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2016 História E tEoria Da arquitEtura, urbanismo E Paisagismo ii Prof.ª Graciela Márcia Fochi Prof.ª Vania Konell 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof.ª Graciela Márcia Fochi Prof.ª Vania Konell Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 720 F652h Fochi; Graciela Márcia História e teoria da arquitetura, urbanismo e paisagismo II / Graciela Márcia Fochi; Vania Konell : UNIASSELVI, 2016. 170 p. : il. ISBN 978-85-515-0017-0 1.Arquitetura. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III aPrEsEntação Caro acadêmico! Seja bem-vindo ao caderno de estudos da disciplina de História e Teoria da Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo II. Este caderno de estudos abarca um amplo período histórico que, na periodização tradicional da história, é comumente denominado de Idade Média (século V ao XV) e Idade Moderna (século XV ao XVIII). Tratou-se de uma época em que as estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais se sustentaram por mais de mil anos antes de ser questionadas e modificadas. Na primeira unidade você encontrará temas que abordam e apresentam as principais referências em termos de arte, arquitetura, urbanismo e paisagismo, conhecidas como paleocristã, bizantina, pré- românica e românica. Na segunda unidade você encontrará conteúdos que abordam e apresentam as principais referências em termos de arte, arquitetura, urbanismo e paisagismo tidas como gótica, renascentista e maneirista. Na terceira unidade você encontrará conteúdos que abordam e procuram apresentar as principais referências em termos de arte, arquitetura, urbanismo e paisagismo conhecidas como barroca, rococó, neoclássica e neogótica. Esteja atento ao contexto histórico e cultural de cada momento e estilo artístico. Munido destas informações ficará muito mais fácil ler, identificar, interpretar e diferenciar as respectivas épocas e os estilos que ganharam ênfase. Não esqueça de fazer uso de dicionários de estilos e modelos arquitetônicos e demais materiais especializados toda vez que surgirem dúvidas ou você se sentir surpreendido com alguma denominação e expressão que desconheça. Você deve estar se perguntando: Qual é a importância e a relevância desta disciplina que aborda o período da Idade Média, que ocorreu basicamente na Europa e no Oriente Médio, para minha formação enquanto arquiteto e urbanista?! Além do interesse e admiração que fizeram com que você optasse pelo curso, existem inúmeras edificações em nossas cidades que se utilizam, ainda, dos modelos que foram hegemônicos neste período, tais como muralhas, castelos, basílicas, catedrais; talvez você almeje em um futuro próximo conhecê-las, pois muitos dos exemplares desta época são considerados patrimônio da humanidade e constam como roteiros turísticos mais procurados do mundo, como é o caso da Basílica de São Pedro, a Catedral de Notre-Dame, na França, o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, a Catedral da Sé de São Paulo, a Capela Sistina, no Vaticano, entre outros. IV Caso você seja adepto de alguma tradição religiosa cristã, eis que é o momento histórico em que serão forjados os símbolos e os locais nos quais transcorrem os primeiros ritos e celebrações, bem como o momento de maior investimento e produção de arte e arquitetura destinada a estas finalidades. Por outro lado, os estilos artísticos e arquitetônicos e as cidades aqui abordadas podem também lhe proporcionar inspiração no sentido de você compor e elaborar os próprios projetos. Faz-se necessário também mencionar que os conteúdos, temas, referências, abordagens que serão elencados ao longo deste caderno de estudos procuraram contemplar a ementa da disciplina, mas que também dizem respeito às escolhas e opções que são consideradas fundamentais e relevantes ao estudo e reflexão do tema em questão. Este material deve ser compreendido como um roteiro de estudos inicial, introdutório; outros olhares e abordagens podem e devem ser feitos, pois está longe de ser suficiente ou capaz de esgotar o tema e a discussão. Os estudos que você já realizou nas disciplinas de Estética, História da Arte e História e Teoria da Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo I são fundamentais na compreensão dos conteúdos que serão abordados a partir deste momento. Desde já fazemos votos de uma provocativa jornada de estudos e reflexões pela frente! Atenciosamente, as autoras. V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 - PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO .......................................................................... 1 TÓPICO 1 - ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA ... 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 3 2 O CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................................................................ 3 2.1 A ROMA DO CRISTIANISMO PRIMITIVO .............................................................................. 4 2.2 A VISÃO DE MUNDO E A MÍSTICA DO CRISTIANISMO PRIMITIVO ............................ 