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TCC Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS
CURSO DE ZOOTECNIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
Formação profissional para o rural contemporâneo: o Curso de Zootecnia da UFSM e a formação de agentes para o desenvolvimento rural.
SUBÁREA DO CONHECIMENTO: DESENVOLVIMENTO RURAL
ACADÊMICO: GLAUCO DOS SANTOS SCHMELING
ORIENTADORA: GISELE MARTINS GUIMARÃES
2015
MINUTA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)
1) Subárea do Conhecimento: Desenvolvimento Rural
2) Tema a ser abordado: Propõe-se realizar um estudo acerca do histórico de formação e transformação dos propósitos formativos profissionais do curso de zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria, buscando analisar como o curso vem incorporando em suas diretrizes político-pedagógicas, os propósitos do desenvolvimento rural caracterizado pelo paradigma da sustentabilidade, incorporando em suas diretrizes questões econômicas, sociais, culturais e ambientais. 
	Parte-se do pressuposto de que o rural contemporâneo não é mais exclusivamente associado à atividade agropecuária ou ao local de moradia, mas sim um “modo de vida” e uma forma de relação entre os sujeitos e o mundo. Esta nova configuração do rural faz deste espaço um local específico com características próprias, que inclui dimensões culturais, simbólicas e ambientais que precisam ser incorporadas nos processos produtivos, o que exige do profissional em zootecnia uma compreensão do espaço rural para além da produção da matéria-prima, estimulando que este se aproprie de todos os elementos que compõe a cadeia produtiva e também dos aspectos sociopolíticos que interferem diretamente sobre o produtor, como acesso as políticas agrícolas, aos mercados, as estratégias de agregação de valor aos produtos processados e ainda condições de infraestrutura rural (estradas, eletrificação, telefonia, saúde, educação e lazer). Os modos de vida precisam ser reconhecidos e incorporados nos planejamentos de desenvolvimento rural e o zootecnista contemporâneo precisa estar atento a estas demandas.
3) Objetivo do Trabalho: Discutiremos como esta sendo a preparação acadêmica dos zootecnistas da UFSM, visto que hoje temos uma nova realidade rural, destacando a agricultura familiar e sua importância para a economia brasileira. Com as novas necessidades da agricultura familiar, tanto na parte sociocultural como nos sistemas de produção, mostra-se a necessidade de abordagens mais múltiplas, estas devendo distanciar-se de um padrão pré-estabelecido. Espera-se com esta pequena reflexão contribuir com os debates do Curso de Zootecnia e os desafios colocados pelo mercado de trabalho para estes profissionais.
4) Metodologia: 
- Trabalho de abordagem qualitativa com uso de análise documental e entrevistas com informantes-chaves como instrumento de pesquisa.
- Será feita a reconstituição histórica da criação do curso de zootecnia buscando identificar o perfil profissional do egresso em comparação com as demandas do mercado de trabalho de cada década, desde a criação do curso até os tempos atuais;
- Será analisada a evolução das grades curriculares, projetos políticos-pedagógicos e outros documentos oficiais que permitam identificar os objetivos de formação profissional;
- Realização de entrevistas com professores e gestores do Curso de Zootecnia da UFSM;
5) Formato de trabalho a ser entregue: Optou-se por escrever o TCC na forma de artigo. O mesmo será enviado para encontros científicos que discutem o desenvolvimento rural e revistas que tratem sobre o assunto, em especial a Revista Extensão Rural, do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural do DEAER (http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/extensaorural).
Formação profissional para o rural contemporâneo: o Curso de Zootecnia da UFSM e a formação de agentes para o desenvolvimento rural.
Glauco dos Santos Schmeling
1. Introdução
O presente estudo apresenta o histórico de formação e transformação dos propósitos de formação profissional do curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) buscando analisar como o curso vem incorporando em suas diretrizes político-pedagógicas, os pressupostos do desenvolvimento rural caracterizado, na atualidade, pelo paradigma da sustentabilidade, incorporando em suas diretrizes questões econômicas, sociais, culturais e ambientais. 
O desenvolvimento rural é neste trabalho compreendido como os processos de caracterização produtiva, tecnológica, social e política que garantem qualidade de vida as populações que residem nos espaços rurais, de forma equitativa (e não seletiva) trazendo a tona discussões de um rural para além da produção de matéria-prima, incorporando conceitos de pluriatividade com serviços de caracterização não agrícola, como por exemplo, as agroindústrias e as inciativas de turismo rural, que não compreendem produção de matéria prima, mas que dialogam diretamente com a melhoria das condições de vida das famílias rurais, desenhando assim um novo rural brasileiro.
Parte-se do pressuposto de que o rural contemporâneo não é mais exclusivamente associado à atividade agropecuária ou ao local de moradia, mas sim um “modo de vida” e uma forma de relação entre os sujeitos e o mundo (SCHNEIDER, 2004). Esta nova configuração do rural faz deste espaço um local específico com características próprias, que inclui dimensões culturais, e ambientais que precisam ser incorporadas nos processos produtivos, o que exige do profissional em zootecnia uma compreensão do espaço rural para além da produção da matéria-prima, estimulando que este se aproprie de todos os elementos que compõe a cadeia produtiva e também dos aspectos sociopolíticos que interferem diretamente sobre o produtor, como acesso as políticas agrícolas, aos mercados, as estratégias de agregação de valor aos produtos processados e ainda condições de infraestrutura rural (estradas, eletrificação, telefonia, saúde, educação e lazer), entendendo estas como fundamentais para qualidade de vida e permanência das famílias no meio rural.
Entende-se, a partir dos atuais pressupostos da sustentabilidade, que os diferentes modos de vida precisam ser reconhecidos e incorporados nos planejamentos de desenvolvimento rural, como o trabalho da mulher, do jovem, bem como a importância das demandas das diferentes categorias de produtores (patronal e familiar), tanto nos aspectos tecnológicos como sociais e que o zootecnista contemporâneo precisa estar atento a estas questões.
Neste sentido a questão que norteia o presente trabalho é: como está sendo a preparação acadêmica dos zootecnistas da UFSM, para a promoção do desenvolvimento rural brasileiro?
Buscando responder tal questionamento, o trabalho está dividido em quatro partes. Na primeira, apresentamos uma breve revisão bibliográfica sobre a evolução dos conceitos do desenvolvimento rural onde se busca demonstrar que sua significação modificou-se ao longo da história de acordo com os objetivos e demandas econômicas e produtivas de cada década. Na segunda parte explicamos os procedimentos metodológicos adotados pela pesquisa, de caracterização qualitativa, com a utilização de análise documental e entrevistas com informantes-chaves como instrumentos de investigação. 
Na terceira seção do artigo, apresentamos as análises realizadas a partir das grades curriculares do Curso de Zootecnia, desde sua criação em 1970 até as reformas curriculares subsequentes, que culminam com a versão atual do curso com última atualização no ano de 2011. Analisam-se as disciplinas ofertadas, a partir das ementas e cargas horárias acordadas para cada grupo de disciplinas. Para tanto dividimos estas em quatro áreas mínimas: Ciências da Produção Animal – Ciências Econômicas – Ciências Sociais – Ciências Ambientais. Na quarta e última parte deste trabalho, tecemos algumas considerações acerca dos propósitos deste trabalho, identificando pontos a serem discutidos e considerados em possíveis reformas curriculares vindouras, no sentido de contribuir para a atualizaçãoda formação do profissional zootecnista, de acordo com as demandas do rural contemporâneo.
2. Desenvolvimento Rural: breve evolução de seu significado na sociedade brasileira.
A atividade agrícola, como prática social é notada há pelo menos 10.000 anos a.C. Desde então, muita coisa mudou. A agricultura se espalhou pelo mundo inteiro, as plantas cultivadas e os animais criados passaram por modificações genéticas que vem permitindo cada vez mais sua adaptação a diferentes ambientes. Desta forma, no decorrer da história da humanidade, pode-se afirmar que a agricultura influencia e é influenciada por mudanças politicas, sociais e culturais (ASSAD E ALMEIDA, 2004).
Neste sentido todos os esforços de análise destas transformações justificam-se no ímpeto de buscar a compreensão dos fenômenos que interferem na dinâmica da agricultura como as questões ambientais, culturais, sociais e econômicas. Assim, estudar a agricultura, sem considerar estas dimensões pode levar o profissional a equívocos, uma vez que, enquanto fenômeno eminentemente social, a agricultura depende da interseção destas dimensões para sua efetivação e desenvolvimento.
Mas afinal, o que é desenvolvimento? O Nascimento da ideia do desenvolvimento nasce por volta da década de 50 com o então discurso de posse do presidente dos Estados Unidos (EUA) Harry Truman:
“Mais da metade das pessoas estão vivendo em condições que se aproximam da miséria. A comida delas é inadequada, elas são vítimas de doenças. A vida delas é primitiva e estagnante. A pobreza delas é um problema, ameaça a elas mesmas e também as áreas mais prósperas. Pela primeira vez na história a humanidade possui o conhecimento e as ferramentas para aliviar o sofrimento dessas pessoas. Eu acredito que nós devemos tornar disponível para aqueles que amam a paz, os benefícios do nosso arsenal do conhecimento técnico com o objetivo de ajudar eles a realizarem suas aspirações por uma vida melhor. O que nós contemplamos é um programa de desenvolvimento baseado nos conceitos de relacionamentos democráticos. Maior produção é a chave para a prosperidade e a paz. E a chave para uma maior produção é uma ampla e vigorosa aplicação do moderno conhecimento técnico e científico” (FURTADO, 2009).
