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1 INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO

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INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS 
E NEUROEDUCAÇÃO 
BELO HORIZONTE / MG 
 
 
 
 2 
 
SUMÁRIO 
 
1. A FISIOLOGIA HUMANA ................................................................................................... 4 
2. SISTEMA NERVOSO ........................................................................................................ 6 
Características dos neurotransmissores7A formação do sistema nervoso central (SNC) e o 
sistema nervoso periférico (SNP) ........................................................................................... 7 
Lobos cerebrais ..................................................................................................................... 8 
Estrutura responsável pela conexão entre os dois hemisférios cerebrais .............................. 8 
Divisão do sistema nervoso autônomo que controla as respostas “flight or fight” e as respostas 
“rest and digest” ..................................................................................................................... 9 
O funcionamento do sistema nervoso .................................................................................. 10 
Plasticidade ......................................................................................................................... 11 
Memória de curto e longo prazo........................................................................................... 11 
Implicações dos estudos do sistema nervoso nas Ciências Cognitivas ................................ 13 
3. FREUD E O CÉREBRO – INTEGRAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E NEUROFISIOLOGIA
 ............................................................................................................................................ 13 
4. NEUROCIËNCIA E NEUROEDUCAÇÃO ........................................................................ 15 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 3 
 
INTRODUÇÃO 
 
Sejam bem vindos ao curso de 
Especialização em NEUROCIÊNCIAS E 
APRENDIZAGEM, oferecido pelo Instituto 
Pedagógico de Minas Gerais - IPEMIG. 
Nos esforçamos para oferecer um 
material condizente com a graduação daqueles 
que se candidataram a esta especialização, 
procurando referências atualizadas, embora 
saibamos que os clássicos são indispensáveis 
ao curso. 
As ideias aqui expostas, como não 
poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, 
opiniões e bases intelectuais fundamentam o 
trabalho dos diversos institutos educacionais, 
mas deixamos claro que não há intenção de 
fazer apologia a esta ou aquela vertente, 
estamos cientes e primamos pelo conhecimento 
científico, testado e provado pelos 
pesquisadores. 
Não obstante, o curso tenha objetivos 
claros, positivos e específicos, nos colocamos 
abertos para críticas e para opiniões, pois temos 
consciência que nada está pronto e acabado e 
com certeza críticas e opiniões só irão 
acrescentar e melhorar nosso trabalho. 
Como os cursos baseados na 
Metodologia da Educação a Distância, vocês 
são livres para estudar da melhor forma que 
possam organizar-se, lembrando que: aprender 
sempre, refletir sobre a própria experiência se 
somam e que a educação é demasiado 
importante para nossa formação e, por 
conseguinte, para a formação dos nossos/ seus 
alunos. 
De acordo com Relvas (2010), para 
entender o mecanismo de aprender, é preciso 
saber um pouco sobre o funcionamento do 
sistema nervoso central (SNC), o organizador 
dos nossos comportamentos, pois cada tipo de 
habilidades ou comportamento pode ser bem 
relacionado a certas áreas do cérebro em 
particular. 
Assim, há áreas habilitadas a 
interpretar estímulos que levam à percepção 
visual e auditiva, à compreensão e à capacidade 
linguística, à cognição, ao planejamento de 
ações futuras, inclusive de movimento, e assim 
por diante. 
Disciplina recente que agrupa 
neurologia, psicologia e biologia, a neurociência 
vem despontando positivamente com estudos 
que podem auxiliar na 
compreensão dos aspectos envolvidos na 
aprendizagem. 
Poderíamos também dizer que é uma 
prática interdisciplinar, resultado da interação 
de diversas áreas do saber ou disciplinas 
científicas como, por exemplo: neurobiologia, 
neurofisiologia, neuroquímica, 
neurofarmacologia, neuroanatomia e 
neuropsicologia. 
As duas principais correntes em 
Neurociências são: 
 
CORRENTE LOCALIZACIONISTA, que teve 
início na Frenologia com 
Franz Joseph Gall (1758-1828). Gall acreditava 
que as “faculdades” (funções cerebrais) se 
encontravam em áreas circunscritas do 
cérebro. 
CORRENTE HOLÍSTICA, 
GLOBALÍSTICA OU UNITARISTA, onde 
destaca-se o fisiologista francês Marie-Jean-
Pierre Florens (1794-1867) o qual acreditava 
que as funções mentais não dependiam de áreas 
particulares do sistema nervoso, mas que este 
funcionava como um todo, de modo orquestrado, 
integrado. 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 4 
 
Bartoszeck (2007) constata que nos 
últimos anos muitos aspectos da fisiologia, 
bioquímica, farmacologia e estrutura do 
sistema nervoso de invertebrados e o cérebro 
de vertebrados foram elucidados. Estudos 
fundamentais sobre a função da percepção, 
emoções, aprendizagem e memória mostraram 
significativo progresso, especialmente 
adotando abordagens da neurociência 
cognitiva. 
Veremos ao longo do curso que a 
aprendizagem e educação não só podem como 
devem ser estudadas como um novo campo 
das ciências naturais, variando do ambiente 
fetal até a idade adulta avançada. 
Não temos dúvidas e as pesquisas 
comprovam que a alfabetização, utilizando-se 
das neurociências, reveste-se de importância 
para o cotidiano, ajudando a população a ter 
melhor entendimento de si e dos avanços 
científicos, evitando especulações e a crença 
em neuromitologias. Várias das implicações 
educacionais decorrentes das interações do 
cérebro são explicadas a partir dos princípios 
de neurociência como veremos ao longo do 
curso. 
Ressaltamos que o material para 
estudo trata-se de uma reunião do pensamento 
de vários autores que entendemos serem os 
mais importantes para a disciplina. 
Para maior interação com o aluno 
deixamos de lado algumas regras de redação 
científica, mas nem por isso o trabalho deixa de 
ser científico. 
Desejamos a todos uma boa leitura e 
caso surjam algumas lacunas, ao final da 
apostila encontrarão nas referências 
consultadas e utilizadas aporte para sanar 
dúvidas e aprofundar os conhecimentos. 
 1. A FISIOLOGIA HUMANA 
 
Se entendermos que do cérebro 
depende nossa existência, então, nada mais 
importante do que conhecê-lo por dentro e 
encontramos na neurofisiologia, meios de nos 
fazer entender seu intrincado modo de 
funcionamento, suas nuances e suas 
particularidades. 
O cérebro é o organismo que nos 
possibilita desde o exercício do pensamento e 
do raciocínio, até o controle de todas as 
atividades de nosso corpo, sem entrarmos no 
campo da parapsicologia, quando ele é 
considerado o elemento gerador das energias 
que provocam todos os fenômenos 
considerados 
“paranormais”. 
Contrariando os filósofos naturalistas 
e materialistas, a consciência nãoé uma 
simples propriedade biológica dos organismos 
mais complexos dos seres humanos, embora a 
sua realidade subjetiva dependa do correto 
funcionamento objetivo dos intrincados 
mecanismos cerebrais. 
Mas seja qual for a linha de raciocínio 
adotada (científica, teológica ou filosófica), o 
estudo dos intrincados mecanismos neuronais 
serve tanto para que os extremados 
espiritualistas “cartesianos” entendam o 
funcionamento da base de sustentação 
material da sua mente extracorpórea, quando 
terão a oportunidade de entender que mente 
não é só espírito, mas necessita também de um 
pouco de matéria, como também ajudará os 
materialistas “damasianos” a abrir seus 
horizontes e entender que o homem não deve 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 5 
 