5 3 AS ARTES DAS PINTURAS MURAIS E OS MOSAICOS ........................................................ 6 3.1 A ESCULTURA .............................................................................................................................. 9 4 A ARQUITETURA DE ARCOS E BASÍLICAS ........................................................................... 10 4.1 OS MAUSOLÉUS E AS CATACUMBAS .................................................................................. 13 4.2 O CASO DE POMPEIA ............................................................................................................... 15 5 ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA BIZANTINA ...................................................... 16 5.1 O CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL ............................................................................ 17 5.2 A ESTRUTURA DASCIDADES BIZANTINAS ...................................................................... 17 5.3 A ARQUITETURA BIZANTINA ............................................................................................... 18 5.4 O CASO DA BASÍLICA DE SANTA SOFIA ............................................................................ 20 RESUMO DO TÓPICO 1.................................................................................................................... 23 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 25 TÓPICO 2 - ELEMENTOS DA ARTE E A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA ..................... 27 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 27 2 O CONTEXTO HISTÓRICO .......................................................................................................... 27 2.1 A CIDADE MEDIEVAL .............................................................................................................. 28 3 A ESCULTURA E A PINTURA PRÉ-ROMÂNICA .................................................................... 30 4 A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA .......................................................................................... 33 RESUMO DO TÓPICO 2.................................................................................................................... 36 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 37 TÓPICO 3 - ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA ROMÂNICA .................................. 39 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 39 2 O CONTEXTO HISTÓRICO .......................................................................................................... 40 3 A CIDADE MEDIEVAL MURADA .............................................................................................. 40 4 A PINTURA, OS VITRAIS E AS ILUMINURAS ....................................................................... 46 5 A ARQUITETURA ROMÂNICA ................................................................................................... 48 5.1 O EXEMPLO DA BASÍLICA DE SÃO SERNIN ...................................................................... 49 5.2 O EXEMPLO DA CATEDRAL DE SANTIAGO DE COMPOSTELA .................................. 50 RESUMO DO TÓPICO 3.................................................................................................................... 54 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 55 sumário VIII UNIDADE 2 - PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO NO ESTILO GÓTICO, RENASCIMENTO E MANEIRISMO....................................................................................................... 57 TÓPICO 1 - ARQUITETURA GÓTICA .......................................................................................... 59 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 59 2 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL ................................................................................... 59 3 ARQUITETURA GÓTICA .............................................................................................................. 62 4 ARTE E ORNAMENTAÇÃO GÓTICA ........................................................................................ 68 5 O GÓTICO NA FRANÇA ............................................................................................................... 74 6 O GÓTICO NA INGLATERRA ..................................................................................................... 76 7 O GÓTICO NA ALEMANHA ........................................................................................................ 77 8 O GÓTICO NA ITÁLIA .................................................................................................................. 79 RESUMO DO TÓPICO 1.................................................................................................................... 80 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 81 TÓPICO 2 - ARQUITETURA NO RENASCIMENTO ................................................................. 83 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 83 2 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL ................................................................................... 