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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Monossacarídeos ....................................................... 3 3. Oligossacarídeos ........................................................ 8 4. Polissacarídeos ........................................................... 9 5. Catabolismo de carboidratos ..............................13 6. Anabolismo de carboidratos ...............................28 Referências bibliográficas ........................................37 3CARBOIDRATOS 1. INTRODUÇÃO Os carboidratos e seus derivados, também chamados de glicídios, açú- cares ou hidratos de carbonos, são as moléculas orgânicas mais abundan- tes na Terra e possuem uma grande variedade de funções de teor energé- tica, informativo e estrutural. Carboidratos são poli-hidroxialdeídos (várias hidroxilas e uma carbonila al- deídica) ou poli-hidroxicetonas (vá- rias hidroxilas e uma carbonila cetôni- ca), ou substâncias que geram esses compostos quando hidrolisadas. A fórmula empírica para a maioria dos carboidratos mais simples é (CH2O) n, sendo n>3; alguns também con- têm nitrogênio, fósforo ou enxofre. Podem ser classificados em quatro grupos: • Monossacarídeos • Dissacarídeos • Oligossacarídeos • Polissacarídeos 2. MONOSSACARÍDEOS Os monossacarídeos, ou açúcares simples, constituem o tipo mais sim- ples de carboidratos, sendo chama- dos de aldoses ou cetoses, segundo o grupo funcional que apresentam, aldeído ou cetona. São glicídios sim- ples, não ramificados, não hidrolisá- veis, hidrossolúveis e constituídos apenas por ligações simples entre carbonos. De acordo com seu núme- ro de átomos de carbono, podem ser designados: • Trioses • Tetroses • Pentoses Reserva energética Composição dos ácidos nucleicos Componentes estruturais de muitos organismos Proteção Sinais de localização celular Lubrificação de juntas esqueléticas Adesão intercelular Funções dos carboidratos 4CARBOIDRATOS • Hexoses • Heptoses Os monossacarídeos mais simples são as duas trioses: o gliceraldeído, uma aldotriose, e a diidroxiaceto- na, uma cetotriose. O gliceraldeído apresenta um carbono (C2) assimé- trico, dando origem a dois isômeros: D e L. Os outros monossacarídeos são teoricamente derivados destas trioses; os que são biologicamen- te importantes apresentam, sempre, configuração D. Figura 1. Estrutura das trioses Geralmente, uma molécula com n cen- tros quirais pode ter 2n enantiômeros e estes podem ser divididos em dois grupos de acordo com a configura- ção do centro quiral mais distante do grupo carbonil da molécula. Aqueles nos quais a configuração do carbono de referência é a mesma do D-glice- raldeído são designados isômeros D, e aqueles com a mesma configura- ção do L-gliceraldeído são isômeros L. Desse modo, em uma projeção na qual o carbonil se encontra no topo, se a hidroxila do carbono de referên- cia estiver à direita, é o isômero D, quando à esquerda, é o isômero L. A designação D ou L está associada às propriedades físicas e químicas, mas não determinam a atividade ótica A aldo-hexose D-glicose e a ceto-he- xose D-frutose são os monossacarí- deos mais comuns na natureza. As aldopentoses D-ribose e 2-desóxi- -D-ribose são componentes dos nu- cleotídeos e dos ácidos nucleicos. Isomeria Todos os monossacarídeos (exceto as cetotrioses), contêm um ou mais carbonos quirais e, portanto, ocor- rem formas isoméricas opticamente ativas, os enantiômeros. No caso do gliceraldeído, que contém um centro quiral, apresenta dois enantiômeros, um designado isômero D, e o outro é isômero L. D-gliceraldeído Aldose L-gliceraldeído Aldose Di-hidroxiacetona Cetose 5CARBOIDRATOS dos compostos. Quando um feixe de luz plano – polarizada passa através de uma solução de um isômero ótico, ele poderá sofrer um desvio para a di- reita. Neste caso dizemos que a mo- lécula é dextrógira e atribuímos o si- nal (+). Quando o desvio apresentado é para o lado esquerdo dizemos que a substância é levógira e atribuímos o sinal (-). Assim, a partir da fórmula estrutural da molécula podemos dizer se o isômero é da série D ou da série L. No entanto, para sabermos se um composto é levógiro ou dextrógiro ne- cessitamos de um dado experimental. SE LIGA! Dois açúcares que diferem apenas na configuração da hidroxila de um carbono são chamados de epíme- ros; D-glicose e D-manose, que dife- rem apenas na estequiometria do C2, são epímeros, assim como D-glicose e D-galactose. Figura 2. Epímeros. Fonte: POIAN, Andrea da; FOGUEL, Debora; PETRETSKI, Marílvia Dansa; MACHADO, Olga Tava- res. Bioquímica I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 3 v. Ciclização Em soluções aquosas, os monossa- carídeos com mais de quatro átomos tendem a formar estruturas cíclicas. O anel é formado pela reação do grupo carbonila com uma hidroxila. Como a molécula dos monossacarídeos apre- senta várias hidroxilas, os “dobramen- tos” da cadeia linear fazem com que a reação de formação do anel ocorra a partir da hidroxila espacialmente mais próxima do grupo carbonila. As estruturas cíclicas mais estáveis são as furanoses e as piranoses, no- mes dados pela semelhança com os ésteres cíclicos com 5 e 6 carbonos, furano e pirano. D-manose (epímera em C₂) D-glicose D-galactose (epímera em C₂) 6CARBOIDRATOS Figura 3. Piranoses e furanoses. Fonte: POIAN, Andrea da; FOGUEL, Debora; PETRETSKI, Marílvia Dansa; MACHA- DO, Olga Tavares. Bioquímica