Buscar

APS direito do trabalho

Prévia do material em texto

1 
 
 
APS 
Descrição da atividade: A partir da leitura do texto “Combate ao Trabalho Forçado. 
Manual para Empregadores e Empresas”, o aluno deverá efetivar trabalho escrito na 
forma de resenha, onde deverão ser analisados os dispositivos constitucionais, 
infraconstitucionais que se referem a exploração do trabalho, bem como efetivar 
levantamento jurisprudencial sobre a temática junto aos setores de busca eletrônica 
do Tribunal Regional do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho. 
 
 O Manual em questão foi desenvolvido pela OIT para alcançar todo 
empregador, orientando e estimulando práticas que coíbem a prática do trabalho 
forçado e o tráfico de pessoa para o trabalho forçado. Independente do porte da 
empresa, tais orientações são compatíveis a todos. 
 A OIT (Organização Internacional do Trabalho), foi fundada em 1919 através 
da Conferência de Paz de Paris, e possui sede internacional em Genebra, Suíça. É 
uma agência das Nações Unidas. 
 Seus princípios norteadores buscam conduzir o empregador e empresa a 
adotarem medidas e procedimentos que impeçam a continuidade do trabalho forçado 
e o tráfico de pessoas para o trabalho forçado em todo o mundo. Tais princípios são 
frutos de pesquisa e da jurisprudência em diversos países. 
 De acordo com a Convenção n. 29 da OIT, de 1930, o trabalho forçado é “todo 
trabalho ou serviço que for extraído de qualquer pessoa sob ameaça de qualquer 
penalidade para o qual a referida pessoa não tiver se oferecido voluntariamente”. 
 O manual apresenta um quadro demonstrativo das atividades ou características 
que configuram o trabalho forçado. Dois pontos importantes necessitam de análise 
para identificação da prática ilícita: falta de consentimento para o trabalho (que seria 
o caminho para o trabalho forçado) e a ameaça de penalidade (que são os meios para 
manter alguém em situação de trabalho forçado). 
 Sendo assim, uma pessoa pode se encontrar em situação de trabalho forçado 
quando assume um trabalho ou serviço contrariando sua própria liberdade, se não 
2 
 
puder deixá-lo sem que sofra algum tipo de penalidade ou ameaça, que transgrida 
sua vontade, liberdade ou dignidade. 
 Já o tráfico de pessoas ou tráfico humano é condição que pode levar ao 
trabalho forçado. É caracterizado pela movimentação de uma pessoa, geralmente 
através de fronteiras internacionais, com fim de exploração. Tal problemática tem 
atingido não apenas países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, mas também 
os de primeiro mundo. Os pontos principais a serem analisados para identificação do 
tráfico de pessoas são: atividades, meios e propósito. 
 O Protocolo de Palermo de 2000 define o tráfico de pessoas como: 
 
O recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou 
recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força 
ou outras formas de coerção, de abdução, de fraude, de 
engano, de abuso de poder ou de uma posição de 
vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou 
benefícios para obter o consentimento de uma pessoa para ter 
controle sobre outra pessoa, para fins de exploração. 
 
Importante ressaltar que o mesmo protocolo distingue o tráfico de adultos e de 
crianças; e que segundo entendimento dos parâmetros da OIT, nem toda situação de 
trabalho forçado é fruto do tráfico de pessoas. 
O manual da OIT apresenta uma lista de tipos de trabalho e de trabalhadores 
que configuram o trabalho forçado ou o trabalho forçado em decorrência do tráfico de 
pessoas. Dessa maneira, o empregador poderá identificar e adotar medidas que 
impeçam esse tipo de atividade. O manual, de forma bem didática, oferece conteúdo 
de perguntas e respostas para que as empresas visualizem e compreendam quais 
medidas deverão ser adotadas dentro do seu ramo de atividade. 
No Brasil, há dispositivos constitucionais e infraconstitucionais que se alinham 
aos parâmetros internacionais adotados pela OIT. Em conjunto com tais normas, 
empresas e empregadores possuem ferramentas necessárias na coibição da prática 
do trabalho forçado em todas as suas facetas. 
A Lei n. 10.803 de 11 de dezembro de 2003 alterou a redação do art. 149 do 
Código Penal, tipificando como crime: 
3 
 
 
Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o 
a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a 
condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer 
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador 
ou preposto: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena 
correspondente à violência. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do 
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; 
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de 
documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo 
no local de trabalho. 
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: 
I – contra criança ou adolescente; 
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem." 
 