83 3 ARQUITETURA RENASCENTISTA ............................................................................................ 86 4 ARTE E ORNAMENTAÇÃO NO RENASCIMENTO ............................................................... 92 RESUMO DO TÓPICO 2.................................................................................................................... 97 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 98 TÓPICO 3 - RENASCIMENTO TARDIO: ARQUITETURA NO MANEIRISMO ................. 99 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 99 2 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL ................................................................................... 99 3 A ARQUITETURA NO MANEIRISMO ..................................................................................... 100 4 ARTE E ORNAMENTAÇÃO NO MANEIRISMO ................................................................... 102 RESUMO DO TÓPICO 3.................................................................................................................. 105 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................................... 106 UNIDADE 3 - PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO NO ESTILO BARROCO, ROCOCÓ, NEOCLASSICISMO E NEOGÓTICO ................................................................ 109 TÓPICO 1 - ARQUITETURA NO BARROCO ............................................................................. 111 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 111 2 CONTEXTO HISTÓRICO DO ESTILO BARROCO ............................................................... 112 3 A ARQUITETURA BARROCA .................................................................................................... 115 4 O BARROCO FORA DA ITÁLIA ................................................................................................ 123 5 ARTE E ORNAMENTAÇÃO BARROCA .................................................................................. 126 RESUMO DO TÓPICO 1.................................................................................................................. 129 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................................... 130 TÓPICO 2 - BARROCO TARDIO: ARQUITETURA NO ROCOCÓ ...................................... 131 1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................131 2 CONTEXTO HISTÓRICO DO ESTILO ROCOCÓ ................................................................. 132 3 ARQUITETURA NO ROCOCÓ ................................................................................................... 133 RESUMO DO TÓPICO 2.................................................................................................................. 139 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................................... 140 IX TÓPICO 3 - ARQUITETURA DO NEOCLASSICISMO............................................................ 141 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 141 2 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL DO NEOCLASSICISMO ................................... 141 3 A ARQUITETURA NEOCLÁSSICA ........................................................................................... 143 4 ARTE E ORNAMENTAÇÃO NEOCLÁSSICA ......................................................................... 150 RESUMO DO TÓPICO 3.................................................................................................................. 153 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................................... 154 TÓPICO 4 - ARQUITETURA NEOGÓTICA ............................................................................... 155 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 155 2 CONTEXTO HISTÓRICO DO ESTILO NEOGÓTICO .......................................................... 155 3 O NEOGÓTICO NA INGLATERRA .......................................................................................... 157 4 O NEOGÓTICO FORA DA INGLATERRA .............................................................................. 161 RESUMO DO TÓPICO 4.................................................................................................................. 165 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................................... 