I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 3 v. Os anômeros podem ser classifica- dos em α e ẞ, que diferem quanto a posição da hidroxila do carbono ano- mérico. O isômero que possui a hidro- xila voltada para baixo do plano é o isômero α e aquele possui a hidroxila voltada para cima é o isômero ẞ. Os anômeros de um glicídio em solução estão em equilíbrio um com o outro (e com a sua forma aberta, apesar de aparecer em pequena proporção) e podem ser espontaneamente inter- convertidos (um processo denomina- do mutarrotação). SE LIGA! Mais de 99% da molécula de glicose, quando em solução, encontra- -se na forma de piranose. A estrutura cíclica de uma aldose é um hemiacetal, uma vez que é forma- da pela combinação de um aldeído e uma hidroxila e a estrutura cíclica de uma cetose é um hemicetal, uma vez que é formada pela combinação de uma cetona e uma hidroxila. Quan- do a estrutura cíclica é estabelecida, surge um novo carbono assimétrico e, assim, mais um par de isômeros pode ocorrer. Esse átomo de carbono é de- nominado anomérico. α-D-Glicopiranose β-D-Glicopiranose Pirano α-D-Frutofuranose β-D-Frutofuranose Furano 7CARBOIDRATOS Figura 4. Formação das duas formas cíclicas da D-Glicose. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v SAIBA MAIS! Ação redutora – Se o átomo de oxigênio do carbono anomérico (o grupo carbonila) de um glicídio não está ligado a qualquer outra estrutura, esse é um glicídio redutor. Ele pode reagir com reagentes químicos e reduzir o componente reativo, enquanto seu carbono anomérico torna – se oxidado. α-D-Glicopiranose β-D-Glicopiranose D-Glicose 8CARBOIDRATOS 3. OLIGOSSACARÍDEOS São carboidratos constituídos por um pequeno número de moléculas de monossacarídeos unidas por li- gações glicosídicas. Entre os oligos- sacarídeos, os mais comuns são os dissacarídeos. Dissacarídeos Consistem em dois monossacaríde- os unidos covalentemente por uma ligação glicosídica, na qual um grupo hidroxila de uma molécula de açú- car, normalmente cíclica, reage com a hidroxila do carbono anomérico de outro açúcar, havendo a liberação de uma molécula de água. Figura 5. Formação da maltose. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v As ligações glicosídicas podem ser designadas de acordo com a posição do grupo hidroxila no carbono anomé- rico do glicídio envolvido na ligação.Se esse grupo hidroxila está na con- figuração α, a ligação é uma ligação α. Se o grupo estiver na configuração ẞ, a ligação é uma ligação ẞ. A lactose, por exemplo, é sintetizada pela for- mação de uma ligação glicosídica en- tre o carbono 1 de uma ẞ - galactose e o carbono 4 da glicose. A ligação é, α-D-Glicose β-D-Glicose Maltose α-D-glicopiranosil-(1→4)-D-glicopiranose Hidrólise Condensação Hemiacetal Hemiacetal Álcool Acetal 9CARBOIDRATOS dessa forma, uma ligação glicosídica ẞ (1 4) Lactose (forma β) β-D-galactopiranosil-(1→4)-β-D-glicopiranose Gal(β1 →4)Glc Figura 6. Molécula da lactose. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Leh- ninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Dentre os principais dissacarídeos encontram-se: • Sacarose: Formada pela união en- tre α-D-glicose e por ẞ-D-frutose. É o glicídio nacionalmente denomi- nado de açúcar e está presente em grandes quantidades na cana de açúcar e na beterraba. A hidrólise desse dissacarídeo é possível pela ação da enzima sacarase. • Maltose: Normalmente resultan- tes de hidrólise do amido. • Lactose: Predominante no leite, formada pela união entre a galac- tose e a glicose. 4. POLISSACARÍDEOS São polímeros constituídos de cen- tenas ou milhares de resíduos de monossacarídeos, geralmente glico- se, formando cadeias lineares, como na celulose, ou cadeias ramificadas, como no glicogênio e no amido. Tam- bém chamados de glicanos, os polis- sacarídeos diferem uns dos outros na identidade das unidades de monos- sacarídeos repetidas, no comprimen- to das cadeias, nos tipos de ligação unindo as unidades e no grau de ra- mificação. De acordo com a identida- de das unidades, temos a seguinte classificação: • Homopolissacarídeos: Contêm uma única espécie monomérica em toda a molécula. Ex.: amido, glico- gênio, celulose, insulina e quitina. • Heteropolissacarídeos: Contêm dois ou mais tipos diferentes de monossacarídeos. Ex.: glicosami- noglicanos, ácido hialurônico. Homopolissacarídeos Heteropolissacarídeos Não ramificado Ramificado Dois tipos de monômeros, não ramificados Múltiplos tipos de monômeros, ramificados Figura 7. Homo e heteropolissacarídeos. Fonte: NEL- SON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquími- ca de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Dentre os principais polissacarídeos encontrados na natureza, temos: 10CARBOIDRATOS • Amido: É um polímero de α-D- -glicose, que funciona como re- serva energética pelas plantas e por alguns animais como fonte de alimento. Unidades de D-glicose ligadas por ligações (α1→4) Figura 8. Estrutura do amido. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Leh- ninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v • Glicogênio: É um polímero de su- bunidades de glicose, assim como o amido, porém é mais ramifica- do e mais compacto. Constitui o principal polissacarídeo de arma- zenamento das células animais, encontrado no retículo endoplas- mático liso das células hepáticas e musculares. O glicogênio he- pático é uma peça importante no processo de regulação da glicemia e o muscular, é a grande fonte de energia para o movimento. • Celulose: Caracterizado como um homopolissacarídeo linear e não ramificado, constituído por 10.000 a 15.000 unidades de D-glicose. É uma substância fibrosa, flexível e insolúvel em água, encontrada na parede celular das plantas, parti- cularmente no caule, no tronco e em toda a porção de madeira da planta. A natureza rígida e fibrosa da celulose a torna útil para pro- dutos comerciais como papelão e material para isolamento, e ela é um dos principais componentes dos tecidos de algodão e linho. A celulose é também a matéria-pri- ma para a produção comercial de celofane e seda artificial. Unidades de D-glicose ligadas por ligações (β1→4) Figura 9. Estrutura da celulose. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Leh- ninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v 11CARBOIDRATOS SE LIGA! A maior parte dos animais não possui a enzima ẞ-amilase, logo, não apresentam a capacidade de hidrolisa- rem a celulose para fins alimentícios. Os ruminantes, que utilizam celulose como fonte alimentícia, têm esta capacidade, pois possuem bactérias, em uma parte do seu sistema digestivo, no rumem, que produzem a enzima ẞ-amilase. Esta en- zima cliva a celulose para que ela possa ser utilizada pelo ruminante. • Quitina: É uma substância de sustentação para alguns animais, sendo o principal componente dos exoesqueletos duros de aproxima- damente 1 milhão de espécies de artrópodes. É um polímero linear, com ligações ẞ entre as unidades de N-acetil glicosamina. A única diferença química em comparação com a celulose é a substituição de um grupo de hidroxila em C-2 por um grupo de amina acetilado. POLÍMERO TIPO UNIDADE REPETIDA TAMANHO FUNÇÃO Amido Homo Glicose 50 a 50000 Fonte de energia para as plantas Glicogênio Homo Glicose Mais de 50000 Fonte de energia em bactérias e animais Celulose Homo Glicose Mais de 15000 Estrutural em plantas; rigidez e força para a parede celular Quitina Homo N-acetil-glicosa- mina Muito longa Estrutural em insetos, aranhas, crustáceos; dá rigidez e força ao envelope celular Tabela 1. Características dos principais polissacarídeos. Fonte: POIAN, Andrea da; FOGUEL, Debora; PETRETSKI, Marílvia Dansa; MACHADO, Olga Tavares. Bioquímica I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 3 v. 12CARBOIDRATOS Podem ser classificados como Monossacarídeos Aldoses Cetoses Isômeros Epímeros Enantiômeros Podem ligar – se para formar quando contêm quando contêm quando apresentam quando quando são Grupamento aldeído Grupamento cetona A mesma fórmula química Diferem na configuração ao redor de um determinado átomo de carbono Imagens especulares um do outro Oligossacarídeos Polissacarídeos Dissacarídeos Por exemplo: Sacarose = glicose + frutose Lactose = galactose + glicose Maltose = glicose + glicose Podem ser Homo Lineares Hetero Ramificados Podem ciclizar, produzindo um Carbono anômero Ligado covalentemente a outra moléculaPode ser que contêm Grupo hidroxila reativo quando Não ligado a outra molécula O glicídio é classificado como Glicídio redutor Ligação glicosídica Fonte: CHAMPE, Pamela C.; HARVEY, Richard A.; FERRIER, Denise R.. Bioquímica Ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006 13CARBOIDRATOS 5. CATABOLISMO DE CARBOIDRATOS Princípios de bioenergética O metabolismo, a soma de todas as transformações químicas que ocor- rem em um organismo, é uma ativida- de celular altamente coordenada, em que muitos sistemas multienzimáti- cos (vias metabólicas) cooperam para desempenhar suas funções básicas: Obter energia química do ambiente, por captura de energia solar ou por degradação de nutrientes Converter moléculas de nutrientes em moléculas do próprio organismo Polimerizar precursores monoméri- cos em produtos poliméricos (ex.: aminoácidos proteínas) Sintetizar e degradar biomolé- culas requeridas em funções celulares especializadas O metabolismo pode ser dividido em estágios que refletem o grau de com- plexidade ou tamanho das moléculas geradas. No nível 1, temos as rea- ções químicas de con- versão de metabólitos poliméricos, em seus constituintes mono- méricos. No nível 2, es- ses monômeros são que- brados em intermediários simples. No nível 3, em organismos aeróbicos, a principal via e o ciclo de Krebs, onde os intermediários do ní- vel 2 são degradados completamen- te a CO2 e H2O. A informação necessária para especi- ficar cada reação vem da estrutura da enzima que catalisa aquela reação. 14CARBOIDRATOS Fonte: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 processos necessitam de energia, geralmente na forma de potencial de transferência do ATP e do poder redutor de transportadores de elé- trons e baseiam – se na redução de moléculas(ganho de elétrons). • Catabolismo: Processos relaciona- dos à degradação de substâncias complexas com concomitante gera- ção de energia. Parte dessa energia é conservada na forma de ATP e de transportadores de elétrons reduzi- dos; o restante é perdido como calor. Baseiam – se na oxidação de molé- culas (Perda de elétrons). ESQUEMA GERAL DOS TRÊS ESTÁGIOS DO METABOLISMO Açúcares simples (principalmente glicose) Carregadores de elétrons reduzidos e ATP Proteínas GordurasGlicídios Aminoácidos Ácidos graxos + glicerol Acetil-CoA Ciclo de ácido cítrico ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3 Piruvato Carregadores de elétrons reduzidos e ATP Carregadores de elétrons