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RESUMO ACERCA DAS TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO ORAL EM AUDIÊNCIAS

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RESUMO ACERCA DAS TÉCNICAS DE ARGUMENTAÇÃO ORAL 
EM AUDIÊNCIAS 
 
O capítulo IX da obra de Dhenis Cruz Madeira que trata de técnicas de 
argumentação oral em audiências, inicia-se explicitando que o procedimento é uma 
estrutura técnica, e esta técnica se traduz no fazer ordenado para alcançar um resultado 
útil. Nesse sentido, sendo a audiência também um ato jurídico procedimental, o autor 
questiona qual a seria a sua contribuição para o procedimento e, consequentemente, para 
a construção do provimento final a que se almeja chegar. Desse modo, o texto se dedica 
a esclarecer ao leitor quais os principais erros dos juristas no exercício da prática forense, 
sendo eles: condução e participação nas audiências sempre da mesma forma, desprezando 
que cada audiência possui um objetivo distinto; fazem perguntas desnecessárias e que 
causam confusão às testemunhas; participam o designam audiências totalmente inúteis. 
Assim sendo, a obra busca demonstrar que os profissionais do direito devem se 
preparar previamente para as audiências ou saber o objetivo de cada uma delas, para que 
tal ato não seja inócuo. Posto isso, passa a ser debatido o tema da oralidade como sendo 
um princípio ou técnica processual, deixando claro que, entre os processualistas na 
atualidade, prevalece a ideia de que a oralidade é um princípio do Direito Processual, isto 
é, um princípio que rege o procedimento jurisdicional. Nessa toada, o jurista italiano 
Giuseppe Chiovenda promove uma comparação entre o princípio da oralidade e o da 
escritura, esclarecendo que um procedimento se diz oral ou escrito segundo o modo, 
nascendo disso, uma distinção entre o princípio da oralidade e técnica de exercício da 
oralidade. 
Em uma apertada síntese, o princípio da oralidade não se opõe, propriamente, ao 
princípio da escrituração e formalização argumentativa. Ou seja, não há oposição ou 
exclusão, mas complementariedade entre oralidade e escrituração, de forma que se 
amplie, pela fala e escrita, o exercício do contraditório e da ampla defesa. Nesse diapasão, 
os filósofos gregos Platão e Aristóteles já se dedicavam a distinguir a oralidade e a escrita, 
defendendo a ideia de que a fala transmite um discurso vivo, animado, sendo a escritura 
apenas uma imagem daquele. Tal ideia é semelhante à defendida por alguns juristas, 
sobretudo no processo de desenvolvimento do Projeto do Novo Código de Processo Civil 
brasileiro, na qual alguns juristas externaram a confiança de que a oralidade seria mais 
idônea a transmitir a verdade do que a escritura. 
Contudo, Dhenis Cruz esclarece que, dependendo da forma como se encaminha a 
discussão, é possível cometer o erro de colocar, de um lado, a escrita, e de outro, a fala, 
como se fossem proposições contrapostas. Além disso, um outro erro que se pode cometer 
é o de imaginar que o simples fato de se aumentar a carga de oralidade no procedimento 
confere a este a adjetivação democrática, ou seja, a relação entre oralidade e democracia 
não é, do ponto de vista filosófico, necessária. No entanto, é essencial lembrar que mesmo 
na contemporaneidade é possível ver vários governos autoritários e ditatoriais que 
defendem ou defendiam veementemente o uso da oralidade. 
Nessa perspectiva, Francisco Campos, responsável pela redação da Constituição 
brasileira de 1937 e do AI – 1 do golpe de 1964, defende que nenhum procedimento pode 
ser exclusivamente oral, pois “(...) no procedimento chamado oral, a escrita representa 
uma grande função. O processo oral funda-se em uma larga base escrita”. 
Resumidamente, nem só a fala, nem só a escrita, mas ambas devem ser asseguradas no 
procedimento em contraditório. Assim sendo, não se pode confundir o princípio da 
oralidade com as técnicas da oralidade, visto que o profissional do Direito pode se valer 
