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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Antonio Rodolfo de Siqueira Viviane Guidotti Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 M278e Siqueira, Antonio Rodolfo de. Educação de jovens e adultos / Antonio Rodolfo de Siqueira, Viviane Guidotti. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 216 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-052-8 1. Educação de jovens. 2. Educação de adultos I. Guidotti, Viviane. II. Título. CDU 37.022 Educacao_Jovens_e_Adultos_1-4.indd 2 16/03/2017 11:48:13 O ensino para jovens e adultos através das modalidades de educação a distância e semipresencial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer propostas de ensino na modalidade EAD que favo- reçam ao educando jovem/adulto a possibilidade de inserção e permanência na EJA. Identifi car diferentes propostas na modalidade de ensino semipresen- cial, como alternativas para a Educação de Jovens e Adultos. Comparar as modalidades semipresencial e a distância no ensino de jovens e adultos. Introdução Sabemos que adultos que não terminaram o ensino fundamental e o ensino médio na idade regular, costumam ter dificuldade para frequentar uma escola tradicional e concluir seus estudos devido a vários fatores. Pensando nas dificuldades que estes alunos enfrentam devido à sobrecarga de trabalho a que se submetem no mercado, a Educação a Distância é uma modalidade educacional eficaz. Essa modalidade vem crescendo continuamente no Brasil, e tem sido pensada e repensada como uma das alternativas para EJA, como afirma a Resolução CNE/CBE Nº 1 de 5 de Julho de 2000 quando estabelece diretrizes para a avaliação e certificação de jovens e adultos em situação de cursos semipresenciais ou a distância, de acordo com os Art. 10 e 13 (BRASIL, 2000)3 . Neste texto, você vai estudar um pouco mais sobre essas possibilidades. Educacao_jovens_U4_C02.indd 181 16/03/2017 11:54:13 Modalidade EAD: uma possibilidade de inserção e permanência na EJA Os avanços tecnológicos fazem parte do nosso cotidiano e, dessa forma, os processos educativos também estão conectados à tecnologia. É indiscutível o potencial das Tecnologias da Comunicação e da Informação (TICs), pois estas podem ser exploradas com objetivos de proporcionar um ambiente motivador para a aprendizagem efetiva dos alunos. De acordo com Magnavita (2003, p. 57), “O desafio nesse sentido será o de pensar modelos pedagógicos que sejam realmente transgressores e não reaplicáveis a qualquer situação de aprendizagem.”. O uso das TICs pode potencializar as práticas pedagógicas, porém, o professor precisa se comprometer em utilizá-las para promover um processo de ensino e aprendizagem no qual o aluno tenha a possibilidade de ser ativo, dialogar com professores, produzir e construir conhecimento de forma coletiva, e não apenas reproduzir um ensino focado na memorização e centrado apenas nos saberes dos professores. Desta forma, as TICs deram à Educação a Distância (via internet) uma possibilidade de minimizar a distância geográfica entre professor e aluno, contribuindo para o desenvolvimento de uma modalidade flexível quanto aos horários e local destinados aos estudos. Assim, o aluno pode administrar o tempo que dedicará aos estudos, além de não ter custo com descolamento. Para dar continuidade ao assunto, é importante saber o que se entende por Educação a Distância (EAD). Esta é uma modalidade de ensino que já passou por diversas transformações sociais e tecnologias, desde o envio de cartas até a nossa tecnologia atual, em que os tablets e smartphomes ganham o espaço no cotidiano das cidades. De acordo com Giraffa (2012, p. 25), “A rede internet e seus múltiplos e diversificados serviços mudaram a forma como a sociedade contemporânea acessa, produz e disponibiliza conhecimento.”. No Brasil, a EAD teve sua expansão mais efetiva a partir da populariza- ção dos computadores e da Internet. Foi reconhecida a nível de legislação educacional a partir da publicação da LDB lei nº 9.394/96, que no art. 80 destaca que: “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.” O decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, regulamenta a publicação do art. 80, da LDB lei 9.394/96, e ainda caracteriza a EAD como: Educação de Jovens e Adultos182 Educacao_jovens_U4_C02.indd 182 16/03/2017 11:54:13 [...] caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de infor- mação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. A EAD tem contribuído para a democratização da educação no Brasil, pois possibilita aos alunos que tenham o contato com a educação formal, mesmo estando