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Escola de Engenharia da UFMG Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos ENGENHARIA DE RECURSOS HÍDRICOS AULA 7 Tipos de Aproveitamentos Hidráulicos Reservatórios de Acumulação e de Distribuição Mauro Naghettini mauro.naghettini@gmail.com 1 – Introdução Meses Q3 > impossível Q (fio d'água) V1 V2Deflúvio Acumulado Meses Meses Q2 NA NAmxn Depleção Vert . Depleção min1 QQ Q Q QQ 2 Os sistemas de abastecimento de água, irrigação ou energia hidrelétrica, podem ser • a fio d’água, caso não necessitem contar com vazões superiores à vazão mínima natural; ou • com reservação, em caso contrário, de modo que o atendimento às demandas possa ocorrer de modo seguro. A variação intersazonal ou plurianual das vazões naturais de um curso d’água pode ser REGULARIZADA POR MEIO DE RESERVATÓRIOS DE ACUMULAÇÃO → BARRAGENS Aproveitamentos a Fio d’Água (afa) São aqueles aproveitamentos (navegação, irrigação, micro a pequenas centrais hidrelétricas, entre 0,5 e 30 MW) nos quais não há necessidade de armazenamento de água para a regularização das vazões afluentes. Podem conter uma pequena barragem (soleira vertente), a tomada d’água, um circuito de derivação, uma câmara de carga, e os circuitos de adução e restituição. Exemplo de uma MCH (afa) Exemplo da UHE de Fratel (afa) Outros arranjos típicos de aproveitamentos a fio d’água de geração elétrica: Alguns aproveitamentos a fio d’água podem possuir um pequeno volume de armazenamento capaz de regularizar as vazões afluentes, em escalas diária ou semanal, compatíveis com o padrão de variação das demandas/cargas. Exemplo de um diagrama de carga diário de um AH → Alguns outros aproveitamentos de pequeno volume de armazenamento, por vezes chamados ‘a fio d’água’, são projetados para garantir o atendimento de uma demanda (por exemplo, a geração de energia), apenas por uma certa percentagem do tempo (eg: 95% do tempo). Esses aproveitamentos são dimensionados com base na curva de permanência de vazões. 0 4 8 12 16 20 24 Carga de Base Carga Intermediária Carga de Ponta Demanda de Carga (MW) Hora Exemplo de dimensionamento de uma PCH com base na Q95 (Collischonn, 2008) Uma PCH será construída em um rio com a curva de permanência apresentada abaixo. O projeto da barragem prevê uma queda líquida de 27 metros. A eficiência da conversão de energia será de 83%. Qual é a energia assegurada por essa PCH? Solução: A potência a ser instalada é dada por onde P é dado em W, =1000 kg/m3, g=9,81 m/s2 , =981 N/m3, Q é a vazão garantida em 95% do tempo, ou a Q95, em m 3/s, H a queda líquida em m, e é o rendimento (ou eficiência) do conjunto turbina-gerador, entre 0,80 e 0,85. A energia assegurada é QHηγgQHηρP == Q95 = 50 m 3/s H = 27 m = 0,83 = 1000 kg/m3 . 9,81 N/kg P = 9,81.50.27.0,83.1000 P=11 MW E=Pt = 11.0,95.365.24 E=91542 MWh Importância para a geração elétrica excesso de afluências déficit garantia Aproveitamentos com Regularização das Vazões Afluentes A regularização da variação intra-anual e inter-anual das vazões afluentes faz- se por meio dos RESERVATÓRIOS DE ACUMULAÇÃO formados a partir da construção de BARRAGENS em uma dada seção de um curso d’água. O volume útil de um reservatório acumula o excesso de afluências durante a estação chuvosa anterior (ou estações chuvosas anteriores), para usá-lo nas estações secas (ou estiagens prolongadas) quando as afluências são inferiores às vazões de demanda. O reservatório cumpre a sua função de regularização pela transferência temporal de volumes de água. Meses Q3 > impossívelQ (fio d'água) V1 V2Deflúvio Acumulado Meses Meses Q2 NA NAmxn Depleção Vert. Depleção A UHE Itaipu (ainda a maior hidrelétrica do mundo, em geração de energia) Reservatório Volume de água no nível máximo normal: 129 bilhões de m³ Extensão: 170 km Nível máximo normal (cota): 220 m Área no nível máximo normal: 1.350 km² Vertedouro Vazão máxima: 62,2 