O que estava em jogo no discurso era a dicotomia atrasado x moderno, sendo que desenvolver significava sair da condição de atraso e este desafio teria na ciência e na tecnologia suas diretrizes fundamentais. Daí, tem-se entre as décadas de 50, 60 e 70 vários investimentos em tecnologias, instalações de indústrias e criação de Universidades em todo o mundo, com destaque para América Latina e em especial o Brasil, que apresentava condições propícias para a implementação de um modelo de desenvolvimento econômico com ênfase na produção agropecuária como carro chefe da economia nacional. 
Tem-se então a modernização da agricultura. Esta caracterizada pela utilização de insumos químicos, fertilizantes, uso de máquinas e implementos agrícolas (insumos modernos e de base científica) em substituição as tradicionais formas de produção (atraso). Para Graziano Neto (1985) a chamada modernização da agricultura não é outra coisa, para ser mais correto, que o processo de transformação capitalista da agricultura, que ocorre vinculado às transformações gerais da economia brasileira.
Este modelo de desenvolvimento objetivava ganhos econômicos por meio do aumento de produção e produtividade dos sistemas agropecuários o que garantiria melhoria na renda das famílias, criação de novos consumidores e por fim melhoria na qualidade de vida das populações. É na década de 1960 que esse processo vai se dar concretamente, com a implantação no Brasil de um setor industrial voltado para a produção de equipamentos e insumos para a agricultura. Pretendia-se passar de uma agricultura tradicional, totalmente dependente da natureza e praticada por meio de técnicas rudimentares, para uma agricultura mecanizada (NETO, 1985).
Segundo Gonçalves Neto (1997), apesar das modificações promovidas na economia brasileira, com aumento indiscutível dos índices de produtividade, o crescimento esperado e a qualidade de vida não se deram de maneira uniforme, mas sim com caráter excludente. O que se observou foi um quadro de exclusão e êxodo de muitas famílias que não conseguiram sustentar os altos custos do padrão moderno da agricultura, mesmo com crédito subsidiado, sendo observados nos anos 70 intensos fluxos migratórios campo-cidade, como demonstra a figura abaixo sistematizada por ASSAD E ALMEIDA, 2004.
Além disso, os resultados de impacto ambiental trazem à tona a necessidade de equalização da produção com o meio ambiente, visto os altos índices de contaminação de lençóis freáticos, rios, lagos e mares pelo uso intensivo de insumos químicos, bem como problemas de erosão e degradação de solos. 
Assistimos, a partir da década de 1960, um processo de modernização da agricultura brasileira, com dois grandes conjuntos de consequências: 1) Impactos ambientais: com problemas frequentes provocados pelo padrão de produção de monocultora como destruição das florestas e da biodiversidade genética, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e dos alimentos; 2) Impactos socioeconômicos: causadas pelas transformações rápidas e complexas da produção agrícola como o endividamento dos produtores e consequente êxodo rural que acometeu o País na década de 70 (BALSAN, 2006).
Navarro (2001) em seu artigo “Desenvolvimento rural no Brasil: os limites do passado e os caminhos do futuro” emite a preocupação de esclarecer as diferenças conceituais entre três expressões comumente confundidas com o mesmo significado: Desenvolvimento agrícola, desenvolvimento agrário e desenvolvimento rural.
	O desenvolvimento agrícola carrega em sua noção exclusivamente às condições da produção agrícola/agropecuária, no sentido estritamente produtivo, referem-se ao material da produção agropecuária, suas facetas e evolução. Ex.: área plantada, produtividade, formatos tecnológicos. Já o desenvolvimento agrário refere-se a interpretações acerca do “mundo rural” em suas relações com a sociedade maior e não somente a estrutura agrícola, como a vida social rural, por exemplo, as condições de trabalho da mulher, oportunidades aos jovens, condições de moradia e infraestrutura rural. Feito tais esclarecimentos, tem-se que o desenvolvimento rural é uma ação previamente articulada do desenvolvimento agrícola mais o agrário que conjuntamente podem promover mudanças em um determinado ambiente rural. 
Navarro (2001) ainda contextualiza que durante muito tempo, a noção de desenvolvimento rural esteve associada a um conjunto de ações do Estado e dos organismos internacionais destinados a intervenções nas regiões rurais pobres que não conseguiam se integrar ao processo de modernização agrícola via substituição de fatores de produção considerados atrasados. O autor então alerta que somente a partir da década de 1990, uma mudança de enfoque e de entendimento sobre o desenvolvimento rural passou a ganhar espaço no Brasil, revitalizando o tema e gerando novas abordagens.
Neste período os impactos do modelo de “crescimento econômico” são sentidos, emergindo a necessidade de incorporação de outras dimensões nas estratégias de desenvolvimento para além do econômico, como as dimensões social e ambiental. Neste período (início da década de 90) tem-se então a contribuição das discussões sobre desenvolvimento sustentável que vão influenciar diretamente nas estratégias de desenvolvimento rural.
Segundo o Relatório Brutland[footnoteRef:1] (1987) “Desenvolvimento Sustentável é aquele que responde às necessidades do presente de forma igualitária, mas sem comprometer as possibilidades de sobrevivência das gerações futuras”, assim as preocupações com o ambiente e a equidade social entram em definitivo nas agendas das políticas públicas internacionais, tendo o Brasil exercido papel importante neste cenário quando em 1992, sediou a 2ª Conferência Internacional do Meio Ambiente, que ficou conhecida como “Rio 92”.[1: Relatório Brundtland é o documento intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future), publicado em 1987 como resultado das discussões pertinentes ao 1º Encontro Internacional do Meio Ambiente, realizado em Estocolmo em 1972. O documento apresenta o conceito de Desenvolvimento Sustentável que vai guiar o desenvolvimento de todas as nações no início da década de 90.] 
Assim, pautados pelo paradigma da sustentabilidade assume-se o desafio do desenvolvimento rural considerando-se o compromisso com as gerações futuras, respeito a diversidade dos agroecossistemas, da cultura dos povos, das questões de gênero e juventude no meio rural e ainda a assistência técnica às diferentes categorias de produtores, buscando superar as lacunas do modelo de desenvolvimento econômico pautado pela modernização da agricultura que secundarizou estes problemas em prol da especialização produtiva e da tecnificação.
Tem-se o surgimento da concepção de um novo rural, este decorrente do próprio processo de modernização conservadora da base tecnológica da agropecuária. O rural deixa de ser “sinônimo de atraso” e se desconecta da agricultura, que passa a ser apenas uma de suas atividades. 
Segundo Schneider (2004) o novo rural é composto por três grupos de atividades: uma agropecuária moderna baseada em “commodities” e intimamente ligada às agroindústrias; um conjunto de atividades não agrícolas ligada à moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestação de serviços e, por último, um conjunto de novas atividades agropecuárias, impulsionadas por nichos de mercado. O semblante deste novo rural seriam a família pluriativas, que são aquelas que combinam atividades agrícolas e não-agrícolas e promovem a integração intersetorial (agricultura com comércio e serviços) e interespacial (rural com urbano). 
Também neste novo contexto emerge a importância da agricultura familiar como categoria sociopolítica. Esta delimitada e definida por lei desde 2006 (Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006) tem sido desígnio de inúmeras políticas públicas nos últimos vinte anos, proporcionando uma crescente visibilidade da categoria como agricultura moderna (e não mais apenas como de subsistência), importante produtora de alimentos e base do desenvolvimento de vários países (GUIMARÃES; TEIXEIRA; FILHO, 2015).
Assim temos a noção do rural contemporâneo como um espaço de caráter multidimensional (para além do agrícola) com problemas de caráter difuso e complexo, que exigem um esforço analítico acadêmico capaz de compreendê-lo como um espaço em permanente transformação, ora de ordem econômica, ora social, ambiental, cultural e até político-institucional. Desta forma como prepara-se profissionalmente para tais desafios?
Partindo-se do reconhecimento do papel da Universidade na promoção da sustentabilidade, emerge o questionamento que põe em pauta a seguinte questão: como as universidades brasileiras formadoras de profissionais de ciências agrárias, veem promovendo o desenvolvimento de habilidades profissionais para a sustentabilidade? De forma mais específica, como o Curso de Zootecnia da UFSM prepara profissionais para atuar como agentes de desenvolvimento rural?
3. O Curso de Graduação em Zootecnia da UFSM
	O Curso de Zootecnia chega a UFSM em 1970, sendo o terceiro curso a ser implantado no Brasil. Assim como o período da historia do País vivido neste momento, tem-se um curso voltado para a parte técnica que procura o desenvolvimento deste setor. Posteriormente temos reformas nas grades curriculares nos anos de 1985, 2005 e 2011.
	A profissão “Zootecnista” nasce no Brasil dentro de um contexto de avanços em pesquisas científicas e extensão rural como instrumentos para a modernização da agropecuária brasileira, tendo a cidade de Uruguaiana como “sede” do primeiro Curso de Zootecnia do País, criado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC - RS) em 1966. Depois disso em 1969, o curso foi ofertado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e em 1970, pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM (GUIMARÃES, 2015). 
