Prévia do material em texto
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Antonio Rodolfo de Siqueira Viviane Guidotti Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 M278e Siqueira, Antonio Rodolfo de. Educação de jovens e adultos / Antonio Rodolfo de Siqueira, Viviane Guidotti. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 216 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-052-8 1. Educação de jovens. 2. Educação de adultos I. Guidotti, Viviane. II. Título. CDU 37.022 Educacao_Jovens_e_Adultos_1-4.indd 2 16/03/2017 11:48:13 A prática docente na EJA: a produção do saber escolar e a cidadania Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a pratica docente na EJA considerando as exigências previs- tas nas Diretrizes, respeitando as especifi cidades e a pluralidade do educando adulto. Defi nir a pratica docente na EJA de forma contextualizada com a realidade do educando adulto, de forma a estimular a permanência e continuidade dos seus estudos. Discutir a pratica docente a partir de uma abordagem dialógica, critica e refl exiva, com vistas a estimular a expressão da subjetividade do educando enquanto cidadão. A prática docente na EJA: a LDB e as especificidades do educando adulto A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, nº art. 37, defi ne que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino destinada ao público que, por diversos motivos, não teve acesso ou foi excluído do sistema educacional ou, ainda, que não deu continuidade aos estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria. É defi nido, também, que essa modalidade tem como fi nalidade ampliar a visão de mundo desses estudantes e prepará-los para o mercado de trabalho. O objetivo da EJA é despertar o potencial de cada um, fazendo com que o sujeito assuma seu devido lugar na sociedade e saiba utilizar o exercício pleno da cidadania. A Educação de Jovens e Adultos precisa ser desenvolvida de modo a conduzir o aluno a apreender de forma analítica a realidade em que está inserido, para que tenha condições de enfrentá-la de maneira crítica e reflexiva. O trabalho na EJA, não pode ser um ato mecânico, e os alunos Educacao_jovens_U2_C02.indd 98 16/03/2017 11:52:52 não podem ser vistos como objetos, sem história e conhecimentos da vida. A Educação de Jovens e Adultos, deve ser pautada no respeito mútuo, por meio de diálogos e reflexões críticas da sociedade. E o grande responsável por este árduo trabalho é o professor, aquele profissional com curso superior em Licenciatura e apto a ensinar e com- partilhar seus conhecimentos no cotidiano da sala de aula, por intermédio de métodos e práticas de ensino. Ao entender a relação existente entre professor e prática docente, construiremos atividades educativas efetivas para a EJA, atendendo aos diversos grupos sociais, que caracterizam a diversidade da sala de aula. É sempre importante destacar qual é o conhecimento do mundo, de socie- dade e quais são as experiências que esse profissional possui, pois, de certa forma, seremos conduzidos por esse sujeito, para um mundo mágico a ser descoberto, que poderá transformar vidas e sonhos. O professor é o mediador da cultura e dos saberes. Para Souza (2011), é preciso definir qual é a concepção que marca a ação do professor. Concepção é o ponto de partida, que fundamenta a ação. É preciso verificar se essa é uma concepção tradicional ou se é uma concepção crítica que orienta o pensar e o fazer educativo. Para Mizukami (1986), a abordagem tradicional do ensino identifica o aluno com parte de um mundo que ele irá conhecer, isto é, a realidade será transmitida a ele. Nessa visão a educação se restringe à instrução e à transmissão de conteúdos, preocupando-se com a armazenagem de co- nhecimentos. Os professores, aqui, são os detentores do saber e instruem os alunos com aulas expositivas e com a verificação da memorização dos conteúdos. Seguindo essa abordagem tradicional de ensino, a Educação de Jovens e Adultos é caracterizada como uma réplica da educação de crianças, preocu- pando-se excessivamente com as técnicas de ensino; os conteúdos são não fazem parte da realidade de cada aluno e os professores procuram manter uma distância de seus educandos, sem formar nenhum vínculo. A técnica de oralidade, da escrita e da leitura, nessa abordagem, é compreendida como um processo de decodificação. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (BRASIL, 2000), é fundamental um modelo pedagógico próprio, que propicie a equi- dade, que respeite a diferença e que tenha proporcionalidade, com disposição dos componentes curriculares de forma a garantir práticas pedagógicas que assegurem a seus alunos a construção de uma identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica. 99A prática docente na EJA: a produção do saber escolar e a cidadania Educacao_jovens_U2_C02.indd 99 16/03/2017 11:52:52 É importante que você entenda que as Diretrizes não são normas, mas sim norteadoras de um processo educacional nacional, que possuem certa flexibilidade, variando de acordo com as necessidades regionais. Quando falamos de Educação de Jovens e Adultos, falamos de uma educação para o cidadão com escolarização incompleta ou ainda não iniciada, que vai em busca de educação, ainda que tardiamente. A interrupção ou o impedimento, ocorrem em um contexto amplo de exclusão social e cultural, que poderá estar presente novamente nessa nova oportunidade de escolarização, principalmente quando esses estudantes são negros, pobres, oprimidos e excluídos. Os docentes da EJA devem reconhecer seu aluno como um sujeito de conhecimento e aprendizagem, com especificidades e identidade cultural distintas, ainda que composta por histórias de vidas bastante diferenciadas, mas marcadas pela exclusão ou marginalidade social. Para Fonseca (2012), os educadores devem se comprometer com uma po- lítica de inclusão e de garantia de espaço de jovens e adultos na escola, como sujeitos socioculturais que apresentam perspectivas e expectativas, desafios e desejos próprios em relação à educação escolar. A evasão escolar, muitas vezes, é responsabilizada pelo fracasso na apren- dizagem, mas sabe-se que os alunos que abandonam as escolas, o fazem por diversos fatores sociais e econômicos. Cabe ao docente ressignificar sua prática, respeitando as diferenças individuais e culturais presentes na sala, a fim de formar cidadãos reflexivos, críticos, com liberdade e senso de responsabilidade. E o docente responsável que tem paixão por aquilo que faz contribui muito na formação desse cidadão, ao assumir seu verdadeiro papel político na educação. A EJA garante o direito à educação e à aprendizagem, de maneira viável à toda a população. É importante ressaltar que os Parâmetros Curriculares Nacionais são con- traditórios e não atendem integralmente às necessidades do aluno com relação à preparação para o mercado de trabalho e à formação do caráter do cidadão de modo mais abrangente, o que é (ou deveria ser) inerente ao processo educa- tivo escolar. Para Barcelos (2012), o ensino não pode ser exclusivista, mas sim pautar-se pela busca de uma formação aberta à diversidade, contemplando, dessa forma, as diferentes dimensões e possibilidades do ser humano. A EJA não pode continuar seguindo as mesmas orientações e perspectivas curriculares que nos levaram aos modelos atuais de currículos nas demais modalidades de ensino. O currículo e as práticas pedagógicas escolares precisam ser repensados, a fim de criar uma visão que alargue esse repertório de componentes curri- culares e ajude a conduzir os alunos à compreensão do mundo e dos espaços em que estão inseridos. Educação de Jovens e Adultos100 Educacao_jovens_U2_C02.indd 100 16/03/2017 11:52:52 A prática docente contextualizada à realidade do educando A modalidade de ensino de jovens e adultos recebe alunos de diversos níveis culturais e educacionais, o que fazda sala de aula um ambiente rico e marcado pela diversidade cultural. Muitos ali se encontram em idade de pertencer ao mundo do trabalho, outros já abandonaram a escola diversas vezes, por inúmeros motivos. No entanto, ao avaliar a questão, é importante que você lembre de que aprender é um processo que ocorre ao longo de toda a nossa vida e que não aprendemos somente nas escolas, mas em todos os espaços sociais, construindo um conhecimento popular ou tácito. Quando assumimos, enquanto educadores, a tarefa de trabalharmos com a EJA, primeiramente devemos nos perguntar: “Qual é o meu público?” – sim, público! Encontramos na EJA alunos que trazem experiências de vida bem distin- tas; há idosos, pessoas com déficit de atenção (antes excluídas das escolas) ou portadoras de outros problemas físicos e intelectuais, operários (que em sua infância e juventude também ficaram fora da escola) e jovens (que por questões, muitas vezes, de ordem moral e familiar, evadiram-se da escola e que, agora, mais responsáveis e cônscios, querem voltar aos estudos em busca de certificados). Enfim, um público com perfil variado e heterogêneo. É