processos de tomadas de decisões (JESUS, 2014). Para Putnam, entretanto, observar os fatores internos não era o suficiente, era necessário entender a complexidade das características externas em conjunto com as internas, e observar como os dois níveis de atuação interferiam no processo de tomada de decisão (JESUS, 2014). Dessa forma a teoria dos jogos de “dois níveis” de Putnam explica como forças nacionais buscam interesse no nível doméstico através de influência direta no sistema político. Ele por sua vez defende que é lógico a interferência da política externa na política interna, mas ele estava interessado no “quanto influencia” e “como influencia”. Iniciando sua discussão, Putnam cita Robert Strauss, quando atuou na rodada de Tóquio: Durante meu mandato como Representante Especial de Comércio [dos Estados Unidos], gastei tanto tempo negociando com grupos domésticos (industriais e trabalhistas) e com membros do Congresso dos Estados Unidos quanto gastei negociando com nossos parceiros comerciais estrangeiros (STRAUSS, 1987, p. vii). (PUTNAM, 2008, p. 151) A análise de Putnam explica que em nível nacional, grupos internos buscando os próprios interesses, instigam governos a adotarem políticas partidárias favoráveis, e em nível internacional buscam maximizar a própria capacidade de fazer pressão doméstica, e conseguir minimizar as pressões internas. Assim, é colocado sobre um Estado “dois tabuleiros”, onde o processo de tomada de decisão de política ocorre. Existem dois níveis dentro dos processos de barganha, entre os negociadores em um acordo provisório, e entre o grupo doméstico para ratificação do projeto. Putnam aqui argumenta da necessidade de entender o fato de a barganha doméstica ( Nível II), gerar uma pressão na barganha externa ( Nível I). Contrariamente, o Nível I pode se encontrar antes com o Nível II para definir uma posicionamento internacional inicial: Por exemplo, mesmo que os governos do Irã e dos Estados Unidos tenham aparentemente apoiado um acordo que trocava armas por reféns, as negociações entraram em colapso tão logo se tornaram públicas e sujeitas a uma “ratificação” de facto. Em muitas negociações, o processo de dois níveis 32 pode ser iterativo à medida que os negociadores tentam diferentes acordos e sondam os pontos de vista de suas bases. Em casos mais complicados, como veremos adiante, os pontos de vista das bases podem evoluir ao longo das negociações. No entanto, o requisito de que qualquer acordo no nível I precisa ser, ao final, ratificado no nível II impõe uma ligação teórica crucial entre os dois níveis. (PUTNAM, 2008, p. 153) Aqui se encontra o conceito chave de winsets, que também pode significar uma estrutura de ganhos, representando para o autor a possibilidade de uma vitória, seja ela qual for. Dentro da lente apresentada, acordos políticos de Nível II , partindo de uma base de apoio ao representante externo, apresentam a capacidade do mesmo de concluir o acordo no Nível I. Exemplo prático dos winsets, foram as negociações entre a Argentina e Inglaterra durante a Guerra das Malvinas. Segundo Putnam, as negociações em âmbito internacional só fracassaram porque em nível interno ambos os Estados não conseguiram consolidar as bases de poder de forma efetiva para lançar um projeto internacional contundente. O peso do winset é estabelecido previamente pela distribuição do poder e coalizões possíveis no Nível II (JESUS, 2014), levando em consideração as consequências do não acordo, e quanto menor forem as consequências, menor vai ser o peso que o winset terá. A dificuldade para a ratificação de acordos é completamente fundamental para se entender os pesos e medidas a serem levados em consideração, compensações domésticas fazem parte do jogo, no Nível I, para conseguir maior apoio naratificação do Nível II (JESUS, 2014). De forma complementar, outro autor, Andrew Moravcsik explica que quanto maior for a atuação dos líderes em nível