	A profissão foi regulamentada em quatro de dezembro de 1968 pela lei federal 5.550, sendo que em julho de 1969, através do Parecer 406, Resolução n° 6, foi estabelecido o currículo mínimo e a duração para o curso de Zootecnia, previsto para quatro anos. A seguir reprisamos um trecho do parecer do Professor Octávio Domingues (importante nome na criação da profissão no Brasil) no Processo de Regulamentação da Profissão de Zootecnista:
"A criação de um Curso ou Escola de Zootecnia, desmembrando-o das Escolas de Agronomia e de Veterinária, é um fato natural decorrente do progresso e do tremendo desenvolvimento por que está passando a ciência zootécnica mesma. Trata-se de um fato semelhante àquele que motivou a criação (não sem resistências) de cursos e escolas independentes de Arquitetura, de Economia, de Geologia, desmembrados respectivamente das escolas de Engenharia, de Direito e ainda de Engenharia (esta deu assim duas novas escolas ou carreiras). Medida esta muito sábia, que determinou o extraordinário desenvolvimento, que tomou nossa arquitetura, bem como ainda nossos estudos econômicos e de geologia. E isto sem nenhum prejuízo para ninguém, e com vantagens para o país. O mesmo é o que se pretende para os cursos zootécnicos - sua aglutinação e desenvolvimento, bem preparados do que os atuais agronômicos e veterinários, que têm, na Escola, um mundo de coisas que estudar e cuidar -, coisas as mais diversas, e no meio delas está a Zootecnia sem espaço e tempo para se desenvolver. Na escola própria, serão zootecnistas com tempo a vagar (num curso de quatro anos) para se prepararem a fim de exercerem mais digna e sabiamente a profissão. O mesmo que ocorreu com os arquitetos, economistas e geólogos... Nada mais justo, nada mais democrático. E também mais estimulador das vocações, para o estudo da ciência da criação, e do exercício das práticas delas decorrentes” (Trecho reprisado no site do Curso de Zootecnia da UFSM).
	Na Universidade Federal de Santa Maria, desde sua criação o curso vem passando por reformulações pedagógicas com o objetivo de acompanhar as tendências de desenvolvimento da sociedade. Desta forma, compreendendo que a noção de desenvolvimento, bem como os instrumentos para promovê-lo vem sofrendo alterações ao longo dos últimos 50 anos, o Curso de Zootecnia promoveu uma série de alterações em suas grades curriculares, mais especificamente em 1985, 2005 e 2011.
	No período de sua criação na década de 70, o Curso de Zootecnia da UFSM apresentava uma grade curricular com cerca de cinquenta e quatro disciplinas, na sua maioria de caráter técnico como criações de bovinos, suínos, aves, entre outros. Depois, quinze anos após a criação do curso, surge a sua segunda grade curricular decorrente da primeira reformulação do curso em 1985, com um aumento de quinze disciplinas em seu total, totalizando 69 cadeiras ofertadas.
	Somente 20 anos após a criação da segunda grade curricular, em 2005, surge à terceira alteração, esta já baseada nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) voltadas para o curso, aprovadas em 2004 pelo Parecer Conselho Nacional de Educação/Conselho de Ensino Superior n.º 337, de 11 de novembro de 2004, passa a ter 64 disciplinas ofertadas.
	As Diretrizes Curriculares compreendem normas obrigatórias que orientam o planejamento curricular dos Cursos de Ensino Superior em Zootecnia. Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). São a referência para a elaboração das matrizes curriculares, esclarecendo os princípios de reformas curriculares e orientando os professores na busca de novas abordagens e metodologias para a educação profissional. Eles traçam os objetivos do curso, perfil profissional desejado, áreas do conhecimento a serem abordadas e componentes curriculares a serem incluídos. Em entrevista para este trabalho, a pedagoga responsável pela Unidade de Apoio Pedagógico do CCR, contextualiza os momentos de reforma curricular, dizendoque:
“Aqui no centro ocorreu um processo democrático em 2005 que se iniciou em 1997 e depois se intensificou. Se fez muitas discussões sobre as reformas curriculares, fazendo todo empenho para participação de todos os segmentos, pois ninguém conhecia o que era PPP e esse movimento democrático foi coordenado por nós, os coordenadores e a direção do centro. Se fez todo um esforço para participação de todos, discutindo desde os objetivos ate a atuação do profissional. No caso da Zootecnia tentamos fazer uma síntese disso para considerar tudo, porem fomos voto vencido e algumas vozes foram esquecidas em algumas áreas do conhecimento. Foi um momento importante que não tenho conhecimento de ter acontecido em outro centro” (PEDAGOGA da UAP/CCR).
	Na sequência, em 2011 acontece a quarta e última alteração de grade curricular, elevando o total de disciplinas ofertadas para setenta e sete.
	Em uma análise conjunta e de interseção dos documentos oficiais que dão origem legal ao curso em cada um de suas reformulações (1985, 2005 e 2011) ficam evidentes os interesses e objetivos que motivam tais reformulações, explicitando assim a interpretação do Curso da UFSM acerca das demandas contemporâneas da formação profissional em zootecnia. 
	Assim, a partir da história do Curso de Zootecnia da UFSM, seus objetivos e dinâmicas de negociação das alterações mencionadas, busca-se nas seções que seguem, identificar como o curso vem acompanhando as tendências de desenvolvimento em curso no País, buscando analisar sua contribuição na formação de profissionais aptos a contribuir com o desenvolvimento rural nos parâmetros contemporâneos.
4. Metodologia utilizada
A pesquisa realizada para o presente trabalho possui abordagem qualitativa, caracterizada por Spink e Menegon (1999), como aquela que aponta para a complexidade dos fenômenos sociais, permitindo compreender a subjetividade do objeto a partir de diálogos do pesquisador com a realidade estudada. 
Triviños (2009), por sua vez, apresenta a pesquisa qualitativa com as seguintes características: a) tem o ambiente natural com fonte de dados e o pesquisador como instrumento-chave; b) apresenta-se de forma descritiva; c) preocupa-se com o processo e não apenas com o produto; d) o fenômeno social é explicado num processo dialético indutivo-dedutivo; e) o significado é a preocupação essencial do pesquisador. 
Assim, com base nas condições citadas acima, buscando captar informações da realidade que auxiliem na compreensão do objetivo deste trabaho, utilizou-se os seguintes instrumentos de pesquisa:
- Análise documental: Considerando que os documentos são registros escritos que proporcionam informações em prol da compreensão dos fatos e relações possibilitando ao pesquisador conhecer o período histórico e social das ações e reconstruir os fatos e seus antecedentes, (Souza et all, 2011), foram feitas análises de documentos oficiais que registram a criação do Curso de Zootecnia na UFSM em 1970 e as reformas pela qual o curso passou em 1985, 2005 e 2011, tendo como suporte grades curriculares, ementas de disciplinas e Projetos Políticos-Pedagógicos elaborados. Nestes os seguintes elementos foram considerados: Objetivos do Curso - Número Total de Disciplinas Ofertadas – Disciplinas Ofertadas por subárea do conhecimento – Essência dos conteúdos ministrados (dispostos nas ementas) – carga horária e número de disciplinas dispendida para cada subárea do conhecimento, considerando-se a grande área do conheicmento as Ciências Agrárias. A partir daí é possível a identificação do perfil socioprofissional dos zootecnistas formados, sendo possível a percepção das habilidades inferidas na preparação de profissionais para o mercado de trabalho.
- Entrevistas com informantes chaves: técnica de pesquisa que visa obter informações de interesse a uma investigação, onde o pesquisador formula perguntas orientadoras com um objetivo definido, frente a frente com o respondente e dentro de uma interação social. Os escolhidos (chaves) são participantes ativos da problemática em estudo, contribuindo desta forma para a apreensão das questões, fatos e informações relevantes para o pesquisador (GIL, 1999). Com base nesta descrição foram entrevistados por meio de questionários abertos e semiestruturados, professores e gestores do Curso de Zootecnia da UFSM buscando-se reconstituir o processo histórico e sociopolítico dos fatos que constituem a criação e desenvolvimento do mesmo. As entrevistas auxiliam na reconstrução histórica dos processos sociopolíticos vivenciados pelo curso na UFSM evidenciando as impressões e anseios de alguns protagonistas das transformações vivenciadas pela Zootecnia da UFSM. Para tanto foram entrevistados três professores-gestores do curso e a pedagoga responsável pela Unidade de Apoio Pedagógico (UAP) do Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade.
5. Análise dos dados
	Com o objetivo de visualizar os processos de transformação políticos pedagógicos do Curso de Zootecnia da UFSM, apresentamos a seguir algumas reflexões acerca das reformas curriculares que aconteceram no curso desde sua criação na Universidade em 1970 buscando compreender como o Curso vem acompanhando as tendências de desenvolvimento rural na formação dos profissionais. Assim analisamos as transformações das grades curriculares ocorridas em 1985, 2005 e 2011.
	Faz-se importante esclarecer que segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (2006) o Curso de Zootecnia compreende a produção animal de ruminantes e de monogástricos e está organizado em nove áreas, sendo a interdisciplinariedade destas áreas responsável pela formação do futuro zootecnista. A seguir apresentamos um quadro que apresenta e resume as nove áreas de formação do conhecimento do zootecnista.
Quadro 01: Divisão das Áreas do conhecimento de atuação do Zootecnista segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (2006).
	ÁREA DO CONHECIMENTO
	OBJETIVO
	