ser tão auto suficiente como pensam, e que fica 
muito difícil sustentar como obra de simples 
acaso, e totalmente independente de qualquer 
energia superior a nossa, o desenvolvimento 
de órgãos tão intrincados como nossos 
sistemas neuronais. 
O termo fisiologia humana, cuja 
definição mais apropriada para os dias de hoje 
é: “[...] a ciência que descreve como o corpo 
dos organismos vivos funciona 
(...)” (Santos, 1998, p.13); foi primeiramente 
utilizado pelos gregos, cerca de 600 anos antes 
de Cristo, para descrever o questionamento 
filosófico da natureza das coisas. 
Etimologicamente a fisiologia humana é 
entendida como a história da natureza humana; 
mas, empregada numa acepção mais restrita, 
designa a ciência dos fenômenos da vida 
humana ou a ciência que estuda as funções dos 
seres multicelulares. 
Embora a fisiologia dos gregos não 
tenha sido exatamente a mesma que 
conhecemos hoje, muitas das ideias que ainda 
são verdadeiras para o seu desenvolvimento 
foram formuladas nos livros da Escola de 
Medicina de Hipócrates, ainda antes do ano 
350 a.C., principalmente o tratado “De natura 
hominis”, que pode ser atualmente interpretada 
como a teoria da doença causada pelos fatores 
emocionais. 
Também bastante significante para a 
definição da fisiologia durante a época dos 
grandes pensadores foi a teleologia de 
Aristóteles, quando dizia que “cada parte do 
corpo é formada para uma finalidade e esta 
função pode ser deduzida de sua estrutura”. 
A definição de fisiologia como 
Anatomia em Movimento apareceu no século 
XVIII com a publicação de “Elementa 
physiologiae corporis humani” (Albrecht von 
Haller, 1757-1766) em 8 volumes. 
No século XIX as pesquisas na área 
da fisiologia de todos os organismos vivos 
tomou uma importância fundamental devido a 
curiosidade, às necessidades médicas e aos 
interesses econômicos. 
A descoberta de estruturas 
semelhantes e funções comuns a todos os 
organismos vivos resultaram no 
desenvolvimento de um conceito praticamente 
unificado de fisiologia geral. 
A partir da segunda metade do século 
XIX a palavra fisiologia passou a significar a 
utilização de métodos experimentais, assim 
como técnicas e conceitos das ciências físicas 
para investigar as causas e os mecanismos das 
atividades de todas as coisas vivas. 
O significado da fisiologia humana 
desde o final do século XX quase se aproxima 
ao estudo do comportamento do organismo 
humano de forma exclusivamente mecanicista 
ou matemática, ou seja: “[...] os fisiologistas 
contemporâneos consideram os 
organismos como máquinas que, embora 
incrivelmente complexas, são compreensíveis 
pelo estudo de seus componentes (...)” 
(SANTOS, 1998, p.14) ou, segundo defende 
Dennett: “[...] todas as relações entre a mente 
e o cérebro humano podem ser compreendidas 
com a aplicação de modelos matemáticos (...)” 
( Dennett, 1998), pensamento também próximo 
das ideias de Damásio: “Existo e sinto... logo, 
penso”(Antônio Damásio em “O erro de 
Descartes”) ou ainda, quase da mesma forma: 
“[...] o ser humano é, na verdade, um autômato, 
e o fato de sermos dotados de sensibilidade, 
sentimentos e conhecimentos é parte dessa 
sequência automática da vida; esses atributos 
especiais nos possibilitam existir sob uma 
ampla variedade de condições que, de outra 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 6 
 
maneira, tornariam a vida impossível” 
(GUYTON, 1986). 
2. SISTEMA NERVOSO 
 
A neurociência é o estudo da 
realização física do processo de informação no 
sistema nervoso animal e humano. O estudo da 
neurociência engloba três áreas principais: a 
neurofisiologia, a neuroanatomia e 
neuropsicologia. 
A neurofisiologia é o estudo das 
funções do sistema nervoso. Ela utiliza 
eletrodos para estimular e gravar a reação das 
células nervosas ou de área maiores do 
cérebro. Ocasionalmente, os pesquisadores 
separam as conexões nervosas para avaliar os 
resultados. 
A neuroanatomia é o estudo da 
estrutura do sistema nervoso, em nível 
microscópico e macroscópico. Os 
neuroanatomistas dissecam o cérebro, a 
coluna vertebral e os nervos periféricos fora 
dessa estrutura. 
A neuropsicologia é o estudo da 
relação entre as funções neurais e 
psicológicas. A principal questão que a 
neuropsicologia procura responder é qual área 
específica do cérebro controla ou media as 
funções psicológicas. O principal método de 
estudo usado pelos neuropsicólogos é o estudo 
do comportamento ou mudanças cognitivas 
que acompanham lesões em partes específicas 
do cérebro. 
Estudos experimentais com indivíduos normais 
também são comuns. 
 
2.1 Estrutura e funcionamento do Sistema 
Nervoso 
 
Observando a estrutura do sistema 
nervoso, percebemos que eles têm partes 
situadas dentro do cérebro e da coluna 
vertebral e outras distribuídas por todo corpo. 
As primeiras recebem o nome coletivo de 
sistema nervoso central (SNC), e as últimas de 
sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema 
nervoso central que está a grande maioria das 
células nervosas, seus prolongamentos e os 
contatos que fazem entre si. No sistema 
nervoso periférico estão relativamente poucas 
células, mas um grande número de 
prolongamentos chamados fibras nervosas, 
agrupados em filetes alongados chamados 
nervos. 
Classes de células no sistema nervoso e 
regiões morfológicas dos neurônios típicos: 
A célula neural, ou neurônio, e as 
células da glia, ou neuróglia, ou gliócitos, são 
os dois tipos básicos de células do sistema 
nervoso. 
O neurônio constitui a unidade 
básica, estrutural e funcional, e tem a função de 
receber, integrar, processar e transmitir 
informações. 
Os neurônios possuem um corpo 
celular, um axônio (elemento transmissor) e 
vários dendritos (elemento receptor). 
A neuróglia, por sua vez, 
desempenha uma série de funções auxiliares 
fundamentais para permitir o funcionamento 
normal dos neurônios. 
Embora a forma neuronal apresente 
uma enormidade de variações, o neurônio 
típico pode ser apresentado como sendo 
constituído por: dendritos, que são os 
elementos receptores das informações 
(impulsos); o corpo celular, que constitui o seu 
centro metabólico, onde a informação recebida 
pelos dendritos é processada; e o axônio, que 
é o elemento que transmite essas informações 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 7 
 
(impulsos), já processados, para os dendritos 
dos próximos neurônios. Há também os botões 
terminais, na extremidade do axônio, por ondea transmissão é efetuada. 
Entre o terminal pré-sináptico do 
axônio de um neurônio e os receptores 
situados nos dendritos de um neurônio pós-
sináptico, existe um estreito espaço 
intercelular, de aproximadamente 200Å a 300Å 
(Angstrons), chamado de fenda ou fissura 
sináptica (Santos, 1984, p. 31). 
 
Características dos 
neurotransmissores 
 
Os neurotransmissores medeiam 
efeitos imediatos e curtíssimos sobre a célula 
pós-sináptica e atendem aos seguintes 
requisitos: são sintetizados no neurônio; estão 
presentes na terminação pré-sináptica, sendo 
liberados em quantidades suficientes para 
exercer ação definida sobre o neurônio pós-
sináptico ou órgão efetor; administrado de 
forma exógena em concentrações adequadas, 
imita a ação do transmissor endógeno liberado; 
e deve existir um mecanismo específico para 
sua remoção do sítio de ação. 
Quanto à sua função os neurônios 
são classificados como: aferente ou sensitivo; 
eferente ou motor; e interneurônio ou neurônio 
de associação. 
Os aferentes transmitem as 
informações dos órgãos sensoriais ao sistema 
nervoso central. 
Os eferentes transmitem os 
comandos motores para os músculos, vísceras, 
glândulas, etc... 
Os interneurônios, localizados no 
interior do sistema nervoso central, 
estabelecem os contactos entre os aferentes e 
os eferentes, e constituem mais de 90 % da 
população neuronal. 
A formação do sistema nervoso central 
(SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP) 
O sistema nervoso central é 
composto pelo encéfalo, encerrado na caixa 
craniana, e pela medula espinhal, encerrada na 
coluna vertebral. 
O encéfalo, por sua vez, compõe-se 
de: cérebro (telencéfalo e diencéfalo), cerebelo 
e tronco encefálico ou tronco cerebral 
(mesencéfalo, ponte e bulbo). 
O sistema nervoso periférico é 
constituído de: nervos periféricos (31 pares de 
nervos espinhais, que partem da medula 
espinhal e 12 pares de nervos cranianos, que 
partem do encéfalo); e corpos celulares 
neuronais (gânglios da raiz dorsal e receptores 
periféricos). 
Parte do sistema límbico 
desempenha papel importante no controle das 
emoções com ação sobre o sistema endócrino 
A amígdala medeia o prazer e as 
reações emocionais apetitivas, controlando as 
emoções, sendo necessária para o 
condicionamento de um organismo ao 
ambiente no qual vive, isto é: condicionamento 
de lugar. 
Se não existir o controle das emoções 
por meio da amígdala, o funcionamento do 
hipotálamo, que “[...] representa o centro de 
elaboração e de exteriorização das emoções, 
sempre sob a ação inibidora do córtex cerebral” 
(Santos, 1984, p. 152), passa a ser livre e 
exagerado, gerando fenômenos do tipo 
emocional forte, como o medo, a raiva, etc. 
Estruturas cerebrais envolvidas nos 
mecanismos de memória 
 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 8 
 
