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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3 2 A PRÁTICA DOCENTE NA EJA: A LDB E AS ESPECIFICIDADES DO EDUCANDO ADULTO.......................................................................................................................4 3 A PRÁTICA DOCENTE CONTEXTUALIZADA À REALIDADE DO EDUCANDO .... 6 4 ESTIMULAR O EDUCANDO ENQUANTO CIDADÃO A PARTIR DE UMA ABORDAGEM DIALÓGICA, CRÍTICA E REFLEXIVA ................................................ 9 5 OS PRINCÍPIOS DA ANDRAGOGIA ..................................................................... 12 6 O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO ADULTO ............................... 14 7 AÇÕES ANDRAGÓGICAS EM SALA DE AULA .................................................... 16 8 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL ................. 17 9 A IMPORTÂNCIA DA EJA E A INCLUSÃO SOCIAL ............................................. 20 10 A EJA NAS DIFERENTES FASES DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO: DE 1945 ATÉ HOJE ........................................................................................................ 25 11 PROPOSTA METODOLÓGICA: ADAPTAÇÃO À DIVERSIDADE ENCONTRADA EM SALA DE AULA .................................................................................................. 34 12 AÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E INTERCULTURAL PARA A EJA ......................................... 38 13 ADEQUAÇÃO DAS PRÁTICAS METODOLÓGICAS COM A REALIDADE DO ALUNO.......................................................................................................................44 14 PROPOSTAS ALTERNATIVAS PARA UMA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS.............................................................................................................49 15 O TEMA GERADOR ENQUANTO PROPOSTA ADEQUADA À ANÁLISE, À INTERPRETAÇÃO E À CRÍTICA CONSIDERANDO DIFERENTES CONTEXTOS CULTURAIS...............................................................................................................52 16 RELACIONAR A INTERDISCIPLINARIDADE COM PROJETOS DE ENSINO QUE UTILIZAM O TEMA GERADOR COMO PROPOSTA DE TRABALHO ..................... 57 2 17 LETRAMENTO E PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA E ESCRITA NO CONTEXTO DO ALUNO.................................................................................................................60 18 ALUNO COMO SUJEITO-AUTOR DE SUAS APRENDIZAGENS ....................... 62 19 A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DA ORALIDADE E DA PALAVRA ESCRITA..64 20 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO E O EJA .................. 66 21 LETRAMENTO DIGITAL NA EJA ........................................................................ 68 22 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ........... 71 23 O LEGADO DE PAULO FREIRE PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS...................................................................................................................74 24 A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR NO SISTEMA EDUCACIONAL DO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA ............................................................................. 77 25 A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO POPULAR E O MARCO DE REFERÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS CRIADO EM 2014 ....... 79 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 A PRÁTICA DOCENTE NA EJA: A LDB E AS ESPECIFICIDADES DO EDUCANDO ADULTO A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, nº art. 37, define que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino destinada ao público que, por diversos motivos, não teve acesso ou foi excluído do sistema educacional ou, ainda, que não deu continuidade aos estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria. É definido, também, que essa modalidade tem como finalidade ampliar a visão de mundo desses estudantes e prepará-los para o mercado de trabalho. O objetivo da EJA é despertar o potencial de cada um, fazendo com que o sujeito assuma seu devido lugar na sociedade e saiba utilizar o exercício pleno da cidadania. A Educação de Jovens e Adultos precisa ser desenvolvida de modo a conduzir o aluno a apreender de forma analítica a realidade em que está inserido, para que tenha condições de enfrentá-la de maneira crítica e reflexiva. O trabalho na EJA, não pode ser um ato mecânico, e os alunos não podem ser vistos como objetos, sem história e conhecimentos da vida. A Educação de Jovens e Adultos, deve ser pautada no respeito mútuo, por meio de diálogos e reflexões críticas da sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). E o grande responsável por este árduo trabalho é o professor, aquele profissional com curso superior em Licenciatura e apto a ensinar e compartilhar seus conhecimentos no cotidiano da sala de aula, por intermédio de métodos e práticas de ensino. Ao entender a relação existente entre professor e prática docente, construiremos atividades educativas efetivas para a EJA, atendendo aos diversos grupos sociais, que caracterizam a diversidade da sala de aula (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É sempre importante destacar qual é o conhecimento do mundo, de sociedade e quais são as experiências que esse profissional possui, pois, de certa forma, seremos conduzidos por esse sujeito, para um mundo mágico a ser descoberto, que poderá transformar vidas e sonhos. O professor é o mediador da cultura e dos saberes (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para Souza (2011), é preciso definir qual é a concepção que marca a ação do professor. Concepção é o ponto de partida, que fundamenta a ação. É preciso verificar 5 se essa é uma concepção tradicional ou se é uma concepção crítica que orienta o pensar e o fazer educativo. Para Mizukami (1986), a abordagem tradicional do ensino identifica o aluno com parte de um mundo que ele irá conhecer, isto é, a realidade será transmitida a ele. Nessa visão a educação se restringe à instrução e à transmissão de conteúdo, preocupando-se com a armazenagem de conhecimentos. Os professores, aqui, são os detentores do saber e instruem os alunos com aulas expositivas e com a verificação da memorização dos conteúdos. Seguindo essa abordagem tradicional de ensino, a Educação de Jovens e Adultos é caracterizada como uma réplica da educação de crianças, preocupando-se excessivamente com as técnicas de ensino; os conteúdos são não fazem parte da realidade de cada aluno e os professores procuram manter uma distância de seus educandos, sem formar nenhum vínculo. A técnica de oralidade, da escrita e da leitura, nessa abordagem, é compreendida como um processo de decodificação (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017).De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (BRASIL, 2000), é fundamental um modelo pedagógico próprio, que propicie a equidade, que respeite a diferença e que tenha proporcionalidade, com disposição dos componentes curriculares de forma a garantir práticas pedagógicas que assegurem a seus alunos a construção de uma identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica. É importante que você entenda que as Diretrizes não são normas, mas sim norteadoras de um processo educacional nacional, que possuem certa flexibilidade, variando de acordo com as necessidades regionais. Quando falamos de Educação de Jovens e Adultos, falamos de uma educação para o cidadão com escolarização incompleta ou ainda não iniciada, que vai em busca de educação, ainda que tardiamente. A interrupção ou o impedimento, ocorrem em um contexto amplo de exclusão social e cultural, que poderá estar presente novamente nessa nova oportunidade de escolarização, principalmente quando esses estudantes são negros, pobres, oprimidos e excluídos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os docentes da EJA devem reconhecer seu aluno como um sujeito de conhecimento e aprendizagem, com especificidades e identidade cultural distintas, 6 ainda que composta por histórias de vidas bastante diferenciadas, mas marcadas pela exclusão ou marginalidade social. Para Fonseca (2012), os educadores devem se comprometer com uma política de inclusão e de garantia de espaço de jovens e adultos na escola, como sujeitos socioculturais que apresentam perspectivas e expectativas, desafios e desejos próprios em relação à educação escolar. A evasão escolar, muitas vezes, é responsabilizada pelo fracasso na aprendizagem, mas sabe-se que os alunos que abandonam as escolas, o fazem por diversos fatores sociais e econômicos. Cabe ao docente ressignificar sua prática, respeitando as diferenças individuais e culturais presentes na sala, a fim de formar cidadãos reflexivos, críticos, com liberdade e senso de responsabilidade. E o docente responsável que tem paixão por aquilo que faz contribui muito na formação desse cidadão, ao assumir seu verdadeiro papel político na educação. A EJA garante o direito à educação e à aprendizagem, de maneira viável à toda a população (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É importante ressaltar que os Parâmetros Curriculares Nacionais são contraditórios e não atendem integralmente às necessidades do aluno com relação à preparação para o mercado de trabalho e à formação do caráter do cidadão de modo mais abrangente, o que é (ou deveria ser) inerente ao processo educativo escolar. Para Barcelos (2012), o ensino não pode ser exclusivista, mas sim pautar-se pela busca de uma formação aberta à diversidade, contemplando, dessa forma, as diferentes dimensões e possibilidades do ser humano. A EJA não pode continuar seguindo as mesmas orientações e perspectivas curriculares que nos levaram aos modelos atuais de currículos nas demais modalidades de ensino. O currículo e as práticas pedagógicas escolares precisam ser repensados, a fim de criar uma visão que alargue esse repertório de componentes curriculares e ajude a conduzir os alunos à compreensão do mundo e dos espaços em que estão inseridos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 3 A PRÁTICA DOCENTE CONTEXTUALIZADA À REALIDADE DO EDUCANDO A modalidade de ensino de jovens e adultos recebe alunos de diversos níveis culturais e educacionais, o que faz da sala de aula um ambiente rico e marcado pela 7 diversidade cultural. Muitos ali se encontram em idade de pertencer ao mundo do trabalho, outros já abandonaram a escola diversas vezes, por inúmeros motivos. No entanto, ao avaliar a questão, é importante que você se lembre que aprender é um processo que ocorre ao longo de toda a nossa vida e que não aprendemos somente nas escolas, mas em todos os espaços sociais, construindo um conhecimento popular ou tácito (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Quando assumimos, enquanto educadores, a tarefa de trabalharmos com a EJA, primeiramente devemos nos perguntar: “Qual é o meu público? ” – sim, público! Encontramos na EJA alunos que trazem experiências de vida bem distintas; há idosos, pessoas com déficit de atenção (antes excluídas das escolas) ou portadoras de outros problemas físicos e intelectuais, operários (que em sua infância e juventude também ficaram fora da escola) e jovens (que por questões, muitas vezes, de ordem moral e familiar, evadiram-se da escola e que, agora, mais responsáveis e cônscios, querem voltar aos estudos em busca de certificados). Enfim, um público com perfil variado e heterogêneo (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É imprescindível que o educador conheça, portanto, cada caso, e que possa compor seu plano de metas e trabalho didático de acordo com essa realidade. Para isso, primeiramente é preciso planejar a aula de acordo com a realidade do educando. Em que ele trabalha? Qual é a sua realidade sociocultural? Como ensinar Língua Portuguesa e Matemática utilizando-se de ferramentas do dia a dia do educando? Como explicar Ciências, História e Geografia utilizando-se de recursos e meios que tornem a aula mais interessante? Como estimular a reflexão, fazendo com que os alunos busquem ainda mais o conhecimento e que sejam, de fato, protagonistas do próprio aprendizado? A prática docente é um assunto muito discutido no sistema educacional, que, muitas vezes a aponta como a única responsável pelo sucesso ou fracasso do aluno da EJA e como se o professor fosse um profissional descompromissado, desinteressado, desinformado e desatualizado, tornando-se o grande vilão da educação – embora o professor seja parte essencial do processo de construção de uma escola de qualidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A prática educativa voltada aos princípios da educação inclusiva exige o reconhecimento do direito irrestrito a uma educação de qualidade para todos os 8 alunos, independentemente das características orgânicas, psicossociais, culturais, étnicas ou econômicas que eles possam apresentar. Ela significa, também, educar para a diversidade, gerando empenho na busca constante da equidade na aprendizagem e cuidado para que as “[...] desigualdades diante da escola atenuem- se e, simultaneamente, para que o nível do ensino se eleve. ” (PERRENOUD, 2001, p. 9). Os modelos de educação já cristalizados precisam ser superados, pois não atendem às características e necessidades do aluno e da comunidade escolar como um todo. Eles precisam ser reformulados de maneira que venham a considerar a complexidade e a diversidade como aspectos inerentes aos contextos social e educacional (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Segundo Leite (2006), a educação da EJA, compreendida como atenção à diversidade, convida o currículo a modificar-se para atender aos diferentes interesses, ritmos de aprendizagem e às mais diversas formas de aprender, incorporando as diferenças como elementos enriquecedores do processo ensino-aprendizagem. O exercício da docência se constitui em um dos níveis de concretização do currículo sobre o qual o professor opera transformações, ao priorizar determinado conteúdo ou ao escolher a forma como irá abordá-los, dentro de uma relativa autonomia. O raciocínio pedagógico empregado pelo docente deve ser fruto de um processo de reflexão sobre a própria prática, uma vez que as transformações operadas por ele revelam uma intencionalidade, uma visão de educação (SACRISTÁN, 2000). Se pretendemos indicar o grande desafio da atual educação, podemos afirmar que se trata de dar forma, significado e sentido, por meio de prática refletida, que nos remeta a considerar que aprender e usar o que se aprende são ações distintas, porém correlatas, e necessárias na atualidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Espera-se que o professor, como representante experiente de uma cultura, conheça as concepções e domineas técnicas e os protocolos, para fazer cumprir sua função social. A atual LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que rege a educação nacional, orienta que os conteúdos trabalhados nas salas de aulas não continuem sendo abordados de forma fragmentada, como era feito no passado, mas que sejam trabalhados de modo a explicitar ao aluno que as ciências diversas são ligadas entre si por diversos 9 aspectos, gerando, portanto, uma visão de conjunto (BRASIL, 1996). O ensino da EJA deve basear-se na reflexão e no debate, procurando aproveitar as potencialidades de seus alunos, assim como utilizar os saberes sociais que eles já construíram a partir de suas vivências, principalmente as ligadas ao mundo do trabalho. Partindo daquilo que o aluno já conhece, cria-se a possibilidade de se estabelecer um diálogo entre o conhecimento informal e o saber escolar, trazendo questionamentos aos estudantes e compondo novas chaves para a construção de uma nova educação e uma nova sociedade. Trabalhar a partir do interesse dos alunos não quer dizer que o professor precisará deixar de ministrar os conteúdos que fazem parte do seu plano de trabalho, pois o saber formal é construído a partir de problemas do cotidiano. É fundamental, no entanto, que o professor dê um tratamento crítico àquilo que está analisando em conjunto com os alunos. Um tratamento crítico realiza- -se com o desenvolvimento de debates, análise e construção de argumentos, respeitando os diferentes pontos de vistas e a diversidade de opiniões (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Não há construção de conhecimento nem interesse de se construir conhecimento quando o principal envolvido, nesse caso o aluno, se sente afastado daquilo que deveria aprender. Tentar prender conteúdos que não apresentam significado e nem relação com seu cotidiano, torna a matéria confusa e, muitas vezes, incompreensível e sem sentido, o que gera desmotivação eleva o aluno a desistir de continuar seus estudos. Diante disso, faz-se necessária uma mudança de postura dos professores, que devem reavaliar suas práticas, reorganizar os conteúdos e promover mudanças de atitude nas práticas em sala de aula. O professor deve, ainda, estabelecer desafios estimulantes para seus alunos buscarem o conhecimento, encontrando significado e prazer na aprendizagem (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 4 ESTIMULAR O EDUCANDO ENQUANTO CIDADÃO A PARTIR DE UMA ABORDAGEM DIALÓGICA, CRÍTICA E REFLEXIVA Os conteúdos escolares são muito importantes para a formação de uma comunidade de aprendizagem. A escola e os seus docentes devem buscar promover a integração dos alunos com o contexto escolar e comunitário. 10 A ressignificação dos conteúdos passa pela construção de uma grade curricular e deve seguir alguns preceitos, tais como: Definição do cenário em que os alunos estão inseridos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Definição do perfil dos alunos. Definição dos temas significativos para os estudantes. Definição do tipo de cidadãos que se pretende formar. Todos esses aspectos devem ser trabalhos dentro do projeto político- pedagógico da escola. Esse é um projeto que se caracteriza por ser uma construção coletiva, flexível, capaz de gerar mudanças e ajustes de acordo com o processo do seu desenvolvimento. A grade curricular é o centro das atividades escolares e deve ser desenvolvida dentro de um novo paradigma educacional, que proponha mudanças e pretenda formar cidadãos competentes, com habilidades para resolver situação-problema no seu cotidiano. A Educação de Jovens e Adultos, deve quebrar o vínculo com a abordagem tradicional que impera na educação, na qual existe a preocupação de armazenagem de conhecimento, o predomínio da metodologia expositiva e a avaliação baseada na memorização de conteúdo (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A escola precisa assumir uma concepção dialógica de educação defendida por Paulo Freire, caracterizada pela busca da interação entre homem e mundo, sendo o sujeito entendido como elaborador e criador de conhecimentos. Essa concepção defende a ideia de que ao buscar a formação do sujeito, torna-se possível pensar no papel da educação na construção de uma sociedade mais justa e democrática. O homem é pensado e educado tendo como pressuposto sua cultura e a sua prática social, utilizando o diálogo como meio de socialização de ideias capazes de promover transformações na sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A metodologia se caracteriza pelo diálogo e pela problematização dos conteúdos escolares em relação aos aprendizados disponíveis no mundo e na vida cotidiana dos alunos. De acordo com Souza (2011), na concepção dialógica/problematizadora da EJA existe uma preocupação com o desenvolvimento da consciência política do cidadão, por meio de um trabalho coletivo e de valorização da prática social dos 11 sujeitos envolvidos no processo educacional. Dessa forma, a alfabetização deixa de ser um processo de aquisição de escrita, leitura e ortografia e torna-se o processo de interpretação dos conteúdos que envolvem as palavras e o discurso. A escola, portanto, é uma mola propulsora que incentivará a busca contínua de uma educação emancipadora, na qual as práticas focalizarão o conteúdo social e o diálogo, proporcionando o desenvolvimento da consciência crítica. Ao se tornarem cidadãos reflexivos, os alunos ampliam seus conhecimentos e sua capacidade cognitiva, tornando-se autônomos, críticos e responsáveis pela transformação da sociedade. Conscientizar a sociedade significa desenvolver ações de integração baseadas no respeito a valores fundamentais como os direitos humanos e, sobretudo, reconhecer que os indivíduos devem ser senhores do seu próprio destino (MELO NETO, 2003). Na concepção dialógica, a preocupação é trabalhar com os conhecimentos de modo que o aluno consiga utilizá-los nos seus afazeres do cotidiano, ganhando complexidade, à medida que forem sendo debatidos no grupo. Partir da realidade do aluno não significa que temas que não fazem parte da realidade material dos sujeitos não devam ser abordados, mas sim que sejam planejadas condições para promover reflexões críticas sobre esses conteúdos, oportunizando o conhecimento, a compreensão e o desenvolvimento de estratégias de alternativas de soluções (SCHWATZ, 2012). Para Souza (2011), a educação e a alfabetização constituem o ato de conhecimento que emancipa e que motiva para as transformações e modificações do meio. Percebe-se a necessidade de que as teorias sejam ressignificadas, (re) interpretadas, reconstruídas e, finalmente, compreendidas. O professor precisa, com base nos seus conhecimentos prévios, estabelecer relações que articulem as teorias com as produções dos alunos e as práticas que estão sendo implementadas. O pensamento reflexivo é despertado no estudante com interesse em resolver uma situação-problema, desenvolvendo sua capacidade de raciocínio, pregando a dinâmica do ensino e a motivação em busca de novos desafios (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O aluno percebe sua importância na educação, deixando de ser um mero expectador, receptor de conhecimentos, para transformar-se em um produtor de conhecimentos, tornando-se um cidadão com pensamento reflexivo, que questionará 12 a forma como a sociedade se apresenta, tendo consciência da sua capacidade de mudá-la e ou de transformá-la por intermédio das suas ações. A educação colabora não apenas para a formação intelectual, mas também para a formação moral e cultural das pessoas. O que se almeja alcançar é a formação de um cidadão capaz de entender a educação de forma reflexiva, a fim de incorporá-la no seu mundo e nas relações com seus semelhantes. A concepção dialógica dos professores poderá contribuir para que a interação professor-aluno seja marcada pelo respeito mútuo e pela tolerância, valores fundamentais para a construção de cidadãos que contribuempara o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Como afirma Haydt (2006), na relação professor-aluno, o diálogo é fundamental. A atitude esperada no processo de ensino-aprendizagem, é aquela que parte de uma questão problematizadora para desencadear o diálogo, no qual o professor transmite o que sabe, aproveitando os conhecimentos prévios do aluno. Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, explica ou resolve a situação- problema que iniciou a discussão. A interação professor-aluno poderá, dessa forma, contribuir para a efetividade do processo de ensino e aprendizagem, à medida que o professor valorize os conhecimentos prévios dos estudantes e permita a sua expressão por meio do diálogo. O docente precisa entender que ensinar não é somente transferir o seu conhecimento, mas sim criar oportunidades, para que o aluno produza seu próprio saber, desenvolvendo. Desta maneira, a criticidade. O que se deseja com uma educação conscientizadora é despertar no aluno o interesse pela busca de soluções, é promover uma educação voltada à cidadania (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 5 OS PRINCÍPIOS DA ANDRAGOGIA O termo “andragogia” foi utilizado pela primeira vez em 1833 por Alexander Kapp, professor alemão, para descrever elementos da teoria da educação de Platão, que exercitava a indagação, a interpretação e a dialética com pequenos grupos de jovens e adultos. Em 1921, o professor alemão Eugen Rosenstock utilizou o termo 13 “andragogia” para indicar a atuação de professores envolvidos com a educação de adultos e suas bases filosóficas e metodológicas (BES, 2017). Em 1926, Eduard C. Lindeman publicou o resultado de sua pesquisa sobre a educação de adultos, intitulada The meaning of adult education (O significado da educação de adultos), em que revelou a influência de John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, que defendia a ideia de que uma escola comprometida é aquela em que a atuação do professor proporciona a conexão das disciplinas escolares com o interesse dos alunos, na qual prática e teoria levariam o aluno ao desenvolvimento do pensamento científico (BES, 2017). Você sabe quais são os interesses dos adultos em estudar hoje? Ou, parafraseando as ideias de Lindeman (2015): estariam os adultos, hoje, interessados em aprender ou simplesmente em dar continuidade aos seus estudos? Repare que a forma como o mundo se reconfigura após a globalização – principalmente após os anos 1980 – faz com que surja outra lógica para a busca pela formação intelectual ou pela apropriação de uma escolarização mais alta por parte da sociedade. No momento da seleção para uma vaga qualquer, são beneficiadas as pessoas que apresentam currículo melhor em termos de habilitações intelectuais conseguidas através de cursos universitários de graduação, pós-graduação ou técnicos e de extensão. A norma é esta, o que faz com que cada vez mais pessoas busquem qualificação e educação formal e não formal que possam mantê-las inseridas ou inseri-las no mercado de trabalho. Se o indivíduo não consegue uma boa colocação de emprego, sua renda diminuirá e pode impedi-lo de continuar se qualificando através dos estudos e de manter da empregabilidade (BES, 2017). Aquino (2008) coloca que, em 1970, o estadunidense Malcolm Shepherd Knowles (1913-1997) foi o mais importante representante da educação de adultos, sugerindo uma postura de “auxiliar as pessoas a aprenderem ao invés de ensiná-las”. Essa ideia inicial de Knowles é muito potencializada com as ideias que remetem hoje ao “aprender a aprender” e ao “lifelong learning”, ou seja, a tendência/obrigação de aprendermos ao longo da vida, que nos leva a modificar e rever as formas como aprendemos. Segundo Knowles, Holton III e Swanson (2009), são estes os princípios da andragogia: 14 Necessidade do aprendiz de saber; Autoconceito do aprendiz; Experiência anterior do aprendiz; Prontidão para aprender; Orientação para aprendizagem; Motivação para aprender. Vamos analisar cada um desses princípios na próxima seção, procurando estabelecer suas principais características e implicações para os alunos adultos. 6 O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO ADULTO O primeiro princípio citado é a necessidade do aprendiz de saber, o que remete ao entendimento de que o aluno adulto precisa saber quais os motivos de aprender tal conteúdo, quando isso será utilizado, isto é, o indivíduo necessita de contextualização para que se motive e desperte o interesse pelo que será estudado (BES, 2017). O segundo princípio proposto por Knowles, o autoconceito do aprendiz, relaciona-se com a maior independência do adulto, logicamente em comparação com a postura do educando infantil. O adulto apresenta um comportamento independente e autônomo, devendo ser envolvido nas propostas que serão desenvolvidas em sala de aula. Ao contrário da criança, toma suas próprias decisões que podem ser, inclusive, as de não frequentar as aulas caso as considere infantilizadas demais ou sinta que sua participação não é querida ou incentivada (BES, 2017). 15 O terceiro princípio – a experiência anterior do aprendiz – é essencial, uma vez que a andragogia irá valer-se de todas as experiências vividas pelos educandos durante a vida. O professor deve procurar conhecer essas histórias de vida particulares dos alunos e utilizá-las no desenvolvimento de suas aulas, articulando-as aos projetos desenvolvidos e às atividades propostas para a turma. Paulo Freire (1996, p. 123), grande expoente da EJA no Brasil, comenta que “respeitar a leitura de mundo do educando significa tomá-la como ponto de partida para a compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos impulsos fundantes da produção do conhecimento”. Essa leitura de mundo relaciona-se àquilo que o aluno traz consigo, logo, envolver as experiências dos adultos durante as aulas motiva e favorece a aprendizagem de forma significativa, ao mesmo tempo em que possibilita uma maior integração da turma por conhecerem um pouco mais das trajetórias dos colegas, que tanto podem aproximar-se quanto distanciarem-se das suas próprias. Esse incentivo faz surgir no aluno a prontidão para aprender (BES, 2017). A orientação para aprendizagem também é de extrema importância, pois trata da aplicação imediata do que está sendo estudado. O educando adulto não mais se contenta com explicações de que um dia aquele conteúdo será útil, pois precisa enxergar como será aplicado agora, no momento atual para resolução de problemas e desafios cotidianos – caso contrário, perderá o interesse. Necessita que os conteúdos causem impactos diretamente no seu desempenho em algum fator específico. Exemplificando, o adulto que se inscreve em um curso de desinibição e oratória pretende terminar o curso comunicando-se muito melhor do que quando entrou, esse é o principal motivador (BES, 2017). 16 A motivação para aprender é, para o adulto muito mais intrínseca (interna) e se associa à busca por autorrealização e reconhecimento que poderá ser conquistado através deste investimento em estudar e qualificar-se. Embora um salário melhor e uma projeção na sua carreira profissional (fatores externos) possam levar à satisfação de algumas necessidades, é internamente que o adulto percebe, sente e decide aprender algo (BES, 2017). 7 AÇÕES ANDRAGÓGICAS EM SALA DE AULA Uma vez conhecidos os princípios andragógicos e a forma como os educandos adultos aprendem, pode-se nortear como poderá ser desenvolvido o trabalho do docente em sala de aula com esse público particular e atendendo suas especificidades. A primeira ideia que o docente deve ter em mente ao planejar e desenvolver seus processos educativos com os adultos é que esses devem ser envolvidos nas escolhas dostemas, na construção dos projetos e propostas a serem desenvolvidas, o que garantirá a sua participação e favorecerá o seu comprometimento em sala de aula. Agindo desta forma, passa-se da tradicional ideia da aprendizagem centrada no professor para aquela centrada no educando (BES, 2017). Paulo Freire (1996, p. 86) lembra que “[...] o fundamental é que professores e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve”. Os projetos estabelecidos em comum acordo, dialogados e deliberados com os alunos, estarão de acordo com suas necessidades reais e particulares, possibilitando que os discentes, nesse caso, reconheçam os motivos que os levaram a estudar dentro das práticas propostas. Então, antes de entregar a proposta pronta e impor o que fazer, o professor deve dialogar e fazer com que todos possam participar e ser ouvidos sobre as formas como os aprendizados serão desenvolvidos (BES, 2017). Delegar liberdade para que alguns grupos possam sugerir e desenvolver suas tarefas de forma livre e diferenciada é uma ótima estratégia, que funciona muito bem com o público adulto, pois permite que sejam utilizadas vivências anteriores e exerçam 17 sua criatividade de forma independente. Os resultados normalmente são melhores do que aqueles simplesmente colocados pelo professor. Os processos de ensino-aprendizagem com o público adulto são diferentes dos da criança, uma vez que devem adaptar-se às características destes, seus anseios e expectativas. Pode-se apontar como essencial a busca pelo envolvimento dos educandos nas aulas e a valorização constante de suas experiências anteriores e de suas pretensões que os levaram a estudar novamente, como sendo as características primordiais para o sucesso da andragogia (BES, 2017). 8 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL A alfabetização de jovens e adultos existe desde a colonização do Brasil. Naquela época, essa educação veio com os jesuítas, que ensinaram os índios. Posteriormente, com a chegada da família Real, em 1808, as escolas passaram a ser prioridade de quem tinha condições econômicas, ou seja, somente os nobres frequentavam as escolas. Logo, nem todos tinham o direto de estudar. Segundo Ghiraldelli Jr. (1992), a educação brasileira teve início com o fim dos regimes das capitanias. A educação no período colonial teve três fases: A de predomínio dos jesuítas, que, na sua forma de ensinar a língua portuguesa e passar conhecimentos científicos, enfocavam a religião (catequização dos indígenas); A das reformas de Marquês do Pombal, que, com a expulsão dos jesuítas, dá início à organização das escolas de acordo com o interesse do Estado; 18 A do período de D. João VI, que, apesar de ter estabelecido diversas instituições de ensino, como a Academia Real Militar, e escolas noturnas, sofria pela ineficiência do Estado para mantê-las em funcionamento; logo, a educação ficava cada vez mais relegada a segundo plano. Com a Independência do Brasil, em 1822, a Constituição Brasileira (Carta Magna de 1824) estabeleceu o ensino primário gratuito e para todos, porém nem todos tinham acessibilidade. A única lei geral sobre a instrução primária foi promulgada em 15 de outubro de 1827 e preconizava que as escolas deveriam ensinar a ler, a escrever e a utilizar as quatro operações de aritmética, bem como noções gerais de geometria prática, gramática, moral cristã e doutrina católica. As meninas foram incluídas, mas com currículos diferenciados, delimitando, já na formação educacional, seu papel na sociedade brasileira. As primeiras Escolas Normais para formar professores surgiram em 1835. A instrução era uma ferramenta para fortalecer um Estado Nacional independente e para civilizar o povo brasileiro, visando a acabar com a “desordem” das ruas. Segundo Vidal e Faria Filho (2003), 20 anos depois da independência do Brasil, foram criadas diversas Faculdades de Direito, mas, devido à conjuntura da época, apenas as elites tinham acesso a essa formação. Logo, a maioria da população não tinha condições de frequentar a escola. O Ato de 1834 modificou a constituição de 1824 e estabeleceu que as Assembleias Provinciais atuariam no ensino elementar e secundário, deixando para o Estado Imperial a responsabilidade de cuidar do ensino superior em todo o país, como município da Corte operando nos demais níveis de ensino. A visão predominante (e ilusória) era de que todas as pessoas, pobres, brancos e negros, deveriam passar pela escola para adquirir as noções da cultura e da civilização ocidental (europeia), isto é, somente a educação conseguiria desenvolver o país (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O primeiro recenseamento demográfico do Brasil aconteceu em 1872 e apurou um índice de analfabetismo alarmante: somente 17,7% da população entre 6 e 15 anos havia frequentado a escola, portanto, mais de 82% da população não sabia 19 ler nem escrever. Nos debates políticos do período, o analfabetismo era um problema relacionado a questões eleitorais e econômicas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A Lei nº 9, de 22 de março de 1874, inaugurou na Província de São Paulo a obrigatoriedade ensino primário junto aos futuros cidadãos que deveriam ser preparados para ajudar a construir uma nova nação, mas esse princípio estava muito distante da realidade, dada a situação precária do ensino público (poucas escolas e mal estruturadas) (HILSDORF, 2003). Cabe destacar aqui a forte participação de sociedades, associações leigas e religiosas e de outras instituições particulares na proposição de projetos educacionais no auxílio à instrução de crianças e de adultos trabalhadores em outros espaços, tanto em instituições privadas quanto na família. Em 1879, Carlos Leôncio de Carvalho encabeçou uma reforma educacional, por meio do art. 4º do decreto 7.247, que criou cursos noturnos para adultos do sexo masculino nas escolas públicas de instrução primária. Essa iniciativa influenciou a reforma eleitoral, a Lei Saraiva de 1881, que, entre outras medidas, previa a eleição direta, a elegibilidade dos não católicos, libertos e naturalizados, embora conservasse a restrição de renda mínima, e instituía, pela primeira vez, o voto apenas às pessoas alfabetizadas. Isso significou uma redução drástica no número de eleitores, que de 10% passou a ser de menos de 1% da população (FARIA FILHO, 1998). Para Paiva (1983), Rui Barbosa ansiava que o impedimento ao voto do analfabeto gerasse um maior investimento na instrução do povo, para que pudessem participar como cidadãos da vida política do país. No entanto, o que aconteceu foi o contrário: a Lei Saraiva, em vez de estimular o poder público na difusão da instrução, disseminou o preconceito em relação ao analfabeto. A Lei Saraiva, de certa forma, transformou a instrução em um importante mecanismo de exclusão tanto para os recém-libertos quanto para as classes trabalhadoras. Assim, se no Império as pessoas eram selecionadas para participar da política pelos critérios econômicos, na República essa seleção se dava por critérios de instrução. A partir de 1889, os republicanos históricos operavam com a mentalidade de democracia e progresso vinculada à instrução, utilizando-a como meio de educar e instruir a população. A escola era o lócus de formação para o novo homem republicano, produto e também produtor de uma sociedade moderna, democrática e progressista. 20 A partir da Revolução Industrial no Brasil (na década de 1930), que ocorreu quando as indústrias necessitavam de mão de obra especializada e o país nada tinha para oferecer, parte da população começou a migrar do campo para a cidade em busca de novas oportunidades e, com isso, houve a necessidade de alfabetizar os trabalhadores, daí a criação de escolas noturnaspara adultos. Começaram então os debates para popularizar o acesso às escolas, pois muitos acreditavam que toda a sociedade poderia se beneficiar com uma educação de qualidade. De fato, o governo passou a ver as entidades como utilidade pública, ou seja, começou a valorizar as pequenas instituições que buscavam meios de alfabetizar seus jovens e adultos mesmo sem condições financeiras. A Educação de Jovens e Adultos começou não como uma forma governamental, mas, sim, como um modo de conscientização de que todos tivessem o mesmo direito. Vamos ver agora por que a da EJA é importante para a inclusão social (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 9 A IMPORTÂNCIA DA EJA E A INCLUSÃO SOCIAL A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem a função social de assegurar a escolarização dos sujeitos que, historicamente, foram excluídos do direito à educação. Assim, deve-se cuidar para não reproduzir na escola as práticas excludentes da sociedade, pois seu papel é justamente a formação de sujeitos capazes de intervir de forma crítica e reflexiva, problematizadora, democrática e emancipatória, com voz, vez e decisão na solução e superação dos problemas e desafios à sua sobrevivência e existência: “Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo, todos nós sabemos alguma coisa, todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre. ” (FREIRE, 2001, p. 34). 21 São jovens e adultos de camadas populares que, ao interromperem sua trajetória escolar, repetem histórias, muitas vezes coletivas e familiares, de negação dos direitos. Negar o enraizamento dessa negação, dessa identidade coletiva, social e popular, compromete a percepção da própria identidade da EJA, correndo o risco de a modalidade ser encarada como mera oferta individual de oportunidades pessoais perdidas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para discutir o problema da educação e chegar a considerações capazes de orientar uma solução para o analfabetismo adulto, é preciso um olhar justo e verdadeiro, que só pode vir do ponto de vista social: um olhar de direitos e não de caridade. É necessário enxergar o analfabetismo como um aspecto social, e não como um conceito abstrato, e partir do fato real, concreto, existencial, isto é, o homem adulto analfabeto (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A educação é um direito assegurado pelas leis que regem o Brasil, logo, precisamos traçar um caminho efetivo para fazer uma nova história no contexto educacional brasileiro, a fim de que essas leis prevaleçam e sejam cumpridas, em especial na EJA, com a perspectiva de acabar com o analfabetismo e/ou sanar a problemática de crianças e adolescentes que não conseguem terminar o ensino regular na idade própria (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para melhor conhecer as peculiaridades desta modalidade de educação voltada para adultos, é preciso pesquisar profundamente as razões pelas quais esses sujeitos buscaram os estudos novamente. A EJA foi estabelecida pela LDB nº 9.394/96, no Art. 37, que diz que a “[...] Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. ” (BRASIL, 1996). A EJA trata de alunos com características diversificadas e diferenciadas das crianças e adolescentes do ensino em idade regular. Antes de conhecer essas características, precisamos antecipar que, hoje, a educação voltada para adultos é conhecida como andragogia. Com a mesma raiz linguística do termo pedagogia, andragogia diferencia-se apenas porque é inicialmente formada pela palavra andrós, que significa homem; logo, andragogia designa a educação dos homens e, é claro, das mulheres (TAMAROZZI; COSTA, 2007). Sua formulação marca a diferença dos processos educativos de crianças e adultos, já que historicamente as pesquisas sobre aprendizagem estiveram muito mais direcionadas ao público infanto-juvenil. Conforme 22 Oliveira (1997, p. 60), em relação à construção do conhecimento, os processos de aprendizagem de adultos são menos explorados dos que as teorias que apresentam considerações sobre crianças e jovens. Isso significa que a construção cognitiva do adulto e os mecanismos que ele desenvolve para a aprendizagem são ainda carentes de uma investigação mais consistente. Um dos estudos mais antigos sobre o assunto foi realizado por Lindeman, que identificou, pelo menos, cinco pressupostos-chave para a Educação de Jovens e Adultos, descritos a seguir: 1. Os jovens e adultos, são motivados a aprender, por isso, à medida que experimentam, suas necessidades e interesses são satisfeitos. Por isso, esses são os pontos mais apropriados para iniciar a organização das atividades de aprendizagem do adulto. 