mil m³/s Capacidade máxima de descarga: 162.200m³/s Comprimento: 483 m Comportas: 14 unidades Dimensões das comportas: 21 m/altura e 20 m/largura Barragem Altura: 196 m Comprimento total: 7.744 m Bacia Hidrográfica Área: 820.000 km² Precipitação média anual: 1.400 mm Vazão média afluente: 11.736m³/s Unidades geradoras Quantidade: 20 Potência: 700 MW Freqüência: 50 e 60 Hz Queda: 118,4 m Vazão Nominal: 700 m³/s Peso: 6.600 t Casa de Força Comprimento: 968 m Largura: 99 m Altura máxima: 112 m Condutos forçados Comprimento: 142 m Diâmetro interno: 10,5 m Descarga nominal: 700 m³/s Escavações Volume de escavações de terra: 23,6 milhões de m³ Materiais Volume de concreto utilizado: 12,6 milhões de m³ 2 – Tipos de Barragens Tipo Material de Construção Seção Transversal Típica Vista em Planta Gravidade concreto ou alvenaria de pedra bruta Arco concreto Contrafortes concreto Terra- terra e/ou rocha Enrocamento Em uma mesma barragem, pode-se ter mais de um tipo de estrutura: • Barragens em curva: ação de seu peso próprio (gravidade) + ação do arco. • Barragens extensas: parte central em concreto (extravasores e tomadas d'água) + barragens de terra/enrocamento nos flancos. Seleção do tipo de barragem: problema de viabilidade técnica e de custo. Solução técnica: topografia, hidrologia e geologia locais. (barragens de gravidade: fundações em rocha sã; arco: vales profundos e ombreiras; contrafortes: altura, terra: disponibilidade de terra) Solução de menor custo: volume de escavação até a rocha sã; tratamento das fundações; disponibilidade dos materiais de construção em área próxima e da acessibilidade para seu transporte. Casa de Força Vertedouro Restituição Barragem Ombreira Esquerda Barragem Ombreira Direita Barragens de Gravidade (Concreto Massa) Caraterísticas principais: • Sustentam-se pelo peso próprio; • São usadas em vales encaixados com leitos em rocha ‘competente’; • São usadas nas seções do vertedor e casa de força de barragens mistas terra/concreto; • exigem fundação em rocha sã. Grand Coulee (EUA) 6800 MW Grande Dixence (Suíça) H=285 m, base=200 m, crista=700 m, Sistema 2000 MW Barragens em Arco (Abóboda) Apresentam curvatura em planta (e/ou em corte) e transferem, por ação do próprio arco, a maior parte do empuxo da água às ombreiras. As vertentes do vale devem ser em rocha competente para resistir aos esforços. São construídas em concreto e são as mais altas. Monticello (EUA, H=92 m) Funil (Furnas, H=74 m) Karun 3 (Irã, H=205 m) Barragens de Contrafortes Manicouagan (Canadá, H=140 m, C=1314 m) Itaipu (barragem em curva pela om. direita) Bartlett (EUA, H=94 m, C=243 m) radier contraforte laje plana parede interceptora Barragens de Terra-Enrocamento Usam material com um mínimo de beneficiamento, e podem ser construídas com equipamentos simples. Essas barragens competem em custo com suas equivalentes de concreto. Ao contrário das barragens de gravidade que exigem fundações em rocha sã, as de terra adaptam-se bem aos diversos tipos de terreno. UHE Nova Ponte (Rio Araguari, CEMIG, H= 141 m, C=1600 m, Pot=510MW) UHE Emborcação UHE Xingó (Rio São Francisco, CHESF) CEMIG, H=158m, Enrocamento com Face de Concreto C=1611m, Pot=1192MW H=140 m, C=830 m, Pot=5000 MW) Projeto de uma barragem de terra: dimensionar um aterro estável de baixa permeabilidade, que satisfaça a finalidade visada, e que possa ser executado com os materiais disponíveis, a um custo baixo. A quantidade de material varia com o quadrado da altura da barragem e por isso as barragens de terra muito altas são raras. Estabilidade do aterro: problema de mecânica dos solos + controle adequadoda infiltração da água e das pressões de percolação. 