doméstico, nas instituições que possuem o processo de tomada de decisão, maior vai ser a capacidade do winset e portanto, maior a capacidade do executiva em barganhar internacionalmente (JESUS, 2014). Entretanto, vale ressaltar, que a análise das RI sob essas óticas apontadas, levam em consideração países nos quais os processos de decisão estejam sujeitos a aceitação interna, como em democracias liberais. Países como a China não trabalham dentro dos moldes de winsets, pois, o Nível I e II passam exclusivamente pelo Executivo, facilitando a capacidade de barganha e exigências no âmbito internacional. O conceito de winset, apesar de integral na análise de Putnam, não é amplamente explorado nesse trabalho. Definir o que é ou não um winset de governo para governo é uma tarefa complexa, e definir quais são os winsets do governo 33 Bolsonaro é algo que vai além da proposta do trabalho. Entretanto, vale ressaltar aqui a possibilidade de uma expansão científica sobre ciência política trabalhando quais são os winsets do governo Bolsonaro. O trabalho utiliza Putnam apenas para demonstrar como o interno influencia o externo. Moravcsik explica adequadamente o porquê é necessária a análise doméstica para se compreender o âmbito internacional. As tentativas iniciais de teoria das Relações Internacionais em explicar adequadamente o cenário como um todo, sendo isento da camada doméstica (definida por Waltz no seu livro Theory of International Politics), é possível. Entretanto, ao se fazer isso, eles se tornam constantemente isentos de uma realidade observável. A capacidade portanto de análise é diminuída, e a necessidade de fatores domésticos serem analisados é reintroduzida dentro das discussões teóricas (MORAVCSIK, 1993). Segundo Moravcsik, Waltz consegue dentre a maioria dos teóricos de RI explicar bem as dinâmicas dos Estados. Segundo Waltz, o mínimo que um Estado deseja é maximizar sua sobrevivência, e o máximo é a dominação mundial. Entretanto as realidades observáveis presentes nos trabalhos de Waltz são raríssimas, na melhor das hipóteses, a análise de Waltz deve ser utilizada quando um dos atores do regime internacional age de uma maneira agressiva, quando esse não for o caso, pouco se torna aplicável (MORAVCSIK, 1993). Entretanto, a China e os EUA são dois Estados que podem ser descritos como atores agressivos nas relações internacionais, principalmente devido ao quanto que cada Estado investe ativamente nas Forças Armadas , a teoria de42 Waltz pode ser aplicada a esse trabalho para tentar se entender os atores, mas o trabalho escolheu seguir por outra análise teórica por achar que Putnam se enquadra mais na análise. A maneira escolhida neste trabalho para se entender o cenário internacional, portanto, não se encontra no estudo de teorias sistêmicas (aquelas que se estudam exclusivamente os Estados partindo de uma teoria doméstica, ou de uma teoria das relações internacionais), mas no nível de equilíbrio em se estudar quais fatores das políticas domésticas e das políticas externas devem ser levados em consideração ao se 42 Department of Defense. Military and Security Developments Involving the People’s Republic of China 2020. Disponível em:<https://media.defense.gov/2020/Sep/01/2002488689/-1/-1/1/2020-DOD-CHINA-MILITARY-POWE R-REPORT-FINAL.PDF>. Acessado em: 10, Nov. 2020. 34 fazer uma análise, pois, depender exclusivamente de alguma das duas lentes de análise, fatalmente levará à uma análise incompleta (MORAVCSIK, 1993). Especificamente no Brasil, por muitos anos, a forma de se entender os fatores que abrangem os Estados se deteve primordialmente em uma análise tradicionalista dos estudos diplomáticos (MESQUITA, 2012). O Itamaraty aqui seria isolado do resto das decisões nacionais, tendo um certo nível de independência. O período pós guerra-fria criou a necessidade de novas abordagens de análise para se estudar as relações internacionais, métodos esses que buscaram incorporar atores