O hipocampo acompanhado dos 
corpos mamilares, núcleos anteriores do 
tálamo, colunas anteriores dos fórnices e 
núcleos mediais dorsais do tálamo é o conjunto 
responsável pela gravação da memória a longo 
prazo. 
A formação hipocampal no lobo 
temporal, parte do sistema límbico, é 
importante no mecanismo da memória, 
principalmente para transferir a memória a 
curto prazo para memória a longo prazo. Essa 
afirmativa deriva de experiências efetuadas 
com pessoas que foram submetidas à remoção 
de ambos os hipocampos (ou de outras 
estruturas límbicas associadas) e que 
conseguem manter a memória pré-existente 
sem nenhuma alteração, desenvolvendo, 
porém, o fenômeno da amnésia anterógrada, 
ou seja, incapacidade de formar novas 
memórias. 
O mesmo tipo de amnésia 
anterógrada foi observado em pacientes que 
sofreram lesões: 1) dos corpos mamilares; 2) 
dos núcleos anteriores do tálamo; 3) das 
colunas anteriores dos fórnices; 4) dos núcleos 
mediais dorsais do tálamo. 
Tais observações mostram que, para 
se consolidar a memória, todas essas 
estruturas cerebrais são essenciais e que a 
falta de uma só delas impossibilita tal processo 
(ANDERSEN, 2007). 
O tálamo é o responsável pela 
codificação, armazenagem e acesso ao arquivo 
de memória a longo prazo. 
O tálamo é o órgão responsável pelo 
acesso consciente à memória a longo prazo, 
dirigindo a atenção da pessoa para a 
informação arquivada, desempenhando 
importante papel na codificação, 
armazenamento e lembrança dessas 
memórias. 
Tem sido proposto que lesões na 
área talâmica provoquem amnésia retrógrada, 
ou seja, a incapacidade de lembrar memórias 
acumuladas nos depósitos de memória a longo 
prazo, reforçando a ideia de que o tálamo seja 
o principal responsável por tal acesso. 
Alterações físicas ou químicas nas 
sinapses devem constituir o arquivo 
propriamente dito. 
Andersen (2007) ressalta que 
acredita-se que esse arquivo, que constitui a 
memória a longo prazo, resulte realmente de 
certas alterações físicas ou químicas nas 
sinapses, principalmente devido às 
observações de pessoas submetidas a 
anestesia geral, hipoxia, isquemia e 
resfriamento cerebral. Elas não perderam a 
memória a longo prazo, significando que esse 
arquivo não depende da contínua atividade do 
sistema nervoso. 
 
Lobos cerebrais 
 
Os lobos cerebrais são o lobo frontal, 
lobo parietal, lobo occipital e lobo temporal, 
nomes esses oriundos dos ossos cranianos 
nas suas proximidades e que os recobrem. 
O lobo frontal fica localizado na região 
da testa, o lobo accipital na região da nuca, o 
lobo parietal na parte superior central da 
cabeça e os lobos parietais nas regiões laterais 
da cabeça, por cima das orelhas. 
 
Estrutura responsável pela conexão entre 
os dois hemisférios cerebrais 
 
O corpo calosoI, localizado no fundo 
da fissura sagital ou inter-hemisférica, é a 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 9 
 
estrutura responsável pela conexão entre os 
dois hemisférios cerebrais. 
Essa estrutura, composta por fibras 
nervosas, seria a responsável pela troca de 
informações entre os dois hemisférios 
cerebrais, mantendo, conforme teorias ainda 
sem confirmações experimentais conhecidas, 
muitos arquivos de memória em reservas 
duplicadas no outro hemisfério. 
Dentre as funções mais importantes 
do lobo frontal temos: 
 
 o comando motor primário referente 
aos dedos, mão, braço, ombro, tronco, 
laringe, língua, face, etc.; 
 funções cognitivas e emotivas; 
 
 programação e preparação dos 
movimentos e controle da postura; 
controle do movimento conjugado do 
olhar; 
 processamento das informações 
olfatórias; 
 
Função da área de Broca: produção 
do padrão de respostas motoras que resultam 
na expressão verbal com sentido; 
Função da região homóloga à área de 
Broca: capacidade de expressão da emoção na 
palavra falada. 
Existe uma síndrome apresentada 
por pacientes que ignoram um dos lados do seu 
corpo (e algumas vezes metade do mundo 
exterior) chamada de negligência da metade 
contralateral do corpo, ou neglect. Essa 
síndrome caracteriza-se pelo total abandono 
mental de metade de seu corpo, como se essa 
metade não existisse. 
É bastante comum que pacientes que 
estejam sofrendo dessa síndrome deixem de 
barbear metade de sua face ou vistam apenas 
metade do corpo. Ela é normalmente causada 
por algum tipo de lesão do lobo parietal 
esquerdo. 
 
 
Divisão do sistema nervoso autônomo que 
controla as respostas “flight or fight” e as 
respostas “rest and digest” 
O sistema nervoso autônomo é 
constituído de duas divisões, a divisãosimpática e a divisão parassimpática. 
A divisão simpática controla as 
respostas “fight or flight” (luta ou fuga) 
enquanto que a divisão parassimpática controla 
as respostas “rest and digest” (repouso e 
digestão). 
Dentre as estruturas do sistema 
límbico relacionada ao medo condicionado 
temos a amígdala que está envolvida 
diretamente na aquisição do medo 
condicionado, assim como na sua expressão 
motora e neuroendócrina. 
 
Abaixo veremos algumas representações 
esquemáticas das estruturas discorridas. 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 10 
 
Ilustração esquemática dos 
hemisférios cerebrais ligados pelo corpo 
caloso. A visão é processada pelo lobo 
occipital, sendo a audição, aspectos de 
memória e o “eu” processados pelos lobos 
temporais. Os lobos parietais abrigam o córtex 
sensorial e motor. O cerebelo controla os 
movimentos. Os lobos frontais (área pré- 
frontal) estão envolvidos com antecipação, 
planejamento, pensamento ético e religioso 
(adaptado de RESTAK, 1994). 
 