distantes dos grandes centros educacionais. A EAD também proporciona aos indivíduos que trabalham uma oportunidade de frequentar os cursos sem ter que estar em aulas presenciais de segunda a sexta – em algum determinado turno em uma instituição escolar, já que suas demandas de vida familiar, pessoal e profissional não comportariam o deslocamento diário a uma instituição de ensino. Com o rápido acesso à informação, em uma sociedade que tem inúmeras possibilidades e diversos meios de comunicação na web, um dos grandes desafios impostos à educação contemporânea, segundo Oliveira (2008, p. 195), “[...] consiste justamente em como desenvolver, de forma prio- ritária, mais competências e habilidades do que assimilações de conteúdos.”, visto que, devido às rápidas mudanças, essas informações envelhecem e/ou se tornam obsoletas. A educação do futuro está sendo delineada no presente sob a influência marcante das facilidades proporcionadas pelos meios eletrônicos. As tecnologias avançadas da comunicação digital não precisam ser recusadas, mas compre- endidas, para serem integradas à educação, de modo que o sujeito aprendiz se aproprie delas e não seja dominado por sua lógica (OLIVEIRA, 2008). Sobre as aulas virtuais, Oliveira (2008, p. 199) destaca que “O terno “vir- tual” é atribuído a uma realidade que não existe fisicamente, pois não pode ser percebida pelos órgãos dos sentidos; geralmente alguma abstração de algo real.”. Com isso, a aula virtual se constitui através de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), disponível para acesso dos professores e alunos na internet. Este espaço virtual contém ferramentas e recursos digitais, que possibilitam a interação entre professores e alunos. Assim, ao refletir sobre as abordagens pedagógicas da aula virtual e presen- cial, Oliveira (2008) levanta questões importantes, ao mencionar que não existe uma única abordagem para desenvolver uma educação presencial ou on-line, e sim que é preciso entender melhor os mecanismos das TICs na educações, para usufruir destas possibilidades de comunicação e de troca de informação. Diante destes desafios que os professores enfrentam ou poderão enfrentar, Oliveira (2008) refere que não há um modo determinado de como dar uma 183O ensino para jovens e adultos através das modalidades de educação a distância... Educacao_jovens_U4_C02.indd 183 16/03/2017 11:54:14 aula, independentemente da modalidade de ensino em que o professor lecione. Porém, ele reforça a importância do professor ser um orientador “[...] na me- diação didático-pedagógica a distância, para garantir a interatividade dos protagonistas do processo didático e o desenvolvimento de uma aprendizagem sólida e duradoura.” (OLIVEIRA, 2008, p. 202). O que significa garantir o desempenho ativo dos educandos sem acabar por oferecer uma educação baseada apenas no conhecimento dos educadores? Esta questão é abordada por Freire (1994), que faz uma crítica à educação em que o professor age como um depositante de conteúdo e os alunospor sua vez são conduzidos a uma mera memorização dos assuntos estudados em sala de aula, sem que haja a busca de conhecimento. Esse modelo de educação é denominada por Freire como educação bancária. Na visão “bancária” (FREIRE, 1994) da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber: [...] O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posição fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez desta posição nega a educação e o conhe- cimento como processos de busca. (FREIRE, 1994, p. 33-34). Seguindo essa ideia, é importante que, ao planejar e implementar um curso ou disciplina na modalidade EAD, não se cometa o erro de achar que basta transpor o ensino presencial para a educação a distância. Ao pensar no ensino a distância, o educador deve ter um comprometimento com o planejamento que se inicia, em como será a gestão pedagógica do AVA e até em questões que perpassam por um suporte técnico para auxílio de professores e alunos. O professor que atuará em um ambiente virtual precisa compreender que a EAD tem suas especificidades que precisam ser consideradas e revistas com atenção e cuidado sempre que necessário. Arredondo (1999), destaca questões que devem ser consideradas para a organização e implementação da modalidade a distância, como: planejamento de metodologia específica considerando a separação geográfica de alunos e professores; quais serão os recursos utilizados para a comunicação e mediação entre professores e aluno; elaboração de materiais próprios, suporte fornecido para o aluno; e auxílio e formação continuada dos professores. Educação de Jovens e Adultos184 Educacao_jovens_U4_C02.indd 