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Apresentação do panteão da terra nas obras de mestre Didi BIOGRAFIA ● Deoscóredes Maximiliano dos Santos (Salvador BA 1917 - 2013) ● Filho da Iyalorixá Maria Bibiana do Espírito Santo, também conhecida como Mãe Senhora e do alfaiate Arsênio dos Santos, posteriormente conhecido como Paizinho. ● Herança dos pais ● Acumulou alguns títulos sacerdotais ao longo de sua vida (1934 - Ojé korikowê Olokotun, 1936 - Assogbá, 1938 - Baba L’ossanyin, 1968 - Balé Xangô, 1983 - Baba Mogbá Oni Xangô), iniciando assim sua relação sacerdotal com o panteão da Terra Trajetória Artística ● Confecção de objetos ritualísticos dos orixás do panteão da terra, e aprendeu com Mãe Aninha (Dona Eugênia Ana dos Santos), as técnicas de feitura destes objetos ritualísticos a partir dos quais desenvolveu suas obras. Assim teve início sua relação com a estética afro ● A maioria de suas obras eram desenvolvidas a partir de objetos ritualísticos dos orixás do panteão da terra, de nomes como xaxará e ibirí. Toda a sua produção artística não foge da temática e estética religiosa do candomblé Ewé Totô, Escultura em palha, couro colorido, contas coloridas e búzios, 1985, 175 cm x 50 cm x 28 cm Emblema Africano, escultura em palha, couro pintado e contas coloridas, 1976, 175 cm x 48 cm x 25 cm Ase Nanã Ninu Ibó, [Poder da terra na floresta, Nervura de palma, couro colorido, contas coloridas e búzios, 1969, 124 cm x 11 cm x 12 cm Idilé Aiye: Sasará Ejo ati Ibirí [Cetro Reunindo os Símbolos do Panteão da Terra], 1995 conta -se que nanã teve dois filhos. Oxumarê era o filho belo e omulu, o filho feio. Nanã tinha pena do filho feio E cobriu omulu com palhas, para que ninguém o visse E para que ninguém zombasse dele . Mas oxumarê era belo, Tinha a beleza do homem E tinha a beleza da mulher. Tinha a beleza de todas as cores. Nanã o levantou bem alto do céu Para que todos admirassem sua beleza. Pregou o filho no céu com todas as suas cores E o deixou lá para encantar a terra para sempre. E lá ficou oxumarê, à vista de todos. Pode ser admirado em seu esplendor de cores, Sempre que a chuva traz o arco-íris. Nanã esconde o filho feio e exibe o filho belo. Reginaldo Prandi, pesquisa de campo, São Paulo, 1989; fragmento em Pierre Verger, 1985, pp. 56-58; Agenor Miranda Rocha, 1994, p. 73. Panteão da Terra ● A partir do mito, pode-se traçar uma ligação entre os três orixás; ● Os orixás Nanã, Obaluaiê e Oxumarê formam o panteão de orixás do elemento terra; ● Influência do Daomé (tradições Fon e Jeje) e incorporados na mitologia nagô; ● Oxumarê é cultuado no terreiro no mesmo templo que Nanã e Obaluaiê, porém é individualizado com “assentos” separados (SANTOS, 1977); Ibiri de Nanã Bukuru Escultura em palha, couro pintado, contas coloridas e búzios, 1960, 57 cm x 10 cm x 8 cm Nanã DIZEM QUE QUANDO OLORUM ENCARREGOU OXALÁ DE FAZER O MUNDO E MODELAR O SER HUMANO, O ORIXÁ TENTOU VÁRIOS CAMINHOS. TENTOU FAZER O HOMEM DE AR, COMO ELE. NÃO DEU CERTO, POIS O HOMEM LOGO SE DESVANECEU. TENTOU FAZER DE PAU, MAS A CRIATURA FICOU DURA DE PEDRA AINDA A TENTATIVA FOI PIOR. FEZ DE FOGO E O HOMEM SE CONSUMIU. TENTOU AZEITE, ÁGUA E ATÉ VINHO-DE-PALMA, E NADA. FOI ENTÃO QUE NANÃ BURUCU VEIO EM SEU SOCORRO. APONTOU PARA O FUNDO DO LAGO COM SEU IBIRI, SEU CETRO E ARMA, E DE LÁ RETIROU UMA PORÇÃO DE LAMA nANÃ DEU A PORÇÃO DE LAMA A OXALÁ, O BARRO DO FUNDO DA LAGOA ONDE MORAVA ELA, A LAMA SOB AS ÁGUAS, QUE É NANÃ. OXALÁ CRIOU O HOMEM, O MODELOU NO BARRO. COM O SOPRO DE OLORUM ELE CAMINHOU. COM AJUDA DOS ORIXÁS POVOOU A tERRA. mAS TEM UM DIA QUE O HOMEM MORRE E SEU CORPO TEM QUE RETORNAR À TERRA, VOLTAR À NATUREZA DE NANÃ BURUCU. NANÃ DEU A MATÉRIA NO COMEÇO MAS QUER DE VOLTA NO FINAL TUDO O QUE É SEU. Nanã fornece a lama para a modelagem do homem. Reginaldo Prandi, pesquisa de campo, Salvador, 1988. Narrado por Mãe Pierina Ferreira de Oxum. Variante em Juana Elbein dos Santos, 1976, p. 107. ● Nanã, Deusa dos mistérios, é considerada o orixá mais antigo ● O termo “nanan” significa raiz, aquela que se encontra no centro da terra ● Tornou-se uma das yabás (orixás femininas) mais temidas, em algumas tribos quando seu nome era pronunciado todos se jogavam ao chão ● Orixá feminino de tamanha importância na história do Candomblé. É a base da formação do panteão Africano. É o primeiro Orixá feminino, mãe dos Orixás das nações mais antigas, como Iroko, Omulu-Obaluiyaê e Oxumarê, sendo o pai destes, Oxalá. Xaxará de Omolu Fibras de palmeiras, couro colorido, contas coloridas e búzios, 45 cm x 12 cm x 12 cm, 1960 Obaluaê (Omolu) OBALUaÊ ERA UM MENINO MUITO DESOBEDIENTE. UM DIA, ELE ESTAVA BRINCANDO PERTO DE UM LINDO JARDIM REPLETO DE PEQUENAS FLORES BRANCAS. SUA MÂE LHE HAVIA DITO QUE ELE NÃO DEVERIA PISAS AS FLORES, MAS OBALUAÊ DESOBEDECEU À SUA MÃE E PISOU AS FLORES DE PROPÓSITO, ELA NÃO DISSE NADA, MAS QUANDO OBALUAÊ DEU-SE CONTA ESTAVA FICANDO COM O CORPO TODO COBERTO POR PEQUENINAS FLORES BRANCAS, QUE FORAM SE TRANSFORMANDO EM PÚSTULAS, BOLHAS HORRÍVEIS. OBALUAÊ FICOU COM MUITO MEDO. GRITAVA PEDINDO À SUA MÃE QUE O LIVRASSE DAQUELA PESTE, A VARÍOLA. A MÃE DE OBALUAÊ LHE DISSE QUE AQUILO ACONTECERA COMO CASTIGO PORQUE ELE HAVIA SIDO DESOBEDIENTE, MAS ELE IRIA AJUDÁ-LO. eLA PEGOU UM PUNHADO DE PIPOCAS E JOGOU NO CORPO DELE E COMO POR ENCANTO, AS FERIDAS FORAM DESAPARECENDO. OBALUAÊ SAIU DO JARDIM TÃO BOM COM QUANDO HAVIA ENTRADO. Obaluaê desobedece à mãe e é castigado com a varíola. René RIbeiro, 1978, pp. 54-55. Na maioria dos ebós usados no candomblé para afastar doenças e diversos males regidos por Omulu, usa-se pipoca. Obaluayê (Omolu) ● Omulu também conhecido como senhor da vida, representa a cura das doenças de pele. ● Quando incorporado em um terreiro, por um médium ou pai de santo, possui seu rosto coberto por uma palha da costa, em sinal de tradição e respeito. ● Sua dança, o apanijé, é interpretada com curvatura para frente e demonstração de sofrimento e dor. ● Utiliza o Xaxará em suas mãos. Espécie de cetro, feito por nervuras de palha e enfeitada com búzios e contas. Possui finalidade de retirar as energias negativas, e varrer as doenças e males. ● A festa anual(Olubajé) em sua homenagem, são distribuídas iguarias da culinária afro brasileira(comida ritual) entre os convidados e assistentes, com sentido de prolongar a vida e trazer saúde. Opá esin Ati Ejo Meji [Cetro da Lança com Duas Serpentes], Nervura de palmeira, couro, contas e búzios,1992 Oxumarê Oxum era mulher de xangô, Mas vivia enrabichada por Oxumarê. Oxumarê era o mais bonito e atraente moço do lugar E Xangô ficou embriagado de ciúme. Um dia, não suportando mais a idéia De perder Oxum para Oxumarê, Xangô chamou o possível rival para um duelo. Lutaram por três dias e três noites. Xangô era o mais hábil dos guerreiros E já ganhara muitas guerras e vencera muitas lutas. Oxumarê usava seu poder de dominar as cobras. Às vezes transformava-se em uma delas E escapava dos golpes mortais do machado de Xangô. Mas Xangô venceu. Xangô matou Oxumarê. Muitos choraram a morte do moço tão bonito. Nanã, a inconformada mãe de Oxumarê, Foi procurar a ajuda de Olodumare. Tão bonito era Oxumarê que o Senhor Supremo se condoeu E transformou Oxumarê no arco-íris. Oxumarê, o rei dos astros, ficou sempre vivo lá no céu. Oxumarê é morto por Xangô. Ari Pedro Oro, pesquisa de campo, Porto Alegre, 1997. Narrado por Pai Ricardo Maldonato Rangel, Ricardo de Olocum. (PRANDI, 2001) ● Oxumaré (Òsùmàrè) é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. ● Se um dia Oxumaré perder suas forças o mundo acabará. ● Oxumaré mora no céu e vem à Terra visitar-nos através do arco-íris. Ele é uma grande cobra que envolve a Terra e o céu e assegura a unidade e a renovação do universo. ● Dizem que Oxumaré seria homem e mulher, mas, na verdade, este é mais um ciclo que ele representa, Oxumaré é um Orixá masculino. ● Oxumaré é um deus ambíguo, duplo, que pertence à água e à terra, que é macho e fêmea.
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