de várias técnicas para o exercício da oralidade, sendo que todas elas servem para 
exercitar o princípio da oralidade. 
Dessa forma, em primeiro lugar, antes mesmo de participar de uma audiência, 
juízes, advogados, promotores de justiça e os demais participantes devem compreender 
com clareza o mérito da ação. Além disso, os profissionais do direito devem separar os 
pontos (alegações não-controvertidas) e as questões processuais (alegações ou pontos 
controvertidos). Nessa parte do texto, Dhenis Cruz explica que há situações em que os 
profissionais do direito confundem “questões” (alegações ou pontos controvertidos) com 
o termo “questões processuais pendentes” encontrado em alguns dispositivos legais. O 
último corresponde apenas às matérias preliminares, enquanto o primeiro designa as 
alegações controvertidas, ressalta o autor. Com isso, o intérprete, ao se deparar com a 
locução “questões processuais”, deve compreender se se trata de alegações ou pontos 
controvertidos ou de matérias preliminares, pois este esclarecimento é essencial em 
algumas audiências, visto que há etapas a cumprir nas quais julgam-se as preliminares e 
fixam-se os pontos controvertidos. 
Dado o exposto, o autor foca agora nas técnicas de argumentação oral nas 
audiências de conciliação. Em primeira análise, o texto evidencia que o termo “audiência 
de conciliação” é, muitas vezes, utilizado de forma errônea pelo legislador, que o 
confunde com “audiência preliminar”, e o mesmo acontece na prática forense. Diante 
desse problema, existindo debate sobre as matérias preliminares, apresentação de defesa, 
impugnação e fixação de pontos controvertido, não se terá uma simples audiência de 
conciliação, mas outra espécie de audiência. Nesse contexto, o texto indica que as partes 
e seus advogados devem ir com o objetivo de alcançar a conciliação, evitando o debate e 
a antecipação de argumentos que só deverão ser apresentados ou utilizados nas etapas 
procedimentais seguintes. É preciso, nesse caso, mostrar que a conciliação é o melhor 
caminho para evitar que aquele conflito se prolongue no tempo, economizar dinheiro e 
evitar o desgaste psicológico. Já o juiz, argumenta Dhenis Cruz, deve se posicionar como 
mediador, fomentando um diálogo amistoso e respeitoso entre os contendores, além de 
dever evitar assumir partido na disputa e externar uma tendência na decisão. Frisa-se que 
o texto continua pontuando como juízes, advogados e promotores devem encaminhar a 
audiência de conciliação. 
Mais adiante, são tratadas as técnicas de argumentação oral em audiências de 
justificação. Nesse diapasão, esse tipo de audiência é mais facilmente percebida nos 
procedimentos cautelares e em alguns procedimentos especiais, sendo designada quando 
há a necessidade urgente de produção de prova oral para a concessão ou não de um 
provimento liminar, podendo ocorrer ainda na fase postulatória. Em decorrência disso, a 
audiência de justificação serve como uma boa alternativa para que se faça a oitiva das 
testemunhas logo no início do procedimento. Partindo disso, o principal erro cometido 
por promotores, advogados e juízes é o de fazer perguntas para as testemunhas acerca de 
questões relacionadas ao mérito da ação, desviando-se do objetivo da audiência de 
justificação ou antecipando uma produção de prova que só deveria ocorrer na audiência 
de instrução e de julgamento. No entanto, o erro mais prejudicial, segundo o autor, se dá 
quando os operadores do direito esquecem completamente dos requisitos da liminar, 
fazendo perguntas não afetas aos mesmos. Esse subtópico se encerra com as 
recomendações de técnicas argumentativas aos profissionais da área. 
Outrossim, Dhenis Cruz também abarca em sua obra as técnicas de argumentação 
oral nas audiências preliminares que, diferentemente da conciliação, possui vários 
objetivos, além da tentativa de autocomposição, sendo realizada em etapas sucessivas. 
Ou seja, dita audiência é muito mais complexa e abrangente que uma audiência que se 
limita à tentativa de conciliação. Válido ressaltar que, na atual legislação procedimental 
