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DANIEL AULA 2 Prof. Antonio Carlos da Silva 2 CONVERSA INICIAL Quando a Babilônia conquistou Jerusalém, por volta do ano 586 a.C, ela levou cativo um grande número de judeus, que deixaram sua pátria e passaram a viver sob o jugo do vasto Império Babilônico. As autoridades políticas e as divindades reverenciadas pelos babilônicos agora deveriam ser veneradas também pelos judeus. Entretanto, em algumas ocasiões surgiram tensões, e os judeus foram desafiados a desobedecer às autoridades babilônicas e medo-persas, sofrendo algumas punições. Em meio a elas, o Deus de Israel se manifestou, intervindo sobrenaturalmente para preservar a vida dos judeus. Para pensarmos nos eventos ocorridos com o povo judeu no cativeiro babilônico, é importante recordar que Jeremias profetizou que o cativeiro seria longo (Bíblia. Jeremias, [S.d.], 29: 4-8) e que os judeus deveriam construir, plantar e se multiplicar. Eles deveriam desenvolver uma vida normal e teriam que confiar no seu Deus em todas as circunstâncias. Uma vez cativos, eles foram postos à prova em relação às suas convicções religiosas e culturais, e, em meio às diversas provas, descritas nos capítulos 2, 3 e 6 (Bíblia. Daniel, [S.d.], 2, 3, 6), contaram com intervenções sobrenaturais do seu Deus. Os capítulos 4 e 5 (Bíblia. Daniel, [S.d.], 4, 5) apresentam intervenções ligadas ao reino babilônico. Em ambos os capítulos, relata-se o comportamento de autoridades babilônicas que desagradam ao Deus de Israel e, por isso, acabam por sofrer punições. Na primeira delas, ainda há oportunidade de retomada do reino, mas, na segunda, coloca-se fim ao reino babilônico. Vejamos, então, como ocorreram essas intervenções. TEMA 1 – REVELAÇÃO DO SONHO DE NABUCODONOSOR (CAP. 2) O início do capítulo 2 de Daniel apresenta uma data para o fato ocorrido: “no segundo ano do reinado de Nabucodonosor” (Bíblia. Daniel, [S.d.], 2: 1). Se Jerusalém foi sitiada no ano 607 a.C, já haviam se passado quatro anos e pode- se pensar que Nabucodonosor estaria meditando como agir e avançar em suas conquistas, e também como deveria exercer o seu reinado. Nesse contexto, ele tem um sonho que o perturba e sai à procura de respostas no universo religioso babilônico, dotado de magos, encantadores, 3 feiticeiros e caldeus (todas as categorias de sábios) – alguém deveria apresentar o significado daquele sonho. Esse reino babilônico, também conhecido como Neobabilônico, teria iniciado no ano 626 a.C., e, na sua cultura, recorria-se a essas pessoas quando acontecia alguma coisa assim. O rei, com pressa, ameaça esse grupo de sábios de morte se não surgisse uma interpretação para seu sonho. Aparentemente, o sonho era tão importante para ele e seu império que a única prova da exatidão das interpretações seria recorrer aos sábios para obter deles uma reposta que acalmasse o seu espírito. Os sábios responderam ao rei que “não há ninguém sobre a terra que possa declarar a palavra ao rei” (2:10). Enfurecido, o rei decreta a morte para todos (2: 12). É nesse momento que surge a oportunidade para Daniel e seus amigos, que eram considerados sábios, de se apresentar ao rei e sugerir que lhes fosse dado um tempo para conseguir descobrir o que tinha sido o sonho e qual seria a sua interpretação. O rei aceita o pedido e passa a aguardar a resposta. Daniel e seus amigos recorrem à oração e aguardam pela manifestação do seu Deus. 1.1 O sonho (cap. 2, vers. 29-35) Após o término do período reivindicado por Daniel, ele se achega à presença do rei e diz o seguinte: “e a mim me foi revelado esse mistério” (2, 30). Daniel conta que Nabucodonosor sonhou com uma grande estátua basicamente dividida em cinco partes com cinco materiais distintos: a. A cabeça de fino ouro; b. O peito e os braços de prata; c. O ventre e os quadris de bronze; d. As pernas de ferro; e. Os pés parte de ferro e parte de barro. Além de descrever a forma da estátua e seus materiais, Daniel também fala da pedra que fere os pés da estátua e os esmiúça – o que, na verdade, acontece com todos os materiais descritos, que são esmiuçados e levados pelo vento. A pedra, porém, tornou-se uma grande montanha. Pode-se pensar que os materiais descritos apresentam durabilidade finita e que a pedra é algo totalmente resistente. Aqui, abre-se o horizonte para investigar qual seria a interpretação do sonho. 