imprescindível que o educador conheça, portanto, cada caso, e que possa compor seu plano de metas e trabalho didático de acordo com essa realidade. Para isso, primeiramente é preciso planejar a aula de acordo com a realidade do educando. Em que ele trabalha? Qual é a sua realidade sociocultural? Como ensinar Língua Portuguesa e Matemática utilizando-se de ferra- mentas do dia a dia do educando? Como explicar Ciências, História e Geografia utilizando-se de recursos e meios que tornem a aula mais interessante? Como estimular a reflexão, fazendo com que os alunos busquem ainda mais o conhecimento e que sejam, de fato, protagonistas do próprio aprendizado? A prática docente é um assunto muito discutido no sistema educacional, que, muitas vezes a aponta como a única responsável pelo sucesso ou fracasso do aluno da EJA e como se o professor fosse um profissional descompromissado, desinteressado, desinformado e desatualizado, tornando-se o grande vilão da educação – embora o professor seja parte essencial do processo de construção de uma escola de qualidade. A prática educativa voltada aos princípios da educação inclusiva exige o reconhecimento do direito irrestrito a uma educação de qualidade para todos os alunos, independentemente das características orgânicas, psicossociais, 101A prática docente na EJA: a produção do saber escolar e a cidadania Educacao_jovens_U2_C02.indd 101 16/03/2017 11:52:52 culturais, étnicas ou econômicas que eles possam apresentar. Ela significa, também, educar para a diversidade, gerando empenho na busca constante da equidade na aprendizagem e cuidado para que as “[...] desigualdades diante da escola atenuem-se e, simultaneamente, para que o nível do ensino se eleve.” (PERRENOUD, 2001, p. 9) Os modelos de educação já cristalizados precisam ser superados, pois não atendem às características e necessidades do aluno e da comunidade escolar como um todo. Eles precisam ser reformulados de maneira que venham a considerar a complexidade e a diversidade como aspectos inerentes aos con- textos social e educacional. Segundo Leite (2006), a educação da EJA, compreendida como atenção à diversidade, convida o currículo a modificar-se para atender aos diferentes interesses, ritmos de aprendizagem e às mais diversas formas de aprender, incorporando as diferenças como elementos enriquecedores do processo ensino-aprendizagem. O exercício da docência se constitui em um dos níveis de concretização do currículo sobre o qual o professor opera transformações, ao priorizar determinados conteúdos ou ao escolher a forma como irá abordá-los, dentro de uma relativa autonomia. O raciocínio pedagógico empregado pelo docente deve ser fruto de um processo de reflexão sobre a própria prática, uma vez que as transformações operadas por ele revelam uma intencionalidade, uma visão de educação (SACRISTÁN, 2000). Se pretendemos indicar o grande desafio da atual educação, podemos afirmar que se trata de dar forma, significado e sentido, por meio de prática refletida, que nos remeta a considerar que aprender e usar o que se aprende são ações distintas, porém correlatas, e necessárias na atualidade. Espera-se que o professor, como representante experiente de uma cultura, conheça as concepções e domine as técnicas e os protocolos, para fazer cumprir sua função social. A atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que rege a educação nacional, orienta que os conteúdos trabalhados nas salas de aulas não continuem sendo abordados de forma fragmentada, como era feito no passado, mas que sejam trabalhados de modo a explicitar ao aluno que as ciências diversas são ligadas entre si por diversos aspectos, gerando, portanto, uma visão de conjunto (BRA- SIL, 1996). O ensino da EJA deve basear-se na reflexão e no debate, procurando aproveitar as potencialidades de seus alunos, assim como utilizar os saberes sociais que eles já construíram a partir de suas vivências, principalmente as ligadas ao mundo do trabalho. Partindo daquilo que o aluno já conhece, cria-se a possibilidade de se estabelecer um diálogo entre o conhecimento informal e Educação de Jovens e Adultos102 Educacao_jovens_U2_C02.indd 102 16/03/2017 11:52:53 o saber escolar, trazendo questionamentos aos estudantes e compondo novas chaves para a construção de uma nova educação e uma nova sociedade. Trabalhar a partir do interesse dos alunos não quer dizer que o professor precisará deixar de ministrar os conteúdos que fazem parte do seu plano de trabalho, pois o saber formal é construído a