Área de Ciências Morfofisiológicas
	Compreender a morfofisiologia do animal, contribuindo para a aplicação de conhecimentos básicos que auxiliarão no entendimento das diferentes espécies animais visando a qualidade na produção
	
Área de Ciências Veterinárias
	Proporcionar os conhecimentos fundamentais sobre a prevenção de enfermidades visando a produtividade animal sustentável.
	
Área de Ciências Exatas Aplicadas
	Desenvolver a capacidade de planejar e executar atividades que exijam cálculo, noções de física, bioestatística, entre outras que auxiliarão na tomada de decisões no processo produtivo, preparando-o para uma boa utilização dos recursos disponíveis em suas áreas de atuação.
	
Área de Ciências Ambientais
	Atuar na produtividade animal considerando as consequências das diferentes ações com relação ao meio ambiente na tentativa de evitar os problemas em decorrência do descuido com as questões ambientais.
	
Área de Ciências Agronômicas
	Compreender a relação solo-planta-animal e atmosfera para produzir alimentos dentro dos princípios de seguridade alimentar preparando-o para assessoria técnica responsável socioambientais.
	
Área de Ciências Econômicas e Sociais
	Desenvolver a capacidade empreendedora para a otimização da produção animal preparando-o para uma gestão econômica e socialmente viável do agronegócio capacitando-o para interagir no contexto sociocultural.
	
Área de Genética, Melhoramento e Reprodução Animal
	Utilizar os fundamentos genéticos e as biotecnologias da engenharia genética para a melhoria das características produtivas e reprodutivas viabilizando a manifestação do potencial genético para torná-los eficientes economicamente, sem afetar o bem-estar animal.
	
