Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal do Piauí Centro de Educação Aberta e a Distância FUnDAmEntos DE bioqUímiCA Regina Célia de Assis Ayres Fran da Silva e Silva ministério da Educação - mEC Universidade Aberta do brasil - UAb Universidade Federal do Piauí - UFPi Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Regina Célia de Assis Ayres Fran da Silva e Silva Fundamentos de bioquímica © 2012. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Todos os direitos reservados. A responsabilidade pelo texto e imagens desta obra é do autor. O conteúdo desta obra foi licenciado, temporária e gratuita- mente, para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia desta obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanções previstas no Código Penal. É proibida a venda deste material. A488f Assis, Regina Célia de Fundamentos da Bioquímica. / Regina Célia de Assis e Ayres Fran Silva e Silva. Teresina: EDUFPI, 2012. 199 p. ISBN: 978-85-7463-580-4 1. Bioquímica. I. Silva, Ayres Fran Silva e. II. Título C D D 574,192 Zilda Vieira Chaves Roberto Denes Quaresma Rêgo Samuel Falcão Silva José Luís Silva Luan Matheus dos Santos Santana Elizabeth Carvalho Medeiros Gesiel dos Santos Sobrinho PRESIDENTE DA REPÚBLICA MINISTRO DA EDUCAÇÃO GOVERNADOR DO ESTADO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRESIDENTE DA CAPES COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA DA UFPI Dilma Vana Rousseff Linhares Aloizio Mercadante Wilson Nunes Martins José Arimatéia Dantas Lopes Jorge Almeida Guimarães João Carlos Teatini de S. Clímaco Gildásio Guedes Fernandes CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro ( Presidente ) Des. Tomaz Gomes Campelo Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Profª. Francisca Maria Soares Mendes Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho TÉCNICA EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS EDIÇÃO PROJETO GRÁFICO DIAGRAMAÇÃO REVISÃO ORTOGRÁFICA REVISÃO GRÁFICA EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO COORDENADORES DE CURSOS ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FILOSOFIA FÍSICA LETRAS PORTUGUÊS LETRAS INGLÊS MATEMÁTICA PEDAGOGIA QUÍMICA SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Antonella Maria das Chagas Sousa Fabiana Rodrigues de Almeida Castro Maria da Conceição Prado de Oliveira Zoraida Maria Lopes Feitosa Miguel Arcanjo Costa José Vanderlei Carneiro Lívia Fernanda Nery da Silva João Benício de Melo Neto Vera Lúcia Costa Oliveira Rosa Lina Gomes do Nascimento Pereira da Silva Leonardo Ramon Nunes de Sousa A bioquímica, anteriormente chamada de química biológica ou fisiológica, surgiu devido a investigações de fisiologistas e químicos sobre compostos e conversões químicas em seres humanos e plantas, no século XIX. O termo bioquímica foi proposto pelo químico e médico alemão Carl Neuberg em 1903, embora no século XIX grandes pesquisadores como Wohler, Liebig, Pasteur e Claude Bernard estudassem a química da vida sob outras denominações. O primeiro instituto de pesquisa estruturado e voltado unicamente para a química da vida surgiu em 1872, como Instituto de Química Fisiológica da Universidade de Estrasburgo, na França. Em 1880, a universidade norte-americana de Yale estruturou os primeiros cursos regulares de química fisiológica. Por volta de 1899, quando a universidade inglesa de Cambridge criou o laboratório de química dentro do departamento de fisiologia, chefiado por Frederick Gowland Hopkins, primeiro professor de bioquímica da Universidade de Cambridge e também fundador da bioquímica inglesa, a química da vida já estava estabelecida como ciência, com diferentes denominações. O conhecimento da tecnologia de DNA recombinante, do genoma e do proteoma levou à integração da genética molecular com a química de proteínas. A completa inter-relação entre genótipo e fenótipo está atualmente sendo desvendada em nível molecular. Um dos frutos dessa colheita é o entendimento de como o genoma é organizado e o modo pelo qual é controlada sua expressão. Vemos agora que as proteínas são maquinárias moleculares muito sofisticadas que processam energia, matéria e informação. De fato, podemos observar o fluxo de íons através de um único canal de membrana. Esses avanços influenciaram profundamente a maneira pela qual a bioquímica pode, e deve ser ensinada, pois hoje existem centenas de modelos bem definidos de proteínas que ajudam a melhorar a compreensão .. das estuturas químicas e funções das moléculas biológicas. Este livro é fruto de nosso trabalho com ensino de bioquímica a estudantes das áreas de ciências da saúde, da natureza e agrária da Universidade Federal do Piauí. A intenção é fornecer conhecimento sobre alguns conteúdos de bioquímica e apresentar conceitos relacionados aos processos de descoberta em bioquímica; para tanto é necessário que os alunos tenham completado dois ou mais anos de química no ensino médio, incluído química orgânica, e tenham recebido pelo menos uma introdução à biologia. Ainda assim todos os princípios relevantes são introduzidos de maneira acessível à maioria dos estudantes. Os conteúdos estão organizados de forma integrada para uma melhor compreensão: Química e metabolismo dos carboidratos, sinalização; química e degradação dos aminoácidos; química e metabolismo dos lipídios, e as vias bioquímicas: ciclo de Krebs, cadeia transportadora de elétrons acoplada a fosforilação oxidativa para os organismos aeróbicos que empregam o oxigênio gerando energia a partir de combustíveis metabólicos. Regina Célia de Assis UniDADE 1 Química e metabolismo dos carboidratos - resumo Carboidratos ....................................................................................... 13 Oligossacarídeos (Dissacarídeos) .......................................................20 Polissacarídeos ................................................................................... 21 Introdução ao metabolismo ............................................................... 24 Metabolismo dos carboidratos ........................................................... 27 Absorção intestinal de glicose: modelo clássico e modelo da GLUT-2 ........................................................................................... 29 Sinalização da insulina ........................................................................ 31 O receptor de insulina ........................................................................ 31 Receptor β-adrenérgico ...................................................................... 33 Catabolismo da glicose ....................................................................... 35 Reações da glicólise e formação de piruvato .....................................36 Glicólise anaeróbica ........................................................................... 42 Gliconeogênese .................................................................................. 43 Transformação de piruvato em fosfoenolpiruvato .............................46 Transformação de frutose 1,6-bifosfato em frutose 6-fosfato é o segundo desvio ................................................................................... 48 Transformação de glicose-6-fosfato em glicose livre é o terceiro desvio..................................................................................................48A gliconeogênese é energeticamente custosa ...................................48 Intermediários do ciclo do ácido cítrico e muitos aminoácidos são glicogênios ................................................................................... 48 Gliconeogênese e a glicólise são reguladas reciprocamente..............50 Síntese ................................................................................................ 51 Exercício de fixação ............................................................................ 53 11 UniDADE 2 Química de aminoácidos e proteínas, enzima e degradação - resumo Aminoácidos, proteínas e enzimas ............................................... 59 Estrutura dos aminoácidos ........................................................... 60 Classificação dos aminoácidos ..................................................... 64 Proteínas ...................................................................................... 68 Os polipeptídios e as composições de aminoácidos .................... 71 Estrutura das proteínas ................................................................ 72 Enzimas ........................................................................................ 85 Característica molecular das enzimas .......................................... 86 Nomenclatura das enzimas .......................................................... 88 Classificação das enzimas ............................................................. 88 Como as enzimas funcionam ........................................................ 89 As enzimas afetam a velocidade, mas não o equilíbrio químico das reações ..................................................................... 90 Cinética química ........................................................................... 92 Mecanismo catalítico.................................................................... 93 Fatores que influenciam a atividade enzimática .......................... 95 Concentração do substrato .......................................................... 97 Influência da concentração do substrato em enzimas com “cinética de tipo michaeliano ou hiperbólico” ..................... 97 As enzimas são sujeitas à inibição .............................................. 102 Enzimas reguladoras ................................................................... 105 As enzimas alostéricas sofrem mudanças conformacionais ....... 