partir de problemas do cotidiano. É fundamental, no entanto, que o professor dê um tratamento crítico àquilo que está analisando em conjunto com os alunos. Um tratamento crítico realiza- -se com o desenvolvimento de debates, análise e construção de argumentos, respeitando os diferentes pontos de vistas e a diversidade de opiniões. Não há construção de conhecimento nem interesse de se construir conhecimento quando o principal envolvido, nesse caso o aluno, se sente afastado daquilo que deveria aprender. Tentar prender conteúdos que não apresentam significado e nem relação com seu cotidiano, torna a matéria confusa e, muitas vezes, incompreensível e sem sentido, o que gera des- motivação eleva o aluno a desistir de continuar seus estudos. Diante disso, faz-se necessária uma mudança de postura dos professores, que devem reavaliar suas práticas, reorganizar os conteúdos e promover mudanças de atitude nas práticas em sala de aula. O professor deve, ainda, estabe- lecer desafios estimulantes para seus alunos buscarem o conhecimento, encontrando significado e prazer na aprendizagem. Para saber mais sobre esse processo, leia o texto Documento Final do Seminário Nacional de Educação de Jovens e Adultos, disponível em: http://portal.mec.gov.br/component/ tags/tag/32709?start=20 Estimular o educando enquanto cidadão a partir de uma abordagem dialógica, crítica e reflexiva Os conteúdos escolares são muito importantes para a formação de uma comu- nidade de aprendizagem. A escola e os seus docentes devem buscar promover a integração dos alunos com o contexto escolar e comunitário. 103A prática docente na EJA: a produção do saber escolar e a cidadania Educacao_jovens_U2_C02.indd 103 16/03/2017 11:52:53 A ressignificação dos conteúdos passa pela construção de uma grade curricular e deve seguir alguns preceitos, tais como: Definição do cenário em que os alunos estão inseridos. Definição do perfil dos alunos. Definição dos temas significativos para os estudantes. Definição do tipo de cidadãos que se pretende formar. Todos esses aspectos devem ser trabalhos dentro do projeto político-peda- gógico da escola. Esse é um projeto que se caracteriza por ser uma construção coletiva, flexível, capaz de gerar mudanças e ajustes de acordo com o processo do seudesenvolvimento. A grade curricular é o centro das atividades escolares e deve ser desen- volvida dentro de um novo paradigma educacional, que proponha mudan- ças e pretenda formar cidadãos competentes, com habilidades para resolver situação-problema no seu cotidiano. A Educação de Jovens e Adultos, deve quebrar o vínculo com a abordagem tradicional que impera na educação, na qual existe a preocupação de armazenagem de conhecimento, o predomínio da metodologia expositiva e a avaliação baseada na memorização de conteúdos. A escola precisa assumir uma concepção dialógica de educação defendida por Paulo Freire, caracterizada pela busca da interação entre homem e mundo, sendo o sujeito entendido como elaborador e criador de conhecimentos. Essa concepção defende a ideia de que ao buscar a formação do sujeito, torna-se possível pensar no papel da educação na construção de uma sociedade mais justa e democrática. O homem é pensado e educado tendo como pressuposto sua cultura e a sua prática social, utilizando o diálogo como meio de socialização de ideias capazes de promover transformações na sociedade. A metodologia se caracteriza pelo diálogo e pela problematização dos conteúdos escolares em relação aos aprendizados disponíveis no mundo e na vida cotidiana dos alunos. De acordo com Souza (2011), na concepção dialógica/problematizadora da EJA existe uma preocupação com o desenvolvimento da consciência política do cidadão, por meio de um trabalho coletivo e de valorização da prática social dos sujeitos envolvidos no processo educacional. Dessa forma, a alfabetização deixa de ser um processo de aquisição de escrita, leitura e ortografia e torna-se o processo de interpretação dos conteúdos que envolvem as palavras e o discurso. A escola, portanto, é uma mola propulsora que incentivará a busca contínua de uma educação emancipadora, na qual as práticas focalizarão o conteúdo social e o diálogo, pro- Educação de Jovens e Adultos104 Educacao_jovens_U2_C02.indd 104 16/03/2017 11:52:53 porcionando o desenvolvimento da consciência crítica. Ao se tornarem cidadãos reflexivos, os alunos ampliam seus conhecimentos e sua capacidade cognitiva, tornando-se autônomos, críticos e responsáveis pela transformação da