Buscar

mulheres na política

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

LÍGIA EVELIN AUGUSTA DE OLIVEIRA
O “SALTO” NOS DIREITOS POLÍTICOS DAS MULHERES
São Paulo 2020.
LÍGIA EVELIN AUGUSTA DE OLIVEIRA
O “SALTO” NOS DIREITOS POLÍTICOS DAS MULHERES
Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em Ciência Política Contemporânea da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP, como requisito parcial ao título de Especialista em Ciência Política.
Orientadora: Tathiana Chicarino
São Paulo 2020.
Banca examinadora
Biblioteca FESPSP – Catalogação-na-Publicação (CIP)
324.623
O115s Oliveira, Ligia Evelin Augusta de.
O "salto" nos direitos políticos das mulheres / Ligia Evelin Augusta de Oliveira. – 2020.
62 p. : il. ; 30 cm.
Orientador: Prof. Mestre Derick Casagrande Santiago. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciência
Política Contemporânea) – Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Bibliografia: p. 56-62.
1. Mulher. 2. Direitos. 3. Políticos. 4. Politica. I. Santiago, Derick Casagrande. II. Título.
CDD 23. : Sufrágio feminino – Ciência política 324.623 Elaborada por Éderson Ferreira Crispim CRB-8/9724
RESUMO
A presente monografia tem como objetivo específico, traçar um estudo da trajetória dos direitos políticos das mulheres. Os desafios enfrentados contra o sistema que, pautado no senso comum e em lei que pouco ou nada favoreciam o sexo feminino; preteriram o direito das mulheres em participarem do cenário político nacional e mundial. Ademais, sem a menor pretensão de esgotar o tema; o presente estudo, ainda abordará; ainda que em síntese, os eventos sociais que de forma relevante, contribuíram para a conquista dos direitos políticos femininos; o caminhar árduo entre a constatação de fato concernente na importância de que a mulher participasse como sujeito de direito, com direitos políticos, bem como a evolução dos mesmos até que, na condição de elegíveis, passaram a integrar o cenário político de forma efetiva; ainda que nos deparamos com desigualdades de gêneros também na esfera política mundial. O desenvolver do trabalho ora apresentado se mostra, ao menos no tema; imprescindível para compreendermos que o salto nos direitos políticos femininos é mais que metafórico, é sobretudo, questão de honra; pois, as mulheres usam seus sapatos de saltos não para se impor, mas para diferenciarem-se; mesmo quando a luta é por igualdade. A diferença está na elegância, na perseverança; no correr atrás de direitos, ainda que o símbolo seja seu “salto alto”.
Palavra-chave: Mulheres. Direitos Políticos. Política.
ABSTRACT
The present work has a specific objective, to trace a study of the trajectory of the political rights of women. The challenges faced against the system which, based on common sense and the law, which favored little or nothing favored the female sex; neglected the right of women to participate in the national and global political scene. Furthermore, without the slightest intention of exhausting the topic; the present study will still address; although in summary, the social events that, in a relevant way, contributed to the conquest of women's political rights; the strenuous walk between the finding of fact concerning the importance of women participating as subjects of law, with political rights, as well as the evolution of them until, as eligible, they effectively joined the political scene; although we are faced with gender inequalities also in the world political sphere. The development of the work now presented is shown, at least in the theme; essential to understand that the leap in women's political rights is more than metaphorical, it is, above all, a matter of honor; for women use their high heels not to impose themselves, but to differentiate themselves; even when the fight is for equality. The difference is in elegance, in perseverance; in running after rights, even though the symbol is your “high heels”.
Keyword: Women. Political Rights. Policy.
" Podes ter de travar uma batalha mais de uma vez, para a vencer.” (Margaret Thatcher)
“O preço a pagar pela tua não participação na política é ser governado por quem é inferior.”
(Platão)
“Apesar de tudo eu ainda acredito na bondade
humana.” (Anne Frank)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus filhos, Giovanna Yasmin e João Matheus, possuidores de todo o meu amor e gratidão, com os quais os meus dias se mostram ser bem mais proveitosos e felizes.
Aos meus pais, Benedito e Isabel, minhas referências para todas as coisas que me proponho a realizar, dignos da minha imensa gratidão e amor.
A Deus, por ter me permitido sonhar, idealizar e
conquistar meus objetivos.
AGRADECIMENTOS
Aos colegas de curso e aos amigos de profissão, que mesmo em momentos distintos, se fizeram presentes, dispensando atenção ímpar, capaz de tornar-me cada dia mais confiante e preparada para enfrentar os obstáculos que surgiram ao longo dessa caminhada.
Aos mestres, que me transmitiram seu conhecimento com competência e maestria, e com simplicidade e paciência, agregando-me valores como profissional e como mulher.
Aos familiares, que compreensivamente, aceitaram a minha ausência e torceram para que eu atingisse o meu objetivo.
LISTA DE ABREVIATURAS
Segue a lista de abreviaturas utilizadas na elaboração desta monografia, bem como pelos operadores do Direito como um todo (advogados, juízes, promotores, delegados, etc.)
ART. artigo
AVC. Acidente Vascular Cerebral CF. Constituição Federal
CUT. Central Única dos Trabalhadores
DOPS. Departamento de Ordem Política e Social EUA. Estados Unidos da América
FBPF. Federação Brasileira pelo Progresso Feminino IPTU. Imposto Predial e Territorial Urbano
IRA. Exército Republicano Irlandês MP 's. Medidas Provisórias
ONU. Organização das Nações Unidas
PAC. Programa de Aceleração do Crescimento PCB. Partido Comunista Brasileiro
PT. Partido dos Trabalhadores STF. Supremo Tribunal Federal TSE. Tribunal Superior Eleitoral
VAR. Vanguarda Armada Revolucionária
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	11
CAPÍTULO 1
1. A MULHER NA BUSCA DE DIREITOS – PONTUAÇÕES HISTÓRICAS
1.1. O contexto histórico dos direitos das mulheres ao voto	13
1.2. As pioneiras brasileiras na luta pelo direito ao voto	19
CAPÍTULO 2
2. A “DAMA DE FERRO”
2.1. Margaret Thatcher – o salto alto no poder	26
2.2. Thatcher - renúncia e morte	33
CAPÍTULO 3
3. A MULHER NA POLÍTICA ATUAL BRASILEIRA
3.1. 154º lugar – evoluímos?	39
3.2. O que consta na Lei conta na prática?	44
3.3. A desproporcional luta feminina na política nacional.	48
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS	52
BIBLIOGRAFIA	56
INTRODUÇÃO
A monografia em apreço vem discorrer acerca dos direitos políticos das mulheres; e, sem a mínima pretensão de esgotar o tema, traz à baila os aspectos relevantes que englobam os fatos históricos marcantes na conquista dos direitos políticos das mulheres até o reconhecimento legal, in casu, no Brasil, com a equiparação do direito ao voto das mulheres tal como o dos homens.
Em sínteses, mas com objetivo de situarmo-nos no espaço e tempo; trazemos uma digressão dos eventos históricos que se tornaram marcos da luta feminina por direitos políticos, que de modo geral, eram reservados aos homens e, ainda assim, não a qualquer um.
Não obstante, dentre as personagens públicas mais icônicas na luta pelos direitos políticos femininos, o presente artigo traz em seu bojo a figura da Sra. Margaret Thatcher; dando enfoque a sua expressividade no cenário político e como seus atos se disseminaram no engajamento direcionado à luta feminina no campo da política mundial.
Com isso, a compreensão dos caminhos árduos percorridos pelas mulheres, até a conquista do direito de voto e de ser elegível é, de fato, conhecimento de suma relevância para se estabelecer um paralelo entre o passado e o futuro, bem como para mensurar o grau de efetividade dessas conquistas no cenário político atual, que de formaampla, em que pese restar consagrado em nosso país, não traduz a representatividade igualitária em nossas casas legislativas e executivas.
Sem menosprezar as inúmeras figuras femininas nacionais e internacionais, a mulher escolhida neste texto, com vistas a apresentar sua expressividade no cenário político é Margaret Thatcher, primeira mulher britânica a ocupar o posto de Ministra no Reino Unido.1
1 THATCHER, Margaret. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikipédia, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Loxosceles>. Acesso em: 12 jul. 2020.
Os mandatos de Margaret Thatcher são, também, importantíssimos para o cenário político mundial; no modo de como uma mulher exerceu na política britânica uma influência positiva, a ponto de receber o título de “Dama de Ferro”.
Por oportuno, ainda que o capítulo central verse sobre a figura política de Margaret Thatcher; em sentido amplo, angaria as lutas históricas das mulheres, em especial, brasileiras, para conquistar o direito/dever cívico ao voto e, com isso, lograr êxito em cargos políticos; muito embora estejamos aquém da almejada igualdade e isonomia na ocupação dos cargos políticos de lideranças nacionais.
Sob a mesma ótica, o trabalho ora apresentado, esboça um panorama cronológico acerca das mulheres brasileiras que foram precursoras dos direitos femininos no que concerne ao voto e candidatura destas à cargos políticos; bem como a síntese da efetiva atuação destas.
Por fim, como compêndio, demonstramos que as lutas das mulheres para que suas competências sejam observadas com isenção e neutralidade de gênero, são ainda alvos da necessidade de se “provar” que a mulher detém indiscutível igualdade profissional para alçar voos cada vez mais altos no cenário político mundial; pois, o caminho foi percorrido por tantas sufragistas; em caminhos de pregos e pedras; mas todas venceram de saltos!
1. A MULHER NA BUSCA DO DIREITO AO VOTO – PONTUAÇÕES HISTÓRICAS
1.1. O contexto histórico dos direitos das mulheres ao voto
Mesmo pelo senso comum, os direitos políticos das mulheres têm o gosto amargo à história e doce às conquistas, em especial do direito ao voto.
Os relatos históricos datam que a Primeira Revolução Industrial, surgiu na Europa entre os séculos XVII e XIX; tendo como marco a mudança no processo de produção; preterindo, por conseguinte, o trabalho manual, artesanal, que eram mais onerosos e lentos. (EDUCA MAIS BRASIL, 2020).