106 A etapa reguladora em muitas vias é catalisada por uma enzima alostérica ........................................................................ 107 Os grupos fosfato afetam a estrutura e a atividade catalítica das proteínas ............................................................... 107 Alguns tipos de regulação requerem a proteólise de um precursor enzimático ............................................................ 108 Degradação dos aminoácidos ..................................................... 109 Glutamina e alanina são os transportadores de amônia para o fígado ...............................................................................116 Síntese ........................................................................................ 118 Exercício de fixação .................................................................... 119 57 UniDADE 3 Química e metabolismo dos lipídios - resumo Lipídios ...................................................................................... 125 Ácidos graxos ............................................................................. 126 Triacilgliceróis ............................................................................ 130 Lipídios de membranas biológicas ............................................. 131 Metabolismo dos triglicerídeos. ................................................ 134 Sinal para obter os ácidos graxos .............................................. 135 Oxidação dos ácidos graxos ....................................................... 136 Os ácidos graxos são ativados e oxidados ................................. 137 A oxidação dos ácidos graxos é regulada ................................. 141 No fígado, a acetil-CoA pode ser convertida em corpos cetônicos, a serem oxidados por tecidos extra-hepáticos ......... 142 Biossíntese dos ácidos graxos .................................................... 143 Acetil-CoA carboxilase ............................................................... 145 Complexo multienzimático, do ácido graxo sintase ................... 146 Estocagem e transporte de ácidos graxos: Síntese dos triglicerídios ............................................................................... 150 Biossíntese dos triacilgliceróis é regulada por hormônios ........ 151 Lipídios de membrana ............................................................... 151 Síntese ....................................................................................... 156 Exercício de fixação ................................................................... 157 UniDADE 4 Ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa - resumo Ciclo de Krebs ............................................................................. 161 O complexo da piruvato desidrogenase requer cinco coenzimas ......................................................................... 163 As reações do ciclo e as enzimas que as catalisam..................... 164 Fosforilação oxidativa ................................................................. 175 Estrutura das mitocôndrias ........................................................ 176 Os elétrons passam através de uma série de transportadores ligados à membrana ................................................................... 176 123 159 Resumo do fluxo de elétrons e prótons através dos quatro complexos da cadeia respiratória .............................................. 184 Exercício de fixação .................................................................... 195 Referências ................................................................................. 197 Os autores .................................................................................. 199 Química e metabolismo dos carboidratos 11 UniDADE 1 química e metabolismo dos carboidratos RESUMINDO Esta unidade mostra a molécula da natureza que tem como principal função fornecer energia para os organismos vivos. Primeiramente, trataremos das estruturas moleculares dos carboidratos simples (monossacarídeos) e dos complexos (oligossacarídeos e polissacarídeos); a seguir descrevemos os mecanismos de sinalização celular da insulina, responsável pela entrada de glicose e, por último, o metabolismo, ou seja, a utilização dos carbonos da molécula de carboidratos para obtenção de energia, através das vias catabólicas e também a síntese de glicose. Química e metabolismo dos carboidratos 13 qUímiCA E mEtAbolismo Dos CArboiDrAtos Carboidratos Os seres autótrofos, por meio de fotossíntese, são responsáveis em transformar cerca de 100 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO2) e água em celulose, amido e sacarose etc... Essas moléculas são encontradas no pão, batata, massas, doces, arroz, frutas e vegetais que são ingeridas e metabolizadas por seres heterotróficos, que liberando gás carbônico (CO2) para natureza, mantendo assim a simbiose. Entretanto, na maioria dos organismos, os carboidratos são uma fração significativa de energia. Os carboidratos desempenham várias funções: elementos estruturais de proteção das paredes celulares bacterianas, dos vegetais e dos tecidos conjuntivos de animais; lubrificantes das articulações esqueléticas; participam do reconhecimento e da coesão entre células; eles são encontrados também ligados covalentemente a proteínas ou lipídeos, sendo assim denominados de glicoconjugados, que agem essencialmente como sinais que determinam a localização intracelular ou destino metabólico das moléculas. Quimicamente, os carboidratos são compostos que têmfórmula empírica que sugerem que eles são “hidratos de carbonos”, ou seja, a relação de C:H:O é 1:2:1. São definidos como poliidroxialdeídos e poliidroxicetonas, ou seja, apresentam um grupo aldeído (COH) ou um grupo cetona (C=O). Os monossacarídeos mais simples são as duas trioses com três carbonos: o gliceraldeído que se caracteriza por possuir um grupo funcional aldeído em uma das extremidades da cadeia carbônica, sendo assim chamado de aldose e a outra triose a diidroxiacetona, o grupo funcional está em qualquer posição que não seja extremo, este grupo caracteriza uma cetona e é chamado cetose. (Fig. 11). Quanto à sua classificação são agrupados em três classes principais: unidade 114 monossacarídeos, consistem de uma única unidade de poliidroxialdeído ou cetona; oligossacarídeos, consistem de cadeias curtas de unidades de monossacarídeos; e polissacarídeos, consistem de longas cadeias contendo centenas ou milhares de unidades de monossacarídeos. Monossacarídeos: são carboidratos não polimerizados, por isso não sofrem hidrólise. Possuem, em geral, entre três e sete átomos de carbono e um ou mais grupo hidroxila na molécula, são sólidos, incolores, solúveis em meio aquoso, cristalinos e possuem sabor adocicado. Eles são constituídos por uma cadeia carbônica não ramificada, na qual todos os seus átomos estão unidos entre si por ligações covalentes simples. Todos os monossacarídeos têm centros assimétricos, podendo ter um ou mais átomos de carbono assimétricos (quiral), exceto a diidroxiacetona. A aldose gliceraldeído contém apenas um centro quiral, portanto tem dois isômeros ópticos diferentes, ou enantiômetros. Por convenção elas são designadas D e L. Para representar essas estruturas de maneira tridimensional no papel, empregamos as fórmulas de projeção de Fischer. (Fig. 2). Figura 1. Duas trioses, uma aldose e uma cetose. Figura 2. Gliceraldeído em projeção de Fischer. Química e metabolismo dos carboidratos 15 As moléculas de monossacarídeos com n centro quiral podem ter 2n estereoisômeros; as aldoexoses, com quatro centros, têm 24 = 16. Os estereoisômeros dos monossacarídeos de cada um dos comprimentos de cadeia carbônica podem ser divididos em dois grupos, que diferem na configuração ao redor do centro quiral mais distante do carbono carbonila, ou seja, o penúltimo carbono mais distante do grupo carbonila que apresentar a mesma configuração do D-gliceraldeído são designados isômeros D e com configuração do L-gliceraldeído são isômeros L. Das 16 aldoexoses possíveis, 8 são da forma D e 8 são da forma L. A maioria das hexoses encontradas nos organismos vivos é D-isômeros. A: D-Aldose As figuras A e B mostram as estruturas de todos os estereoisômeros das unidade 116 aldoses da série D e também as D-cetoses, que possuem de três a seis átomos de carbono, mais encontrados na natureza. B: D-Cetose Quando dois açúcares diferem na configuração ao redor de um único átomo de carbono, eles são chamados epímeros um do outro; a D-glicose e a D-manose, que diferem estereoquimicamente apenas em C-2, são epímeros, como também o são a D-glicose e a D-galactose (em C-4). (Fig. 4). Os monossacarídeos comuns possuem estruturas cíclicas em solução aquosa; aqueles com cinco ou mais átomos de carbono na cadeia ocorrem, Figura 3. A: D-Aldoses e B: D-Cetoses são mostrados em projeção de Fischer. Os átomos de carbonos em cinza são centros quirais. Os açúcares em itálico são aqueles mais abundantes na natureza. Figura 4. D-glicose e dois de seus epímeros em projeção de Fischer; cada epímero difere da D-glicose na configuração de apenas um centro quiral (em vermelho D-Manose C2 e D-galactose C4). Química e metabolismo dos carboidratos 17 predominantemente, como estruturas cíclicas (em anel). A formação dessas estruturas em anel é resultado da reação geral entre grupos aldeídos ou cetonas, formando derivados chamados hemiacetais ou hemicetais. (Fig. 5). A D-glicose tem uma estrutura cíclica, que se apresenta em duas formas cristalinas com propriedades ópticas ligeiramente diferentes entre si. Quando a D-glicose é cristalizada a partir da água, resulta em uma forma chamada α-D- glicose, a qual difere na sua atividade óptica (o grau pela qual ela gira a