 
 
O sistema nervoso central (cérebro e 
medula espinhal) é composto de dois tipos 
básicos de células: o neurônio (1) e a glia que 
dá suporte estrutural e fisiológico, como o 
astrócito (4) e o oligodendrócito (6). O neurônio 
é composto de corpo celular (1), núcleo (2) e 
dendritos (3), por onde entra a informação e o 
axônio 
(5) e terminais (7) de onde esta sai a 
informação eletroquímica (adaptado de BRAIN 
BASICS, 2002). 
O funcionamento do sistema nervoso 
 
Os nervos (conjunto de neurônios) 
podem ser divididos em nervos que levam 
informação para o SNC e nervos que levam 
informação do SNC. Os primeiros são 
chamados fibras aferentes e os últimos de 
fibras eferentes. As fibras aferentes enviam 
sinais dos receptores (células que respondem 
ao estímulo sensorial nos olhos, ouvidos, pele, 
nariz, músculos, articulações) para o SNC. As 
fibras eferentes enviam sinais do SNC para os 
músculos e as glândulas. 
Os neurônios são formados por três 
partes: a soma, os axônios e os dendritos. A 
parte central, corpo celular ou soma, contém o 
núcleo celular. Podese observar que a soma 
possui grande número de prolongamentos, 
ramificando-se múltiplas vezes como pequenos 
arbustos, são os dendritos. É através dos 
dendritos que cada neurônio recebe as 
informações provenientes dos demais 
neurônios a que se associa. O grande número 
de neurônios é útil a célula nervosa, pois 
permite multiplicar a área disponível para 
receber as informações aferentes. Saindo da 
soma também, existe um filamento mais longo 
e fino, ramificando-se pouco no trajeto e muito 
na sua porção terminal, é o axônio. Cada 
neurônio tem um único axônio, e é por ele que 
saem as informações eferentes dirigidas às 
outras células de um circuito neural. 
A região de contato entre um terminal 
de fibra nervosa e um dendrito ou o corpo (mais 
raramente um outro axônio) de uma segunda 
célula, chama-se sinapse, e constitui uma 
região especializada fundamental para o 
processamento da informação pelo sistema 
nervoso. Na sinapse, nem sempre, os sinais 
elétricos passam sem alteração, podem ser 
bloqueados parcial ou completamente, ou 
então multiplicados. Logo, não ocorre apenas 
uma transmissão da informação, mas uma 
transformação durante a passagem. 
A transmissão sináptica pode ser 
química ou elétrica. Na sinapse elétrica, as 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 11 
 
correntes iônicas passam diretamente pelas 
junções comunicantes (região de aproximação 
entre duas células) para as outras células. A 
transmissão é ultrarrápida, já que o sinal passa 
praticamente inalterado de uma célula para 
outra. Na sinapse química, a transmissão do 
sinal através da fenda sináptica (região de 
aproximação entre duas células, bem maior 
que as junções comunicantes) é feita através 
de neurotransmissores. A sinapse química 
pode ser exitatória, quando ocorre um 
aumento no estímulo recebido pelo neurônio 
pós-sináptico, ou inibitória, quando ocorre uma 
diminuição do estímulo no neurônio pós-
sináptico. São essas transformações ocorridas 
durante a sinapse que garantem ao sistema 
nervoso a sua enorme diversidade e 
capacidade de processamento de informação. 
Uma das melhores 
 maneiras de perceber a 
influência dos neurotransmissores na 
cognição é observando a quantidade de drogas 
cujo efeito provém da modificação da atividade 
dos neurotransmissores, como a nicotina. 
Plasticidade 
 
Plasticidade é a capacidade do 
sistema nervoso alterar o funcionamento do 
sistema motor e perceptivo baseado em 
mudanças no ambiente. 
Estudos comprovam a hipótese sobre 
o desenvolvimento neural e a aprendizagem na 
qual funções particulares de processamento de 
informação são controladas por grupos 
especiais de neurônios, mas quando uma 
dessas funções fica inutilizada, os neurônios 
associados a ela passam a controlar outra 
função. Por exemplo, se os neurônios que 
normalmente recebiam estímulos do olho 
esquerdo pararem de receber esse estímulo, 
eles se tornariam responsáveis pelos estímulos 
do olho direito. O inverso também é verdadeiro, 
quando as funções neurais são limitadas, os 
neurônios podem passar a controlar novas 
funções. 
No entanto, nem sempre esse 
processo ocorre. A plasticidade é mais comum 
em crianças. 
 
 Memória de curto e longo prazo 
 
Um dos conceitos mais importantes 
dessa área é a distinção entre memória de 
curto e longo prazo. Uma razão para acreditar 
nessa distinção é que, algumas vezes depois 
de um severo golpe na cabeça, uma pessoa 
pode ser incapaz de lembrar eventos que 
aconteceram antes do golpe (amnésia 
retrógrada), mas continuaria lembrando dos 
eventos que ocorreram bem antes. A 
fragilidade das memórias recentes sugere que 
elas estavam num estado fisiológico diferente 
das memórias mais antigas. 
Uma outra razão para essa distinção 
é que nós somos capazes de lembrar um 
pequeno número de itens que nós acabamos 
de guardar na memória, mas podemos lembrar 
uma grande quantidade de informação de um 
passado distante. Esses fatos sugerem que a 
memória de curto prazo e a memória de longo 
prazo podem ter propriedades físicas distintas. 
Memória de Curto Prazo (MCP): 
Capaz de armazenar informações por períodos 
de tempo um pouco mais longos, mas também 
de capacidade relativamente limitada. 
Memória de Longo Prazo (MLP): Capaz de 
estocar informações durante 
períodos de tempo muito longos, talvez até 
indefinidamente. 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 12 
 
Apesar do nosso cérebro ser dividido 
em dois hemisférios não existe relação de 
dominância entre eles, pelo contrário, eles 
trabalham em conjunto, utilizando-se dos 
milhões de fibras nervosas que constituem as 
comissuras cerebrais e se encarregam de pô-
los em constante interação. O conceito de 
especialização hemisférica se confunde com o 
de lateralidade (algumas funções são 
representadas em apenas um dos lados, outras 
nos dois) e de assimetria (um hemisfério não é 
igual ao outro). 
Segundo Lent (2002), o hemisfério 
esquerdo controla a fala em mais de 95% dos 
seres humanos, mais isso não quer dizer que o 
direito não trabalhe, ao contrário, é a prosódia 
do hemisfério direito que confere à fala 
nuancesafetivas essenciais para a 
comunicação interpessoal. 
O hemisfério esquerdo é também 
responsável pela realização mental de cálculos 
matemáticos, pelo comando da escrita e pela 
compreensão dela através da leitura. Já o 
hemisfério direito é melhor na percepção de 
sons musicais e no reconhecimento de faces, 
especialmente quando se trata de aspectos 
gerais. O hemisfério esquerdo participa 
também do reconhecimento de faces, mas sua 
especialidade é descobrir precisamente quem 
é o dono de cada face. 
Da mesma forma, o hemisfério direito 
é especialmente capaz de identificar categorias 
gerais de objetos e seres vivos, mas é o 
esquerdo que detecta as categorias 
específicas. O hemisfério direito é melhor na 
detecção de relações espaciais, 
particularmente as relações métricas, 
quantificáveis, aquelas que são úteis para o 
nosso deslocamento no mundo. O hemisfério 
esquerdo não deixa de participar dessa função, 
mas é melhor no reconhecimento de relações 
espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, 
o hemisfério esquerdo produz movimentos 
mais precisos da mão e da perna direitas do 
que o hemisfério direito é capaz de fazer com 
a mão e a perna esquerda (na maioria das 
pessoas). 
 
 
Fonte: Lent (2002) 
 
E onde entra a aprendizagem? 
 
A aprendizagem é definida por 
Santos (1999, p. 85) como o processo neural 
pelo qual a experiência modifica o 
comportamento centralmente regulado. 
Ele pode ser do tipo associativo ou do 
tipo não associativo, ou seja, pode ter relação 
direta com os estímulos, como nos 
condicionamentos clássicos e 
condicionamentos operantes, para o 
aprendizado associativo; ou não depender 
dessa relação entre estímulos e respostas, 
como na habituação e na sensitização, para os 
aprendizados não associativos. 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 13 
 
Ou, conforme a classificação 
apresentada em Krech (1978, p. 50): “[...] os 
tipos de aprendizagem podem ser agrupados 
em três categorias de complexidade crescente: 
1) aprendizagem de resposta 
condicionada; 
2) memorização; 
3) aprendizagem por ensaio-e-erro”. 
 Implicações dos estudos do sistema nervoso nas 
Ciências Cognitivas 
 
Existem redundâncias consideráveis 
no sistema nervoso. A existência de 
processamento paralelo é amplamente aceita 
na neurociência e acredita-se que ele seja 
necessário devido a rapidez e complexidade do 
processamento da informação no cérebro das 
criaturas vivas. O poder da computação 
paralela pode ser observado nos modernos 
computadores seriais que demoram muito mais 
que o cérebro humano para processar 
informações visuais. Nos últimos anos, 
reconheceu-se que computadores com 
processamento paralelo são necessários para 
acelerar o processamento de imagens, 
aproximando-o da velocidade do cérebro 
humano. 
Esse é um dos caminhos pelo qual a 
neurociência pode ajudar as ciências 
cognitivas. A psicologia cognitiva tem se 
esforçado para modelar as atividades 
intelectuais com elementos que interajam numa 
maneira neurologicamente plausível. Esses 
modelos estão ajudando a mostrar como a 
cognição pode ser estruturada através dos 
princípios básicos de operação da mente 
(LENT, 2002). 
 