Mas o que a revolução industrial tem a ver com direitos políticos?
Pois bem, dentre os movimentos mais expressivos ocorridos no século XIX, um em especial, militava em defesa de que o direito ao voto fosse estendido a todos os homens; conhecido como “Movimento Cartista”. (SILVA, Daniel Neves, 2020?)
Esse movimento teve como ponto relevante a reivindicação de participação política da classe operária, bem como a criação de leis em favor da categoria. Além disso, dentre os pleitos, os cartistas pugnava por reformas no Parlamento, elencados na denominada “Carta do Povo”, pela qual o movimento cartista defendia a substituição do voto censitário pelo sufrágio universal; bem como a instituição do voto secreto e a remuneração parlamentar. (DANTAS, Gabriela Cabral da Silva, 2020?)
Foi em meio a cenários de revoluções que as mulheres, na época as burguesas, que eram altamente instruídas; e as operárias, que em decorrência da Revolução Industrial já ocupavam cargos em fábricas; decidiram lutar por sua representatividade na política local.
Nasce o movimento do sufrágio feminino; inicialmente, na Nova Zelândia (que instituiu o voto feminino no ano de 1893) e que serviu de base para os
movimentos ocorridos na Inglaterra; com ações que ficaram marcadas pelos desfechos mais trágicos da história. (MENDONÇA, ANA. 2020)
As ações sufragistas inglesas tinham quatro frentes: ações publicitárias; manifestações violentas e greves. Com destaque para a fatídica morte da Emily Davison, em 1913, a qual se jogou na frente do cavalo do Rei Jorge V e mesmo com sua morte, serviu de alavanca para a luta das mulheres; as quais conquistaram em 1918, o direito de voto às mulheres com mais de 30 anos; o que mais tarde, a saber, 10 (dez) anos depois, foi igualado aos homens, quando então, as mulheres inglesas passaram a votar com a mesma idade dos homens, com 21 anos de idade.2
Ainda temos que dar destaque a frases proferidas por homens considerados cultos e importantes no seio da sociedade acadêmica, a exemplo do filósofo inglês Herbert Spencer, pelas quais se constata que os homens não admitiam que mulheres sequer estudassem, muito menos, votassem. Vejamos o trecho abaixo:
O ambiente parecia propício a novas ideias e as mulheres pegaram carona no movimento contra a escravidão para dizer que queriam votar. Mas a rejeição masculina era de doer. Filósofos do quilate do inglês Herbert Spencer não admitiam nem a hipótese de a mulher estudar, que diria votar. “Cansar demais o cérebro produz moças de busto chato que jamais poderão gestar uma criança bem desenvolvida”, dizia ele.3
Em nossa pátria-mãe, o sufrágio feminino foi, como num todo, influenciado pelos movimentos pretéritos que o seguiram. Em 28 de maio de 1911, a viúva, médica e chefe de família, Dra. Carolina Beatriz Ângelo, reclamou o direito de participar das eleições para a Assembleia Constituinte, vez que a redação legal lhe
2 Op. Cit.
3 Apud: Sufrágio: A conquista do voto feminino. A luta contra o escárnio e a repressão policial, que vinha de décadas fez parte do movimento feminino que exigia participação	na	democracia.	Disponível	em:	< https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-direito-da-mulher- ao-voto.phtml>. Acesso em: 20 de jul. 2020.
conferia uma brecha para gozar de tal direito; ao passo que dispunha que chefe de família, alfabetizado, tinha direito a votar.4
Na ocasião, seu direito foi negado pelo Ministro Antônio José de Almeida, quando então, Carolina interpôs recurso em via judicial, logrou êxito para ter seu direito de voto assegurado por decisão judicial que assim dispôs:
Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo partido republicano. (…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mandou que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral.5
Ao contrário do que pensamos a interpretação judicial que, em tese, representava a aplicação mais equânime possível, isenta de preconceitos de gênero e afins, recebeu da oposição masculina a vedação legal, ao passo que, na ocasião trataram de “retificar” as disposições legais acerca de quem seria o sujeito de direitos de voto, “reclassificando” o “chefe de família” para eleitores dos cargos políticos e administrativos todos os cidadãos portugueses do sexo masculino, maiores de 21 anos, ou que completem essa idade até ao termo das operações de recenseamento, que estejam no gozo dos seus direitos civis e políticos, saibam ler e escrever português e residam no território da República Portuguesa.6
Tais adequações no texto com vistas a “impedir” interpretações que favorecessem as mulheres quanto ao direito de votar tinham como falacioso fundamento o fato defendido pelo anticlericalismo, que definia que as mulheres não poderiam exercer tais direitos porque eram influenciáveis, reacionárias e religiosas; de modo que poderiam ser manipuladas pelo clero.7
4 Sufrágio Feminino. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikipédia, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Loxosceles>. Acesso em: 12 jul. 2020.
5 Idem. Ibidem. 6 Idem. Ibidem. 7 Idem. Ibidem.
O voto universal em Portugal, apenas de efetivou com o advento da nova Constituição da República Portuguesa, em 02 de abril de 1976, que previu o direito de homens e mulheres, maiores de 18 anos.8
A pioneira no assunto, no Brasil, foi a bióloga Bertha Maria Júlia Lutz, viajou pela Europa e estudou nos Estados Unidos da América, acompanhando a militância dos movimentos feministas. Ela criou a Liga paraa Emancipação Intelectual da Mulher, representando o país e criou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FASUBRA - Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil., 2020?).
No Brasil, data de 1928 o primeiro ato em prol do direito ao voto das mulheres. A abolicionista Nísia Floresta era exímia combatente nessa frente. Em 1928, a primeira mulher foi eleita, a saber, Alzira Soriano. Porém, mesmo tendo sido eleita como Prefeita de Lajes, foi impedida de terminar seu mandato, quando a Comissão de Poderes do Senado anulou os votos de todas as mulheres. (CAMPOS, Elza Maria. 2020?)
Tal atitude, porém, comprovou que os homens do parlamento e do judiciário tinham enraizados em si a discriminação e porque não dizermos machismo. Vejamos o trecho a seguir:
Apesar de Lamartine aprovar a lei que garantiu o voto feminino, a interpretação restritiva dos parlamentares do Senado Federal desconsiderou o processo eleitoral realizado no Rio Grande do Norte e anulou as eleições, sob a alegação de que não poderia permitir o sufrágio por meio de lei estadual, mas, via lei federal.
Mais uma vez se percebe a manobra dissimulada por parlamentares congressuais e chancelada por membros da Justiça Eleitoral da época, com o intuito de impedir o direito do sufrágio às mulheres. Observe-se que os parlamentares e/ou julgadores de antemão já desrespeitaram o preâmbulo constitucional que comungava com a democracia; agora, ao invés de interpretar o Texto extensivamente, o restringe, desfigurando princípios basilares do Direito, sob a ótica de um moralismo insustentável. A Constituição deveria neste caso ser auto aplicável sem a necessidade de se exigir o
8 Op. Cit.
alistamento feminino, pelo simples fato de as mulheres estarem inclusas no amplo conceito de “cidadãos” e reforçarem o processo da afirmação da democracia no Brasil. (BARBOSA, Erivaldo Moreira; MACHADO, Charliton José dos Santos, 2012).
É inegável que a visão do sexismo político perdurou por séculos, se considerarmos as primeiras constituições nacionais (sem preterir as internacionais); de modo que, todo o “atraso” nas conquistas dos direitos políticos femininos tem como infeliz justificativa, os óbices históricos pautados na discriminação de gênero.
Felizmente, na contramão de tanta opressão, às mulheres, indignadas com o fato de serem desprezadas no cenário socioeconômico e político se rebelaram, e às custas de bravas lutas e tragédias, mudaram o curso da história e ano após ano, vêm fortalecendo a figura feminina; em que pese ser evidente que as diferenças ainda persistem; o que nos leva a crer que o árduo caminho para a efetiva igualdade de gênero ainda terá acrescentado em seu rol, nomes atuais e futuros.
Dito isso, é salutar frisarmos que, em dado momento da história política de nosso país, Maria Ernestina Santiago Manso Pereira, conhecida por Mietta Santiago (estudante de Direito), descobriu que a proibição do voto feminino contrariava a Constituição de 1891 e recorreu à Justiça; ganhando o direito de participação política; quando então, candidatou-se à deputada federal, votando em si mesma. (PORFÍRIO, Francisco, 2020?)
Não podemos, todavia, ignorar que, ainda que sejam várias as mulheres militantes, fato é que o apoio de homens importantes foi fundamental para concretizar os direitos políticos femininos.
Isso porque, no Brasil, o Senador, pelo Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine, ao assumir o cargo de governador do Estado, estendeu às mulheres o direito ao voto e, em decorrência disso, no ano de 1928, como já narrado alhures, foi eleita a primeira Prefeita de Lajes, Alzira Soriano. (REZENDE, Milka de Oliveira, 2020?)
No governo de Vargas, em 1930, determinou uma subcomissão legislativa com vistas a reforma da legislação eleitoral; quando então, a Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) e mais dois movimentos dissidentes atuaram arduamente, para que a reforma fosse aprovada.9
Não se pode ocultar, todavia, que o primeiro esboço de lei, tinha ainda restrições consideradas pelas mulheres como ilegítimas, já que vedava às solteiras, às casadas e donas de casa e à dependentes financeiramente, não tinham direito ao voto. Fato esse que foi veementemente repudiado pelos movimentos sufragistas, que pressionaram os parlamentares; o que surtiu pequeno mas significativo avanço; vez que o texto legal foi modificado passando a incluir todas as mulheres brasileiras, alfabetizadas, assalariadas e maiores de 21 anos de idade o direito ao voto; com a aprovação da nova lei eleitoral, no ano de 1932.10
Apenas em 1965 é que o sufrágio universal ocorreu para todas as mulheres e, para as pessoas analfabetas, apenas em 1985.11
A luta pelo voto feminino sem dúvidas, foi a flâmula envergada pela FBPF, fundada em 06 de janeiro de 1923. Logo depois, em São Paulo, a aliança ligada à FBPF é fundada e, tem traduzidos e publicados por Diva Nolf, os conteúdos dos encontros do movimento sufragista no livro “Voto feminino e feminismo: um ano de feminismo entre nós”, datado de 1923. (SILVA, Lenina Vernucci da., 2020?)
