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1 Aluna: Alanny Mirella da Silva Barbosa Data: 03/12/2021 A VIDA DE VIKTOR FRANKL, LOGOTERAPIA E O SENTIDO DA VIDA História pessoal Viktor Emil Frankl nasceu na cidade de Viena (Áustria), no dia 26 de março de 1905. Foi médico, austríaco e fundador da escola da Logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. No período de seu nascimento, a Europa se encontrava em um clima de tensão política e cultural o que levaria a humanidade a presenciar a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais o que fez que a sua vivência aperfeiçoasse as suas teorias. Desde muito jovem Frankl se mostrava responsável e independente, fazia muita leitura dos escritos de Freud até que dirigiu-lhe uma carta, com apenas 16 anos, e foi estimulado a escrever. Com 19 anos, alcançou a publicação de um artigo numa Revista Internacional de Psicanálise o que levou um aumento de interesse de forma definitiva pela Psicologia (GOMES, 1988; ANDRADE, 2018). A primeira marca registrada de Frankl foi sobre a crença na liberdade humana e, ainda que suas ideias não estivesse estruturadas, ele contestou a visão mecanicista do homem. E a segunda marca registrada do pensamento frankliano foi sobre a inquietação do sentido missionário da vida (GOMES, 1988). Ademais, o período era bastante conturbado e o histórico de depressão, tentativas de suicídio era alto na juventude vienense, Frankl inquieto não hesitou em abrir um centro, toda a equipe, inclusive dois discípulos Adler e Allers, realizavam consultas gratuitas em uma cruzada auxiliando a saúde mental dos jovens. Seu trabalho foi bastante satisfatório pois a porcentagem de casos de suicídio reduziu a quase zero (GOMES, 1988). Em 1936, fez especialização em neurologia e psiquiatria, passando, em 1940, a dirigir o Departamento de Neurologia onde trata apenas pacientes de origem judaica. 2 Hitler chega ao poder, inicia-se a Segunda Guerra Mundial, o terror e a perseguição nazista. A família de Frankl estuda uma possibilidade de fuga e tentar escapar como podia dos campos de concentração. Mas Victor optou permanecer na Áustria com os seus pais (GOMES, 1988). Viktor teve um sonho com uma multidão de psicóticos e pacientes sendo conduzidos para a câmara de gás, pensou em unir-se a eles com um forte sentimento de compaixão, e começou a atuar como psicoterapeuta no campo de concentração. Em 1942, aconteceu a experiência de separação entre os entes da família Frankl o que os levaria a viver em diferentes campos: Theresienstad, Turkheim, Kaufering e Auschwitz. A partir disso, se tornou um dos vários prisioneiros intitulados para escavação de buracos nas fábricas subterrâneas (GOMES, 1988). Apesar disto, muitos mantiam a esperança da frágil existência em troca de poder encontrar um dia algum rosto familiar e finalizar aquele pesadelo a fim de continuar alguma missão da vida. Frankl afirmava nos campos de concentração que a pessoa no mundo não busca apenas coisas materiais e tocáveis e sim busca um sentido para a vida, uma razão pela qual viver. Assim, percebeu que o homem sem uma missão na vida não tem sentido essencial, e não é capacitado a suportar o sofrimento e, no desespero, encontra sua morte, e essa ideia seria o principal fundamento pra sua teoria da Logoterapia (GOMES, 1988). Nos últimos meses de campo de concentração, ofereceram uma oportunidade de atuar como médico a Frankl. Mas o pesadelo chegava ao fim. No campo de Turkheim, chegara uma delegação da Cruz Vermelha Internacional que libertou todos os prisioneiros. Se sentia sozinho, mas com enorme alegria de poder estar vivo. Deixou de ser apenas um cientista e passou a ser uma figura importante para a Psicologia mundial, conquistando uma escola vienense que foi designada o primeiro modelo analítico-existencial a dedicar técnicas clínicas efetivas para a Psicoterapia, sem perder de vista a humanidade do homem. Sendo assim, Victor Emil Frankl acredita na liberdade humana e no sentido da vida de cada ser, fazendo disso a bandeira de sua luta e de sua vida (GOMES, 1988). 