Área de Nutrição e Alimentação
	Compreender os processos químicos, físicos e biológicos que ocorrem no trato gastrointestinal para que os animais possam tirar proveito máximo dos nutrientes para atender as exigências nutricionais, bem como saber escolher, formular e fornecer alimentos visando o máximo desempenho animal e mínimo custo.
	
Área de Produção Animal e Industrialização
	
Compreender as diferentescadeias produtivas nos aspectos tecnológicos de produção, planejamento, industrialização e comercialização considerando as exigências do mercado e as necessidades da sociedade mais ampla. Inclui-se ainda a necessidade do profissional conhecer outras utilizações dos animais como lazer, companhia, animais exóticos e de serviços, entre outros.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
	Para o estudo em questão idealizou-se uma separação dos grupos de disciplinas separando-as nas seguintes subáreas do conhecimento das Ciências Agrárias: 1) Produção Animal; 2) Ciências Econômicas; 3) Ciências Sociais e 4) Ciências Ambientais. Tais dimensões foram escolhidas no sentido de possibilitar análises da preparação do profissional para atuar nos paradigmas da sustentabilidade que além da especificidade (produção animal) prevê a necessidade de conhecimentos nas áreas econômica, social e ambiental na promoção do desenvolvimento rural contemporâneo.
	A seguir as análises.
5.1 O Curso de Zootecnia da UFSM em 1970
	O Curso nasce na UFSM no auge do “desenvolvimento agrícola” brasileiro. A duração do curso era de quatro anos. Nos documentos oficiais que dão origem ao curso, lê-se como objetivo da formação do profissional Zootecnista o seguinte enunciado:
Promover a pessoa humana pelo saber e produzir proteínas e subprodutos animais para incrementar nossa economia e suprir a população de alimento essencial a uma vida saudável” (FELICE,.SANCHOTENE, sd).
	Devemos lembrar que em 1970, quando foi criado o curso na UFSM, o país vivia o auge do desenvolvimento agrícola que se iniciou logo após a Segunda Guerra Mundial, estendendo-se até o final da década de 70. A zootecnia na UFSM nasce então da necessidade de aperfeiçoamento da produção agropecuária brasileira, onde o Rio Grande do Sul ocupa posição de destaque com tradição na produção pecuária.
	Os propósitos produtivistas como necessidade de afirmar a então nova profissão, podem ser visualizados no quadro de disciplinas abaixo.
Quadro 02: Disciplinas por Área do Conhecimento na Grade Curricular do Curso de Zootecnia em 1970.
	Área do Conhecimento
	Disciplinas Ofertadas
	Carga horária total por Área do Conhecimento
	
Produção Animal
	Fundamentos de zootecnia, Alimentos e alimentação, Apicultura, Cunicultura, Equideocultura, Higiene e veterinária, Indústria de produtos animais, Melhoramento animal, Avaliação animal, Nutrição de ruminantes, Nutrição de não ruminantes, Bovinocultura de corte, Bovinocultura de leite, Ovinocultura, Reprodução zootécnica, Avicultura, Suinocultura e Piscicultura,
	
1095 horas
	Ciências Econômicas
	Economia rural, Administração rural, Comercialização agrícola e Elaboração e avaliação de projetos agropecuários.
	
180 hs
	
Ciências Sociais
	Iniciação a zootecnia , Estudos dos Problemas Brasileiros A (EPB), Estudos dos Problemas Brasileiros B e Extensão rural,
	
180 hs
	Ciências Ambientais
	Inexistente
	-------
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
	Conforme o atual diretor do Centro de Ciências Rurais (CCR) da UFSM, Irineo Zanella, calouro em 1976, o curso “visava uma formação tecnicista e pouco humanística”, compatível com o modelo de desenvolvimento econômico da época baseado na modernização da agricultura, onde o objetivo maior era a produção e o aumento da produtividade, ficando secundárias as questões ligadas ao social e mesmo ao ambiental, que como não era uma preocupação sentida na época, não entrava na área de conhecimento para atuação do zootecnista.
	Neste período a grade é compatível com a estratégia de desenvolvimento econômico agrícola, determinado, segundo Navarro (2001), pelas condições da produção agrícola/agropecuária, no sentido estritamente produtivo, referindo-se ao material da produção agropecuária, suas facetas e evolução. Esta preocupação específica com formação técnica ilustra-se também pela ausência de disciplinas que tratem da questão ambiental, refletindo uma percepção de desenvolvimento da década de 70, ainda não preocupada com o meio ambiente e sua relação com os sistemas produtivos. 
	Já as disciplinas oferecidas na área do conhecimento das Ciências Sociais aparecem de forma tímida, mas presentes, apontando uma preocupação com a formação acadêmica, de profissionais vinculados a realidade do País nesta década, o que é expresso nas disciplinas de caráter socioeconômico, como Economia Rural e mesmo Estudo dos Problemas Brasileiros (EPB)
5.2 O Curso de Zootecnica da UFSM em 1985
	A primeira reforma curricular do Curso de Zootecnia da UFSM aconteceu no ano de 1985, motivada pela lei n.º 7.044/1982 que introduziu significativa mudança na concepção de educação profissionalizante, ao substituir a orientação de “qualificação” para o trabalho por “preparação” para o trabalho. Nesta reforma o curso passa a ter cinco anos de duração. Nos documentos oficiais da reforma do Curso neste ano, tem-se o seguinte objetivo como missão do Curso:
Formar técnicos de nível superior capacitados a atuar, harmonicamente com a natureza, junto aos meios de produção, pesquisa, ensino e extensão zootécnica, através da aplicação de fatores de produção, visando o aumento da produtividade animal que atenda aos interesses sociais da comunidade em que estiver inserido (ORGANIZAÇÃO CURRICULAR, 1985).
Quadro 03: Disciplinas por Área do Conhecimento na Grade Curricular do Curso de Zootecnia em 1985.
	Área do Conhecimento
	Disciplinas Ofertadas
	Carga horária total por Área do Conhecimento
	
Produção Animal
	Etologia, Bromatologia animal, Tecnologia dos produtos de origem animal, Nutrição animal, Alimentação de monogástricos, Alimentação de ruminantes, Avaliação animal, Melhoramento animal básico, Reprodução zootécnica, Apicultura, Cunicultura, Melhoramento animal aplicado, Ranicultura, Sericultura, Avicultura, Caprinocultura, Equideocultura, Piscicultura, Suinocultura, Bovinocultura de corte, Bovinocultura de leite, Bubalinocultura e Ovinocultura
	
1275 hs
	
Ciências Econômicas
	Economia rural, Administração rural, Elaboração e avaliação de projetos agropecuários e Cooperativismo e comercialização agrícola.
	
240 hs
	
Ciências Sociais
	Iniciação a zootecnia, Estudos dos Problemas Brasileiros A, Estudos dos Problemas Brasileiros B, Sociologia Rural e Extensão Rural.
	