reduzidos e ATP 2CO₂ H₂O Qualquer participante de uma reação metabólica, seja ele substrato, inter- mediário ou produto, é chamado de metabólito, e as moléculas que não podem ser mais utilizadas pelo orga- nismo e, portanto, devem ser elimina- das são denominadas catabólitos. O metabolismo pode ainda ser dividi- do em duas principais categorias: • Anabolismo (ou biossíntese): Pro- cessos que envolvem primaria- mente a síntese de moléculas orgânicas complexas a partir de pre- cursores pequenos e simples. Esses 15CARBOIDRATOS REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DO CATABOLISMO E DO METABOLISMO Molécula carreadora ativada Metabólito reduzido ENERGIA Reação energeticamente favorável Metabólito oxidado Metabólito reduzido Metabólito oxidado NAD ou FAD NADHH ou FADH₂ NADP NADPH ENERGIA ENERGIA Reação energeticamente desfavorável CATABOLISMO ANABOLISMO Fonte: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 16CARBOIDRATOS No entanto, é importante considerar que muitos substratos das vias ana- bólicas são formados como interme- diários nos processos catabólicos e vice-versa. Algumas vias metabólicas são line- ares e algumas são ramificadas, ge- rando múltiplos produtos a partir de um único precursor (divergente) ou convertendo vários precursores em um único produto (convergente). Al- gumas vias são cíclicas: um compos- to inicial da via é regenerado em uma série de reações que converte outro componente inicial em um produto. No nosso organismo, existem molé- culas que auxiliam algumas enzimas nos processos de óxido-redução e, portanto, são denominadas coenzi- mas. São exemplos de coenzimas a nicotina adenina di-nucleotídeo (NAD) e a flavino-adenino dinucleotí- deo (FAD), moléculas especializadas no transporte de hidrogênio. Quando essas coenzimas estão associadas ao hidrogênio, encontram-se “reduzi- das” e quando perdem esses hidro- gênios, são ditas “oxidadas”. Glicose Quantitativamente, a glicose é o principal substrato oxidável para a maioria dos organismos. De fato, sua utilização como fonte energética pode ser considerada universal e, dos microrganismos ao homem, quase todas as células são potencialmen- te capazes de atender suas deman- das energéticas apenas a partir deste açúcar. Por meio do armazenamento da gli- cose na forma de polímero de alta massa molecular, como o amido e o glicogênio, a célula pode estocar grandes quantidades da glicose, en- quanto mantém a osmolaridade cito- sólica relativamente baixa. Quando a demanda de energia aumenta, a gli- cose pode ser liberada desses polí- meros e utilizada para produzir ATP de maneira aeróbia ou anaeróbia. Em animais e em vegetais, a glicose tem quatro destinos principais: (1) pode ser usada na síntese de polis- sacarídeos complexos direcionados ao espaço extracelular; (2) ser arma- zenada nas células; (3) ser oxidada a compostos de três átomos de carbo- nos por meio da glicólise para forne- cer ATP e intermediários metabólicas; ou (4) ser oxidada pela via das pento- ses-fosfato produzindo ribose-5-fos- fato para a síntese de ácidos nuclei- cos e NADPH. 17CARBOIDRATOS Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v SE LIGA! O nível sanguíneo da glicose é chamado de glicemia e é mantido den- tro de uma faixa estreita, graças a dife- rentes vias metabólicas de síntese de glicose (gliconeogênese) ou armazena- mento de glicose na forma de glicogênio (glicogenogênese), em contraposição a vias de oxidação de glicose (glicólise). Esse processo, que procura manter os níveis de glicose no sangue constantes, chama-se homeostase e é regulado por hormônios. AS PRINCIPAIS VIAS DE UTILIZAÇÃO DA GLICOSE GLICOSE Matriz extracelular e polissacarídeos da parede celular Piruvato Glicogênio, amido, sacaroseRibose-5-fosfato Síntese de polímeros estruturais Armazenamento Oxidação por glicólise Oxidação pela via da pentose- fosfato Para obterem ATP a partir de glico- se, todas as células utilizam a oxi- dação parcial a piruvato. Nas células anaeróbias, a degradação para neste ponto. A conversão da glicose a piru- vato permite aproveitar somente uma pequena parcela da energia, menos de 10%, mas que é suficiente para que as células anaeróbias possam suprir toda sua demanda energéti- ca. Nas células aeróbias, o piruvato é 18CARBOIDRATOS subsequentemente oxidado, trazen- do, naturalmente, um enorme ganho na produção de ATP. Glicólise Também chamada de via glicolítica, a glicólise ocorre no citosol e consiste na quebra de uma molécula de gli- cose, produzindo duas moléculas de três carbonos denominadas piruvato. É um processo oxidativo no qual duas moléculas de NAD+ são reduzidas a duas moléculas de NADH + H+. A glicólise ocorre em 10 etapas, sen- do que as 5 primeiras constituem a fase preparatória, na qual ocorre a conversão da molécula de glicose em duas de gliceraldeído-3-fosfato com gasto de duas moléculas de ATP. Já as 5 últimas etapas, constituem a fase oxidativa (ou de pagamento da glicólise), na qual as duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato são con- vertidas em piruvato com a formação de ATP. Fase preparatóra Fosforilação da glicose, na hidroxila do carbono 6, formando uma molé- cula de glicose-6-fosfato, com o gas- to de uma molécula de ATP (ATP ADP). Esta reação é catalisada pela enzima hexoquinase. SE LIGA! Nas células do parênquima hepático e nas ilhotas pancreáticas, tal reação é catalisada pela glicoquinase. Ao ser fosforilada, a glicose não pode mais sair da células, pois os mecanismos de transporte dessa molécula não servem para sua for- ma fosforilada. Isto mantém o nível de glicose, na célula, sempre baixo em relação à concentração extracelu- lar. Como o transporte de glicose de- pende da concentração, a tendência da glicose é sempre entrar na célula. 