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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 2 UNIDADE 1 – GENERALIDADES DA BIOQUÍMICA ........................................ 6 1.1 CONCEITOS................................................................................................. 6 1.2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL BIOQUÍMICO ....................................... 7 1.3 REGRAS GERAIS DE SEGURANÇA EM LABORATÓRIOS ...................................... 8 UNIDADE 2 – OS FUNDAMENTOS DA BIOQUÍMICA ................................... 14 2.1 FUNDAMENTOS CELULARES ........................................................................ 15 2.2 FUNDAMENTOS QUÍMICOS .......................................................................... 16 2.3 FUNDAMENTOS FÍSICOS.............................................................................. 21 2.4 FUNDAMENTOS GENÉTICOS ........................................................................ 25 2.5 FUNDAMENTOS EVOLUTIVOS ....................................................................... 26 UNIDADE 3 – O USO DOS DADOS BIOQUÍMICOS NA CLÍNICA ................. 29 3.1 DIAGNÓSTICO ............................................................................................ 30 3.2 PROGNÓSTICO .......................................................................................... 31 3.3 MONITORAMENTO ...................................................................................... 31 3.4 RASTREAMENTO ........................................................................................ 32 3.5 GARANTIAS DE QUALIDADE EM ANÁLISES BIOQUÍMICAS .................................. 32 UNIDADE 4 – OS COMPONENTES ESTRUTURAIS DO CORPO E METABOLISMOS AFINS ................................................................................ 38 4.1 ÁGUA ....................................................................................................... 39 4.2 PROTEÍNAS, AMINOÁCIDOS E ENZIMAS ......................................................... 40 4.3 CARBOIDRATOS ......................................................................................... 49 4.4 LIPÍDIOS.................................................................................................... 52 UNIDADE 5 – ALGUNS CONCEITOS UTILIZADOS NA BIOQUÍMICA ......... 56 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 60 2 Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. INTRODUÇÃO Há quem ache a Bioquímica uma ciência muito abstrata, obscura, até mesmo existente somente no campo do imaginário, mas por certo, a Bioquímica é extremamente fascinante e de grande utilidade para todos nós, mesmo os que não a “veem”. O bem-estar humano, principalmente em seus aspectos médicos e nutricionais, se deve sobremaneira aos conhecimentos advindos dos estudos bioquímicos, os quais não param de nos trazer descobertas que só tem a contribuir com a vida no Planeta Terra. A Bioquímica é voltada principalmente para a química dos processos biológicos que ocorrem em todos os seres vivos, enfocando a estrutura e função de componentes celulares como proteínas, carboidratos, lipídios, ácidos nucleicos e outras biomoléculas. Essas substâncias são exemplos de macromoléculas e estão envolvidas nos processos bioquímicos celulares, sendo que cada tipo específico de enzima – tipos especiais de proteínas – tem a função de controlar e ativar um tipo específico de reação química. Frise-se também que todas as reações metabólicas são, em alguma ordem, controladas pelo sistema nervoso central através dos impulsos nervosos e estes estão ligados à ação dos neurotransmissores, ou seja, o próprio funcionamento do sistema nervoso só é possível através de reações químicas envolvidas na produção dessas substâncias. A Bioquímica, como disciplina independente, é a única ciência que surgiu no século XX (FERRI, 2013), mas já com sinais avançados ao final do século XIX. Se pensarmos histórica e evolutivamente, a Bioquímica tem histórias entrelaçadas com as histórias da composição dos organismos vivos; da estrutura das macromoléculas; das funções das macromoléculas; dos seus mecanismos e dinâmica dos processos. Evidentemente que o primeiro passo para chegar à Bioquímica se deu com a descoberta da composição química dos seres vivos. São nomes importantes dentro dessa ciência: Anselme Payen, Friedrich Wöhler, Claude Bernard, Louis Pasteur, dentre outros, podem ser associados à Bioquímica, apesar desse termo ter sido cunhado apenas a partir do início do século XX pelo químico alemão Carl Neuberg. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3 Arriscamos dizer que um dia ela é forte candidata a nos ajudar a controlar nossos próprios destinos, tanto que Marshall e Lapsley (2016) explicam que a Ciência Bioquímica é fundamental para a prática da medicina clínica. As bases bioquímicas de muitas doenças são conhecidas há muito tempo, e a pesquisa nessa área fornece cada vez mais descrições de processos patológicos e explicações em nível molecular para as doenças. Como resultado da aplicação dos princípios e técnicas bioquímicas para a análise de fluidos e tecidos corporais, cada vez mais os médicos dispõem de diversos tipos de investigações bioquímicas das quais podem lançar mão para sustentar suas decisões clínicas. Tais estudos podem fornecer informações fundamentais para o diagnóstico e o acompanhamento de várias condições, tanto aquelas com uma base obviamente metabólica (por exemplo, diabetes melito) quanto aquelas nas quais os distúrbios metabólicos ocorrem em consequência da doença (por exemplo: insuficiência renal). Por outro lado, muitas condições são apropriadamente diagnosticadas e tratadas sem a necessidade de estudos bioquímicos, enquanto existem outras nas quais há a expectativa de que investigações bioquímicas seriam úteis. Contudo, os exames apropriados ainda não estão disponíveis. Por exemplo, até o momento, não há estudos bioquímicos para sustentar o diagnóstico e o acompanhamento dos principais transtornos afetivos, embora existam evidências consideráveis de que os distúrbios bioquímicos estão envolvidos na patogênese destes (MARSHALL; LAPSLEY, 2016). Feitas essas breves considerações, vamos ao seu estudo! Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4 2) Deixamos bem claro que esta composição nãose trata de um artigo original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento crítico. 5) Pedimos compreensão por usar a lógica ocidental tradicional que funciona como uma divisão binária: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x mulher, mas na medida do possível iremos nos adequando à identidade de gênero, cientes de que no mundo atual as pessoas tem liberdade de se expressarem de forma tão diversa e plural e que o respeito à singularidade e a tolerância de cada indivíduo torna-se fator de extrema importância. 6) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 1 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora Positivo, 2005. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5 7) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6 UNIDADE 1 – GENERALIDADES DA BIOQUÍMICA 1.1 Conceitos A Bioquímica é o ramo da Química que se preocupa com as transformações moleculares dos constituintes celulares. Ao conjunto dessas transformações denominamos “Metabolismo”. Dependendo da organização estrutural atingida pelas moléculas, o metabolismo pode ser dirigido no sentido de síntese (anabolismo) ou de degradação (catabolismo). Durante o metabolismo degradativo, moléculas estruturalmente complexas são demolidas em entidades mais simples, ao passo que a fase anabólica se caracteriza pela formação de estruturas moleculares mais complicadas a partir dessas entidades mais simples. O anabolismo e o catabolismo ocorrem concomitantemente numa célula viva (GALLO; BASSO, 2012). A Bioquímica é o estudo da vida no seu nível molecular. O significado desse estudo é bastante aprimorado se estiver relacionado com a Biologia dos organismos correspondentes ou mesmo de comunidades de tais organismos (VOET; VOET, 2013). A Bioquímica pretende estudar como os conjuntos de moléculas inanimadas (sem vida), que formam os seres vivos, interagem entre si para manter e perpetuar a vida, ou seja, estudar as biomoléculas. O conjunto de princípios que regem essa organização é chamado lógica molecular da vida (DA POIAN; FOGUEL, 2009). Motta (2011) é bem didático para nos explicarmos a Bioquímica: A Bioquímica estuda as estruturas moleculares, os mecanismos e os processos químicos responsáveis pela vida. Os organismos vivos continuamente efetuam atividades funcionais que permitem a sua sobrevivência, crescimento e reprodução. Para realizar as suas funções, os seres vivos dependem da capacidade de obter, transformar, armazenar e utilizar energia. Sem energia eles perdem a vitalidade e morrem. A maioria dos constituintes moleculares apresentam formas tridimensionais que executam milhões de reações químicas entre si para manter e perpetuar a vida. Em Bioquímica, a estrutura, a organização e as atividades potenciais dessas moléculas são examinadas na tentativa de elucidar que aspectos promovem as indispensáveis contribuições à manutenção da vida. Gallo e Basso (2012) advertem que a Bioquímica, embora uma ciência recente, não pode ser considerada uma extensão da Química Orgânica, reduzindo- Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 7 se à uma coleção dos compostos orgânicos encontrados na célula e suas propriedades. Atualmente, assentada em seus próprios princípios, fundamentados na Lógica molecular da vida, a Bioquímica é a ciência que tem por objetivo estudar, no seu maior grau de intimidade, ou seja, ao nível molecular, a natureza dos diversos processos biológicos (respiração, crescimento, transmissão da hereditariedade, fotossíntese, entre outros) que ocorrem nos organismos vivos, quer animais ou vegetal, superiores ou inferiores. Apesar da grande diversidade dos processos bioquímicos que envolvem a integração funcional de milhões de moléculas para manter e perpetuar a vida, a ordem biológica é conservada pelos seguintes processos: 1) síntese de biomoléculas; 2) transporte de íons e moléculas através das membranas; 3) produção de energia e movimento; e, 4) remoção de produtos metabólicos de excreção e substâncias tóxicas. Os processos dos seres vivos consistem de reações químicas catalisadas por enzimas. As reações celulares, conhecidas coletivamente como metabolismo, resultam de atividades altamente coordenadas. Os tipos mais comuns de reações encontradas nos processos bioquímicos são: 1) substituição nucleófila; 2) eliminação; 3) adição; 4) isomerização; e 5) oxidação e redução. 1.2 Áreas de atuação do profissional Bioquímico Sendo a Bioquímica uma área que estuda as estruturas moleculares, os mecanismos e os processos químicos responsáveis pela vida, o profissional da área, em linhas gerais, é responsável por pesquisar os processos químicos e biológicos que ocorrem para a manutenção da vida e aplicar este conhecimento em áreas como as de Saúde, Meio Ambiente, Agronegócio e Bioenergia. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusivefotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 8 Além de pesquisa, ele(a) pode trabalhar em órgãos governamentais como o Inmetro ou em empresas de biotecnologia. Por exemplo, ele pode estudar os processos fermentativos de produção de queijos e vinhos. Também podemos incluir análises clínicas, toxicológicas, de alimentos, usar a tecnologia para entender temas como melhoramento genético, biologia molecular, células tronco, alimentos transgênicos, inseminação in vitro, entre outros. Segundo o Guia do Estudante (2013) e outras fontes de consulta, o campo de atuação é amplo: pesquisa, desenvolvimento, produção e controle de qualidade de novos produtos, como vacinas, medicamentos, cosméticos, alimentos, biocombustíveis e produtos veterinários e agrícolas, entre outros. Figura 1: Bioquímica. Fonte: https://i0.wp.com/www.laboratoriosensus.com.br 1.3 Regras gerais de segurança em laboratórios Faz parte da rotina daqueles profissionais que lidam com pesquisas em laboratórios conhecer as regras de segurança para si, para os colegas e também para evitar desperdícios e racionalizar o uso de reagente, instrumentos e equipamentos que geralmente são bem “caros”. Os laboratórios são locais de trabalho um tanto perigosos e essas medidas de segurança são realmente necessárias. Apesar de nosso foco ser a Bioquímica em sua essência, ou seja, os processos químicos que ocorrem nos organismos vivos, achamos pertinente Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 9 relembrar algumas dessas regras ou protocolos que devem ser seguidos com atenção, calma, concentração e responsabilidade. Fazem parte dos hábitos individuais: a) vestuário apropriado, o que inclui avental, luvas, óculos de proteção e sapato fechado, entre outros; b) lavar as mãos ao chegar e ao sair; c) certificar-se da localização do chuveiro de emergência, lava-olhos, e suas operacionalizações; conhecer a localização e os tipos de extintores de incêndio no laboratório e conhecer a localização das saídas de emergências. Fazem parte de manuseios diversos: a) Atitudes com bicos de gás – fechar completamente a válvula de regulagem de altura de chama; abrir o registro do bloqueador da linha de alimentação; providenciar uma chama piloto e aproximar do bico de gás; abrir lentamente a válvula de regulagem de altura da chama até que o bico de gás ascenda e regular a chama. b) Manuseio de gases – armazenar em locais bem ventilados, secos e resistentes ao fogo. Proteger os cilindros do calor e da irradiação direta. Manter os cilindros presos à parede de modo a não caírem. Separar e sinalizar os recipientes cheios e vazios. Utilizar sempre válvula reguladora de pressão. Manter válvula fechada após o uso. Limpar imediatamente equipamentos e acessórios após o uso de gases corrosivos. Somente transportar cilindros com capacete (tampa de proteção da válvula) e em veículo apropriado. Não utilizar óleos e graxas na válvulas de gases oxidantes. Manipular gases tóxicos e corrosivos dentro de capelas. Utilizar os gases até uma pressão mínima de 2 bar, para evitar a entrada de substâncias estranhas. Os agentes químicos manuseados em laboratórios podem agredir o organismo humano por três vias: a) por inalação – constitui a principal via de intoxicação. A absorção de gases, vapores, poeiras e aerossóis pelos pulmões e a sua distribuição pelo sangue, que os leva às diversas partes do corpo, é extremamente facilitada pela elevada superfície dos alvéolos pulmonares. A equivocada cultura de que “laboratórios têm Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 10 naturalmente odor de produtos químicos”, com frequência leva a atitudes negligentes, provocando efeitos crônicos à saúde, com danos muitas vezes permanentes ou irreversíveis; b) por absorção cutânea – a pele e a gordura protetora são barreiras bastante efetivas, sendo poucas as substâncias que podem ser absorvidas em quantidades perigosas. Os efeitos mais comuns da ação de substâncias químicas sobre a pele são as irritações superficiais e sensibilizações decorrentes da combinação do contaminante com as proteínas. Como decorrência desses fatos, o agente químico pode penetrar pela pele, atingindo a corrente sanguínea. Neste sentido, é necessário especial cuidado quando houver danos à integridade da pele – feridas expostas devem ser devidamente protegidas; c) por ingestão – pode ocorrer de forma acidental ou ao ingerir partículas que estejam retidas no trato respiratório, resultantes da inalação de pós ou fumos. Os riscos de ingestão por contaminação das mãos e alimentos serão inexistentes se houver a devida atenção e higiene no trabalho. São riscos relacionados com produtos químicos: Dicas para os ácidos: � ácido sulfúrico – derramado sobre o chão ou bancada pode ser rapidamente neutralizado com carbonato ou bicarbonato de sódio em pó; � ácido