184 16/03/2017 11:54:14 Ao contribuir com a democratização da educação no Brasil, a EAD pode ser utilizada como um instrumento importante na inserção de jovens e adultos no ensino formal, como também contribuir para a permanência desses alunos, já que os possibilita estudar e se organizar de forma autônoma, respeitando seu próprio tempo e ritmo. Porém, é importante que a escola (gestão e profes- sores) esteja ciente de que há uma grande diversidade social entre os alunos da EJA. Em uma sala de aula, pode-se encontrar tanto alunos que possuem celular e têm contato com computadores e internet, quanto alunos que não têm nenhum tipo de contato com as tecnologias ou nem mesmo são alfabetizados. “Quando pensamos em EAD para grupos de EJA, remete-nos uma possibi- lidade de acessibilidade de complementação dos estudos e, principalmente, para obtenção do reconhecimento formal de suas aptidões, que acaba sendo o diferencial desses trabalhadores diante de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo.” (SOUZA; FERNANDES; BARRETO, 2014, p. 10). Os alunos que não são alfabetizados, ou não concluíram a etapa da alfa- betização, precisam primeiro construir uma base sólida de leitura e escrita, essa construção pode se dar também com uma inserção inicial do uso das tecnologias dentro da própria sala de aula, como também com o desenvolvi- mento da autonomia – um fator importante para os alunos da EAD. Assim, após concluírem essa etapa poderão ser inseridos na educação a distância para continuar seus estudos. O que não se pode esquecer é que independentemente de serem alfabetizados ou não, o professor precisa propiciar um ambiente que estimule aos alunos a ter consciência de que é preciso comprometimento e envolvimento com a sua aprendizagem. Para Boff, Ferrari e Zanin (2016, p. 4): Nesse contexto e com esse pensar, nossa escola entende que a educação contribui para que as pessoas aprendam a gerenciar as informações disponíveis e se constituam dinâmicas, autônomas, cooperativas, críti- cas e criativas. Entende, também, que prepara o cidadão para interagir na sociedade de maneira consciente, crítica e coerente, integrando as dimensões do pensar, sentir e agir. Quanto à inserção tecnológica dos alunos Souza, Fernandes e Barreto (2014) mencionam que é muito importante discutir o uso da EAD na Educação de Jovens e Adultos. Deve-se considerar os avanços tecnológicos e a necessidade de inserção tecnológica que os jovens e adultos necessitam ter nos dias de hoje, tanto para se inserirem socialmente, a partir dessas novas possibilidades de comunicação, como para a inserção e/ou a permanência no mercado de trabalho cada vez mais informatizado. 185O ensino para jovens e adultos através das modalidades de educação a distância... Educacao_jovens_U4_C02.indd 185 16/03/2017 11:54:14 Os autores reforçam a ideia de inserção da EAD na EJA afirmando que “Fazer uso da educação a distância como continuidade de formação para indivíduos que configuram os sujeitos da EJA, significa inseri-los à sociedade contemporânea, e ofertar uma forma maleável, estimulante, diversificada, atual de formação básica.” (SOUZA; FERNANDES; BARRETO, 2014, p. 4). E complementam que “O processo de socialização dos estudantes da EJA inclui a preparação desses alunos para o uso dos mecanismos tecnológicos disponíveis na sociedade, como o computador e o uso de internet com todo o arsenal de redes sócio-virtuais de amizades e conhecimentos diversos.” (SOUZA; FERNANDES; BARRETO, 2014, p. 4). Nesta perspectiva, há uma chance maior de que estes alunos permaneçam na escola, já que percebem que as suas necessidades estão sendo atendidas e que começam a sentir a diferença de sua inserção na sociedade através da conquista de sua cidadania. Para compreender mais sobre a legislação da EAD e do ensino semipresencial, leia: Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004; Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005; Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006. Modalidade de ensino semipresencial como alternativas para a Educação de Jovens e Adultos As modalidades de ensino semipresencial podem ser disciplinas semipresen- ciais em cursos presenciais ou em cursos organizados a distância, que podem dispor de encontros entre professores e alunos que confi guram encontros presenciais – na modalidade de ensino semipresencial. Sobre as disciplinas semipresenciais em encontros presenciais, embora tenha sido elaborada para a regulamentação da modalidade semipresencial em cursos a distância, é importante mencionar que a Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004, que regulamenta essa