luz plano-polarizada) e quando a forma da D-glicose é cristalizada em solvente de piridina resulta em uma forma conhecida como β-D-glicose. As duas formas são idênticas em composição química. Os nomes sistemáticos para as duas formas cíclicas da D-glicose são α-D-glicopiranose e β-D-glicopiranose. As aldoexoses formam sua cíclica quando o grupo aldeído reage com o oxigênio de um grupo hidroxila mais distante deste grupo, formando assim o anel piranose, apresentando um carbono assimétrico adicional, existindo portanto em duas formas estequiométricas α e β. (Fig. 6). Figura 5. Um aldeído ou uma cetona pode reagir com um álcool formando um hemiacetal ou um hemicetal e criando um novo centro quiral no carbono carbonila. Figura 6. Formação das duas formas cíclicas de D-glicopiranose. A fórmula em perspectiva de Haworth. unidade 118 Além das hexoses simples como a glicose, a galactose e a manose, existe um grande número de seus derivados que estão presentes nos organismos. Eles já foram encontrados como componentes dos glicolipídeos e das glicoproteínas. As glicosaminas são encontradas como parte de polímeros estruturais, incluindo aqueles das paredes das células bacterianas (Fig. 7A e 7B). Figura 7A. Derivados importantes em Biologia. Química e metabolismo dos carboidratos 19 Um aspecto importante dos monossacarídeos é que eles podem ser oxidados por agentes oxidantes como os íons férrico (Fe3+) e cúprico (Cu2+). O carbono do grupo carbonila é oxidado a ácido carboxílico. A glicose e outros açúcares capazes de reduzir estes íons são chamados de açúcar redutor. (Fig. 8). Figura 7B. Derivados importantes em Biologia. Figura 8. Açúcares como agentes redutores. unidade 120 1.1.1 Oligossacarídeos (Dissacarídeos) Os oligossacarídeos, ou açúcares pequenos, são carboidratos constituídos de duas a dez moléculas de monossacarídeos. Interessa-nos, aqui, apenas aqueles formados por duas unidades de monossacarídeos, também chamados dissacarídeos. Dissacarídeos são açúcares constituídos de dois monossacarídeos unidos por meio de ligação glicosídica onde ocorre o desprendimento de uma molécula de água. (Fig. 9). São moléculas relativamente pequenas, solúveis em água, razão por que interferem, assim como os monossacarídeos, no equilíbrio osmótico das células. Figura 9. Formação do dissacarídeo maltose. Figura 10. Dissacarídeos comuns. Química e metabolismo dos carboidratos 21 A sacarose, o "açúcar de cana" ou de beterraba, constitui-se de uma molécula de glicose ligada a uma frutose. A maltose é formada por duas moléculas de glicose. A lactose resulta da união de uma glicose com uma galactose, sendo encontrada somente no leite. No Brasil, o açúcar de mesa é oriundo da cana-de- açúcar, enquanto na Rússia vem da beterraba roxa. (Fig. 10). 1.1.2 Polissacarídeos Os polissacarídeos, ou açúcares múltiplos, são carboidratos formados pela união de mais de dez moléculas monossacarídeas, constituindo, assim, um polímero de monossacarídeos, geralmente de hexoses. Ao contrário dos mono e dos dissacarídeos, os polissacarídeos são insolúveis em água; não alteram, pois, o equilíbrio osmótico das células e se prestam muito bem à função de armazenamento ou reserva nutritiva. De acordo com a função que exercem, os polissacarídeos se classificam em energéticos e estruturais. Polissacarídeos energéticos têm função de reserva nutritiva. Os mais importantes são o amido e o glicogênio. Figura 11. Os dois polissacarídeos do amido, a amilose e a amilopectina. A amilopectina é uma estrutura altamente ramificada com ramificações ocorrendo em cada 12 a 30 resíduos. unidade 122 Amido: Principal produto de reserva nutritiva vegetal,é geralmente encontrado em órgão de reserva nutritiva, como raízes do tipo tuberosa (mandioca, batata doce e cará), caules do tipo tubérculo (batatinha), frutos e sementes. Constitui um polímero de glicose (mais ou menos 1.400 unidades de glicose) com ligação glicosídica. O amido se constitui de dois tipos diferentes de polissacarídeos: a amilose, com cerca de 1.000 unidades de glicose numa longa cadeia não ramificada, enrolada em hélice, e a amilopectina, com cerca de 50 a 60 unidades de glicose dispostas em cadeias mais curtas e ramificadas. (Fig. 11). Glicogênio: Polissacarídeo de reserva nutritiva dos animais, o glicogênio é encontrado principalmente no figado e nos músculos. Também é produto de reserva dos fungos. Constitui um polímero de glicose (mais ou menos 30.000 resíduos de glicose) com ligação glicosídica e várias ramificações. (Fig. 12). Os polissacarídeos estruturais entram na formação de algumas estruturas do corpo dos seres vivos. Os mais importantes são a celulose e a quitina. A celulose (C6H10O5)n, com um valor mínimo de n=200 (tipicamente 300 a 700, podendo passar de 7000), é um polímero de cadeia longa composto de um só monômero (glicose), sendo um dos principais constituintes das paredes celulares das plantas (cerca de 35% do peso da planta), em combinação com a lignina, com hemicelulose e pectina e não são digerível pelo homem, constituindo uma fibra dietética. Alguns animais, particularmente os ruminantes, podem digerir celulose, com a ajuda de microrganismos simbióticos. Figura 12. Estrutura do glicogênio. Química e metabolismo dos carboidratos 23 A estrutura da celulose se forma pela união de moléculas de β-glicose (uma hexosana) através de ligações β-1,4-glicosídicas. Sua hidrólise completa produz glicose. A celulose é um polímero de cadeia longa de peso molecular variável. A celulose tem uma estrutura linear ou fibrosa, na qual se estabelecem múltiplas pontes de hidrogênio entre os grupos hidroxilas das distintas cadeias justapostas de glicose, fazendo-as impenetráveis à água e, portanto, insolúveis, originando fibras compactas que constituem a parede celular dos vegetais. (Fig. 13). Quitina: Polissacarídeo que possui nitrogênio em suas unidades de acetilglicosamina com ligações β. Constitui o exoesqueleto dos artrópodes e é também encontrada na parede celular dos fungos. Outros tipos de Figura 13. Estrutura da celulose e lignina. unidade 124 polissacarídeos, denominados heteropolissacarídeos, originam, por hidrólise, vários tipos diferentes de monossacarídeos. Como exemplo, o ácido hialurônico, o condroitin sulfato e a heparina. Glicoproteína Função Colagênio Estrutural Mucinas Lubrificante, Proteção Transferrina, Ceroplasmina Transporte Imunoglobulina, Agentes de Histocompatibilidade Resposta imunológica Gonadotropina Coriônica, TSH Hormonal Fosfatase Alcalina (ex.) Enzimática Várias Identificadores celulares Existem em alguns peixes Anticongelante Várias Receptores Calnexina, Calreticulina Enrolamento proteico Notch (e correlacionados) Reguladores de diferenciação Constituintes das plaquetas Hemostasia Glicoproteínas: São polímeros lineares, não ramificados, formados por unidades dissacarídicas que não se repetem. Esse polímero está ligado covalentemente a estrutura peptídica, sendo, portanto os açúcares o grupo prostético. (Quadro 1). Alguns exemplos de glicoproteínas: imunoglobulina, hormônio folículo- estimulante, hormônio luteinizante, gonodotrofina coriônica e protrombina, além de diversas glicoproteínas presentes nas secreções mucosas. 1.1.3 Introdução ao metabolismo Os processos vitais requerem que as moléculas sejam utilizadas na produção de energia, sendo, portanto, estas consumidas por meio dos alimentos que sofrerão digestão, produzindo moléculas menores, precursoras de energia celular, que é fundamental para o catabolismo e anabolismo. Os organismos vivos precisam de uma fonte de energia constante para organizar a turbulência frequente no seu meio interior. O metabolismo celular consiste de vias catabólicas (degradativas) e de vias anabólicas (biossintetizantes). Quadro 1: Exemplos e funções associadas. Química e metabolismo dos carboidratos 25 Figura 14. Comparação entre vias catabólicas e anabólicas. Fonte: adaptada de PAMELA, C. C.; HARVEY, R., A., 1997. As transformações biológicas formadoras de energia seguem as duas leis da termodinâmica. A primeira lei é o princípio da conservação de energia, ou seja, para qualquer transformação física ou química, a quantidade total de energia no universo permanece constante; a energia pode mudar de forma ou ser transportada de uma região para outra; entretanto, ela não pode ser criada ou destruída. A segunda lei da termodinâmica refere-se à tendência que o universo apresenta para uma desordem crescente, na qual todos os processos naturais, a entropia do universo, aumenta. Para se discutir a aplicação da segunda lei da termodinâmica nos sistemas biológicos, deve-se, inicialmente, definir esses sistemas e os meios em que eles se encontram. O sistema reagente é o conjunto de matéria que está sofrendo um processo físico ou químico particular, podendo ser um organismo, uma célula, ou ainda dois compostos reagentes. Juntos, o sistema reagente e o seu meio ambiente constituem o universo. Em laboratório, alguns processos físicos ou químicos podem ocorrer em sistemas fechados ou isolados, sem qualquer troca de matéria ou energia Nutrientes liberadores de energia Moléculas complexas Produtos finais pobres em energia Moléculas precursoras Carboidratos Gorduras Proteínas Polissacarídeos Lipídios Proteínas Ácidos nucleicos CO2 H2O NH3 Aminoácidos Glicídeos Ácidos graxos Bases nitrogenadas unidade 126 com o meio ambiente. As células e os organismos vivos, entretanto, constituem sistemas abertos, trocando tanto matéria quanto energia com o ambiente, com o qual jamais atingem o equilíbrio. Assim, a constante interação entre sistemas e ambiente explica como os organismos podem criar ordem interna, ao mesmo tempo em que operam de acordo com a segunda lei da termodinâmica. A segunda lei da termodinâmica se refere ao aumento na entropia (S) do universo durante