19CARBOIDRATOS Além disso, essa reação indica o ca- minho metabólico que a glicose vai seguir, haja vista que a fosforilação do carbono 6 funciona como uma “etiqueta”, demarcando que a glicose será degradada na via glicolítica. Conversão da glicose em frutose – É uma reação reversível do tipo iso- merização aldose-cetose e é catalisa- da por uma fosfo-hexoisomerase. Fosforilação da frutose-6-fosfato na hidroxila do carbono 1, forman- do uma molécula de frutose-1,6-bi- fosfato. É uma reação irreversível dependente da energia de ATP e é catalisada pela enzima fosfofrutoqui- nase-1 (PFK-1). A atividade dessa enzima é o ponto de regulação da ve- locidade da via glicolítica. Clivagem da frutose 1,6-bifosfa- to – Pela ação da enzima aldolase, a frutose 1,6-bifosfato é quebrada ge- rando duas moléculas isômeras, que possuem três carbonos: gliceraldeí- do-3-fosfato (G3P) e diidroxiaceto- na-3-fosfato (DHAP). 20CARBOIDRATOS Interconversão das trioses-fos- fato – Pela ação de uma triose- Até este momento, uma molécula de glicose (6C) foi parcialmente quebra- da em duas moléculas de gliceral- deído-3-fosfato (3C), mas não hou- ve síntese de ATP, apenas gasto de duas moléculas de ATP. Por este mo- tivo, essa é a fase preparatória ou de investimento. isomerase específica, a diidroxia- cetona-3-fosfato é convertida em gliceraldeído-3-fosfato.21CARBOIDRATOS Em seguida, veremos a recuperação do investimento inicial e a síntese de ATP por um conjunto de reações co- nhecido como etapa de pagamento, etapa oxidativa ou etapa de conver- são de energia ou simplesmente eta- pa de síntese de ATP. RESUMO DAS REAÇÕES DA FASE PREPARATÓRIA Glicose Glicose 6-fosfato Frutose 6-fosfato Frutose 1,6-bisfosfato Gliceraldeído3-fosfato + dihidroxicetona-fosfato 2 x Gliceraldeído-3P FONTE: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 22CARBOIDRATOS Fase de pagamento Oxidação e fosforilação do gliceral- deído-3-fosfato, formando uma mo- lécula de 1,3-bisfosfoglicerato, com ação da enzima gliceraldeído-3-fos- fato desidrogenase. Nessa etapa, a fosforilação ocorre por incorporação de uma molécula de fosfato inorgâni- co (Pi) à molécula de G3P, sem que haja consumo de qualquer molécula de ATP. Nesta reação, uma molécula de NAD+ é reduzida a NADH + H+. Transferência de um grupo fosfato do 1,3-bisfosfoglicerato – Na rea- ção anterior, parte da energia libera- da no processo oxidativo foi conser- vada na formação da molécula de 1,3-bisfosfoglicerato. Assim, a ener- gia conservada será utilizada na for- mação de uma molécula de ATP. Esta reação é catalisada pela enzima fos- foglicerato quinase. 23CARBOIDRATOS SE LIGA! Uma vez que duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato são formadas por molécula de glicose na etapa pre- paratória, duas moléculas de ATP são geradas nesse estágio. Este processo de formação de ATP é um exemplo de fosforilação em nível de substrato. Deslocamento do grupo fosfato do glicerato – Pela ação da fosfoglicera- to mutase, o 3PG será convertido em 2-fosfoglicerato. Desidratação do 2-fosfoglicera- to – Em uma reação catalisada pela enolase, ocorre a desidratação e re- distribuição da energia dentro da mo- lécula. A proximidade do grupamento funcional hidroxila com o íon fosfato favorece a formação do fosfoenolpi- ruvato (PEP), que é também conside- rado um composto de alta energia. Formação do piruvato – Fosforilação em nível do substrato com formação de ATP em uma reação catalisada pela piruvato quinase. 24CARBOIDRATOS Em resumo, nessa segunda fase, co- meçamos com duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato e formamos duas moléculas de piruvato, duas de NADH + H+ e quatro moléculas de ATP. Gliceraldeído3-fosfato 1,3-bisfosfoglicerato 3-fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato PIRUVATO 2-fosfoglicerato Oxidação e fosforilação 1ª reação de formação de ATP (fosforilação em nível do substrato) 2ª reação de formação de ATP (fosforilação em nível do substrato) FONTE: Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 RESUMO DAS REAÇÕES DA FASE DE PAGAMENTO 25CARBOIDRATOS SE LIGA! O rendimento energético da glicólise é de 2 ATP haja vista que foram gastas duas moléculas na primeira fase da via e quatro foram sintetizadas na se- gunda fase. Destinos do piruvato Com exceção de algumas variações entre as bactérias, o piruvato forma- do na glicólise pode ser metabolizado por três rotas catabólicas Em condições anaeróbicas, o NADH gerado pela glicólise não pode ser reoxidado pelo O2. A falha na rege- neração de NAD+ deixaria a célula carente de aceptor de elétrons para a oxidação de gliceraldeído-3-fosfato, e as reações geradoras de energia da glicólise cessariam. Portanto, NAD+ deve ser regenerado de outra forma. CONCEITO: O termo fermentação de- signa um processo que extrai energia (como ATP), mas não consome oxigênio nem varia as concentrações de NAD+ ou NADH. 1º Destino: Fermentação Lática Quando tecidos animais não podem ser supridos com oxigênio suficien- te para realização oxidação aeró- bia do piruvato e do NADH, como é o caso dos músculos esqueléticos