questão, caracteriza a disciplina semipresencial como uma atividade didática pedagógica, apoiada por suporte informatizado, em cursos de graduação presencial. Para Alves (2009, p. 12), a Portaria nº 4.059/2004, ao regulamentar a adoção parcial da EAD, em cursos presenciais favorece para repensar as práticas peda- Educação de Jovens e Adultos186 Educacao_jovens_U4_C02.indd 186 16/03/2017 11:54:14 gógicas dos professores quanto ao uso das tecnologias digitais: “Foi um forte avanço, uma vez que o governo depositou, pela primeira vez na história, um voto de confiança nas universidades, centros universitários e faculdades, para que os programas fossem implementados sem prévio consentimento oficial.”. O ensino semipresencial também pode ser organizado em cursos reconheci- dos e aprovados para serem ministrados a distância e podem ofertar encontros presenciais entre professores e alunos – na modalidade de ensino semipresencial. Mas não esquecendo o que Novak (2010, p. 34) reforça quanto à EAD e sua função da mediação “[...] da era digital – baseada nas TICs –, não é a distância dada em função do espaço ou do tempo, mas a distância dada em função da mediação”. Caldeira e Gorni (2008) destaca em um artigo uma experiência do ensino semipresencial na modalidade de jovens e adultos, desenvolvida em sua pes- quisa realizada em nível de mestrado, na qual o objetivo foi “[...] desvelar as contradições existentes na EJA, assim como seus limites e possibilidades no contexto atual.”. Em um centro de Educação de Jovens e Adultos no Paraná, que oferta a modalidade semipresencial. Caldeira e Gorni(2008) apontam sobre como é importante que a modalidade semipresencial não reduza a Educação de Jovens e Adultos, mas sim amplie este ensino de uma forma significativa, possibilitando que os alunos adquiram uma formação crítica e humana. Sendo assim, os professores devem utilizar esta modalidade como uma ferramenta para acompanhar a aprendizagem dos alunos, lembrando-se que o respeito, admiração e cooperação também estão presentes ao resgatar a questão social dos alunos. Corroborando com essa ideia, podemos observar a vantagem de usar a modalidade de ensino semipresencial, quando os autores relatam que a EAD: [...] pode ser de cunho semipresencial que ocorre quando existe uma alternância de momentos presenciais com momentos ausentes do am- biente escolar. Seja em uma vez na semana, ou em momentos de exames, encontros quinzenais ou mesmo mensais. Nesse modelo não existe uma ruptura brusca e integral com o modelo tradicional de presença com o modelo tecnológico de educação, oportunizando ao aluno momentos de interação física e temporal com o professor e os outros alunos. (SOUZA; FERNANDES; BARRETO, 2014, p. 6). Deste modo, a EAD traz muitas vantagens para a Educação de Jovens e Adultos e não os limita ao encontro em sala de aula em um horário e dia, desta forma, possibilita aos alunos se organizarem a partir do seu ritmo e tempo para a realização de seus estudos, sem que tenham que gastar com o deslocamento. 187O ensino para jovens e adultos através das modalidades de educação a distância... Educacao_jovens_U4_C02.indd 187 16/03/2017 11:54:14 Com os recursos de comunicação o aluno pode ter contato com o professor pelo fórum e chats que podem ser brevemente agendados. Porém, o aluno precisa compreender que a EAD, como em qualquer outro curso, requer comprometimento e envolvimento com os estudos e realização das atividades, mantendo assim uma rotina de estudo a partir da sua disponibilidade semanal o que é essencial, assim como ter acesso a internet. Modalidades semipresenciais e a distância: EJA A modalidade de EAD na forma semipresencial possibilita um ensino que mescla aulas virtuais com encontros presenciais entre alunos e professores, que podem ser organizados semanalmente, quinzenalmente ou até mensamente. Já na forma a distância, os encontros entre professores e alunos se concentram todos a distância, podendo apenas agendar as avaliações para serem realizadas de forma presencial. A estrutura e descrição de qual será a forma como a EAD será administrada, semi- presencial ou a distância, de um curso ou disciplina deve ser apresentada no projeto político-pedagógico da escola. Tanto a aula presencial quanto a aula virtual precisam ser conduzidas na busca de uma educação problematizadora que esteja fundamentada no diálogo entre educador e educando, fomentando a participação de todos os envolvi- dos no processo de ensino. A partir desta ideia destaca-se a importância da mediação humana, o que significa a importância da função do professor em criar possibilidades interessantes, motivadoras e diversas