todos os processos físicos e químicos, embora esse aumento não ocorra necessariamente no próprio sistema reagente. A ordem produzida dentro das células, à medida que elas crescem e se dividem, é mais do que compensada pela desordem que elas criam em seus ambientes, no curso desses acontecimentos. Em resumo, os organismos vivos preservam a ordem interna pela captação de energia livre (G) do ambiente, nas formas de nutrientes ou luz solar, devolvendo a ele uma quantidade igual de energia, nas formas de calor ou entalpia (H) e entropia. Sobre a variação de energia livre vale destacar: trata-se da energia disponível para realizar trabalho; aproxima-se de zero, na medida em que as reações aproximam-se do equilíbrio e, mais importante, determina se uma reação é favorável. A variação de entalpia (∆H) se destaca por apresentar o calor absorvido (“ganho”) ou liberado (“perdido”) durante uma reação, e a variação de entropia é uma medida da desorganização. Em suma, sob as condições existentes nos sistemas biológicos, incluindo temperatura e pressão constantes, as mudanças na energia livre, entalpia e entropia estão quantitativamente relacionadas entre si pela equação: ∆G = ∆H – T ∆S Para uma reação química, destacam-se três condições: 1. condições de não-equilíbrio; 2. condições-padrão; e 3. condições de equilíbrio. ∆G depende das concentrações dos reagentes “X” (substratos) e dos produtos “Y”. À temperatura e pressão constantes, a seguinte relação pode ser deduzida: em que ∆G0 é a variação de energia livre padrão; R é a constante dos gases (8,31 J mol-1 K-1); T é a temperatura absoluta (K); [X] e [Y] são as concentrações reais de reagentes e produtos; ln representa logaritmo natural. Químicae metabolismo dos carboidratos 27 A variação de energia livre padrão ∆G0 é igual à variação de energia livre ∆G, em condições padrão, ou seja, quando as concentrações de reagentes e produtos são iguais 1 mol L-1 (observação: em bioquímica, o estado padrão é modificado porque no interior de uma célula viva, a solução aquosa dos componentes celulares e o pH de tal sistema estão normalmente no intervalo neutro. Geralmente, as reações bioquímicas em laboratório são realizadas em tampões próximos ao pH = 7; para isso, devemos considerar a concentração de íon hidrogênio 10-7 mol L-1). ∆G= ∆G0 + 0 Na situação descrita acima ∆G0 tem valor preditivo do sentido da reação. ∆G0 não pode, porém, predizer o sentido de uma reação em condições fisiológicas, pois é um valor composto apenas por constates (R, T, e Keq constante de equilíbrio) e, portanto, não é alterado por mudanças nas concentrações de substratos e produtos. Na relação entre ∆G0 e Keq em uma reação, quando o ponto de equilíbrio é alcançado, alterações químicas cessam de forma efetiva, ou seja, dada uma reação hipotética X →Y, isto quer dizer a espécie X é convertida em Y na mesma velocidade com que Y é convertida em X. Nesse estado, a razão entre [Y] e [A] é constante, independente das concentrações reais dos dois compostos. Quando a reação chega ao equilíbrio, em condições de temperatura e pressão constantes, a variação de energia livre final (∆G) no equilíbrio é zero. Portanto, ∆G = 0 = ∆G0 + ln . Assim, ∆G0= – RT ln Keq. Essa equação nos permite alguns prognósticos simples: (Fig. 15). 1.2 Metabolismo dos carboidratos A utilização dos carboidratos pelos tecidos passa, primeiramente, pelo processo de digestão, que ocorre principalmente na boca e no lúmen intestinal; segundo alguns autores, esta digestão é muito rápida. Além disso, é importante ressaltar que os monossacarídeos estão presentes em pequenas quantidades Figura 15. Situação de equilíbrio dependente de ∆G0. unidade 128 nas dietas dos animais. A principal fonte de carboidratos no organismo é proveniente da dieta (uma dieta ocidental normal pode fornecer cerca de 180g de glicose por dia). Os carboidratos da dieta, essencialmente polissacarídeos, são quebrados enzimaticamente em unidades mais simples, os monossacarídeos (principalmente glicose, galactose e frutose). O amido é digerido em duas etapas, quando sofre a ação da saliva e do suco pancreático, sendo que o processo final ocorre no epitélio mucoso do intestino delgado e sua absorção nos enterócitos das vilosidades intestinais. Os dissacarídeos, como lactose, sacarose, maltose e isomaltose, sofrem hidrólise na presença de enzimas secretadas pelas células da mucosa intestinal, produzindo glicose, galactose e frutose, que vão para corrente sanguínea. A glicose é o principal substrato metabólico para a atividade normal do ser humano, ao longo do seu ciclo de vida. O transporte intestinal de monossacarídeos é influenciado por sua qualidade e pela quantidade presente no lúmen intestinal, sendo mais bem documentado o que diz respeito à glicose, frutose, galactose, manose e xilose. O corpo humano tem uma necessidade obrigatória de glicose de aproximadamente 200g por dia, sobretudo para satisfazer as necessidades metabólicas do cérebro. Se a concentração de glicose no sangue ficar abaixo de 40 mg/dL (2.2mol/L) podem ocorrer coma, convulsões ou até mesmo a morte. Por outro lado, níveis que excedam os 180mg/dL (10 mmol/L) (correspondendo a hiperglicemia) podem estar associados a complicações a curto e a longo prazo. A regulação da concentração de glicose plasmática é fortemente dependente de vários mecanismos homeostáticos. No fígado, a glicose é armazenada na forma de glicogênio, provendo a energia para o funcionamento do corpo no jejum de 12 horas; nos músculos, o glicogênio armazenado é utilizado para suas atividades, devido ao fato deste não possuir uma enzima da gliconeogênese (glicose-6- fosfatase). A habilidade das células em receber e reagir a sinais vindos do outro lado da membrana plasmática é fundamental para a vida. Os sinais, nos animais, podem ser autócrinos (agindo na mesma célula que o produz), parácrinos (agindo num vizinho próximo) ou endócrinos (transportados na corrente sanguínea da célula produtora até uma célula alvo distante). Em todos os três casos, o sinal é detectado por um receptor específico e é convertido em uma resposta celular. O transporte de glicose para dentro das células epiteliais do intestino, túbulos renais e plexo coroide é realizado de duas formas: transporte por difusão Química e metabolismo dos carboidratos 29 facilitada, independente de Na+ e sistema de co-transporte monossacarídeo- Na+. O processo de co-transporte requer energia porque o transporte da glicose ocorre contra gradiente de concentração, ou seja, a concentrações maiores, no interior da célula. Neste sistema o processo é mediado por carreador, no qual o movimento da glicose está acoplado ao gradiente de concentração do Na+, que é transportado concomitantemente à glicose para o interior da célula. Esse processo é mediado pelas proteínas GLUT-1 a GLUT-14, que acontecem na membrana em dois estados conformacionais. A glicose extracelular se liga ao transportador, que sofre, então, uma modificação em sua conformação, transportando a glicose de um lado ao outro da membrana. 1.2.1 Absorção intestinal de glicose: modelo clássico e modelo da GLUT-2 O modelo clássico de absorção intestinal de glicose ocorre ativamente do lúmen intestinal para o interior do enterócito pelo SGLT1, localizado na membrana apical. O SGLT1 possui um local de ligação ao sódio, e é essa ligação que induz a uma alteração conformacional no transportador, tornando-o acessível à glicose. Desse modo, por cada molécula de glicose transportada, dois sódios são necessários, cujo gradiente transmembranar é gerado pela ATPase-Na+/K+ localizada na membrana basolateral, que são transportados na mesma direção. Depois a glicose acumulada é liberada, passivamente, do enterócito para a circulação sanguínea através de duas vias distintas: uma, majoritária, que envolve a GLUT-2 (Figura 16), e outra, por transporte envolvendo vesículas intracelulares, que requer fosforilação da glicose a glicose- 6-fosfato, transferência da glicose-6-fosfato para o retículo endoplasmático e posterior liberação da glicose livre (desfosforilada) para a corrente sanguínea, onde uma pequena fração intracelular da glicose pode ser usada como substrato metabólico, no enterócito. Figura 16. Modelo clássico de absorção intestinal de glicose no enterócito. Na membrana apical, a glicose é transportada ativamente para o espaço intracelular, principalmente pelo transportador ativo de glicose dependente do sódio (SGLT1). Na membrana basolateral, a glicose é transportada, a favor do gradiente de concentração do enterócito. Fonte: adaptada de uma Revisão do Arquivo de Medicina, ISSN 0871-3413, 23(2):35-43, 2009. unidade 130 A especificidade tecidual da expressão gênica das GLUTs é importante para o metabolismo. A GLUT-3 é o transportador da glicose nos neurônios; a GLUT-1 é extensa nos eritrócitos e no encéfalo, mas proporciona pouca expressão no músculo do adulto, enquanto a GLUT-4 é abundante no tecido adiposo e no músculo esquelético. A GLUT-2 é encontrada no fígado, nos rins, nos intestinos e nas células β do pâncreas, e pode transportar a glicose, tanto do sangue para dentro dessas células, quando os níveis de glicose são elevados, quanto das células para o sangue, quando os níveis sanguíneos de glicose estiverem baixos (por exemplo, no jejum). A GLUT-5 é particular, porque é a principal transportadora para frutose no intestino delgado e nos testículos. A GLUT-7, encontrada no fígado e em outros tecidos gliconeogênicos, medeia o fluxo de glicose através da membrana do retículo endoplasmático. No metabolismo celular as vias metabólicas não funcionam coma mesma velocidade. Ao contrário, cada via será acionada com intensidades variadas, dependendo da situação fisiológica considerada (homeostase), que se refere não apenas a estados nutricionais