3. FREUD E O CÉREBRO – INTEGRAÇÃO 
ENTRE PSICANÁLISE E NEUROFISIOLOGIA 
 
Sempre existiram, no meio 
psicanalítico, aqueles que se interessaram em 
buscar fazer correlações entre a neurociência e 
os conhecimentos adquiridos na investigação 
psicanalítica. Com isso, puderam ser 
mostradas as contribuições que a psicanálise 
poderia dar para um enriquecimento mútuo nas 
investigações neuropsicológicas e traduzir em 
termos psicanalíticos as conquistas 
neurocientíficas (SOUSSUMI, 2001). 
O desenvolvimento da neurociência 
começa a tornar realidade o vaticínio de Freud 
de que no futuro as hipóteses psicanalíticas 
seriam explicadas pela biologia (ANDRADE, 
2003). 
As aquisições recentes da 
neurobiologia indicam que a neuroplasticidade 
pode ser um dos caminhos para a reconciliação 
entre a psicanálise e a neurociência. Dentre os 
achados neurocientíficos no âmbito do 
psiquismo, destaca-se a ação da relação 
afetiva sobre circuitos neurais de bebês, os 
quais podem sofrer atrofia cerebral se cuidados 
inadequadamente. Também há evidências de 
que métodos psicológicos podem promover 
modificações no cérebro. Este ponto é de 
especial interesse para a psicanálise, cujo 
método se baseia numa relação afetiva 
(transferência) (ANDRADE, 2003). 
Recentes avanços no estudo 
interdisciplinar da emoção também indicam 
possibilidades de uma aproximação bem-
sucedida entre a psicanálise e a neurociência. 
O conhecimento atual dos mecanismos 
psicobiológicos, por meio dos quais, por 
exemplo, o hemisfério direito processa 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 14 
 
informações sociais e emocionais em níveis 
subconscientes e mediante os quais o córtex 
orbitofrontal regula o afeto e a motivação, 
permite uma compreensão mais profunda da 
“Estrutura Psíquica” formulada por Freud 
(SCHORE, 1997 apud LIMA, 2009). 
A descrição tradicional de 
inconsciência como concebida por Freud é de 
significância histórica e não somente ganhou 
ampla aceitação, mas também atraiu muito 
criticismo. Entretanto, hoje se sabe que o modo 
fundamental de processamento das funções 
cerebrais é de ordem inconsciente. Partes do 
processamento simbólico-declarativo e do 
processamento de funções emocionais do 
cérebro são permanentemente inconscientes. 
Outras partes desses processos são 
conscientes ou podem ser trazidas à 
consciência ou, alternativamente, podem ser 
excluídas da consciência. Ressaltando o papel 
essencial dos processos psíquicos 
inconscientes, Winograd et al (2005) citam 
como exemplo a verificação de que o 
comportamento de pacientes incapazes de se 
lembrar de acontecimentos passados, por 
causa de lesões em estruturas cerebrais 
responsáveis pelo armazenamento de 
memória, é claramente influenciado pelos fatos 
“esquecidos”. Esses dados corroboram a teoria 
de Freud, segundo a qual o inconsciente 
domina a maior parte dos processos 
psicofisiológicos. 
Segundo estudos de Lima (2010) a 
neurociência também demonstrou que as 
estruturas do cérebro essenciais para a 
formação de memórias conscientes não são 
funcionais durante os dois primeiros anos de 
vida, explicando o que Freud identificou como 
“amnésia infantil”. Assim como Freud 
hipotetizou, não poder trazer à luz da 
consciência a maior parte de nossas memórias 
de infância não significa que elas não tenham 
se inscrito em nós nem que não afetem nossos 
sentimentos, pensamentos e comportamentos 
atuais. As experiências da primeira infância, 
sobretudo entre mãe e bebê, influenciam o 
padrão das conexões cerebrais e, 
correlativamente, o padrão de nossos 
comportamentos e pensamentos. 
A vasta contribuição de Freud 
relativamente à função dos sonhos foi em 
grande parte ignorada pela ciência, pela falta 
de um método quantitativo e de hipóteses 
testáveis. Felizmente, os avanços da 
neurociência convergiram nos últimos anos 
para dois importantes insights psicanalíticos. O 
primeiro consiste na observação concreta de 
que os sonhos, frequentemente, contêm 
elementos da experiência do dia anterior, 
denominados de “restos do dia”. O segundo é 
o reconhecimento de que estes “restos” 
incluem atividades mnemônicas e cognitivas da 
vigília, persistindo nos sonhos na medida de 
sua importância para o sonhador. Assim, aindaque de maneira difusa, a psicanálise prevê que 
a consolidação de memórias e o aprendizado 
sejam importantes funções oníricas (SIDARTA, 
2003). 
Segundo Freud, os sonhos 
constituem “uma realização (disfarçada) de um 
desejo (reprimido)”. A hipótese de que o 
sistema dopaminérgico mesolímbico- 
mesocortical, relacionado aos estados 
motivacionais, é essencial para a formação dos 
sonhos também oferece algum respaldo à 
teoria freudiana. Assim, as emoções parecem 
exercer um papel fundamental na formação dos 
sonhos (CHENIAUX, 2006). 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 15 
 
Estudos experimentais recentes 
trazem à tona duas grandes contribuições de 
Freud aos conhecimentos atuais sobre a 
supressão e/ou inibição de memórias. Ambos 
os processos, largamente estudados por ele, a 
repressão e a extinção, já têm boa parte de 
seus mecanismos conhecidos. Essa inibição ou 
supressão é inerente à nossa natureza. Por um 
lado, precisamos impedir o acesso à 
consciência de muitas memórias, porque sua 
evocação seria prejudicial ou insuportável. Por 
outro, precisamos fazê-lo porque devemos 
recordar ou aprender outras memórias 
(IZQUIERDO, 2006). 
Em seu estudo, Izquierdo cita 
achados interessantes de outros 
pesquisadores (Anderson ET al, 2004): no 
momento em que o cérebro exclui da 
consciência a expressão de memórias 
indesejadas, ocorrem: a) inibição da evocação 
dessas memórias (repressão); b) ativação do 
córtex pré-frontal anterolateral (envolvido na 
memória de trabalho); c) inibição da atividade 
do hipocampo. O hipocampo é o “diretor” da 
“orquestra” de áreas corticais envolvidas na 
evocação de memórias. 
O estudo desses cientistas pretendeu 
explicar casos de bloqueio de memória 
especialmente nas situações de abusos 
sexuais sofridos por crianças que não se 
lembram dos abusos quando se tornam 
adultas. Sua existência foi percebida por meio 
da utilização de imagens cerebrais que 
mostravam os sistemas neurológicos 
participantes do bloqueio da evocação de 
memórias indesejáveis. Esses dados 
corroboram a hipótese de Freud sobre o 
processo de “recalque”. 
Analisando todos esses dados, Lima 
(2010) considera que as visões psicanalítica e 
neurocientífica podem ser complementares e 
mutuamente enriquecedoras. Tomados em 
conjunto, esses achados indicam não só a 
viabilidade, mas a necessidade de reavaliar o 
legado psicanalítico de Freud, com uma 
diferente abordagem. 
 
