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Rio 24 de outubro de 2011 - Julian Chediak

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Rio, 24 de outubro de 2011
Direito Societário I 
Acionista (continuação)
No artigo 109 não há nenhuma referência ao direito de voto, já que é possível ter ações preferenciais sem direito a voto e, sendo assim, não se trata de direito essencial do acionista. Mas o direito a voto deve ser regulado pela lei? Sim, o exercício do direito de voto é uma das questões mais interessantes no âmbito do direito societário. 
A lei indica, em seu artigo 110, que a cada ação ordinária corresponde um voto na Assembléia Geral. Existem também casos de Companhias em que ocorre restrição de direito de voto a partir da detenção de certo percentual no capital social (como é indicado no parágrafo 1º - isso deve estar contido no Estatuto da Companhia) – porém, em geral, o número de ações corresponde ao número de votos. O voto plural (conferir mais de um voto a uma única ação) não é permitido no nosso ordenamento jurídico. O artigo 111 fala sobre as ações preferenciais. O artigo 112 fala de uma espécie que não mais existe. É assim que a lei trata do direito de voto sob o ponto de vista formal. 
O acionista pode exercer o direito de voto como quiser? O artigo 115 da lei indica que o acionista deve exercer o direito de voto no interesse da Companhia. Mas o que seria o interesse da Companhia? Existem casos, por exemplo, em que um acionista tem maior participação em outra Companhia do mesmo ramo – e, assim, pode votar para prejudicar a Companhia (o que seria nulo). Mas e caso o acionista só tenha ações em uma Companhia? O parágrafo único do artigo 116 fala que o acionista controlador deve usar o poder para fazer a Companhia realizar seu objeto e levando em consideração o interesse de outros atores. 
Mas não é isso que o artigo 115 fala – ele fala apenas da vontade da Companhia, que surge, segundo alguns, da manifestação dos órgãos deliberativos. Essa é a grande divergência entre os contratualistas e os institucionalistas. Segundo Chediak, os interesses dos administradores não se sobrepõem aos interesses dos acionistas. O interesse da Companhia seria o interesse dos acionistas como um todo. O interesse dos acionistas em geral é o limite para o meu voto – um acionista não pode votar de forma a prejudicar todos os outros. Essa é a posição contratualista, defendida por Ascarelli. Assim, quanto maior o lucro da Companhia, melhor para ela – esse é real interesse da Companhia.
Já segundo os institucionalistas (contrária a idéia de Chediak), corrente esta que merece respeito devido à sua grande influência no direito societário, surgiu de forma derivada da lei, por um comercialista chamado Rathenau. É uma teoria que surgiu no bojo do nazismo e que indica que a empresa tem um interesse em si própria, que é um interesse diverso do interesse dos acionistas. Os administradores ou o judiciário (nem todos os institucionalistas defendem esse poder do judiciário) poderiam indicar que interesse é esse – logo, é uma teoria completamente dirigista. 
Como exemplo dessa divergência, pode-se citar o segundo caso: tem-se uma sociedade anônima com 5 mil empregados, porém nem tantos empregados se fazem necessários (sem eles a Companhia teria mais lucro), os administradores podem demitir mil empregados sob ordem da Assembléia Geral? Isso causa divergência na doutrina, de modo que muitas vezes o parágrafo único do artigo 116 é utilizado por parte da doutrina para indicar que fazer isso seria errado por ir contra os interesses dos trabalhadores e da sociedade. Porém, para Chediak essa demissão pode ocorrer a qualquer momento, desde que deliberada pelos administradores ou, em caso de limitação das ações dos administradores, pelos acionistas. A economia tem um grande nível de complexidade, de modo que ninguém sabe qual a lucratividade ideal, na qual não se pode demitir empregados (esse é o principal argumento contra o dirigismo). 
Mas então o parágrafo único do artigo 116 não serve para nada? Ele teria apenas um conteúdo programático sem aplicação? Não, concordando ou não com a lei, devemos sempre procurar aplicá-la. A interpretação que é possível ter é a seguinte: o comando do parágrafo único é negativo, e não positivo. O que ele de fato indica é que o acionista, em primeiro lugar, deve respeitar a lei (assim, os direitos trabalhistas dos empregados demitidos são sempre devidos e a legislação ambiental não pode ser descumprida para gerar lucro) e, em segundo lugar, deve respeitar a função social (conforme o parágrafo único do artigo 116). E, nesse caso, é um comando negativo. Ou seja, no caso de duas opções igualmente rentáveis, porém uma das opções é mais favorável para a sociedade, pela função social deve-se escolher aquela que é mais favorável. Essa seria uma aplicação muito reduzida da teoria institucionalistas.

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