225 hs
	Ciências Ambientais
	Ecologia básica e Fauna silvestre
	75 hs
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
	Percebe-se na área de Produção Animal um aumento da diversidade de sistemas de produção animal atendidos, incluindo sistemas alternativos como Cunicultura, Ranicultura e até Sericultura (criação do bicho da seda) buscando ampliar assim as áreas a serem exploradas pelos futuros zootecnistas, uma vez que ainda se buscava um perfil profissional para o curso.
	No que se refere às ciências econômicas destaque aqui para a inclusão da disciplina de Cooperativismo e comercialização agrícola que também ilustram as preocupações que cercavam o desenvolvimento socioeconômico da década de 80.
	Quinze anos após a criação do Curso de Zootecnia da UFSM, aparecem às primeiras disciplinas voltadas para a área ambiental, efetivando-se as primeiras iniciativas políticas acadêmicas em relação à preocupação com os efeitos do desenvolvimento econômico iniciado na década anterior (impactos ambientais negativos no solo e água, por exemplo) objetivando a harmonia com a “natureza”, propondo assim disciplinas especificas. As disciplinas de Fauna Silvestre e Ecologia ilustram bem esta preocupação, mostrando que a Zootecnia da UFSM estava interligada com as transformação sociopolíticas que vivia o desenvolvimento rural brasileiro na época.
	Quanto à área social é importante ressaltar que este período caracteriza-se pelo fim do período da ditadura militar (1964-1985) e consequente redemocratização do País, colocando nas grades curriculares acadêmicas a obrigatoriedade da disciplina Sociologia Rural, juntamente com os Estudos dos Problemas Brasileiros (EPB).
	Assim, em uma comparação breve do currículo do Curso da UFSM idealizado em 1985, comparado ao de 1970, evidencia-se, juntamente com o aumento deum ano de duração do curso, incremento na diversidade de sistemas de criação estudados, aumento na considerável na carga horária das áreas econômica e social e inclusão da área ambiental como conhecimento necessário para a atuação do zootecnista.
	Esta grade curricular vai permanecer sem alterações por vinte anos na UFSM, colocando em 2005 a necessidade urgente de sua reformulação dado um conjunto de alterações sociopolíticas que vinham acontecendo no País nos anos noventa (como a implementação da LDB/96 que vai dar obrigatoriedade as Universidades da elaboração de Projetos Políticos-Pedagógicos dos Cursos ofertados) e início de anos dois mil, como os debates da sustentabilidade que já haviam ingressado nas agendas das políticas públicas nacionais e mesmo universidades, colocando ao Curso de Zootecnia da UFSM a necessidade urgente de “modernização” de suas bases curriculares.
	.
5.3 O Curso de Zootecnia da UFSM em 2005
	Passados vinte anos da primeira reforma curricular tem-se a segunda, realizada em 2005. Esta, já norteada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Zootecnia, vai apresentar mudanças significativas no curso e em sua grade. No Projeto Politico-Pedagógico do curso de Zootecnia da UFSM, disponível no site do Curso, pode-se ler os seguintes objetivos:
O curso buscará diversificação didático-pedagógicos que privilegiem a pesquisa e a extensão como instrumentos de aprendizagem; ênfase a interdisciplinaridade e ao trabalho multiprofissional; formação humanística. (PPP do Curso, 2005)
	
	A seguir a grade curricular da reforma de 2005.
Quadro 04: Disciplinas por Área do Conhecimento na Grade Curricular do Curso de Zootecnia em 2005.
	Área do Conhecimento
	Disciplinas Ofertadas
	Carga horária total por Área do Conhecimento
	
Produção Animal
	Tecnologia dos produtos de origem animal, Análise de cadeias produtivas, Avaliação animal, Comportamento e bem estar animal, Melhoramento animal I, Nutrição animal I, Qualidade e sustentabilidade na produção animal, Reprodução zootécnica, Alimentação e nutrição de monogástricos I, Alimentação e nutrição de ruminantes I, Apicultura, Avicultura I, Bovinocultura de corte I, Bovinocultura de leite I, Melhoramento animal II, Ovinocultura I, Piscicultura, Suinocultura I, Flexível: Bloco I – Produção de monogástricos (Alimentação e nutrição de monogástricos II, Avicultura II, Cunicultura, Equideocultura, Suinocultura II), Bloco II – Produção de ruminantes (Alimentação e nutrição de ruminantes II, Bovinocultura de corte II, Bovinocultura de leite II, Forragicultura II, Ovinocultura II), DCGs: (Bubalinocultura, Caprinocultura, Criações Alternativas, Nutrição de cães e gatos). 
	
1290 hs
	Ciências Econômicas
	Administração e projetos agropecuários, Economia rural e Mercados agropecuários
	150 hs
	
Ciências Sociais
	Extensão e Comunicação Rural, Extensão e Desenvolvimento Rural, Legislação Agraria e Ambiental, Sociologia da Cooperação e Sociologia Rural,
	
180 hs
	Ciências Ambientais
	Fauna silvestre, Ciência do ambiente e Gestão ambiental.
	120 hs
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
	A principal alteração no “formato” do curso vai apresentar-se na possibilidade de escolha do aluno do conjunto de disciplinas de habilidades específicas (produção animal), divididas nesta grade curricular em “225 hs em monogástricos ou ruminantes”, considerando também alterações no tempo de duração do curso, que de cinco anos, cai para quatro anos e meio. Além disso deve-se considerar também que o Parecer CNE/CES n.º 329, de 11 de novembro de 2004, que delimitou as DCNs do Curso, ao tratar da questão da carga horária mínima dos cursos de graduação diminuiu a carga horária total do Curso, comparada ao de 1985. 
	No Projeto Político-Pedagógico do Curso (PPP) é possível ler os seguintes objetivos descritos:
“Reconhece-se que há um numero reduzido de projetos de extensão, devendo-se criar formas de incentivo para que mais professores se dediquem a essa atividade, por meio de recursos mais atrativos do que os atuais, elaborando e desenvolvendo pelo menos um projeto”. 
“Promover a formação “humanística” .
 “Busca de uma identidade clara e ênfase a interdisciplinaridade e trabalho multiprofissional”.
	Contextualizando estes objetivos, o chefe do Departamento de Zootecnia Arlei Quadros cita que:
 “Na reforma de 2005, se incluíram as disciplinas “chamadas II” buscando atender a demanda de extensão, descrita nos objetivos do PPP. Por isso nestas disciplinas se busca viajar com as turmas, mostrar experiências etc.”. 
	