166 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 167 X 1 UNIDADE 1 PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ- ROMÂNICO E ROMÂNICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade você será capaz de: • identificar o período paleocristão através das principais simbologias e expressões artísticas de uma arte que se voltou às preocupações religiosas. Compreender que as estruturas de moradia e vida pública, nas quais a população se instalou, eram oriundas do período histórico anterior; • referir as principais edificações da arquitetura e arte bizantina que contavam com interiores majestosos compostos por vitrais e mosaicos coloridos, mármores e afrescos que revestiam as paredes, colunas cujos capitéis eram adornados com ouro, bem como ocorria a organização dos espaços de convívio coletivo e a organização das atividades econômicas; • compreender que as ondas de migrações que vinham do norte da Europa foram responsáveis por provocar medo e pavor nas populações que residiam nas regiões centrais, uma vez que estas haviam se estabilizado. Surgiram as condições propícias para que a fusão de técnicas (pedra e madeira) ocorresse, assim como a expansão do cristianismo; • reconhecer que a arte e a arquitetura românica representaram a maior expressão dos estilos anteriores (paleocristã e pré-românica), na qual a edificação de catedrais e basílicas, mosteiros e conventos predominou. A preocupação da pintura foi a de transmitir ensinamentos bíblicos por meio de imagens, e que os artistas não possuíam liberdade de exercício e expressão de seu ofício. Esta unidade está dividida em três tópicos de conteúdos. Ao longo de cada um deles você encontrará reflexões, sugestões e dicas que visam potencializar os temas abordados, e, ao final de cada um, estão disponíveis resumos e autoatividades que almejam fixar os conteúdos estudados. TÓPICO 1 – ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA TÓPICO 2 – ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA TÓPICO 3 – ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA ROMÂNICA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, os artistas, os arquitetos, os urbanistas e paisagistas, bem como os mecenas e os encomendadores, fomentadores da arte e da arquitetura em qualquer época e sociedade que possam ter vivido ou viver, são perpassados e influenciados por questões políticas, econômicas, religiosas, sociais e pelas referências culturais que condizem à sua época e região. Cientes disto, neste tópico pretende-se fornecer elementos que ajudem a identificar e compreender a arte e a arquitetura que são reconhecidas como pertencentes ao estilo paleocristão, ou seja, arte dos primeiros séculos após o nascimento e morte de Jesus Cristo. Para dar conta desse propósito forneceremos informações que tratam do momento histórico, de como Roma se encontrava na época, dos princípios e valores que sustentavam o modo de vida cristão, como estes se expressavam nas pinturas, nos mosaicos, na arquitetura de basílicas e catacumbas; por fim, ilustra-se o caso da cidade de Pompeia, que tende a ser o eco mais prolongado dos padrões greco-romanos que ainda subsistiam quando os padrões cristãos se tornavam hegemônicos. No momento da leitura, atente para a sua postura corporal e o conforto em relação ao ambiente. Posicione-se e acomode-se da forma mais confortável possível. Almofadas, tapetes, chás, café e/ou sucos podem ser úteis. Reforce a atenção, concentre-se e bons estudos pela frente! 2 O CONTEXTO HISTÓRICO O estilo paleocristão de arte e arquitetura é considerado como a arte e as expressões artísticas que foram elaboradas dentro do intervalo temporal do século II ao século V depois de Cristo, quando o politeísmo e o paganismo deixam de ser hegemônicos e o cristianismo monoteísta, mesmo de forma isolada e tido como uma prática proibida, clandestina, passava a se expandir em meio à sociedade. ARTE PALEOCRISTÃ: da transição entre a tradição pagã e politeísta à noção cristã, monoteísta, de um senhor superior, uno, onipotente e invisível. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 4 O cristianismo expandiu-se para o mundo ocidental, além do oriental de Jerusalém, Jordânia e Palestina, por meio dos trabalhos de evangelização praticados principalmente pelo apóstolo Paulo, e passou a ser praticado inicialmente nas regiões em torno do Mar Mediterrâneo. O cenário que se encontrava em declínio era o de um Império Romano hegemônico em seu poderio militar, que invadia, saqueava, fazia escravos e subjugava a seus domínios inúmeras sociedades, estendendo-se desde o norte da África até a Ásia. No século III depois de Cristo a tradição cristã começa a se instalar em meio àquela sociedade, ao ponto de que no ano de 313, Constantino, através do Édito de Milão, também entendido como Édito da Tolerância, assegurou a liberdade irrestrita de culto, o que por sua vez implicou na destituição do paganismo de religião oficial do Império Romano, e no fim da perseguição aos cristãos. Pouco depois, no ano de 326, o Cristianismo foi reconhecido como a religião oficial do Império Romano. 