No livro em questão, Diva Nolf relata que dentre as 54 nações independentes, 28 já haviam reconhecido o direito das mulheres ao voto; lamentando, todavia, que o Brasil poderia ter sido pioneiro. São notórias as expressões que direcionam ao progresso, modernidade e afins; sem, contudo, diminuir a importância e a figura masculina, que ao revés, depreciava a mulher em sua luta por igualdade de direitos políticos.12
O lamento da ativista se deu em razão de que o nosso país deixou de ser reconhecido como a primeira nação a aprovar o sufrágio feminino, posto que, a Emenda ao projeto da Constituição, assinada no dia 1º de janeiro de 1891, 31
9 Op. Cit.
10 Idem. Ibidem.
11 Op. Cit.
12 Op. Cit.
constituintes a assinaram buscando assegurar às mulheres o direito ao voto, porém, tal emenda foi rejeitada.( BERNARDES, Luana , 2020?)
A importância da FBPF é amplamente reconhecida, em especial porque buscou envergar acirrada cobrança frente ao Parlamento. Vejamos:
A FBPF foi marcante na condução do movimento sufragista no Brasil. Atuou tanto na propaganda, escrevendo para os jornais, quanto apostou na estratégia de fazer pressão de forma direta junto aos parlamentares, enviando correspondências e telegramas, participando das sessões do Congresso, solicitando reuniões com os principais políticos da época. Todas essas ações contribuíram para que a sociedade mudasse seus conceitos sobre o papel feminino no mundo público e político e para que os políticos avaliassem positivamente os projetos de interesse para a mulher brasileira. Nesse sentido, o fundo da FBPF, que se encontra sob a guarda do Arquivo Nacional, é fonte fundamental para se conhecer uma parte importante da história da conquista do voto feminino no Brasil. (KARAWEJCZYK, Mônica . 2019)
Não podemos olvidar, contudo, que as precursoras brasileiras há longa data buscavam fazer valer seus direitos políticos.
1.2. As pioneiras brasileiras na luta pelo direito ao voto
Baseada na Lei Saraiva (1881), Isabel de Souza Matos, gaúcha, cirurgiã dentista, solicitou o seu alistamento eleitoral no ano de 1885, ainda no Império. Tal Lei declarava aptos ao voto todas as pessoas que tinham títulos científicos. O registro de Isabel foi concedido em 1887, porém, o efetivo direito ao voto lhe fora negado, quando da convocação da Assembleia Constituinte em 1890, na República Velha. (ANTUNES, LEDA . 2019)
Em 1890, outra brasileira, de prenome Isabel, agora Dillon, requereu a seu direito de votar e de ser eleita, ao passo que a legislação da época garantia aos
maiores de 21 anos de idade, que sabiam ler e escrever, o direito ao voto; porém, em sua tentativa não obteve êxito.13
Desde então, os jornais da família (foto abaixo) da militante Josefina Álvares de Azevedo, irmã do poeta Manoel Álvares de Azevedo, circularam por quase uma década e em seu bojo trazia como bandeira, a luta pela educação da mulher como condicionanteà emancipação destas.
Domínio Público: Jornal de 1890 trouxe manifesto pela candidatura de
Isabel Dillon.14
13 Idem. Ibidem.
14 Figura 1: Disponível em: <https://www.cidadelivre.org.br/index.php/todas-as-noticias- publicadas/15-feminismo/576-as-7-mulheres-que-ousaram-lutar-pelo-direito-ao-voto-no- brasil>.
Durante os trabalhos da Constituinte, havidos entre 1890 e 1891, as discussões sobre o voto feminino foram intensificadas; contudo, as emendas que propunham que mulheres detentoras de títulos científicos, formadas em Direito, Farmácia, Medicina e, àquelas que eram proprietárias de estabelecimentos docentes, industriais ou comerciais, foram rejeitadas. (ANTUNES, LEDA. 2019)
Em 1910, o movimento das sufragistas ganha mais força e, na pessoa de Leolinda Figueiredo Daltro (1859-1935) cria-se o Partido Republicano Feminino. Ela era desquitada, frequentava os ambientes políticos predominantemente masculinos e, diante de sua acirrada participação nesse ambiente político numa sociedade católica, passou a ser chamada de “a mulher do diabo”.15
Figura 2: Leolinda foi chamada de “simpática” em texto da Gazeta do Povo de 1917.16
15 Idem. Ibidem.
16	FITRAE BC. Disponível em: < http://fitraebc.org.br/as-7-mulheres-que-ousaram- lutar-pelo-direito-ao-voto-no-brasil/>. Acesso em: 01 ago. 2020.
As atuações de Leolinda ganharam repercussão e como tentativa de abafar sua luta era ligá-la a referências jocosas, atribuindo-lhe a condição de “fora da lei”, pessoa que assim como as sufragistas inglesas, não deveria ser um modelo a ser seguido. Prova disso, foi que no jornal “O Paiz (RJ)”, divulgou-se em 1913 notícias exclusivas dos incêndios, ataques à políticos e quebra de vidraças; creditando às sufragistas inglesas, quase a totalidade dos atos violentos, como forma de desestimular que o movimento ganhasse força; mesmo ante a ausência de provas irrefutáveis de que tais ataques tenham, de fato, sido praticado por elas.( KARAWEJCZYK, Mônica , 2019)
No ano de 1921, no Brasil, o senador Paraense, Justo Chermont apresentou o primeiro projeto de lei que versava sobre o direito de voto feminino; contudo sua proposta sequer foi votada. (ANTUNES, LEDA. 2019)
Bertha Lutz, já na presidência da FBPF, deu início à intensa articulação política, como modo de pressionar o parlamento a reconhecer a legitimidade do voto feminino; além de outros direitos femininos defendidos pela Federação Brasileira de Progresso Feminino.17
Figura 3: Autor desconhecido/Arquivo Nacional 18
Como já mencionado alhures, o Senador, pelo Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine, ao assumir o cargo de governador do Estado, estendeu às mulheres o
17 Op. Cit.
18	1956: Bertha Lutz discursa no encerramento da XI Assembleia da Comissão Interamericana de Mulheres, em Trujillo, República Dominicana. Disponível em: https://www.huffpostbrasil.com/2018/09/25/4-mulheres-que-foram-pioneiras-na- construcao-da-politica- brasileira_a_23541458/?ncid= other_huffpostre_pqylmel2bk8 & utm_campaign= related_ articles>. Acesso em 01 ago. 2020.
direito ao voto, aprovando em 1927, uma nova legislação eleitoral que conferiu às mulheres o direito ao voto, já que em seu texto a lei não fazia distinção de gênero.19
No ano de 1928, a feminista Maria Ernestina Carneiro Santiago Pereira (Mietta Santiago) defendeu que a proibição do voto feminino violava a CF de 1891, vez que em seu artigo 70 assegurava o direito ao voto à todos os maiores de 21 anos que se alistassem eleitoralmente, para tanto. Na ocasião, além de adquirir o direito de votar, Mietta logrou êxito em se tornar elegível, candidatando-se ao cargo de deputada federal.20
Mesmo sem ter sido eleita, Mietta Santiago propulsionou o movimento sufragista, ao passo que a brecha jurídica, foi também utilizada por Alzira Soriano, que foi eleita pelo Partido Republicano do Rio Grande do Norte, tornando-se a primeira prefeita da América Latina.21
Figura 4: Autor desconhecido/Arquivo Nacional 22
Em 1932, documentos relatam que a professora Celina Guimarães foi a primeira eleitora brasileira, quando requereu, naquele ano, sua inscrição como eleitora; sendo reconhecida como a primeira eleitora da América Latina.23
19 Idem. Ibidem.
20 Op. Cit.
21 Idem. Ibidem.
22 Posse de Alzira Soriano, em 1929. In: ANTUNES, LEDA. 4 mulheres que foram pioneiras	na	construção	da	política	brasileira.	Disponível	em:
<https://www.huffpostbrasil.com>. Acesso em 01 ago. 2020.
Outro marco importantíssimo da luta sufragista brasileira está brilhantemente representado por Antonieta de Barros; filha de escrava liberta, rompeu com todas as barreiras machistas, racistas e sociais de sua época. Visionária, fundou seu próprio curso de alfabetização, na cidade de Florianópolis, SC. (ANTUNES, LEDA 2018)
Com o mesmo sentimento de Bertha Lutz e as feministas da FBPF, em 1934 candidatou-se à Assembleia Legislativa pelo Partido Liberal Catarinense, e com louvor, elegeu-se como a primeira deputada estadual do estado e a primeira deputada negra do Brasil.24
Figura 5: “Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita deputada no Brasil” (PAIVA, Vitor. 2019)
Pela síntese do que apresentamos no primeiro capítulo, constatamos que a luta pelo sufrágio feminino é intensa e permanente. Os passos dados rumo ao sufrágio universal, que incluiu a mulher no cenário político nacional, não podem ser olvidados como pegadas na areia; são antes de tudo, pegadas marcadas por discriminação, chacotas, diminuição da capacidade intelectual feminina; de mulheres calejadas, que abandonaram a condição de submissas e assumiram o papel de
23 TSE. O Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil é comemorado nesta segunda (24). Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2020/Fevereiro/dia-da- conquista-do-voto-feminino-no-brasil-e-comemorado-nesta-segunda-24-1>. Acesso em 31 jul. 2020.
24 Op. Cit.
protagonista de direito, já que a relevância feminina no lar e na lavoura era indiscutível, porém, ignorada.