3 A Logoterapia Dr. Frankl participou de um congresso com inúmeros psicanalistas e lhe foi indagado o que seria a logoterapia, mas não chegou a um conceito definitivo e isso revela a complexidade do universo logoterápico, entretanto, a logoterapia é uma abordagem terapêutica que parte da dimensão espiritual para abordar sua relação com as outras dimensões da vida. Procura estimular os pacientes a buscarem o sentido da vida, sem negligenciar ou negar os conflitos, sejam eles expressos por sintomas somáticos ou psicológicos (ANDRADE, 2018). A Logoterapia é a 3° Escola Vienense de psicoterapia, sucedendo à psicanálise de Freud (a 1°) e à psicologia individual de Adler (a 2°) (GOMES, 1988). A palavra “Logoterapia” quer dizer Psicoterapia através do sentido ou Psicoterapia pelo encontro do Logos que significa “sentido”. A busca pelo sentido da vida é uma atividade comum do ser humano. Somente ele é capaz de se interrogar pela sua existência e discutir os problemas do ser. O homem é um ser que procura sentido por participar da história e, na história, construir vida e dar sentido a ela (GOMES, 1988; ANDRADE, 2018). A criatura humana é como a semente que traz em seu interior uma ordenação preservadora de sua identidade e asseguradora do crescimento devidamente organizado. Além disso, o ser humano tem a capacidade de assumir a direção de seu próprio destino (GOMES, 1988). A logoterapia é capaz de levar o homem a se interrogar pelo seu próprio eu e descobrir o sentido último de cada ação e de toda sua existência. Por esse motivo, ele pode ser considerado como o “médico da doença do século XX”, que é o vazio existencial (ANDRADE, 2018). O significado da Logoterapia atualmente, no sentido clínico, pode-se considerar pertinente o destaque de Frankl na questão da auto-transcendência, pois o ser humano vai muito além das capacidades que demonstra de forma vaga. Naquela época, a crença na capacidade do ser humano, em si mesmo, já era inovador, visto 4 que durante a guerra a sensação de desilusão era acompanhada do discurso da automatização que destituía as individualidades em prol do Estado totalitário. Frankl fornecia um espaço de reflexão sobre a experiência, que ele compreendia como campo privilegiado da psicoterapia ao auxiliar as pessoas a encontrarem um sentido para a vida, de se questionar sobre a religiosidade, a questão das perdas, a questão da morte (ANDRADE, 2018). Em vista disso, a logoterapia oferece um espaço de reflexão que carece no dia- a-dia das pessoas. Hoje, neste mundo fragmentado, as pessoas perdem o contato com as suas raízes, a sua cultura e isso colabora para a perda de sentido. Por tratar de questões profundamente humanas e sentimentos, que jamais deixarão de ser “atuais”, pois são inerentes à condição humana (solidão, morte, angústia, sofrimento), infere-se que esta modalidade de terapia ainda é pertinente nos dias atuais (ANDRADE, 2018). Evolução do pensamento frankliano A experiência de Dr. Viktor no campo de concentração lhe concedeu várias experiências sobre a condição humana. Foi discípulo de Freud, e começou sua carreira profissional como psiquiatra de formação psicanalítica, a partir disso desenvolveu sua própria filosofia, seu mapa de compreensão do homem e a proposta de psicoterapia existencial. Usou em 1938, o termo “análise existencial” e logoterapia em seus escritos para confundir, mas seu enfoque era com o segundo termo. Tweedie, autor que tenta resumir o ponto de vista de Frankl, afirma que os termos são sinônimos mas a logoterapia se derrama do espírito para fora e a análise existencial se direciona ao Espírito, caminhando em sentido contrário e conclui que a logoterapia é uma análise existencial, depois, vai além, propondo