civil brasileira a audiênciapreliminar pode ser designada no procedimento comum 
ordinário, só sendo obrigatória quando for possível a conciliação. O autor traz, ainda, as 
sugestões de técnicas aos profissionais do direito e encerra argumentando que dita 
audiência, feita da forma correta, contribuirá substancialmente para o rápido e regular 
desenvolvimento da fase instrutória, evitando-se indesejáveis nulidades. 
Além destas, as técnicas de argumentação oral nas audiências de instrução e 
julgamento também são contempladas no texto. Nesse ponto, via de regra, essa audiência 
não é obrigatória, só devendo ser designada em caso de necessidade de produção de prova 
oral. Assim sendo, caso as provas produzidas sejam apenas documentais, ou caso a 
matéria ventilada nos autos seja apenas de Direito, o julgamento do pedido é feito de 
imediato, consequentemente a audiência de instrução e julgamento não será firmada. 
Importante pontuar que, mesmo sendo designada em caso de necessidade de produção de 
prova oral, faz parte da mesma a tentativa de conciliação, embora seja considerado um 
erro grosseiro designar uma AIJ apenas para se tentar a conciliação. 
No discorrer do tema, Madeira aborda a ordem estabelecida pela legislação 
processual civil para que se faça a oitiva e, posteriormente, se concentra em explicar os 
procedimentos na qual o juiz deve, arguida a contradita, se ater conforme seja a situação. 
Ademais, ele esclarece que a audiência preliminar deve cumprir o importante papel de 
delimitar os pontos controvertidos a serem esclarecidos, pois a AIJ só terá utilidade se 
ficar claro quais as questões a serem esclarecidas mediante a produção de prova oral. Por 
fim, são colocadas as técnicas de argumentação oral que tenham por finalidade a instrução 
e o julgamento. 
Nessa toada, há também as técnicas de argumentação oral em audiências unas que, 
de forma resumida, é uma audiência que concentra os atos procedimentais já descritos. 
Desse modo, pode ocorrer a tentativa de conciliação, apresentação de resposta, 
impugnação, julgamento sobre as preliminares, fixação dos pontos controvertidos, 
especificação de provas, produção de prova oral, análise de pedido de provimento liminar 
e julgamento. Nesse contexto, explica-se o nome dessa audiência, por abarcar todas as 
outras em apenas uma. 
Mais adiante, o autor trata do silêncio como técnica de argumentação oral, 
colocando-o como útil tecnicamente. Isto é, quando a fala não é útil ao provimento, os 
operadores do direito devem, simplesmente, ficar em silêncio, pois isto pode trazer 
benefícios ao processo. Dentro os exemplos colocados pelo autor está o da especificação 
de provas, na qual, diante da intimação, o silêncio presume desinteresse quanto à prática 
do ato e, portanto, gera preclusão temporal e, no processo civil, a preclusão preenche os 
vazios da estrutura procedimental, permitindo o andamento do processo mesmo com a 
omissão. Além desse exemplo, Dhenis cita que durante uma audiência, no momento de 
coleta do depoimento testemunhal, o silêncio tem grande relevância, visto que a 
presunção probatória é de inocência e não de culpa, cabendo a parte acusadora provar a 
ilegalidade cometida pela outra parte. 
Por último, é discutido o uso da argumentação em audiências levando em conta 
os seres humanos, suas virtudes e deficiências. Nesse ponto, são tratadas as discussões 
pouco respeitosas, as ofensas e, principalmente, a vaidade como sendo uma barreira ao 
correto uso das técnicas argumentativas. Assim, para o autor, o inimigo da conciliação e 
a fórmula perfeita para os debates intermináveis e a verborragia são o conflito, somado à 
susceptibilidade e à vaidade. Ao fim desse subtópico, são mencionados os estratagemas 
erísticos desenvolvidos por Schopenhauer e suas consequências para o processo. 
 
REFERÊNCIAS 
 
MADEIRA, Dhenis Cruz. Técnicas de Argumentação Oral em Audiências. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2015.

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