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Direitos Humanos | Material de Apoio Prof. Tiago Correia AULA 1 1. CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS Direitos humanos são “os direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, aqueles essenciais a uma existência digna, tendo por finalidades protegê-la tanto em face do Estado quanto em face dos seus próprios semelhantes”. 2. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA A dignidade não é um direito da pessoa. Ela é um atributo que nasce e é inerente a todo e qualquer ser humano. Ou seja, basta pertencer à espécie humana para possuí-la. Se nós, enquanto pessoas, possuímos direitos humanos, é porque (todos nós) somos dotados de dignidade. É a partir e por causa dela que os nossos direitos se originam. Por estas e outras, partindo da premissa de que a dignidade do ser humano é um atributo presente em toda e qualquer pessoa, bem como, de que os direitos humanos encontram nela o seu fundamento, o professor José Afonso da Silva a conceitua como sendo: Um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais da pessoa, desde o direito à vida. 3. DIREITOS HUMANOS versus DIREITOS FUNDAMENTAIS As expressões “direitos humanos e direitos fundamentais” tratam da mesma coisa? Referem-se, de fato, ao mesmo ideal? Em última análise a resposta é sim, à despeito da existência, segundo alguns estudiosos, de uma sutil diferença. Acompanhe o raciocínio: A terminologia direitos humanos é utilizada nos tratados e documentos internacionais de proteção a pessoa humana. Noutros dizeres, é uma expressão de matriz internacional. Designa os postulados de proteção ao ser humano reconhecidos internacionalmente! Por sua vez, o termo direitos fundamentais representa “os direitos humanos positivados no texto de uma Constituição”, ou seja, é uma expressão de viés interno ou nacional. Indica os direitos humanos protegidos internamente! O conteúdo destas expressões, perceba, é o mesmo (materialmente falando, ambas tem por objetivo proteger a dignidade humana), razão pela qual entendo que elas, visivelmente, tratam da mesma ideologia, uma vez que os direitos fundamentais, em última análise, decorrem, direta ou indiretamente, dos direitos humanos. 4. CARACTERISTICAS DOS DIREITOS HUMANOS Os estudiosos apresentam inúmeras características para os direitos humanos. Eis algumas delas: Universalidade, Historicidade, Indisponibilidade (Inalienabilidade e Irrenunciabilidade), Relatividade, Imprescritibilidade, Efetividade, Complementaridade (Interdependência) e Indivisibilidade. UNIVERSALIDADE: traduz a ideia de que os direitos humanos são universais, isto é, “onde existir ser humano haverá direitos humanos”. HISTORICIDADE: traduz a ideia de que os direitos humanos são HISTÓRICOS, ou seja, eles “nascem, se modificam e se afirmam com o passar do tempo”. INDISPONIBILIDADE: traduz a ideia de que os direitos humanos são INDISPONÍVEIS, isto é, deles a pessoa humana não poderá dispor, deles ela não poderá “abrir mão”. Sendo mais claro, os direitos humanos não admitem cessão (que é o ato de ceder), seja ela gratuita ou onerosa (mediante paga). A INDISPONIBILIDADE, vale registrar, dá origem a outras duas particularidades dos direitos humanos, quais sejam: a INALIENABILIDADE e a IRRENUNCIABILIDADE. RELATIVIDADE: traduz a ideia de que os direitos humanos são RELATIVOS, via de consequência, “não são absolutos”. IMPRESCRITIBILIDADE: traduz a ideia de que os direitos humanos são IMPRESCRITÍVEIS. Nesses termos, afirmar que os direitos humanos não prescrevem é sustentar, na verdade, que o exercício de um direito humano não está submetido a um prazo pré – determinado. O exercício em si não prescreve. Direitos Humanos | Material de Apoio Prof. Tiago Correia EFETIVIDADE: traduz a ideia de que os direitos humanos são EFETIVOS, vale dizer, podem ser exercidos imediatamente e, além disso, de imediato devem ser cumpridos, independentemente de provocação. COMPLEMENTARIDADE: os direitos humanos se COMPLEMENTAM mutuamente entre si, de forma que o conteúdo de um direito humano é, por vezes, complementado pelo conteúdo de outro, a fim de que se tornem ainda mais efetivos e exigíveis. INDIVISIBILIDADE: os direitos humanos são INDIVISÍVEIS na medida em que, juntos, formam um sistema uno, harmonioso e seguro de direitos e garantias que procuram assegurar à pessoa humana uma vida digna, razão pela qual todos os direitos humanos “devem ter a mesma proteção jurídica. 