clorídrico – derramado será neutralizado com amônia, que produz cloreto de amônio, em forma de névoa branca; � ácido nítrico – reage violentamente com álcool. Compostos tóxicos: Um grande número de compostos orgânicos e inorgânicos são tóxicos, por isso devem ser manipulados com cuidado, evitando a inalação ou contato direto. Muitos produtos que eram manipulados pelos químicos, sem receio, hoje são considerados nocivos à saúde e não há dúvidas de que a lista de produtos tóxicos deva aumentar. A relação abaixo compreende alguns produtos tóxicos de uso comum em laboratório: a) Compostos altamente tóxicos (aqueles que podem provocar, rapidamente, graves lesões ou até mesmo a morte): os compostos arsênicos – cianetos inorgânicos – compostos de mercúrio – ácidos oxálico e seus sais – selênio Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 11 e seus complexos – pentóxido de vanádio – monóxido de carbono – cloro, flúor, bromo, iodo líquidos. b) Compostos tóxicos e irritantes aos olhos e sistema respiratório: cloreto de acetila – bromo – alquil e arilnitrilas – bromometano – bemzeno – dissulfito de carbono – brometo e cloreto de benzila – sulfato de metila – ácido fluorbórico – sulfato de dietila – cloridrina etilênica – acroleina. c) Compostos potencialmente nocivos por exposição prolongada: c.1) brometos e cloretos de alquila – bromometano, bromofórmio, tetracloreto de carbono, diclorometano, iodometano; c.2) aminas alifáticas e aromáticas – anilinas substituídas ou não dimetilamina, trietilamina, diisopropilamina; c.3) fenóis e composto aromáticos nitrados – fenóis substituídos ou não cresóis, catecol, resorcinol, nitrobenzeno, nitrotolueno. Temos ainda muitos compostos que causam tumores cancerosos no ser humano, para os quais deve-se ter todo o cuidado no seu manuseio, evitando-se a todo custo a inalação de vapores e o contato com a pele. Devem ser manipulados exclusivamente em capelas e com uso de luvas protetoras. Entre os grupos de compostoscomuns em laboratório incluem: a) Aminas aromáticas e seus derivados: anilinas N-substituídas ou não. naftilaminas, benzidinas, 2-naftilamina e azoderivados. b) Compostos N-nitroso, nitrosoaminas (R’-N(NO)-R) e nitrozoamidas. c) Agentes alquilantes: diazometano, sulfato de dimetila, iodeto de metila, propiolactona, óxido de etileno. d) Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos: benzopireno, dibenzoantraceno. e) Compostos que contém enxofre: tiocetamida, tiouréia. f) Benzeno: é um composto carcinogênico cuja concentração mínima tolerável é inferior àquela normalmente percebida pelo olfato humano. Se você sente cheiro de benzeno é porque a sua concentração no ambiente é superior ao mínimo tolerável. Evite usá-lo como solvente e sempre que possível o substitua por outro solvente semelhante e menos tóxico (por exemplo: tolueno). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 12 g) Amianto: a inalação por via respiratória de amianto pode conduzir a uma doença de pulmão, asbetose que em estágios mais adiantados geralmente se transforma em câncer dos pulmões. O descarte dos produtos químicos também tem sua importância, o qual deve ser realizado de acordo com as normas do seu laboratório, geralmente usando frascos específicos e nunca a pia. É bom lembrar que os laboratórios das áreas Biológica e Química são locais onde podem ser encontrados tanto contaminantes de origem biológica quanto química e materiais inflamáveis e/ou tóxicos são manuseados, entre outros. Esta característica requer uma atenção especial e um comportamento adequado para reduzir ao mínimo o risco de acidentes. Portanto, a observância das normas de segurança pessoal são importantes para a integridade física das pessoas que atuam de forma permanente ou eventual. Constantemente devem ser feitas avaliações de riscos e tomadas de medidas de controle que, rigidamente observadas, propiciam condições de trabalho em níveis de segurança adequados (UFPB, 2008; VAL; NASCENTES; MACHADO, 2008, UFBA, 2009; GONÇALVES, 2014). Para além da segurança, devemos lembrar dos danos, que são nada mais do que consequências da concretização do risco. Eles podem ser: a) Danos físicos – morte ou incapacitação para o trabalho. b) Danos à saúde do indivíduo exposto: b.1) efeitos agudos – exposição a altas concentrações de uma substância química tóxica por curtos períodos de tempo; b.2) efeitos crônicos – exposição a baixas concentrações por longos períodos de tempo. O efeito muitas vezes é sutil e há dificuldade de se estabelecer a causa e de se realizar uma associação com algum produto químico. c) Danos à saúde e integridade das gerações futuras (descendentes dos indivíduos expostos): c.1) efeitos mutagênicos – ocorrem alterações do DNA, células somáticas ou reprodutivas; c.2) efeitos teratogênicos – ocorre má formação do feto no seu período de gestação; Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 13 c.3) efeitos sobre o poder reprodutivo – redução da fertilidade de homens e mulheres (VAL; NASCENTES; MACHADO, 2008). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 14 UNIDADE 2 – OS FUNDAMENTOS DA BIOQUÍMICA No dicionário Aurélio (FERREIRA, 2005) encontramos que fundamento é base, alicerce, [...] razões ou argumentos em que se funda uma tese, concepção, ponto de vista, etc.; apoio, base; razão, justificativa; motivo e ainda, conjunto dos princípios básicos de um ramo de conhecimento, de uma técnica, de uma atividade, etc. A Bioquímica questiona como as extraordinárias propriedades dos organismos vivos se originaram a partir de milhares de biomoléculas diferentes. Quando essas moléculas são isoladas e examinadas individualmente, elas seguem todas as leis físicas e químicas que descrevem o comportamento da matéria inanimada. Todos os processos que ocorrem nos organismos vivos também seguem todas as leis físicas e químicas. Portanto, o estudo da Bioquímica mostra como o conjunto de moléculas inanimadas que constituem os organismos vivos interage para manter e perpetuar a vida exclusivamente pelas leis físicas e químicas que regem o universo inanimado (NELSON; COX, 2014). Seus fundamentos relacionam-se intimamente com as células, a Química, a Física, a Genética e com os processos evolutivos, afinal de contas, temos uma série de características ou propriedades extraordinárias que distinguem os organismos vivos, entre elas: i. Alto grau de complexidade química e organização microscópica: milhares de moléculas diferentes formam as intricadas estruturas celulares internas. Elas incluem polímeros muito longos, cada qual com sua sequência característica de subunidades, sua estrutura tridimensional única e seletividade muito específica de parceiros para interação na célula. ii. Sistemas para extrair, transformar e utilizar a energia do ambiente que permitem aos organismos construir e manter suas intricadas estruturas, assim como realizar trabalhos mecânico, químico, osmótico e elétrico, o que neutraliza a tendência de toda a matéria de decair para um estado mais desorganizado, entrando assim em equilíbrio com seu ambiente. iii. Funções definidas para cada um dos componentes de um organismo e interações reguladas entre eles. Isso é válido não somente para as estruturas macroscópicas, como folhas e ramos ou corações e pulmões, mas também Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 15 para as estruturas intracelulares microscópicas e os compostos químicos individuais. A interação entre os componentes químicos de um organismo vivo é dinâmica; mudanças em um componente causam mudanças coordenadas ou compensatórias em outro, com o todo manifestando uma característica além daquelas de suas partes individuais. O conjunto de moléculas realiza um programa, cujo resultado final é a reprodução e a autopreservação do conjunto de moléculas – em resumo, a vida. iv. Mecanismos para sentir e responder às alterações no seu ambiente. Os organismos constantemente se ajustam a essas mudanças por adaptações de sua química interna ou de sua localização no ambiente. v. Capacidade para se autorreplicar e auto montar com precisão. Uma célula bacteriana isolada disposta em meio nutritivo estéril pode dar origem, em 24 horas, a um bilhão de “filhas” idênticas. Cada célula contém milhares de moléculas diferentes, muitas extremamente complexas; mas cada bactéria é uma cópia fiel da original, sendo sua construção totalmente direcionada a partir da informação contida no material genético da célula original. Em uma escala maior, a prole de um animal vertebrado mostra uma semelhança marcante com a dos seus pais, também como consequência daherança dos genes parentais. vi. Capacidade de se alterar ao longo do tempo por evolução gradual. Os organismos alteram suas estratégias de vida herdadas, a passos muito pequenos, para sobreviver em circunstâncias novas. O resultado de eras de evolução é uma enorme diversidade de formas de vida, muito diferentes superficialmente, mas fundamentalmente relacionadas por sua ancestralidade comum. Essa unidade fundamental dos organismos vivos se reflete na semelhança das sequências gênicas e nas estruturas das proteínas. 2.1 Fundamentos celulares A unidade e a diversidade dos organismos se tornam aparentes mesmo em nível celular, os menores organismos consistem em células isoladas e são microscópicos. Os organismos multicelulares maiores têm muitos tipos celulares diferentes, os quais variam em tamanho, forma e função especializada. Apesar Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 16 dessas diferenças óbvias, todas as células dos organismos, desde o mais simples ao mais complexo, compartilham determinadas propriedades fundamentais, que podem ser vistas em nível bioquímico. Guarde... � Todas as células são delimitadas por uma membrana plasmática; têm um citosol contendo metabólitos, coenzimas, íons inorgânicos e enzimas; e têm um conjunto de genes contidos dentro de um nucleoide (bactérias e arqueias) ou de um núcleo (eucariotos). � Todos os organismos requerem uma fonte de energia para realizar o trabalho celular. Os fototróficos obtêm energia da luz solar; os quimiotróficos oxidam combustíveis químicos, transferindo elétrons para bons aceptores: compostos inorgânicos, compostos orgânicos ou oxigênio molecular. � As células de bactérias e de arqueias contêm citosol, nucleoide e plasmídeos, todos contidos dentro de um envelope celular. As células eucarióticas têm núcleo e são multicompartimentalizadas, com determinados processos segregados em organelas específicas; as organelas podem ser separadas e estudadas isoladamente. � As proteínas do citoesqueleto se organizam em longos filamentos que dão forma e rigidez às células e servem como trilhos ao longo dos quais as organelas celulares se deslocam por toda a célula. � Complexos supramoleculares unidos por interações não covalentes são parte de uma hierarquia de estruturas, algumas delas visíveis ao microscópio óptico. Quando moléculas individuais são removidas desses complexos para serem estudadas in vitro, algumas interações, importantes na célula viva, podem ser perdidas. 2.2 Fundamentos químicos No final do século XVIII, os químicos concluíram que a composição da matéria viva é impressionantemente diferente daquela do mundo inanimado. Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794) percebeu a relativa simplicidade do “mundo mineral” e contrastou-a com a complexidade dos “mundos animal e vegetal”. Ele Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 17 sabia que esses últimos eram constituídos de compostos ricos nos elementos carbono, oxigênio, nitrogênio e fósforo. Durante a primeira metade do século XX, investigações bioquímicas conduzidas em paralelo sobre a oxidação da glicose em leveduras e células de músculo animal revelaram semelhanças químicas marcantes nesses dois tipos celulares aparentemente muito distintos, indicando que a queima da glicose em leveduras e células musculares envolve os mesmos 10 intermediários químicos e as mesmas 10 enzimas. Estudos subsequentes de muitos outros processos químicos em diferentes organismos confirmaram a generalidade dessa observação, resumida em 1954, por Jacques Monod: “O que vale para a E. coli também vale para um elefante”. A atual compreensão de que todos os organismos têm uma origem evolutiva comum baseia-se, em parte, nessa observação de que todos compartilhem dos mesmos processos e intermediários químicos, o que muitas vezes é denominado de Unidade Bioquímica. Menos de 30 entre os mais de 90 elementos químicos de ocorrência natural são essenciais para os organismos. A maioria dos elementos da matéria viva tem um número atômico relativamente baixo; somente três têm números atômicos maiores do que o selênio, 34. Os quatro elementos químicos mais abundantes nos organismos vivos, em termos de porcentagem do total de número de átomos, são hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e carbono, que juntos constituem mais de 99% da massa das células. Eles são os elementos mais leves capazes de formar de maneira eficiente uma, duas, três e quatro ligações; em geral, os elementos mais leves formam ligações mais fortes. Os elementos-traço representam uma fração minúscula do peso do corpo humano, mas todos são essenciais à vida, geralmente por serem essenciais para a função de proteínas específicas, incluindo muitas enzimas. A capacidade de transporte de oxigênio da hemoglobina, por exemplo, é totalmente dependente de quatro íons ferro, que somados representam somente 0,3% da massa total. A química dos organismos vivos está organizada em torno do carbono, que contribui com mais da metade do peso seco das células. O carbono pode formar ligações simples com átomos de hidrogênio, assim como ligações simples e duplas com átomos de oxigênio e nitrogênio. A capacidade dos átomos de carbono de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 18 formar ligações simples estáveis com até quatro outros átomos de carbono é de grande importância na Biologia. Dois átomos de carbono também podem compartilhar dois (ou três) pares de elétrons, formando assim ligações duplas (ou triplas). A versatilidade do carbono em formar ligações Obs.: O carbono pode formar ligações covalentes simples, duplas e triplas (indicadas em vermelho), particularmente com outros átomos de carbono, ligações triplas são raras em biomoléculas. Figura 1: A versatilidade do carbono em formar ligações. Fonte: Nelson; Cox (2014, p. 12). As quatro ligações simples que podem ser formadas pelo átomo de carbono se projetam a partir do núcleo formando os quatro vértices de um tetraedro (Figura 2), com ângulo de aproximadamente 109,5° entre duas ligações quaisquer e comprimento médio de ligação de 0,154 nm. A rotação é livre em torno de cada ligação simples, a menos que grupos muito grandes ou altamente carregados estejam ligados aos átomos de carbono. Nesse caso, a rotação pode ser limitada. Já a ligação dupla é mais curta (cerca de 0,134 nm) e rígida, permitindo somente uma rotação limitada em torno do seu eixo. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 a) Os átomos de carbono têm um arranjo tetraédrico bem característico para suas quatro ligações simples. b) A ligação simples carbono-carbono temliberdade de rotação, como mostrado para o composto etano (CH3 - CH3). c) Ligações duplas são mais curtas e não permitem rotação. Os dois carbonos ligados por ligação dupla e os átomos designados por A, B, X e Y estão todos no mesmo plano rígido. Figura 2: Geometria da ligação do carbono. Fonte: Nelson; Cox (2014, p. 13). Átomos de carbono covalentemente ligados em biomoléculas podem formar cadeias lineares, ramificadas e estruturas cíclicas. Aparentemente, a versatilidade de ligação do carbono com outro carbono e com outros elementos foi o principal fator na seleção dos compostos de carbono para a maquinaria molecular das células durante a origem e a evolução dos organismos vivos. Nenhum outro elemento químico consegue formar moléculas com tanta diversidade de tamanhos, formas e composição. A maioria das biomoléculas deriva dos hidrocarbonetos, tendo átomos de hidrogênio substituídos por uma grande variedade de grupos funcionais que conferem propriedades químicas específicas à molécula, formando diversas famílias de compostos orgânicos. Exemplos típicos dessas biomoléculas são os álcoois, que têm um ou mais grupos hidroxila; aminas, com grupos amina; aldeídos e cetonas, com grupos carbonila; e ácidos carboxílicos, com grupos carboxila. Muitas biomoléculas são polifuncionais, contendo dois ou mais tipos de grupos funcionais (Figura 3), cada qual com suas características químicas e de reação. A “personalidade” química de um composto é determinada pela química de seu grupo funcional e pela sua disposição no espaço tridimensional. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 20 Alguns grupos funcionais comuns em biomoléculas Obs.: Os grupos funcionais estão pintados com uma cor usada para o elemento que caracteriza aquele grupo: cinza para C, cor salmão para O, azul para N, amarelo para S e cor de laranja para P. Figura 3: Alguns grupos funcionais comuns em biomoléculas. Fonte: Nelson; Cox (2014, p. 13). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 21 Guarde... � Devido a sua versatilidade de ligação, o carbono pode produzir amplas coleções de estruturas carbono-carbono com uma grande variedade de grupos funcionais; esses grupos conferem às biomoléculas as suas propriedades químicas e biológicas. � Um conjunto universal de aproximadamente mil moléculas pequenas é encontrado em células vivas; a interconversão dessas moléculas nas rotas metabólicas centrais se conservou ao longo da evolução. � Proteínas e ácidos nucleicos são polímeros lineares feitos de subunidades monoméricas simples; suas sequências contêm as informações que fornecem a cada molécula sua estrutura tridimensional e suas funções biológicas. � A configuração molecular pode ser alterada somente mediante quebra de ligações covalentes. Para um átomo de carbono com quatro substituintes diferentes (carbono quiral), os grupos substituintes podem ser arranjados em duas diferentes formas, gerando estereoisômeros com propriedades distintas. Somente um dos estereoisômeros é biologicamente ativo. A conformação molecular é a disposição dos átomos no espaço que pode ser mudada por rotação em torno de ligações simples, sem quebrar ligações covalentes. � Interações entre moléculas biológicas são quase invariavelmente estéreo específicas: elas requerem um ajuste próximo entre as estruturas complementares das moléculas interagentes. 2.3 Fundamentos físicos Células e organismos vivos precisam realizar trabalho para se manterem vivos e se reproduzir. As reações de síntese que ocorrem dentro das células, como processos de síntese em uma fábrica, exigem o consumo de energia. O consumo de energia também é necessário para o movimento de uma bactéria, de um velocista olímpico, para o brilho de um vaga-lume ou para a descarga elétrica de um peixe elétrico. O armazenamento e a expressão de informação requerem energia, sem a qual estruturas ricas em informação inevitavelmente se tornam desordenadas e sem sentido. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 22 No curso da evolução, as células desenvolveram mecanismos altamente eficientes para aproveitar a energia, obtida da luz solar ou de combustíveis químicos nos vários processos que requerem energia para ser realizados. Assim, um dos objetivos da Bioquímica é compreender, em termos químicos e quantitativos, os meios pelos quais a energia é extraída, armazenada e canalizada para trabalho útil nas células vivas. As conversões de energia celular – como todas as outras conversões de energia – podem ser estudadas no contexto das leis da termodinâmica. Na figura 4 veremos alguns dos sofisticados processos conversores de energia da célula, que são capazes de interconverter energia química, eletromagnética, mecânica e osmótica entre si com alta eficiência. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 23 Algumas interconversões de energia em organismos vivos Figura 4: Algumas interconversões de energia em organismos vivos. Fonte: Nelson; Cox (2014, p. 21). À medida que a energia metabólica é gasta para realizar o trabalho celular, o grau de desordem do sistema “mais” o do meio externo (expresso quantitativamente como entropia), cresce à medida que a energia potencial das moléculas nutrientes complexas decresce: a) organismos vivos extraem energia do seu meio; b) convertem parte dela em formas de energia utilizáveis para produzir trabalho; Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 24 c) devolvem parte da energia ao meio na forma de calor; e, d) liberam, como produto final, moléculas que são menos organizadas do que o combustível de partida, aumentando a entropia do universo. Um efeito de todas essas transformações é o aumento da ordem (aleatoriedade diminuída) do sistema na forma de macromoléculas complexas. Guarde... � Células vivas são sistemas abertos, que trocam matéria e energia com o meio externo, extraindo e canalizando energia para manter-se no estado estacionário dinâmico longe do equilíbrio. Energia é obtida do sol ou de combustíveis químicos pela conversão da energia do fluxo de elétrons em ligações químicas no ATP. � A tendência de uma reação química em prosseguir em direção ao equilíbrio pode ser expressa como função da energia livre, ∆G, que tem dois componentes: a variação da entalpia, ∆H, e avariação da entropia, ∆S. Essas variáveis estão relacionadas pela equação ∆G = ∆H – T ∆S. � Quando o ∆G de uma reação é negativo, a reação é exergônica e tende a caminhar para sua conclusão; quando ∆G é positivo, a reação é endergônica e tende a ir à direção oposta. Quando duas reações podem ser somadas para produzir uma terceira, o ∆G da reação global é a soma dos ∆G das duas reações separadas. � As reações que convertem ATP em P1 e ADP ou em AMP e PP1 são altamente exergônicas (∆G negativo e grande em módulo). Muitas reações celulares endergônicas são propulsionadas pelo seu acoplamento, mediante um intermediário comum, àquelas reações altamente exergônicas. � A variação da energia livre padrão, ∆G°, é uma constante física relacionada à constante de equilíbrio pela equação: ∆G° = RT In Keq. � Muitas reações celulares ocorrem a velocidades apropriadas somente porque as enzimas estão presentes para catalisá-las. As enzimas atuam em parte pela estabilização do estado de transição, reduzindo a energia de ativação, DG‡, e aumentando a velocidade de reação em várias ordens de grandeza. A atividade catalítica das enzimas nas células é regulada. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 25 � Metabolismo é a soma de muitas sequências de reações interconectadas que interconvertem metabólitos celulares. Cada sequência é regulada para suprir o que a célula precisa em um dado momento e para gastar energia somente quando necessário. 2.4 Fundamentos genéticos Talvez a propriedade mais marcante dos organismos e das células vivas seja sua capacidade de se reproduzir por incontáveis gerações com fidelidade quase perfeita. Essa continuidade de traços herdados sugere constância, ao longo de milhões de anos, na estrutura das moléculas que contêm a informação genética. Poucos registros históricos de civilizações sobreviveram por mil anos mesmo quando riscados em superfícies de cobre ou talhados em pedra. Contudo, existem boas evidências de que as instruções genéticas permaneceram praticamente intactas nos organismos vivos por períodos muito maiores; muitas bactérias têm praticamente o mesmo tamanho, forma e estrutura interna, apresentando também o mesmo tipo de moléculas precursoras e enzimas das bactérias que viveram cerca de quatro bilhões de anos atrás. Essa continuidade da estrutura e da composição é o resultado da continuidade da estrutura do material genético. Entre as descobertas mais notáveis da Biologia no século XX está a natureza química e a estrutura tridimensional do material genético, ácido desoxirribonucleico, DNA. A sequência de subunidades monoméricas, os nucleotídeos, neste polímero linear codifica as instruções para formar todos os outros componentes celulares e fornece o molde para a produção de moléculas de DNA idênticas a serem distribuídas aos descendentes por ocasião da divisão celular. A perpetuação de uma espécie biológica requer que sua informação genética seja mantida de modo estável, expressa com exatidão na forma de produtos dos genes e reproduzida com o mínimo de erros. O armazenamento, a expressão e a reprodução efetivos da mensagem genética definem espécies individuais, distinguem umas das outras e asseguram a sua continuidade em sucessivas gerações. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 26 Guarde... � A informação genética é codificada na sequência linear de quatro tipos de desoxirribonucleotídeos no DNA. � A dupla-hélice da molécula de DNA contém um molde interno para sua própria replicação e reparo. � Moléculas de DNA são extremamente grandes, com massas moleculares de milhões ou bilhões. � Apesar do tamanho enorme do DNA, a sequência de nucleotídeos nela é muito precisa, e a manutenção dessa precisão no decorrer de períodos bem longos de tempo é a base da continuidade genética dos organismos. � A sequência linear de aminoácidos em uma proteína, que está codificada no DNA do gene dessa proteína, produz a estrutura tridimensional específica da proteína – processo que também depende das condições ambientais. � Macromoléculas individuais com afinidade específica por outras macromoléculas têm a capacidade de auto-organizar-se em complexos supramoleculares. 2.5 Fundamentos evolutivos O grande progresso na Bioquímica e na Biologia molecular nas últimas décadas confirmou a validade da contundente generalização de Dobzhansky3. A notável semelhança das rotas metabólicas e das sequências de genes entre os três grupos da vida sugere fortemente que todos os organismos modernos derivaram de um ancestral evolutivo comum por meio de uma série de pequenas mudanças (mutações), cada uma conferindo uma vantagem seletiva a algum organismo em algum nicho ecológico. 3 Theodosius Dobzhansky (1900-1975), geneticista e biólogo evolutivo ucraniano-estadunidense. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 27 Marcos da evolução da vida na Terra Figura 5: Marcos da evolução da vida na Terra. Fonte: Nelson; Cox (2014, p.36). A partir de 1,5 bilhão de anos atrás, os registros fósseis começaram a mostrar evidências de organismos maiores e mais complexos, provavelmente as primeiras células eucarióticas, conforme a Figura 5. Detalhes do caminho evolutivo de células não nucleadas para células nucleadas não podem ser deduzidos somente pelo registro fóssil, mas as semelhanças bioquímicas e morfológicas dos organismos modernos sugerem uma sequência de eventos consistente com a evidência fóssil. Guarde... � Ocasionalmente, mutações herdadas geram organismos mais bem adaptados para sobreviver e, com a reprodução em um dado nicho ecológico, os seus descendentes passam a predominar na população desse nicho. Esse Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 28 processo de mutação e seleção é a base da evolução darwiniana que vai da primeira célula a todos os organismos modernos. O grande número de genes compartilhados por todos os seres vivos explica suas semelhanças fundamentais. � A vida surgiu há cerca de 3,5 bilhões de anos, mais provavelmente com a formação de um compartimento fechado por membrana contendo uma molécula de RNA autorreplicante. Os componentes das primeiras células podem ter sido produzidos perto de fontes termais no leito dos oceanos ou pela ação de raios e relâmpagos e altas temperaturas sobre moléculas atmosféricas simples, como CO2 e NH3. � Os papéis catalíticos e genéticos exercidos pelos primeiros genomas de RNA foram ao longo do tempo sendo realizados por proteínas e DNA, respectivamente. � Células eucarióticas adquiriram a capacidade de promovera fotossíntese e a fosforilação oxidativa a partir de bactérias endossimbióticas. Em organismos multicelulares, alguns tipos de células diferenciadas se especializaram em uma ou mais funções essenciais para a sobrevivência do organismo. � O conhecimento das sequências completas de nucleotídeos dos genomas de organismos de diferentes ramos da árvore filogenética fornece compreensões mais profundas da evolução e oferece também grandes oportunidades para a medicina humana (NELSON; COX, 2014). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 29 UNIDADE 3 – O USO DOS DADOS BIOQUÍMICOS NA CLÍNICA A função central do laboratório de patologia clínica ou de química clínica é fornecer informações bioquímicas para a definição da conduta com o paciente. Essa informação terá valor somente se for exata e relevante; se sua significância ficar evidente para o clínico, ela poderá ser utilizada para guiar as decisões clínicas (MARSHALL, BANGERT; LAPSLAY, 2013). Análises bioquímicas são extensivamente utilizadas na medicina, tanto em relação a doenças que têm base metabólica (exemplos: diabetes melito, hipotireoidismo) como naquelas em que alterações bioquímicas são consequência da doença (exemplo: falência renal, má absorção). Os usos principais da investigação bioquímica são para diagnóstico, prognóstico, monitoramento e rastreamento, conforme mostra a Figura 6 abaixo. Principais funções dos testes bioquímicos Figura 6: Principais funções dos testes bioquímicos. Fonte: Nelson; Cox (2014). Essas funções são um passo para chegarmos ao que realmente interessa nesta unidade: o controle de qualidade em um laboratório de análises clínicas que nos leva a fazer um gancho com a Medicina e a Bioquímica Clínica baseada em evidências. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 30 A Medicina baseada em evidências significa o uso de melhores dados disponíveis a partir de abalizados estudos clínicos sobre o acompanhamento de pacientes contemplando diagnóstico, prognóstico e tratamento. Isso levou à instituição da Bioquímica Clínica baseada em evidências (e Medicina Laboratorial baseada em evidências em geral). Nesse conceito, por exemplo, a relação entre os estudos e os resultados clínicos é rigorosamente analisada, com a utilização de instrumentos, como as razões de probabilidade para determinar quais estudos são mais apropriados (em termos de validade e grau de informação) em situações clínicas individuais e com a avaliação do seu uso subsequente (BRUCE; LAPSLAY, 2016). A Bioquímica Clínica baseada em evidências está ganhando impulso. Começa com a avaliação técnica de um exame e engloba a avaliação da performance diagnóstica e da utilidade clínica. Uma de suas consequências mais importantes é o desenvolvimento de orientações para o estudo de pacientes com doenças específicas. Contudo, assim como há uma contínua vigilância clínica de medicamentos introduzidos no mercado (o que resulta, em alguns casos, na sua retirada posteriormente ou na alteração de suas licenças), o impacto das diretrizes e de outros produtos da Medicina Laboratorial baseada em evidências deve ser revisado. Isso para assegurar que são apropriadas e efetivas ao longo tempo. O processo da auditoria clínica – definindo padrões, examinando processos de acordo com esses padrões, identificando deficiências, modificando os processos para adequá-los e repetindo o ciclo para verificar melhorias na performance – é fundamental nesse caso (BRUCE; LAPSLAY, 2016). 3.1 Diagnóstico O diagnóstico médico é baseado no histórico do paciente, se disponível, sinais clínicos achados no exame, resultados da investigação e, algumas vezes, retrospectivamente, resposta ao tratamento. Frequentemente, um diagnóstico confiável pode ser feito com base em um histórico combinado com os achados do exame. Falhando estes, é usualmente formulado um diagnóstico diferencial, de fato uma lista curta de possíveis diagnósticos. As análises bioquímicas, e outras Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 31 investigações, podem ser utilizadas para a distinção entre esses possíveis diagnósticos. As análises podem ser utilizadas para auxiliar na confirmação ou rejeição de um diagnóstico, e é importante que o clínico valorize o quão útil são os exames escolhidos para suas finalidades. Fazer um diagnóstico, mesmo que incompleto, como o diagnóstico de hipoglicemia, sem saber a sua causa, pode permitir que o tratamento seja iniciado. 