2.1 A ROMA DO CRISTIANISMO PRIMITIVO Mumford (2008) explica que a cidade romana possuía porte colossal e extravagante tanto na vastidão física como em riqueza cumulativa e edificada. O Império Romano, antes de cair em ruínas, foi responsável por edificar inúmeras cidades em diversas partes da Europa, desdea África do Norte até a Ásia Menor. O mesmo autor defende que a maior expressão desse período reside no legado do Império Romano e que as pedras fundamentais da cidade romana foram obtidas em meio aos modelos das cidades etruscas (norte da Itália) e helênicas (elementos gregos). Em meio ao risco das ondas de invasões estrangeiras, Roma foi cercada, em 274 d.C. O cercamento alcançava um diâmetro de quase 2000 hectares. Mumford (2008) descreve que os inventários apontam que Roma possuía seis obeliscos; oito pontes; 11 banhos públicos; 19 canais de água, dois circos; dois anfiteatros; três teatros; 28 bibliotecas; quatro escolas a gladiadores; 18 fóruns ou praças públicas; 36 arcos; 37 portões; 290 armazéns e depósitos; 254 padarias; 1.790 palácios; 46.602 casas de moradias coletivas; oito campos cobertos de grama para atividades como danças, corridas e lutas; 30 parques e jardins; 700 tanques públicos e 500 fontes. Diante destas informações, Mumford (2008) tece suas críticas no sentido de que se tratava de uma cidade centrada na grandeza material sem finalidade e utilidade para as adversidades que se apresentavam naquele momento. “A desintegração de Roma foi o resultado final de seu supercrescimento, que resultou numa falta de função e numa perda de controle dos fatores econômicos e agentes humanos que eram essenciais à continuação de sua existência” (MUMFORD, 2008, p. 287). TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 5 Uma das primeiras indicações do fim do antigo Império Romano e do nascimento da nova cidade medieval foi o deslocamento do mercado e do Fórum para a colina mais propícia a se obter proteção. Outras mudanças também foram percebidas, como as das fachadas de oficinas, que ganharam proteções de tijolos, estratégia que seguiu sendo utilizada ao longo da Idade Média. Mumford (2008 p. 24) descreve que as antigas edificações dos romanos se tornaram funcionalmente inúteis, como o teatro, a arena, o banho, e demais estabelecimentos destinados aos cultos pagãos; e que apenas as antigas basílicas e templos, projetados para abrigar muitas pessoas, puderam ser aproveitados quando da aceitação do culto e prática religiosa cristã. Pode-se entender que a simplificação das edificações com finalidade utilitária, o deslocamento dos principais espaços para regiões mais seguras e o uso de estratégias de segurança marcaram a configuração dos espaços urbanos do final do Império Romano dos primeiros tempos da época medieval. 2.2 A VISÃO DE MUNDO E A MÍSTICA DO CRISTIANISMO PRIMITIVO Os primeiros adeptos e devotos do cristianismo foram as minorias que em meio ao Império Romano haviam sido subjugadas e jogadas aos leões nas arenas de espetáculos públicos; e indivíduos excluídos da vida pública e cívica, como mulheres e escravos. Mumford (2008) descreve que a nova visão religiosa tornava possível superar a decadência social e urbana assistida na antiga Roma. O cristianismo apresentava uma visão de mundo e mística que convertia a doença física em purificação e saúde espiritual, a realidade da fome em ato voluntário de jejum, atribuía descaso para com os bens mundanos em nome da salvação e de uma melhor vida após a morte. Fromm (1987, p. 142) explica que o herói cristão passou a ser o mártir, pois na tradição judaica a mais elevada realização era dar a própria vida por Deus ou por seus semelhantes. Antes que Roma ruísse definitivamente, por volta do século III, os cristãos que se encontravam encurralados e escondidos nas imediações da cidade, em meio à cavernas e catacumbas, passaram a oferecer enterro cristão em capelas, altares e túmulos subterrâneos a quem com eles comungavam. Compreende-se que o modo de vida que prevaleceu ao longo do Império Romano, de excessos, exageros, desperdícios, banquetes, luxúrias sustentadas com a arrecadação de impostos da população romana e da tributação das populações estrangeiras, com base em um governo militarista e imperialista, perdeu forças pelos valores do emergente cristianismo. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 6 3 AS ARTES DAS PINTURAS MURAIS E OS MOSAICOS A vida cultural, política e econômica do Ocidente ainda estava centralizada em Roma, mesmo que muitos dos artistas fossem de origem grega. Gombrich (2012) defende que a arte paleocristã da Idade Média aproveitou os elementos que já haviam sido utilizados pelos egípcios e gregos nos tempos remotos, e que nos primórdios da Idade Média se responsabilizou por promover a valorização de processos primitivos combinados com métodos refinados. De modo geral, pode-se afirmar que foi um momento em que os artistas, escultores e arquitetos deixaram de observar a natureza, não se dedicavam mais a fazer estudos sobre a melhor forma de representar o corpo humano, de provocar efeitos ilusionistas e de profundidade. A arte e os artistas da época paleocristã basicamente concentraram-se em compor o interior de igrejas. Foi uma arte produzida por cristãos e financiada pelos devotos religiosos. As igrejas da Europa reúnem os exemplares mais expressivos deste período. Gombrich (2012) explica que a arte paleocristã deixa de apresentar a função e utilidade de transmitir beleza, equilíbrio, virtuosidade, felicidade e passa a ser reconhecida como uma forma de ilustrar a dimensão sagrada, misteriosa e milagrosa da criação divina. A arte adquire a função de manifestar a adoração e devoção a Deus através da arte e, ao mesmo tempo, além da arte. A arte paleocristã combinou elementos da arte greco-romana imbricados e com aspectos da estética do cristianismo, porém, em