2. A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; por isso, as unidades apropriadas para organizar seu programa de aprendizagem são as situações de vida, e não as disciplinas. 3. A experiência é a mais rica fonte para jovens e adultos, por isso, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências. 4. Os jovens e adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; por isso, o papel do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com os alunos, e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los. 5. As diferenças individuais crescem com a idade; por isso, a EJA deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem de cada aluno (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Paulo Freire é tido como um desbravador de uma educação apropriada para pessoas jovens e adultas no Brasil. Ele sistematizou, a partir de um olhar atento sobre o cenário político-educacional de sua época e a necessidade dos alunos, um método de educação que tinha o adulto como centro da discussão, desencadeando um processo de libertação e de conscientização dos educandos. Freire praticou a andragogia mesmo antes de o termo se tornar conhecido no Brasil. Em sua obra 23 Pedagogia do Oprimido, ele formulou, com clareza, uma proposta baseada em um processo de educação libertadora, que levava à conscientização do sujeito em oposição à ideia de um aluno apenas receptor de conteúdos predeterminados. Segundo Freire 2005, p. 25) “[...] é importante saber que se deve respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando e, na prática, procurar a coerência com esse saber.”. Tratamos aqui o perfil desse alunado com base nas palavras do autor e com a intenção de conhecer o (a) aluno (a) que procura a EJA. A construção de conhecimento a que todo ser humano tem direito precisa ser respeitada em sua amplitude e diversidade. Na EJA, em uma mesma sala de aula, estão reunidos jovens, adultos, e idosos de idades e gêneros diferentes, religiosidades, pertencimentos étnicos, culturais, trajetórias de vida, saberes acumulados, fazeres, especialidades vividas, temporalidades, concepções, etc. (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Além da diversidade, os sujeitos dessa modalidade são adolescentes, jovens e adultos que não completaram sua escolarização em período específico (idade); trabalhadores que precisam de diploma; pessoas que não tiveram acesso à escola e, por questões financeiras, tiveram que parar de estudar e pessoas com dificuldades de aprendizagem (SOUZA, 2011). A procura pela EJA tem aumentado ao longo dos anos e contribuído para baixar os índices de analfabetismo no Brasil. Essas pessoas buscam a realização de sonhos, o primeiro emprego ou a melhoria de sua vida profissional, o desenvolvimento ou mesmo a ideia de sair da situação de analfabetismo e exclusão social. A sociedade tem a ideia de que os jovens e adultos que procuram a EJA são pessoas fracassadas. A esse respeito, Souza (2011, p. 20) afirma que: É preciso desmontar a ideia de fracasso escolar atribuída ao aluno. Existem fatores estruturais, ou seja, os quais possuem raízes profundas na sociedade, que são em grande medidaresponsáveis pela existência de pessoas fora da escola; outras que desistem da escola e outras que ingressam tardiamente ou que repetem várias vezes de ano. Os alunos que procuram a EJA têm anseios em relação ao ambiente escolar associados com as necessidades diárias, a inserção social e a autonomia na vida, isto é, eles pretendem ampliar suas chances no mercado de trabalho e sua participação em situações que requerem escrita, além de elevar seu status social; suas falas remetem a questões políticas, econômicas e sociais (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 24 Aos poucos, quando o aluno percebe que o educador está por inteiro na relação que se estabelece em sala de aula, ele vai se reconhecendo e se engajando nas diferentes atividades. Para a consolidação desse processo, é importante que o educador valorize a fala do educando, sua autoria, sua vida, reconheça sua produção e o estimule a se colocar diante do grupo (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Dessa forma, deve ocorrer a mediação entre os saberes que os alunos carregam e o conteúdo escolar. Considerar esses aspectos é fundamental para o trabalho com jovens e adultos não alfabetizados ou pouco escolarizados, pois suas experiências e circunstâncias culturais, históricas e sociais propiciam situações de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A EJA nos dias atuais tem três funções: 1. Reparadora (que discorre sobre o direito de igualdade para todos com uma educação de qualidade); 2. Equalizadora (vem para oferecer novas oportunidades e outro rumo na vida profissional); e 3. Qualificadora (permite o desenvolvimento potencial do caráter). Quando os alunos ingressam na EJA, ocorre uma transformação na sua autoestima: eles passam por uma satisfação e realização pessoal, tornando- -se independentes e reavaliando seus objetivos. Eles constatam que não dispõem de tempo para regredir em seu aprendizado, voltando no caminho que já percorreram, ou seja, nesta evolução e transformação da sociedade e das tecnologias, eles reconhecem que, se abandonassem os estudos, cairiam na mesmice (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A educação, aqui em especial a EJA, é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica. Assim, a EJA é uma instância pela qual é possível adquirir conhecimento. Neste contexto, o ato de aprender a aprender é uma das principais funções do ato de ensinar, ou melhor, do ato de educar, daí a necessidade de pesquisar sobre como a aquisição de conhecimento modifica as pessoas em um processo de conscientização e reconstrução de suas vidas, transformando-as como agentes transformadores de sua própria realidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 25 10 A EJA NAS DIFERENTES FASES DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO: DE 1945 ATÉ HOJE Como vimos na primeira seção sobre a história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, interrompemos nossa descrição na chamada era da Revolução Industrial brasileira, compreendida entre as décadas de 1930 e 1940, sob a ditatura de Getúlio Vargas. Com o fim do Estado Novo, em 1945, o país sofreu uma forte agitação política. Dessa forma, a sociedade passou a ver o grande número de analfabetos e a preocupar-se com esse fator. Assim, o problema ganhou destaque, e a solução estaria na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A partir deste ponto, o povo começou a mostrar sua força e a lutar por uma educação de qualidade. Ainda em 1945, ocorre um marco mundial: o surgimento da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), um importante estímulo à implantação de programas nacionais para a educação de adultos analfabetos em todo o mundo. Seus principais objetivos estavam relacionados à educação de base voltada à população de uma maneira geral, crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos. Após a Segunda Guerra Mundial, a UNESCO visava a ampliar uma consciência internacional, atenta às dimensões do fenômeno da “ignorância” e aos significados de sua supressão no campo da “educação fundamental”. O Brasil, como vários países da América Latina, África e Ásia, passou a contar com o apoio da UNESCO (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No governo de Eurico Gaspar Dutra, ocorreu, em 1947, o I Congresso de Educação de Adultos, que marcou o início da Campanha de Educação de Adultos Analfabetos (CEAA), promovida pelo Ministério da Educação e Saúde e que pretendia promover uma “educação de base” ou a “educação fundamental comum” a todos os brasileiros da zona urbana e rural que não sabiam ler e escrever. Os gestores da Campanha tinham como estratégia sensibilizar os vários setores da sociedade brasileira, desde o cidadão comum, até empresários, professores e religiosos, para acabar com o analfabetismo no País, associando a esse processo a transformação social e o desenvolvimento do País como um todo. Para isso, foi criado em 1947 o Serviço de Educação de Adultos (SEA), pelo Departamento Nacional da Educação, do Ministério da Educação e da Saúde, o que significou um indicador importante na mudança do lugar da educação de adultos no Brasil. Esse novo serviço orientava e 26 coordenava nacionalmente os trabalhos dos planos anuais de ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O SEA implementou a CEAA, motivando e estimulando todos os Estados a promover, com seus próprios recursos, a criação de classes de educação de adultos delineadas no plano geral do ensino supletivo. Os professores selecionados deveriam ser mobilizados conforme os seguintes critérios: 1º) os que estavam atuando em escolas públicas; 2º) normalistas diplomados e que não estavam atuando na rede oficial; 3º) alunos do magistério em fase final de conclusão do curso; 4º) pessoas com curso ginasial, comercial ou técnico; por último, as leigas, ou mesmo aquelas que tinham até o 4º ano primário. O Setor de Orientação Pedagógica ficou responsável por produzir as cartilhas e os textos de leitura para serem usados nas unidades de alfabetização. As metas estabelecidas para a instalação das unidades em todo o País foram: 10.000 classes, em 1947; 14.110, em 1948; 15.204, em 1949; e 16.500, em 1950. A visibilidade social da Campanha e, ao mesmo tempo, o chamamento para que toda a sociedade brasileira participasse como alunos, professores e/ ou colaboradores foi em grande parte realizada via comunicação impressa e radiofônica nos municípios. De acordo com Vovio (2007), o Primeiro Guia de Leitura foi distribuído pelo Ministério da Educação em larga escala para as escolas supletivas do País e orientava o ensino pelo método silábico. As lições partiam de palavras-chave selecionadas e organizadas segundo suas características fonéticas. As primeiras lições continham pequenas frases montadas com as mesmas sílabas. Nas lições finais, as frases compunham pequenos textos contendo orientações sobre preservação da saúde, técnicas simples de trabalho e mensagens de moral e civismo. Os professores que atuaram na Campanha ministraram seus cursos de alfabetização junto a adolescentes, jovens e adultos privilegiando métodos e conteúdos muito próximos aos desenvolvidos com as crianças do ensino regular primário, o que acabou contradizendo os discursos de educação ampla propostos no programa educativo da CEAA. A ideia que ganhou espaço a partir desse período era a de que o analfabeto seria uma pessoa “incapaz”, um adulto com mentalidade de criança que não aprendeu, portanto, “emburrecido” (PAIVA, 1983). No final dos anos 1950, as críticas intensificadas somadas à percepção de que o período do curso era insuficiente começaram a minar a Campanha. O material didático e os programas também foram considerados inadequados às especificidades 27 da educação de adultos. No entanto, é inegável que esses esforços possibilitaram um campo de reflexão pedagógica em torno do analfabetismo e suas consequênciassociais e psicológicas. Outra importante contribuição da CEAA, apontada por Haddad e Di Pierro (2000), refere-se à criação, nos municípios e nos estados brasileiros, de uma infraestrutura voltada aos jovens e adultos, bem como à regulamentação dos fundos responsáveis pela distribuição dos recursos financeiros para essa finalidade. As campanhas de alfabetização vão praticamente desaparecer no governo de Juscelino Kubitschek, de 1955 a 1960. Muitos historiadores analisam esse período como um momento que estabilizou uma memória impregnada da disseminação de otimismo e estabilidade política que teria propiciado uma elevação significativa nos índices de crescimento econômico, embalada pela concretização da construção de Brasília, em 1960. O governo de Juscelino Kubitschek investiu de forma intensa no setor de infraestrutura e incentivou a industrialização, abrindo o país aos capitais estrangeiros, oferecendo-lhes inúmeras facilidades em áreas consideradas prioritárias, como indústria automobilística, transporte aéreo e estradas de ferro, eletricidade e aço. Assim, Estado, empresa privada nacional e capital estrangeiro estavam unidos para promover o desenvolvimento econômico pela industrialização (FAUSTO, 1997). Enquanto isso, os movimentos operário e sindical estavam ativos e articulados. Em São Paulo, foi criado, em 1955, o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), que congregava os sindicatos da metalurgia, dos gráficos, da indústria têxtil, etc. No Rio de Janeiro, os comunistas criaram uma frente composta pelos ferroviários, marítimos e portuários, que deu origem ao Pacto de Unidade e Ação (PUA), atuando junto ao funcionalismo público. A criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) ocorreu nesse período FAUSTO, 1997). Foi nesse cenário que, em 1958, JK convocou o II Congresso de Educação de Adultos que, apesar da chamada e do foco, acabou priorizando os debates sobre o ensino primário. De todo modo, essa iniciativa foi reproduzida em todos os estados brasileiros, estimulando o surgimento de inúmeros grupos e propostas para tentar solucionar o problema da educação de adultos no País. Paulo Freire participou deste evento e ganhou grande visibilidade ao apresentar um relatório que trouxe o debate sobre o analfabetismo para a agenda nacional. Afirmou, naquele contexto, que o problema do não desenvolvimento do Brasil não poderia ser imputado ao fato de a população não saber ler e escrever: o 28 “atraso” do País se dava pelo fato de o povo se encontrar em uma grave situação de miséria. Essa nova maneira de ver e colocar o problema sobre a situação da educação, dos analfabetos, do desenvolvimento nacional, enfim, das condições de vida da população, possibilitou que esse grupo do Nordeste defendesse ações que fortalecessem a formação da consciência do povo brasileiro, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo, principalmente da população mais pobre e excluída do país (FÁVERO, 1983). As críticas produzidas por Paulo Freire traziam uma nova visão do processo educacional: a educação deveria se relacionar com a vida concreta, o desenvolvimento, a formação da nacionalidade, da sociedade civil, portanto, com a participação democrática. Freire elaborou uma proposta pedagógica ligada à vida, relacionada não apenas à escolarização formal, mas também à comunidade. No governo de João Goulart ocorreu uma maior aproximação entre o Ministério da Educação e Cultura e as entidades estudantis, os sindicatos e os setores da Igreja Católica que vinham atuando com a educação popular. Nesse contexto, Paulo de Tarso, Ministro da Educação, criou uma Comissão de Cultura Popular com o objetivo de implantar, em todo o território nacional, “novos sistemas educacionais de caráter eminentemente popular”. Paulo Freire foi nomeado presidente dessa Comissão e teve por missão produzir levantamentos e pesquisas sobre a questão do analfabetismo no País. Foram criadas as Comissões Regionais de Cultura Popular, para incentivar pesquisas nas áreas ligadas à promoção da cultura popular, como folclore, teatro, cinema, música, etc. Um pulsar acelerado passou a ditar os rumos dos movimentos culturais, que se multiplicaram e mobilizaram lideranças tanto do mundo privado quanto da esfera pública. O 1º Encontro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular e a criação de um programa extensivo de educação de adultos aconteceram nesse contexto (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No ano de 1963, o Movimento de Educação de Base (MEB) também foi um agente fundamental no processo da educação de adultos e que estava imbuído da filosofia e pedagogia de Paulo Freire. Nesse sentido, a educação era tomada como um processo de conscientização que poderia transformar as pessoas e as estruturas vigentes, as mentalidades e as estruturas. Essa estratégia passava pela elaboração de uma série de materiais didáticos direcionados para jovens e adultos, buscando tornar o processo de alfabetização uma tomada de consciência e transformação da 29 realidade. Alguns títulos já indicavam essa perspectiva, por exemplo, Saber para viver e Viver é lutar. Fávero (1983), elaborou as lições visando à compreensão do que é o homem, do que é o mundo e das relações estabelecidas entre si. As dimensões relacionadas aos conflitos da vida humana, aos desequilíbrios e às injustiças de um país subdesenvolvido, ao conceito de classe social e à luta de classes, ao questionamento sobre o voto do analfabeto, à exploração capitalista, à força da cultura e da ação popular para mudar as condições de vida são alguns dos tópicos. Ou seja, de uma visão micro da realidade as lições vão ampliando a consciência das pessoas para os problemas mais gerais da sociedade, articulando o individual, o coletivo e o social. Em janeiro de 1964, o Programa Nacional de Alfabetização optou pela proposta metodológica de alfabetização de Paulo Freire, sendo ele próprio o coordenador da Comissão Especial responsável pela sua implantação. Em 1964, foram criados 60.870 círculos de cultura, a fim de alfabetizar 1.834.200 adultos, atendendo 8,97% da população analfabeta na faixa etária de 15 a 45 anos (PAIVA, 1983). Os movimentos de educação e culturas populares foram completamente reprimidos e desarticulados no período da ditadura militar, que se iniciou em março de 1964. O Plano Nacional de Alfabetização foi extinto pelo Decreto nº. 53.886/64. O Movimento de Educação de Base também sofreu com a repressão dos militares que inibiram suas ações na educação de adultos e a atuação da esquerda da Igreja Católica. A hierarquia da Igreja Católica optou por se colocar apenas no âmbito de sua missão evangelizadora. As lideranças desses movimentos foram perseguidas, as ideias e os ideais de transformação social foram silenciados, muitos professores e estudantes engajados nas práticas de alfabetização e conscientização foram perseguidos, cassados e exilados (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Nesse contexto, de um lado a EJA foi utilizada como possibilidade de incrementar a coesão social, e, de outro, foi projetada como o símbolo de uma sociedade “democrática” em um “regime de exceção”. O País mais uma vez testemunhou uma educação mistificada, tomada como estratégia de mobilidade social dos indivíduos. O acesso à escola representava uma maneira de assegurar a igualdade de condições para ascensão nesse novo contexto. A educação era 30 apresentada à população como uma necessidade, ou o único meio para o crescimento e o desenvolvimento econômico do País (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O governo militar implantou a Cruzada da Ação Básica Cristã (Cruzada ABC), que buscava capacitar os analfabetos para serem participantes na sociedade contemporânea, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico. Os sujeitos analfabetos teriam como retorno o acesso aos bens produzidos nesta e por esta sociedade. Esse programa, que durou de1964 a 1969, tinha uma perspectiva de integração nacional e destruiu os programas oficiais do período de Goulart que persistiam, combatendo fortemente as iniciativas que ainda se inspiravam no método de Paulo Freire (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Diante do vazio deixado por Paulo Freire e do insucesso da Cruzada do ABC, foi criado, em 1967, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que pretendia ser a resposta do Estado frente aos elevados índices de analfabetismo da população brasileira. O censo de 1970 apresentou dados indicando que 33% da população acima de 15 anos não sabia ler nem escrever. A meta do então Presidente da República Emílio Garrastazu Médici era acabar com o que denominou “vergonha nacional”, isto é, o analfabetismo, em 10 anos. Para isso, o MOBRAL tornou-se o instrumento próprio da ditadura, imposto, implementado e estruturado sem consulta da sociedade em sua proposição e estratégias de planejamento. Seu processo pedagógico era centralizado e hierarquizado: os professores não podiam planejar e desenvolver as atividades junto aos jovens e adultos com autonomia. De acordo com o relatório da UNESCO de 1974, os materiais didáticos eram uma das principais marcas do programa, tanto pela sua diversidade quanto pela quantidade. Neles, a reflexão dos temas abordados era condicionada por uma visão nacionalista e ufanista, descrevendo um País extremamente diversificado