estratégiasdefinitivas de tratamento clínico (GOMES, 1988). Conceito de logoterapia 5 A vivência de Frankl nos campos de concentração, suas dores proporcionaram a ele a descoberta de que a pessoa humana pode conservar sua liberdade espiritual. Ainda que vivendo na maior pobreza, ainda que a falta de dignidade seja cruel, há sempre a mais completa autonomia espiritual. As conclusões de Frankl, de sua vida nos campos de concentração, trazem uma visão nova para a questão das doenças mentais: por mais louca que seja uma indivíduo, ainda resta, nas profundezas de sua alma, uma proteção (GOMES, 1988). Analisou ele que, em meio à crueldade dos campos, existiam manifestações de fraternidade, sacrifícios em benefício dos outros e o empenho para manutenção de sua integridade. O poder de resistência do espírito leva a crença que em situações como essa, qualquer pessoa tem possibilidade de decidir a forma de ser no mundo em seu espírito. Pode lutar por si mesma, ainda que as condições sejam as mais desfavoráveis. Se a vida tem sentido, afirma Frankl, então o sofrimento tem seus significados, pois o sofrimento e a morte fazem parte da vida. A vida propõe tarefas a cada homem e a dedicação de se realizar lhe confere um sentido (GOMES, 1988). O sentido da vida Sentido de vida tem sido considerado o núcleo e a chave para o entendimento da motivação, bem-estar e uma necessidade humana, capazes de proporcionar às pessoas uma vida com mais significado, prazerosa, feliz e, portanto, valha a pena ser vivida (ANDRADE, 2018). O homem pode dar significado à sua vida provando seu destino, suas preocupações como situações de crescimento, sem que para isto tenha que ressignificar tais experiências. Ao longo da existência, o homem buscou construir sentido para sua razão de ser e de estar no mundo aos poucos foi desenvolvendo consciência de sua singularidade e condição diferenciada das outras espécies e, cada vez mais, criando formas de afirmar sua presença no mundo e dar sentido a ela (VIEIRA, 2021). 6 Se indagar sobre o sentido da vida é exclusivo de cada pessoa e somente dele pode nascer a resposta. É uma pergunta feita a si mesmo e essa resposta surge de seu íntimo. Em uma palavra, a vida cobra de cada homem uma resposta que é respondida com a própria vida. Para Frankl, ser responsável é ser capaz de dar resposta ou de responder frente à sua vida. O sentido da vida é particular e pode variar de indivíduo para indivíduo, muda com o tempo e segundo a transitoriedade da existência (GOMES, 1998). Frankl nos chama a atenção sobre o desejo de sentido ser um valor de sobrevivência, aprendeu esta lição nos três anos que passou no campo de concentração de Auschwitz e Dachau. As coisas mais idôneas para a sobrevivência nos campos de concentração eram projetadas no futuro e para um sentido da vida que podem ser realizadas no futuro (CARNEIRO, 2008). A vida é curta e passa rápido e essa transitoriedade está sob a responsabilidade da pessoa, que enfrenta constantemente novas possibilidades e obrigações. Na verdade, o homem leva toda a sua vida escolhendo, optando por aquilo que melhor responda aos seus desejos. E as possibilidades rejeitadas se perdem para sempre, daí ser tão importante saber escolher responsavelmente (CARNEIRO, 2008). 7 Referências bibliográficas ANDRADE, C. J. Viktor Frankl: o sentido da Logoterapia e sua atualidade contextual. Psicólogo inFormação, [S. l.], v. 21, n. 21-22, p. 99, jan./dez., 2018. VIEIRA, G. P.; DIAS, A. C. G. Sentido de vida: compreendendo este desafiador campo de estudo. Psicologia USP. São Paulo, v. 32, n. 1, p. 1-9, jul. 2021. CARNEIRO, C.; ABRITTA, S. Formas de existir: a busca de sentido para a vida. Rev. abordagem gestalt. Goiânia, v. 14, n. 2, p. 190–194, 2021. jul./dez., 2008. GOMES, J. C. V. A prática da psicoterapia existencial. Petropólis: Vozes, 1998.
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