internacionais privados, organizações e ONGs, dentro do foco de análise do ambiente internacional. Nesse mesmo período, em busca de alinhar o Brasil com o desenvolvimento da globalização e da nova industrialização tecnológica, os estudos de política externa buscaram se basear em incorporar questões não tradicionalistas, dentro da PEB. O marco da quebra do paradigma desenvolvimentista foi a ascensão de Collor à presidência, com a adoção do neoliberalismo como pilar da gestão do Estado nacional e o alinhamento com o receituário do neoliberalismo mundial. Para lograr as modificações no perfil internacional do país, foram estabelecidas prioridades que, em conjunto, pretendiam alcançar três metas, a saber: 1) atualizar a agenda internacional do país de acordo com as novas questões e o novo momento internacional; 2) construir uma agenda positiva com os Estados Unidos e; 3) descaracterizar o perfil terceiro-mundista do Brasil (MESQUITA, 2012, p. 168) As bases domésticas, e seus respectivos apoios, chegou ao MRE, por volta de 1990, onde os condutores da política externa começaram a se diferenciar entre cosmopolitas, aqueles que acreditavam nas ideias neoliberais e a consonância do Brasil com esse modelo no Sistema Internacional, e os neodesenvolvimentistas, que buscavam restaurar as ideias desenvolvimentistas brasileiras, pré Collor, e se correlacionavam em termos mais nacionalistas (MESQUITA, 2012). Segundo Pinheiro(1994) essa divisão de ideias presente dentro do Itamaraty também se identificava no maior ou menor alinhamento aos EUA, ou seja, começou a haver uma divisão interna de como se deveria dar o relacionamento norte americano, que também estava dentro das agendas partidárias nacionais. Casarões (2011), entretanto, acredita que o pensamento e a quebra com a política desenvolvimentista não se iniciou propriamente por Collor, mas foi dado primeiramente pelo ideal popular. Collor dessa forma utilizou apenas do sentimentalismo de insuficiência do plano desenvolvimentista para readaptar o Ministério das Relações 35 Exteriores, colocando em pontos de liderança aqueles adeptos dos ideais neoliberais (MESQUITA, 2012). Durante todo o governo Cardoso por sua vez conduziu uma PEB em que o papel do Estado não seria mais o de garantir o desenvolvimento, mas sim adotar sua condição de obsoleto para a implementação do governo na dinâmica globalizada da nova ordem mundial. O foco é inserir o Brasil nos novos sistemas multilaterais das RI, garantindo uma expansão do poder decisório. O Brasil se articulou de maneira a promover o pacifismo, o multilateralismo, a não interferência e a soberania. A generalidade de tais termos garantiu a independência necessária para a política externa se articular de maneiras convenientes conforme os interesses brasileiros se readaptavam (MESQUITA, 2012). Tal movimento futuramente conceituado “autonomia pela participação” define: A autonomia, hoje, não significa mais “distância” dos temas polêmicos para resguardar o país de alinhamentos indesejáveis. Ao contrário, a autonomia se traduz por “participação”, por um desejo de influenciar a agenda aberta com valores que exprimem tradição diplomática e capacidade de ver os rumos da ordem internacional com olhos próprios, com perspectivas originais. Perspectivas que correspondam à nossa complexidade nacional. (MESQUITA, 2012, p. 170) Segundo Mesquita (2012) tal movimento é importante para demonstrar a ideologização da PEB em outras instâncias, não muito distantes, da história nacional. O movimento no governo Bolsonaro, não é exclusividade dele, mas sim, inerente aos processos de influência que o líder do Executivo possui sobre temas de Relações Internacionais. Outro exemplo claro da ideologização partidária na PEB é um texto lançado na Folha de São Paulo pelo Itamaraty, logo após a eleição de FHC, argumentando: Sob a influênciade um cenário internacional que ainda busca a acomodação à realidade pós-Guerra Fria, a