muito ativos, ou em alguns micror- ganismos anaeróbicos, o NAD+ é re- generado pela redução do piruvato a lactato. Alguns tecidos e tipos celular como as hemácias produzem lactato a partir de glicose mesmo em con- dições aeróbias. A redução do piru- vato por essa via é catalisada pela lactato-desidrogenase. Figura 15. Reação de fermentação lática. Fonte: NEL- SON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquími- ca de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v O lactato formado pelo músculo es- quelético em atividade (ou pelas he- mácias) pode ser reciclado; ele é transportado pelo sangue até o fí- gado, onde é convertido em glicose durante a recuperação da atividade muscular exaustiva. Quando o lacta- to é produzido em grande quantidade durante a contração muscular vigoro- sa, a acidificação resultante da ioniza- ção do ácido láctico nos músculos e no sangue limite o período de ativida- de vigorosa. 2º Destino: Fermentação Alcoólica Leveduras e outros microrganismos fermentam glicose em etanol e CO2, em vez de lactato, em um proces- so de duas etapas. Primeiro, ocor- re a descarboxilação do piruvato em 26CARBOIDRATOS uma reação catalisada pela piruvato- -descarboxilase. Na segunda etapa, o acetaldeído formado é reduzido a etanol pela ação da álcool-desidroge- nase, com o poder redutor fornecido pelo NADH. Figura 16. Reação de fermentação alcoólica. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 SE LIGA! Na fabricação de pães, o CO2 liberado pela piruvato-descarboxilase, quando a levedura do fermento biológi- co é misturada com o açúcar, faz a mas- sa crescer. 3º Destino: Conversão em Acetil-CoA Em organismos aeróbios ou em teci- dos em condições aeróbias, a glicólise é apenas o primeiro estágio da degra- dação completa da glicose. O piruvato é oxidado com a perda de seu grupo carboxil na forma de CO2 para gerar o grupo acetil da acetil-coenzima A; o grupo acetil é então completamente oxidado a CO2 no ciclo do ácido cí- trico. Os elétrons gerados nesse ciclo são transferidos ao O2 por uma ca- deia transportadora de elétron na mi- tocôndria, formando H2O e liberan- do energia para a síntese de 32 a 36 moléculas de ATP. Nas células eucarióticas, o piruvato entra na mitocôndria, através de uma translocase específica, e é transfor- mado em acetil-CoA, através de uma descarboxilação oxidativa, de acordo com a reação: 27CARBOIDRATOS Figura 17. Reação geral catalisada pelo complexo do piruvato-desidrogenase. Fonte: NELSON, David L.; COX, Micha- el M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Destinos do piruvato Condições anaeróbicas Fermentação Alcoólica Conversão a Acetil-CoAFermentação Lática Ocorre em alguns microrganismos, em hemácias no tecido muscular de animais Catalisada pela lactato-desidrogenase Piruvato + NADH + H⁺ ↔ Lactato + NAD⁺ Condições anaeróbicas Realizada por organismos como leveduras e algumas bactérias Duas reações: uma descarboxilação do piruvato e a reoxidação do NADH Piruvato → Acetaldeído → Etanol Condições aeróbias Ocorre em organismos aeróbios ou em tecidos em condições aeróbias Faz parte da oxidação completa da glicose Piruvato + NAD⁺ + CoA → Acetil-CoA + NADH + H⁺ + CO2 28CARBOIDRATOS 6. ANABOLISMO DE CARBOIDRATOS A maioria dos tecidos animais é capaz de suprir suas necessidades energé- tica a partir da oxidação de vários ti- pos de compostos: açúcares, aminoá- cidos, ácidos graxos. No entanto, para o cérebro humano e o sistema nervo- so, assim como para as hemácias, os testículos, a medula renal e os tecidos embrionários, a glicose é a principal ou a única fonte de combustível. No entanto, o suprimento de glicose es- tocado na forma de glicogênio nos músculos e no fígado não é sempre suficiente; entre as refeições e duran- te períodos de jejum mais longos, ou após exercício vigoroso, o glicogênio se esgota. Para esses períodos, os or- ganismos precisam sintetizar glicose a partir de precursores que não são carboidratos. Isso é realizada por uma via chamada gliconeogênese.Gliconeogênese Esta via, processada principalmente no fígado (e em casos de jejum mui- to prolongado, ocorre participação do córtex renal), consiste na síntese de glicose a partir de compostos que não são carboidratos: aminoácidos, lactato e glicerol. Com exceção da lisina e leucina, todos os aminoácidos podem originar glico- se. Os aminoácidos são provenientes de degradação de proteínas endóge- nas, principalmente as musculares, durante o jejum. Ainda no músculo, são convertidos a alanina, a forma de transporte dessas moléculas para o fígado. Já o lactato origina-se nos músculos submetidos a contração intensa e de outras células que de- gradam glicose de forma anaeróbia, a fermentação lática. Então, o lactato produzido é liberado para a corrente sanguínea e transportado para o fí- gado onde é convertido em glicose. A glicose é então novamente liberada no sangue, para utilização pelo mús- culo como fonte de energia. Este é o chamado ciclo de Cori. Por fim, o gli- cerol é derivado da hidrólise de triacil- gliceróis do tecido adiposo durante o jejum e tem pouca importância quan- titativa na gliconeogênese. 