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O QUARTO MUNDO

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FACULDADE ESTÁCIO DE SERGIPE 
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA Turma 3001 PERÍODO: 2012.1 
PROF. Msc. EDNEY MENEZES NOGUEIRA
O QUARTO MUNDO
Padre Joseph Wresinski nasceu de pai polonês e de mãe 
espanhola, em 12 de fevereiro de 1917. Ainda menino, conheceu a grande 
pobreza junto de sua mãe e irmãos, em Angers, na França. Foi ordenado padre 
em junho de 1946, em Soissons. 
Tendo sido pároco de paróquias operárias e rurais durante dez 
anos, seu bispo lhe propôs, em 1956, ir ao encontro do "acampamento" dos 
sem-teto em Noisy-le-Grand, na região de Paris. Assim, uniu-se às 252 famílias 
acampadas na favela de Noisy-le-Grand. 
Recusando-se a aceitar a fatalidade da miséria, começou sua obra 
criando, junto com as famílias do bairro, um jardim de infância, uma biblioteca e 
a associação 'Ajuda para Toda Aflição'. Com as famílias que viviam na favela, 
criou, no ano seguinte, a Associação 'Aide à Toute Détresse' (ATD). 
O objetivo era unir a sociedade, a partir dos mais pobres, para 
acabar com a extrema pobreza, entendida como uma violação completa dos 
direitos humanos.
A resposta a estas perguntas repousa na certeza que sempre 
animou o Pe. Wresinski: "A miséria é obra dos homens. Só os homens a podem 
destruir". Seduzidos por esta mensagem, homens e mulheres vindos de todos os 
ambientes puseram-se a caminho, para unirem suas forças no combate à 
miséria. Alguns tomaram a decisão de se comprometerem de modo duradouro, 
junto dos mais pobres. Nasceu, assim, o voluntariado permanente da ATD-
Quarto Mundo.
Enfrentou a mentalidade estabelecida na sociedade francesa, 
rejeitando o assistencialismo e a idéia da pobreza como sendo uma fatalidade ou 
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culpa dos que a sofrem. "A miséria é obra dos homens, só os homens podem 
destruí-la".
Rapidamente percebeu-se que essa era uma luta internacional e 
que o movimento necessitava conhecer a realidade da miséria em outros países. 
Inclusive, Joseph Wresinski esteve presente no Brasil nos inícios dos anos 70 
quando encontrou-se com D. Hélder Câmara, que anos depois retribuiu a visita 
participando de um encontro na sede do movimento. 
Atualmente o movimento, que não tem filiação religiosa ou política, 
está presente em mais de 40 países com contatos e aliados em outros 80 
(África, na América do Norte e do Sul, no Oceano Índico, na Ásia e na Europa).
A idéia radical de que os mais pobres são os protagonistas dessa 
luta e de que sua experiência e seu pensamento devem guiar a construção de 
uma sociedade sem miséria é a pedra fundamental desse movimento.
O Movimento ATD Quarto Mundo luta pelos direitos do homem 
com o objetivo de garantir o acesso dos mais pobres ao exercício dos seus 
direitos e de avançar para a erradicação da extrema pobreza.
Desenvolve projetos no terreno com as pessoas que vivem em 
situação de pobreza; trabalha para sensibilizar a opinião dos cidadãos e obter 
mudanças políticas; promove o diálogo e a cooperação entre os diferentes atores 
sociais. 
Em todas as suas ações, são postos em prática dois princípios 
essenciais:
• Pensar e agir com as pessoas em situação de grande pobreza, o 
que permite estabelecer em conjunto as condições de uma verdadeira 
participação.
• Não deixar ninguém de lado. 
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Em 1987, um ano antes de sua morte, o Pe. Wresinski apresentou 
seu relatório "Grande pobreza e precariedade econômica e social" à Comissão 
dos Direitos Humanos da ONU, pedindo que a questão da pobreza extrema fosse 
examinada como um atentado ao conjunto dos direitos humanos. 
Em 17 de outubro do mesmo ano, ele organiza um dia de recusa da 
miséria. O dia foi oficializado pelas Nações Unidas em 1992. Cinco anos depois, 
em 1997, adotando o relatório "direitos humanos e extrema pobreza", a 
Comissão dos Direitos Humanos da ONU passou a rezar pelo seu credo: os 
direitos humanos são indivisíveis.
O Pe. Joseph Wresinski faleceu em fevereiro de 1988. Seus restos 
repousam sob a capela que mandou construir no centro internacional do 
Movimento ATD Quarto Mundo, em Méry-sur-Oise, França. Seu nome ficou para 
sempre ligado à luta pela restituição dos Direitos Inalienáveis aos mais pobres 
que nele reconhecem uma testemunha qualificada de suas vidas e história. 
A "Casa Joseph Wresinski", situada na aldeia de Baillet-en-France, 
(Departamento do Val d'Oise) reúne o conjunto dos seus escritos e publicações, 
contribuindo também para a divulgação da sua mensagem através do mundo.