3.2 Prognóstico As investigações usadas primariamente para o diagnóstico podem também prover informações prognósticas, enquanto outras são usadas especificamente para essa finalidade. Por exemplo, medidas seriadas da concentração de creatinina plasmática na doença renal progressiva são utilizadas para indicar quando a diálise pode ser necessária. As análises podem também indicar o risco de desenvolvimento de uma condição particular. Por exemplo, o risco de doenças das artérias coronárias aumenta com o aumento da concentração plasmática de colesterol. No entanto, esses riscos são calculados a partir de dados epidemiológicos e podem não fornecer predição exala para um indivíduo em particular. 3.3 Monitoramento Geralmente, as análises Bioquímicas se dão durante o acompanhamento da evolução de uma doença e para monitorar os efeitos do tratamento. Para isso, precisa haver uma substância analisável (analito) adequada, como a hemoglobina glicosilada em pacientes com diabete melito. As análises Bioquímicas também podem ser utilizadas para detectar complicações decorrentes do tratamento, como hipocalemia durante o tratamento com diuréticos, e são extensivamente utilizadas para rastrear possíveis toxicidades medicamentosas, particularmente em ensaios clínicos, mas também em alguns casos quando o medicamento já é de uso aprovado. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 32 3.4 Rastreamento Análises bioquímicas são amplamente utilizadas para determinar a presença subclínica de uma condição. O exemplo mais conhecido é o rastreamento em massa da fenilcetonúria (PKU) em recém nascidos, hipotireoidismo congênito e algumas outras condições que ocorrem em muitos países, incluindo o Reino Unido e os Estados Unidos, Esses são exemplos de rastreamento populacional; outros tipos incluem rastreamento seletivo (por exemplo: de idosos para câncer de cólon utilizando a detecção de sangue oculto nas fezes); rastreamento individual (por exemplo: durante um check up médico); e rastreamento de oportunidade (por exemplo: para hipercolesterotemia em portadores de hipertensão) (MARSHALL, BANGERT; LAPSLAY, 2013; BRUCE;LAPSLAY, 2016). 3.5 Garantias de qualidade em análises bioquímicas O laboratório clínico deve assegurar que os resultados produzidos reflitam, de forma fidedigna e consistente, a situação clínica apresentada pelos pacientes, assegurando que não representem o resultado de alguma interferência no processo. A informação produzida deve satisfazer as necessidades de seus clientes e possibilitar a determinação e a realização correta de diagnóstico, tratamento e prognóstico das doenças (CHAVES, 2010). A melhoria contínua dos processos envolvidos deve representar o foco principal de qualquer laboratório. Para isso, procura-se oferecer, cada vez mais, os melhores produtos ou serviços para os clientes. Entretanto, para que as inovações e melhorias deem certo, torna-se imprescindível o controle desses processos, que deve ser capaz de identificar possíveis falhas que possam vir a acontecer ou as que já aconteceram. Além disso, o laboratório deverá estar preparado para agir prontamente para evitar ou minimizar as consequências e a recorrência dessas falhas. Isso tudo acaba por se traduzir em um processo chamado garantia da qualidade. Por definição, controle interno da qualidade em análises clínicas seria o estudo detalhado de: Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 33 a) todos os erros ocorridos no Laboratório, desde a preparação do paciente até a entrega do Laudo (não-conformidades), são da responsabilidade do Laboratório; b) de todos os Procedimentos Estatísticos utilizados para detectá-los e descobrir suas causas para minimizá-los (MENDONÇA, 2014). Portanto, em um laboratório de análises clínicas, a garantia da qualidade é alcançada tendo-se total e absoluto controle sobre todas as etapas do processo, o qual pode ser denominado de realizar exame, que compreende as fases pré- analítica, analítica e pós-analítica. A gestão da qualidade, por sua vez, abrange as ações utilizadas para produzir, dirigir e controlar essa qualidade, incluindo a determinação de uma política e de objetivos da qualidade, com o uso de indicadores e metas. A garantia da qualidade de todas as fases pode ser conseguida por meio da padronização de cada uma das atividades envolvidas, desde o atendimento ao paciente até a liberação do laudo. Com isso, pode-se alcançar a qualidade que se almeja e, com a gestão da qualidade, garanti-la. Todas essas atividades no laboratório devem ser documentadas por meio de procedimentos operacionais padrão (POP) ou instruções de trabalho (IT), que deverão estar sempre acessíveis aos funcionários envolvidos nas atividades (CHAVES, 2010). Bruce e Lapslay (2016) nos atentam para a questão dos erros em análises bioquímicas que pode acontecer em todas as etapas do processo, sendo essencial que as fontes de erro sejam identificadas e compreendidas, de modo que seus efeitos possam ser minimizados. As fontes de erro em exames bioquímicos são convencionalmente descritas em três categorias: � pré-analíticas – tanto fora ou dentro do laboratório, mas antes de a análise ser realizada; � analíticas – podem ser aleatórias (por exemplo: devido à existência de uma substância que interfere na amostra); � pós-analíticas – ocorrem durante o processamento ou transmissão de dados, ou com relação à interpretação dos dados. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 34 Figura 7: Sistema de garandtia da qualidade. Fonte: Sáez-Alquezar; Guimarães (2015). Os fatores pré-analíticos podem parecer estar além da competência dos bioquímicos clínicos, mas os órgãos de credenciamento estão cada vez mais esperando que os laboratórios se responsabilizem por todos os aspectos dos exames. Os laboratórios deveriam se assegurar de que os médicos que pedem estudos e a equipe responsável por coletar as amostras entendam os problemas que podem surgir, de modo que as amostras sejam coletadas e transportadas adequadamente. Os fatores analíticos estão em duas categorias: aqueles que estão relacionados com as amostras obtidas para análise (fatores técnicos) e aqueles diretamente ao paciente (fatores biológicos). É claramente essencial que todos os esforços não sejam poupados para reduzir a possibilidade de erros durante a análise. Um programa de garantia de qualidade rigoroso é requerido para assegurar a qualidade dos resultados. Os métodos e procedimentos dos exames devem ser selecionados para que se chegue a uma performance adequada. É necessário observar que a decisão por padrões de performance de análises individuais requer uma apreciação de todos os fatores envolvidos: esforços para reduzir o volume das amostras (uma consideração importante na prática pediátrica e, particularmente, neonatal) podem afetar a Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 35 precisão; o requerimento de prazos muito apertados também pode influenciar. Outros fatores importantes incluem o custo, a instrumentação e a variedade de habilidades da equipe. As diversas variáveis analíticas de um exame laboratorial devem ser muito bem controladas para assegurar que os resultados sejam precisos e exatos. Essa fase consiste na realização dos testes e na interpretação dos resultados (OPLUSTIL; ZOCCOLI; SINTO, 2004). Esses métodos antes de serem implantados na rotina laboratorial, devem ser analisados em relação a alguns critérios como a confiabilidade (precisão, exatidão, sensibilidade, especificidade e linearidade) e praticidade que envolve o tipo da amostra, duração do ensaio, metodologia, estabilidade dos reagentes, equipamentos, custos e segurança pessoal. Outras variáveis importantes dos processos analíticos também devem ser monitoradas, tais como: a qualidade da água, a limpeza da vidraria e a calibração dos dispositivos de medição (pipetas, vidraria, equipamentos) (LOPES, 2010 apud MARTELLI, 2011). Segundo Bruce e Lapslay (2016), na fase analítica, o teste selecionado deve ser capaz de mensurar a substância em questão em uma faixa inteira de concentrações que podem ocorrer, chamada “faixa analítica”. Medir grandes quantidades de uma substância costuma ser mais fácil do que medir pequenas quantidades (embora diluir a amostra possa ser necessário para levar a concentração à faixa de performance aceitável, como no caso de evitar a não linearidade do sinal para a concentração). Deve-se notar, no entanto, que se a diluição for empregada, a sua validade deve ser estabelecida por estudos apropriados para demonstrar que a diluição por si só não afeta a relação entre a concentração da substância e o sinal gerado. Nem sempre é possível elaborar uma análise que tenha um baixo limite de detecção (como nos casos do nível mínimo de substância que possa ser confiavelmente distinguida de zero, geralmente tomada como o sinal médio gerado por zero padrão mais dois desvios padrões); esse já foi um problema particular na análise de certos hormônios, pois a sua concentração no plasma pode estar em uma faixa nano ou até mesmopicomolar, mas está se tornando cada vez menor com a introdução de técnicas de análise mais sensíveis. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 36 Para algumas substâncias, a necessidade de poder medir as concentrações em faixas muito amplas pode trazer problemas; por exemplo, o efeito da alta dosagem em imunoanálises de prolactina e gonadotrofina coriônica humana. Esse termo se refere à diminuição do sinal que ocorre em altas concentrações como resultado de sítios vinculantes na captura, pois anticorpos rotulados são ocupados por moléculas separadas da substância em vez de causar uma ligação cruzada entre eles (a situação normal quando há anticorpos em excesso). Para a proteína C reativa (PCR) no sérum, o requerimento de que seja possível medir as concentrações de maneira precisa em duas faixas diferentes (PCR “de alta sensibilidade” como marcador de risco cardiovascular ou marcador de septicemia neonatal e PCR como marcador inflamatório) levou à introdução de análises separadas para cada uma das duas faixas de concentração. Dois outros pontos de extrema importância são a precisão e predisposição. A precisão reflete a habilidade de uma análise de produzir um resultado que mostre o valor verdadeiro. A imprecisão é a diferença numérica entre a média de um conjunto de medições replicadas e o valor verdadeiro. O termo “predisposição” é geralmente preferível à “imprecisão” na medicina laboratorial, visto que implica uma característica persistente em vez de um efeito ocasional. Ocorre pelo erro sistemático e pode ser positivo (o resultado é mais alto que o resultado verdadeiro) ou negativo (mais baixo que o resultado verdadeiro) e constante (é o mesmo valor absoluto durante toda a faixa analítica) ou proporcional (tem o mesmo valor relativo que o resultado verdadeiro). Enquanto a precisão reflete a reprodutibilidade, a imprecisão é definida como o desvio padrão para uma série de análises replicadas (ou seja, feitas de uma mesma amostra, pelo mesmo método, sob idênticas condições). Para muitas substâncias, é bastante baixa, resultando em coeficientes de variação (CV, definido como SD x 100 / valor médio) de 1% ou menos. Para outros é maior, resultando em CV de até 5%. A imprecisão na análise nunca pode ser inteiramente eliminada. Essa variação analítica é um fator importante a se levar em conta na interpretação de resultados de exames laboratoriais. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 37 Guarde... Os laboratórios são obrigados a prestar um serviço de alta qualidade, que deve ser avaliado e regulado independentemente. Junto com os padrões de qualidade, há a necessidade de incluir a inspeção de procedimentos que cubram toda a jornada da amostra, desde a coleta de sangue até o recebimento do resultado final. Os laboratórios devem revisar as necessidades do usuário final, seja ele o médico, o enfermeiro ou o paciente, e tentar adaptar seus serviços de maneira adequada. A necessidade de monitorar a efetividade clínica dos laboratórios para comprovar contínuas melhorias na qualidade e melhores resultados para os pacientes resultou no desenvolvimento de indicadores de qualidade clínica. Estes devem ser usados a fim de fornecer aos laboratórios dados suficientes para identificar áreas de boas práticas e áreas em que mais melhorias são necessárias e para promover uma cultura em que o contínuo aperfeiçoamento na qualidade é integrado às atividades rotineiras (BRUCE; LAPSLAY, 2016). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 38 UNIDADE 4 – OS COMPONENTES ESTRUTURAIS DO CORPO E METABOLISMOS AFINS Mais uma vez lembramos que a Bioquímica fornece a base para entender a ação de novos fármacos, como antidepressivos, medicamentos usados no tratamento de diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca, e aqueles que reduzem lipídios no sangue; fornece informações sobre nutrição, exercícios, estresse metabólico; contribui para a compreensão de como a dieta e o estilo de vida influenciam nossa saúde e nosso desempenho e como o organismo envelhece. Também descreve como a sinalização celular e os sistemas de comunicação respondem aos estresses endógeno e ambiental, além de participar intensamente na produção de biocombustíveis, só para citar algumas de suas aplicações. Mas vamos aos componentes estruturais do corpo humano, lembrando que os organismos vivos são compostos por milhares de moléculas inorgânicas e orgânicas diferentes, contêm cerca de 27 elementos químicos. O número real depende do tipo de célula e a espécie de organismo. Acima de 99% da massa, da maioria das células, são compostas por oito elementos denominados elementos principais. Os outros constituintes são elementos secundários. A grande maioria dos constituintes moleculares dos sistemas vivos contém carbonos unidos covalentemente a outros carbonos e a átomos de hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (MOTTA, 2009). Sobre o tamanho das moléculas, as comparações são feitas em relação a sua massa molecular. A unidade de massa empregada é o Dalton (Da) ou quilodalton (1000 Da ou 1 kDa) onde 1 Da é igual ao peso de um átomo de hidrogênio, i.e.: 1.66 x I0-24 g. As quatro principais classes de moléculas biológicas são: 1. Proteínas: são formadas por longos polímeros de aminoácidos, apresentam elevada massa molecular que variam de centenas a milhões de daltons. Exercem muitos papéis, tais como: enzimas, estruturais, transporte, hormônios, regulação gênica, proteção e toxinas. 2. Carboidratos: são polímeros de açúcares simples, como a glicose, com massas moleculares semelhantes a das proteínas. Armazenam energia e também são elementos estruturais extracelulares. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 39 3. Lipídeos: são formados por moléculas relativamente pequenas (ao redor de 300-1500 Da) que podem se associar para constituir grandes moléculas que servem, principalmente, como componentes estruturais das membranas, como forma de armazenamento de energia e em outras funções (hormônios esteroides. vitaminas, proteção, material isolante). 4. Ácidos nucléicos: são polímeros dos nucleotídeos: constituem o DNA e o RNA que armazenam, transmitem e transcrevem a informação genética. São componentes das organelas celulares. 4.1 Água A água compõe a maior parte da massa corporal do ser humano. É o solvente biológico ideal. A capacidade solvente inclui íons (exemplos: Na+. K+ e Cl-), açúcares e muitos aminoácidos. Sua incapacidade para dissolver algumas substâncias como lipídios e alguns aminoácidos, permite a formação de estruturas supramoleculares (exemplo: membranas) e numerosos processos
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