29CARBOIDRATOS Lactato sanguíneo Músculo: ATP produzido pela glicólise para contração rápida Glicogênio Glicose ATP Lactato Lactato ATP Glicogênio Glicose Glicose sanguínea Fígado: ATP usado na síntese de glicose (gliconeogênese) durante a recuperação COOPERAÇÃO METABÓLICA ENTRE O MÚSCULO ESQUELÉTICO E O FÍGADO: O CICLO DE CORI 30CARBOIDRATOS RELAÇÃO ENTRE DIFERENTES ÓRGÃOS NA GLICONEOGÊNESE Fígado Cérebro Piruvato NH3 Ureia Ureia Glicose Glicose Lactato Alanina Glicose Lactato Glicogênio Aminoácidos Alanina Músculo (esforço intenso) Músculo ( jejum) Fonte: MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Baptista. Bioquí- mica Básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 31CARBOIDRATOS Conversão de piruvato a fosfoenolpiruvato (PEP) A reação catalisada pela piruvato qui- nase é substituída por duas reações. Na primeira reação, o piruvato é con- vertido em oxaloacetato, através da sua carboxilação, catalisada pela en- zima piruvato carboxilase. Na segun- da reação, o oxaloacetato é converti- do a fosfoenolpiruvato , por ação da enzima fosfoenolpiruvato carboxiqui- nase (PEPCK). É importante observar que o CO2 uti- lizado na formação do oxaloacetato é, em seguida, eliminado na formação de PEP. Isso aparenta um desperdí- cio, mas, na verdade, é uma forma de “ativação” do piruvato para que seja possível sua conversão em um com- posto de mais alta energia, o PEP. Essa ativação se dá à custa da hidróli- se de um ATP. A conversão do oxalo- acetato em PEP requer a hidrólise de um GTP, com incorporação do fosfato à molécula do PEP. A hidrólise de um GTP equivale à hidrólise de um ATP, uma vez que essas moléculas se in- terconvertem. Dessa forma, para que seja contornada a reação da piruvato quinase são gastas duas moléculas de ATP. A piruvato carboxilase é uma enzima de localização essencialmente mito- condrial, de modo que a formação do oxaloacetato ocorre dentro da mito- côndria. A localização da PEPCK varia de acordo com as diferentes espécies. A gliconeogênese e a glicólise não são vias idênticas ocorrendo em dire- ções opostas, embora compartilhem de várias etapas – sete das reações enzimáticas da gliconeogênese são o inverso das reações glicolíticas. No entanto, as outras três reações da gli- cólise são irreversíveis e não podem ser utilizadas na gliconeogênese: a fosforilação da glicose catalisada pela hexoquinase (1), a fosforilação da fru- tose-6-fosfato pela glicoquinase (3) e a conversão de fosfoenolpiruvato em piruvato pela piruvato quinase (10). Na gliconeogênese, essas três rea- ções são contornadas por um grupo distinto de enzimas, catalisando re- ações suficientemente exergônicas para serem efetivamente irreversíveis no sentido de síntese da glicose. A transformação de alanina e lacta- to inicia-se por sua conversão a pi- ruvato. A alanina originada piruvato por ação da alanina aminotransfera- se; o lactato é convertido a piruvato por ação da lactato desidrogenase. A transformação de glicose pela glico- neogênese processa-se no sentido oposto ao da glicólise, utilizando qua- se todas as sua enzimas, com exce- ção das que foram citadas anterior- mente. Então, vamos analisar como essas reações irreversíveis ocorrem na gliconeogênese. 32CARBOIDRATOS Em humanos, ela é igualmente distri- buída no citosol e na mitocôndria das células hepáticas. Quando a PEPCK é usada na mitocôndria, o oxaloaceta- to pode ser diretamente convertido a PEP dentro da mitocôndria e depois translocado para o citosol. Quando a PEPCK é usada no citosol, o oxalo- acetato deve ser, primeiramente, transportado para o citosol. O fosfoenolpiruvato produzido nesta etapa é transformado em frutose-1,- 6-bifosfato pelas enzimas que tam- bém compõem a glicólise, que, como catalisam reações reversíveis, podem operar no sentido inverso da via. Conversão de frutose-1,6- bifosfato a frutose-6-fosfato A reação irreversível catalisada pela fosfofrutoquinase é substituída por uma reação de hidrólise do grupo fos- fato do carbono 1, catalisada pela fru- tose – 1,6, - bifosfatase. Em seguida a frutose – 6 – fosfato pode ser iso- merizada a glicose – 6- fosfato pela fosfoglicoisomerase. Frutose 1,6-bifosfato + H2O -------> Frutose-6-fosfato + Pi Conversão de glicose-6-fosfato a glicose Para contornar a irreversibilidade da reação catalisada pela glicoquinase, esta reação é substituída por uma reação de hidrólise do grupo fosfato ligado ao carbono 6, catalisada pela glicose-6-fosfatase. Glicose-6-fosfato + H2O -------------> Glicose + Pi O produto da reação, a glicose, ao contrário da glicose fosforilada, pode atravessar livremente a membrana plasmática. A glicose-6-fosfatase é exclusiva do fígado e dos rins, e é gra- ças à sua presença que estes órgãos, principalmente o fígado, podem ex- portar glicose para corrigir a glicemia. Balanço energético da gliconeogêne- se: Para cada molécula de glicose for- mada a partir de duas moléculas de piruvato são necessários 6 ATP, utili- zados nas reações catalisadas por pi- ruvato carboxilase, fosfoenolpiruvato carboxiquinase (que, na verdade, usa GTP mas, para o balanço energético, pode ser computado como ATP) e fosfoglicerato quinase. A equação geral da gliconeogênese a partir de piruvato é: 2 piruvato + 6 ATP + 6 H2O + 2 NADH ----> Glicose + 6 ADP + 6 Pi + 2 NAD+ + 2H+ 33CARBOIDRATOS SE LIGA! O controle da gliconeogênese é realizado pelo glucagon, que estimula esse processo, e pela insulina, que atua de maneira oposta. Glicólise e glicone- ogênese não ocorrem ao mesmo tem- po. A gliconeogênese ocorre durante o jejum, é também estimulada durante exercício prolongado, por uma dieta al- tamente protéica, e sob condições de stress. Glicogênese (síntese de glicogênio) O corpo desenvolveu