3 – Características Físicas dos Reservatórios Variação da Área Inundada e da Capacidade do Reservatório Curva Cota-Área Curva Cota-Volume V710 = V0 +V700-705+ V705-710 V0 700 705 710 715 V700-705 Altitude (m) Volume (hm3 ou 106 m3 ) 710 705 Variação da Linha d’Água a Montante do Reservatório A suposição de que a linha d'água é horizontal é válida apenas para reservatórios pequenos e profundos; nesses casos, a velocidade do escoamento e o gradiente da linha d'água são muito atenuados. Em reservatórios rasos e estreitos, o NA pode se afastar significativamente de uma linha horizontal. A curva de remanso é importante em projetos de reservatórios para fins de desapropriação de áreas ribeirinhas sujeitas a inundação. Qualquer construção deve se localizar acima da linha d'água correspondente à passagem da cheia de projeto. Km a montante da barragem NA Q3 Q2 Escalas Fluviométricas A curva formada pelo NA, correspondente ao volume da cunha acima do plano horizontal, é chamada CURVA DE REMANSO. Essa pode ser determinada para diversos valores de descargas afluentes, a partir da solução das equações do ESCOAMENTO GRADUALMENTE VARIADO [e.g. : método "Standard Step" - software "River Analysis System" do Hydrologic Engineering Center (HEC-RAS)]. A linha d'água varia em função das afluências e defluências. 4 – Zonas de Armazenamento e NA’s Notáveis Vertedor Não Controlado (Livre) Vertedor Controlado por Comportas NA max = NA máximo maximorum VU =Volume útil NA mxn=NA máximo normal de operação VM =Volume morto NA min=NA mínimo normal de operação VE = Volume de Espera 5 – Volume Útil de um Reservatório de Acumulação • A determinação da CAPACIDADE ou VOLUME ÚTIL de um reservatório de acumulação geralmente se faz através da simulação de sua operação (balanço hídrico) ao longo de : • um período crítico, ou período de estiagem prolongada, determinando-se o volume necessário para atender a demanda, ‘sem risco de falha durante o período’; ou • todo o período histórico disponível, determinando-se a cada ano o volume necessário para atender a demanda e, em seguida, o máximo entre os volumes anuais. (Volume provável do reservatório)/(Vazão média afluente) → simulação com dados diários, semanais ou mensais. Em geral, para grandes reservatórios, Δt=mês. Balanço Hídrico Precipitação Direta Evaporação Demanda Afluências Defluências + Vazão Ecológica + Percolação [ Afluências + Precipitação ] - [ Evaporação + Demanda + Defluências + Vazão Ecológica + Percolação ] = Volume / t Exercício - Durante o mês de Julho de 1981, a afluência média ao reservatório de Três Marias foi de 430 m3 /s. No mesmo período, a CEMIG operou o reservatório liberando para jusante uma vazão de 250 m3 /s para atendimento à navegação, sendo que a geração de energia elétrica consumiu uma vazão adicional de 500 m3 /s. A precipitação mensal na região foi de apenas 5 mm, enquanto a média histórica de evaporação da superfície do lago vale 110 mm. Sabendo que no início do mês o NA do reservatório era 567,03 m, calcular o NA no fim do mês, dada a relação cota-área-volume a seguir. Despreze as perdas por infiltração e calcule a precipitação efetiva (precipitação-evaporação) sobre o lago com base no NA de 567,03 m. Fazer interpolação linear na relação cota-área-volume. Balanço hídrico: Curvas Cota-Área-Volume (interpolação): e Reservatório de Três Marias - Relação Cota-Área-Volume NA (m) Volume ( 10 9 m 3 ) Área do reservatório (km 2 ) 565,00 12,729 912 565,50 13,126 933 566,00 13,527 953 566,50 13,929 974 567,00 14,331 995 567,50 14,733 1018 568,00 15,135 1040 Solução – De acordo com o enunciado do problema tem-se os seguintes dados: Qe = 430 m 3/s Qs = 250 m 3/s + 500 m3/s = 750 m3/s P = 5 mm E = 110 mm NAi= 567,03 m t = 31 dias 2Km38,996A = 39I Na m1035512,14V = ( ) ( ) 3969 104980,1331864007504301038,996110,0005,01035512,14 mV s F Na =−+−=− m83,565NAf = ( ) ( ) s s m mmmmQQAEPVV se I Na F Na +=−+−=− 3 233186400 ( ) ( ) 3186400750430110,0005,003,567 −+−=− s F Na AV Determinação do Volume Útil pelo Método Tabular (exemplo) A tabela a seguir apresenta os seguintes dados para uma seção onde se vai construir uma barragem : vazões médias