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1 O ECG registra a atividade elétrica do coração refletindo os eventos em conjunto de suas células funcionalidade e a condução dessa atividade elétrica. Dessa forma, torna-se essencial o conhecimento de noções da eletrofisiologia cardíaca para entender tanto traçados normais quanto patológicos. A atividade elétrica cardíaca provém das diferenças na composição ou concentração iônica entre os meios intra e extracelular e da sucessão cíclica de ativação celular (inversão do potencial de membrana) condicionada pelos fluxos transmembrana desses íons. Os principais responsáveis pelos eventos da atividade elétrica cardíaca são sódio, potássio, cálcio, magnésio e cloro, sendo potássio e sódio os mais relevantes. Durante o estado de repouso da membrana celular (stead state), a distribuição iônica entre os meios intra e extracelular apresenta o íon potássio (K+ ) em maior concentração no meio intracelular, com tendência, portanto, a migrar para fora da célula (por diferença de concentração), e o íon sódio (Na+ ) em maior concentração no meio extracelular, com tendência a migrar para o interior celular (Figura 1.7). Nesse cenário, considerando o tamanho do íon e o fato de a permeabilidade ser cerca de cinquenta vezes maior que a do Na+ , o K+ é considerado em seus fluxos transmembrana o principal íon para a manutenção da condição de potencial de repouso. A saída de K+ da célula, até que a força elétrica (para dentro) e a força difusional (para fora) sejam equivalentes, cria uma diferença de potencial entre o meio intracelular e o meio extracelular de cerca de – 90 mV, mantendo o interior celular negativo em relação ao meio extracelular; essa diferença de potencial de –90 mV mantém a célula cardíaca em repouso com a condição polarizada. 2 Durante o repouso, todos os pontos da membrana extracelular possuem o mesmo potencial, bem como o meio intracelular, mantendo-se a diferença entre as cargas elétricas intra e extracelulares. Esse potencial de repouso é mantido pela resistência e pela condutância específicas aos íons envolvidos no processo. Quando ocorre a ativação do potencial de membrana, há redução da resistência e aumento da condutância aos íons intra e extracelulares, permitindo seu deslocamento em sintonia com seus gradientes eletroquímicos, gerando inversão da polaridade (de –90 mV para +30 mV) e consequente despolarização celular. A despolarização celular configura o potencial de ação registrado em gráfico. O potencial de ação é dividido em cinco fases, de acordo com a ativação de canais iônicos específicos, o fluxo iônico e a consequente polaridade transmembrana, a saber: • FASE 0: FASE 1: FASE 2: FASE 3: FASE 4: Fase ascendente rápida, quando corre a despolarização pela entrada rápida de Na+ na célula. • Repolarização precoce, quando há um pequeno deslocamento da curva em direção à linha de potencial zero por uma diminuição abrupta da permeabilidade ao Na+ , da saída de K+ e da entrada de Íons Cloro (Cl– ). Repolarização lenta, também conhecida como “meseta” ou “plateau”. Nesta fase há uma relativa estabilização em torno da linha de potencial zero, havendo saída de K+ e entrada de Íons Cálcio (Ca2+). Repolarização rápida, quando há deslocamento da curva para a linha de base, voltando o potencial da membrana ao valor de –90 mV. É decorrente principalmente do grande efluxo de K+ da célula. Ao final desta fase o potencial basal da membrana está recuperado, porém com uma distribuição iônica invertida. Repouso elétrico ou fase diastólica, estando a linha estável em –90 mV, há troca de íons com a saída de Na+ e a entrada de K+ com gasto energético, além da saída de Ca2+, para haver recuperação do perfil iônico inicial. • 3 As células cardíacas podem apresentar dois tipos distintos de potencial de ação: o de resposta rápida e o de resposta lenta. Potencial de ação de resposta rápida Potencial de ação de resposta lenta Encontrado nas células contráteis e nos sistemas especializados de condução. É o encontrado principalmente no nó sinusal e no nó atrioventricular (AV). A principal diferença é a ausência dos canais rápidos de Na+, sendo o influxo de Ca2+, através de canais especializados, o responsável pela despolarização. A repolarização ocorre de maneira semelhante, pelo influxo de K+ para dentro da célula após a interrupção do influxo de Ca2+. Outra diferença relevante está no fato de que essas células não possuem potencial de repouso fixo, havendo despolarização de maneira gradual (despolarização diastólica), que atinge potenciais diastólicos máximos de –65 mV (nas células de resposta rápida é de –90 mV). A despolarização nessas células ocorre quando os limiares em torno de –45 mV a –40 mV são alcançados. 4 O nó SA dispara espontaneamente (um evento invisível no ECG) e uma onda de despolarização começa a se espalhar de dentro para fora pelo miocárdio atrial (igual a quando uma pedra é atirada em um lago calmo e sereno). A despolarização das células miocárdicas atriais resulta em contração atrial, a onda P. Entretanto, como o nódulo SA localiza-se do lado direito, a despolarização do átrio direito começa e termina antes do que a do átrio esquerdo. Dessa forma, os dois componentes da despolarização dão a conformação da onda P, como mostrada abaixo: Após a despolarização atrial, a condução elétrica é canalizada pelo septo interventricular, visto que as válvulas cardíacas impedem a comunicação direta com os ventrículos. Na parede septal, um segundo nódulo, o AV, diminui a velocidade de condução (uma pausa elétrica no ECG), a fim de o ventrículo conseguir se encher adequadamente. Observação: O sistema nervoso autônomo (SNA) possui influência tanto no nó SA quanto no AV, reduzindo a velocidade da corrente com a estimulação vagal e acelerando com a simpática. 5 Após a corrente passar pela parede septal, esta atinge rapidamente os ventrículos por meio de um sistema especializado de condução ventricular: Feixe de His Ramos do feixe Fibras terminais de Purkinje O feixe de His divide-se em dois ramos: O RAMO DIREITO O RAMO ESQUERDO Estimula o ventrículo direito e o terço direito do septo interventricular. Estimula o ventrículo esquerdo e os restantes dois terços do septo interventricular. Permanece indiviso O ramo esquerdo é dividido em dois pequenos ramos ou fascículos. O fascículo anterior O fascículo posterior Transmite o impulso para a região ântero- superior do ventrículo esquerdo. Transmite o impulso para a região póstero-inferior do ventrículo esquerdo Qualquer alteração em um desses três ramos provoca um distúrbio de condução interventricular que se reflete em alterações no electrocardiograma. 6 A despolarização do miocárdio ventricular produz a contração ventricular. Ela é marcada por uma grande deflexão no ECG chamada de complexo QRS. A amplitude do complexo QRS é muito maior do que a da onda P porque os ventrículos têm muito mais massa muscular do que os átrios. O complexo QRS consiste em várias ondas distintas, que são designadas de acordo com cada deflexão: 1. Se a primeira deflexão for para baixo, é chamada de onda Q. 2. A primeira deflexão para cima é chamada de onda R. 3. Se houver uma segunda deflexão para cima, ela é chamada R’. 4. A primeira deflexão para baixo, após uma deflexão para cima, é chamada de onda S. Observação: Caso não haja uma primeira deflexão para baixo e o complexo se iniciar na deflexão para cima, a próxima deflexão para baixo será a onda S, não a Q. Se toda configuração consistir em uma única deflexão para baixo, será chamada de onda QS. A primeira porção do complexo QRS, a onda Q, representaa despolarização do septo interventricular pelo fascículo septal do ramo esquerdo. 