diferentes, mas, também, a demandas energéticas diferentes, como no repouso ou sob exercício vigoroso. O ajuste do metabolismo às diferentes condições fisiológicas é obtido graças aos processos que, em conjunto, são chamados de regulação metabólica. Os eventos de regulação não são isolados: cada um deles atua como um gerador primário de sinais, captados por geradores secundários, capazes de retransmiti-los, até atingir toda a rede metabólica e repercutir, à distância, em outros órgãos. A complexidade do processo é enorme mas justificam-se, por permitir um ajuste sensibilíssimo ao metabolismo em diferentes situações, propiciando- lhes uma resposta pronta e logicamente organizada. Essas respostas podem promover alterações na concentração das enzimas e, consequentemente, alteração em suas atividades: na regulação alostérica as enzimas são modificadas por interação não covalente; e por modificação covalente, na regulação hormonal. Vale salientar que sua interferência sobre a velocidade das reações no metabolismo depende da sua concentração, que é exercida em dois níveis principais: expressão gênica e atividade enzimática. Os hormônios são considerados os primeiros mensageiros químicos extracelulares. Produzidos pelo sistema endócrino e secretados na corrente sanguínea, juntamente com o sistema nervoso, são os responsáveis pela Química e metabolismo dos carboidratos 31 integração das funções vitais nos animais. Alguns hormônios importantes são os esteróides (cortisol, aldosterona, estradiol, progesterona, testosterona), os tireoidianos (tiroxina, triiodotironina), os peptídicos (insulina - proteína produzida nas células β do pâncreas e glucagon - sintetizado nas células α do pâncreas) e as catecolaminas (epinefrina, norepinefrina). 1.2.2 Sinalização da insulina A insulina é o hormônio anabólico mais conhecido e é essencial para a manutenção da homeostase de glicose e do crescimento e diferenciação celular. Esse hormônio é secretado pelas células β das ilhotas pancreáticas, em resposta ao aumento dos níveis circulantes de glicose e aminoácidos após as refeições. A insulina regula a homeostase de glicose em vários níveis, reduzindo a produção hepática de glicose (via diminuição da gliconeogênese e glicogenólise) e aumentando a captação periférica de glicose, principalmente nos tecidos muscular e adiposo. A insulina também estimula a lipogênese no fígado e, nos adipócitos, reduz a lipólise, bem como aumenta a síntese e inibe a degradação proteica. 1.2.3 O Receptor de insulina A sinalização intracelular da insulina começa com a sua ligação a um receptor específico de membrana, uma proteína heterotetramérica com atividade quinase, composta por duas subunidades α e duas subunidades β, que atua como uma enzima alostérica, na qual a subunidade α inibe a atividade tirosina quinase da subunidade β. A ligação da insulina à subunidade α permite que a subunidade β adquira atividade quinase, levando à alteração conformacional e autofosforilação, que aumenta ainda mais a atividade quinase do receptor. A proteína quinase transfere um grupo fosforil do ATP para o grupo hidroxila dos resíduos de Tyr, em proteínas-alvos específicas. A sinalização, através do receptor da insulina, está ilustrada na Fig.17. Uma destas proteínas-alvos (etapa 2) é o substrato 1 do receptor da insulina IRS-1. Assim que fosforilado nos resíduos de Tyr, IRS-1 torna-se o ponto de nucleação para um complexo de proteínas (etapa 3) que transporta a unidade 132 mensagem do receptor da insulina aos alvos finais no citossol e no núcleo, através de uma longa série de proteínas intermediárias. Primeiro, um resíduo de Tyr na IRS-1 é ligado ao domínio SH2 da proteína Grb2. Grb2 recruta outra proteína, Sos, para o complexo em crescimento. Quando ligada a Grb2, Sos catalisa a substituição do GDP, ligado em Ras, por GTP (uma de uma família de proteínas de ligação de nucleotídeos de guanosina (proteínas G) que medeiam uma grande variedade de transdução de sinais). Quando o GTP estiver ligado, Ras pode ativar uma proteína quinase, Raf-1 (etapa 4), a primeira de três proteínas quinases (Raf-1, MEK e MAPK) que formam uma cascata, na qual cada quinase ativa a seguinte, pela fosforilação de um resíduo Ser (etapa 5). A última proteína quinase, a proteína quinase ativada a MAPK, é ativada pela fosforilação, tanto de um resíduo de Thr, quanto um de Tyr. Quando ativada, ela medeia alguns dos efeitos biológicos da insulina, entrando no núcleo, fosforilando proteínas Elk1, que modulam a transcrição de certo genes regulados pela insulina (etapa 6). (Fig. 18). A Grb2 não é a única proteína ativada pela associação com a IRS-1 fosforilada. A PI-3 quinase (PI-3K) se associa com IRS-1 através do seu domínio SH2 (Figura 19). Ativado desta forma, PI-3K converte o fosfolipídeo de membrana fosfatidilinositol 4,5 bifosfato (chamado de PIP2), em fosfatidilinositol 3,4,5-trifosfato (PIP3), que ativa outras proteínas quinase. Quando ligada a PIP3, PKB é fosforilada e ativada por outra proteína quinase, PDK1. PKB fosforila os resíduos de Ser ou Thr nas suas proteínas-alvos, uma das quais é a glicogênio sintase quinase 3 (GSK3). Na sua forma ativa, não fosforilada, a GSK3 fosforila a glicogênio sintase, inativando-a, portanto diminuindo a síntese do glicogênio. Quando fosforilada pela PKB, GSK3 é inativada. Desta forma, prevenindo a inativação do glicogênio sintase, esta cascata da fosforilação de proteínas, iniciada pela insulina, estimula a síntese do glicogênio. Acredita-se também que a PKB desencadeia o movimento dos transportadores da glicose (GLUT-4) das vesículas internas até à membrana plasmática, estimulando a captação da glicose do sangue. (Fig. 19). Figura 17. A resposta do receptor de insulina. O receptor de insulina é uma tetramérica constituída de duas subunidades α e duas subunidades β. A insulina é ligada a α causando mudança conformacional na subunidade β, na qual ativa a tirosina quinase da subunidade β. A subunidade β ativada fosforila resíduo de tirosina, localizado no domínio citoplasmático do receptor. Química e metabolismo dos carboidratos 33 1.2.4 Receptor β-adrenérgico Os receptores de proteína G pertencem a uma superfamília de proteínas, capazes de transformar sinais moleculares externos em sinais intracelulares, que estruturalmente estão relacionados para respostas: hormonal, neurotransmissores, mediadores inflamatórios, proteinases, moléculas gustativas e olfativas, e fótons de luz. Para obter estas respostas há, primeiramente, a formação de um segundo mensageiro, que se inicia com a ligação do hormônio a seu receptor específico, na membrana plasmática, e prossegue, geralmente, com acoplamento do complexo hormônio-receptor. Alguns exemplos importantes são: AMP cíclico (AMPc), íons cálcio e derivados de fosfolipídios de membrana. Um exemplo clássico deste receptor é o sistema de receptor β-adrenérgico, cujo hormônio é a adrenalina, que liga a proteína receptora na membrana plasmática da célula sensível ao hormônio. Figura 18. Regulação da expressão gênica pela insulina. Fonte: adaptada de NELSON, D. L., COX, M. M., 2006. unidade 134 O sinal para formação de AMPc se deve à proteína G heterotrimérica ligada ao receptor de superfície celular, que se encontra inativa, ligada ao nucleotídeo de guanina GDP. A interação do hormônio com o receptor impulsiona a troca de GDP por GTP, induzindo a uma mudança conformacional em Gα, diminuindo a afinidade pelo receptor e pelas subunidades βγ. A Gα ativada pode interagir com a enzima adenilato ciclase para gerar o segundo mensageiro intracelular, o cAMP favorecendo, portanto, a degradação do glicogênio armazenadonos tecidos. (Fig. 20). Figura 19. Via de transdução de sinal da fosfatidilinosiol-3-quinase Figura 20. Via de transdução de sinal de hormônios que estimulam a adenilato ciclase. Química e metabolismo dos carboidratos 35 1.2.5 Catabolismo da glicose A glicose é o principal carboidrato da Terra, como componente estrutural e monomérico de celulose e amido. A glicólise é a via responsável pelo catabolismo da glicose, sendo, portanto, uma via metabólica central que está ao mesmo tempo em todas as partes do metabolismo da glicose da biosfera e é encontrada não apenas em todas as células de mamíferos, mas também nas leveduras e bactérias. Em alguns tecidos e tipos celulares de mamíferos (eritrócitos, medula renal e esperma, por exemplo), a glicose, por meio da glicólise, é a única fonte de energia metabólica. Alguns tecidos vegetais que são modificados para armazenamento de amido, como os tubérculos da batata e alguns vegetais adaptados para crescer em áreas regulamente inundadas pela água (agrião, por exemplo) derivam a maior parte de sua energia da glicólise; muitos tipos de microorganismos anaeróbicos são inteiramente dependentes da glicólise. Precisamente a glicose não é apenas em excelente combustível, é também um precursor admiravelmente versátil, capaz de suprir uma vasta gama de intermediários metabólicos, que são os materiais primários necessários para as reações biossintéticas. Por exemplo, a Escherichia coli pode obter os esqueletos carbônicos para cada um dos seus aminoácidos, nucleotídeos, coenzimas, ácidos graxos e outros intermediários metabólicos, necessários para o seu crescimento e multiplicação; outro exemplo são os vegetais superiores e os animais, nos quais a glicose tem três destinos principais: pode ser armazenada (como sacarose ou como polissacarídeo), ser oxidada em compostos de três carbonos (piruvato), por meio da glicólise (do grego glykys, que significa “doce”, e lysis, que significa quebra) ou ser oxidada a pentoses, por meio das pentoses fosfato (fosfogliconato). A glicólise foi a primeira via metabólica a ser elucidada e é provável que, atualmente, seja a melhor entendida. A descoberta de Eduard Büchner (em 1897) da fermentação em extratos de células de levedura, o reconhecimento por Fritz Lipmann e Herman Kalckar (em 1941) do papel metabólico dos compostos de alta energia, como o ATP, o desenvolvimento dos métodos de purificação de enzimas, a descoberta e o reconhecimento da importância de cofatores como o NAD e a descoberta do papel metabólico polivalente dos compostos fosforilados vieram, todos, de estudos sobre a glicólise. Atualmente, todas as enzimas da glicólise de muitos organismos já foram cuidadosamente purificadas e estudadas. Como todas as vias metabólicas, a glicólise está sob rígida regulação. Durante unidade 136 as reações sequenciais da glicólise, parte da energia livre liberada da glicose é conservada, na forma de ATP e de NADH. Nas reações individuais que constituem a via glicolítica e as enzimas que as catalisam, ou seja, a operação da via glicolítica em condições aeróbicas e anaeróbicas, estão envolvidas uma sequência de 10 reações (Fig. 21), produzindo cada uma delas um açúcar intermediário diferente e cada uma é catalisada por uma enzima diferente. É importante observar ainda que nos intermediários fosforilados os grupos fosfatos desempenham três funções de destaque: a primeira é manter a glicose intracelular, devido à carga negativa líquida criada pelo grupo fosfato que é ionizado em pH=7, assim a célula não precisa gastar energia para manter os intermediários fosforilados, a despeito da grande diferença entre as concentrações intra e extracelulares desses compostos; a segunda é manter a conservação enzimática da energia metabólica e a terceira é que os grupos fosfatos são essenciais para fornecer energia de ligação, que contribui para baixar a energia de ativação e aumentar a especificidade das reações catalisadas enzimaticamente; consequentemente o Mg2+ forma complexos com os grupos fosfato do ATP e ADP. Estudos dos intermediários glicolíticos mostraram que muitas das enzimas glicolíticas são específicas para esses complexos de Mg2+; assim a maioria das enzimas glicolíticas requer Mg2+ para entrar em atividade. 1.2.6 Reações da glicólise e formação de piruvato A primeira reação (1) trata da fosforilação da glicose pelo ATP, para formar um açúcar fosforilado, ou seja, a glicose-6-fosfato, catalisada pela enzima hexoquinase, sendo essa enzima não exclusiva da glicose, mas pode ser também de qualquer uma das várias hexoses, como a frutose e a manose. É uma reação irreversível em condições celulares. A segunda reação (2) é catalisada pela glicose fosfatoisomerase, na qual o grupo aldeído, no carbono 1 da glicose-6-fosfato, é reduzido a um grupo hidroxila, e o grupo hidroxila, no carbono 2, é oxidado para produzir o grupo cetona da frutose-6-fosfato, sem nenhuma oxidação ou redução final. Na terceira reação (3) acontece novamente uma fosforilação, a frutose-6- fosfato produz frutose-1,6-bifosfato, catalisada pela enzima fosfofrutoquinase, que catalisa a transferência de um grupo fosfato, advindo do ATP. O ambiente celular torna essa reação irreversível. Química e metabolismo dos carboidratos 37 Na quarta reação (4) ocorre a clivagem da frutose-1,6-bifosfato. A enzima fruto-1,6-bifosfato aldolase, em geral simplesmente chamada de aldolase, que nos animais vertebrados não necessita cátion divalente, em muitos microrganismos é uma enzima que contém Zn2+. A frutose-1,6-bifosfato é quebrada para liberar duas trioses fosfato diferentes: o gliceraldeído-3-fosfato, uma aldose, e a diidroxiacetona fosfato, uma cetose. Na quinta reação (5) a diidroxiacetona fosfato é convertida em gliceraldeído-3-fosfato. A enzima que catalisa a reação é a triose fosfato isomerase; é importante salientar que ambos os substratos são trioses. Um fator importante é que o gliceraldeído foi produzido pela reação da aldolase. A molécula original de glicose, que contém seis átomos de carbono, foi convertida em duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato, cada uma contendo três átomos de carbono. A sexta reação (6) tem como destaque a oxidação do gliceraldeído- 3-fosfato em 1,3-bisfosfoglicerato, catalisado pela gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase. Com efeito, essa reação da glicólise merece muita atenção. Ela envolve a adição de um grupo fosfato ao gliceraldeído-3-fosfato, assim como uma reação de transferência de elétrons do gliceraldeído-3-fosfato para o NAD+. Vale destacar que o receptor de hidrogênio na reação catalisada pela gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase é a coenzima NAD+. A redução do NAD+ ocorre pela transferência enzimática de um íon hidreto (:H-) do grupo aldeído do gliceraldeído-3-fosfato para o anel nicotinamida do NAD+, para liberar a coenzima reduzida NADH. O outro átomo de hidrogênio da molécula do substrato aparece em solução como H+. A sétima reação (7) é a primeira que produz ATP, pela fosforilação do ADP a partir da 1,3 bisfosfoglicerato, formando 3-fosfoglicerato. A enzima responsável pela catálise é a fosfoglicerato quinase. A característica mais surpreendente da reação está relacionada à energética da transferência do grupo fosfato. Nessa etapa da glicólise, um grupo fosfato é transferido do 1,3-bisfosfoglicerato para a molécula de ADP, produzindo ATP, a primeira das duas reações que produzem ATP na via glicolítica. Essa transferência do grupo fosfato pelo substrato destacado é típica de uma fosforilação em nível de substrato. Um requisito básico para a fosforilação no substrato é que a variação de energia livre padrão, da reação de hidrólise, seja mais negativa do que a hidrólise do novo composto fosfato que está sendo formado. Isto é, a hidrólise do 1,3-bisfosfoglicerato é – 49,3 kJ mol-1. Já a hidrólise do ATP é – 30,5 kJ mol-1 e, assim, é preciso alterar o sinal dessa variação quando a reação inversa ocorre.unidade 138 Química e metabolismo dos carboidratos 39 Figura 21. Glicólise. unidade 140 A oitava reação (8) é a conversão do 3-fosfoglicerato em 2-fosfoglicerato. A enzima responsável por essa conversão é a fosfoglicerato mutase, que faz a catálise reversível do grupo fosforil entre C-2 e C-3 do glicerato. O íon Mg2+ é essencial para essa reação. A nona reação (9) é a desidratação do 2-fosfoglicerato para fosfoenolpiruvato. Essa reação é a segunda da via glicolítica, que gera um composto com alto potencial de transferência do grupo fosforil, é catalisada pela enolase, enzima que requer Mg2+ com um cofator. Essa enzima promove a remoção reversível de uma molécula de água, que se liga ao Mg2+, durante o curso da reação do 2-fosfoglicerato, para liberar fosfoenolpiruvato. A décima reação (10) ocorre com a transferência do grupo fosforil do fosfoenolpiruvato para o ADP. Essa reação é catalisada pela piruvato quinase, uma enzima que requer K+ e ou Mg2+ ou Mn2+. Nessa reação de fosforilação, no substrato, o produto piruvato aparece primeiro na sua forma enol. Entretanto, a forma enol tautomeriza de maneira rápida, embora não enzimática, para liberar a forma cetônica do piruvato, a forma que predomina em pH=7. Com efeito, a reação total tem uma variação de energia livre padrão grande e negativa devida em grande parte à conversão espontânea da forma enol do piruvato em sua forma cetônica (Fig. 22), forçando a reação para a síntese do ATP. Sendo uma reação da piruvato quinase essencialmente irreversível, sob condições intracelulares, é importante um sítio de regulação, como será descrito adiante. A via glicolítica, como qualquer via metabólica, possui pontos de controle característicos, que podem “desativar”, se o organismo não tiver necessidade imediata de seus produtos, o que torna esse sistema econômico. Nessa via Figura 22. Tautomerização do piruvato. Química e metabolismo dos carboidratos 41 destacam-se três reações, que são pontos de controle. A primeira é reação da glicólise para glicose-6-fosfato, catalisada pela hexoquinase; a segunda é a produção de frutose-1,6-bisfosfato, catalisada pela fosfofrutoquinase; a última é a reação de fosfoenolpiruvato a piruvato, catalisada pela piruvato quinase. (Fig. 23). Oxigênio molecular não está envolvido na glicólise, o processo de oxidação acontece com a remoção de elétrons pelo NAD+ (nicotinamida adenina dinucleotídio, produzindo NADH) de alguns dos carbonos derivados da molécula de glicose. A natureza das etapas do processo permite que a energia da oxidação seja liberada em pequenas quantidades, de maneira que a maior parte dela possa ser armazenada em moléculas transportadoras, em vez de ser totalmente liberada na forma de calor. Assim, parte da energia liberada na oxidação é utilizada diretamente na síntese de moléculas de ATP (adenosina trifosfato) a partir de ADP (adenosina difosfato e Pi (fósforo inorgânico, PO3 2-), e parte é retida nos elétrons, na forma de transportador de elétrons de alta energia , o NADH. Figura 23. Ponto de controle da glicólise. unidade 142 1.2.7 Glicólise anaeróbica A glicólise anaeróbica, embora liberando somente uma pequena fração da energia contida na molécula de glicose, é uma valiosa fonte de energia sob várias condições, incluindo aquelas em que o suprimento de oxigênio é limitado, como no músculo durante o exercício intensivo, ou em tecidos com poucas ou nenhuma mitocôndria, como a medula renal, eritrócitos maduros e leucócitos. Como a quantidade de NADH é limitada e ele é necessário na sua forma oxidada (NAD+) na glicólise e, consequentemente, na continuação do processo de produção de energia, o NADH tem que ser oxidado, e a forma como ele será oxidado caracteriza o tipo de fermentação. Dessa forma, não existe produção ou consumo de NADH: o NADH formado pelo gliceraldeído desidrogenase é usado pelo lactato desidrogenase para reduzir o piruvato em lactato. Esta enzima encontra-se presente em uma variedade de organismos, incluindo plantas e animais. Duas moléculas de lactato são produzidas para cada molécula de glicose metabolizada. (Fig. 24). Glicose + 2Pi + 2ADP → 2Lactato + 2ATP +2H2O A fermentação alcoólica produz ácido pirúvico, que no meio celular se encontra ionizado na forma de piruvato, que sofre descarboxilação (perda de um átomo de carbono, na forma de CO2), pela ação de uma enzima (piruvato descarboxilase), formando aldeído acético. Este aldeído sofre redução, oxidando o NADH para NAD+ e formando o etanol, processos intermediados pela enzima álcool desidrogenase, que se encontra presente em muitos organismos que metabolizam o álcool, incluindo o homem. No fígado humano, ela catalisa a oxidação do etanol, quer seja ele ingerido, Figura 24. Piruvato formando lactose. Química e metabolismo dos carboidratos 43 quer seja produzido por microorganismos intestinais, com a concomitante redução do NAD+ para NADH. (Fig. 25). 