5. GERAÇÕES OU DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS 1ª GERAÇÃO - LIBERDADE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS A 1ª geração ou dimensão dos direitos humanos guarda relação com o valor LIBERDADE. Surge com as Revoluções Americana e Francesa – se universalizando com esta última. São os chamados DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, dos quais são exemplos: a VIDA, a LIBERDADE, a PROPRIEDADE, a PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, a SEGURANÇA. ATENÇÃO! Os direitos civis e políticos, 1ª geração ou dimensão, ligados ao valor LIBERDADE, são também denominados de: LIBERDADES NEGATIVAS; DIREITOS INDIVIDUAIS; ou DIREITOS DE LIBERDADE. Ocorre que a LIBERDADE propugnada nessa época gerou extrema DESIGUALDADE. É que os direitos civis e políticos não eram assegurados a todos indistintamente. Os ideais da época, é verdade, se espalharam mundo afora, mas a ideologia de LIBERDADE, já que de fato concedida à apenas uma pequena parcela da população, acabou criando um ambiente de muita DESIGUALDADE. Pense: a sociedade livre faz o que bem entende, com quem bem entende e da forma que melhor lhe convier. Se o Estado não intervém na vida privada, a tendência natural é de que os mais fortes “escravizem” os mais fracos, por exemplo. Daí que, e diferente não poderia ser, esse tenebroso cenário fez surgir movimentos sociais (são exemplos, os movimentos ludista e cartista) que contextualizaram, no século XIX, lutas por direitos e, principalmente, por igualdade de tratamento, dando ensejo à chamada Revolução Industrial. E é justamente a Revolução Industrial que vai marcar o surgimento da 2ª geração ou dimensão dos direitos humanos, os chamados DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, ligados ao valor IGUALDADE, dos quais são exemplos: o TRABALHO, a MORADIA DIGNA, a SAÚDE, a EDUCAÇÃO, o SALÁRIO MÍNIMO. Logo: 2ª GERAÇÃO - IGUALDADE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS Esclareça-se que os direitos econômicos, sociais e culturais, 2ª geração ou dimensão, dos direitos humanos, ligados ao valor IGUALDADE, são também denominados de: i. LIBERDADES POSITIVAS; ou ii. DIREITOS DE IGUALDADE. Na sequência, o fim da Segunda Guerra Mundial, por sua vez, vai marcar uma reviravolta na tutela dos direitos essenciais da pessoa humana. As barbaridades ocorridas, o holocausto, o sentimento de comoção com as atrocidades vão aproximar as diversas nações mundiais, fazendo nascer um espírito de FRATERNIDADE, de SOLIDARIEDADE entre os povos. Surge a percepção de que alguns direitos não pertenceriam à pessoa humana individualmente considerada, já que muitos deles eram titularizados pela própria coletividade. É o nascimento da 3ª geração ou dimensão dos direitos humanos, chamada de DIREITOS DE SOLIDARIEDADE, ligada ao valor FRATERNIDADE. Direitos Humanos | Material de Apoio Prof. Tiago Correia Confira: 3ª GERAÇÃO – FRATERNIDADE DIREITOS DE SOLIDARIEDADE Aqui, a preocupação, repita-se, é com a COLETIVIDADE. São exemplos de direitos de 3ª geração: o DIREITO AO MEIO AMBIENTE SADIO, o DIREITO AO DESENVOLVIMENTO e o DIREITO À PAZ MUNDIAL. Note, são direitos que transcendem a individualidade humana, pertencendo, na verdade, a toda a COLETIVIDADE. ATENÇÃO! Os direitos de solidariedade, 3ª geração ou dimensão, ligados ao valor FRATERNIDADE, são também denominados de: 1- DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS; ou 2- DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS. Feita essa análise acerca das três primeiras gerações, é necessário destacar que os estudiosos, atualmente, têm feito menção à, pelo menos, outras duas fases deevolução dos direitos humanos, respectivamente, as 4ª e 5ª gerações ou dimensões. Contudo, em relação a elas os estudiosos não são unânimes, na medida em que existem divergências sobre quais seriam os direitos que constituiriam a 4ª geração e quais os que comporiam a 5ª geração. Estudá-las-emos então. 