7 Após a despolarização dos ventrículos, as células miocárdicas passam por um período refratário no qual são resistentes a outra estimulação. Neste meio tempo, as células repolarizam. No ECG essa repolarização ventricular é representada pela onda T. Por ser um processo mais lento que a despolarização, a onda T é mais larga do que o complexo QRS. O Eletrocardiograma (ECG) é um exame que permite a reprodução gráfica da atividade elétrica do coração. Representa a despolarização atrial. É positiva em D1, D2 e aVF e negativa em aVR. Duração de até 100ms (dois quadradinhos e meio). Formado pelas Ondas Q, R e S, que, juntas, representam a despolarização ventricular. A duração do complexo não deve ultrapassar 120 ms (0,12 segundos). O eixo normal fica entre – 30º e + 90º. O fim do complexo QRS é chamado “ponto J”. Do início da ONDA P até o início da atividade do COMPLEXO QRS. Mede a condução átrio- ventricular. Representa o tempo entre a despolarização dos átrios até a despolarização inicial dos ventrículos. Duração normal = 120 – 200ms A onda T corresponde à repolarização ventricular. A onda T normal é assimétrica por apresentar uma ascendência lenta e descendência rápida. Sua orientação é variável dependendo da derivação analisada. O esperado é que ela seja encontrada nas derivações DI, DII, V3 a V6 sendo positiva. É o intervalo entre o início do COMPLEXO QRS e o final da ONDA T. Representa a primeira despolarização ventricular até a última, marcando assim toda a atividade ventricular. 8 Sua duração pode variar de 0,30 a 0,44 segundos. É um segmento marcado do fim do COMPLEXO QRS ao fim da ONDA T. Representa o intervalo entre o fim da despolarização ventricular e o início da repolarização ventricular. É comparável à linha de base (intervalo PR) para verificar se o mesmo se encontra nivelado, ou seja, normal. Os seus desnivelamentos são para cima (supradesnivelamento) ou para baixo (infradesnivelamento). Desnível pode ser de até 1 mm (V2 e V3 dependem do sexo e idade). Tem o significado ainda indefinido. Sempre segue a polaridade da onda T. Presente somente em V2 a V4 Frequência cardíaca= 1500/número de quadradinhos entre dois intervalos R-R. Pode também ser realizada pela “regra dos quadradões”. Cada quadradão possui 5 quadradinhos. Frequência cardíaca= 300/número de quadradões entre dois intervalos R-R. Onda P precedendo o QRS em todas as derivações e positiva em DI, DII e aVF, negativa em aVR. Frequência: entre 60 e 100 bpm. Intervalo PR normal entre 0,12 a 0,20s. 9 A forma mais precisa para calcular a frequência cardíaca (FC) no ECG é também trabalhosa. Para isso, podemos dividir 1500 pelo nº de milímetros entre 2 complexos QRS (intervalo R-R). Utilizamos esse número porque, como a velocidade padrão do papel no eletrocardiograma de 25 mm/s, em 60 segundos (ou 1 minuto), seriam percorridos 1.500 mm. Exemplo: Bem, isso não parece ser muito prático para usar no dia a dia. Não teria uma opção mais simples? Sim, há. Uma opção mais rápida para a prática é dividir 300 pelo número de quadrados (de 5mm) entre os R-R no ECG. Assim, uma distância entre o R-R de 2 quadrados (que seria 10mm) representaria uma FC de 150bpm; de 3 quadrados, 100bpm; de 4 quadrados, 75bpm; de 5 quadrados, 60bpm, e assim por diante. No traçado acima, por exemplo, como a distância entre o R-R é de aproximadamente 4 quadrados (de 5mm cada), visualmente saberíamos que a FC estaria bem próxima de 75bpm. 10 Estas duas regras faladas acima funcionam apenas em casos de ritmo regulares. E no caso de ritmos irregulares, como na fibrilação atrial? Para isto, basta saber que o traçado de ECG registra a atividade elétrica durante 10 segundos. Ou seja, se olharmos para o D2 longo na parte de baixo do ECG podemos contar a quantidade batimentos que ocorrem durante 10s. Após ver isto, basta multiplicar este número por 6 para chegar à quantidade de batimentos em 60 segundos. Ou seja, fazendo um resumo:
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