submetido a um único projeto: o de se tornar desenvolvido. O método de alfabetização utilizado era o analítico-sintético, que se apropriava do léxico de outros autores, como as palavras geradoras, presumidas pelos editores como expressões próprias do cotidiano da população. A partir da palavra geradora proposta a priori, era feita decomposição em sílabas, e as dificuldades linguísticas eram ampliadas; assim deveriam ser compostas outras palavras e frases. Não havia densidade nos procedimentos metodológicos do MOBRAL, o que contrastava com as experiências produzidas e voltadas aos jovens e adultos na década de 1960. Apesar de os materiais trazerem dimensões importantes 31 da realidade brasileira, ela era falseada. A promessa da educação era inserir os alfabetizandos no projeto de desenvolvimento nacional. Propagandas nos meios de comunicação de massa visavam a convencer a opinião pública de que o MOBRAL era um programa de alfabetização “revolucionário e aberto”. Tudo isso gerou muita crítica, culminando com a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o programa em 1975 (PAIVA, 1983). Quanto ao ensino supletivo, ele foi regulamentado pelo governo militar e se propunha “[...] a recuperar o atraso, a reciclar o presente formando uma mão de obra que contribuísse no esforço para o desenvolvimento nacional, através de um novo modelo de escola. ” (HADDAD; DI PIERRO, 2006, p. 12). Os resultados do MOBRAL foram insatisfatórios: no Censo de 1980, as pessoas que não sabiam ler nem escrever representavam 25,8% da população. Logo, a redução do analfabetismo promovida pelo programa não superou a marca de 7,8%. As campanhas de alfabetização de adultos promovidas nas décadas de 1950 e 1960 obtiveram resultados mais satisfatórios contando com condições de funcionamento e de financiamento muito mais precárias (PAIVA, 1983). As atividades do MOBRAL permaneceram até 1985, quando foi extinto. No seu lugar foi criada a Fundação Educar, cujo objetivo era promover a execução de programas de alfabetização e de educação básica não formais, voltados para pessoas cuja experiência de empobrecimento resultou na exclusão do acesso à escola. Em março de 1990, a Fundação Educar foi extinta pelo governo Collor. No período de 1985 a 1990, assumiu-se o papel de apoiar tecnicamente os programas de EJA e manteve-se uma estrutura nacional de pesquisa e produção de material didático, bem como coordenações estaduais. A década de 1980 foi marcada pela retomada de projetos e pesquisas voltados para a alfabetização de jovens e adultos. A principal conquista obtida pelos movimentos populares e pela sociedade civil organizada em torno da Constituinte de 1988 foi garantir o direito universal ao ensino fundamental público e gratuito, independentemente da idade. Nesse sentido, a EJA foi recolocada no sistema educacional brasileiro (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No cenário internacional, a Educação de Jovens e Adultos passou também a ser reconhecida por vários países diante das diversas conferências organizadas pela UNESCO nos anos 1990. As Conferências Internacionais de Educação de Adultos (CONFINTEA) acontecem a cada 12 ou 13 anos. A I CONFINTEA ocorreu em 1949, 32 em Elsinore, na Dinamarca, em um contexto de pós-guerra e de tomadas de decisões em busca pela paz. O Brasil não participou dessa primeira edição. A II CONFINTEA aconteceu em 1960, em Montreal, Canadá, e teve como destaque a consolidação da Declaração da Conferência Mundial de Educação de Adultos. Na III CONFINTEA, que aconteceu na cidade de Tóquio (Japão), em 1972, a aprendizagem ao longo da vida foi definida como premissa básica, diante da constatação de que a instituição escolar não dá conta de garantir a educação integral. A IV CONFINTEA, com a temática “Aprender é a chave do mundo”, foi realizada em Paris, na França, em 1985, e teve como destaque o reconhecimento do direito de aprender como o maior desafio para a humanidade. A V CONFINTEA ocorreu em Hamburgo, na Alemanha, em 1997, e deu continuidade às proposições realizadas nas conferências anteriores. Para a história da Educação de Jovens e Adultos, no entanto, tornou-se singular pela grande mobilização durante o processo que antecedia a sua realização. Foram promovidos encontros em cinco regiões mundiais para consolidar o relatório para a Conferência Internacional. A temática era a aprendizagem de adultos como ferramenta, direito, prazer e responsabilidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Em 2000, foi realizado em Dakar (Senegal) o Fórum Mundial da Educação, que avaliou os compromissos assumidos pelos países signatários da Declaração Mundial de Educação para Todos e do Plano de Ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, resultado da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien, Tailândia, em 1990. Em 2003, houve uma reunião de balanço realizada em Bangcoc (Tailândia) para monitorar e avaliar os compromissos firmados na V CONFINTEA. A VI CONFINTEA aconteceu no Brasil, em Belém do Pará, em 2009 (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). No caso brasileiro, a conexão da educação às necessidades básicas das populações foi colocada na LDB, Lei nº 9.394/96, ou seja, a Educação de Jovens e Adultos foi integrada ao ensino básico comum. Infelizmente, não foram assegurados, ainda, de forma adequada, os recursos financeiros específicos para realizar as ações e ampliar o atendimento no sistema educacional (por exemplo, a existência de vagas para todos que desejam frequentar o segundo segmento do ensino fundamental e o ensino médio) (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A União sempre se colocou no papel histórico de indutora da educação básica de jovens e adultos e, apesar de não coordenar os programas emergenciais 33 oferecidos – tarefa repassada aos estados e municípios –, estabeleceu e centralizou um conjunto de instrumentos para controlar e regular suas atividades, visando a: Regularizar a coleta e divulgação de estatísticas educacionais. Instituir referenciais curriculares. Formular programas de formação docente. Subsidiar a produção de materiais didáticos. Criar exames de certificação (Exame Nacional de Certificação de Competências para Adolescentes e Adultos). O relatório anual da UNESCO de 2012, sobre “Educação para Todos”, indicava que o Brasil deveria conseguir reduzir a taxa de analfabetismo em adultos para 5%. Segundo os dados do IBGE (2015), a taxa de analfabetismo no país foide 8% entre as pessoas de 15 anos ou mais. Os dados atuais demonstram que não conseguimos fazer a redução proclamada. Nas últimas décadas, as ações delineadas nos âmbitos municipais, estaduais e nacional para acabar com o analfabetismo adulto no Brasil não dialogaram entre si, portanto, não conseguiram se potencializar justamente por causa dessa desarticulação. Programas nacionais, estaduais e municipais de alfabetização coexistem em um mesmo momento, em um mesmo lugar, muitos por meio de parcerias entre a sociedade civil e o Estado (município, estado e união). Di Pierro (2005) alerta para os riscos dessa forma de operacionalização e indica três problemas: 1. A delegação, para a sociedade civil organizada, das responsabilidades que deveriam ser assumidas exclusivamente pelo poder público; 2. A reafirmação da Educação de Jovens e Adultos como objeto de filantropia, e não da constituição de direitos educativos dos jovens e adultos; 3. O incentivo à formalização e institucionalização da Educação de Jovens e Adultos de baixa qualidade, uma vez que, por mais que as instituições educativas, organizadas pela sociedade civil, busquem atender a uma demanda represada de Educação de Jovens e Adultos, as condições para isso são, em grande parte, improvisadas no que se 34 refere à infraestrutura (espaço, mobiliários, equipamentos), à formação de recursos humanos e aos materiais pedagógicos. São inúmeros os exemplos de como esse mosaico das formas como os serviços de educação/ alfabetização de jovens e adultos coexistem no mesmo tempo, na mesma localidade e, às vezes, no mesmo espaço. Atualmente, se considerarmos o Estado de São Paulo, é possível verificar a proposição do Programa Brasil Alfabetizado, um programa nacional, criado em 2003, que investe recursos para que as organizações da sociedade civil e os organismos públicos desenvolvam seus projetos. No nível estadual, entre outros, figura o Programa Alfabetiza São Paulo, executado pelos Conselhos Comunitários de Educação, Cultura e Ação Social, pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário e por outras organizações não governamentais. No âmbito municipal, existem os programas MOVA, implementados e financiados por governos municipais e estaduais e dirigidos a organizações da sociedade que se prestam a alfabetizar jovens e adultos, tendo sido implementados no município de São Paulo nas gestões do Partido dos Trabalhadores (1989- 1992 e 2001-2004). 11 PROPOSTA METODOLÓGICA: ADAPTAÇÃO À DIVERSIDADE ENCONTRADA EM SALA DE AULA As representações sociais sobre o analfabeto jovem e adulto no Brasil têm sido assumidas em uma perspectiva bastante negativa expressando, às vezes, veladamente preconceitos que permeiam o senso comum (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Nesse sentido, considerando a sociedade letrada que existe nos dias de hoje, coloca-se a necessidade de inclusão dos não alfabetizados no universo da cultura escrita e nos contextos de uso da linguagem, o que exige a elaboração de meios eficazes para implementar ações que efetivem essa inclusão, atendendo a interesses políticos, sociais e educacionais (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A necessidade de somar esforços no âmbito político e acadêmico para continuar lutando pela eliminação do fracasso escolar justifica os estudos no campo da alfabetização e do letramento, contribuindo para que todos os alunos, jovens ou 35 adultos, possam usufruir o direito de aprender e de utilizar a língua em diferentes situações, combatendo, assim, as desigualdades sociais (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A concepção simplificadora do processo de educação de adultos tende a ver o alfabetizando como alguém que não se desenvolveu culturalmente. Por isso, nesse contexto, a prática pedagógica é orientada apenas para a lógica do ensino, utilizando, muitas vezes, os mesmos procedimentos didáticos inadequados empregados também para ensinar as crianças. Essa forma de ver a questão parece menosprezar o conhecimento do sujeito analfabeto, porque percebe a alfabetização de adultos como uma “[...] retomada de crescimento mental de um ser humano que estacionou na fase infantil” (PINTO, 1994). Ela não considera o conhecimento prévio do alfabetizando, os saberes adquiridos por meio de sua história de vida e ignora que o desenvolvimento e a aprendizagem acontecem na interação social, que não cessa pelo fato de o indivíduo permanecer analfabeto. A Educação de Jovens e Adultos é caracterizada pela participação dos alunos, pela flexibilidade, pelo foco no processo, atendendo às especificidades de cada educando sem estar preocupada com ênfase no conteúdo, com metodologia e organização voltadas para um currículo rígido. A ativa participação dos alunos deverá ocorrer nas diversas fases do processo de ensino-aprendizagem como diagnóstico das necessidades educativas, elaboração de plano e estabelecimento de objetivos, a partir do diagnóstico e de formas adequadas de avaliação. Ela deve ser embasada no conforto, na informalidade e no respeito, garantindo que o aluno da EJA se sinta seguro e confiante (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Considerando que a atividade docente, diante da diversidade cultural e social, das características individuais dos alunos e da complexidade e variedade de situações cotidianas que existem em sala de aula, se encontra em constante mudança, é preciso utilizar diferentes tipos de conhecimentos para decidir e agir de forma mais sensata, produtiva e estimulante no planejamento do trabalho pedagógico e na efetivação desse planejamento (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Frequentemente, o mundo escolar apresenta imprevistos, desafios, obstáculos e surpresas. Para lidar com esse dinamismo é preciso estar suficientemente preparado para atuar criativamente no desenvolvimento dos conteúdos. Quando algo nesse planejamento não se concretizar de acordo com as 36 expectativas, embora a decepção e o sentimento de frustração sejam inevitáveis, o importante é não desanimar e analisar os erros, procurando verificar a natureza deles e o porquê de o planejado não ter ocorrido conforme o previsto (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais. Essas necessidades podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à transmissão e busca de informação e ao exercício da reflexão (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Desse modo, a escola tem como responsabilidade promover o acesso dos estudantes ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinando-os a interpretá-los e a produzi-los. No contato com textos de diversas naturezas e que tragam informações sobre diferentes áreas do conhecimento, os alunos devem ser levados a compreender um conceito, descrever um problema, identificar uma nova informação, comparar pontos de vista e argumentar a favor ou contra determinada teoria ou hipótese (BRASIL, 1997). O professor precisa conhecer previamente os alunos para a eficiência dos processos de ensino e de aprendizagem. Em relação aos alfabetizandos jovens e adultos, além desse diagnóstico, também é importante pensar e responder questionamentos como: Quem são esses aprendizes? Como vivem, o que pensam, o que fazem, por que resolveram voltar a estudar, ou, quem sabe, iniciar seus estudos? (SCHWARTZ, 2012). É fundamental renunciar a visão de que os analfabetos são ignorantes, ingênuos e incompetentes, devemos, sim, enxergá-los como sujeitos inteligentes, que desenvolveram estratégias de sobrevivência em uma cultura escrita sem estar adequadamente instrumentalizados para isso, resolvendo problemas, vivendo trabalhando e amando. Para muitos alunos da EJA, aprender a ler e a escrever era sinônimo de uma atividade cansativa, já que consideravam as aulas muitochatas. É necessário fazer com que os estudantes acreditem que o entendimento a respeito de como se ensina e como se aprende avançou, fazendo com que as aulas se tornem diferentes das que eles esperavam, articulando o prazer com o aprender na sala de aula (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 37 O ser humano é movido pelo princípio do prazer, e esse princípio deve estar presente no aprender a ler e a escrever. A educação de jovens e adultos deve ser orientada no sentido de despertar no aluno a consciência da importância de alfabetizar-se, de instruir-se. E essa necessidade será despertada também a partir da compreensão crítica da sua realidade e da sociedade em que está inserido (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os alunos jovens e adultos geralmente retornam à escola em busca de uma aprendizagem que não conseguiram construir em outros momentos de suas vidas. O professor precisa conhecer seus estudantes e seus anseios, além de descobrir o que eles buscam no espaço escolar, para que servirá a aprendizagem e de que forma será possível atingir os objetivos propostos. E, a partir desse conhecimento, o profissional deverá pautar suas ações, oportunizando que os sujeitos falem, participem, sugiram e explicitem suas expectativas e seus medos, diminuindo assim a ansiedade em frente ao desconhecido. A atividade docente deve ser permeada de máxima competência técnica para que o desenvolvimento das capacidades linguísticas de ler, escrever, falar e ouvir sejam proporcionados aos alunos. É preciso estabelecer um pacto de confiança entre professor e aluno para atingir plenamente os objetivos propostos pela EJA (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O conhecimento, nas suas novas dimensões, exige uma interação muito maior entre a escola e o seu espaço social. Trata-se de aprender e reaprender em todas as fases da nossa vida e de reorganizar a educação em função dessa nova realidade. De acordo com Raiça (2008), o professor tem o papel de mediador de inúmeras teias relacionais da vida, nesse mundo em constante transformação, diante de inúmeros aparatos tecnológicos, sem perder sua maior essência: a paixão por educar. Já não é mais possível ver a educação como um universo isolado ou vê-la sem compreender as suas complementaridades com outros espaços do conhecimento: relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de fora, saber, desvendar, ir além da superfície, transcender o previsível e a exterioridade, aprofundar os níveis de descoberta e penetrar mais fundo nas coisas da realidade, do nosso interior. 38 12 AÇÕES METODOLÓGICAS A PARTIR DE UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR E INTERCULTURAL PARA A EJA De acordo com Martins (1999), o planejamento educacional é um processo dinâmico que tem uma meta a ser atingida e que prevê as formas de atingi-la, partindo de uma situação atual e visando a uma situação futura provável da educação que deverá atender tanto ao indivíduo quanto à sociedade. Nessa perspectiva, a educação é um desafio constante para a sociedade e a luta contra o fracasso escolar, por meio do uso de novas metodologias e técnicas de ensino, da especialização dos professores e da integração escola-família são requisitos fundamentais no processo de educar para a vida (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A partir dessas ponderações é imprescindível repensar o currículo escolar, pois a escola assume a função de transformação dos sujeitos enquanto construtores da sua própria história. Assim, a escola vai fortalecendo sua importância na vida do cidadão, não só por possibilitar o acesso à cultura por meio do conhecimento socialmente valorizado, como também por sua função na promoção da cidadania, por intermédio do convívio social e do exercício de práticas participativas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) normatizam a organização pedagógica da escola em torno de três princípios orientadores que são a contextualização, a interdisciplinaridade e as competências e habilidades. A interdisciplinaridade está relacionada ao conceito de contextualização sócio histórica como princípio integrador do currículo. Indissociável da interdisciplinaridade, a transversalidade estrutural, complementa e insere a educação no contexto social e histórico. Isso porque ambas propõem uma articulação que vá além dos limites cognitivos próprios das disciplinas escolares, sem, no entanto, recair no relativismo epistemológico. Ao contrário, elas reforçam essas disciplinas ao se fundamentarem em aproximações conceituais coerentes e nos contextos sócio históricos, possibilitando as condições de existências e constituição dos objetos dos conhecimentos disciplinares (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos 39 aparentemente expressos, colocando-os em questão (FAZENDA, 2001, p.11). Isso significa olhar para o cotidiano escolar problematizando as supostas obviedades. O lugar da busca hospeda-se na escola e, em especial, na sala de aula, onde as relações são disseminadas. São desenvolvidos sujeitos que compartilham e ocupam o mesmo espaço, embora habitando lugares diferentes, com expectativas e necessidades variadas. A sala de aula na interdisciplinaridade constitui um espaço intermediário entre os sujeitos, para que as fronteiras existenciais e intelectuais sejam entrelaçadas, cuidando para promover a manutenção do diálogo, compartilhando para que esse lugar seja habitado. A interdisciplinaridade exige certa ordem e determinado rigor e reconhece alunos e professores como pessoas portadoras e construtoras de história (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Por isso, trabalhar de modo interdisciplinar pressupõe trabalhar com a história no singular e no plural, ou seja, com suas diferentes narrativas; elas são o ponto de partida e o de chegada para o dimensionamento e o redimensionamento da realidade, que sempre se encontra embebida de significados, os quais não podem ser desprezados em função de perfis pré-moldados de aluno (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A teoria da interdisciplinaridade sustenta-se em uma relação de reciprocidade, em que o desvendar de novos saberes é também compartilhado pelo professor por meio da atitude de se desafiar e de se encantar perante o novo. É necessário que o educador aprenda a interagir com o outro e não apenas com os educandos, que desempenhe um papel social na interação e na construção dos saberes interligados e que suas atitudes em relação ao outro sejam estabelecidas e fundadas na busca de sua identidade. As obrigações devem ser realizadas prazerosamente com a cooperação mútua, em espaços construídos sobre bases sólidas, com estruturas resistentes, passo a passo e, nessa troca, será possível perceber o educador com identidade única, constituindo, com os educandos, um grupo que toma forma, com identidade e