Em 17 de outubro de 1987 o Padre Joseph Wresinski, juntamente 
com mais de 100 mil representantes de organizações de direitos humanos, 
vindos dos mais variados países, inaugurou em Paris, no simbólico Trocadero 
uma lege com a seguinte inscrição:
“Defensores dos direitos humanos e do cidadão de todos os países 
reuniram-se neste adro. Renderam homenagem às vítimas da fome, ignorancia 
e da violência. Afirmaram a sua convicção de que a miséria não é fatal. 
Proclamaram a sua solidariedade com os que lutam através do mundo para a 
destruir. Onde homens estão condenados a viver na miséria, aí os direitos 
humanos são violados. Unir-se para os fazer respeitar é um dever sagrado”.
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Em Roma este dia é celebrado como o dia da Jornada Mundial da 
Recusa da Miséria.
Conclusão:
Esta associação nos faz pensar em sair da apatia e o conformismo 
e aceitar o incómodo de rever nossas vidas, por meio de uma revisão profunda 
da atitude das sociedades e dos seus governantes, no plano nacional e 
supranacional, em relação aos empobrecidos, de modo a fazer jus à 
universalidade e abrangência dos Direitos Humanos, na sua totalidade. 
Só vivendo junto dos pobres, partilhando a sua condição, 
interiorizando as suas dificuldades, experimentando as suas dores e, sobretudo, 
os seus sentimentos e as suas raivas em razão de uma exclusão imposta e 
injusta, se pode abrir alguma clareira na compreensão da pobreza como 
fenomeno social. 
Os não-pobres, e em particular os políticos, deveriam ter uma 
sensibilidade maior para a pobreza e estratégias e medidas de política de 
combate à pobreza e à exclusão social. Mas infelizmente não é isso que vemos. 
Por exemplo, os problemas sociais no chamado “polígono da 
seca” são bastante conhecidos por todos, mas nem todos sabem que não 
precisava ser assim. A seca em si, não é o problema. Países como EUA que 
cultivam áreas imensas e com sucesso em regiões como a Califórnia, onde chove 
sete vezes menos do que no polígono da seca, e Israel, que consegue manter 
um nível de vida razoável em um deserto (Negev), são provas disso. 
A seca é um fenômeno natural periódico que pode ser contornada 
com o monitoramento do regime de chuvas, implantação de técnicas próprias 
para regiões com escassez hídrica ou projetos de irrigação e açudes, além de 
outras alternativas. Estes últimos, porém, são frequentemente utilizados para 
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encobrir desvios de verbas em projetos superfaturados ou em troca de favores 
políticos. 
Os “industriais da seca” se utilizam da calamidade para conseguir 
mais verbas, incentivosfiscais, concessões de crédito e perdão de dívidas 
valendo-se da propaganda de que o povo está morrendo de fome. Enquanto 
isso, o pouco dos recursos que realmente são empregados na construção de 
açudes e projetos de irrigação, torna-se inútil quando estes são construídos em 
propriedades privadas de grandes latifundiários que os usam para fortalecer seu 
poder ou então, quando por falta de planejamento adequado, se tornam imensas 
obras ineficazes.
O Açude do Cedro, em Quixadá (CE), é frequentemente utilizado 
como referência para descrever este tipo de empreendimento da indústria da 
seca: com capacidade para aproximadamente 126 milhões de m³, foi construído 
em pedra talhada à mão, com esculturas e barras de ferro importadas, mas que 
chegou a secar completamente no período de 1930 a 1932, durante um dos 
piores períodos de seca enfrentados pela região, ou seja, quando mais se 
precisava dele. Mais uma obra faraônica, na longa história de projetos faraônicos 
da indústria da seca. É claro que hoje a obra constitui um patrimônio histórico e 
cultural importante, mas é como distribuir talheres de prata para quem não tem 
o que comer. 
E a história se repete. A transposição do Rio São Francisco, por 
exemplo. 
De um lado estão aqueles que defendem que a obra é legítima e 
poderá acabar com a seca do nordeste (senão todo, pelo menos grande parte 
dele). E de outro aqueles que defendem que a obra é mais um fruto da indústria 
da seca e que além de não resolver o problema, ainda pode agravá-lo ao alterar 
todo regime hídrico da região e pôr em risco um dos patrimônios naturais mais 
importantes do Brasil colocando em risco a sobrevivência do próprio rio. Assim a 
situação segue. Perpetuada antes pelo fenômeno político da chamada “indústria 
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da seca” do que pelo fenômeno natural da “seca” em si, a tragédia que atinge 
grande parte da região nordeste brasileira e parte da região norte de Minas 
Gerais costuma ser utilizada (e supervalorizada) para justificar a fome e o 
subdesenvolvimento econômico e social da região que são, nada mais, do que o 
reflexo de uma administração duvidosa que faz fracassar qualquer tentativa de 
reverter este quadro com o intuito de fazer perdurar o modelo de poder vigente.
Bom seria se todos realmente se concientizassem da necessidade 
de solucionar o problema da miséria. Mas pelo menos já existem 100 mil. Pior 
quando nada existia. 
Aracaju, 06 de junho de 2012
TERESA CRISTINA PEREIRA
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