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Assistência em enfermagem oncológica Aula 4: Princípios da Bioética Apresentação Nesta aula, re�etiremos sobre o processo de construção da Bioética, entendendo seus conceitos, princípios e fundamentos, pensando no binômio pro�ssional-usuário. A relação entre pro�ssional e usuário precisa ser de harmonia, con�ança e parceria, pois, sem esses requisitos, não haverá sucesso terapêutico. O meio social se transforma e a forma como o homem se relaciona com ele também. Dessa forma, saber as relações da Bioética com outros saberes é entender que as questões apresentadas no dia a dia são de natureza clínica ou pública, tendo envolvimento jurídico, religioso, ético, cientí�co ou técnico. Objetivo Diferenciar Ética e Bioética; Classi�car os princípios da Bioética. De�nição de Bioética A Bioética tem como objetivo facilitar os acontecimentos de questões éticas e bioéticas que surgirão na vida pro�ssional. Esses conceitos são básicos. Sem eles, di�cilmente alguém consegue enfrentar um dilema, um con�ito, e se posicionar diante dele de maneira ética. O início da Bioética se deu no começo da década de 1970, com a publicação de duas obras muito importantes de um pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia, Van Rensselaer Potter. A Bioética é de�nida como a ciência da vida, que serve para que possamos discernir e avaliar as situações sem juízo de valor, sem “achismos” de desejos próprios. Não é à toa que a Bioética sofre in�uência histórica desde a época de Hipócrates, como demonstra um trecho do juramento: ” nunca para causar dano ou mal a alguém”. Vamos relembrar, aqui, um pouco da história em enfermagem. No século IV a.C., a sociedade era formada por castas , que faziam com que ela fosse “piramidal”. 1 Mas o que isso signi�ca? Isso quer dizer que, na base da pirâmide, encontrava-se a maior parte das pessoas: os escravos e os prisioneiros de guerra, que nem mesmo eram considerados pessoas. Eles eram tratados como objetos e não tinham nenhum direito. Logo acima deles, numa camada intermediária (portanto em número um pouco menor), estavam os cidadãos. Esses, eram os soldados, os artesãos, os agricultores, e tinham direitos e deveres. No topo da pirâmide (portanto, um número bastante reduzido de pessoas) estavam os governantes, os sacerdotes e os médicos. Fonte: Por M-SUR / Shutterstock. Dentro de um contexto histórico e assistencial das relações, já estávamos inseridos antes mesmo de reconhecer a Bioética. Devido à postura realista, temos que adotar posturas éticas. Veja três modalidades que exercem a in�uência ética: https://estacio.webaula.com.br/cursos/go0096/aula4.html Clique nos botões para ver as informações. Defende a liberdade e os direitos, além de expressar a garantia incondicional dos direitos nos espaços sociais. Essa lógica está atrelada ao princípio da autonomia, em que o sujeito merece ser respeitado nas suas opiniões e ter seus direitos garantidos e defendidos. Quem nunca ouviu a frase: “meu direito começa quando o seu termina”. Por convivermos em sociedade, não podemos pensar em liberdade sem pensar em responsabilidade. Contudo, não podemos esquecer que todo ato tem consequências. Individualismo Valoriza a supressão da dor e a extensão do prazer. Na re�exão ética, o predomínio da lógica hedonista indicaria que uma vida que ainda não tem ou que já perdeu “qualidade de vida” não seria uma vida digna de se levar em consideração, que não seria uma vida digna de ser vivida. Dessa forma, o hedonismo entende que qualidade de vida está relacionada à e�ciência econômica, consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física, esquecendo as dimensões mais profundas da existência, como as interpessoais, as espirituais e as religiosas. Vale ressaltar que o hedonismo não é um único agir moral, que é mais uma corrente cultural e moral. Hedonismo Essa terceira corrente social que nos in�uencia, considera o custo-benefício, levando a entender que só é útil quem tem valor. Dessa maneira, os idosos, vulneráveis e de�cientes físicos �cariam sem seus direitos garantidos. Por isso, o fundamento ético é tão importante na vida humana e será sempre a base para tomada de decisão. Utilitarismo A pessoa humana é única, com características, anseios e necessidades. Esse patrimônio merece ser respeitado, pois o que traz dignidade à pessoa humana é o simples fato de ser uma pessoa. Fonte: Por Photographee.eu / Shutterstock. Os princípios da bioética são baseados no respeito à pessoa, sendo esses princípios guiados por normas e regras propostas primeiro no Relatório Belmont, de 1978, para orientar as pesquisas com seres humanos. Em 1979, Beauchamps e Childress, em Principles of biomedical ethics, estenderam a utilização desses princípios para a prática médica, ou seja, para todos aqueles que se ocupam da saúde das pessoas. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Princípios da Bioética Clique no botão acima. Os princípios da Bioética, são: Bene�cência; Não male�cência; Autonomia; Justiça. Bene�cência Seu signi�cado é fazer o bem. O pro�ssional que propuser um tratamento, deve considerar a pessoa humana em sua totalidade (todas as dimensões do ser humano devem ser consideradas: física, psicológica, social e espiritual). Não male�cência Signi�ca não causar mal, não causar dano. Esse princípio está presente no exercício das pro�ssões que envolvem a saúde. Deveria ser mais evidente a proposta de se fazer o bem e não fazer o mal. Autonomia Está ligada à liberdade de decisão, ao gerenciamento da própria vontade, livre da in�uência de outra pessoa. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1948, manifesta logo no seu início que as pessoas são livres. Nos últimos anos, tem sido frequente a busca pela liberdade (ou autonomia). Nos casos de atendimento clínico de pacientes, podemos mencionar o Código de Defesa do Consumidor, que, em alguns de seus artigos, garante proteção às pessoas que buscam serviços de saúde, por exemplo, no que diz respeito ao direito de ser su�cientemente informada sobre o procedimento que o pro�ssional adotará. Justiça Se refere à igualdade de tratamento e à justa distribuição das verbas do Estado para saúde e pesquisa. É preciso ser imparcial ao direito de cada um. A partir desse princípio que se fundamenta a chamada objeção de consciência, que representa o direito de um pro�ssional de se recusar a realizar um procedimento, aceito pelo paciente ou mesmo legalizado. Vivenciamos diversos dilemas éticos e bioéticos na saúde. Na oncologia, a enfermagem vivencia con�itos e dilemas ligados ao mau planejamento das políticas públicas, re�etindo na precariedade das verbas, dos recursos �nitos, da omissão da autoridade institucional e de alguns pro�ssionais. Em termos de legislação, a vida é entendida como o bem máximo a ser, em qualquer circunstância, preservado. Trata-se jurisprudencialmente a vida como obrigação, dever do cidadão. Convivemos com a morte diariamente, visto que ela faz parte da vida, e já dizia Rubem Alves: A morte a vida Fonte: https://www.dizemporai.com.br/ Para as religiões e para a ciência, a morte é um mistério, pois desconhecemos o que nos espera depois dela. Como temos a certeza da morte, a justiça entende que todos merecem uma morte digna (sem sofrimento), que se chama ortotanásia. Fonte: Por magic pictures / Shutterstock. A seguir, você compreenderá melhor a etimologia dos tratamentos relacionados à morte. javascript:void(0); Clique nos botões para ver as informações. É a morte correta, sem sofrimento e a mais desejada por nós. Ortotanásia Signi�ca boa morte e corresponde à facilitação, através da intenção médica bene�cente, para provocar a morte, sem dor ou sofrimento, de uma pessoa que esteja em situação considerada irreversível ou incurável. Seu objetivo é cessar o sofrimento através da abreviação da morte. Contudo, para tal prática há de se ter uma conduta passiva, em que surge o grande problema: o nosso CódigoPenal não autoriza tal prática, ainda que o paciente e a família autorizem. Eutanásia Signi�ca o prolongamento da vida a qualquer custo, mesmo que o tratamento cause grande sofrimento ao paciente, o que também é vedado pela nossa Constituição Federal. Pensando nisso, o Conselho Federal de Medicina, por meio da resolução CFM nº1995/2012, publicada em 31 de agosto de 2012, dispôs sobre as diretivas antecipadas de vontade dos pacientes . Entretanto, a constitucionalidade e a legalidade da referida Resolução ainda são contestadas pelo Ministério Público. Distanásia 2 Até aqui, você deve ter compreendido que sem ética e bioética, não se faz cuidado e que este deve ser restaurador e reabilitado, resgatando a integridade do sujeito. Devemos exercitar a ética e a bioética com frequência para que a relação �que fortalecida entre paciente, família e pro�ssionais. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Para �nalizar, as pesquisas médicas e de enfermagem são importantes para o desenvolvimento do conhecimento cientí�co, desde que não �ram os princípios da bioética: autonomia, bene�cência, não male�cência e justiça. Ao fornecer informações ao paciente e família, essa linguagem deve ser clara para �ns de consentimento da participação em experimentos e pesquisas. Os riscos e os benefícios devem ser informados. https://estacio.webaula.com.br/cursos/go0096/aula4.html O direito em desistir da pesquisa tem que �car claro. Gastos ou danos que surjam durante a pesquisa, ainda que sejam esperados, se for possível, devem ser ressarcidos ao indivíduo que aceitou participar da pesquisa. A resolução 466/2012, estabelece diretrizes e normas que regulamentam pesquisas com seres humanos. Essa resolução incorpora os princípios da bioética vistos nesse capítulo. Um comitê de ética em pesquisa deve ter membros da equipe de saúde das diversas áreas. Esses comitês precisam avaliar o caráter ético dessas pesquisas para não expor a saúde e integridade humana a riscos. Para Enfermagem, essas pesquisas, têm contribuído para fortalecimento da sua autonomia através da saúde baseada em evidência. Fonte: Por Mikko Lemola / Shutterstock. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade 1. Quais são os princípios da Bioética? Exempli�que-os: 2. Quais são os princípios da justiça e seus signi�cados? 3. João, 83 anos, viúvo pai de 2 �lhos, apresentou dor torácica, seguida de desmaio. Ele é etilista, fumante e hipertenso. Ao chegar ao hospital de emergência, a equipe o reanimou e ele apresentou parâmetros vitais, porém, horas depois veio a falecer. Que tipo de morte João teve? 4. Dona Maria, 62 anos, portadora de câncer de mama, metastático há 15 anos, mastectomizada bilateralmente, foi internada na terapia intensiva para tratar um derrame pleural. Devido ao avanço da doença metastática e agravo, ela precisou ser entubada. A equipe médica não encontra no prontuário condutas da equipe assistente (mastologistas), que autorizem início ao cuidado paliativo. A equipe médica da terapia intensiva investe na paciente com suporte nutricional, reparando desequilíbrio hidroeletrolítico, drogas e aminas vasoativas, terapia ventilatória, com corticoide, antibioticoterapia e exames de imagens. A família tem ciência do prognóstico sombrio da paciente. A equipe médica da terapia intensiva está atenta ao tipo de cuidado para a morte dessa paciente, visto que ela dá sinais clássicos de tempo de vida por mais dez dias. De acordo com o caso descrito, que tipo de terapia a equipe médica está operando? 5. Jovem, 25 anos, portador de leucemia, deu entrada na terapia intensiva grave, com ventilação mecânica, em uso de aminas vasoativas e antibioticoterapia. Médicos já sabem do prognóstico sombrio e decidem, sem avisar a família, reduzir fornecimento de oxigenoterapia no ventilador, reduzir volume de infusão de aminas vasoativas, sem anuência da família. Que tipo de terapia é esta? Notas Castas1 Camadas sociais bem de�nidas e separadas entre si Vontade dos pacientes 2 O Testamento Vital também é um documento pelo qual a vontade de uma pessoa pode ser exteriorizada sobre quais tratamentos médicos vai querer ou não ser submetida caso venha ser acometida de uma doença incurável, cujo tratamento se revele totalmente ine�caz. Referências MASSAROLI, Fábio; FABRO, Roni. As diretivas antecipadas de vontade na jurisprudência brasileira. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI257492,51045- As+diretivas+antecipadas+de+vontade+na+jurisprudencia+brasileira. Acesso em: 29 ago. 2019. INCA. Bioética, ética e assistência de enfermagem na área oncológica. Disponível em: //www1.inca.gov.br/enfermagem/docs/cap4.pdf. Acesso em 29 ago. 2019. Organização das Nações Unidas. Declaração universal dos Direitos Humanos. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp- content/uploads/2018/10/DUDH.pdf Acesso em 29 ago. 2019. Próxima aula Ações de prevenção e promoção do câncer; Importância da vida saudável; Fatores de riscos expostos a desenvolver o câncer. Explore mais Assista aos vídeo: Diretivas antecipadas de vontade. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); Diretivas antecipadas de vontade: um modelo brasileiro. javascript:void(0);
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