Há ainda que se considerar que o árduo caminho, ao menos como veremos no capítulo 3 do presente trabalho, está longe de chegar ao fim. Todavia, só tem razão de ser, pelo significado que as lutas passadas agregaram à causa feminista, em especial política; de modo que, se mostra indispensável, sempre que possível, reler e recontar a brilhante trajetória das sufragistas brasileiras.
Como arremate deste primeiro capítulo; cabe-nos citar uma frase para
reflexão:
“Se queres prever o futuro, estuda o passado.”
(Confúcio)
2. A “DAMA DE FERRO”
2.1. Margareth Thatcher – o salto alto no poder
Figura 6 - Margareth Thatcher (1985). Foto: Mark Reinstein / Shutterstock.com 25
Iniciar este capítulo com a fotografia de Margareth Thatcher é, antes de tudo, enaltecer a figura feminina, representada por uma mulher que, atuando politicamente, foi chamada de “o melhor homem da Inglaterra”. (VEJA, 2018)
25 Disponível em: <https://www.infoescola.com/biografias/margareth-thatcher/>. Acesso em 02 ago. 2020
Esposa de um empresário do ramo petroleiro Denis Thatcher, Margareth Hilda Roberts teve com ele dois filhos, os gêmeos Carol e Mark. Notícias publicadas relatam que em seu primeiro emprego ela foi rejeitada por ser considerada “teimosa, obstinada e perigosamente dona de opiniões próprias” 26
E foi justamente essa teimosia e obstinação que a levou ao cargo de primeira-ministra da Grã-Bretanha, logo após o mundo ter saído de uma das maiores crises petrolíferas que agravou severamente a economia de inúmeros países, ainda com o fantasma de uma grave inflação e taxas elevadas de juros que assombravam a Grã- Bretanha; efervescente movimentos sindicalistas em razão da alta taxa de desemprego.( FARIA, Caroline . 2020?)
Especialista em Direito Tributário, Thatcher foi eleita para a Câmara dos Comuns em 1959, foi Secretária de Estado para Assuntos Sociais em 1961 e Ministra da Educação sob o Governo de Edward Heath na década de 70, sendo sucessora deste, pelo Partido Conservador.27
Quando atuou na Secretaria da Educação, Margareth Thatcher foi inclusive apelidada de “Thatcher,ladra de leite”, pois foi responsável pelo corte da distribuição gratuita de leite nas escolas. (HISTORY. Margaret Thatcher. 2020?)
Diante das críticas que sofria, Thatcher se sentia desencantada com as mulheres, pensava que não viveria para ver uma mulher como Primeira Ministra do Reino Unido. Contudo, felizmente para uns e infelizmente para outros, ela própria se tornaria a primeira mulher líder do Partido Conservador; que em meio à crise política e econômica da Inglaterra, logrou êxito em sua retomada ao poder e, por conseguinte, Margareth Thatcher foi nomeada Primeira Ministra no ano de 1979.28
26 Idem. Ibidem.
27 Op. Cit.
28 Idem. Ibidem.
Em uma de suas frases emblemáticas, Margareth Thatcher disse: “I am not a consensus politician, I am a conviction politician.” (“Eu não sou uma política de consenso, eu sou uma política de convicção”).29
Foi com esse perfil que Thatcher conduziu seu modelo de governo, denominado mais tarde de neoliberalismo (BEZERRA, Juliana. 2020); mesmo tendo sido criticada por não dar a devida atenção à situação de desemprego que assolava o país. (FARIA, Caroline. 2020?)
Na opinião do cientista político Ricardo Ismael, politicamente, Margareth Thatcher ditou uma derrota jamais vista ao Partido Trabalhista, que o retirou do poder entre os anos de 1979 a 1997; mesmo tendo o mandato de Thatcher durado até o ano de 1990. Para o cientista político, quando o Partido Trabalhista volta ao poder, todos os ideais do partido já haviam sido dissipados, irrecuperáveis, portanto. (GLOBONEWS, 2013)
Com mãos de ferro, Thatcher deu ênfase à desregulamentação, em especial do setor financeiro, com filosofia política que defendia a privatização, enfraquecimento dos sindicatos e mercado de trabalho flexível, com a menor intervenção estatal possível.
Todavia, após a vitória na Guerra das Malvinas, no ano de 198230, com o ressurgimento do crescimento da economia, a popularidade e aprovação de Thatcher cresceram e, então, ela foi reeleita e nomeada, mais uma vez, como Primeira Ministra da Grã-Bretanha, ficando no poder até o ano de 1990, quando renunciou.31
Já que estamos tratando da figura feminina no cenário político, não é demais frisarmos que Thatcher foi a primeira mulher a chefiar um governo parlamentar
29 Idem. Ibidem.
30 A vitória britânica na Guerra das Malvinas, na disputa com a Argentina a respeito da soberania das ilhas, foi fator importante para impulsionar a popularidade de Thatcher e levá-la à reeleição. VEJA. Morre Margaret Thatcher, ícone de ferro do liberalismo. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/mundo/morre-margaret-thatcher-icone-de-ferro- do-liberalismo/>. Acesso em 02 ago. 2020
31 FARIA, Caroline. Op. cit.
europeu; seus longos 11 anos de poder, podem ser traduzidos como um pouco mais de uma década das mais importantes na história da mulher na política.
Para Antônio Carlos Prado (ISTOÉ, 2019), Thatcher é inigualável, merecendo transcrição integral de sua declaração mais incisiva sobre a “Dama de Ferro”, vejamos:
Desculpem-nos as mulheres que estão ou que estiveram no poder em seus respectivos países, mas a ex-primeira- ministra britânica Margaret Thatcher continua a ser insuperável como líder e governante. Melhor: sequer é inigualável. A baronesa Thatcher de Kesteven chegou em 1979 a Downing Street 10, há quatro décadas, portanto, e lá permaneceu por três mandatos consecutivos. Uma de suas primeiras e incisivas declarações já mostrava quem era ela: “se você quer que alguém apenas fale alguma coisa, peça a um homem; se você quer que alguém de fato faça alguma coisa, peça a uma mulher”. Inglaterra e mundo ficaram boquiabertos, dava-se a extrema valorização feminina, e isso à época em que a cediça expressão “empoderamento” sequer tinha nascido, apesar da revolução dos costumes na década anterior – as feministas, geralmente de esquerda, equivocadamente insistem em desprezar o nome de Thatcher pelo motivo de ela ter sido intransigente adepta do saudável liberalismo.(PRADO, Antônio Carlos. 2008)
Para o autor supracitado, os atributos pessoais da Premiê, dentre os quais se evidenciam a elegância, compostura, classe e sobriedade, que a levava a cumprimentar seus aliados e adversários com a mesma postura profissional e semblante gélido, a diferenciava. Além, disso, para ele, Thatcher tinha estilo o bastante para, ainda assim, com suas jóias (colares de pérolas), imprimir que todos estavam diante da nobreza em pessoa.32
Mas nem tudo foram flores. Margareth Thatcher enfrentou seus adversários e opositores com punhos de aço; mesmo com a intenção de lutar contra a recessão, o que fez com que a taxa de juros fosse elevada, bem como pelo fato de inflamar a privatização de empresas, etc.; ao patamar capaz de lhe render desafetos, a
32 Idem. Ibidem.
ponto de, em meio a tantas crises, ter enfrentado uma tentativa de assassinato contra sua pessoa, no ano de 1984. (HISTORY. Margaret Thatcher, 2020?)
Tal ameaça foi desvendada e, descobriu-se que uma conspiração arquitetada pelo Exército Republicano Irlandês (IRA) ordenou que uma bomba fosse colocada na Conferência Conservadora em Brighton, em outubro do mesmo ano; para matar Thatcher.33
Se a intenção era fazer com que a Primeira Ministra recusasse; o objetivo falhou; pois, Thatcher decidiu continuar na conferência e se não bastasse, discursou no dia seguinte.34
Figura 7: Presidente Ronald Reagan watches as British Prime Minister Margaret Thatcher speaks November 16, 1988 in Washington, DC. (Presidente Ronald Reagan assiste como a Primeira Ministra Britânica discursa em 16 de novembro de 1988, em Washington, DC) - (Brad Markel | Liaison | Getty Images) – (CARNEY, John. 2013)
“O consenso é a ausência da liderança.” Foi com frases fortes assim, que a “Dama de Ferro” estreitou relações políticas com Ronald Reagan e, para muitos, formaram a dupla revolucionária.
Segundo Feldstein, ambos realizaram uma revolução político- econômica no Reino Unido e nos Estados Unidos da América. Atribuindo aos dois a derrocada do comunismo soviético e do Leste Europeu. Para Martin Feldstein, mesmo que os dois líderes tenham sido ferrenhamente criticados, fato é que as economias britânica e americana jamais ousaram retroceder ao cenário que, nem os opositores de ambos desejam ter de volta nos respectivos países. (FELDSTEIN, Martin. 2013)
33 Idem. Ibidem.
34 Op. Cit.
Feldstein 35, que trabalhou com Reagan, assim descreve o ex- Presidente dos EUA e a Primeira Ministra da Grã-Bretanha:
Eu tive a sorte de trabalhar com o presidente Reagan como seu principal consultor econômico. Em razão do estreito relacionamento dele com a primeira-ministra Thatcher, eu tive também várias oportunidades de me encontrar com ela. Eles eram revolucionários em suas ideias e em sua habilidade de inspirar os demais a aceitar mudanças fundamentais.
(...)
Reagan caracterizou a União Soviética como "império do mal" e aumentou os gastos com a defesa para desafiar as agressões e as capacidades soviéticas. O colapso comunista e soviético foi, em parte, uma consequência da política dos EUA e da inabilidade da economia da União Soviética em concorrer com o Ocidente. Aqui também não haverá nenhum retorno ao passado.
Em um paralelo, Feldstein relata ainda as características comuns existentes entre os governos de Thatcher e Reagan; pois, segundo já declinamos alhures, os dois países enfrentam uma séria crise econômica e tinham como uma das metas, diminuir os gastos públicos.36
Para o autor acima, nenhuma nova política será capaz de “desfazer” as significativas mudanças que os governos de Reagan e Thatcher trouxeram aos seus países; claro, sem preterir que as mudanças atuais devem ser consideradas; porém, para ele, iguais não terão.