4 TEMA 2 – INTERPRETAÇÃO DO SONHO DE NABUCODONOSOR (CAP. 2) A interpretação do sonho é transmitida ao rei pelo próprio Daniel. Inicialmente, Nabucodonosor é identificado como um grande rei e como a cabeça de ouro da estátua. A partir da identificação do primeiro reino, a interpretação se volta para um tempo futuro, apontando o estabelecimento e a sucessão de reinos. Quanto a esses reinos, Daniel não indica de quem se trata, apenas relata que eles surgirão e se sucederão, já que, na ocasião do exílio, não era possível identificar quais nações viriam a ser tornar um império. Nabucodonosor fica admirado com a sabedoria de Daniel e o faz governador. 2.1 Perspectiva histórica Observando os fatos históricos que ocorreram no mundo geopolítico do primeiro ao quarto século a.C, podemos afirmar que Daniel se referia aos reinos Medo-Persa, Grego e Romano. Na verdade, o sonho de cunho profético identifica um e aponta outros quatro reinos gentílicos, tendo pessoas como líderes governamentais. A ascensão e a queda dos reinos identificam a finitude de cada império/reino. 2.2 Perspectiva escatológica Há quem entenda que o quinto reino ainda surgirá e remontará o Império Romano, porém de modo restaurado, nos séculos XX e XXI. Pode-se fazer alguns paralelos entre o Império Romano da época da primeira vinda de Cristo (Ungido/Messias) e o Império Romano restaurado no presente século preanunciando a segunda vinda de Cristo (governo unificado na Europa dotado de uma única moeda e com governantes aliançados por meio de acordos em prol de um governo central/único/regional, o que alguns estudiosos entendem como a União Europeia atual). Assim como ocorria no primeiro século da era cristã, as práticas descritas em meio aos romanos, no capítulo 1 de Romanos (Bíblia. Romanos, [S.d.], 1: 18-32), vêm ganhando proporção global no presente século. Trata-se da manifestação/proliferação de várias práticas violentas (na época e na profecia de Daniel vinculadas às batalhas por conquistas de territórios). 5 2.3 Perspectiva teológica Quando lemos o versículo 44 (Bíblia. Daniel, [S.d.], 2), vemos que, por fim, “o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído”. A expectativa aqui fica por conta da atuação do Messias/Cristo quando retornar à Terra e colocar tudo em ordem de acordo com o plano de Deus, que deseja ser reconhecido como único Deus e autoridade a ser adorado e reverenciado. Tanto no cenário religioso do reino da Babilônia como nos demais reinos ao longo da história da humanidade, a devoção a outros deuses e divindades sempre foi confrontada pelos autores bíblicos e também pelos seguidores dos ensinamentos bíblicos na era cristã. No presente século, embora haja uma predisposição para maior tolerância, não tem sido diferente. TEMA 3 – O LIVRAMENTO NA FORNALHA (CAP. 3) Quando lemos o capítulo 3 do livro de Daniel (Bíblia. Daniel, [S.d.], 3), podemos pensar nas intenções e motivações de Nabucodonosor, na importância de todas as autoridades governamentais e políticas estarem reunidas juntas, na atitude de Sadraque, Mesaque e Abednego de não obedecer ao decreto do rei que ordenava que todos se prostrassem diante da estátua e na aparição misteriosa de uma quarta “pessoa/anjo” quando os três são lançados na fornalha em virtude de sua desobediência. 3.1 Motivação de Nabucodonosor O referido capítulo 3 é, basicamente, a concretização literal do sonho do capítulo2. Não se menciona quanto tempo havia se passado entre o sonho e a execução da estátua. É possível pensar que a estátua foi erigida porque Nabucodonosor reivindicava a sua deificação ou que ela foi construída em honra ao deus Bel ou algum outro. Davidson (1997, p. 811) comenta que era costume dos reis assírios erigir estátuas de si mesmos, mas parece que esse não era o propósito de Nabucodonosor. 6 3.2 A presença de todas as autoridades O fato de todas as autoridades políticas estarem reunidas indica, por um lado, uma demonstração de reverência, obediência e submissão a Nabucodonosor, algo que comumente se repete no mundo da política. Por outro, tratava-se de um momento épico e obrigatório. Talvez houvesse quem não desejasse estar ali, mas todos se fizeram presentes. Poderia haver algum tipo de proveito para cada localidade representada. 