mecanismos para armazenar um suprimento de glicose em uma forma rapidamen- te mobilizável, o glicogênio. Após as refeições o fígado remove cerca de dois terços dos monossacarídeos ab- sorvidos e utiliza parte deles para re- compor sua reserva de glicogênio. Na ausência de uma fonte de glicose na alimentação, esse composto é rapida- mente liberado a partir do glicogênio hepático e renal. Da mesma forma, o glicogênio muscular é degradado em grande quantidade durante o exercí- cio, proporcionando uma importante fonte energética a esse tecido. Quan- do os estoques de glicogênio se es- gotam, determinados sintetizam gli- cose por meio da via gliconeogênica. O glicogênio é sintetizado a partir das moléculas de α-D-glicose. O proces- so ocorre no citosol e requer energia fornecida pelo ATP (para a fosforila- ção da glicose) e trifosfato de uridi- na (UTP). A síntese consiste na re- petida adição de resíduos de glicose às extremidades de um núcleo de glicogênio. O ponto de partida para a síntese do glicogênio é a glicose-6-fosfato. Estapode ser derivada da glicose li- vre em uma reação catalisada pela hexoquinase no músculo ou pela gli- coquinase no fígado. Então a glicose- -6-fosfato é convertida em glicose- -1-fosfato na reação catalisada pela fosfoglicomutase. D-Glicose + ATP D-Glicose- -6-fosfato + ADP Glicose-6-fosfato Glicose-1-fosfato SAIBA MAIS! Parte da glicose ingerida faz uma via mais indireta para o glicogênio. Ela é captada primeiro pelos eritrócitos e transformada glicoliticamente em lactato, que é captado pelo fígado e con- vertido em glicose-6-fosfato pela gliconeogênese. 34CARBOIDRATOS O produto desta reação reage com a UTP e é convertido em UDP-glico- se, o nucleotídeo ativo, pela ação da UDP-glicose-pirofosforilase, em uma etapa fundamental da biossíntese do glicogênio. UTP + Glicose-1-fosfato UDP- -Glicose + PPi Figura 19. Estrutura da UDP-glicose (Uridina difosfato glicose). Fonte: Bioquímica 2, v.2. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 A hidrólise subsequente do pirofos- fato inorgânico (PPi) pela pirofosfa- tase inorgânica desloca o equilíbrio da reação para a direita da equação, isto é, favorece a formação de UDP – glicose. A UDP-glicose é o doador imediato dos resíduos de glicose na reação ca- talisada pela glicogênio-sintase, que promove a transferência da glicose da UDP-glicose para uma extremi- dade não redutora de uma molécula ramificada de glicogênio. O equilíbrio total da via desde a glicose-6-fosfa- to até o glicogênio acrescido de uma unidade de glicose favorece muito a síntese do polímero. 35CARBOIDRATOS VIA DE SÍNTESE DE GLICOGÊNIO Glicose Glicose 6-fosfato ATP ADP Hexoquinase Glicose 1-fosfato Fosfoglicomutase UDP-glicose UTP PPi Glicose-1P uridiltransferase UDP (glicose)n (glicose)n+1 Glicogênio sintetase Fonte: Bioquímica 2, v.2. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 36CARBOIDRATOS SAIBA MAIS! Até recentemente, a fonte da primeira molécula de glicogênio que podia atuar como um pri- mer na sua síntese era desconhecida. Porém, foi descoberto uma proteína conhecida como glicogenina, localizada no centro da molécula de glicogênio, que apresenta uma propriedade incomum: a de catalisar sua própria glicosilação, fixando o carbono-1 da UDP-glicose a um resíduo de tirosina na proteína. A glicose fixada pode servir como um primer requerido pela glicose sintase, que estende a polimerização, enquanto a glicogenina desliga-se do polímero em crescimento. Esta enzima catalisa a transferência de parte da cadeia 1 4 (mínimo de seis resíduos de glicose) para uma cadeia adjacente, para formar uma li- gação 1 – 6, estabelecendo assim um ponto de ramificação na molécula. As ramificações crescem por novas adi- ções de unidades de glicose 1 4 e formam-se novas ramificações. Como aumenta o número de resíduos termi- nais não redutores, também aumento o número total de sítios reativos da molécula, acelerando tanto a glicogê- nese como a glicogenólise (quebra do glicogênio). Ramificação da cadeia de glicogênio A adição de um resíduo de glicose em uma cadeia de glicogênio pree- xistente, ou primer, ocorre na extre- midade não redutora da molécula, de modo que as ramificações da árvore de glicogênio tornam-se alongada pela formação de ligações de glicose α 1 4 sucessivas. Quando a cadeia for alongada em 11 resíduos de gli- cose, uma outra enzima, a enzima de ramificação, isto é, a amilo ( 1 4 ) a ( 1 6) transglicosilase, ou glicosil (4 6) – transferase entra em ação. Figura 21. Síntese da ramificação de glicogênio. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v 37CARBOIDRATOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 Bioquímica 2, v.2. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 Debora; PETRETSKI, Marílvia Dansa; MACHADO, Olga Tavares. Bioquímica I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2009. 3 v. CHAMPE, Pamela C.; HARVEY, Richard A.; FERRIER, Denise R.. Bioquímica Ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006 BAYNES, John W.; DOMINICZAK, Marek H.. Bioquímica Médica. 4. ed. Rio de Janeiro: Else- vier, 2015 MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Baptista. Bioquímica Básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. DALPAI, Débora; BARSCHAK, Alethéa Gatto. Bioquímica Médica para Iniciantes. Porto Ale- gre: Editora da Ufcspa, 2018. 133 p. 38CARBOIDRATOS
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