diplomacia brasileira vive uma fase de revisão de conceito,(...) a eleição de Fernando Henrique Cardoso, apoiado por aliados políticos de perfil liberal, reforça a nova tendência da política externa do país (MESQUITA, 2012, p. 171) Pela lógica explicitada por Putnam, apresentada como teoria base de análise nesse trabalho, observa-se uma clara influência dos movimentos políticos internacionais, como fator de análise determinante para os processos de tomada de decisão da PEB. Dessa forma, é aceitável argumentar a existência, independente do período analisado, um direcionamento ideológico na política externa, visto a história dos processos de tomadas de decisões, a questão portanto se torna em analisar quais são 36 os fatores ideológicos correspondentes ao governo Bolsonaro, em sua dinâmica com a PEB. 2.5 Fatores a serem levados em consideração da guerra comercial EUA X China A guerra comercial é caracterizada pela constante taxação sobre produtos pelos governos chineses e americano. É uma guerra por hegemonia primordialmente econômica, que também abarca fatores políticos e bélicos. Tal hegemonia pode ser vista também com relação ao 5G, que, afinal, é uma extensão natural. O trabalho não se propõe a fazer uma análise qualitativa de essencialmente todas as tarifas e os processos que foram expostos, mas sim, identificar os mais importantes com relação ao objeto de pesquisa .43 A partir de 2018, Trump começou a impor várias barreiras comerciais na China, com o argumento de práticas de mercado injustas realizadas pelos chineses, não conformidade com os códigos de ética propostos pela OMC (WONG, 2020). Até o momento desse trabalho os EUA impuseram $550 bilhões de dólares sobre produtos chineses, e a China impôs $185 bilhões de dólares em produtos americanos. Em 2017 os EUA e a China concordaram que maiores acordos com relação a energia, mercado financeiro e agricultura chinesa seriam concedidos aos EUA, em retorno da abertura do mercado de aves. Em 22 de março de 2018 Trump abre oficialmente na OMC um caso contra a China com relação às suas práticas de mercado injustas, restringindo investimento em segmentos industriais chaves e impor mais tarifas sobre produtos aeroespaciais, maquinário e derivados da tecnologia da informação. Em 16 de abril de 2018, o departamento de comércio norte americano conclui que a empresa de aparelhos telefônicos ZTE, uma empresa chinesa, viola as sanções perpetradas pelos EUA, proibindo o comércio com a mesma (WONG, 2020). Os EUA começam a cobrar tarifas, em julho de 2018, de 25 por cento sobre 818 produtos chineses importados (Lista 1) avaliados em $ 34 bilhões de dólares - dando 43 Para uma lista completa dos eventos verificar: WONG, Dorcas. The US-China Trade War: A Timeline. China Briefing. 25, Ago. 2020. Disponível em:<https://www.china-briefing.com/news/the-us-china-trade-war-a-timeline/>. Acessado em: 10, Nov. 2020. 37 efeito à primeira rodada de tarifas, que foram revisadas e anunciadas em 15 de junho de 2018. Enquanto isso, a segunda rodada de tarifas discutida na Lista 2 está sob revisão, que propõe a implementação de uma tarifa de 25% sobre 284 produtos chineses (no valor de $16 bilhões de dólares). As commodities visadas nesta rodada de tarifas incluem: produtos de ferro ou aço, maquinário elétrico, produtos ferroviários, instrumentos e aparelhos. A China tomou medidas retaliatórias impondo uma tarifa de 25% sobre 545 produtos originários dos EUA (no valor de $34 bilhões de dólares), incluindo produtos agrícolas, automóveis e produtos aquáticos (WONG, 2020). Em resposta às tarifas dos EUA sobre $200 bilhões de dólares em produtos anunciados em 1 de agosto de 2018 , o Ministério do Comércio da China propõe tarifas adicionais sobre 5.207 produtos originários dos EUA (no valor de $60 bilhões de dólares), incluindo: 25% em 2.493 produtos (agrícolas, produtos, alimentos, têxteis e produtos, produtos químicos, produtos de metal, maquinário); 