As políticas evoluem à medida que as condições mudam e à medida que aprendemos com a experiência. Mas as mudanças dramáticas na política dos EUA e do Reino Unido sob Ronald Reagan e Margaret Thatcher trouxeram melhoras tão profundas que não há como voltar atrás.37
35 Martin Feldstein é professor de economia na Universidadede Harvard, ex-presidente do conselho de consultores econômicos do presidente Ronald Reagan e do National Bureau of Economic Research (Escritório Nacional de Pesquisa Econômica).
36 FELDSTEIN, Martin. Op. Cit.
37 Idem. Ibidem.
"Gostemos ou não, Margaret Thatcher mudou a economia britânica para sempre". Frase dita pelo professor de economia Tony Travers, da London School of Economics, citado por Suzanne Plunkett, em um artigo publicado na Revista Exame (digital), em 2013. (TRAVERS, Tony. Apud PLUNKETT. Suzanne. 2013)
Como já vimos, as marcas da política de ferro de Margareth Thatcher ficaram impressas na política do Reino Unido; foi ela quem fraturou a espinha dorsal do sindicalismo, de modo que, essa jamais se recuperou.
É fato que Thatcher não tenha criado o liberalismo, porém, indubitavelmente o elevou à sua máxima potência nos anos em que esteve no cargo de Primeira-Ministra. Sua fama de “Dama de Ferro” serviu até de comparativo para desqualificar as atitudes de Theresa May (na condução do Brexit); conferindo à Thatcher ratificação do título acima; pois, no lugar de May, suas atitudes seriam mais firmes. (ROSSI. Clóvis, 2019)
E por falar em posições firmes, a Premiê Britânica é também conhecida pela força, que para muitos poderia representar frieza e, para outros, profissionalismo excelente; foi o fato de que, Margareth Thatcher não teria derramado uma só lágrima pública enquanto seu filho Mark desapareceu por seis dias no deserto do Saara, após se perder da rota do rally Paris-Dakar. (PINTO. Céli. Apud Terra Educação . 2020?)
Considerada a mãe do neoliberalismo, Thatcher, tão logo tornou-se a Primeira Ministra Britânica, arrancou da bolsa um livro do economista liberal Friedrich von Hayek, colocou-o sob a mesa e disse: “Esse é o nosso programa de governo.” (NOVO ORG. Margaret Thatcher. 2020?)
Entre críticos e apoiadores, por óbvio, visões conflitantes são lançadas sob o modo “Thatcher” de governar e de impor suas ideias com firmeza e sem ousadia. De um lado, acusações de que ela teria colocado em primeiro plano o livre mercado, não se importando que os mais necessitados sofressem sem empregos. Do outro lado, o crédito lhe é atribuído por ter, segundo os simpatizantes, efetivado sua política de desestatização, bem como reduzido a influência dos sindicatos e, por conseguinte, ter elevado a força do Reino Único para o mundo. (G1.GLOBO.COM, 2013)
A característica firme e intransigente de Margareth Thatcher lhe rendeu afetos e desafetos. A busca pela desestatização, segundo ela, não seria conquista sem perdas (desempregos, privatização de empresas estatais, corte radical de gastos do governo, etc.); mas, ao mesmo tempo, concedeu à milhares de britânicos a chance de aquisição de casas populares. (SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. In: Margaret Thatcher foi figura política central do século XX. 2013)
Foi a fidelidade de Thatcher a seus princípios e ideais que renderam a ela o título de “Dama de Ferro”, apelido esse dado pela imprensa soviética. Suas convicções irredutíveis compunham sua força política e também, sua maior fraqueza; já que ela não cedia e tampouco voltava atrás. (CORDEIRO, Tiago. 2018)
Os pontos comuns entre o conservadorismo de Margareth Thatcher (antissocialista e anticomunista); com o modelo conservador “atual” do governo britânico, são, sem dúvidas, a desconfiança relacionada à moeda única e a recusa de consenso com a comunidade europeia.
É inegável que durante seu mandato, Thatcher logrou êxito em controlar a inflação e valorizou a moeda inglesa. Ao lado de Ronald Reagan, tornou-se uma das maiores chefes de Estado na história da política neoliberalista, modelo de governo seguido por muitos outros países, incluindo o Brasil, nos dois últimos séculos. (CARVALHO, Leandro. 2020?)
2.2. Thatcher - renúncia e morte
Para compreendermos a queda da popularidade política de Thatcher é necessário entendermos o cenário político que envolveu a ascensão da União Europeia, fato esse que desagregou o Partido Conservador britânico. Porém, ainda assim, ela não perdeu nenhuma eleição.
O fim de seu governo, em 1990, ocorreu principalmente em razão de sua oposição a uma aproximação política com os países da Europa continental, situação que se tornava
difícil de sustentar após a queda do Muro de Berlin, em 1989. (PINTO, Tales dos Santos. 2020?)
Thatcher foi a primeira mulher a chefiar um governo parlamentar na história da Europa, cujo mandato perdurou por onze anos e meio (1979 a 1990). Como já mencionado anteriormente, sua política firme e conservadora, defendeu com veemência a desestatização (Estado Mínimo); sendo considerada a mãe do neoliberalismo. (VEJA, 2013)
Reeleita em 1989, sua relação com o Partido Conservador não era das mais pacíficas; fato esse que levou à sua renúncia no ano seguinte. Não podemos olvidar, contudo, que o depauperamento de sua popularidade se acentuou com a vitória de George Bush (eleito Presidente dos EUA), não simpatizante de Margareth e que significou a perda de apoio externo dos Estados Unidos da América.38
Muitos consideram que a reeleição de Thatcher ganhou força em decorrência da vitória emplacada na “Guerra das Malvinas”, com a reconquista das ilhas de nome Falklands vencida contra a Argentina; a levaram ao novo mandato em 09 de julho de 1983. (SCHESCHKEWITZ, Daniel. 2020?)
Diante das críticas, da pressão popular e política, bem como os resquícios do atentado cometido contra sua vida; que foram considerado fatores que deram ensejo ao seu pedido de renúncia e, após uma audiência com a Rainha Elizabeth II, Thatcher renunciou no ano de 1990.39
A impopularidade de Thatcher teve como um dos fatores preponderantes sua ferrenha defesa em prol de um imposto único, conhecido como “poll-tax”, ocasião em que seu próprio partido a castigou por não retroceder, adjetivo que outrora a tinha levado ao cargo da primeira mulher a se tornar Primeira Ministra do Reino Unido. (GARCIA, Viviana. 2013)
38 CARVALHO, Leandro. Op. Cit.
39 SCHESCHKEWITZ, Daniel. Idem. Ibidem.
Muito embora se tenha especulado que a Rainha Elizabeth a tenha influenciado a renunciar, a biografia de Thatcher refutou tal hipótese. (PINTO. Céli. 2020?)
Sobre os motivos da renúncia da “Dama de Ferro” destacam-se, dentre outros, os seguintes aspectos. Vejamos:
Ao seu nacionalismo se somou uma desconfiança quase visceral em relação à União Europeia. Seu tailleur azul, sua inseparável bolsa de mão, seu inconfundível penteado, suas pérolas, seus duros olhos azuis e suas críticas aos burocratas de Bruxelas entraram para a história.
Sua intransigência lhe valeu sólidas inimizades na Europa, no Reino Unido e até em seu próprio partido, o que a levou a uma humilhante renúncia no dia 22 de novembro de 1990. Suas posições sobre a Europa, após uma calamitosa reforma fiscal local - a famosa "Poll Tax" -, acabaram com sua carreira. (GAÚCHA ZH GERAL. Morreu, aos 87 anos, a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. 2020?)
Após sua renúncia, Thatcher se retirou da Câmara dos Comuns e recebeu o título de Baronesa Thatcher de Kesteven, em 1992, que lhe assegurou um assento na Câmara dos Lordes. Na mesma época, a saúde da “Dama de Ferro” começou a dar sinais de alerta, uma vez que sofreu uma série de pequenos derrames. (HISTORY. Margaret Thatcher. 2020?)
No ano de 2002, a imprensa publicava que Margareth Thatcher estava proibida pelos médicos de falar em público. (BBC BRASIL. 2002) Mesmo assim, contrariando ordens médicas, a Premiê compareceu ao funeral do Presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan, no ano de 2004. (CNN International.com . 2004)
Em 2007, Margareth Thatcher ganhou uma estátua sua, ostentada no Parlamento Britânico, tornando-se a primeira ex-chefe do governo britânico a receber
tal honraria ainda em vida. A satisfação era tanta, que “Maggie” registrou várias fotografias ao lado da estátua erguida em sua homenagem.40
Naquela época, as aparições da Premiê eram raras, em especial por conta de dois AVCs – Acidentes Vasculares – que sofreu e que a debilitaram sobremaneira.41Aos 82 anos de idade de Thatcher, sua filha, Carol Thatcher noticiou ao mundo que a mãe sofria com perda de memória, que não se lembrava da morte de seu marido e que lutava para falar e lutava com sua memória. Em um depoimento emocionante, Carol assim desabafou:
Eu tive que dar a ela más notícias dia após dia", escreveu a jornalista Carol Thatcher. A filha disse que notou a falência da memória da mãe em 2000, dez anos após ela ter deixado o poder. "Eu quase caí da cadeira", escreveu. "Ver ela lutando com palavras e com a memória, eu não conseguia acreditar. [...] Sempre pensei nela como uma pessoa eterna e 100% de ferro, à prova de qualquer estrago. (G1.GLOBO.COM. 2020?)
A “Dama de Ferro” sucumbiu. Porém, para o bem ou para o mal, seu legado se tornaria mais duradouro do que a jovem mulher, ao assumir a Secretaria da Educação pensava (pois, desencantada não cria que não viveria para ver uma mulher assumindo o cargo de Primeira Ministra da Grã-Bretanha); seus ideais e convicções estão enraizados no cenário político mundial. Sua frieza (assim tida como sua seriedade, o modo como cumprimentava a aliados e adversários – com mãos estendidas e expressão formal), estão mais firmes e inabaláveis que sua estátua às portas do Parlamento Britânico.