parceria, estabelecendo vínculos, aprimorando conhecimentos, compondo um pequeno universo com energia única. Reconhecer a condição de busca significa reconhecer a si mesmo e ao outro como autores da história e do conhecimento, em um processo marcado pela parceria, que inclui um educador 40 necessariamente provocador da construção de perguntas, de dúvidas e, portanto, de algumas diferentes saídas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Trabalhos interdisciplinares nos primeiros ciclos da Escola Fundamental, na EJA, como no ensino para crianças, têm encontrado um espaço muito mais receptivo do que nos ciclos seguintes. Não podemos considerar esse fato sem relacioná-lo à formação dos educadores e à própria organização do trabalho escolar que nos primeiros anos de escolarização apresenta uma rigidez muito menor na distribuição dos tempos, dos espaços e dos profissionais para o trabalho com diversas disciplinas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Intenção interdisciplinaré planejar, estar disponível para rever atitudes, ter o respeito pelo aluno e fazer da sala de aula um espaço inovador e pleno de descobertas para o aprendizado. É o trabalhar docente visando a uma troca de experiências, provocando um enriquecimento na construção do conhecimento. Segundo Fazenda (1994, p. 31), o professor interdisciplinar traz em si um gosto especial por conhecer e pesquisar, ele possui um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos e usa novas técnicas e procedimentos modernos de ensino. No caso específico da EJA, na linha da Proposta Curricular para Jovens e Adultos, elaborada pela Ação Educativa sob a chancela do Ministério da Educação, foram produzidos materiais didáticos bastante consistentes para o desenvolvimento de um projeto pedagógico de escolarização de jovens e adultos. Esses materiais foram desenvolvidos a partir de temas como a identidade do aluno, as trajetórias de vida, as relações com o espaço físico e social, questões de saúde, condições de vida e integração ao ambiente, cidadania e participação. Essas questões adquirem tonalidades próprias quando esse ensino se realiza em um contexto de EJA, uma delas se destaca pela dramaticidade que assume quando se torna decisiva, não apenas para as opções pedagógicas dos educadores, mas para a própria inserção, permanência e para o crescimento do aluno no processo de escolarização (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os temas transversais são muito utilizados em sala de aula. São debatidos em diferentes espaços sociais em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos, tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo, quanto em relação à atuação pessoal. São questões relevantes sobre temas 41 sociais, que interrogam sobre a vida humana e sobre a realidade que está sendo construída. Ao fazer uso dos temas transversais, o professor estará utilizando um artifício muito rico e poderoso no desenvolvimento do ser humano, ao lidar com temas do cotidiano da sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os Parâmetros Curriculares Nacionais tratam essas duas dimensões de forma diferenciada, porém, na prática pedagógica, alimentam-se mutuamente, tornando o currículo estruturado e priorizando o desenvolvimento de competências e de habilidades (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Construir habilidades e desenvolver competências pressupõe disponibilizar recursos mobilizados que, na estrutura cognitiva, assumirão sua postura em sinergia, objetivando um agir eficiente em situações complexas da vida. Portanto, entende-se por competência a capacidade de mobilizar e articular recursos para a resolução de situações complexas de forma criativa (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para Ambrossetti (2002, p. 90), o que se observa na sala de aula é que o aprender não é mais um problema unicamente seu, mas coletivo. O aluno precisa sentir prazer no aprender e cabe ao professor desenvolver o conteúdo, contemplando novos caminhos em busca de uma maior aprendizagem. A prática pedagógica interdisciplinar visa à superação da estrutura fragmentada do conhecimento, a partir da articulação dos conteúdos, das metodologias e das práticas pedagógicas. Nesse sentido, metodologicamente, o 42 trabalho é desenvolvido nas concepções de interatividade, interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade, como formas de ações pedagógicas, que promovem a conectividade, a integração, o diálogo, a interseção, a reciprocidade e a integralização das experiências entre disciplinas da EJA (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O processo de ensino e aprendizagem não é igual para todos os sujeitos, já que ninguém aprende da mesma forma, pois os conhecimentos prévios de cada um são diferentes. Essa perspectiva defende a reorganização dos conteúdos a partir da sua compreensão e da solução de problemas. Na sociedade atual, existe um preconceito em relação àqueles que não dominam o código escrito. O domínio da leitura e da escrita fortalece a cidadania, por isso, há políticas públicas dos movimentos sociais e de projetos educacionais para integrar o analfabeto à sociedade. Em muitas dessas iniciativas, a alfabetização associa-se à incorporação de jovens e adultos não escolarizados às estruturas sociais. Saber ler e escrever é recurso capaz de por si só levar à prosperidade e ao bem-estar social. A mera aquisição de conhecimentos e habilidades não é suficiente para alcançar tal propósito; são necessárias iniciativas articuladas a outras políticas e a mudanças sociais mais amplas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Assim, necessita-se assumir a importância desse objetivo pelas construções metodológicas a se manifestarem em práticas na EJA, diagnosticando o conhecimento prévio dos aprendizes. Segundo Sampaio (2009), alfabetização e educação associam-se a uma visão ampla de educação que se estende ao longo da vida, portanto as pessoas estão permanentemente se educando. Em vez de respostas educativas e descontextualizadas, programas educativos, inclusive os de alfabetização, deveriam estar conectados às necessidades básicas das populações e, por isso, sua organização deveria ser tão diversa quanto as singularidades dos contextos em que ocorrem e dos grupos atendidos. Os processos de aprendizagem deveriam focalizar as práticas culturais relacionadas à escrita e suas variadas modalidades de uso para além daquelas de que tradicionalmente a escola se ocupou. O processo de alfabetização, nessas perspectivas, colabora para que as pessoas possam transitar com familiaridade entre diversas práticas sociais de usos da linguagem e em diferentes instituições. Ele contribui para que as pessoas saibam buscar conhecimentos e informações para 43 continuar aprendendo ao longo da vida (SAMPAIO, 2009, p. 81). Os jovens e adultos não escolarizados são portadores e produtores de cultura, o que exige, por um lado, identificar os conhecimentos, os valores, as representações, as expectativas e as habilidades que possuem e, por outro, investigar as situações que eles vivenciam e como participam delas, o contexto em que estão inseridos e as atividades a que se dedicam. A diversidade cultural deverá ser tematizada nas práticas pedagógicas e nas salas de aula, gerando respeito e o entendimento de que a diversidade cultural se expressa de diferentes formas. Sendo assim, a escola é uma das instituições responsáveis pela construção de novas representações sociais e pela formação de uma cidadania crítica. Os “arco-íris de culturas” em nossas escolas fazem com que o trabalho docente seja mais complexo e desafiante. Demandam considerar como se faz viável despertar o interesse de alunos que são tão diferentes, atender às especificidades de distintos grupos, problematizar relações de poder que justificam situações de opressão, assim como facilitar a aprendizagem de todos os estudantes. Ao mesmo tempo, a multiplicidade de manifestações culturais e de identidades torna a sala de aula rica, plural, estimulante e desafiante (STOER; CORTESÃO, 1999). Abordar as diferenças em sala de aula não deve contribuir para isolar grupos, criar guetos ou para aumentar na sociedade a fragmentação que se pretende neutralizar. A sala de aula é um território potencialmente marcado pela diversidade cultural, que precisa rever suas práticas para combater efetivamente o senso comum das representações sociais que predominam em nossa sociedade. As escolas que abrigam as classes populares caracterizam-se, muitas vezes, como espaços de improvisação e precariedade de significados. Essa escola, que se expandiu de maneira degredada para abrigar crianças e jovens de classes populares, parece fazer a contenção da pobreza e do preconceito. É nesse contexto que os sujeitos da instituição escolar necessitam articular práticas produtoras de sentidos e significados para os alunos. A reorganizaçãocurricular, a partir da consideração à diversidade e da perspectiva multicultural crítica ou intercultural, contribui para a elevação da autoestima do aluno no espaço escolar à medida que ele vê sua herança cultural presente e valorizada em sala de aula, e percebe a relevância atribuída à sua identidade cultural (BRASIL, 1998; CANDAU; MOREIRA, 2008). 44 Para Leite (1996), a escola necessita trabalhar com propostas e projetos envolvendo jovens e adultos para introduzi-los na sociedade por intermédio de uma educação de significados, fazendo do espaço escolar um ambiente vivo, aberto ao diálogo, ao real, às suas múltiplas dimensões e às suas necessidades objetivas. Já Pozo (2002), afirma que nem sempre os desejos estão adequadamente motivados, mas havendo persistência em uma atividade, é porque, além do motivo inicial, surgiram outros. Aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos. Por isso, ensina-se e aprende-se nem sempre pelas respostas dadas, mas por meio das experiências proporcionadas e dos problemas compartilhados. A vida é, afinal, um eterno aprender. Nessa concepção, constantemente, os docentes têm a oportunidade de ressignificar suas práticas, considerando as redes de saberes e fazeres das quais participam. Dessa forma, a concepção de interdisciplinaridade na EJA, tem o sentido de rompimento da linearidade pedagógica, da superação dos modelos usuais de emissão/recepção de informações para uma postura articulada, integrada, facilitando a significação das aprendizagens (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 13 ADEQUAÇÃO DAS PRÁTICAS METODOLÓGICAS COM A REALIDADE DO ALUNO Planejamento, segundo Ferreira (1996, p.1343), é o trabalho de preparação para qualquer empreendimento e, como tal, aplica-se perfeitamente ao preparo das práticas pedagógicas, visto que antes de se tornarem práticas em sala de aula, precisam ser pensadas, elaboradas, pesquisadas e organizadas. Há décadas que se buscam métodos e práticas adequadas ao aprendizado de jovens e adultos, como define Paulo Freire (1979): “Por isso a alfabetização não pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador. ” Não se pode mais aceitar a abordagem tradicional, com a prevalência da armazenagem de conhecimentos, e em que as aulas são organizadas fazendo uso da metodologia expositiva. A partir de uma concepção instrumental de educação, a preocupação central é a de que o aluno domine os conhecimentos escolares 45 tradicionais. Na concepção dialógica, há a preocupação com o desenvolvimento da consciência política, mediante o trabalho coletivo e a valorização da prática social dos sujeitos do processo educativo. A preocupação central é que o aluno possa trabalhar com os conhecimentos que tenham significado sociocultural para ele. Sendo assim, a alfabetização de jovens e adultos acontece ao longo de um processo que, além de habilitar o aprendiz a ler, a produzir e a compreender qualquer tipo de texto, precisa conduzi-los também para uma leitura crítica da realidade, auxiliando na percepção, na conscientização e no desejo de transformação quando a realidade o demandar. A prática pedagógica deve oportunizar aos alunos meios para que possam decidir seu próprio futuro na sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Valorizar a prática pedagógica e a produção de pensamento, mas tendo também clareza de que os conhecimentos socialmente construídos são necessários para servirem de base para elaborar outros conhecimentos é fundamental, pois é dessa forma que o professor poderá organizar o que os alunos descobrem, criam e formulam em sala de aula (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Relativamente às metodologias e às técnicas de ensino, os professores utilizam nas diversas disciplinas técnicas didático-pedagógicas e atitudinais levando em conta que, durante toda a duração da EJA, se estabeleça a relação entre teoria e pratica; bem como as atividades curriculares procurem a articulação dos dados da realidade com o conhecimento elaborado, na busca da produção do conhecimento novo ou na sua aplicação (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Entende-se que a metodologia deva obedecer a parâmetros bem delineados, permitindo-se ser: Problematizadora: à medida que apresenta as contradições básicas de uma situação existencial concreta com problemas que desafiam as pessoas nela envolvidas. Interdisciplinar: à medida que várias disciplinas ou vários ramos do saber abordam determinado tema sob prismas diversos. Integradora: à medida que possibilita às pessoas captarem o desafio como um problema que tem conexões com outros problemas. Crítica: à medida que oportuniza a busca das causas sociais, políticas, econômicas e históricas de sua situação existencial. 46 Impulsionadora da ação: à medida que, ao responderem os desafios, as pessoas se sintam comprometidas e cada vez mais engajadas no processo de transformação de sua realidade. Dialogante: à medida que os alunos são chamados a conhecer e a elaborar o seu conhecimento, quando se encontram em autêntica comunicação com outras pessoas. Criativa: à medida que oferece às pessoas a possibilidade de construir seu saber, partilhando suas experiências, inventando e reinventando seu mundo, criando sua cultura e forjando seu destino como seres históricos. Permanente: à medida que, considerando os alunos como seres inacabados, inseridos em uma realidade igualmente inacabada, lhe dá a chance de refazerem, na ação-reflexão, constantemente, sua realidade existencial, tendo em vista sua plena libertação (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). As técnicas pedagógicas utilizadas pelo professor no processo de ensino- aprendizagem, em sintonia com a proposta metodológica, podem conter: Exposição pelo professor, na forma de aulas expositivas participativas, dialogais e interativas; Estudos de texto; de casos reais e/ou simulados; Estudos dirigidos e/ou orientados. Mesa redonda; círculo de estudos; painéis; e similares. Trabalho e apresentação em grupo. Utilização da informática como técnica de apoio didático pedagógico. Pesquisas orientadas de campo. Encenações teatrais e técnicas de oratória, etc. Ainda procuramos um método que seja capaz de ser instrumento também do educando e não só do educador; o conteúdo da aprendizagem com o processo de aprendizagem. Por essa razão, não acreditamos nas cartilhas que pretendem fazer uma montagem de sinalização gráfica como uma doação e que reduzem o analfabeto 47 mais à condição de objeto de alfabetização do que de sujeito dela própria (FREIRE, 1979, p. 72). Podemos afirmar que desde os anos 1970, ou até mesmo antes, o uso da cartilha e de metodologias inadequadas na educação de jovens e adultos preocupava os educadores da época e, infelizmente, essa problemática permeia os tempos atuais. A educação de jovens e adultos precisa ser significativa, fazendo com que o aluno se sinta capaz de tomar a história em suas próprias mãos e mudar seu rumo, acreditando na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as consequências de suas escolhas. É preciso mudar a rotina dos docentes que ainda fazem uso de desenhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros para copiarem, com caminhos pontilhados para seguir, com histórias que alienam, com métodos que não levam em conta a lógica de quem aprende (FUCK, 1994, p. 14-15). A alfabetização não pode ser reduzida a um aprendizado técnico-linguístico, como um fato acabado e neutro, ou simplesmente como uma construção pessoal- intelectual. A alfabetização passa por questões de ordem lógico-intelectual, afetiva, sociocultural,política e técnica (FREIRE, 1996, p. 60). Como educadores, se faz necessário ter a consciência de que o conhecimento para poder ser ensinado, passa por uma transformação, mas que seu significado e seu sentido original devem ser preservados. A transformação didática deve se manter fiel ao saber de origem. O educador que se dispõe a exercer o papel de “professor- letrador ” considera que: [...] o ato de educar não é uma doação de conhecimento do professor aos educandos, nem transmissão de ideias, mesmo que essas sejam consideradas muito boas. Ao contrário, é uma contribuição “no processo de humanização”. Processo esse de fundamental papel no exercício de educador que acredita na construção de saberes e de conhecimentos para o desenvolvimento humano, e que para isso se torna um instrumento de cooperação para o crescimento dos seus educandos, levando-os a criar seus próprios conceitos e conhecimento. (FREIRE, 1990 apud PEIXOTO et al., [200-?]) O professor, ao planejar suas aulas, deve se lembrar de desenvolver estratégias de ensino “adequadas para que seus alunos tenham acesso a uma cultura de letramento diversificada”. 48 Alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando é sem dúvida o melhor caminho para se enfrentar os problemas do fracasso de muitas escolas e, assim, mudar as estatísticas educacionais. Soares (2001) pensa que os cursos de formação de professores, em qualquer área de conhecimento, deveriam centrar seus esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto naquela área. O professor deve se comprometer não só com a formação de seus alunos, mas, principalmente, com sua formação continuada enquanto profissional da educação. Sendo capaz de fazer sua intervenção na realidade, o que certamente acarretará novos conhecimentos, o que é bem mais notável do que simplesmente se ajustar à situação atual. Você deve lembrar que já apontamos por várias vezes ao longo deste texto que o letramento é um fenômeno social; logo, essa mediação que se faz indispensável pode ser proporcionada por ele. Para o educador se tornar um “professor letrador” se faz necessário que, primeiramente, ele tenha um bom entendimento e disponha de informações a respeito do tema, suas dimensões e, sobretudo, a sua aplicação. Segundo Soares (2001), “[...] alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita. ” Para elucidar esse processo de aquisição da língua escrita, buscamos evidenciar as práticas e intervenções realizadas pelo professor alfabetizador na formação do sujeito letrado. Ainda hoje, a escola tradicional permanece viva e firme, mudando ou variando pouco sua intenção a despeito de tantas tentativas com propósito de romper com ela. É fácil constatar a presença dessa prática pedagógica na escola contemporânea. Rubem Alves (2007) nos leva a refletir a respeito dos indicativos das mudanças que a escola e os professores precisam repensar; eles devem buscar caminhos de aprendizagens significativos para sua formação. Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória e a vara já foram abolidos. Mas poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que seja forçado a mover-se em uma “floresta de informações” que ele não consegue compreender, e que nenhuma relação parece ter com sua vida? (ALVES, 2007, p. 18). Nos últimos séculos muito se discutiu, repensou e modificou as práticas pedagógicas em relação à alfabetização, porém as novas diretrizes ainda estão sendo entendidas e testadas. Para Soares (2001), as novas diretrizes para alfabetização 49 ainda se deparam com a má interpretação de sua proposta. A alfabetização na EJA deve acontecer partindo de algo concreto, que pertença ao meio em que o aluno está inserido e não de cartilhas com visão fictícia, sem ligação com a realidade. 