em aula, e aceitar o aluno como um ser pensante na ação pedagógica, organizando o ambiente virtual de uma forma que favoreça a aprendizagem do aluno. Educação de Jovens e Adultos188 Educacao_jovens_U4_C02.indd 188 16/03/2017 11:54:14 A educação a distância, então, pode ser sumariamente definida como uma educação em que existe uma união de alunos e professores por mecanismos tecnológicos, onde os educandos e os professores se en- contram de acordo com a necessidade e disponibilidade do aluno, e não mais, exclusivamente, por processos físicos e temporais como na educação presencial. (SOUZA; FERNANDES; BARRETO, 2014, p. 6). A EAD não reduz a atuação do professor, mas sim reconfigura sua atuação, já que a importância do papel do educador é orientar e mediar o aluno, ou seja, o aluno não estará sozinho no processo de ensino e de aprendizagem. No planejamento das aulas, o professor terá que se preparar para utilizar estratégias de interação e mediação entre e com os alunos, de maneira a motivá-los e inquietá-los na busca por novos conhecimentos, não esquecendo que: A Educação de Jovens e Adultos a distância significa, então, a possibi- lidade de articular no trabalho pedagógico, a realidade sociocultural dos estudantes, o desenvolvimento e os interesses específicos de cada educando, bem como os conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade, a qual todos têm direito de acesso, de acordo com as políticas fundamentais que democratizam o saber. (SOUZA; FERNANDES; BARRETO, 2014, p. 10). De acordo com o que Souza, Fernandes e Barreto (2014) destacam, a EAD reafirma a necessidade de refletir e investigar sobre o papel do professor diante destas novas possibilidades que as tecnologias proporcionam nas práticas pedagógicas, o que logo remete a reflexão sobre a formação inicial e conti- nuada do professor. Segundo Freire (1996, p. 18) “Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão sobre a prática. É pensando a prática de hoje, ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.”. Oferecer uma ação pedagógica que promova um ambiente facilitador de aprendizagem ao aluno, constitui-se no exercício de repensar diariamente a prática, aliada a teoria que o professor segue. [...] se os homens são seres do que fazer é exatamente porque seu fazer é ação e reflexão. É práxis. É transformação do mundo. E, na razão mesma em que o que fazer é práxis, todo fazer do que fazer tem de ter uma teoria que necessariamente o ilumine. O que fazer é teoria e prática. É reflexão e ação. (FREIRE, 1994, p. 70). 189O ensino para jovens e adultos através das modalidades de educação a distância... Educacao_jovens_U4_C02.indd 189 16/03/2017 11:54:14 Assim, fica estabelecida a necessidade do professor de ter uma busca constante por conhecimento tanto específico da sua área quanto dos recursos digitais a ele fornecidos, independentemente da modalidade de ensino em que decidir atuar, para que possa repensar em estratégias didáticas relevantes. Com isso o processo de ensinar traz exigências ao professor, implicando a não estar autorizado a ensinar o que não sabe: Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender. Não temo dizer que ine- xiste validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz. (OLIVEIRA, 2008, p. 12-13). Para promover uma aula virtual é importante levar em consideração suas características e peculiaridades de como é organizada e planejada uma aula on-line, seja semipresencial ou a distância. É preciso refletir sobre estes novos desafios e aponte caminhos que possam contribuir na oferta de aulas virtuais mais significativas e que tenham propostas pedagógicas que desenvolvam novas habilidades nos alunos, desta forma, tornando-os aptos a enfrentar um mercado de trabalho altamente competitivo e tecnológico. Você acha que a EAD seria uma alternativa de oferta de ensino formal da Educação de Jovens e Adultos? Leia o artigo que apresenta uma experiência em Santa Catarina, publicado em 2012 no 18º Congresso Internacional de Educação a Distância: “A im- plantação da ead na modalidade de educação de jovens e adultos: o modelo do SESI em Santa Catarina” (FAVRETTO, 2012). Educação de Jovens e Adultos190 Educacao_jovens_U4_C02.indd 190 16/03/2017 11:54:14 1. Educação a Distância se refere ao oferecimento de recursos para a aprendizagem de alunos remotos e envolve tanto o ensino a distância (o papel do professor no processo) quanto a aprendizagem a distância (o papel do estudante). a) Uma proposta de ensino para o aluno jovem/adulto desenhada na modalidade semipresencial poder indicar que: b) A EAD não pode ser oferecida na modalidadesemipresencial a alunos da EJA, pois estes alunos não irão conseguir aprender. c) Seria mais uma maneira de ajudar o aluno jovem/adulto a fracassar em seu propósito de se apropriar do conhecimento formal. d) Seja uma alternativa adequada para que o aluno da EJA consiga realizar seu sonho de estudar, a partir de suas possibilidades de horários, distâncias e de condições financeiras. e) Os alunos da EJA precisam de aulas presenciais para que possam aprender. f) Os professores podem estar na docência de EJA na modalidade semipresencial sem que haja nenhuma capacitação para a realização deste trabalho. 