40 Idem. Ibidem.
41 Op. Cit.
Figura 8 – Fonte: Arquivo.42
No ano de 2010, Margareth Thatcher ficou internada duas semanas no hospital em decorrência de uma doença que lhe causava inflamações musculares que a debilitaram demais, ao passo que sentia fortes dores. No ano seguinte, justamente em razão de sua fragilidade clínica, cerrou-se as portas de seu escritório na Câmara dos Lordes, fato que, para muitos, traduzia o fim da extensa e mais duradoura carreira política de uma mulher no poder. (HISTORY. Margaret Thatcher. 2020?)
Thatcher ainda escreveu dois livros retratando sua história política. Perdeu seu marido em 2003, seu amigo político Ronald Reagan, em 2004 e segundo sua filha, perdeu a memória (diagnosticada com demência); mas encontrou em sua própria história, o caminho para marcar a participação feminina na política mundial.
42 In: LA NACIÓN. Emplazarán una estatua de Margaret Thatcher en las islas Malvinas. Disponível em: <https://www.lanacion.com.ar/el-mundo/emplazaran-una- estatua-de-margaret-thatcher-en-las-islas-malvinas-nid1753583>. Acesso em: 07 de agosto. 2020.
Seus erros e acertos, como naturalmente ocorre com os seres humanos, foram registrados por quem a apoiava e apontados por quem, a despeito de tudo, discordava de sua forma de governo, ou até mesmo por quem, a odiava (ódio esse retratado no atentado que sofrera).
Seu legado, porém, queiram mal ou bem, ocupa capítulos, e porque não dizermos, enciclopédias relevantes no cenário político, em especial, por ter sido a primeira mulher eleita como Primeira-Ministra do Parlamento do Reino Unido, ocupando-o pelo maior tempo do que seus antecessores, sem perder uma eleição (a despeito de ter renunciado).
Aclamada e odiada ao mesmo tempo, as mãos de ferro de Thatcher se estenderam ao seu “corpo” político, quando a imprensa soviética a apelidou de “Dama de Ferro”.
Com a saúde debilitada e constantemente fechada em sua casa, Margareth Thatcher viveu seus últimos anos esquecendo-se de seus feitos. Porém, suas marcas e o peso de sua força, ultrapassaram o bronze e as pedras de suas estátuas. Estão agora, cravados na história da política mundial, bem como na história feminina política, esta última metáfora, como um salto cravado no cimento; sinal de que a mulher deixou suas marcas na história e na política global; a ponto de um psiquiatra narrar que seus pacientes, que sofrem de degeneração mental, recordam-se de quem era Margaret Thatcher, mas não se recordava de quem a antecedeu. (NOGUEIRA, Paulo. 2013)
Em 08 de abril de 2013, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), morre Margaret Hilda Thatcher, a Baronesa Thatcher de Kesteven; a “Dama de Ferro” sucumbe às ferrugens da vida; mas sua vida e trajetória deixaram-nos um legado inoxidável!
3. A MULHER NA POLÍTICA ATUAL BRASILEIRA
3.1. 154º lugar – evoluímos?
Iniciamos esse capítulo com um número ordinal, justamente para tentar expressar o longo caminho que a figura feminina na política brasileira ainda tem a trilhar; sem ignorarmos que, consoante já narramos no primeiro capítulo, é de insofismável importância reconhecermos o relevante papel que as sufragistas brasileiras despenderam em prol das mulheres, enquanto representantes do povo, nos mais diversos cargos políticos.
De acordo com os dados divulgados pela Union-Parliamentary Union, o Brasil ocupava a 154ª posição no ranking mundial, no ano de 2017; com um pouco mais de 10% de mulheres ocupando o cargo de deputada federal. (SANTOS, Bruno Carazza dos. 2017)
Para os especialistas, o país que detém maior número de mulheres na política tende a ser menos desigual ou, no mínimo, estão imbuídos em reduzir a diferença entre homens e mulheres.43
Há quem já ocupe o cargo político e, como mulher, compreende que o avanço é ainda desproporcional à participação e importância da mulher no cenário econômico e social de nosso país; contestando o baixo percentual de mulheres eleitas para cargos eletivos. Vejamos:
Não há dúvida de que a presença feminina na política brasileira é pequena diante de sua enorme presença na vida econômica e social do país, principalmente nos últimos anos. Maioria da população brasileira e do eleitorado nacional, as mulheres sequer alcançam 15% nos cargos eletivos do país. São exatos 12,32% em 70 mil cargos eletivos, segundo o Mapa da Política de 2019, elaborado pela Procuradoria da Mulher no Senado. (VÔLEI, Leila do. 2020)
43 Idem. Ibidem.
Não se pode olvidar, contudo, que vários instrumentos convencionais, estabeleceram diretrizes para que as mulheres tivessem iguais condições na disputa de cargos eletivos, determinando que os países signatários adotarem mecanismos para promoção efetiva dessa igualdade.44
É incontroversa a constatação de que a cronologia histórica da mulher na política, no cenário mundial, acabou por ter como mola propulsora, o movimento sufragista que, em maior ou menor grau, dependo do país, sua cultura, seu regime de governo e etc., foi preponderante para tornar as conquistas mais perceptíveis ou não.
Nessa toada, imaginar que o contexto histórico da política, com inclusão ou ao menos, com a tentativa de incluí-las no cenário político, quer seja com a conquista do direito ao voto, quer seja com o direito de ser eleita, tenha ainda, um longo caminho a percorrer; nos faz constatar que a sociedade machista, patriarcal, consolidada pela cultura ancestral de vários países, foi um dos principais elementos que proferiram a atuação da mulher na política.
Em que pese vagarosa, a árdua luta tem sido, atualmente, objeto de orgulho das mulheres que participam da vida política em seus mais diversos cenários e setores; mesmo sendo incontroversa a comprovação de que a igualdade, bandeira hasteada pelas precursoras, não é ainda uma realidade palpável.
Todavia, como objeto central deste capítulo, nos é de rigor demonstrar que os pequenos passos, legais e culturais, são tijolos importantes na construção da isonomia político-partidária envolvendo a figura da mulher, em especial, como representante do povo, eleita pelo povo, bem quista pelo povo no cargo político que escolher.
44 A Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher (1953) e a Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979), reconheceram que a desigualdade entre os sexos na ocupação de cargos públicos...In: MIRANDA, Mariana Araújo. Participação Das Mulheres na Política: À Busca Pela Concretização da Igualdade de Gêneros Como Instrumento da Efetivação da Democracia. Disponível em:	< https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-eleitoral/participacao-das-mulheres- na-politica-a-busca-pela-concretizacao-da-igualdade-de-generos-como-instrumento-da- efetivacao-da-democracia/>. Acesso em 11 ago. 2020.
Como já mencionado acima, a pequena participaçãoda mulher na vida política do país, encontra pseudo motivo, a questão cultural; atrelada ao fato de que a figura feminina esteve sempre ligada aos afazeres domésticos, criação dos filhos e obediência ao marido (questão muito ligada à religião, inclusive).
Porém, é justamente esse rigoroso “dever” de suportar, muitas vezes sozinha, o fardo do lar, dos filhos, da lavoura e etc.; que tornou as mulheres polivalentes, capazes de se desdobrar em tarefas árduas, com jornadas inimagináveis, capazes de comprovar sua aptidão pública. Afinal de contas, para cada problema, as mulheres têm múltiplas soluções.
Sem menosprezo, porém, da capacidade masculina; contudo, nós, como cidadãos, em algum momento de nossas vidas, já ouvimos alguém dizer que “aquela mulher vale mais que X homens”.
Aliás, no capítulo anterior, vimos que a “Dama de Ferro” já foi chamada de “O melhor homem da Inglaterra”. (VEJA. Morre Margaret Thatcher, ícone de ferro do liberalismo. 2018)
Dito isso, por que razão as mulheres não ocupam o mesmo número de cadeiras na política nacional?
Para especialistas, além da questão cultural, tem-se ainda, o quesito institucional como entrave que chancela a discriminação de gênero no cenário político nacional e, tem como condicionante, o fato de que as mulheres não detém o acesso ao dinheiro do partido e, por conseguinte, não conseguem expor suas ideias, seus planos de governo, etc., nas mesmas condições que são oferecidas ao homem.( SANTOS, Bruno Carazza dos. 2017)
O mais intrigante ainda, é que dados divulgados pelo TSE – Tribunal Superior Eleitoral, dão conta a comprovar que, muito embora exista acirrada disputa ideológica entre os partido de esquerda e os partidos de direita; quando se trata de desigualdade de gêneros, ambos se equiparam em não conferir as mesmas
oportunidades às mulheres; pois os diretórios e tesourarias partidárias permanecem, em sua grande maioria, nas mãos dos homens.45
Isso, contudo, nos revela uma constatação paradoxal. Isso porque, segundo dados, no Brasil, quase 52% (cinquenta e dois por cento) do eleitorado é composto por mulheres; superando, inclusive, a hegemonia masculina de tempos atrás. Porém, os cargos políticos, efetivamente ocupados por elas, não superam os 10% (dez por cento). (RIBEIRO, Paulo Silvino. 2020?)