4. NEUROCIËNCIA E NEUROEDUCAÇÃO 
 
Segundo Ventura (2010) a 
neurociência está em grande expansão, e foi 
eleita com destaque pelo Governo dos EUA 
como prioritária na década de 1990, que ficou 
conhecida como a „Década do Cérebro‟ 
(Library of Congress, 2010). Muitos também 
consideram o século XXI o século do cérebro, 
no qual as grandes conquistas da humanidade 
estarão dirigidas para a compreensão das 
funções neurais humanas. 
A neurociência estuda também as 
doenças do sistema nervoso e seus reflexos 
em todas as funções do indivíduo, procurando 
métodos de diagnóstico, prevenção e 
tratamento, além da descoberta das causas e 
mecanismos. Desde uma dor de cabeça até a 
doença de Alzheimer, o custo social e 
econômico dessas afecções é imenso, e é 
também muito grande a parcela da economia 
dedicada ao desenvolvimento e à produção e 
comercialização de fármacos e de 
equipamentos de diagnóstico. O 
aprofundamento da pesquisa traz o 
reconhecimento de novas doenças, permitindo 
seu estudo e tratamento. São muitos os 
exemplos de novas descobertas. No século 
XIX, Freud descreveu a paralisia cerebral, 
tendo usado esse nome para distinguí-la da 
paralisia infantil. Nas últimas décadas foi 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 16 
 
reconhecida a síndrome do pânico e há menos 
de 10 anos, a morte súbita, as graves 
consequências de distúrbios do sono e os 
príons e seu possível envolvimento em 
patologias neurológicas e mentais. É 
surpreendente pensar que as doenças do 
sono, que sempre afligiram a humanidade, só 
tiveram reconhecimento muito recentemente. 
A pesquisa em neurociência visa, 
dentre seus objetivos, esclarecer os 
mecanismos das doenças neurológicas e 
mentais por meio do estudo do sistema nervoso 
normal e patológico. 
As funções do sistema nervoso 
podem ser alteradas por eventos ambientais 
como trauma, agentes infecciosos ou tóxicos; 
por tumores, mutações gênicas e defeitos 
congênitos; por eventos vasculares e 
deficiências nutricionais, e por muitos outros 
fatores. Muitas doenças do sistema nervoso 
são totalmente incapacitantes, outras 
provocam prejuízos de diferentes níveis de 
gravidade. Infelizmente, segundo Ventura 
(2010) não temos acesso a dados de 
prevalência brasileiros. Para exemplificar 
alguns números mais relevantes são citadas a 
seguir informações dos EUA. 
Dados do National Institute of Health 
- NIH (2002) mostram que, na população dos 
EUA, dentre as doenças neurológicas que em 
geral se instalam na infância: 
(1) a epilepsia afeta cerca de 2,5 milhões de 
norte-americanos; 
 
(2) a paralisia cerebral ocorre em 750.000 
nascimentos; 
 
(3) o autismo atinge 400.000 crianças; e, 
 
(4) os tumores cerebrais são a segunda 
causa de morte por câncer em crianças até 15 
anos. 
Dentre as doenças que afetam 
adultos, causando anos de invalidez, perda de 
vida e impacto econômico, os dados do NIH 
indicam que: 
(1) acima dos 60 anos, a demência do tipo 
Alzheimer, o acidente vascular encefálico e a 
doença de Parkinson são frequentes; 
(2) os acidentes vasculares encefálicos 
(cerebrais) são a terceira entre todas as causas 
de morte e uma causa importante de invalidez 
(mais de 700.000 americanos são afetados); 
(3) o trauma cerebral e as lesões medulares 
ocorrem principalmente antes dos 30 anos, 
sendo o trauma cerebral responsável por mais 
de 5,3 milhões de comprometimentos e mais de 
50.000 óbitos; 
(4) a esclerose múltipla começa por volta 
dos 30 anos de idade. Finalmente, a dor é a 
principal queixa para a procura de atendimento 
médico em geral. A prevalência de dor crônica 
é alta e suas causas difíceis de tratar. 
A neurociência contribui também para 
o esclarecimento das doenças mentais. O 
National Institute of Mental Health - NIMH 
(2002) define doenças mentais como aquelas 
em que há alteração no pensamento, humor ou 
comportamento (isoladamente ou 
combinados), acarretando sofrimento e/ou 
prejuízo funcional. Dados daquela agência 
mostram que durante um período de um ano, 
22% da população americana adulta (44 
milhões de pessoas) têm alguma doença 
mental diagnosticável por critérios confiáveis; 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 17 
 
dentre essas pessoas, 3% associam o abuso 
de drogas à doença mental. 
A neurociência no Brasil está 
representada principalmente pela Sociedade 
Brasileira de Neurociências e Comportamento 
(SBNeC), que congrega a pesquisa básica da 
área. A produção neurocientífica está também 
presente nas Sociedades Brasileiras de 
Psicologia, de Farmacologia, de Fisiologia, de 
Bioquímica, e na Brazilian Research 
Association on Vision and Ophthalmology. Na 
área clínica, a neurociência brasileira é 
apresentada nas Sociedades Brasileiras de 
Neurologia, de Psiquiatria e de Neuropsicologia 
(VENTURA, 2010). 
ASBNeC, originalmente Sociedade 
Brasileira de Psicobiologia, tem 34 anos de 
existência. Foi fundada por Elisaldo Carlini, que 
reuniu um grupo de psicólogos, 
psicofarmacólogos, neurofisiologistas, 
psiquiatras e outros especialistas. A ata de 
fundação gerada nessa reunião histórica 
mostra a argumentação desses pesquisadores 
na época, muito interessados em promover a 
integração entre psicologia e neurociência. 
Esse grupo decidiu pela fundação da nova 
sociedade a partir da Sociedade 
Latinoamericana de Psicobiologia, cujo 
sucesso tinha sido comprometido pelas 
dificuldades políticas dos países da região na 
década de 1970. O nome Sociedade Brasileira 
de Psicobiologia perdurou até os anos 1990, 
quando, para evitar a criação de uma segunda 
sociedade na mesma área, dedicada à 
neuroquímica, decidiu-se mudar o nome da 
entidade para Sociedade Brasileira de 
Neurociências e Comportamento. 
A manutenção da palavra 
comportamento como parte do nome tem 
grande relevância para a área de Psicologia, 
pois constitui a forma de integrar os psicólogos 
experimentais na sociedade, valorizando o 
enfoque no estudo do comportamento. 
Essa ênfase espelha a motivação 
original do grupo fundador de integrar 
psicólogos, estudiosos do comportamento, 
com os demais ramos da fisiologia, 
farmacologia, morfologia, e outras áreas de 
estudo do sistema nervoso (VENTURA, 2010). 
Tokuhama-Espinosa (2008 apud 
ZARO ET AL, 2010) localiza o início das 
preocupações da Neuroeducação nos anos 
1970, com duas referências principais: Show e 
Stewart (1972) e Gardner (1974), sendo este 
último autor bastante conhecido no Brasil, 
através de sua teoria das inteligências 
múltiplas. 
Ambos os autores, diz, já naquele 
momento estabeleceram diversos princípios-
chave em neuroeducação, incluindo a 
compreensão de que não existem dois 
cérebros idênticos, devido tanto à natureza 
(questões congênitas) quanto à criação 
(experiência). Em 2007, Howard Gardner 
apontou diretamente para a falta de um elo, 
visivelmente necessário, entre a neurologia, a 
psicologia e a educação, para formar o que 
seriam “neuro-educadores” (ZARO, 2010) 
Do ponto de vista psicológico, o 
objetivo principal da Neuroeducação seria 
explicar os comportamentos da aprendizagem, 
ressaltando que os neurologistas se ocupam 
disto através do cérebro, enquanto os 
psicólogos se debruçam sobre a mente, o que, 
certamente, para qualquer um que se 
mantenha em uma razoável distância crítica do 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 18 
 