mensais, evaporação mensal medida em um tanque classe A, os totais mensais de precipitação e as demandas mensais previstas. As vazões naturais até o máximo de 125000 m3/mês devem ser liberadas para jusante. Supondo que a área a ser inundada pelo reservatório é de 4 km2, qual deve ser o volume útil para atender as demandas durante esse período crítico? Col. 7 = Col. 3 4 km2 106 10-3 0,77 Col. 8 = Col. 4 4 km2 106 10-3 Col. 9 = Col. 2 - Col. 6 - Col. 7 + Col. 8 Col. 10 = Col. 9 + Col. 5 somente se Col. 9 < 0 VOLUME ÚTIL = 3040.103 m3 Mês 1 Afluência 103/mês 2 Evapora- ção mm 3 Precipi- tação mm 4 Demanda 103/mês 5 Vazão Liberada 103/mês 6 Volume Evaporado 103/mês 7 Volume Precipitado 103/mês 8 Afluência Coriigida 103/mês 9 Reserva- tório 103/mês 10 Jan 2600 90 86,3 49 125 252 345 2568 0 Fev 5430 130 90 49 125 364 360 5301 0 Mar 37 150 11,3 98 37 420 45 -375 473 Abr 12 160 15 160 12 448 60 -388 548 Mai 6 140 3,8 172 6 392 15 -377 549 Jun 4 120 0 172 4 336 0 -336 508 Jul 1 80 0 160 1 224 0 -224 384 Ago 0 45 0 148 0 126 0 -126 274 Set 0 20 0 98 0 56 0 -56 154 Out 0 25 7,5 49 0 70 30 -40 89 Nov 0 30 15 37 0 84 60 -24 61 Dez 4 60 86,3 37 4 168 345 177 0 8094 1050 420 1229 314 2940 1260 6100 3040 Determinação do Volume Útil pelo Diagrama de Rippl (1883) • Regularização: ANUAL ou PLURIANUAL, de acordo com a demanda D. • anual :reservatório cheio a cada estação chuvosa. Volume útil=maior dos deficits anuais (ex: D1 na figura) • Plurianual:reservatório demora mais de um ano para voltar ao NA mxn (ex: D2 na figura) •declividade de 0 a 7 → vazão afluente média no período •a diferença de ordenadas é o volume escoado no período considerado •a tangente em qualquer ponto representa a vazão afluente no t considerado •a vazão regularizada D1 (ou D2) é representada pela reta que passa pela origem e com coeficiente angular D1 (ou D2) •Q min < D < Q med •trecho 0-1 → reservatório cheio e extravasando •trecho 1-2 → reservatório deplecionando (com insuficiente recuperação no período) •Ponto 2 → reservatório com acumulação mínima •trecho 2-3 → reservatório enchendo •Ponto 3 → reservatório cheio Determinação do Volume Útil pelo Algoritmo “Sequent Peak” (Exemplo) O cálculo do volume útil decorre da aplicação da equação do balanço hídrico Kt=Dt-At+Kt-1 se Dt-At+Kt-1>0 ou Kt=0 se Dt-At+Kt-1<0, onde K=volume útil, A=afluência e D=defluência, indexados no período t. O volume útil necessário para regularizar D é o maior valor de Kt. Algoritmo pode ser alterado para demandas variáveis e inclusão da evaporação. Intervalo de Tempo Demanda /Defluência Dt Afluência At Capacidade Anterior Kt-1 Capacidade Necessária Atual Kt t (unid volume) (volume) (volume) (volume) 1 4.5 5 0 0 2 4.5 7 0 0 3 4.5 8 0 0 4 4.5 4 0 0.5 5 4.5 3 0.5 2 6 4.5 3 2 3.5 7 4.5 2 3.5 6 8 4.5 1 6 9.5 9 4.5 3 9.5 11 10 4.5 6 11 9.5 11 4.5 8 9.5 6 12 4.5 9 6 1.5 13 4.5 3 1.5 3 14 4.5 4 3 3.5 15 4.5 9 3.5 0 6 – Volume Útil de um Reservatório de Distribuição (Exemplo) Determinar a capacidade de um reservatório de distribuição de um sistema de abastecimento urbano, cujas demandas horárias para o dia de maior consumo encontram-se relacionadas na tabela a seguir. A vazãode bombeamento para o reservatório deve ser constante. D Qb V Qs Operação do Reservatório : Se D < Qb Qs = D Se D > Qb Qs = Qb + (D-Qb) Suprido pelo reservatório Hora Demanda (10m 3 /h) Vazão Bombeada (10m 3 /h) Volume fornecido pelo Reservatório (10m 3 ) 1 1960 3750 = 90000/24 - (1960<3750) 2 1720 3750 - 3 1610 3750 - 4 1540 3750 - 5 1610 3750 - 6 1910 3750 - 7 2290 3750 - 8 3410 3750 - 9 4420 3750 670=4420-3750 10 4720 3750 970 11 4800 3750 1050 12 4720 3750 970 13 4650 3750 900 14 4570 3750 820 15 4570 3750 820 16 4540 3750 790 17 4610 3750 860 18 4810 3750 1060 19 5070 3750 1320 20 5270 3750 1510 21 5210 3750 1460 22 4990 3750 1240 23 4390 3750 640 24 2620 3750 - Soma 90000 90000 15080
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