Tem-se, pois, a denominada sub-representação feminina, caracterizada assim, pela desproporcionalidade entre o direito de votar e as oportunidades de serem eleitas; ao passo que impede que as mulheres participem efetivamente da criação de leis e das decisões políticas que influenciam o país. (BIROLI, Flávia. 2018)
Toda essa desigualdade tem, incontestavelmente, raízes mais profundas no cenário histórico, social, cultural e político de nosso país; assertiva essa bem retratada pelo texto abaixo subscrito:
A violência sofrida pelas mulheres é um dos desdobramentos do machismo e apresenta padrões diferentes dos da violência que atinge os homens no país. Ao mesmo tempo, elas enfrentam desafios que não são idênticos aos deles no mercado de trabalho: o acesso à educação não se traduz, para elas, em cargos e salários do mesmo modo que se traduz para eles. Como sabemos, embora tenham hoje mais tempo de estudo do que eles, continuam a receber salários menores nas mesmas ocupações e a ser a maior fatia entre as pessoas que buscam emprego e as que exercem trabalho precarizado. (sic). Por serem as principais responsáveis pelo cuidado, a falta de creches e a redução dos investimentos em políticas públicas voltadas para a saúde e para o amparo às pessoas idosas e com deficiência as atinge de maneira aguda, com impacto sobretudo para as mulheres mais pobres que, no Brasil, são em sua maioria negras. Ao mesmo tempo, as mulheres são afetadas diretamente por leis e políticas que, de um lado, não respeitam sua escolha de ser ou não mães e, de outro, lhes retiram a possibilidade de exercer com dignidade a maternidade e de ver seus filhos crescerem em ambientes adequados ao seu desenvolvimento e sem que
45 Idem. Ibidem.
suas vidas estejam permanentemente em risco. Novamente, mulheres negras e moradoras da periferia são afetadas de maneira aguda. (BIROLI, Flávia. 2018)
Para a Flávia Biroli (GÊNERO E NÚMERO.com, 2018)46 é salutar que quem exatamente sofra as celeumas acima narradas, tenham a possibilidade de representar aqueles que elegem seus(suas) representantes políticos(as), como forma de criar ou encontrar soluções efetivas para atender o anseio da sociedade, ou do conjunto da sociedade que o(a) elegeu.47
A isso por exemplo, se condicionam a discussão de temas que envolvem pautas de insurgências femininas que podem não ser votadas e discutidas no cenário legislativo, como por exemplo, a questão do aborto.48
Nosso país é, inegavelmente, o maior Estado da América Latina e sua grandeza é também retratada nas questões que envolvem temas globais; como por exemplo a questão do meio ambiente e preservação da Amazônia; de tal modo que, segundo especialistas, alavancar a igualdade político-partidária feminina, representa também, mais igualdade social. (BIZZI, Ana Sofia Coutinho. 2018)
Em compêndio aos argumentos exarados aqui, o que se evidenciou é que, muito embora se deva crédito a luta travada há mais de cinco décadas; o que se observa no cenário nacional, ainda, é que a representatividade feminina no Parlamento brasileiro não consegue refletir o anseio das mulheres brasileiras que buscam se enveredar à candidatura a cargos político-partidários e, no corrente ano, não consegue ultrapassar os 15% (quinze por cento). (SOARES, Patrícia. 2020)
Por derradeiro, em termos de evolução, não podemos ignorar que embora lenta, essa se mostra importantíssima para a quebra de paradigmas socioculturais; haja vista que, subir posições no ranking mundial que mede a participação feminina na política, sem a efetiva diminuição da desigualdade
46 Flávia Biroli é professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. É autora, entre outros, de Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. Disponível em: < http://www.generonumero.media/a-politica-de-cotas-para-as-mulheres- no-brasil-importancia-e-desafios-para-avancar-2/>. Acesso em 12 ago. 2020.
47 BIROLI, Flávia. Idem. Ibidem.
48 Idem. Ibidem.
institucional, sem a erradicação da discriminação de gênero, sem a valorização da mulher e equiparação dos salários no exercício dos mesmos cargos e funções (na esfera privada e pública) é, sem sombras de dúvidas, tratar de forma paliativa a doença da desigualdade que embarga o nascimento de uma política igualitária, isenta e imparcial.
3.2. O que consta na Lei conta na prática?
Certamente, o clamor pela inserção justa, igualitária e democrática da participação da mulher na história política de nosso país não se concretizou apenas de forma verbal.
Em um Estado Democrático de Direito, fato é que o Poder Legislativo referendou, por meio de Leis (criticadas ou não) o direito da mulher no cenário político, em especial no que tange a reserva de quórum destinado à elas; com vistas a assegurar que cotas de acesso lhe fossem destinadas.
A Lei nº 9.100/1995, regulamentando as eleições municipais do ano seguinte, fixou cota de 20% (vinte por cento) das vagas destinadas às candidatas mulheres. (BRASIL, 1995)
No plano nacional, a lei eleitoral (Lei n.º 9504/1997) (BRASIL, 1997) que está em vigor atualmente indica que sejam reservados 30% (trinta por cento) das candidaturas dos partidos e/ou coligações partidárias sejam reservadas para as mulheres; porém, a crítica que se faz é que a determinação de reserva não significa que o efetivo preenchimento será assegurado às mulheres.
Segundo Danusa Marques, a aplicação de cotas e ausência de efetiva ocupação dos cargos eletivos por mulheres enfrenta obstáculos do próprio sistema
eleitoral brasileiro (eleições majoritárias 49), que acaba por dificultar o preenchimento das cotas reservadas às mulheres. (MARQUES, Danusa. 2018)
Nossas cotas de gênero só são aplicadas para essas últimas, que têm uma característica específica que nosdiferencia dos outros países que também adotam o sistema proporcional: ao contrário da maior parte dos outros países, aqui quem ordena a lista é o eleitorado, e não o partido. (...) Esse dado não significa, simplesmente, que haja uma “culpa do eleitorado”. É muito comum escutarmos que “nem mulher vota em mulher”, que existiria um preconceito das pessoas contra mulheres na política porque elas seriam vistas como mais fracas, menos competentes, menos efetivas. Mas, na verdade, para além dessa frase de efeito, não há evidência empírica de que o eleitorado não vote em mulheres. O fato do eleitorado não depositar seus votos em candidaturas de mulheres parece ser um efeito mais ligado à baixa competitividade daquelas candidaturas do que a um preconceito em relação a mulheres em cargos público.50
Dentre as dificuldades de se estabelecer regras que validem o cumprimento da finalidade legal (não somente reservar, mas garantir) está atrelado ao fato de que além do sistema eleitoral ter grande papel para impedir que isso ocorra; estão também, as questões partidárias e de gestão de fundos, que não chegam às mãos de mulheres.
É necessário mais que reservar, é preciso garantir, fazer cumprir, em grau de competitividade e destinação de recursos financeiros eleitorais e demais esforços estejam, de fato, nas mãos e à disposição das candidatas a cargos eletivos; de modo a se concretizar a igualdade de oportunidades preconizada pela Carta Magna de 1988.
A regra de cotas é, portanto, o que denominamos como “um mal necessário”; em especial porque em nosso país, o número de mulheres eleitas em cargos
49 Também chamado de sistema de maioria, no qual, apurados os votos em uma determinada região ou circunscrição eleitoral, as candidaturas mais votadas são, em regra, eleitas para o mandato (exemplo no Brasil: eleição para presidência da República, governos estaduais, prefeituras e Senado). In: + Mulheres	na Política. Secretaria de Políticas Para as Mulheres da Presidência da República (SPM) et al. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/procuradoria/proc-publicacoes/2a-edicao-do- livreto-mais-mulheres-na-politica>. Acesso em 15 ago. 2020.
50 MARQUES, Danusa. Idem. Ibidem.
eletivos legislativos e executivos é ainda, muito inferior aos 30% (trinta por cento) reservados pela legislação eleitoral pátria.(SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (SPM) et al. 2015)
O grande paradoxo, porém, é que se observa no país a supremacia do eleitorado feminino; o que, pelos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no Brasil, em termos percentuais, o eleitorado feminino atinge a monta de 52,49%, enquanto o masculino soma 47,48%. (TSE. Cruzamento de Dados por Gênero. 2020)
Tais dados revelam de duas, uma: A sub-representação das mulheres nos poderes legislativo e executivo, ou está ligada à preferência do eleitorado feminino (menos crível) ou tem raízes na ausência de efetiva competitividade igualitária de gêneros na corrida eletiva nacional; haja vista que além de os diretórios e tesourarias partidárias não estarem sob a gestão de mulheres, também, há denúncias de que muitas candidaturas femininas só se prestam ao preenchimento de vagas.51
Ademais, como prova a corroborar com o que sente na vida prática político-partidária atual, está no fato de que, muito embora a Lei n.º 9.096 de 1995 (BRASIL, 1995), dispondo respectivamente sobre a distribuição de fundos e a utilização do tempo de TV e rádio difusão em campanhas políticas (propaganda partidária gratuita) direcionadas às mulheres não tem efetivo cumprimento pelos partido; o que pode ser agravado pela ausência de acirrada fiscalização e punições severas àqueles que as desrespeitam.52
A esse respeito, inclusive constata-se a seguinte crítica:
“O próprio TSE, que é responsável por fiscalizar e tentar controlar os abusos da lei, ao não punir as lideranças ou partidos, acabam mantendo o status quo, mantendo esse clima de impunidade”, afirmou ao HuffPost Brasil a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, diretora da ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política) e professora da Ufscar. (Universidade Federal de São Carlos) – (BRAGA, Maria do Socorro Sousa. Apud FERNANDES, Marcella.2020)
51 Idem. Ibidem.
52 Op. Cit.
Dentre tantas questões, às problemáticas, como já citado anteriormente, esbarram no famigerado argumento de que as mulheres estariam desinteressadas ou pior, que em tese, não teriam vocação política ou capacidade para a gestão pública.
Ocorre, porém, que há muito tempo as sufragistas, em especial, brasileiras, demonstraram que essa falácia não corresponde à realidade; vez que as mulheres, há tempos, são responsáveis pela gestão complexa de seus lares e lavouras (hoje em seus diversos ramos de trabalho); além da carga de educar e criar seus filhos, em uma sociedade machista (em maior grau ou menor grau, dependendo da época) que as proferiram na política, esquecendo-se, porém, que a política faz parte do cotidiano humano.
É preciso mais que disposições legais; é necessário que as leis sejam efetivamente cumpridas; que as frestas legais sejam aparadas; traduzindo objetivo precípuo das leis em constatação real, com crescimento da figura feminina no cenário político-partidário nacional, até que a igualdade seja palpável e notória, não apenas previsível ou provável.