sociedade. Conscientizar a sociedade significa desenvolver ações de integração baseadas no respeito a valores fundamentais como os direitos humanos e, sobretudo, reconhecer que os indivíduos devem ser senhores do seu próprio destino (MELO NETO, 2003). Na concepção dialógica, a preocupação é trabalhar com os conhecimentos de modo que o aluno consiga utilizá-los nos seus afazeres do cotidiano, ga- nhando complexidade, à medida que forem sendo debatidos no grupo. Partir da realidade do aluno não significa que temas que não fazem parte da realidade material dos sujeitos não devam ser abordados, mas sim que sejam planejadas condições para promover reflexões críticas sobre esses conteúdos, oportunizando o conhecimento, a compreensão e o desenvolvimento de es- tratégias de alternativas de soluções (SCHWATZ, 2012). Para Souza (2011), a educação e a alfabetização constituem o ato de conhe- cimento que emancipa e que motiva para as transformações e modificações do meio. Percebe-se a necessidade de que as teorias sejam ressignificadas, (re) interpretadas, reconstruídas e, finalmente, compreendidas. O professor precisa, com base nos seus conhecimentos prévios, estabelecer relações que articulem as teorias com as produções dos alunos e as práticas que estão sendo implementadas. O pensamento reflexivo é despertado no estudante com interesse em resolver uma situação-problema, desenvolvendo sua capacidade de raciocínio, pregando a dinâmica do ensino e a motivação em busca de novos desafios. O aluno percebe sua importância na educação, deixando de ser um mero expectador, receptor de conhecimentos, para transformar-se em um produtor de conhecimentos, tornando-se um cidadão com pensamento reflexivo, que questionará a forma como a sociedade se apresenta, tendo consciência da sua capacidade de mudá-la e ou de transformá-la por intermédio das suas ações. A educação colabora não apenas para a formação intelectual, mas também para a formação moral e cultural das pessoas. O que se almeja alcançar é a formação de um cidadão capaz de entender a educação de forma reflexiva, a fim de incorporá-la no seu mundo e nas relações com seus semelhantes. A concepção dialógica dos professores poderá contribuir para que a interação professor-aluno seja marcada pelo respeito mútuo e pela tolerância, valores fundamentais para a construção de cidadãos que contribuem para o desen- volvimento de uma sociedade mais justa e igualitária. Como afirma Haydt (2006), na relação professor-aluno, o diálogo é fun- damental. A atitude esperada no processo de ensino-aprendizagem, é aquela 105A prática docente na EJA: a produção do saber escolar e a cidadania Educacao_jovens_U2_C02.indd 105 16/03/2017 11:52:53 que parte de uma questão problematizadora para desencadear o diálogo, no qual o professor transmite o que sabe, aproveitando os conhecimentos prévios do aluno. Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, explica ou resolve a situação-problema que iniciou a discussão. A interação professor-aluno poderá, dessa forma, contribuir para a efetividade do processo de ensino e aprendizagem, à medida que o professor valorize os conhecimentos prévios dos estudantes e permita a sua expressão por meio do diálogo. O docente precisa entender que ensinar não é somente transferir o seu conhecimento, mas sim criar oportunidades, para que o aluno produza seu próprio saber, desenvolvendo. desta maneira, a criticidade. O que se deseja com uma educação conscientizadora é despertar no aluno o interesse pela busca de soluções, é promover uma educação voltada à cidadania. 1. Professores que trabalham com a EJA em uma escola pública estudam a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no artigo 37, que define a Educação de Jovens e Adultos. A partir do que diz esta legislação é correto afirmar: a) A LDB define a EJA como modalidade de ensino destinada a pessoas que não tiveram acesso ou foram excluídos do sistema educacional. b) A LDB pouco ou quase nada interfere nas propostas que são pensadas para a oferta de EJA. c) Somente a LDB se preocupa em reforçar a questão que a Educação de Jovens e Adultos deve se fundamentar em propostas que considerem a integração do planejamento da EJA com a diversidade cultural. d) Essa modalidade é destinada a jovens e adultos que não deram continuidade em seus estudos somente para aqueles que não tiveram o acesso ao Ensino Fundamental. e) A legislação é clara em afirmar que o aluno que não estudou no período certo deverá pagar por sua formação. 