14 PROPOSTAS ALTERNATIVAS PARA UMA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS As transformações que vem ocorrendo em nível global, nas esferas, social, política, econômica, tecnológica, ética entre outras, refletem nas diversas áreas sociais. Na educação não é diferente, e a necessidade de mudanças se torna mais evidente (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Libâneo (2011), menciona que instituições de ensino atentas às demandas e necessidades da aprendizagem, precisam repensar seus objetivos e práticas de ensino, de modo a prover nos seus alunos os meios cognitivos e instrumentais de compreender e lidar com os desafios postos por esta realidade. O desafio está posto, mas é claro que não pode recair somente sobre a responsabilidade do professor, também recai sobre um conjunto político, que favoreça a educação de jovens e adultos, ampliando as escolas, atraindo e permitindo a inserção do segmento jovem-adulto na escola. Como lembrou Constanzi (2009), não é possível conciliar o estudo com uma jornada que degradante. A EJA, não contempla como uma “educação ideal”, mas sim como uma educação possível. O ideal seria que nossos alunos, ao concluírem o processo educativo, estivessem aptos plenamente para ingressar no mercado de trabalho já qualificados para o exercício da profissão, mas não é isso que acontece em nosso sistema de ensino (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Uma prática pedagógica comprometida com a educação dos jovens e adultos demanda construção permanente e coletiva. No entanto, trabalhamos na tradição escolar seletiva, que age em nome da ordem disciplinar, que aprisiona e silencia os sujeitos. Classifica e posiciona os sujeitos em condição desigual, não permitindo o diálogo e a sua emancipação, além de operar para a conservação da situação atual do sujeito (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Conforme Oliveira (2007), para transformar essa realidade opressora seria necessária uma ação consciente e problematizadora, promovendo uma política que 50 aparta das necessidades educacionais de jovens e adultos. É necessária uma política atenta à diversidade, que promova mudanças à lógica opressora, que exija umas práxis pedagógica referenciada na liberdade e no respeito, para assim atuar e contribuir para a promoção humana, de modo a assegurar o direito à educação ao longo da vida. Ainda segundo Oliveira (2007), o Método Paulo Freire, mais que garantir os processos de alfabetização, agregou aos ambientes de aprendizagem a compreensão sobre os seus processos e o desvelamento das realidades caracterizadas pela exclusão e pelas desigualdades sociais, políticas e econômicas. A riqueza do método freiriano, se afirma na dialogicidade do ato educativo, entre iguais, com permanente trocas e construção de saberes e na sua politização, promovendo a assim, a transformação. O ato educativo não é neutro. 51 Segundo Souza (2008), uma metodologia que promova o debate entre o ser humano, a natureza e a cultura entre a humanidade e o trabalho, entre as pessoas e o mundo em que vivem, chama-se metodologia dialógica. Como tal, ela prepara homens e mulheres para viverem seu tempo, com as contradições e os conflitos existentes e, assim conscientiza-os sobre a necessidade de intervir nesse tempo para a construção e efetivação de um futuro melhor. 52 A pesquisa funciona como apropriação de conhecimentos e desenvolvimento de competências de forma natural na sala de aula. Com ela, os estudantes aprendem a trabalhar com conceitos e a manusear dados, a fazer escolhas, a submeter um problema a alguma teoria existente, a dominar métodos de observação e análise, a confrontar pontos de vistas. Na pesquisa, o docente possui o papel de “facilitador”. Ele deve ajudar o aluno a encontrar o caminho certo para o atingimento do seu objetivo. Além disso, a pesquisa auxilia o docente a promover uma relação ativa com os conteúdos e com a realidade da qual pretendem lidar, ajudando na motivação dos estudantes para aprender(LIBÂNEO, 2011). Alfabetizar-se desse modo, significa introduzir-se numa diversidade de práticas comunicativas, falando ouvindo, lendo e escrevendo. Significa ser apresentado a uma variedade de textos e não simplesmente ao código da escrita, propiciando aprendizagens necessárias e relevantes, nas quais as pessoas coletivamente possam melhorar suas condições de vida (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 15 O TEMA GERADOR ENQUANTO PROPOSTA ADEQUADA À ANÁLISE, À INTERPRETAÇÃO E À CRÍTICA CONSIDERANDO DIFERENTES CONTEXTOS CULTURAIS Não conseguimos realizar a transformação com práticas de ensino engessadas e baseadas na repetição com vistas a memorização. Tais métodos assumem uma postura domesticadora de educação, tantas vezes criticadas por Paulo Freire (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Para Nadal (2007) as necessidades sociais não consistem em educar para a domesticação em obediência, cega aos preceitos impostos, mas sim para a formação de homens idôneos para idealizar e viabilizar mudanças. 53 Na escola, para que se conscientize esse processo, faz-se necessário que o estudante desenvolva a leitura e interpretação das diferentes situações de vida e se reconheça como sujeito (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Segundo Gadotti (1999) o precursor desta teoria, foi o educador Paulo Freire, que iniciou essas práticas que revolucionaram a educação de adultos no Brasil, com uma estratégia de investigação temática voltada para a alfabetização de adultos. Utilizava-se o conhecimento do aluno e o transformava esse conhecimento prévio em palavra geradora, possibilitando que todos pudessem participar; promovendo um ensino significativo, com a adoção de situações que cercam a realidade de educandos e educadores. Esses temas precisam ser, não só aprendidos, mas refletidos para que ocorra a tomada de consciência dos indivíduos sobre eles. O professor que opta pelo trabalho com temas geradores, permite ao aluno a reflexão das situações que envolvem a realidade; deste modo, os usos de temas geradores são trabalhados inversamente às propostas tradicionais. O tema gerador não se encontra nos homens isolados da realidade, nem tampouco na realidade separada dos homens. Só pode ser compreendido nas relações homem-mundo. O que pretende investigar são os homens e sua visão de mundo (FREIRE, 1981). O trabalho pedagógico utiliza-se de temas geradores, como forma de organizar a metodologia e a prática, como construção do fazer e pensar. O tema gerador desafia e exige do educando uma resposta em nível de ação, do fazer. O trabalho com temas geradores geram problematização e dúvidas sobre o que realmente o aluno precisa dominar. O tema gerador é o ponto de partida para uma aprendizagem significativa (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). De acordo com Corazza (1992); Freire (1987) e Gouvêa (1996) o tema gerador contém a possibilidade de busca da raiz das questões, abordando aspectos contraditórios entre si, de forma processual, com avanços, retrocessos e rupturas. Cria-se a necessidade de compreender a realidade do aluno, problematizando-a. Nessa problematização, o professor questiona os alunos para obter suas opiniões e relatos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Deve ser realizado um trabalho a partir do qual o docente possa selecionar falas que expressem o cotidiano da comunidade e seus problemas; conflitos e contradições a serem superados; o pensamento da coletividade e não apenas de uma 54 pessoa ou família, que representem situações significativas do ponto de vista da comunidade; falas originais dos pesquisados: gírias, “dialetos”; uma totalidade orgânica (que articule entre si) (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os líderes da comunidade podem colaborar no processo participando e organizando peças de teatro, cartazes, escolha de frases, seleção de filmes e assuntos do cotidiano da comunidade, para dar um retorno aos alunos e a toda comunidade os possíveis temas, a fim de que estes possam ser avaliados, bem como ampliadas as explicações dadas aos problemas da comunidade. O aluno dialoga com seus pares e com o educador sobre o seu meio e a realidade. Essas discussões permitem ao professor aprender a visão dos alunos sobre a situação problema (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Nesse caminho as construções, superações e crescimentos realizados pelos educandos representam a síntese de um processo de ensino-aprendizagem. Através do tema gerador, é possível avançar para além do limite do conhecimento que os educandos têm de sua própria realidade, para, assim, melhor entende-la e intervir criticamente (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A perspectiva, segundo Gouvêa (2003, p. 26) “[...] é a de estar resgatando da vivência dos alunos, situações que são significativas para a comunidade e que se apresentam como limites explicativos na compreensão de sua realidade.”. 55 O professor precisa fazer uso de diversos materiais e recursos didáticos, como revistas, jornais, músicas, filmes, jogos, poesia, relatos de experiência e textos produzidos por alunos, gibis ou histórias em quadrinhos, fotos, ilustrações, que podem ser utilizados para o processo ensino-aprendizagem, evitando livros didáticos, apostilas e manuais que não possuem relações com a realidade vivida dos alunos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Gadotti (1991), citou quatro passos do Método Paulo Freire: 1. Leitura do mundo: o primeiro passo do seu método de apropriação do conhecimento é a leitura do mundo. Destaca-se a curiosidade como precondição do conhecimento. “Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. 2. Compartilhar sua leitura do mundo: a minha leitura do mundo não capta parte da realidade. O diálogo não é apenas uma estratégia pedagógica, é um critério de verdade, de aproximação crítica e mais abrangente de compreensão da realidade. 3. A educação como ato de reprodução e de reconstrução do saber: conhecer não é acumular conhecimentos, informações ou dados. Conhecer implica mudança de atitudes, saber pensar e não apenas assimilar conteúdos escolares do saber chamado universal. Saber é criar vínculos, O conteúdo toma forma. 4. A educação como prática de liberdade é a politicidade do conhecimento: é o momento da problematização, da existência pessoal e da sociedade, do futuro. 56 A educação é uma arte, e cabe a cada professor fazer da sua sala de aula um local para conduzir o aluno à ação, através da reflexão, conscientização, reinstalando a esperança de que ele pode transformar o mundo e a sociedade em que vive (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 57 16 RELACIONAR A INTERDISCIPLINARIDADE COM PROJETOS DE ENSINO QUE UTILIZAM O TEMA GERADOR COMO PROPOSTA DE TRABALHO A interdisciplinaridade é configurada no trabalho com temas geradores, uma vez que o tema caracteriza-se como o ponto de encontro das diferentes áreas que formam os conhecimentos científicos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Os pressupostos apresentados pela abordagem educacional, baseados em temas geradores mostram-se de grande valia a partir do momento em que norteiam para uma concepção de educação que reconhece a importância do ensino contextualizado e tratado de forma interdisciplinar. Mais do que isso, coloca o educando como participante ativo do processo educativo, possibilitando a formação de cidadãos mais críticos e ativos na sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O tema gerador como metodologia na produção de um saber interdisciplinar, Freire propõe uma alternativa radicalmente nova para tratar a questão do conhecimento e do processo educativo, que também está diretamente ligado com o problema epistemológico. A novidade freireana reside na elaboração de uma metodologia coerente para desencadear o processo de construção do conhecimento. É para esse fim que Freirepropõe o tema gerador como superação, tanto do dualismo sujeito-objeto, quanto da fragmentação do saber, decorrente do paradigma científico moderno que, por causa da verticalização do saber, produziu uma ciência necrófila, sem vida e distante das demandas existenciais da humanidade. A construção de uma racionalidade dialógica é possível a partir de um trabalho sociocultural que tenha por base a metodologia dos Temas Geradores (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). As palavras e os temas mais significativos deste universo são escolhidos como material para “[...] a elaboração do novo conhecimento, partindo da problematização da realidade vivida. ” (ANDREOLA, 1993, p. 33). 58 A ação pedagógica através da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito-social. O educador, sujeito de sua ação pedagógica, é capaz de elaborar programas e métodos de ensino-aprendizagem, sendo competente para inserir a sua escola numa comunidade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O objetivo fundamental da interdisciplinaridade é experimentar a vivência de uma realidade global que se inscreve nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo. Enquanto a escola tradicional, é compartimentizada e fragmentada (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). A EJA deve priorizar o conhecimento num viés interdisciplinar, a fim de compreender a interdisciplinaridade presente na integração de conteúdo, na valorização de todas as práticas e conhecimentos, na qual as áreas de conhecimento produzem-se interdisciplinarmente (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Em síntese, a interdisciplinaridade pode ser vista como uma teoria epistemológica ou como uma proposta metodológica. Também como uma modalidade de aplicação de conhecimentos de uma disciplina em outra. Igualmente, como 59 modalidade de colaboração entre professores e pesquisadores ou simplesmente como um sintoma de crise das disciplinas, do excesso e da fragmentação de conhecimentos, da especialização que perde a visão do todo (PAVIANI, 2008). Com este viés interdisciplinar, também Vasconcellos (2002, p. 40) corrobora e aponta a importância da construção dialética do conhecimento em sala de aula, afirmando que: “Na perspectiva dialética da educação, o conhecimento a ser trabalhado em sala de aula não tem um fim em si mesmo. O conhecimento tem sentido quando possibilita o compreender, o usufruir ou o transformar a realidade.”. Segundo Vasconcellos (2002) esta concepção possibilita que o aluno se aproprie do saber de maneira mais significativa, concreta, transformadora e duradoura. Assim, é necessário pensar no planejamento e na ação metodológica a partir do viés interdisciplinar. O mesmo precisa alicerçar-se no envolvimento e na participação do professor, que deve sempre analisar e refletir a sua prática, buscando espiralidade ação-reflexão-ação. Esta concepção está alicerçada numa visão globalizante e interdisciplinar de organização das disciplinas e dos conteúdos escolares. Nesta proposta, o planejamento na EJA deve ter ênfase no trabalho norteado por projetos didáticos, possibilitando a conciliação do estudo de problemas contemporâneos significativos para o grupo de estudantes, professores, através de conteúdos das disciplinas escolares, respeitando seus interesses, necessidades e tomando como ponto de partida as concepções, hipóteses e conhecimentos dos alunos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Se definirmos interdisciplinaridade como junção de disciplinas, cabe pensar o currículo apenas na formatação de sua grade. No entanto, se definirmos interdisciplinaridade como atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento, cabe pensar aspectos que envolvem a cultura do lugar onde se formam professores (FAZENDA, 2012). Para Fazenda (2008) só é possível trabalhar interdisciplinarmente com uma atitude interdisciplinar. Sem a conversa entre as diferentes áreas do conhecimento, não é possível acontecer um planejamento interdisciplinar. 60 A educação deve romper com as fragmentações, facilitando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas existentes. A interdisciplinaridade pode contribuir nessa questão, pois supõe um eixo integrador com as disciplinas, de forma que os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes. Demo (1998, p. 88-89) define a interdisciplinaridade “[...] como a arte do aprofundamento com sentido de abrangência, para dar conta, ao mesmo tempo, da particularidade e da complexidade do real.”. Uma das soluções encontradas no enfrentamento das questões postas é o estudo de temas relacionados com as vivências dos jovens e adultos, de forma interdisciplinar, fomentando o interesse para os conteúdos ministrados (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 17 LETRAMENTO E PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA E ESCRITA NO CONTEXTO DO ALUNO O letramento acontece com as interações sociais do sujeito entre o seu cotidiano e as relações que ele estabelece entre os significados da imagem e o som das letras. Assim, todos os alunos da educação de jovens e adultos, independentemente de já terem ou não ingressado no sistema formal de ensino, já tiveram experiências com o mundo da escrita e da leitura a partir do ensino informal (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É importante que você compreenda a seguinte perspectiva: a educação atravessa os “muros” que delimitam a escola do mundo, o que, para Gohn (2006), consiste em um alargamento dos domínios da educação. Isso pode acontecer de diferentes formas, como a educação formal, a informal ou a não formal. Para essa autora, o ensino informal, do qual o sujeito do EJA já adquiriu muitos conhecimentos – “fora da escola” – é constituído pelos espaços informais em que a aprendizagem pode acontecer. Deste modo, a educação informal acontece na família, entre amigos, 61 com os vizinhos, entre outros espaços denominados por Gohn (2006, p. 29) como “‘demarcados’ por referências de nacionalidade, localidade, idade, sexo, religião, etnia, etc. A casa onde se mora, a rua, o bairro [...]”. Para Richmond, Robinson e Sachs- -Israel (2009, p. 10) Em algum nível, os ambientes sociais são ambientes letrados. A comunicação por meio da leitura e da escrita é parte de cada sociedade – órgãos internacionais, governos nacionais e organizações comunitárias dependem da alfabetização para tomar decisões, comunicar conhecimento, fazer planos e documentar ações. Indivíduos contam com a leitura e a escrita para transações diárias, aprendizagem, lazer e contato através do tempo e da distância. Quando esses alunos ingressam na escola, já estão impregnados de saberes construídos previamente a partir de suas vivências e experiências. Esses saberes devem ser considerados na EJA como uma possibilidade de, a partir deles, esses jovens e adultos efetuarem, de maneira mais dinâmica e significativa, o processo de alfabetização dentro da escola (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). As práticas sociais dos alunos são compreendidas aqui como interações entre o contexto social em que os alunos estão inseridos e os conhecimentos que vão construir por meio das práticas pedagógicas na escola, para que não se transformem em um analfabeto funcional, ou seja, aquele que reconhece as letras, realiza a leitura e a escrita, mas não consegue fazer alguma relação significativa a partir disso com o seu cotidiano. O termo analfabeto funcional significa que os sujeitos sabem decodificar, reconhecem o sistema formal da escrita, mas são incapazes de fazer uso da escrita e da leitura na sua prática social diária. Ou seja, uma forma mecânica de ler e escrever, sem relação com o mundo (SOARES, 2015). Soares (2015, p. 18) destaca que a alfabetização funcional, isto é, o contrário de analfabetismo funcional “[...] usada pela UNESCO nos programas de alfabetização organizados empaíses subdesenvolvidos, pretende alertar para esse conceito social da alfabetização. ” Desta forma, a alfabetização funcional ocorre na escola que tem o compromisso de alfabetizar letrando, valorizando o que os alunos já sabem, conhecem e têm interesses. Vamos retomar o ponto de vista de Richmond, Robinson e Sachs-Israel (2009, p. 18): 62 A ideia do ambiente letrado tornou-se central para a discussão sobre como vincular a alfabetização ao uso da leitura e da escrita. Na vida diária, as pessoas – tanto alfabetizadas quanto analfabetas – já utilizam diversos formatos de texto: textos visuais como pôsteres, sinalização nas ruas, contas, livros, jornais, bem como textos orais, como mensagens de telefone, programas de rádio e discursos políticos. É o caso nas áreas rurais, frequentemente consideradas ambientes pouco letrados, bem como nas cidades. Mais do que criar um ambiente letrado, é necessário primeiro compreender o ambiente existente e como enriquecê-lo. Este ambiente letrado está de acordo com as concepções de alfabetização de jovens e adultos que Freire (1994) apresentou, destacando a importância de as práticas pedagógicas serem fundamentadas pelo diálogo em sala de aula, como um ato de liberdade, pela conscientização de alunos e professores. Práticas sociais como a leitura e a escrita precisam estar permeadas do cotidiano do aluno, que façam sentido para ele. Freire (1991) utilizava o exemplo de uma frase “Eva viu a uva” para explicitar que não adianta o aluno ler esta frase, sem compreender quem é Eva, ou o que é uma uva. O autor reforça que é preciso que o professor auxilie o aluno na compreensão, por exemplo, de quem é Eva no contexto social e sua relação com a uva, além do entendimento econômico e cultural que esta frase potencialmente representa. O conceito de letramento neste texto segue a perspectiva anunciada por Soares (2002, p. 145): [...] concepção de letramento como sendo não as próprias práticas de leitura e escrita, e/ou os eventos relacionados com o uso e função dessas práticas, ou ainda o impacto ou as consequências da escrita sobre a sociedade, mas, para além de tudo isso, o estado ou condição de quem exerce as práticas sociais de leitura e de escrita, de quem participa de eventos em que a escrita é parte integrante da interação entre pessoas e do processo de interpretação dessa interação [...] 