Na Constituição Federal de 1988, além dos princípios fundamentais como o da 
dignidade da pessoa humana e o da liberdade, o art. 7º trata dos direitos e das 
garantias fundamentais dos trabalhadores. No art. 243, a previsão legal à prática de 
exploração de mão-de-obra escrava é explícita. Antes mesmo da atual Carta Magna, 
o Decreto Lei 5.452 de 1943, conhecida como CLT (Consolidação das Leis do 
Trabalho), já trazia dispositivos para proteção dos direitos dos trabalhadores, bem 
como suas reformas posteriores. 
Recente julgado da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça defendeu que 
o delito de trabalho escravo não exige restrição à liberdade, mas trata-se de “um crime 
de ação múltipla e conteúdo variado”. 
RECURSO ESPECIAL Nº 1.843.150 - PA (2019/0306530-1) 
DATA DJe: 02/06/2020 
RELATOR: MINISTRO NEFI CORDEIRO 
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 
RECORRIDO: LUIZ EVALDO GLÓRIA 
ADVOGADOS: RAPHAEL SAMPAIO VALE E OUTRO(S) - PA008891; 
THIAGO BATISTA GERHARDT - PA017028; TIBÉRIO CÉSAR SAMPAIO 
TEIXEIRA - PA016520. 
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. REDUÇÃO À CONDIÇÃO 
ANÁLOGA À DE ESCRAVO. CONDENAÇÃO EM 1º GRAU. 
AFASTAMENTO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM PORQUE 
NÃO CONFIGURADA RESTRIÇÃO À LIBERDADE DOS 
4 
 
TRABALHADORES OU RETENÇÃO POR VIGILÂNCIA OU 
MEDIANTE APOSSAMENTO DE DOCUMENTOS 
PESSOAIS. CRIME DE AÇÃO MÚLTIPLA E CONTEÚDO 
VARIADO. SUBMISSÃO A CONDIÇÕES DE TRABALHO 
DEGRADANTES. DELITO CONFIGURADO. CONDENAÇÃO 
RESTABELECIDA. RECURSO PROVIDO. 
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, o delito de 
submissão à condição análoga à de escravo se configura 
independentemente de restrição à liberdade dos trabalhadores 
ou retenção no local de trabalho por vigilância ou apossamento 
de seus documentos, como crime de ação múltipla e conteúdo 
variado, bastando, a teor do art. 149 do CP, a demonstração 
de submissão a trabalhos forçados, a jornadas exaustivas ou 
a condições degradantes. Precedentes. 2. Devidamente 
fundamentada a condenação pela prática do referido delito em 
razão das condições degradantes de trabalho e de habitação 
a que as vítimas eram submetidas, consubstanciadas no não 
fornecimento de água potável, no não oferecimento, aos 
trabalhadores, de serviços de privada por meio de fossas 
adequadas ou outro processo similar, de habitação adequada, 
sendo-lhes fornecido alojamento em barracos cobertos de 
palha e lona, sustentados por frágeis caibros de 
madeira branca, no meio da mata, sem qualquer proteção 
lateral, com exposição a riscos, não há falar em absolvição. 3. 
Recurso especial provido para restabelecer a sentença 
condenatória, determinando que o Tribunal de origem prossiga 
no exame do recurso de apelação defensivo. 
 
 
 Sobre o acórdão em tela, diferentes órgãos públicos, de forma conjunta, 
realizaram uma ação em 2006 para erradicar o trabalho degradante desenvolvido em 
uma fazenda de gado em Paragominas (PA). A denúncia expôs irregularidadesnas 
condições de trabalho como o não fornecimento de água potável, péssimas condições 
de conforto e higiene, ausência de banheiros para os trabalhadores e alojamentos de 
palha e lona no meio da mata, sem qualquer tipo de proteção. 
 À época do julgamento do caso, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região 
(TRF1) concluiu que, de acordo com a tipificação do artigo 149 do Código Penal, o 
delito não estava caracterizado, pois, apesar das violações à legislação trabalhista, 
não havia cerceamento à liberdade dos trabalhadores da fazenda, absolvendo o 
proprietário da fazenda. 
 O MPF, ao ingressar com o REsp em questão, sustentou que o referido artigo 
descreve crime de ação múltipla, ou seja, pode representar diversas condições 
relacionadas às condições degradantes de trabalho. Esse tem sido o entendimento 
do Supremo Tribunal Federal: “a escravidão moderna é sutil e envolve uma série de 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art149
5 
 
fatores, desde a permanência dos trabalhadores no local por não terem como se 
locomover, sem dinheiro, até a frustração de direitos básicos de saúde”. 
 O recente julgado fortalece a jurisprudência brasileira no sentido de confirmar 
esforços no combate ao trabalho forçado, ampliando a visão para as condições que o 
configuram. 
 É de suma importância que o setor privado estabeleça rigorosos critérios no 
impedimento da continuidade do trabalho forçado em seus diversos setores, segundo 
o direcionamento da OIT; mas sem a devida intervenção dos setores públicos 
responsáveis pelas normas legislativas e por sua aplicabilidade, tais esforços se 
tornariam inúteis. É responsabilidade da sociedade como um todo, não podendo ser 
seccionado em partes distintas. 
 
REFERÊNCIAS: 
Combate ao Trabalho Escravo: um manual para empregadores e 
empresas/Organização Internacional do Trabalho. - Brasilia: OIT, 2011. 
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Sexta-Turma-
reitera-que-delito-de-trabalho-escravo-nao-exige-restricao-a-liberdade.aspx.Acesso 
em: 02/11/2020. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 20ª edição. São Paulo: 
Saraiva, 2018. 
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. 20ª edição. São Paulo: Saraiva, 2018.

Continue navegando