2. Uma escola que oferece a modalidade EJA de ensino realiza um seminário sobre as Diretrizes que norteiam o trabalho dos professores. Sobre as DCNs o seminário deveria debater de forma correta o que consta em qual alternativa? a) As DCNs sobrepõem a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. b) As DCNs definem normas norteadoras do processo de ensino e aprendizagem da Educação de Jovens e Adultos. c) As Diretrizes não são normas, mas sim, norteadores de um processo educacional Educação de Jovens e Adultos106 Educacao_jovens_U2_C02.indd 106 16/03/2017 11:52:53 nacional, que possuem certa flexibilidade, de acordo com as necessidades regionais. d) O processo avaliativo da EJA deve seguir rigorosamente o que consta nas DCNs. e) A escola que oferece EJA não precisa considerar as especificidades regionais para organizar seu planejamento. 3. Em relação ao trabalho e a abordagem realizada na prática docente da EJA é importante ressaltar: a) Quanto mais aproximada do ensino regular melhor. b) Preocupa-se com a formação de conteúdos na área do Português. c) O foco deste trabalho pedagógico deve estar centrado na construção do pensamentológico-matemático d) Que o trabalho docente precisa atentar as questões ambientais para os alunos desta modalidade. e) Deve acontecer de forma contextualizada com a realidade do educando adulto, de forma a estimular a permanência e continuidade dos seus estudos. 4. Sobre o alunado que faz parte da EJA, cabe ao professor construir sua proposta considerando que: a) É imprescindível que o educador conheça caso a caso e possa compor seu plano de ação a partir desta realidade. b) Os alunos que apresentam alguma deficiência são os que precisam de uma atenção exclusiva. c) Os alunos idosos têm a preferência, uma vez que existe um estatuto do idoso acompanhando este processo de inclusão. d) As turmas que apresentam alunos operários necessitam que haja prioridade de atendimento, uma vez que estes alunos sejam muito cansados ao turno da aula. e) Não há necessidade que o professor se preocupe com estas questões e sim com o grau de exigência de sua proposta pedagógica. 5. O trabalho docente da modalidade de EJA precisa respeitar e estimular os aspectos subjetivos de seus alunos favorecendo a (re)construção do sujeito enquanto cidadão. Este desafio precisa que o professor esteja: a) Sempre em contato com o ensino superior. b) Preocupado com a sua valorização profissional c) Em constante reflexão sobre a proposta desenvolvida que lhe ajudam avaliar, criticamente, pontos positivos e aspectos que necessitam de ajustes. d) Envolvido, somente, com as propostas do interior da escola. e) Comprometido com os conteúdos que são desenvolvidos na EJA. 107A prática docente na EJA: a produção do saber escolar e a cidadania Educacao_jovens_U2_C02.indd 107 16/03/2017 11:52:53 BARCELOS, V. Educação de Jovens e Adultos: currículo e práticas pedagógicas. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases para a educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 20 fev. 2017. BRASIL. Parecer nº 11, de 10 de maio de 2000. Diretrizes curriculares nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília DF, 5 maio. 2000. Disponível em: <http:// confinteabrasilmais6.mec.gov.br/images/documentos/parecer_CNE_CEB_11_2000. pdf>. Acesso em: 20 fev. 2017. FONSECA, M. V. A. T. Educação de Jovens e Adultos: EJA: formação e prática do educador: caderno de atividades. Valinhos: Anhanguera Publicações, 2014. FONSECA, M. C. F. R. Lembranças da matemática escolar: a constituição dos alunos da EJA ,como sujeitos da aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 2, p. 339-354, jul. 2012. FREIRE, P. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1989. HAYDT, R. C. C. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2006. LEITE, T. M. S. B. R. Alfabetização: consciência fonológica, psicogênese da escrita e conhecimento dos nomes das letras: um ponto de Intersecção. 2006. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006. MELO NETO, J. F. O que é popular. In: MELO NETO, J. F (Org.). O labirinto da educação popular. João Pessoa: UFPB, 2003. MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. SACRISTÁN, G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. SCHWATZ, S. Alfabetização de jovens e adultos: teoria e pratica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. SOUZA, M. A. Educação de Jovens e Adultos. Curitiba: Ibpex, 2011. Educação de Jovens e Adultos108 Educacao_jovens_U2_C02.indd 108 16/03/2017 11:52:53 Conteúdo: