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Evolução Histórica da Questão Ambiental

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Aula 5: Questões teóricas e evolução histórica do tema ambiental
Introdução
Nessa primeira parte da disciplina apresentamos os elementos históricos e conceituais da questão ambiental. Como vimos, esta precisou de esclarecimentos sobre os impactos do desenvolvimento na biosfera, sobretudo a partir de 1960.
Vimos, também, as bases teóricas para um grande número de avaliações e recomendações sobre atuação dos homens e governos. Desde as primeiras reflexões sobre o impacto do crescimento econômico até a concepção de desenvolvimento sustentável, amplos debates foram estabelecidos entre as correntes ambientais, tanto em termos do papel do homem, como na função da Terra em relação às necessidades da humanidade.
Nesta aula, faremos uma revisão dos principais pontos, dando destaque às bases do pensamento ecológico, os primeiros indícios da degradação ambiental, os grandes relatórios e conferências ambientais e, finalmente, vamos rever o papel do desenvolvimento sustentável no mundo atual. Para tanto, veremos exemplos e fatos das relações internacionais contemporâneas, mirando em situações verídicas e atuais tanto no Brasil como no contexto global.
Importante ficar claro que essa aula não substitui todas as anteriores no sentido de estudos para as provas, mas deve ser vista como um guia de conhecimentos e um grande resumo dos principais pontos e ideias apresentados.
O que é a questão ambiental?
Antes de compreendermos o que é a questão ambiental, precisamos esclarecer como se estrutura o posicionamento do homem em relação à totalidade da biosfera, conhecida como Terra.
TERRA:
•  BIOSFERA
•  ECOSSISTEMAS
O mundo é o espaço onde interagem os homens e ocorrem as transformações sociais de grande impacto sobre a Terra. 
A questão ambiental, portanto, surge da problemática relação entre essas duas esferas: o homem e seu impacto na Terra. Por isso, não podemos dizer que a questão ambiental, pode ser vista de maneira unilateral – de responsabilidade de um Estado ou um determinado grupo de Estados apenas – mas de maneira transnacional, já que a degradação ambiental ou transformações neste âmbito são decorrentes da atuação de toda a humanidade.
Relação homem/natureza
A percepção sobre essa relação não é nova, e desde o inicio do processo civilizatório buscou-se refletir sobre a dicotomia homem e planeta. Podemos, então, pensar em três propostas:
1 - A Economia Clássica e a visão bíblica, segundo as quais o homem é considerado o centro da Terra (visão antropocêntrica). Lembram daquela diferenciação entre a Terra e o Mundo? Pois é, a perspectiva bíblica coloca o homem acima da Terra, por isso não ha uma visão crítica sobre a atuação do homem em abastecer-se indiscriminadamente dos recursos da Terra.
2 - A perspectiva Geocêntrica ou ecocentrista, ou seja, a Terra como elemento central e superior ao “mundo” dos homens, por isso prioridade absoluta nessa relação entre homem e natureza. Como vimos, a proposta radical dos preservacionistas se baseia nessa premissa de superioridade da Terra e na inviabilidade de uma relação harmônica entre o homem e a natureza.
3 - O alinhamento entre o Antropocentrismo e o Geocentrismo, conciliando as necessidades da humanidade com as condições limites de renovação dos recursos naturais. Pode-se dizer que essa é a base do debate sobre o uso racional do meio ambiente, portanto, de grande parte dos organismos e instituições voltadas ao tema.
A origem e evolução das preocupações ambientais
Vamos mostrar agora como a evolução do capitalismo e do desenvolvimento econômico foram gerando a degradação ambiental e, como resposta, reações políticas e acadêmicas.
Revolução industrial sec. XVIII.
Efeitos sobre o meio ambiente já ocorriam, mas em proporções menores e menos impactantes 
A partir do séc. XVIII, o homem dá inicio a uma mudança radical e sem precedentes na história da humanidade, transformando amplamente sua relação com o meio ambiente. O desenvolvimento industrial acelerado a partir de então, não foi acompanhado por políticas de proteção ambiental. Nesse sentido, até meados do séc. XX, a maior parte das medidas de proteção da biosfera era tímida e não surtia efeito significativo a longo prazo.
Evolução do capitalismo.
Voltado para a produção, acumulação e consumo de bens, o desenvolvimento capitalista gerou mais impactos com a exploração de recursos naturais.
Efeitos da expansão do capitalismo nos se. XIX e XX.
Gerando uma verdadeira “explosão” demográfica, rápida industrialização nos grandes centros urbanos da Europa e nos Estados Unidos, aumento da desnutrição e miséria, desaparecimento contínuo de recursos não renováveis.
Clube de Roma: “Os Limites do Crescimento”, 1974.
A partir das preocupações com os efeitos danosos do crescimento industrial nas décadas anteriores, o relatório publicado chama atenção para a necessidade de se repensar o crescimento global em termos de equilíbrio global, visando reflexão sobre os modelos de crescimento baseados na exploração predatória dos recursos naturais.