3.3 A atitude dos judeus diante de um rei gentio A decisão de Sadraque, Mesaque e Abednego de não obedecer ao rei aponta um confronto entre religiões e tradições, além de questões culturais divergentes, afinal, o que era sagrado para os babilônicos não era para os judeus. Há quem entenda que, nesse evento, há um confronto entre a fé monoteísta e a politeísta, uma vez que o monoteísmo é o que perdura a história de Israel, embora não tenham sido poucos os momentos de apostasia. Outro fato a se pensar aqui é a ausência de Daniel: onde ele estaria, já que, após a interpretação do sonho do capítulo 2, torna-se uma figura política importante no reino babilônico? 3.4 A aparição sobrenatural na fornalha Sadraque, Mesaque e Abednego se negam a se prostrar diante da estátua, testemunhando publicamente diante de todas as autoridades e divindades do Império Babilônico a confiança no seu Deus, o Deus de Israel. A punição prevista era o lançamento na fornalha, mas, pela desobediência deliberada, a fornalha é aquecida sete vezes mais. A intervenção do Deus de Israel se dá numa forma visível dentro da fornalha: “vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus” (3: 25). Historicamente, essa aparição vem sendo interpretada como uma teofania (manifestação de Deus em forma corpórea em eventos específicos) ou ainda como a aparição de um anjo, que, por ser portador do brilho que há nos céus, age em favor dos três amigos e os preserva em meio ao fogo. 7 Entretanto, o indicado nesse momento é pensar que o autor do livro de Daniel menciona que houve uma intervenção. Eles foram protegidos e não sofreram nenhum tipo de dano. Se a interpretação for literal, houve um livramento em meio à prova, uma aparição sobrenatural, miraculosa, num mundo natural; se ela for figurada, pode se tratar de um ensinamento de que, em meio às provas mais difíceis, os judeus podiam continuar confiando no Deus Único, pois somente ele poderia socorrer em momentos extremamente difíceis naquele universo gentílico. Diante dessa intervenção, ao presenciar o livramento, o rei Nabucodonosor confessa publicamente: “Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, o qual enviou o seu anjo e livrou os seus servos” (3: 28). 3.5 A intervenção que afastou Nabucodonosor do trono Depois de passar pela experiência da revelação e da interpretação de seu sonho no capítulo 2 e presenciar o evento na fornalha no capítulo 3, o tempo passou e Nabucodonosor tem uma nova experiência de sonhar. Dessa vez, ele sonha com uma grande árvore que cresceu e chegou aos céus. Ao exigir uma interpretação, surge Daniel, que transmite ao rei o significado do sonho. Em virtude de seu orgulho por seu reino ter prosperado grandemente, ele acaba sofrendo uma intervenção pessoal. Por um período de sete tempos (não se sabe ao certo se foram sete anos literais), de alguma forma ele é afastado do seu reinado e somente depois do tempo profetizado é que retorna e volta a ocupar o trono. Há quem pense que ele adoeceu nesse período, mas não há registros disso na história do Império Babilônico. Conforme o relato bíblico, Nabucodonosor faz uma nova confissão: “louvo, exalço e glorifico ao Rei do céu [...] pode humilhar aos que andam na soberba” (Bíblia. Daniel, [S.d.], 4: 37). TEMA 4 – A ESCRITURA NA PAREDE (CAP. 5) O rei Belsazar dá um grande banquete a mil dos seus senhores e, havendo provado o vinho, mandou trazer os vasos de ouro e de prata, que Nabucodonosor, seu pai, tinha tirado do templo que estava em Jerusalém, para que bebessem neles o rei, os seus príncipes, as suas mulheres e concubinas. O fato repentino e intrigante relatado no capítulo cinco do livro de Daniel (Bíblia. 8 Daniel, [S.d.], 5) também pode ser visto como uma intervenção divina para pôr fim a um reino que havia extrapolado todos os limites. 4.1 O texto enigmático e sua interpretação Quando se lê todo o livro de Daniel, pode-se perguntar: quando realmente se findou o Império Babilônico? O surgimento da mão misteriosa sinaliza o fim desse império. Ela escreve na parede: Mene, mene, tequel e parsim. Para descobrir o significado do texto, a rainha Mãe aparece e diz a Belsazar: “há no teu reino um homem, no qual há o espírito dos deuses santos” (5: 11). Nesse momento do reino babilônico, ao que o contexto indica, Daniel já não exercia mais nenhuma função de destaque, e, então, é chamado para interpretar o texto. Belsazar poderia entender o significado literal da escrita, mas não o conceitual, e promete o terceiro lugar no reino a Daniel, que acaba lhe informando a interpretação literal do texto – contar, pesar (avaliar) e dividir. A interpretação exata é apresentada nos versículos 27 e 28: “Tequel: Pesado foste na balança, e foste achado em falta” e “Peres [parsim]: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas” (5: 27-28). 4.2 O fim do Império Babilônico O capítulo 5 relata que os dias de governo de Belsazar terminam numa noite de festa. De acordo com o dicionário bíblico Bíbliapedia (Belsazar, [S.d.]), o significado do nome Belsazar é Bel proteja o rei. A morte de Belsazar naquela mesma noite parece ter o intuito de mostrar que o deus Bel não pôde proteger o rei. O período exato da queda do império babilônico não é muito claro, mas o relato bíblico menciona que Dario, o medo, se apodera do reino (5: 31). Em 1853, foi descoberta uma tábua de argila na qual há uma oração de Nabonido pedindo por Belsazar. Há também um cilindro de argila que foi encontrado no Templo de Shamash, em Sippar, perto de Bagdá, na época do rei Ciro II. A conquista de Ciro é descrita na Crônica de Nabonido. Em escrita cuneiforme, na língua acádia, encontra-se o nome de Belsazar como o filho de Nabonido, último rei da Babilônia. Ele era o filho mais velho de Nabonido. Alguns estudiosos defendem que não há registro de Belsazar na história da Babilônia, pois o último rei teria sido Nabonido, e a lista de reis da Babilônia (lista de Reis 9 de Uruk) não menciona Belsazar como rei da Babilônia, mas identifica Ciro como sucessor de Nabonido, que reinou por 17 anos (555 a.C-539 a.C). TEMA 5 – O LIVRAMENTO NA COVA DOS LEÕES (CAP. 6) Nesse momento, há que se destacar a menção do autor a Dario, que teria assumido o trono do Império Persa em 521 a.C, após derrotar a casta de sacerdotes que assumira o poder. Dario tomou o reino da Babilônia, cumprindo a profecia anunciada no capítulo 2 no momento em que se interpreta o sonho. Ele dá continuidade aos planos de hegemonia universal de Ciro, procurando respeitar a liberdade de culto religioso e os costumes dos povos dominados. Considerado um gênio administrativo, reestrutura o império, dividindo-o em 20 regiões denominadas satrapias, com relativa autonomia, mas subordinadas ao poder central. Em seu governo, o Império Persa atinge a extensão máxima, chegando à Índia. 5.1 O alcance do império persa No capítulo6 do livro de Daniel temos a descrição do alcance do Império Persa: “O reino a 120 sátrapas [120 assistentes de Dario] [...] 3 presidentes, dos quais Daniel era um” (Bíblia. Daniel, [S.d.], 6: 1-2). Se no reinado de Belsazar Daniel esteve afastado da corte, nesse início do reinado de Dario ele volta a ser destacado no meio político, mas, aparentemente por ser judeu, acaba se tornando alvo de uma trama com o intuito de tirar sua vida. Todas as autoridades políticas do império persa astutamente se dirigem ao rei Dario e lhe propõem a criação de um decreto declarando que ninguém deveria fazer petição a nenhum deus por espaço de 30 dias, mas, sim, pedir ao rei Dario. Há quem pense que nesse momento o rei é tentado a assumir uma deificação de si mesmo. A “divindade” Dario deveria decidir. Daniel era uma figura pública conhecida e experiente, e a força do decreto uniu autoridades que reivindicaram seu cumprimento contra ele. O decreto não intimidou o homem público, que manteve sua prática de oração, na qual três vezes ao dia se ajoelhava e orava na direção de Jerusalém. A punição por sua desobediência deveria ser o lançamento na cova dos leões, conforme descrito no decreto. 