Essas disciplinas todas relacionadas à área do conhecimento em Produção Animal que nesta reforma apresentam-se no “Bloco I” como comuns a todos os alunos, já as do “Bloco II”, deveriam ser optadas ou por monogástricos ou por ruminantes, fechando 225 hs de uma suposta especialização do estudante.
	Destaque também nesta área do conhecimento para a inclusão das disciplinas de “Comportamento e Bem Estar Animal” e ainda “Qualidade e Sustentabilidade na Produção animal”, estas balizadas pela inclusão das questões referentes à sustentabilidade nas políticas públicas brasileiras que trazem a tona temas como direito dos animais e controle de qualidade nos sistemas alimentares.
	Nas ciências econômicas, observa-se uma redução da carga horária com diminuição do número de disciplinas, uma vez que se passa a aglutinar as disciplinas em uma só, caso de Administração e Projetos Agropecuários”.
	Quanto às disciplinas vinculadas às Ciências Sociais percebe-se um aumento no número de disciplinas (variedade), mas uma diminuição na carga horária total. Na análise deste trabalho, esta diminuição é acarretada pela exclusão das disciplinas de EPB (A e B) do currículo que passam a ser substituídas pela disciplina de Sociologia Rural com carga horária de 45 hs . 	
	Em contrapartida a emergência de temas referentes à área da Extensão Rural como desenvolvimento rural, comunicação rural e ainda Sociologia da Cooperação trazem a tona a necessidade de inclusão destas temáticas para a formação multiprofissional (descrita em nos objetivos do curso) visto a abertura de vagas em concursos públicos para zootecnistas como Emater e Secretarias de Agricultura (do Estado e Municípios) que passam a cobrar tais conhecimentos, já solidificados no campo científico e revertidos em políticas públicas para o desenvolvimento rural como a questão da assistência técnica e mesmo o reconhecimento da Agricultura Familiar como categoria sociopolítica emergente na sociedade brasileira (Lei da Agricultura Familiar de 2006). Esta mesma reflexão serve para justificar a inclusão da disciplina de Legislação Agrária e Ambiental na grade.
	Outra questão que precisa ser destacada na área das ciências sociais refere-se à disciplina de Iniciação a Zootecnia. Até esta reforma curricular, a disciplina era de responsabilidade do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural (DEAR) da UFSM, comumente responsável pela oferta das disciplinas de caráter socioeconômico nos cursos do Centro de Ciências Rurais (CCR) da UFSM. Têm-se que a partir de 2005, a disciplina passa a pertencer ao Departamento de Zootecnia. A fala do professor Gerson Garcia atual Coordenador do Curso de Zootecnia dá visibilidade a esta lógica, quando diz “uma disciplina importante para o curso é a de Introdução a Zootecnia, onde os setores vão ate os alunos “vender” seu setor”. Desta forma, o aluno que ingressa no curso conhece um pouco de cada setor, podendo expandir o conhecimento sobre a área de atuação do futuro profissional.
	Nota-se um acréscimo de 45 hs em relação a grade anterior na área ambiental. Isso se deve a inclusão das disciplinas de Gestão ambiental e Ciência do ambiente, ambas com 45 hs de carga horária, enquanto sai a disciplina de Ecologia básica.
	Outra novidade implementada na grade de 2005 é a oferta de Disciplinas Complementares de Graduação (DCGs), obrigatórias segundo as DCNs. São então oferecidos os seguintes componentes curriculares: Bubalinocultura, Caprinocultura, Criações Alternativas, Nutrição de cãese gato. Estas devem ser cursadas em no mínimo 225 horas, o que implica em cerca de 5 disciplinas, conforme disposto no PPP do curso.
	
5.4 O Curso de Zootecnia da UFSM em 2011
	Em meados de 2010 o curso sente novamente a necessidade de reformulação, tem-se então a terceira e última reforma curricular do Curso de Zootecnia que se apresenta com nova versão em 2011. Esta marcada pelo retorno aos cinco anos de duração do curso e o fim dos “princípios” de especialização em monogástricos ou ruminantes, o que segue no quadro abaixo.
Quadro 05: Disciplinas por Área do Conhecimento na Grade Curricular do Curso de Zootecnia em 2011.
	Área do Conhecimento
	Disciplinas Ofertadas
	Carga horária total por Área do Conhecimento
	
Produção Animal
	Comportamento e bem estar animal, Bromatologia animal, Nutrição animal, Reprodução e técnicas de inseminação artificial, Tecnologia dos produtos de origem animal, Alimentação e nutrição de monogástricos I, Criação de cães e gatos, Alimentação e nutrição de ruminantes I, Equideocultura, Avicultura I, Bovinocultura de corte I, Suinocultura I, Bovinocultura de leite I, Ovinocultura I, Melhoramento animal I, Avaliação Animal, Qualidade, segurança alimentar e sustentabilidade na produção animal, Piscicultura, Apicultura, Análises de cadeias produtivas, Melhoramento animal II, Avicultura II, Suinocultura II, Ovinocultura II, Bovinocultura de corte II, Bovinocultura de leite II, Alimentação e nutrição de monogástricos II e Alimentação e nutrição de ruminantes II,
	
1350 hs
	Ciências Econômicas
	Introdução à economia rural, Administração e projetos agropecuários, Fundamento de mercados agropecuários, Gestão de custos e Fundamentos de marketing para negócios agropecuários
	
180 hs
	
Ciências Sociais
	 Sociologia rural, Tópicos em desenvolvimento rural, Tópicos em legislação agraria e ambiental, Sociologia da cooperação e Princípios de comunicação e extensão rural
	
150 hs
	Ciências Ambientais
	Ciência do ambiente, Gestão ambiental e Tratamento de águas e efluentes na produção animal,
	90 hs
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
	A quarta e última grade curricular do curso de Zootecnia da UFSM, mantém basicamente os mesmo objetivos da anterior (2005), com alguns acréscimos: na parte de produção animal, aparece pela primeira vez a obrigatoriedade da disciplina de Criações de cães e gatos, atendendo assim a uma demanda que cresce constantemente no país, absorvendo desta forma novos mercados agropecuários. Também são incorporadas as disciplinas de “Reprodução e Técnicas de Inseminação Artificial” e “Qualidade, Segurança Alimentar e Sustentabilidade na Produção Animal”, esta última traz ao futuro zootecnista um embasamento teórico para obter uma nova visão de produção sustentável com qualidade. 
	Junto das Ciências Econômicas nota-se uma variabilidade maior nas disciplinas, porém com uma carga horária de 30 hs cada, como o exemplo claro da aglutinação das disciplinas temos, Administração rural e Elaboração e avaliação de projetos agropecuários, distintas na primeira e segunda grade curricular que somavam 90 e 120 hs, enquanto na grade atual estão unidas, somando apenas 60 hs.
	Já na área de Ciências Sociais há uma redução para 30 hs das disciplinas trabalhadas, bem como a inclusão de novas disciplinas, também de 30 hs, porém diminuindo o total em relação a 2005. A área das Ciências Ambientais, por sua vez, incorpora na grade curricular a disciplina de Tratamento de águas e efluentes na produção animal, mostrando assim a preocupação do Curso com os recursos hídricos e suas formas de preservação. Por fim, a grade curricular de 2011 inova com a obrigatoriedade da elaboração de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), ainda inexistente nas grades anteriores, acompanhando uma tendência dos cursos do CCR.
6. Considerações Finais
	Nota-se o papel da Universidade Federal de Santa Maria no desenvolvimento da educação brasileira, principalmente do Rio Grande do Sul, onde aparece como importante instituição de ensino superior no interior do Estado. No caso do Curso de Zootecnia, temos a UFSM como o segundo mais antigo do País, depois do encerramento das atividades do curso na PUC em Uruguaiana (pioneiro). Atualmente são cerca de 100 faculdades de Zootecnia espalhadas por todo País, sendo sete delas em nosso Estado: Santa Maria/UFSM, Palmeira das Missões/UFSM, Sertão/IFRS, Dom Pedrito/UNIPAMPA, Alegrete/IFF, Porto Alegre/UFRGS, Pelotas/UFPel. Como menciona o atual coordenador do Curso de Zootecnia da UFSM, Gerson Garcia “A zootecnia da UFSM tem 45 anos e é referencia para o resto do Estado, por isso precisamos democratizar o Curso”.
	Por esta razão, o presente trabalho buscou fazer uma reflexão acerca do Curso, buscando analisar como este vem preparando profissionais para atuarem no mercado de trabalho como agentes de desenvolvimento rural visto a importância da profissão Zootecnista para o desenvolvimento rural nacional e gaúcho através da produção de alimentos.
	As análises foram feitas a partir de documentos oficiais que sintetizam objetivos e componentes curriculares do curso, disponíveis nas versões mais antigas (1970) nos arquivos da Pró Reitoria de Graduação (PROGRAD). Neste ano, em específico, os documentos oficiais são mais sucintos, o que melhora na versão de 1985 que dispõe de informações sistematizadas em um “livreto” disponível na secretaria da Coordenação do Curso de Zootecnia. Já as versões de 2005 e 2011 possuem Projetos Políticos-Pedagógicos (PPPs) exigidos a partir da LDBD/96, que passa a dar obrigatoriedade destes documentos para todos os cursos universitários oferecidos. Os PPPs são de fácil acesso estando inclusive disponíveis on line na página do curso, favorecendo o acesso democrático a estes importantes documentos.
	A partir destes tem-se o seguinte resumo das disciplinas ofertadas por áreas do conhecimento elencadas por este trabalho.
Quadro 06: Cargas horárias separadas por área do conhecimento de atuação do Zootecnista – UFSM.
	