20% em 1.078 produtos (alimentos, papelão, produtos químicos, obras de arte); 10 % em 974 produtos (produtos agrícolas, químicos, vidraria); e 5% em 662 produtos (produtos químicos, maquinários, equipamentos médicos). No mesmo mês em que tais tarifas foram anunciadas, a China abriu um processo dentro da OMC contra as tarifas perpetradas pelos EUA com relação aos seus painéis solares (WONG, 2020). A Indústria e Segurança dos Estados Unidos publicou regras, logo em novembro de 2018, de controle de exportação sobre tecnologias emergentes para o público comentar. De acordo com as regras propostas, tecnologias como inteligência artificial, robótica e computação quântica podem estar sujeitas a controles de exportação porque são tecnologias de duplo uso que podem ser usadas para fins militares. As regras não especificam a China, mas são amplamente consideradas pelos observadores como estando relacionadas aos esforços dos EUA para impedir a China de adquirir tecnologias sensíveis, um dos fatores preocupantes, com essa decisão, também estava atrelado diretamente ao 5G, e seu potencial desenvolvimento com relação à inteligência artificial (WONG, 2020). Em maio de 2019, os EUA colocam um banimento sobre as empresas americanas de venderem produtos e comercializarem com a Huawei. Em junho de 2019 o Departamento de Comércio dos EUA anuncia o acréscimo de cinco novas entidades chinesas (incluindo uma empresa estatal) à sua lista de entidades, impedindo-as de 38 comprar peças e componentes dos Estados Unidos sem a aprovação prévia do governo. As novas entidades visadas são: Sugon, the Wuxi Jiangnan Institute of Computing Technology, Higon, Chengdu Haiguang Integrated Circuit, and Chengdu Haiguang Microelectronics Technology (WONG, 2020). Observa-se que a maioria dos produtos e empresas aqui mencionados, trabalham dentro do fator de desenvolvimento tecnológico. Figura 03- Exportações chineses sofreram com a guerra econômica e com o COVID Fonte: HAO, Karen. First the trade war, then the pandemic. Now Chinese manufacturers are turning inward. MIT Technology Review. 03, Jun. 2020. Disponível em:<https://www.technologyreview.com/2020/06/03/1002573/pandemic-us-china-trade-war-impact-on-m anufacturers/> Em junho de 2019 houve um relaxamento no banimento da empresa Huawei. As empresas ainda precisavam de aprovação para vender e comprar produtos da empresa com relação a temas que tenham vulnerabilidade à segurança nacional. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos criou em novembro de 2019 um procedimento para identificar transações que representam um risco à segurança nacional. O procedimento deu ao governo dos EUA poderes para restringir as empresas norte-americanas de importar e usar tecnologia estrangeira em sua infraestrutura de cadeia de suprimentos doméstica. Embora o documento não faça menção a equipamentos Huawei ou ZTE, elas estão claramente ameaçadas, já que foram colocadas na "lista negra" da entidade norte-americana, no início de maio, e na sexta-feira, 22 de novembro, foram votadas por unanimidade como riscos de segurança nacional dos EUA (WONG, 2020). Segundo Camila Assis: 39 Como enfatiza Rosenbach e Mansted (2019), a competição estratégica no século XXI é caracterizada por uma disputa de soma zero pelo controle de dados, bem como pelo domínio sobre a tecnologia e o talento necessário para converter estes dados em informações úteis. Dentre as estratégias utilizadas para prosperar nesse novo cenário, os Estados devem se posicionar perante a guerra comercial em torno do mercado digital. Os Estados Unidos, em decorrência de seu papel central na criação da Internet, adquiriram vantagens nessa disputa, no entanto, o país tem no presente encontrado adversários robustos como a China. Na contemporaneidade, as empresas chinesas têm dominado o mercado do 5G, tanto no que se refere ao número de patentes produzidas quanto à permeabilidade de empresas de capital chinês
Compartilhar