2. Um aluno jovem/adulto precisa ser incentivado à se tornar aluno da EJA para a modalidade semipresencial. Tendo estas orientações, os alunos da EJA poderão apresentar as seguintes características: a) Motivação para o estudo, disciplina, organização, autonomia e cooperação. b) Dependência e insegurança. c) Total falta de organização para participar das propostas de ensino e de aprendizagem. d) Falta de planejamento e desorientação, uma vez que não terá a presença constante do professor. e) Possessivo e individualista. 3. Ao comparar algumas características da EJA e da modalidade EAD semipresencial, é possível verificar que: a) Estas duas modalidades de ensino e aprendizagem não têm nada a ver uma com a outra. b) Os alunos jovens/adultos não estão preparados nem para a EJA nem para a modalidade semi-presencial. c) Os princípios da EJA que estão disponibilizados nas Diretrizes Curriculares Nacionais negam qualquer aproximação entre as duas modalidades. d) Não se pode querer que os professores aceitem tanta mudança: trabalhar com propostas inovadoras na EJA e com as propostas inovadoras da modalidade semi-presencial. e) Existe uma revolução; das práticas pedagógicas, necessárias para a Educação de Jovens e Adultos enquanto que o desafio é o mesmo ao se propor um curso da modalidade EAD/ Semi-presencial. Assim, as modalidades EJA e EAD parecem ter o mesmo objetivo. 191O ensino para jovens e adultos através das modalidades de educação a distância... Educacao_jovens_U4_C02.indd 191 16/03/2017 11:54:14 ALVES, J. R. M. A história da EAD no Brasil. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. (Org.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. ARREDONDO, S. C. Educacion a distancia: bases conceptuales y perspectivas mun- diales. In: MARTINS, O. B; POLAK, Y. N.; SÁ, R. A. (Org.). Educação a distância: um debate multidisciplinar. Curitiba: NEAD/UFPR, 1999. BOFF, J. R.; FERRARI, M.; ZANIN, P. EJA EAD semipresencial nas séries finais do ensino fundamental municipal público. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, 22., Cachoeirinha, 2016. Anais... Cachoeirinha: [s.n.], 2016. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/50.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017. BRASIL. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Presidência da República, 2005. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5622.htm>. Acesso em: 14 mar. 2017. BRASIL. Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006. Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos 4. Um curso de EJA oferecido na modalidade semi- presencial apresenta as seguintes características: a) Somente existem encontros presenciais. b) Acontece de maneira dividida parte em sala de aula físico- presencial e outra parte a distância, através do uso de Tecnologias da Informação e Comunicação; TICs. c) Todos os encontros devem ser realizados a distância. d) Os alunos não vão nunca à escola, pois EJA tem que facilitar a vida quem não pode estudar no ensino regular. e) Não se importar com a aprendizagem dos alunos que precisam de ajuda para serem aprovados. 5. Uma proposta de EJA na modalidade semipresencial necessita que: a) A direção não se envolva com a proposta deixando total liberdade para os professores. b) A supervisão Escolar não se envolva com a proposta uma vez que as turmas presenciais necessitam mais atenção. c) Os professores envolvidos não se preocupem, pois as modalidades EJA e semipresencial são muito fáceis facilitando a vida dos profissionais e dos alunos. d) Os professores estejam qualificados para trabalhar com as duas modalidades. e) As provas sejam bem fáceis para que os alunos possam aprovar. Educação de Jovens e Adultos192 Educacao_jovens_U4_C02.indd 192 16/03/2017 11:54:14 superiores de graduação e seqüenciais no sistema federal de ensino. Brasília: Presidên- cia da república, 2006. Disponível em: <http://www2.mec.gov.br/sapiens/portarias/ dec5773.htm>. Acesso em: 14 mar. 2017. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 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