Grade Curricular 
	
Duração do Curso
	Carga horária por área do conhecimento (horas)
	
	
	Ciências da Produção animal
	Ciências Econômicas
	Ciências Sociais
	Ciências Ambientais
	1970
	4 anos
	1095
	180
	180
	-----
	1985
	5 anos
	1275
	240
	225
	75
	2005
	4,5 anos
	1290
	150
	180
	120
	2011
	5 anos
	1350
	180
	150
	90
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.
	Tendo em vista o estudo feito das grades curriculares do Curso de Zootecnia da UFSM, este iniciado no auge do desenvolvimento agrícola, notou-se que a linha traçada para o perfil profissional tem sua demarcação voltada para a parte técnica da produção animal. Verifica-se que para acompanhar o desenvolvimento do país na década de 70, o curso voltava-se para áreas que atendessem essa demanda, tecnificando enfaticamente o profissional, objetivando a modernização da agricultura (sair do atraso produtivo) e assim secundarizando as áreas econômica, social e a ambiental, como demonstra o quadro 06. 
	A primeira reforma curricular, realizada em 1985, trouxe um aumento geral na carga horária do curso, diversificando a área da produção animal, enfatizando as ciências econômicas e sociais e trazendo a tona a questão ambiental. Têm-se aqui a redemocratização do País (fim da ditadura militar) com as universidades focando na formação de profissionais interligados com a sociedade e seus problemas, daí o surgimento da área ambiental na grade curricular. Esta versão ainda apresenta uma variedade de sistemas produtivos trabalhados, demonstrando a busca da profissão por uma identidade de atuação, o que reflete de certa forma a busca do País por modelos de produção economicamente viáveis, como salienta o atual Diretor do CCR, professor Irineo Zanella, quando diz que “a preocupação do curso sempre foi com o econômico, tornar viável a produção, por isso a importância das disciplinas de economia”.
 	Em 2005, vinte anos após a primeira reforma curricular, tem-se uma nova estruturação, esta baseada pelos DCNs, onde se têm o primeiro PPP do curso. Nele enfatizam-se as ciências voltadas à produção animal,proporcionando a realização da escolha entre os blocos de monogástricos e ruminantes, nas disciplinas “II”. Esta versão do curso apresenta-se com redução de um semestre, comparada à versão de 1985. Nesta diminuição de carga horária total do curso, as áreas das Ciências Econômicas e Sociais sofrem diminuição, mas ganha força nas disciplinas relativas às ciências ambientais, com a inclusão de conhecimentos na área de Gestão ambiental e Ciências do Ambiente, demandas fortes da sustentabilidade no final dos anos 90.
	Já a última versão do curso, de 2011, apresenta momentos de preocupação com as novas demandas e objetivos da sociedade, passando a valorizar um ambiente mais múltiplo e sustentável, descrito no PPP do Curso. Contudo percebe-se uma forte tendência a especialização profissional em seu sentido mais estrito, ou seja, ênfase na produção animal com pouca conexão com o rural múltiplo e diverso que caracteriza o atual cenário brasileiro. Isto fica evidente com o decréscimo das cargas horárias disponíveis nas áreas econômica, social e ambiental, como demonstram os dados do Quadro 06. 	
	Comparando-se esta grade com a de 1970 e mesmo a de 1985, evidencia-se um padrão profissional semelhante, no entanto temos um cenário atual muito diferente nos desafios para o desenvolvimento rural, tanto nos aspectos de produção quanto de desenvolvimento agrário. Este marcado pelo fortalecimento do agronegócio simbolizado pela grande expansão do cultivo da soja e de outro lado pelo fortalecimento da categoria da agricultura familiar.	No entanto não verificamos este acompanhamento, estando as disciplinas ainda muito segmentadas aos sistemas produtivos tradicionais, de domínio da agricultura patronal, aos complexos agroindustriais e às grandes integradoras. Entende-se que as Disciplinas Complementares de Graduação, as DCGs, poderiam dar conta de parte destas lacunas, oferecendo possibilidade de conhecimentos em sistemas de produção familiar, como por exemplo, Pecuária Familiar, visto que cerca de 70 % das propriedades rurais no Brasil são de caracterização Familiar, gerando cerca de 40 % do Valor Bruto de Produção e isto ocupando apenas cerca de 25 % da área agricultável do País (ASSAD E ALMEIDA, 2004).
	Fala do Chefe do Departamento de Zootecnia da UFSM, Arlei Quadros atenta para o fato de que:
“o curso de Zootecnia vem sendo ministrado por professores que se formaram basicamente em estudos do século XIX, educando profissionais com ferramentas ou instrumentos do século XX, para estes trabalharem no século XXI”.
	O depoimento revela as dificuldades da Universidade em manter-se atualizada frente a intensos períodos de transformação social, política e econômica que vive o País. Neste sentido, deve-se ainda considerar que em quase 50 anos de Zootecnia, os desafios para a consolidação da profissão enquanto categoria socioprofissional específica ainda são muitos no Brasil, como a criação de um Conselho Profissional (desmembrando-se do CRMV) que depende de mudanças na Lei 5.550/1968, que regulamenta a profissão Zootecnista e a criação dos Conselhos Federal e Estaduais de Zootecnia, que por sua vez, tramita no congresso, até a abertura de mais vagas em concursos públicos que ainda são poucos para a profissão.
	Por fim salienta-se novamente a preocupação deste trabalho em analisar os propósitos de formação profissional do Curso de Zootecnia da UFSM reconhecendo-se a importância deste como referência para os demais Cursos de Zootecnia do País e, portanto, sua responsabilidade na atualização do curso. Reconhecem-se, neste sentido, as limitações deste trabalho no que tange ao alcance das análises, visto o tempo curto de estudo e as dificuldades de obtenção e compreensão dos documentos analisados. De toda forma, deixa-se aqui uma série de reflexões que objetivam contribuir para futuras reformulações, tendo sempre em vista o rural contemporâneo e suas demandas de ordem produtiva, mas também econômica, social e ambiental, das quais o Zootecnista precisa se apropriar.
6. Referências Bibliográficas
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BRASIl. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior. Parecer CNE/CES nº329, de 11 de novembro de 2004. Delimita as Diretrizes Curriculares nacionais, ao tratar da questão da carga horária mínima dos cursos de graduação. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2004.
BRASIL. Resolução nº4, de 2 de Fevereiro de 2006. Aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Zootecnia e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasilia, DF, 2006. Disponível em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces04_06.pdf 
FELICE, J. F. S. Marco histórico da Zootecnia no Brasil, sd. Disponível em: www.abz.org.br/...tecnicas/.../3732-Marco-Histrico-Zootecnia-Brasil.html 
FURTADO, C. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. São Paulo: Contraponto, 2009. 
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GUIMARÃES, G.M. Dia do Zootecnista: O significado do “13 de Maio” nas conquistas e desafios da profissão no Brasil. Disponível em: http://site.ufsm.br/noticias/exibir/dia-do-zootecnista-o-significado-do-13-de-maio-nas Acesso em 04/06/2015.
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