Ademais, se a discussão versa sobre a justa e imparcial igualdade, há que se mencionar que a própria Constituição Federal de 1988 já prevê em seu artigo 5º, inciso I, que em direitos e obrigações, homens e mulheres são iguais. Vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (BRASIL, 1988. Grifamos)
É salutar se reconhecer, portanto, que as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que optam em ter acesso à política, em sentido amplo, são encontradas dentro das próprias casas legislativas e executivas em nosso país, o que nos remota a sensação de impotência, descrença e descredibilidade das legislações que os poderes alegam apoiar na defesa dos interesses femininos.
A despeito de tudo, fato é que nomes femininos importantes, em toda a história da mulher na política mundial, são verdadeiras inspirações para que a crescente representação seja, enfim, concretizada.
Resta comprovado que as mulheres galgaram árduas lutas no cenário político-partidário mundial; sem, contudo, podermos precisar quando a igualdade já verbalizada na Carta Democrática de 1988 irá se verificar na efetiva ocupação de 50% (cinquenta por cento) das cadeiras legislativas e executivas de nosso país. Quiçá!
3.3. A desproporcional luta feminina na política nacional
Antes de nos atermos à ausência de oportunidades igualitárias no sistema político-partidário brasileiro; temos que fazer referência, ainda que breve, acerca da desproporcionalidade de representação dos próprios Estados brasileiros.
Isso porque, nosso sistema eleitoral, na visão dos críticos, não consegue dar tratamento igualitário aos próprios entes federados; ou seja, não há proporcionalidade entre o número populacional de cada Estado brasileiros, com o número de cadeiras ocupadas na Câmara dos Deputados. (NICOLAU, Jairo Marconi. 1997)
Não foi diferente com a questão envolvendo a efetiva ocupação das mulheres no sistema político atual brasileiro; visto que, como já narrado nos capítulos anteriores, as conquistas femininas não são consonantes com a realidade enfrentada por estas quando buscamos identificar se o número de mulheres é ou não proporcional ao eleitorado feminino.
Não se pode olvidar, contudo, que segundo dados do TSE (citado no subitem anterior), as mulheres são a maioria do eleitorado brasileiro atual. Todavia, esse percentual não estampa o pequeno número de mulheres a ocupar os cargos eletivos em nossospoderes legislativos ou executivos.
É salutar que a democracia possa se expressar não só em sentimentos e lutas; mas em números concretos que signifique avanço democrático em sentido amplo; sem as máscaras de cotas formais que não possam ser verificadas in loco.
Os fatos histórico-sociais tiveram grande e negativa influência em nosso modelo político atual, ao passo que considerava negros e mulheres (nessa ordem, respectivamente) seres humanos de segunda classe e não os conferiram o direito de participarem da vida política do país, que irrefutavelmente os afetaria.
Assim, gradativa e lentamente, as bandeiras políticas foram se enveredando contra o racismo e o sexismo; o que no que concerne ao cenário político nacional; trata-se de um embate duplo, porém, imprescindível para a concretização de uma democracia verdadeira, lisa e imparcial.
A disparidade não é encontrada tão somente nas questões socioeconômicas; pelas quais, o machismo e a dependência financeira da mulher em relação ao homem, teve papel preponderante para o preconceito e a não aceitação pacífica das mulheres na política; mas também, no que diz respeito a ineficácia legal de normas que tinham como finalidade tornar equânime, proporcional e imparcial, tanto o acesso quanto a efetiva ocupação de cargos eletivos pelas mulheres. (PINHEIRO, Luana Simões. 2007)
Resguardada a importância dos fatos históricos que antecederam a Constituição Federal de 1988, fato é que o primeiro e significativo ato feminino, com vistas a assegurar a participação da mulher na política nacional foi consolidado por representantes femininas, deputadas, que formalizaram através do documento chamado “Carta aos Constituintes” assegurando diversos direitos às mulheres.53
A grande crítica, porém, é que mesmo a CF de 1988 não foi capaz de consolidar e fincar a igualdade de oportunidades de acesso e assunção das mulheres nas cadeiras legislativas e executivas pátrias.
Tanto isso é verdade que até a legislação de 1997 a participação das mulheres no cenário político brasileiro pode ser considerada ínfima, ao passo que o que
53 PINHEIRO, Luana Simões. 2007. Idem. Ibidem.
se vivenciou foi tão somente a ocupação de duas cadeiras, no cargo de senadoras, o que em termos práticos, mantinha a divergência entre o “querer” e o “ser”.
A partir das modificações trazidas pela legislação eleitoral de 1997, passou-se a garantir as denominadas cotas, com vistas a assegurar a participação mais efetiva das mulheres.
Como já aventado no início desse capítulo, entre as disposições legais e a disposição política para que tal inserção feminina se tornasse mais evidente; há abismos inexplicáveis, que fecundam o que de pior há dentre tantos sistemas eleitorais e político-partidários mundo afora.
Isso porque, as denúncias apontam para a burla dessas cotas, com as famigeradas candidaturas de mulheres “laranjas” que se prestam ao papel de cumprir a exigência formal estabelecida em Lei; com vistas a fugir de eventual e futura punição.
Diante disso, por óbvio, com mecanismos ardis, sendo utilizados apenas para vilipendiar a lei, tornou inócua a finalidade dessa. Vejamos o que autores narram a esse respeito:
As eleições de 1998, portanto, produziram um efeito inverso ao esperado. Se o objetivo material das cotas é ampliar a presença feminina nos espaços representativos, então os dados mostram um relativo fracasso de tal política. De fato, parcela ainda muito pequena conseguiu se eleger nas eleições “pós-cotas”, proporção bastante distante dos 30% mencionados na legislação e, em geral, inferior, também, à proporção de mulheres candidatas. No caso do Parlamento federal, as primeiras eleições após a instalação do novo mecanismo resultaram em redução no percentual de mulheres eleitas (de 6,2%, em 1994, para 5,6%, em 1998). (PINHEIRO, Luana Simões. 2007)
Somente no ano de 2002 que a representatividade feminina conseguiu esboçar significativo avanço, porém, ainda inexpressivo às cotas que a lei buscava garantir.
Nove anos depois da lei que estipulava cotas a serem destinadas às candidaturas femininas, as mulheres representavam apenas 14% de todos os candidatos a cargos eletivos daquele ano.
Na busca de traduzir os reais motivos que influenciam na desigualdade e desproporcionalidade das mulheres nos cargos políticos, os motivos mais alegados são sempre de cunho cultural, social, intelectual e até religioso; passando até pelo conceito de que em termos acadêmicos as mulheres, em sentido genérico, não estariam aptas a assumirem cargos de poder, em especial, políticos. (PINHEIRO, Luana Simões. 2007)
O entrave, contudo, não pode se liminar às questões socioculturais supracitadas, mas também, da falta de verdadeiro estímulo às mesmas, bem como da destinação e distribuição igualitária de verbas que as coloquem em pé de igualdade dos candidatos do sexo masculino.
Não bastasse isso, não são raras as insurgências de candidatas que compõem um partido político e que se sentem preteridas mesmo quando estão em vantagem na “preferência popular”; pois, o partido prefere lançar candidatos masculinos. (GROSSI e MIGUEL, 2001, p. 177 apud PINHEIRO, Luana Simões. 2007, p. 84)
Há ainda a vertente denominada de formação acadêmica que, segundo doutrinadores, é a segmentação vertical; pela qual, a ausência das poucas mulheres no poder dos próprios partidos; o que afeta sobremaneira a distribuição de renda partidária para a campanha das candidatas. (PINHEIRO, Luana Simões. 2007)
Os elementos impedidores da concretização de uma democracia mais justa, igualitária, sem distinção de gênero, passa portanto, por entraves mais robustos, como a malfadada prática partidária, onde as bases políticas são, em sua grande maioria, dominadas por homens, que têm domínio do capital partidário, bem como, por consequência da baixa ocupação das mulheres, domínio das decisões de quem lançar à candidatura do partido, tornando ineficazes as normas legais que pretendem vencer as muralhas deflagradas por uma cultura também, patriarcal.
Por fim, o que se observa da constante luta pela dissipação da desigualdade de gênero na política, é que a batalha feminina vem ganhando expressiva notoriedade, haja vista ser assunto explorado constantemente, com finco de encontramos o equilíbrio entre a lei e a prática, hábeis a chancelar o crédito à perseverança feminina na política; pois mesmo que em áridos cenários tem registrado o salto da mulher na política nacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do desenvolvimento do presente trabalho, o mencionado artigo buscou apresentar a cronologia histórica na luta das mulheres em obter o direito de voto, bem como o direito de serem elegíveis.
Nesse cenário político-partidário, a história deu conta de confirmar que as mulheres tiveram que desbravar obstáculos sociais, culturais e legais para poder exercer o direito ao voto e o direito de serem elegíveis.
As notáveis reivindicações femininas não conseguiram, a priori, fazer com que essa notoriedade as alcançasse na mesma proporção. O preço a se pagar foi incomensurável, se considerarmos que muitas sufragistas tiveram expostas a sua honra e imagem.
A leitura pacífica dos registros históricos ganha contornos dramáticos quando percebemos que o início da luta feminina, na busca de seus direitos políticos, teve como coadjuvantes, constantes protestos também violentos e graves, cujos resultados não eram atingidos na forma pretendida pelas mulheres, muitas vezes ridicularizadas e submetidas ao julgamento público, com a força e poder da mídia que lhes eram desfavorável e as colocavam, muitas vezes, na condição de baderneiras, rebeldes e etc.
Os avanços dessa luta feminina foram, em síntese, retratados no presente trabalho, sem a menor pretensão de esgotar o tema, mas que, puderam, certamente, retratar a dimensão que o tema atingiu.
No capítulo 2, “A dama de ferro” foi escolhida justamente, para homenagear a bravura, as lutas, as derrotas, a persistência e a resiliência feminina, termos que couberam também, em Margaret Thatcher, uma mulher que foi chamada de "o melhor homem da Inglaterra".

Outros materiais