18 ALUNO COMO SUJEITO-AUTOR DE SUAS APRENDIZAGENS A educação de jovens e adultos precisa reconhecer o aluno como sujeito- autor de suas aprendizagens. Por meio das práticas pedagógicas em que o professor auxilia, media e orienta o aluno, este, por sua vez, de maneira significativa, vai desenvolver a aprendizagem na construção de conhecimento (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Reconhecer o aluno com um sujeito ativo requer que o professor trabalhe o desenvolvimento da autonomia dos alunos na escola, para que eles percebam que 63 podem sim ser um sujeito ativo e participante não somente em sala de aula, mas também no seu cotidiano fora da escola, o que significa sentir-se “parte integrante da sociedade” (BEZERRA; FARIA; MACHADO, [200-?], p. 11). Para Bezerra, Faria e Machado ([200-?], p. 8), não podemos esquecer “que os alunos da EJA chegam à escola, habitualmente, com hipóteses primitivas sobre a escrita. Assim, cabe à escola garantir, a quem precisa, um ambiente alfabetizador. ” Os autores alertam, porém, que “não é o ambiente que alfabetiza, nem é o fato de pendurar texto escrito nas paredes que o torna, por si só, alfabetizador. ” Desta forma, o professor precisa propiciar um ambiente acolhedor, que privilegie a leitura e a escrita, ou seja, uma sala de aula que disponha de diversos tipos de textos, e que todos estejam acessíveis a jovens e adultos: jornais, revistas, entre outros. Reconhecendo que a escola, que a sala de aula, pode fomentar em sua organização os movimentos de leitura e escrita desses alunos. Os autores complementam que um “ambiente alfabetizador designa um espaço privilegiado de leitura e escrita para oferecer aos alunos, que vêm de ambientes onde a cultura escrita não tem muita serventia, por exemplo: jornais servem para forrar ou embrulhar objetos e não para ler” (BEZERRA; FARIA; MACHADO, [200-?], p. 8). A alfabetização e o letramento precisam ser compreendidos como um processo completo, repleto de singularidades, haja vista a diversidade da turma, já que cada aluno terá um ritmo de acompanhamento das aulas e das atividades propostas. O importante aqui é que os alunos reconheçam suas dificuldades e limitações e as trabalhem, com autonomia e comprometimento. Assim como Pinto (1993, p. 30), acreditamos que A educação é um processo, portanto é o decorrer de um fenômeno (a formação do homem) no tempo, ou seja, é um fato histórico. Todavia, é histórico em duplo sentido: primeiro, no sentido de que representa a própria história individual de cada ser humano; segundo, no sentido de que está vinculada à fase vivida pela comunidade em sua contínua evolução. Para que o reconhecimento – da história individual de cada aluno – e suas interações com o mundo aconteçam, o professor precisa compreender seus alunos, sem se deter apenas em saber sobre suas histórias de vida. De fato, suas observações em sala de aula podem se tornar um instrumento rico para conhecer como cada aluno se organiza a fim de buscar novos conhecimentos. Ao observar os alunos, o professor terá mais informações para fazer interferências que podem ser ora 64 de maneira individual, ora em grupo, com o objetivo de orientar e auxiliar os alunos, além de fazê-los se sentirem valorizados e percebidos pela figura do professor. O objetivo do professor é proporcionar um ambiente potencializador, em que o aluno possa, por meio deste ambiente, não só efetivar seu processo de ensino e aprendizagem que compreende a escrita e a leitura, mas também desenvolver diferentes habilidades e formar atitudes que incluam uma tomada de consciência que leve a uma postura crítica perante a sociedade. Segundo Freire (2005, p. 15) Esta tomada de consciência não é ainda a conscientização, porque esta consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência. A conscientização implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição epistemológica. Portanto, neste ambiente potencializador, o professor também promove o desenvolvimento da criticidade e autonomia do aluno. De acordo com Freire (2005), a criticidade seria o desenvolvimento do processo contínuo de conscientização do sujeito, que o possibilitará ter uma visão crítica de sua realidade e do mundo. Para este processo de conscientização, é fundamental que o sujeito tenha também a possibilidade de desenvolver sua autonomia, a partir de práticas pedagógicas que promovam sua participação ativa e seu envolvimento com o processo de ensino e aprendizagem. Com isso, será possível oferecer as condições para que este sujeito perceba que deve e pode fazer a gestão do seu processo de aprendizagem para a construção do conhecimento (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 19 A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DA ORALIDADE E DA PALAVRA ESCRITA Segundo Pinto (1993), no processo de alfabetização de jovens e adultos, que, de acordo com os estudos de Soares deve ser compreendido com o desenvolvimento concomitante do seu letramento, o professor precisa ter consciência de que não pode cair no erro de infantilizar o jovem e o adulto, ou seja, tentar tratar o aluno da EJA da mesma forma que uma criança, sem reconhecer as especificidades dos alunos que voltam para a escola quando já são jovens e adultos. Para que isso não ocorra, é importante desenvolver um trabalho pedagógico no qual o professor valorize o aluno da EJA, reconhecendo sua idade e suas vidas 65familiar e profissional muitas vezes já constituídas. Pinto (1993, p. 72) complementa que os pedagogos não podem cair na armadilha de apenas reproduzir métodos “[...] obtusos, alienados, de alfabetização de instrução elementar e secundária”. Assim, é preciso repensar as práticas pedagógicas a fim de não reproduzir um ensino focado em crianças aos alunos da EJA, sem o mínimo respeito às especificidades desses alunos. É importante também que esses alunos sintam-se pertencidos à escola, desde a sua estrutura física até a parte pedagógica. Acima de tudo, a presença desses jovens e adultos na escola deve ser reconhecida e valorizada. Outra crítica é feita em relação à formação de professores para atuarem em EJA, já que o curso de pedagogia muitas vezes aborda assuntos referentes à educação de jovens e adultos em apenas uma disciplina, focando mais na educação de crianças – desde a educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Sobre a infantilização na educação de jovens e adultos, Oliveira (2007) destaca que o professor precisa reconsiderar o currículo, as atividades, bem como as propostas de tarefas, por exemplo, o tema de casa, pensando nas especificidades de seus alunos. Os autores afirmam que essa questão sobre a infantilização no ambiente escolar da EJA certamente resulta na evasão dos alunos: Esse é, possivelmente, um dos principais problemas que se apresentam ao trabalho na EJA. Não importando a idade dos alunos, a organização dos conteúdos a serem trabalhados e os modos privilegiados de abordagem dos mesmos seguem as propostas desenvolvidas para as crianças do ensino regular. Os problemas com a linguagem utilizada pelo professorado e com a infantilização de pessoas que, se não puderam ir à escola, tiveram e têm uma vida rica em aprendizagens que mereceriam maior atenção, são muitos (OLIVEIRA, 2007, p. 88). A educação de jovens e adultos precisa corresponder às necessidades e aos interesses dos alunos, valorizando-os como sujeitos com potencialidade de serem autônomos, críticos e reflexivos, não só em sua formação, mas também em sua relação e interação com o mundo (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Bezerra, Faria e Machado ([200-?], p. 11-12) sugerem como uma proposta pedagógica para ser trabalhada com jovens e adultos atividades que iniciam o processo de alfabetização e letramento (oralidade e escrita) pelo nome próprio dos alunos. Para os autores, isso favoreceu a “recuperação da memória familiar”. Ao organizarem as práticas pedagógicas, foi proposto “ que os alunos fizessem uma 66 entrevista com os familiares. As perguntas foram elaboradas coletivamente, depois transcritas e distribuídas para todos”. Este projeto culminou com a elaboração de um livro da vida, que foi construído a partir de inúmeras atividades que envolveram a leitura e a escrita, como textos, músicas, entrevistas, poemas e produções textuais. Isso demonstra que as atividades que envolvem leitura e escrita precisam motivar os alunos a participarem, fomentar neles a vontade pela pesquisa, pela descoberta de novos conhecimentos, mobilizando tanto os alunos como os professores em um ambiente propício ao desenvolvimento da expressão oral e escrita. Lembre-se sempre que, neste ambiente, o professor terá o papel de mediar as descobertas, as discussões, orientar os questionamentos, motivar novos interesses, por meio de atividades que não só ampliem o descobrimento de novas palavras, mas também proporcionem ao aluno uma leitura crítica da sua realidade – contexto social em que está inserido –, significando dar a ele condições para expressar-se pela oralidade e pela escrita, para que tenha uma participação ativa em ações culturais, sociais, econômicas e políticas em sociedade (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 20 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO E O EJA Na escola as Tecnologias da Informação e da Comunicação modificam o dia a dia de professores e alunos, para Oliveira, Ferreira e Braga (2012, p. 1), Quanto à evolução tecnológica, este cenário já vem se modificando com a chegada de equipamentos como o retroprojetor, o computador, o DVD, e outros recursos didáticos disponíveis na escola, que podem contribuir para um aprendizado mais significativo. Para aproveitamento dessa aprendizagem, é necessário que o aluno amplie suas concepções com relação ao uso operacional desses recursos, pois estes instrumentos sozinhos não garantem o aprendizado. Assim, através da mediação do professor e uma criticidade na utilização, essas tecnologias podem contribuir para um ensino contextualizado, além de proporcionar formas criativas na busca pelo conhecimento, visando alcançar resultados positivos e desenvolvimento na formação dos educandos. É preciso compreender que simplesmente incluir as TICs não significa que o professor terá sucesso em suas práticas. É preciso planejar situações de aprendizagem mediadas pelas tecnologias, promovendo momentos significativos de 67 aprendizagem, modificando as formar de ensinar, aprender e refletir com os erros. Para Moran (2000, p.32) Cada docente pode encontrar sua forma mais adequada de integrar as várias tecnologias e os muitos procedimentos metodológicos. [...] Não se trata de dar receitas, porque as situações são muito diversificadas, é importante que cada docente encontre sua maneira de sentir-se, comunicar-se bem, ensinar bem, ajudar os alunos a aprender melhor. Os professores agem de formas diversas ao incluir as tecnologias na educação, alguns acreditam que inserir em suas aulas ferramentas digitais será a salvação na busca de motivação dos alunos, outros reagem com medo pela falta de conhecimento em explorar os recursos tecnológicos em suas práticas educacionais. O que de fato precisa ser compreendido é que utilizar as TICs não é suficiente para que o professor garanta o processo de ensino-aprendizagem, é preciso incorporar um viés pedagógico ao uso das TICs em suas aulas, como um recurso para contribuir nas práticas pedagógicas como um meio e não como um fim (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Segundo Moran (2000) a partir de seus estudos sobre o uso das tecnologias no ensino, menciona que além de não ter uma receita de como utilizar, é preciso que o professor tenha consciência que, tão pouco, as tecnologias serão a salvação da educação, mas poderão potencializar novas formas de aprender e ensinar, contribuindo para que os alunos tenham um ambiente propício para a construção de novos conhecimentos. Na EJA o uso das TICS já pode iniciar pela reflexão sobre o impacto das tecnologias no cotidiano dos alunos como também no cotidiano dos professores, permitir aos alunos um momento em que eles próprios possam perceber a importância da utilização das TICs, compreender que além das vantagens também é preciso saber que há desvantagens e que, se estiverem cientes disso, podem contribuir para um bom uso das tecnologias na escola (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Dessa forma, o desafio do professor está na busca sobre como utilizar o potencial da tecnologia em favor do desenvolvimento de práticas educativas que contribuam para a construção do conhecimento. Assim inserir os recursos digitais de comunicação e informação nas práticas docentes não é como uma simples receita de bolo, cada professor buscará uma forma de integrar as TICs em suas aulas (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 68 Valente (2002, p. 32) alerta que Embora as sofisticações tecnológicas sejam ainda maiores, existem dois aspectos que devem ser observados na implantação dessas tecnologias na educação. Primeiro o domínio do técnico e do pedagógico não deve acontecer de forma estanque, um separado do outro. É irrealista pensar ser primeiro um especialista em informática ou em mídia digital, para depois tirar proveito desse conhecimento nas atividades pedagógicas. O melhor é quando os conhecimentos técnicos e pedagógicos crescem juntos,simultaneamente, um demandando novas ideias do outro. O domínio das técnicas acontece por necessidade e exigências do pedagógico e as novas possibilidades técnicas criam novas aberturas, constituindo uma verdadeira espiral de aprendizagem ascendente em sua complexidade técnica e pedagógica. A fala de Valente (2002) ressalta que o professor precisa ter um domínio técnico sobre a tecnologia que vai utilizar, além do domínio pedagógico para abordar o conhecimento. Segundo o mesmo autor, esses domínios se complementam e estão em constante evolução, já que reconhece que a partir do uso das tecnologias, o professor aprende novas formas de ensinar, por meio da possibilidade que tem de pensar sobre suas práticas pedagógicas, na busca de aprimorar sempre suas estratégias de ensino. Corroborando com esta perspectiva do uso das tecnologias, Masetto (2000) destaca que o uso não pode se limitar jamais à transmissão de conhecimento, ou seja, não se pode apenas introduzir as tecnologias no ensino e continuar com uma postura docente tradicional quanto ao ensino, em que o professor é visto como o detentor do saber. Os alunos são sujeitos ativos ou que podem juntos com os professores participar de forma cooperativa e colaborativa. Desta forma, é preciso que se organize novas formas de ensinar, nas quais os professores serão mediadores, orientadores, facilitadores no processo de aprendizagem dos alunos, buscando criar possibilidades significativas aos alunos, motivando-os na construção de conhecimento a partir do uso das tecnologias em sala de aula (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 21 LETRAMENTO DIGITAL NA EJA Para Soares (2002, p. 145, grifo do autor), o letramento é compreendido como um processo que vai além das práticas de leitura e escrita “[...] para além de tudo isso, o estado ou condição de quem exerce as práticas sociais de leitura e de escrita, de 69 quem participa de eventos em que a escrita é parte integrante da interação entre pessoas e do processo de interpretação dessa interação ”. Em um mundo totalmente tecnológico em que a grande maioria dos jovens tem acesso a computadores, internet e celulares, assim como muitos adultos também têm acesso, não podemos desconsiderar que esses recursos podem proporcionar, mesmo aos alunos que não são alfabetizados, interações com a leitura e a escrita. Conforme Soares (2002, p. 146) essas interações partem da “[...] introdução na sociedade de novas e incipientes modalidades de práticas sociais de leitura e de escrita, propiciadas pelas recentes tecnologias de comunicação eletrônica – o computador, a rede (a web), a Internet.” Assim, é importante o professor entender “[...] as mudanças que provavelmente estão ocorrendo, ou virão a ocorrer, na natureza do letramento – do estado ou condição de “letrado”, e assim compreender melhor o próprio conceito de letramento”. (SOARES, 2002, p. 148). Assim, os espaços de escrita se alteram, se configuram em novas possibilidades, como explica Soares (2002, p. 150) No computador, o espaço de escrita é a tela, ou a “janela”; ao contrário do que ocorre quando o espaço da escrita são as páginas do códice, quem escreve ou quem lê a escrita eletrônica tem acesso, em cada momento, apenas ao que é exposto no espaço da tela: o que está escrito antes ou depois fica oculto (embora haja a possibilidade de ver mais de uma tela ao mesmo tempo, exibindo uma janela ao lado de outra, mas sempre em número limitado). Compreender que as tecnologias nesses espaços não podem ser desconsideradas passa a ser uma exigência aos professores e à própria escola, pois os alunos que ainda não têm esse contato com a tecnologia precisam ser inseridos, já que o uso de, por exemplo, um micro-ondas, um caixa eletrônico, um cartão de passagem na roleta de um ônibus passa a ser importante no cotidiano da sociedade. Os alunos da EJA não podem pensar que a leitura e a escrita são apenas a representação gráfica de letras em um papel e a oralidade dessas letras, mas que estão presentes no seu dia a dia, nas tarefas domésticas, profissionais e pessoais (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O desenvolvimento de habilidades para o uso das tecnologias no cotidiano desses alunos passaria, então, pelas práticas pedagógicas de letramento digital na escola, nas quais o professor precisa incorporar as TICs como um meio para contribuir 70 com a aprendizagem dos alunos, a partir da construção de conhecimento sobre os estudos em sala de aula. Assim, não é preciso um domínio técnico dos alunos quanto ao uso das tecnologias, mas sim disposição e motivação para o uso (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O professor pode partir dos conhecimentos e das experiências de uso dos alunos com as TICs para incorporá-las ao seu planejamento, partindo depois para novos conhecimentos e possibilidades de uso das tecnologias, o que vai possibilitar a este aluno a aprendizagem não só dos conteúdos pragmáticos como também com o passar do tempo o domínio técnico das tecnologias. Assim, ele poderá também ser (re) inserido socialmente, culturalmente e profissionalmente a partir de suas habilidades tecnológicas fora da escola. Oliveira, Ferreira e Braga (2012, p. 2) destacam que: [...] a utilização das TIC requer habilidades específicas e os alunos da EJA podem apresentar dificuldades ao utilizá-las. Nesse caso, o professor como mediador do conhecimento, deve estabelecer uma maneira para que o aluno não se sinta desmotivado, ressaltando sempre a sua competência, e se possível estimular reflexões críticas e trabalhos de conscientizações. Os autores ainda alertam que o uso das tecnologias seria considerado um novo panorama da educação em relação a uma educação inovadora. Esse novo panorama da educação seria como um incentivo maior a construção de uma escola renovada, inovadora, crescente nas ideias de que o aluno é um ser pensante em pleno desenvolvimento social, educacional e comportamental. Isso levaria a uma maior inclusão social e diminuiria os problemas considerados graves, como a evasão escolar, abandono e repetência. (OLIVEIRA; FERREIRA; BRAGA, 2012, p. 2) Assim, é preciso que o professor faça uma avaliação diagnóstica para conhecer mais sobre os alunos, para avaliar como são suas interações e mediações com as tecnologias fora da escola e investigar se tiveram experiências dentro da escola com as TICs. Entender as necessidades, os medos e as angústias quanto ao uso das TICs possibilita ao professor planejar com mais eficiência o uso das tecnologias, buscando sempre inovação para o uso de outras tecnologias ou outras formas de incorporá-las, o que remete à compreensão de que esse processo de letramento digital será gradativo e contínuo, uma construção em conjunto entre professores e alunos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). 