I Conferência sobre Meio Ambiente em Estocolmo, 1971.
Seu principal objetivo era institucionalizar o tema ambiental no cenário internacional. Neste encontro os temas sociais e econômicos também passam a ser vistos como parte da questão ambiental, atrelando meio ambiente e desenvolvimento.
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 1972.
Primeira instituição internacional com sede num país africano, o PNUMA voltou seus trabalhos para a promoção da pesquisa cientifica na área ambiental e na promoção de acordos internacionais, fomentando a chamada agenda ambiental global.
Comissão Mundial do Meio Ambiente e do Desenvolvimento, 1980.
Primeira iniciativa no sentido de conscientização global sobre o tema ambiental e da necessidade de reformulações nos padrões de comportamento, compatíveis com os desafios da interdependência nas questões ambientais. Expansão das ideias de transnacionalidade da questão ambiental. Sua atuação foi prejudicada pelo contexto da Guerra Fria e a centralidade do tema “segurança internacional” na agenda política global.  Ao longo da década de 70, um substancial aumento da regulação e controle em torno de elementos que exerciam influência sobre o meio ambiente surgiu como decorrência direta dos debates e deliberações da Conferência de 1972.
Presidida pela Primeira-Ministra norueguesa Gra Harlem Brundtland, a comissão se aproximou de grupos ambientalistas e ONGs ligadas ao tema a fim de produzir um estudo imparcial, amplo e isento sobre a questão ambiental e os impactos do homem na biosfera. Na década de 1980, entra em vigor em grande parte do mundo as legislações voltadas para a regulação das indústrias, principalmente as mais poluentes.
Nosso Futuro Comum: o relatório Brundtland, 1988.
O documento produzido pela Comissão Mundial do Meio Ambiente, considerado o mais importante documento oficial já produzido sobre o tema, chamou atenção para o papel do homem nas ameaças ao perfeito equilíbrio do meio ambiente planetário, apontando processos de degradação já em andamento. Também pode ser considerado inovador, por diferenciar o papel dos países ricos e pobres sobre os impactos do desenvolvimento no meio ambiente e atrelar, definitivamente, questões ligadas ao desenvolvimento das nações aos temas ambientais. Outro ponto importante é que no relatório em questão é formalizado o conceito de desenvolvimento sustentável.
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - ECO-92 .
Além de consagrar o desenvolvimento sustentável como mecanismo necessário à preservação ambiental frente às necessidades de desenvolvimento dos povos e revisar todas as medidas e recomendações feitas na Conferência de 1972, a ECO-92 produziu cinco documentos de grandes importâncias, entre eles a Agenda 21, com proposições para um amplo plano de ação a longo a prazo para governos, órgãos da ONU, grupos e entidades setoriais independentes e agências de desenvolvimento, respeitando as características locais e os princípios defendidos pelo documento geral dessa conferência. 
Ao longo da décadade 1990, a questão ambiental passa a ocupar ainda mais espaço na agenda internacional por conta do fim da bipolaridade e da centralidade do tema segurança internacional na política global da Guerra Fria.
Direito ambiental
Vamos ver o que diz o Professor-Doutor Marcelo Varella: “O Direito Internacional do Meio Ambiente é o conjunto de regras e princípios que regulam a proteção da natureza na esfera internacional” (p. 7, 2009).
Como podemos ver, o ramo do Direito que trata das questões ambientais enfrenta um grande obstáculo: os limites legais no âmbito global à medida que as consequências da degradação ambiental vão além das fronteiras, mas as regras e leis produzidas em ambientes de grande aplicabilidade são locais e regionais. 
Essa questão, portanto, gira em torno da soberania dos Estados, os efeitos da degradação ambiental em termos globais e os mecanismos debatidos e instituídos dentro das organizações internacionais.
É importante lembrar que o arcabouço normativo do Direito Ambiental não se dá de forma linear justamente por pender entre as diversas concepções da questão ambiental e os diferentes níveis hierárquicos de aplicação das normas jurídicas. 
As normas podem ser produzidas através de negociações multilaterais ou bilaterais por diferentes fontes – como as negociações ocorridas dentro de organizações políticas internacionais ou negociações diretas entre Estados –, produzindo normas que se sobrepõem, e até mesmo entram em conflito, na regulação de assuntos idênticos.
Como foi dito, as normas internacionais devem ser vistas, na verdade, como recomendações, até porque não haveria condições jurídicas para “julgar” ou aplicar sanções sobre os países que não orientassem suas políticas nesses sentidos.
RECOMENDAÇÕES : Um bom exemplo é o Protocolo de Kioto, posteriormente formalizado em torno do Tratado de Kioto. Neste importante documento, cujos objetivos giram em torno do combate ao aquecimento global, há premissas recomendatórias aos países signatários do acordo. Importantes países, no entanto, como os Estados Unidos, simplesmente ficaram de fora por não crer que a postura defendida nas negociações estejam de acordo com seus interesses.
