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Biopirataria e Propriedade Intelectual

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POLITICA AMBIENTAL GLOBAL
Aula 9: Biopirataria, patentes e comércio internacional
Embora seja relativamente recente, o termo biopirataria indica uma prática criminosa que começa a constituir-se no Brasil há mais de 500 anos com a descoberta e início da colonização portuguesa.
Neste período, com a extração e envio do pau-brasil para o mercado consumidor europeu quantidades monumentais de recursos naturais provenientes da atividade exploratória colonialista deixava nossas florestas e ecossistemas para alimentar o crescimento econômico e desenvolvimento da sociedade europeia, ávida por consumir mais produtos “exóticos” e dependente de diversificadas e robustas fontes de matérias-primas.
Evidentemente a própria situação político- econômica do colonialismo inviabilizava uma concepção legal sobre a atividade de extração excessiva nas terras brasileiras, visão crítica que só foi desenvolvida ao longo do processo de independência nacional e posterior chegada do tema ambiental à agenda política brasileira.
Mas o que é a biopirataria? Como esse processo de extração irregular prejudica a atividade econômica em determinadas regiões e oferece impacto sobre o meio ambiente?
Embora o Brasil ocupe um lugar vergonhosamente de destaque no que tange a extração irregular do meio ambiente e a comercialização ilegal de espécies, o estudo e o tema da biopirataria não é comum na nossa comunidade científica e acadêmica, por isso torna-se fundamental analisarmos esse assunto à luz dos conhecimentos adquiridos quanto ao tema ambiental e para fecharmos, enfim, a análise ampla sobre a agenda ambiental global e a posição do Brasil.
Popularização e conscientização da biopirataria
A popularização e conscientização do tema da biopirataria se deu a partir do estabelecimento da soberania dos Estados sobre a biodiversidade em seus territórios, reconhecido pela assinatura da Convenção Sobre Diversidade Biológica na Rio-92.
Desde então, percebe-se a biopirataria como uma prática danosa ao meio ambiente local e às comunidades assentadas nas regiões exploradas, já que a exploração e apropriação irregular por parte de indivíduos ou mesmo representantes de empresas multinacionais acabam por excluir tais comunidades dos lucros obtidos com a comercialização e industrialização dos recursos naturais.
Ademais, a própria exploração predatória já representa um risco substancial à manutenção das condições de vida no meio ambiente, como estudado nas aulas passadas. Em outras palavras, a biopirataria é a apropriação indébita de recursos naturais e conhecimentos tradicionais e sua comercialização para fins de obtenção de lucros e vantagens industriais.
Para entendermos a ameaça da biopirataria, é preciso antes compreender o significado de “megabiodiversos”. Entende-se essa imensa biodiversidade como uma característica de apenas doze países em todo mundo, onde cerca de 70% de todas as espécies estão presentes. Entre estes, o Brasil ocupa o primeiro lugar e outros quatro países megabiodiversos estão na América Latina, o que nos coloca diretamente no caminho dos interesses empresariais e políticos de países e corporações econômicas internacionais.
Essa abundância brasileira de biodiversidade também é um sinal do tamanho dos riscos que corremos em termos de vulnerabilidade, já que grande parte dessas espécies não foram reconhecidas ainda por pesquisadores locais e se tornam “presas fáceis” para laboratórios, industriais e instituições internacionais que, de forma geral e com inúmeras exceções, se instalam no Brasil – inclusive de maneira clandestina –, investem em pesquisa e se apropriam dos conhecimentos por meio de patentes e registros feitos em outros países.
DICAS: Para cientistas e acadêmicos, quatro são as regiões mais importantes e grandes “alvo” da biopirataria: Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga (FONSECA, 2007).
Propriedade Intelectual, Conhecimento Tradicional e Legislação Ambiental
Como vimos, o conhecimento popular e tradicional de povos da floresta ou populações regionais podem ser uma base importante para o desenvolvimento científico dos grandes laboratórios. Segundo estudos na área, grandes laboratórios economizam até 50% nos custos de pesquisa levando em conta conhecimentos tradicionais sobre uso de espécies por comunidades indígenas, por exemplo.
Mas qual o limite entre o conhecimento produzido através de pesquisa e na observação dos métodos e culturas tradicionais?
Podemos entender como propriedade intelectual a garantia de recompensa dada ao inventor, criador ou responsável pelo desenvolvimento de técnicas ou modelos de produção em termos intelectuais, científicos, literários, artísticos, industrial e afins. O recebimento desses direitos de utilização pode ser temporário e é observado internacionalmente pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI). 
De acordo com as regulações debatidas e aprovadas dentro da OMPI, o conhecimento tradicional oriundo da “sabedoria popular” ainda não goza de direitos por não serem reconhecidos como propriedade intelectual, portanto ficam à margem da legislação de direitos autorais.
Esse tema, na verdade, tem sido visto pela organização como uma questão a ser debatida, mas carece de qualquer definição sobre a adequação do conhecimento tradicional ao regime de propriedade intelectual, com isso muitas empresas e instituições de pesquisa exploram livremente o conhecimento de comunidades sobre o uso de espécies para fins de medicinais sem que sejam enquadradas nas disposições da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU.
Neste contexto, a aprovação do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio – TRIPS – contribuiu para a expansão de um sistema de registro de patentes, no entanto, o direito à propriedade intelectual advém de conhecimento obtido sem anuência do “país provedor” do patrimônio genético. Outro ponto negativo, e visto por estudiosos como razão para o aumento da biopirataria, é a ausência dos Estados Unidos e Japão como países signatários da Convenção da Diversidade Biológica (GOMES, p.03, 2007).
A OMC, aliás, mesmo sem prever regras específicas que regulem a proteção ao meio ambiente como prática justa nas relações comerciais internacionais, cada vez mais incorpora a questão ambiental dentro dos acordos entre nações e nos debates sobre regulamentação do comércio internacional (PIRES, p. 03, 2008). Essa incorporação gradual e lenta dos temas ambientais na agenda da OMC se dá pelas grandes dificuldades em estabelecer regras globais que atrelem questões comerciais e desenvolvimento sustentável (ou temas ambientais afins).
No âmbito nacional, desde o ano de 2003 se discute dentro do Comitê de Gestão do Patrimônio Genético – órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente – regras para beneficiar as comunidades cujos conhecimentos tradicionais estejam sendo usados comercialmente. Busca-se também estabelecer uma regra definitiva para a tipificação da biopirataria como crime, impondo punições. Efetivamente, a legislação nacional contra os crimes ambientais (Leis 5.197/67, l 9.605/98 e decreto 3.179/99) combate o ato de “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécies da fauna silvestre nativa ou em rota migratória” e “sujeita o autor do crime à detenção, de 6 meses a 1 ano, e a aplicação de multas (...)”.
Meio ambiente e comércio internacional
Como já vimos, assim como a relação entre degradação ambiental e desenvolvimento capitalista, na década de 1970 percebem-se dois pontos comuns entre o comércio e o meio ambiente: os impactos do comércio no meio ambiente e, por outro lado, o impacto das políticas ambientais no comércio.
Interessante observarmos que esse debate continua em voga nas relações internacionais contemporâneas, sobretudo no que tange à preocupação dos países na adoção de medidas legais que possam ter um efeito inibidor sobre a atividade industrial e, consequentemente, no comércio internacional.
Para complementar seus estudos sobre o tema leia o texto “Implicações da proteção ambiental no comércio internacional”.

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