10 5.2 A cova dos leões O lançamento na cova dos leões era uma punição cruel típica dos persas. Essa cova era uma grande caverna subterrânea com uma abertura no topo e uma abertura lateral (Ryrie, 1994, p. 1084). Após saber da decisão tomada contra ele, Daniel entra em sua casa, põe-se em oração e dá graças ao seu Deus, como costumeiramente fazia (6: 11). Ao se depararem com esse ato de Daniel, todas as autoridades do império se dirigem ao rei Dario e o pressionam a executar o previsto no decreto, e, mesmo penalizado, o rei teve que ordenar o lançamento de Daniel na cova. Davidson (1997, p. 824) comenta que há objeções quanto a esse relato sobre a cova, mas sua exatidão pode ser aceita, pois, de acordo com o costume persa, esse tipo de punição existiu. 5.3 A angústia do rei Dario Antes de executar a sentença de Daniel, o rei disse: “o teu Deus, a quem tu continuamente serves, que ele te livre” (6: 16). Foi trazida uma pedra, posta sobre a abertura da cova, e o rei a sela com o seu anel, indicando que a partir daquele momento nada poderia ser feito para salvar Daniel (6: 17). O rei se dirigiu para o seu palácio e passou a noite em jejum (6: 18). Aparentemente, Dario respeitava o Deus e a religião do íntegro judeu Daniel, e estava ansioso para ver o desfecho do evento. Pela manhã, ele foi apressadamente à cova e disse: “Daniel Servo do Deus vivo, dar-se-ia o caso que o teu Deus [...] tenha podido livrar-te dos leões?” (6: 20). 5.4 A intervenção do Deus de Israel em favor de Daniel Então, Daniel respondeu: “Ó rei, vive eternamente! O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência” (6: 22). A palavra inocência na língua hebraica também pode apresentar sinônimos como puro, limpo (Harris; Archer Junior; Waltke, 1998, p. 388-89). A resposta de Daniel honra ao rei Dario – “Ó rei, vive para sempre” – e ao mesmo tempo declara que o seu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões, de modo que ele não sofreu dano algum (6: 22). O rei Dario se alegrou sobremaneira e mandou tirar Daniel da cova. Na sequência, numa atitude rude, ordenou que trouxessem todos os responsáveis 11 pela trama contra Daniel, bem como todos os seus familiares, os quais, sem piedade, mesmo sem chegar ao fundo da cova, tiveram seus ossos esmigalhados, conforme relata o texto bíblico (6:24). A palavra todos pode ser entendida no sentido figurado, pois é provável que a cova não era grande o suficiente para reunir tantas pessoas. O que se pode pensar é que houve a punição exatamente sobre aqueles que, por intolerância, desejaram o mal para Daniel. A vida do judeu Daniel foi preservada, enquanto as autoridades acusadoras sofreram o juízo que esperavam acontecer com ele. A intervenção do Deus de Israel agora aconteceu no Império Persa, tanto para proteger o representante do povo de Israel como para não se opor ao juízo lançado sobre os que acusaram Daniel. NA PRÁTICA Pensando sobre essas intervenções do Deus de Israel, notamos que judeus de destaque foram desafiados em sua fé num ambiente religioso, político e social adverso, mas aceitaram as provas a que foram submetidos. A adoração, a tradição e as honrarias do meio pagão estiveram disponíveis aos judeus no exílio, mas ao menos um grupo rejeitou. Na prática, princípios e valores aprendidos por Daniel e seus amigos antes mesmo de irem ao exílio estavam enraizados neles a ponto de gerar um caráter íntegro em meio às adversidades. Eles não apostataram da fé no Deus de Israel. FINALIZANDO Vimos a ascensão, o apogeu e a queda do Império Babilônico e o surgimento do Império Medo-Persa, bem como o desafio de descobrir uma visão (sonho) noturna da maior autoridade pública da época. Também discutimos a revelação e a interpretação dos sonhos de Nabucodonosor, o livramento na fornalha e o reconhecimento por parte do rei gentio ao poder do Deus dos judeus. Por fim, falamos da interpretação da escrita na parede, do juízo que pôs fim ao Império Babilônico e do livramento na cova diante de uma injustiça “político-religiosa”. Fica evidente, portanto, que a fragilidade e as limitações dos reinos terrenos compõem o cenário em que ocorrem as intervenções do Deus de Israel. 12 REFERÊNCIAS A REVOLTA dos Macabeus. Cronologia da Bíblia, 13 jun. 2011. Disponível em: <https://cronologiadabiblia.wordpress.com/2011/06/13/a-revolta-dos- macabeus/>. Acesso em: 31 mar. 2019. AGUIAR, H. H. Palestina: antes e depois de Cristo – parte II. 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