1.2.8 Gliconeogênese Os carboidratos são as biomoléculas mais abundantes na natureza, sendo a glicose o carboidrato mais importante para as células. Ela é degradada através da via catabólica, a glicólise que a converge para entrar no ciclo do ácido cítrico e ceder seus elétrons para a cadeia respiratória. O fluxo exergônico de elétrons até o oxigênio está acoplado à síntese endergônica do ATP. O catabolismo e o anabolismo ocorrem simultaneamente, em um estado estacionário dinâmico, de tal forma que a liberação de energia, através da degradação celular, é contrabalançada pelos processos biossintéticos, que recriam e mantêm o ordenamento intrincado das células vivas. As vias anabólicas e catabólicas correlacionadas são controladas através da regulação de uma ou mais das reações diferentes e exclusivas de cada uma delas. Estudaremos agora a via anabólica de síntese de glicose, a gliconeogênese que usa a energia química, na forma de ATP ou NADH, para sintetizar glicose a partir de moléculas precursoras simples. A biossíntese da glicose é uma necessidade absoluta nos mamíferos, porque o cérebro e o restante do sistema nervoso, bem como a medula renal, testículos, eritrócitos e tecidos embrionários, necessitam da glicose fornecida através do sangue como sua principal, ou mesmo única, fonte de energia. O cérebro humano sozinho requer mais de 120g de glicose por dia. Figura 25. Formação de etanol. unidade 144 A gliconeogênese é uma via universal, encontrada em todos os animais, vegetais, fungos e microrganismos, e as reações que dela fazem parte são as mesmas em todos os casos. Os precursores importantes da glicose nos animais são o lactato, o piruvato, o glicerol e a maioria dos aminoácidos. (Fig. 26). A glicose e seus derivados são precursores na síntese das paredes celulares vegetais, nucleotídeos e coenzimas e de uma grande variedade de Figura 26. Nos animais e também nos vegetais, a via do fosfoenolpiruvato até a glicose 6-fosfato é comum na conversão biossintética em carboidratos de muitos precursores diferentes. Os vegetais e as bactérias são os únicos detentores da capacidade de converter CO2 em carboidratos. Química e metabolismo dos carboidratos 45 outros metabólitos essenciais. Muitos microrganismos são capazes de crescer em compostos orgânicos simples como acetato, lactato e propionato, os quais podem ser convertidos em glicose através da gliconeogênese. Embora as reações da gliconeogênese sejam as mesmas em todos os organismos vivos, o contexto metabólico e a regulação da via diferem de espécie para espécie e de tecido para tecido. Estudaremos a gliconeogênese e a forma como ela ocorre no fígado dos mamíferos. Assim como a conversão glicolítica da glicose em piruvato é uma via central do catabolismo dos carboidratos, a conversão de piruvato em glicose é uma via central na gliconeogênese. Nos animais as duas vias ocorrem, principalmente no citossol, e há necessidade de serem reguladas de forma recíprocae coordenada. Embora estas vias compartilhem vários passos intermediários, elas não são idênticas. (Fig. 27); sete das 10 reações enzimáticas da gliconeogênese são, na realidade, inversões de reações da glicólise. Figura 27. As vias opostas da glicólise e da gliconeogênese no fígado do rato. As três reações da gliconeogênese que contornam os passos irreversíveis da glicólise estão em vermelho. unidade 146 Entretanto, três passos na glicólise são essencialmente irreversíveis in vivo e não podem ser empregadas na gliconeogênese: a conversão de glicose em glicose 6-fosfato pela hexoquinase, a fosforilação da frutose 6-fosfato em frutose 1,6-bifosfato através da fosfofrutoquinase-1 e, finalmente, a conversão de fosfoenolpiruvato em piruvato pela piruvato quinase. (Fig. 27). Na gliconeogênese esses três passos são contornados por um conjunto separado de enzimas, que catalisa reações que são suficientemente exergônicas para serem efetivamente irreversíveis, na direção da síntese da glicose. Assim, glicólise e gliconeogênese são processos irreversíveis nas células e regulados de forma independente através de controles exercidos, em passos enzimáticos específicos de cada uma das vias. 1.2.9 Transformação de piruvato em fosfoenolpiruvato A primeira das reações a serem contornadas na gliconeogênese é a conversão do piruvato em fosfoenolpiruvato. Esta conversão não pode ocorrer por simples inversão da reação da piruvato quinase, pois ela tem uma variação de energia livre padrão grande e negativa, e é irreversível sob as condições que existem no interior das células intactas. Assim, a fosforilação do piruvato é conseguida por uma sequência de reações que, nos mamíferos e em alguns outros organismos, requer a participação de enzimas existentes tanto no citossol quanto no interior das mitocôndrias. Como veremos, na Fig. 28, o piruvato é transportado do citossol para a mitocôndria, ou gerado no interior da mitocôndria por desaminação da alanina. Então, a piruvato carboxilase, uma enzima mitocondrial que requer a coenzima biotina, converte o piruvato em oxaloacetato: Piruvato + HCO3- + ATP→oxaloacetato + ADP + Pi + H + Figura 28. Primeiro passo da gliconeogênese. Química e metabolismo dos carboidratos 47 A piruvato carboxilase é a primeira enzima reguladora na via gliconeogênica; a acetil-CoA é necessária como efetor alostérico positivo. O oxaloacetato, formado do piruvato, é reversivelmente reduzido a malato pela malato desidrogenase mitocondrial e com o consumo de NADH: Oxaloacetato + NADH + H+ ⇔ L-malato + NAD+ a malato desidrogenase mitocondrial funciona em ambas as vias, gliconeogênese e ciclo do ácido cítrico, muito embora o fluxo de metabólitos seja oposto em cada uma delas. A seguir, o malato abandona a mitocôndria através do transportador malato-α-cetoglutarato presente na membrana mitocondrial interna. No citossol o malato é reoxidado em oxaloacetato, com a produção de NADH citossólico: Malato + NAD+ ⇔ oxaloacetato + NADH + H+ O oxaloacetato é então convertido em fosfoenolpiruvato (PEP) pela fosfoenolpiruvato carboxiquinase através de uma reação dependente de Mg2+ na qual o GTP funciona como fosfato doador: Oxaloacetato + GTP ⇔ ⇔ fosfoenolpiruvato + CO2 + GTP Assim, para fosforilar uma molécula de piruvato em fosfoenolpiruvato, precisa consumir dois grupos fosfato de alta energia (um do ATP e outro do GTP). Em contraste, quando o fosfoenolpiruvato é convertido em piruvato durante a glicólise, apenas um ATP é gerado de ADP. O CO2 perdido na reação da fosfoenolpiruvato carboxiquinase é a mesma molécula que é adicionada ao piruvato no passo catalisado pela piruvato carboxilase. (Fig. 28). Esta sequência de carboxilação-descarboxilação representa uma forma de “ativar” o piruvato, uma vez que a descarboxilação do oxaloacetato facilita a formação do fosfoenolpiruvato. Existe uma lógica na ocorrência dessas reações no interior da mitocôndria. A relação [NADH]/[NAD+] no citossol é 105 vezes menor que na mitocôndria. Como o consumo citossólico de NADH é obrigatório na gliconeogênese (na conversão de 1,3-bifosfoglicerato em gliceraldeído 3-fosfato) (Fig. 2), a biossíntese da glicose não pode ocorrer até que o NADH seja colocado em disponibilidade. O transporte do malato da mitocôndria para o citossol e sua conversão para oxaloacetato têm o efeito de remover equivalentes redutores, na forma de NADH, para o citossol, onde eles são escassos. Portanto, esta transformação do piruvato para o fosfoenolpiruvato providencia um importante equilíbrio entre a produção e o consumo de NADH no citossol, durante a gliconeogênese. unidade 148 1.2.10 - Transformação de frutose-1,6-bifosfato em frutose 6-fosfato é o segundo desvio A segunda reação da via glicolítica, que não pode participar do processo da gliconeogênese, é a fosforilação da frutose 6-fosfato pela fosfofrutoquinase-1. Como esta reação é muito exergônica, ela é irreversível nas células intactas e a geração de frutose 6-fosfato a partir de frutose 1,6-bifosfato é catalisada por uma enzima diferente: a frutose-1,6-bifosfatase, dependente de Mg2+. Frutose 1,6-bifosfato + H2O → frutose 6-fosfato + P 1.2.11 - Transformação de glicose-6-fosfato em glicose livre é o terceiro desvio O terceiro desvio é a reação final da gliconeogênese, a defosforilação da glicose 6-fosfato para liberar glicose livre. A reversão da reação da hexoquinase requereria a transferência de um grupo fosforil da glicose 6-fosfato para o ADP, com formação de ATP, uma reação energeticamente desfavorável. A reação catalisada pela glicose 6-fosfatase não requer a síntese de ATP e é a hidrólise simples de um éster fosfórico: Glicose 6-fosfato + H2O → glicose + Pi 1.2.12 - A gliconeogênese é energeticamente custosa Para cada molécula de glicose formada a partir do piruvato, seis grupos fosfatos de alta energia são consumidos, quatro na forma de ATP e dois na forma de GTP. Em adição, duas moléculas de NADH são necessárias para a redução de duas moléculas de 1,3-bifosfoglicerato. Conforme a equação: Glicose + 2ADP + 2Pi + 2NAD + ⇒ 2 piruvato + 2ATP + 2NADH + 2H+ + 2H2O Desta forma, a síntese da glicose a partir do piruvato é um processo relativamente custoso. A maior parte deste alto custo energético é necessária, para assegurar que a gliconeogênese seja irreversível. 1.2.13 Intermediários do ciclo do ácido cítrico e muitos aminoácidos são glicogênios A via biossintética até a glicose permite a síntese líquida de glicose não apenas de piruvato, mas, também, dos intermediários do ciclo do ácido cítrico: citrato, isocitrato, α-cetoglutarato, succinato, succinil-CoA, fumarato e malato, todos podendo ser oxidados em oxaloacetato. Química e metabolismo dos carboidratos 49 Tabela 1. Aminoácidos para gliconeogênese Aminoácidos glicogênicos Piruvato Fumarato α- etoglutarato Succinil-CoA Oxaloacetato Alanina Fenilalanina *Arginina Leucina* Asparagina Cisteína Tirosina Glutamato Isoleucina* Asparato Glicina Glutamina Metionina Serina Histidina Valina Treonina Triptofano *Prolina Os átomos de carbono de muitos aminoácidos derivados de proteínas são convertidos em piruvato ou certos intermediários do ciclo do ácido cítrico, chamados de aminoácidos glicogênicos. (Tabela 1 e Fig. 29). A alanina e a glutamina fazem contribuições especialmente importantes, pois são empregadas no transporte de grupos amino dos tecidos extra-hepáticos até o fígado. Na mitocôndria hepática, estes aminoácidos são removidos os grupos que contêm nitrogênio para formação de ureia. Os esqueletos carbônicos * Estes aminoácidos são precursores da glicose sanguínea ou do glicogênio hepático, porque eles podem ser convertidos em piruvato ou intermediários do ciclo do ácido cítrico. Apenas a leucina e a lisina são totalmente incapazes de fornecer carbonos para a síntese da glicose.*Estes aminoácidos também são cetogênicos. Fonte: MARZZOCO, A., TORRES, B.B., 2007. Figura 29. Esquema de aminoácido glicogênico e cetogênicos. unidade 150 remanescentes da alanina formam piruvato que são rapidamente canalizados para a gliconeogênese e do α-cetoglutarado são recuperados a partir do glutamato e entram no ciclo de Krebs. Em contraste, não há, nos mamíferos, conversão real, líquida, de ácidos graxos de número par de átomos de carbono em glicose, porque tais ácidos graxos liberam apenas acetil-CoA na clivagem oxidativa e a acetil-CoA não pode ser empregada como precursora da glicose pelos mamíferos. 1.2.14 Gliconeogênese e a glicólise são reguladas reciprocamente Para assegurar que as necessidades metabólicas serão satisfeitas e que ciclos fúteis não ocorram em condições normais, a gliconeogênese e a glicólise são reguladas de maneira separada e recíproca. O primeiro ponto de controle determina o destino do piruvato para mitocôndria. O piruvato pode ser convertido em acetil-CoA. A acetil-CoA é um modulador alostérico positivo da piruvato carboxilase e um modulador negativo da piruvato desidrogenase. (Fig. 30). Quando as necessidades energéticas da célula estão sendo atendidas, a fosforilação oxidativa desacelera, o NADH se acumula e inibe o ciclo do ácido cítrico, o que provoca aumento da concentração da acetil-CoA. Esta concentração aumentada de acetil-CoA inibe o complexo da piruvato desidrogenase, diminuindo a formação da acetil-CoA proveniente do piruvato e estimula a gliconeogênese por ativação da piruvato carboxilase. Isto permite que o excesso de piruvato seja convertido em glicose. O segundo ponto de controle na gliconeogênese é a reação catalisada pela frutose 1,6-bifosfatase, que é fortemente inibida por AMP. A enzima glicolítica correspondente, a fosfofrutoquinase-1, é estimulada por AMP e ADP, mas inibida por citrato e ATP, de tal forma que esses passos, opostos nas duas vias, são regulados de maneira coordenada e recíproca. Quando estão presentes concentrações suficientes de acetil-CoA ou do produto da condensação da acetil-CoA com o oxaloacetato (citrato), ou ainda, quando uma alta proporção do adenilato da célula está na forma de ATP, a gliconeogênese é favorecida. O papel especial do fígado na manutenção do nível de glicose constante no sangue necessita de mecanismos reguladores para coordenar a produção e o consumo de glicose. Quando o nível de glicose sanguínea diminui, o hormônio glucagon sinaliza ao fígado para produzir e liberar mais glicose. A fonte de glicose é o glicogênio armazenado no fígado e a outra fonte é a gliconeogênese. Química e metabolismo dos carboidratos 51 A regulação hormonal da glicólise e da gliconeogênese no fígado é mediada pela frutose-2,6-bifosfato, efetor alostérico para as enzimas fosfofrutoquinase-1. Quando a frutose 2,6-bifosfato une-se ao seu sítio alostérico na PFK-1, ela aumenta a afinidade desta enzima pelo seu substrato frutose 6-fosfato e reduz sua afinidade pelos seus inibidores alostéricos, o ATP e o citrato. Portanto, a frutose 2,6-bifosfato ativa a PFK-1 e estimula a glicólise no fígado. Ao mesmo tempo a frutose 2,6-bifosfato inibe a FBPase-1 e desta forma desacelera a gliconeogênese. (Fig. 27). 1.3 Síntese 1. Carboidratos (também conhecidos como hidratos de carbono, glicídios, glucídeos, glúcidos, glúcides, sacarídeos ou açúcares) são as biomoléculas mais abundantes na natureza, constituídas principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio, podendo apresentar nitrogênio, fósforo ou enxofre em sua composição. Estas oses são aldeidos (aldoses) ou cetonas (cetoses) com duas ou mais hidroxilas. Uma ose pertence à série D se a configuração absoluta Figura 30. Pontos de regulação. unidade 152 de seu carbono assimétrico, mais distante do aldeido ou cetona, for a mesma do D-gliceraldeído. Quase todas as oses de ocorrência natural pertencem à série D. O aldeido em C-1, na forma da glicose em cadeia aberta, reage com a hidroxila em C-5, formando um anel de piranose com seis carbonos. A cetona em C-2, na forma da frutose em cadeias aberta, reage com a hidroxila em C-5, formando um anel de furanose com cinco carbonos. A hidroxila ligada ao carbono anômero fica abaixo do plano do anel no anômero α, e fica acima do anel no anômero β. As oses se unem a álcoois e aminas por ligação glicosídica partida do carbono anômero. Por exemplo, ligações glicosídicas ligam as oses umas às outras no di e poli-holosídeos. A sacarose, lactose e maltose são os dissacarídeos mais comuns. A lactose é constituída de galactose e glicose, a sacarose de glicose e frutose, enquanto a maltose são duas moléculas de glicose. O amido é um polímero de glicose unido por ligações α 1-4 glicosídicas, com função de reserva vegetal e o glicogênio se presta a função semelhante em animais. A celulose, o principal polímero estrutural da parede celular vegetal, é feito de unidades de glicose unidas por ligações β-1-4 glicosídicas. Os carboidrados desempenham diversas funções, sendo a principal como fonte energética. Também atuam como elementos estruturais e de proteção na parede celular das bactérias, fungos e vegetais, bem como em tecidos conjuntivos e envoltório celular de animais. Agem como lubrificantes das articulações esqueléticas e fornecem coesão entre as células. Podem funcionar como sinalizadores celulares. Alguns carboidratos, como a ribose e a desoxirribose, fazem parte da estrutura de nucleotídeos e dos ácidos nucléicos. 2. O metabolismo dos carboidratos é fundamental para os organismos vivos e está concentrado na molécula de glicose, porque esse acúçar é um combustível para a maioria dos tecidos animais. A glicose é degradada por uma via, denominada de glicolítica. A degradação da glicose resulta na produção imediata de energia, que depois é armazenada como glicogênio (em células animais) ou como amido (em células vegetais). Durante a glicólise (sequência de 10 reações), a glicose é fosforilada e clivada para formar duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato. Cada gliceraldeído 3-fosfato é, então, convertido em uma molécula de piruvato. Uma pequena quantidade de energia é armazenada em molélulas de ATP e NADH. Em organismos anaeróbicos, o piruvato Química e metabolismo dos carboidratos 53 é reduzido a lactato. Durante esse processo, o NAD+ é regenerado para a continuação da via glicolítica. Na presença de O2, os organismos aeróbicos convertem o piruvato, a acetil-CoA e, então o CO2 e H2O. A via glicolítica é regulada principalmente pela regulação alostérica de três enzimas (hexoquinase, fosfofrutoquinase-1 (PFK-1) e piruvato quinase) e pelos hormônios insulina e glucagon. Durante a gliconeogênese, moléculas de glicose são sintetizadas a partir de precursores não carboidratos (lactato, piruvato, glicerol e certos aminoácidos). As sequências de reações correspondem às reações da via glicolítica, mas no sentido inverso. As três reações irreversíveis da via glicolítica (síntese de piruvato, conversão da fruto 1,6-bifosfato a frutose 6-fosfato e a formação de glicose a partir da glicose 6-fosfato) são substituídas, na gliconeogênese, por reações energeticamente favoráveis. 1.4 Exercício de fixação 1. Faça as estruturas dos substratos e produtos das reações glicolíticas, dê o nome da enzima que catalisa cada etapa e indique se há ATP ou NADH participando na reação. 2. Qual reação é a principal etapa da glicólise, determinante da velocidade e como a sua velocidade é regulada em mamíferos? 3. Qual é o saldo energético (ATPs) quando da fermentação anaeróbica da glicose? 4. Como são aproveitados os carbonos do etanol? Etanol engorda? Por que se acredita que o etanol em excesso produz (a) acidose e (b) interfere com a gliconeogênese, levando ao coma? 5. Até aproximadamente quantas horas dura a reserva de glicogênio hepático? Que via permite a continuidade do metabolismo cerebral? Quais reações da glicólise são substituídas para que a
Compartilhar