tema, aponta para questões complementares e 
não antagônicas. 
Uma destas questões seria, por 
exemplo, buscar explicações sobre o papel das 
emoções no aprendizado, nos processos de 
tomada de decisão e nas várias possibilidades 
de motivação dos alunos para o aprendizado. 
Já para os educadores, estas informações 
seriam usadas para melhorar suas práticas em 
sala de aula. Poderiam, por exemplo, 
aproveitar o conhecimento já consolidado 
sobre as mudanças neuronais que ocorrem no 
cérebro, durante o aprendizado (área de 
pesquisa das Neurociências), e as técnicas e 
métodos de observação e documentação dos 
comportamentos observáveis (área de 
pesquisa da Psicologia), para fundamentar de 
forma consistente e verificável a eficiência de 
tais práticas (ZARO ET AL, 2010). 
Possivelmente, cabe às três 
categorias de profissionais – e a outras 
categorias hoje integradas às equipes 
educacionais como, por exemplo, os 
produtores de mídias, os designers, os 
cientistas da informação e os produtores de 
tecnologias educacionais – identificar as 
possibilidades de pesquisa e, principalmente, 
os padrões e metodologias de pesquisa que 
poderiam dar conta desta integração. 
Hardiman e Denckla (2009 apud 
ZARO, 2010) definem a Neuroeducação como 
um novo campo do conhecimento que integra 
“neurocientistas que estudam a aprendizagem 
e educadores que pretendem fazer uso de 
pesquisas desta natureza”. Comentam que, 
embora esta integração pareça óbvia, nem 
sempre foi ou será fácil e direta, uma vez que 
os campos profissionais estruturam linguagens 
e abordagens diferenciadas, definindo seus 
respectivos métodos de produção e validação 
do conhecimento. Talvez por isso recomendam 
que ambos os grupos se dediquem à busca de 
um método comum para traduzir resultados da 
pesquisa científica, através de um caminho 
cujo sentido inicia nos laboratórios dos 
neurocientistas cognitivos e segue para o 
planejamento de estratégias pedagógicas 
aplicáveis. 
Sugere-se que o mesmo caminho 
continue em direção à produção e ao uso de 
tecnologias educacionais, como vídeos, 
multimídia, games e outros produtos 
educacionais, refletindo sobre a possibilidade 
de desenvolver e aplicar estes recursos de 
forma a que possam, comprovadamente, dar 
suporte a alguma das variáveis dinâmicas que 
compõem a cognição humana, identificando 
essas variáveis observáveis e seus processos 
de inter-relação. 
Tokuhama-Espinosa (2008 apud 
ZARO, 2010) também concorda que os 
pesquisadores que quiserem integrar-se à área 
multidisciplinar da Neuroeducação precisam 
realizar um exercício de flexibilidade das suas 
próprias formas de pensar, agir e definir 
prioridades, uma vez que, como todas as áreas 
de interface de vários tipos de conhecimento, é 
preciso perceber as abordagens e integrá-las 
de forma equilibrada, sem que uma se imponha 
sobre as demais. Daí a importância de seu 
trabalho, que tratou de delimitar o que seriam 
alguns dos temas comuns às áreas, como 
conhecimento já estruturado ou como 
instrumento ou metodologia de pesquisa. A 
seguir, resumem-se alguns desses temas, 
tratados pela pesquisadora como tópicos 
básicos ou princípios. 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 19 
 
Entre os tópicos citados por 
Tokuhama-Espinosa (2008 apud ZARO, 2010), 
a partir de sua pesquisa na bibliografia já 
existente, que delimitam possíveis abordagens 
para pesquisa em Neuroeducação, estão as 
várias técnicas de captação de informações 
neuronais, por sinais elétricos ou imageamento 
cerebral como instrumento de observação de 
aprendizagem, a neurogênese e plasticidade; 
as teorias da consciência e da inteligência, a 
neuroética; as diferenças de aprendizado; e as 
relações corpo-mente (sono e exercícios 
físicos, entre outros itens a esse respeito). 
Enumera ainda o que seriam 14 princípios 
básicos, a serem usados como 
fio condutor da Neuroeducação, em torno dos 
quais se articulariam premissas das três áreas 
estruturadoras (neurociências, psicologia e 
educação, segundo a autora), não 
necessariamente em ordem hierárquica de 
relevância: 
a) estudantes aprendem 
melhor quando são altamente 
motivados do que 
quando não têm motivação; 
b) stress impacta 
aprendizado; 
 
c) ansiedade bloqueia 
oportunidades de aprendizado; 
 
d) estados depressivos 
podem impedir aprendizado; 
 
e) o tom de voz de outras 
pessoas é rapidamente julgado no 
cérebro 
como ameaçador ou não ameaçador; 
f) as faces das pessoas 
são julgadas quase que 
instantaneamente (i.e., 
intenções boas ou más); 
g) feedback é importante 
para o aprendizado; 
 
h) emoções têm papel-
chave no aprendizado; 
 
i) movimento pode 
potencializar o aprendizado; 
 
j) humor pode 
potencializar as oportunidades de 
aprendizado; 
 
k) nutrição impacta o 
aprendizado; 
 
l) sono impacta 
consolidação de memória; 
 
m) estilos de aprendizado 
(preferências cognitivas)são devidas 
à 
estrutura única do cérebro de cada indivíduo; 
n) diferenciação nas 
práticas de sala de aula são 
justificadas pelas diferentes 
inteligências dos alunos.” 
(TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008 
apud ZARO ET AL, 2010). 
Além desses princípios, que seriam 
relativos a cada aprendiz, individualmente, diz 
a pesquisadora, outros dizem respeito a 
qualquer um deles, podendo ser seguido em 
qualquer prática instrucional. São eles: 
a) cada cérebro é único e 
unicamente organizado; 
 
b) cérebros são especializados e 
não são igualmente bons em 
tudo; 
 
c) o cérebro é um sistema 
complexo, dinâmico e em 
modificação diária, 
pelas experiências; 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 20 
 
d) cérebros são considerados 
„plásticos‟ e continuam a se 
desenvolver ao 
longo de suas vidas; 
e) aprendizado é baseado em parte 
na habilidade do cérebro de se 
auto- 
corrigir e aprender pela experiência, através da 
análise de dados e auto-reflexão; 
f) a busca por sentido é inata na 
natureza humana; 
 
g) a busca por sentido ocorre 
através de „padronizações‟; 
 
h) aprendizado é baseado em parte 
na habilidade do cérebro de 
detectar 
padrões e fazer aproximações para aprender; 
i) emoções são críticas para 
detectar padrões; 
 
j) aprendizado é baseado em parte 
na capacidade do cérebro para 
criar; 
 
k) aprendizado é potencializado 
pelo desafio e inibido pela 
ameaça; 
 
l) o cérebro processa partes e todo 
simultaneamente (é um 
processador paralelo); 
m) cérebros são projetados para 
flutuações mais do que atenção 
constante; 
 
n) aprendizado envolve tanto 
atenção focada quanto 
percepção periférica; 
 
o) o cérebro é social e cresce na 
interação (tanto quanto na 
reflexão 
pessoal); 
p) aprendizado sempre envolve 
processos conscientes e 
inconscientes; 
 
q) aprendizado é desenvolvimental; 
 
r) aprendizado recruta a fisiologia 
completa (o corpo impacta o 
cérebro e o 
cérebro controla o corpo); 
s) diferentes sistemas de memória 
(curto prazo, de trabalho, longo 
prazo, 
emocional, espacial, de hábito) aprendem de 
formas diferentes; 
t) informação nova é arquivada em 
várias áreas do cérebro e pode 
ser 
evocada através de diferentes rotas de acesso; 
u) o cérebro recorda melhor quando 
os fatos e habilidades são 
integrados 
em contextos naturais; e, 
v) Memória + Atenção = 
Aprendizado (TOKUHAMA-
ESPINOSA, 2008 apud ZARO 
ET AL, 2010). 
 