71 22 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Registros históricos apontam que a educação na modalidade a distância, através dos avanços tecnológicos de cada época, percorreu os mais diversos meios de comunicação. Iniciou por meio de correspondência, mais tarde utilizando o rádio e a televisão para transmitir os conteúdos para os alunos (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Segundo Maia e Mattar (2007), a primeira geração da educação a distância compreende a experiência desta modalidade com o envio de correspondência. Já a segunda geração para os autores é marcada pelo desenvolvimento de novas mídias como: rádio, televisão e telefone, que enriqueceram o processo de ensino- aprendizagem por meio da comunicação síncrona. E a terceira geração – chamada também de geração on-line, surgiu com a popularização dos computadores de uso doméstico e com a disseminação da internet. Sobre a última geração, Maia e Mattar (2007) apontam que a internet possibilitou a organização de espaços virtuais, como os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), assim como uma infinidade de recursos interativos,que possibilitaram uma comunicação síncrona, possibilitando uma maior interação e mediação entre professores e alunos. Sobre a comunicação síncrona e assíncrona, Jungblut (2004) explica que: A primeira é aquela que se dá em tempo real, ou seja, as partes envolvidas na troca de mensagens têm acesso imediato às respostas e reações do outro, uma vez que estão, de alguma forma, compartilhando simultaneamente um canal de comunicação que instantaneamente realiza as trocas de mensagens. A segunda é aquela em que a troca de mensagens é intercalada por um algum período de tempo que desconfigura o caráter de instantaneidade da comunicação síncrona. Dessa forma, Dias e Leite (2010, p. 9) complementam que a “EAD não é algo inovador, diferente. O que diferencia atualmente são os meios disponíveis”. 72 Remetendo sua afirmação ao surgimento da Internet, que dá a essa modalidade um grande impulso e novas possibilidades de interagir com o aluno, como as videoconferências, conversas on-line (bate-papos ou chats) e os fóruns, que oportunizam aos professores um contato efetivo com o aluno, permitindo que o ensino e a aprendizagem não sejam apenas baseados na transmissão dos conteúdos. Uma das grandes vantagens dessa modalidade de educação é a capacidade de dar oportunidade de estudos para pessoas que não podem estar presentes em uma sala de aula, seja pela falta de tempo, por questões geográficas ou por qualquer limitação que o impeça de frequentar uma Instituição de Ensino (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). Pode-se perceber, assim, que as mudanças entre as modalidades de ensino presencial e ensino a distância são essencialmente: os espaços e tempos de ensinar/aprender e as estratégias de interações entre alunos e professores, possibilitadas pelas Tecnologias da Comunicação e da Informação (TICs), em sua maioria constituídas pelos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). As principais caraterísticas da EAD na internet – online, é a possibilidade de mesclar o uso de recursos tanto para uma comunicação síncrona como também assíncrona, possibilitando uma maior velocidade quanto à troca de informações, retornos (feedback) entre alunos e professores minimizando a distância geográfica entre eles (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). É importante ressaltar que o marco da expansão da EAD no Brasil foi nos anos 90 com a regulamentação da Lei de Diretrizes de Bases Nacionais (LDB Lei nº 9394/96), já que a LDB reconheceu a Educação a Distância. Outro documento importante foi o Decreto nº 5.622/2006, que regulamenta o Art. 80 da LDB 9394/96 e define a Educação a Distância, no Art. 1, como: “[...] caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos”. Isso quer dizer que a EAD envolve um processo de ensino-aprendizagem no qual a interação dos alunos e professores pode se dar fora do ambiente escolar, superando a distância geográfica entre os mesmos, por meio do uso das TICs, que 73 ajudaram a estabelecer a mediação do professor, a participação dos alunos e as interações entre professor e aluno (SIQUEIRA, GUIDOTTI, 2017). O Parecer CNE/CEB 41/2002 destaca que na educação a distância “A interação pode ocorrer sem que os protagonistas estejam presentes fisicamente; ela supõe, necessariamente, dois elementos e um meio de comunicação: o aluno e o projeto pedagógico do curso, mediados por aparatos de comunicação, inclusive os chamados “virtuais”. Destacando que é preciso ponderar as especificidades da educação a distância que já comentamos neste capítulo. Assim, para uma educação a distância ser ofertada com qualidade é preciso considerar: A relação que será estabelecida entre alunos e professores. Que a instituição seja responsável pelo processo de gestão, que envolve desde planejamento, preparação dos materiais didáticos, apoio técnico aos alunos e professores, como também apoio pedagógico e formação continuada aos professores, sempre de acordo com a legislação educacional vigente. Quais e como serão utilizados os recursos de comunicação entre alunos, professores e funcionários. O conteúdo deve ser apresentado “ de forma direta, clara e agradável” sempre elaborado por uma equipe multidisciplinar. A avaliação deve ser um processo contínuo e formativo ao desenvolvimento do aluno, considerando diversos tipos de instrumentos que possam contribuir para uma avaliação mais efetiva do desenvolvimento da aprendizagem de todos os alunos. E a Resolução nº 1, de 2 de fevereiro de 2016, define as diretrizes operacionais para o credenciamento de instituições que ofertam educação de jovens e adultos para a oferta na modalidade de educação a distância, em colaboração com os sistemas de ensino, ou seja, federal, estaduais e municipais. 74 23 O LEGADO DE PAULO FREIRE PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS O célebre educador Paulo Freire viveu de 1921 a 1997 e, certamente, foi uma das figuras mais importantes para o cenário educacional brasileiro e de outros países da América Latina. Com ideias abrangentes e inovadoras sobre a Educação Popular e a Educação de Jovens e Adultos (EJA), foi reconhecido internacionalmente como um dos maiores pensadores da educação de todos os tempos. Nessa perspectiva, torna-se fundamental trazer alguns conceitos marcantes nas ideias de Paulo Freire (NUNES, 2018). Primeiro, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) que se reafirma na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB nº. 9394/96), em seu artigo 37º § 1º que diz: Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (BRASIL, 1996, documento on-line). Essa lei veio para reforçar a educação proporcionada aos jovens e adultos e atenuar a exclusão e a marginalização social enfrentadas por eles, que, em grande parte, se encontravam fora das instituições escolares (NUNES, 2018). Um dos maiores legados de Freire foi o método de alfabetização de adultos que leva seu nome. Coelho (2001) diz que, para Paulo Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno, é possibilitar uma educação que leve o aluno a fazer a leitura do mundo. Para os indivíduos mais pobres, isso significa fazê-los compreender sua situação de opressão e incitá-los com vistas à própria libertação. De acordo com Feitoza (2011), apesar de o vocábulo “conscientização” estar frequentemente associado ao “método de alfabetização” de Paulo Freire, e ter 75 sido mundialmente difundido por suas obras, não é ele o autor desse vocábulo. O termo emerge como resultado de uma reflexão conjunta dos professores do Instituto Superior de Estudos do Brasil (ISEB), por volta de 1964. A conscientização, conforme Gadotti (2007, p. 107), “[...] implicava ação, isto é, uma relação particular entre o pensar e o atuar”. Relação particular, pois a natureza do atuar corresponde à natureza da compreensão. Se a compreensão é ingênua, a ação também será. Se for crítica, assim será a ação. E somente a esse último se refere o sentido original de conscientização. Para Paulo Freire, esse sentido original se mantém. Em sua compreensão, a conscientização consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência (FEITOZA, 2011). O livro mais conhecido de Freire é Pedagogia do oprimido, cujos conceitos baseiam praticamente toda a sua obra (FERRARI, 2008). Nesse cenário, a Pedagogia do oprimido propõe o que Paulo Freire chamou de educação como prática de liberdade, ou seja, uma educaçãoreflexiva, que problematiza, que critica, que questiona as ideias e os fatos postos como “naturais”. Desse modo, tal educação seria o contrário da “educação bancária”, que serve ao conformismo e é um dos principais instrumentos da opressão. Ribeiro ([2010], documento on-line) afirma que “a educação popular aliada ao método Paulo Freire tinha um papel fundamental na sociedade brasileira na década de 60, momento em que a população se encontrava tão carente de conhecimento e prestes a se libertar para o mundo”. No que se refere à Educação Popular, vale lembrar que é descrita como um método de educação que valoriza os saberes prévios do povo e suas realidades culturais na construção de novos saberes. Está implicada com o desenvolvimento de um olhar crítico, que facilita o desenvolvimento da comunidade em que o educando 76 está inserido, pois estimula o diálogo e a participação comunitária, possibilitando uma melhor leitura de realidade social, política e econômica (NUNES, 2018). As práticas pedagógicas usadas, segundo Paulo Freire, deveriam levar o sujeito a ser educado de dentro para fora, e isso era sinal da libertação do homem. A nova prática de aprendizagem-leitura dava ao sujeito liberdade para ler e escrever, porém, para que essa escrita fizesse sentido maior, deveria ter um caráter crítico e socializador que analisasse os contextos político, social e individual de cada um. Aí, sim, poderiam fazer a educação como prática de liberdade (NUNES, 2018). A Pedagogia do oprimido propõe um caminho no qual, por meio da educação, as pessoas aprendem a “ser mais elas”, e nesse exercício do ser emerge a autonomia, ou seja, a possibilidade de participar ativamente da construção e da transformação do mundo em que vivem (NUNES, 2018). A Educação de Jovens e Adultos (EJA), pensada e defendida por Paulo Freire, é uma proposta que se destina aos jovens e adultos que não puderam estudar na idade tradicional. Assim, eles têm as oportunidades educacionais adequadas ao que necessitam, sejam condições de vida e/ou de trabalho. Deve ser algo voltado para a garantia de formação integral, da alfabetização às diferentes etapas da escolarização ao longo da vida, inclusive àqueles em situação de privação de liberdade. A EJA é pautada pela inclusão e pela qualidade social. Dessa forma, requer tanto um modelo pedagógico próprio que permita a apropriação e a contextualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, quanto a implantação de um sistema de monitoramento e avaliação e uma política de formação permanente de seus professores (NUNES, 2018). Na perspectiva de pensar a formação do professor de EJA, é necessário vislumbrar um processo eficaz e coerente com as demandas sociais. É preciso adequação, ampliação e inovação da proposta pedagógica curricular, numa perspectiva de conceber a educação como algo em constante movimento e transformação, tendo, nesse contexto, como pano de fundo a educação popular, de modo a possibilitar que a aprendizagem esteja acessível e contribua, de forma significativa, às mais diferentes realidades. Os docentes precisam realizar um planejamento com estratégias e dinamismo significativo aos alunos, levando em consideração a necessidade e características do alunado, contribuindo com o aperfeiçoamento e aprimoramento, desde os vocábulos às interações sociais, à 77 inclusão ou melhoria no mundo do trabalho, na qualidade de vida e até mesmo a uma sociedade mais humanizada (NUNES, 2018). Freire e Nogueira (1993, p. 13-14) ressaltam que “essa Educação de adultos buscava apontar uma relação entre educar pessoas com vista na transformação (o progresso) da sociedade inteira”. Dessa forma, reafirma-se o legado deixado por Freire, visto que esse segmento da educação não é simplesmente para cumprir uma legislação, e, sim, contribuir, de fato, com a sociedade. 24 A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR NO SISTEMA EDUCACIONAL DO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA Na perspectiva de pensar a educação popular no sistema educacional do Brasil e na América Latina, é importante nos atermos a alguns pontos que auxiliam em tal compreensão: O Brasil ainda um país com muitas pessoas sem nenhuma escolaridade ou com escolaridade incompleta até o ensino médio; A história da Educação Brasileira é marcada por uma educação voltada para a elite (burguesia) e, portanto, emerge a partir de Paulo Freire a concepção da “Educação Popular” para os pobres (proletariados), remarcando, de certa forma, novos rumos à realidade da educação nacional; 78 Os jovens ou adultos, frente à necessidade de trabalhar para adquirir sustento junto à família e por não conseguirem adaptar o horário do trabalho ou a sua carga horária diária com o horário ou a carga horária dos estudos, evadem da escola; O método de Freire não é uma técnica de alfabetização, mas um método coerente com o posicionamento teórico-filosófico que leva o discente a pensar crítica e reflexivamente, e não apenas a receber informações transcritas pelo professor. Para a alfabetização, é necessária a conscientização, privilegiando a ação e o diálogo; Em 1960, em meio a movimentos políticos revolucionários em Cuba e, ainda, à conquista das eleições pelo Partido Democrata Cristão no Chile e, também, ao triunfo da violência na América Latina, emergem o pensamento e a ação de Paulo Freire e de outros intelectuais latino- - americanos. Esses intelectuais participavam dos movimentos populares na qualidade de “intelectuais orgânicos” (NUNES, 2018). Diante dos fatos apresentados anteriormente, o educador Paulo Freire e suas teorias revolucionárias ganharam notoriedade não só no Brasil e na América Latina, mas também em diversas outras partes do mundo. Dessa maneira, suas ideias começaram a se entrelaçar às propostas da educação nacional, tornando- -se pauta entre os intelectuais brasileiros e de várias outras nações. A educação popular, defendida pelo educador, começa a se materializar enquanto método possível, inovador e necessário e, nessa perspectiva, é inegável reafirmar que tais ideias influenciaram o sistema educacional do Brasil e, também, de muitos países da América Latina. Estava posta a educação para a conscientização, para a participação, para a criticidade e para a liberdade (NUNES, 2018). Pensar no sentido mais geral da participação ativa dos atores sociais no processo das políticas públicas é pensar como afirma Leis (2005, p. 14): O convite que nos faz esta perspectiva é de duas ordens: por um lado, envolver aos atores sociais nos diferentes momentos de configuração de uma política, por outro, algo que é mais importante ainda: conceber sua gestão como processo de aprendizagem social contínuo em que a “alternativa correta” deverá construir-se e reconstruir-se a partir do diálogo entre os distintos atores com suas distintas representações, interesses e capacidades. Isto supõe superar o institucionalismo tradicional a favor de uma perspectiva 79 de interdependência entre as instituições, atores e agentes sociais, e políticas que mantém uma relativa autonomia. A educação popular proposta por Paulo Freire possui sua base na urgência de construir o pensamento crítico, que por tantos anos foi impedido em nosso país e em muitos outros da América Latina. Portanto, é preciso um processo contínuo de ação e reflexão visando à transformação da realidade (NUNES, 2018). Freire, por meio da educação popular, oferece possibilidades para o sistema educacional atual a partir das quais podemos vislumbrar a reconstrução da democracia e lutar por uma melhor qualidade de vida. As ideias do educador influenciam diretamente os processos educacionais posteriores, visto que estão norteadas pela ética e pelo compromisso político de uma educação que se pretende popular. Paulo Freire, empossado de suas ideias revolucionárias sobre a educaçãopopular, é internacionalmente reconhecido como precursor da concepção emancipadora da educação (NUNES, 2018). 25 A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO POPULAR E O MARCO DE REFERÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS CRIADO EM 2014 O desejo por outras respostas e transformações, a busca por novos olhares e novas perspectivas é o que impulsiona e deve impulsionar os propósitos da educação. A prática da Educação Popular proposta por Paulo Freire é um dos exemplos de que 80 a educação pode ser capaz de resgatar o ser humano e torná-lo um agente transformador de sua realidade (NUNES, 2018). O convite realizado por esse educador rompe com teorias que, por vezes, são distanciadas e descontextualizadas da realidade, é uma provocação à reflexão sobre possibilidades para a atual crise da educação, a partir de iniciativas como o coletivismo, o diálogo como pedagogia, o respeito às diferenças, a solidariedade, a conscientização, a participação, a democracia e a ética, entre importantes outros aspectos (NUNES, 2018). No cenário do processo de construção da Política Nacional de Educação Popular, da Política Nacional de Participação Social, das políticas e programas para a juventude, insere-se, portanto, o Marco de Referência da Educação Popular cujo objetivo é promover um campo comum de reflexão e orientação da prática no conjunto de iniciativas de políticas sociais que tenham origem, principalmente, na ação pública e que contemplem os diversos setores vinculados a processos educativo-formativos das políticas públicas do Governo Federal. Trata-se de um documento referência, portanto, é importante destacar a sua natureza como um Marco de Referência. Não pretende, assim, ser um tratado sobre educação popular, nem um artigo acadêmico exaustivo; apontar referências fundamentais para a Política Nacional da Educação Popular é o seu objetivo. Como ponto de partida, reconhece o papel político e pedagógico que cada política pública tem como potencialidade e como prática de, no seu âmbito, desenvolver processos educativos para fortalecer a participação, a cidadania e a conquista de direitos no Brasil. “Esse marco destina-se aos gestores públicos que, no âmbito de suas competências e atribuições, têm o papel de elaborar e implementar políticas públicas, sempre em diálogo com os setores organizados da sociedade” (BRASIL, 2014, p. 7). 81 Considerando todos os anos de estudos do educador Paulo Freire, especialmente no que tange à alfabetização até as discussões e debates da atualidade, muitas experiências, ações, práticas e reflexões teóricas se acumularam e se produziram, no campo social e nos espaços institucionais, consolidando, além de um campo do conhecimento, uma inusitada perspectiva e concepção de educação emancipatória, profundamente ligada à realidade do povo brasileiro e da América Latina. Assim, pode-se dizer que: A educação popular deu suporte a um dos mais ambiciosos programas brasileiros de alfabetização, proposto pelo ministro da educação do Governo João Goulart, Paulo de Tarso. Paulo Freire assumiu o cargo de coordenador do então criado Programa Nacional de Alfabetização, a partir do qual, utilizando seu método, pretendia alfabetizar 5 milhões de adultos em mais de 20 mil círculos de cultura em todo país (BRASIL, 2014, p. 5). Nesse cenário, é fundamental e relevante pensar que o sujeito, muitas vezes, é atravessado pelas experiências que vivencia, as quais são vitais para que suas ações se configurem como aprendizagem e aconteçam de maneira significativa. Em seu entorno, cada encontro resulta em uma nova descoberta, uma vivência, uma (re) vivência. A Educação Popular engloba e valoriza todos esses aspectos (NUNES, 2018). A prática da Educação Popular e seu reflexo para o Marco Referencial da Educação Popular para as políticas públicas criado em 2014 demonstram e reafirmam que é necessária uma postura baseada em estratégias políticas para mostrar que, mesmo em meio a tantos desafios e desventuras que atravessam os sujeitos, é possível transformar o mundo por meio da educação, educação essa pensada por todos e para todos (NUNES, 2018). O Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas Públicas refletiu: [...] um novo momento na valorização dessas práticas que acontecem dentro e fora do Governo Federal. Seu [...] [objetivo foi] criar um conjunto de elementos que permita a identificação de práticas de Educação Popular nos processos das políticas públicas, estimulando a construção de políticas emancipatórias. [Enfim, ] para sua concretização, colocou-se um desafio para todos os setores governamentais e da sociedade civil: torná-lo conhecido e assimilado entre todos os sujeitos e agentes que promovem ações educativas em diferentes frentes e campos de atuação e em todas as políticas públicas (BRASIL, 2014, p. 5). 82 83 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bibliografia Básica FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. GÜNTHER, M. C. C. O direito à educação física na educação de jovens e adultos. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 36, nº 2, p. 400–412, 2014. SIQUEIRA, Antonio Rodolfo de. Educação de jovens e adultos / Antonio Rodolfo de Siqueira, Viviane Guidotti. – Porto Alegre: SAGAH, 2017. Bibliografia Complementar ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência. São Paulo. Loyola, 2007 AMBROSETTI, N.B.O “eu” e os “nós”: trabalhando com a diversidade em sala de aula: In: ANDRÉ, M. Pedagogia das diferenças na sala de aula. 4. ed. 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