4ª GERAÇÃO Como dito, não há, diferentemente do que existe em relação às três primeiras dimensões, uniformidade no estabelecimento de quais são os direitos que a compõem, nem mesmo eventual marco ou acontecimento que tenha norteado o seu surgimento. No entanto, emergem 2 (dois) posicionamentos que procuram aclarar a questão: 1ª posicionamento: Segundo o professor Paulo Bonavides, a 4ª geração ou dimensão dos direitos humanos existe e é formada pelos direitos à DEMOCRACIA, INFORMAÇÃO e PLURALISMO, que seriam decorrentes da chamada globalização política; 2ª posicionamento: Por outro lado, para o professor Norberto Bobbio, “já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de direitos de quarta geração, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”. Seria, na posição do festejado estudioso, o DIREITO À INTEGRIDADE DO PRÓPRIO PATRIMÔNIO GENÉTICO. Sob a ótica de Norberto Bobbio, questões envolvendo pesquisas com células-tronco embrionárias, por exemplo, estariam contextualizadas nessa 4ª geração ou dimensão. A mesma indefinição, ressalte-se, é notada em relação à 5ª dimensão. Acompanhe: 5ª GERAÇÃO Aqui, da mesma forma que na 4ª geração, emergem duas posições que objetivam apontar os direitos que a constituiriam: 1ª posição: Para o já citado professor Paulo Bonavides, a 5ª geração ou dimensão dos direitos humanos é formada pelo DIREITO À PAZ MUDIAL, por conta do insaciável clima de hostilidade e da cada vez mais crescente sensação de insegurança mundial. Contudo, uma observação é necessária: dissemos há pouco que a PAZ constituiria um exemplo de direito humano de 3ª geração ou dimensão, lembra-se?! E algumas provas seguem essa tendência. Logo, muito cuidado. A PAZ é, de fato, um direito de solidariedade, direito difuso, portanto, 3ª geração. Só que como ainda não a alcançamos plenamente, mundialmente falando, ela é alocada, por Paulo Bonavides, na 5ª geração. Atenção então na prova! 2ª posição: Para outros estudiosos, a exemplo de Irving William Chaves Holanda, a 5ª geração é formada pelos DIREITOS DA REALIDADE VIRTUAL ou CIBERNÉTICA, relacionados com a inclusão digital da população. Poderíamos, com isso, falar em direito de acesso a um computador e/ou à internet, lembrando que a ONU, inclusive, já reconheceu o acesso à internet como um direito humano, posto que decorrência direta do direito de acesso à informação. Direitos Humanos | Material de Apoio Prof. Tiago Correia 6. MARCOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS É possível enumerar várias situações que, ao longo dos anos, se identificaram de alguma maneira com o processo de internacionalização dos direitos humanos. Seguiremos, porém, a orientação da professora Flavia Piovesan que, de modo bastante criterioso, identifica três marcos históricos e os apresenta como sendo os eventos pioneiros desse contexto, são eles: i. DIREITO HUMANITÁRIO; ii. LIGA DAS NAÇÕES; e iii. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Além dos MARCOS HISTÓRICOS acima, alguns concursos públicos e exames aplicados Brasil afora vêm apontando a existência de outros acontecimentos igualmente importantes para o processo de internacionalização dos direitos humanos, quais sejam eles: i. ILUMINISMO; ii. REVOLUÇÃO FRANCESA; e iii. SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
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