Entre os achados finais da pesquisa 
de Tokuhama-Espinosa, estão alguns que 
justificam a relevância e urgência da 
consolidação da nova área de pesquisa, 
apontando para a necessidade do diálogo entre 
a ciência e sua aplicação, de maneira 
justificada e fundamentada em evidências 
observáveis: 
“[...] enquanto milhares de estudos 
foram devotados para explicar vários aspectos 
da neurociência (como animais, incluindo 
humanos, aprendem), apenas uns poucos 
estudos neurocientíficos tentaram explicar 
como os humanos deveriam ser ensinados, 
para maximizar o aprendizado. (...) das 
centenas de dissertações devotadas ao „ensino 
baseado no cérebro‟, ou „métodos 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 21 
 
neurocientíficos de aprendizado‟, nos últimos 
cinco anos, a maioria documentou a aplicação 
destas técnicas, ao invés de justificá-las.” 
(TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008, p. 117 apud 
ZARO ET al, 2010). 
Compreendendo um quadro de 
múltiplas necessidades, que estruturam a 
realidade da ecologia educacional 
contemporânea, sugere-se, então, que a área 
de pesquisa da Neuroeducação, não se limite a 
integrar o conhecimento de pedagogos, 
neurocientistas e psicólogos, mas de todas as 
demais áreas que constituem as chamadas 
Ciências Cognitivas, bem como com as áreas 
de conhecimento da Comunicação e das 
Ciências da Informação, todas elas imbricadas 
na ecologia tecnológico-cognitivo-
informacional-comunicacional de Internet, sala 
de aula, entretenimento e interação, 
aprendizado e aplicação, produção e recepção, 
entre tantas outras características tanto 
opostas como complementares que 
caracterizam a educação no Século XXI. 
Assim como não há retorno possível do ser 
humano ao mundo do telégrafo sem fio, 
também não é plausível supor que os 
processos de ensino-aprendizagem voltem a 
depender apenas de uma boa teoria, ou de um 
bom quadro-negro, mesmo que estejam 
integrados a um bom fundamento 
neurocientífico. 
ANEXOS 
 
LINHA DO TEMPO EM NEUROCIÊNCIA 
 
Numa breve linha do tempo temos 
que: 
 
130.000 a.C. – 
Surge o Homo 
sapiens 
neanderthalensis 
30.000/35.000 
a.C. – surgimento 
do Homo sapiens 
sapiens 
7.000a 20.000 a.C. – são descobertos os 
crânios trepanados (ritual?curas?) 
 
1.700 a.C. - Egito – papiro Edwin Smith 
descrição clínica de 48 casos clínicos, aparece 
o termo encéfalo, meninges, liqüor e medula 
Pitágoras (580-510 a.C.) - encéfalo mente – 
coração alma e sensações 
 
Hipócrates (460-370 a.C.) - epilepsia distúrbio 
do encéfalo – sede da inteligência e sensações 
(tese cefalocentrista) 
Platão (427-347 a.C.) – problema corpo e 
alma - encéfalo (1) sede do processo mental 
(2) a alma tríplice: coração (alma afetiva), o 
cérebro (alma intelectual), e o ventre 
(concupiscência - apetite sexual) 
Aristóteles (384-322 a.C.) - (1) coração - centro 
das sensações, das paixões e da inteligência 
(tese cardiocentrista), (2) encéfalo (função 
refrigerar o corpo e a alma) 
Cláudio Galeno, (129-200 a.C.) – médico de 
gladiadores - encéfalo formado de duas partes: 
uma anterior, o (1) cerebrum (sensações e 
repositório da memória) (2) cerebellum 
(controle dos músculos) (2) nervos eram 
condutos - levavam os líquidos vitais ou 
humores. 4 líquidos essenciais (sangue, 
fleuma, bile amarela e bile negra) que, quando 
em equilíbrio e harmonia(eucrasia) 
asseguravam a saúde do indivíduo, enquanto a 
doença era devida ao seu desequilíbrio e 
desarmonia(discrasia). Tese dos 4 humores: 
indivíduo otimista, falante, irresponsável (tipo 
sanguíneo); calmo, sereno, lento, impassível 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 22 
 
(tipo fleumático); explosivo, ambicioso (tipo 
colérico); introspectivo, pessimista (tipo 
melancólico). 
Período Medieval – corpo era desprezível e a 
alma mais importante 
 
Leonardo da Vinci (1452-1519) e Andreas 
Vesalius (1514-1564) – anatomia através de 
desenhos e a obra De humani corporis fabrica 
libri septem 
René Descartes (1596-1650) - “je pense, donc 
je suis” definiu a alma como substância 
consciente ou pensamento. A alma era 
diferente do corpo por possuir uma natureza 
indivisível enquanto o corpo era sempre 
divisível reestabeleceu a ontologia dualista de 
que alma e corpo eram constituídos por 
diferentes substâncias. Definiu a localização da 
alma na glândula pineal. 
Sigmund Freud (1895) - estudos funcionais do 
inconsciente. Entende que os processos físicos 
não poderiam ocorrer na ausência dos 
processos fisiológicos, mas que os físicos 
precediam ao fisiológico. 
Thorndike, Watson e Skinner (....) 
associacionismo, funcionalismo, behaviorismo 
comportamentalismo - estudos do 
comportamento Gestalt (...) a relação funcional 
entre neurônios decorre da ativação conjunta 
de uma estrutura difusa de célulasno córtex, 
constituindo um sistema fechado, capaz de 
manter-se integrado por um breve tempo. 
Franz Joseph Gall (1758-1828) Pai da 
Frenologia. Localização cerebral das funções 
cerebrais. Estudou a relação entre afasia e 
cérebro tornando-se assim um importante 
precursor da neuropsicologia. acreditava que o 
cérebro era na verdade um conjunto de órgãos 
separados, cada um dos quais controlava uma 
“faculdade” (aptidão) inata separada. 
Pierre Paul Broca (1824-1880) Suas ideias são 
baseadas em avaliações clínicas e estudos 
anatômicos no estudo de dois pacientes e suas 
posteriores autópsias. Mostrou a relação entre 
lobo frontal esquerdo e a linguagem. Suas 
conclusões são consideradas, atualmente o 
marco inicial da neuropsicologia (afasia 
motora). 
Carl Wernicke (1848-1905) descrevia a relação 
causal entre a lesão no primeiro giro temporal 
esquerdo e uma das formas clínicas da afasia, 
a afasia sensorial (afasia sensorial) e postulou 
sobre a afasia de condução. 
John M. Harlow (1848-1849) Relata o caso de 
Phineas Gage, um paciente com alterações 
comportamentais decorrentes de lesão frontal. 
 
Lev S. Vygotsky (1896-1934) procurou uma 
alternativa às posições localizacionistas e 
globalistas Vygotsky considerou as funções 
corticais superiores em três princípios centrais: 
a) relacionamentos interfuncionais, plásticos e 
modificáveis; b) sistemas funcionais dinâmicos 
como resultantes da integração de funções 
elementares; e, c) a reflexão da realidade 
sobre a mente humana. 
Alexander Romanovich Luria (1902-1977) 
concebia uma ciência que mantinha, ao mesmo 
tempo, consonância com a fisiologia e a 
neurologia, sem depender integralmente 
destas (Cole,1992) e, mais importante, sem 
nunca perder de vista a perspectiva humanista 
na compreensão e entendimento das 
condições clínicas estudadas (Luria, 1992). 
Outra grande contribuição de Luria refere-se às 
inovações metodológicas propostas no exame 
clínico: técnicas aparentemente simples, mas 
orientadas pela sua visão das funções corticais 
superiores, ou seja, Luria propõe um modelo 
 
INTRODUÇÃO ÀS NEUROCIÊNCIAS E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 23 
 
teórico que dirige o trabalho neuropsicológico. 
“desde uma perspectiva da localização 
sistemática das funções, consideramos os 
processos corticais superiores como sistemas 
funcionais complexos dinamicamente 
localizados”. 
Camillo Golgi (1843/4-1926) e do histologista 
espanhol Santiago Ramón y Cajal (1852-1934) 
descreveram a estrutura das células nervosas. 
Wilder Penfiled (1940) usando métodos de 
estimulação elétrica estudou e mapeou as 
funções motoras, sensoriais e da linguagem no 
córtex humano de pacientes submetidos à 
neurocirurgia. 
Charles Scott Sherrington (1857-1952) propôs 
os termos “sinapse”, definido como o local de 
contato entre dois neurônios, e “transmissão 
sináptica”, definida como a passagem de 
informações por meio da sinapse. 
 
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