Perspectivas Teóricas
Vamos, agora, relembrar as teorias e diferentes concepções sobre a questão ambiental e a relação sociológica com a biosfera. Inicialmente, é importante saber que há três importantes perspectivas sobre a função que o homem deve assumir frente ao meio ambiente. São elas: 
Preservacionistas: radicais defensores da intocabilidade da natureza como único modo de preservação ambiental. Exerceram fortíssima influência na criação de parques nacionais e reservas ambientais, onde as únicas atividades permitidas são recreativas e para fins ambientais.  
Desenvolvimentistas: adeptos de que o crescimento econômico deveria acontecer a qualquer custo, sem qualquer preocupação quanto às questões ambientais ou aos danos provenientes da exploração contínua e de grandes proporções sobre os recursos naturais.
Conservacionistas: defendiam a viabilidade de uso racional e eficiente justamente como garantia para a preservação. A maior parte dos movimentos ambientalistas inclusive, se baseia na visão conservacionista, que se tornou, gradualmente, um consenso entre as nações ao longo do séc. XX e está na base das políticas instruídas pela ideia de desenvolvimento sustentável.
Além das visões antropocentristas e ecocentristas, vistas no início dessa aula, podemos citar também a visão tecnocentrista, cuja característica principal é o otimismo quanto à evolução tecnológica e científica e as soluções que esses meios podem oferecer em termos de reverter e/ou impedir a degradação ambiental.
Já a Teoria de Gaia, ou Hipótese de Gaia, propõe que a biosfera e os elementos físicos da Terra estão completamente integrados, de forma a gerarem um complexo sistema interligado que mantém as condições viáveis de sobrevivência e transformação do Planeta Terra.
Devemos lembrar também de três propostas importantes, de fundo sociológico, sobre a composição do tema ambiental. São elas:
A perspectiva de desenvolvimento sustentável era viável, então, por reconhecer as demandas por desenvolvimento de alguns povos, ao mesmo tem que reafirmava a necessidade de garantir para as gerações futuras condições de sustentação através do meio ambiente preservado. 
Para tanto, era preciso que os países ricos adotassem estilos de vida que diminuíssem a forte pressão sobre os recursos naturais, ao mesmo tempo em que houvesse um equilíbrio entre a densidade demográfica nas cidades e o aumento da população.
Podemos pensar em uma estrutura de desenvolvimento sustentável, que se apresenta:
Sustentabilidade Ambiental: capacidade da biosfera em renovar-se, ou seja a capacidade que o ambiente natural tem de manter as condições propícias de vida aos seres vivos, levando em consideração a habitabilidade, preservação da paisagem ambiental e renovação das fontes naturais.
Sustentabilidade Econômica: integração dos princípios de sustentabilidade ambiental às estruturas de desenvolvimento econômico e industrial, transformando antigas concepções de mais valia e lucro em novas propostas que ambicionam valorizar as questões ambientais dentro da prática econômica.
Sustentabilidade Sociopolítica: compreende-se como o ponto de equilíbrio em termos de desenvolvimento e no âmbito socioeconômico, dando uma nova “roupagem” à economia através dos princípios sustentáveis do conceito, desenvolvendo a ideia de que o caráter social e cultural da humanidade são valores intransponíveis. A Agenda 21 é um exemplo de adoção deste princípio.
Como não poderia deixar de ser, o modelo adotado de desenvolvimento sustentável recebe muitas críticas, dentre as quais destacamos:
É bastante influenciado pela visão dos países desenvolvidos e que, então, já passaram por um grande processo de industrialização e degradação ambiental.
É “implementado” e através de organizações internacionais onde a presença e influência dos países ricos é predominante.
Esconde interesses nacionais dos países desenvolvidos em manter seus ritmos e estruturas de desenvolvimento econômico, em contrapartida abre possibilidade de dificultar o desenvolvimento das nações mais pobres.
Com isso, fechamos nosso conteúdo de revisão. Lembre-se de que a leitura desta aula não é suficiente para preparar você para a prova de Av1, mas deve ser vista como um grande resumo das aulas anteriores, podendo ser usada como guia de leitura e ordenação cronológica e teórica do arcabouço amplo do tema ambiental.
Aula 5: Questões teóricas e evolução histórica do tema ambiental 
Para reforçar tudo o que revisamos nesta aula, não deixe de rever também os artigos, vídeos e entrevistas indicados nas aulas anteriores. Além destes materiais, vejam também os seguintes itens:
WWF – Brasil - Mundo.
Pense de Novo - Energia e novas tecnologias.
Hora do planeta 2009.
Leia a entrevista com Gro Harlem Brundtland, sobre os 20 anos do Relatório Bruntland, disponível na biblioteca virtual da disciplina no SIA.

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