meio aos primeiros cristãos a questão da iconoclastia se fazia presente e foi cercada de debates e polêmicas, diante disto, preferiam se utilizar de símbolos ao invés de imagens. NOTA ICONOCLASTIA: movimento político-religioso que não admitia o uso e veneração de imagens que ilustravam santos e divindades, que vigorou em meio ao Império Bizantino, entre os séculos VIII e IX. Os primeiros símbolos de que o cristianismo primitivo se utilizou mesclavam referências pagãs, Jesus Cristo – o Messias – era colocado em meio a elementos como peixes e âncoras, e até poderiam estar acompanhados de escritos em grego e/ou em latim. Identifique estes elementos na figura a seguir: TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 7 FIGURA 1 - ÂNCORA E PEIXE. CATACUMBA PRISCILLA - ROMA FONTE: <http://expressaomaximadasbelasartes.blogspot.com.br/>. Acesso em: 16 jul. 2016. O Ocidente latino do Império Romano, que gradualmente se cristianizava, considerou o uso de imagens em pinturas, não aderiu ao movimento da iconoclastia, pois essas favoreciam os ensinamentos e a transmissão dos preceitos religiosos. Nesse período, os índices de analfabetismo eram muito altos, mais de 90% da população, em especial em meio aos primeiros adeptos do cristianismo. Conforme apresenta Gombrich (2012), o Papa Gregório Magno (540- 604) defendeu a utilização das imagens alegando que elas eram muito eficientes se utilizadas na conversão e doutrinação em contextos em que a população apresentava baixa escolarização. Por outro lado, ocorria a restrição com relação à elaboração das pinturas e dos mosaicos, estes deveriam ser rígidos, planos, frontais, simples e expressar de forma muito clara a mensagem a que se pretendiam. No entanto, os traços evidenciados nas pinturas murais e nos mosaicos confeccionados no interior das igrejas, da época paleocristã, foram os efeitos de UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 8 profundidade, as cores carregadas, que promoviam a sensação de solenidade e esplendor, de algo sagrado, grandioso e milagroso. Aos artistas era exigido o conhecimento e domínio minucioso sobre cores e misturas, o uso de pedras e rochas para obter os mais expressivostons para representar enfaticamente tanto o sangue como o céu. Observe a imagem a seguir, nela constam peixes e pães, ilustrando o milagre da multiplicação dos pães. FIGURA 2 - MOSAICO ILUSTRANDO O PEIXE E OS PÃES FONTE: <http://www.teleios.com.br/wp-content/uploads/2011/04/mosaico-cristao.jpeg>. Acesso em: 16 jul. 2016. O Cristo deste período foi representado como um jovem pálido, de cabelos longos, sem barba, os gestos que ele expressava eram os de bênção e/ou de atos milagrosos. Gombrich (2012) explica que se tratava de um Cristo cujo poder era inabalável e que a Igreja era a responsável por conter e representar este poder. Observe na figura a seguir a representação de Cristo no momento de seu batismo. TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 9 FIGURA 3 - CRISTO EM SEU BATISMO FONTE: <http://cultura.culturamix.com/curiosidades/arte-paleocrista-expressao-artistica- religiosa>. Acesso em: jul. 2016. UNI Caro acadêmico! Você já teve acesso à arte helenística nos estudos de História e Teoria da Arquitetura, do Paisagismo e do Urbanismo I, e nas próximas unidades deste caderno você estudará a arte renascentista. Diante disso, gostaríamos de aguçar sua imaginação e senso de pesquisa para a riqueza e a diversidade de detalhes que os artistas da Grécia clássica e na época renascentista utilizavam para representar Cristo e demais figuras religiosas. 3.1 A ESCULTURA Em meio às tradições religiosas mais antigas dos romanos ocorria o transporte e o translado de imagens de cera que corporificavam seus ancestrais em meio a procissões. Gombrich (2012) explica que os romanos procediam dessa UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 10 maneira, pois estavam imbuídos da ideia de que a representação da imagem continha a própria alma do indivíduo representado. Esta concepção nos ajuda a compreender a tradição de edificação de bustos de imperadores, porém, estes eram apresentados como figuras públicas e de poder, e foram esculpidos na forma mais natural possível, nada próximo de atribuições religiosas ou celestiais que as divindades possuíam, mas que também recebiam reverências e homenagens, como a queima de incensos por parte da população. Ao mencionar um busto de um imperador não se pode perder de vista que os romanos e as populações por eles subjugadas eram obrigados a demonstrar devoção como forma de expressar lealdade e vassalagem. Quando os primeiros cristãos passaram a não prestar a devida reverência diante dos bustos, teve início todo o processo de perseguição. Quando da passagem do politeísmo ao monoteísmo, Gombrich (2012) escreve que, diferentemente do que foi estudado na pintura, os primeiros cristãos consentiam que, em se tratando de decorações, não se deveria utilizar estátuas. O argumento central residia em que edificar estas referências havia sido prática dos grupos pagãos a seus antigos ídolos (Zeus, Atenas, Júpiter, Diana, entre outros) e que esta prática não era coerente à nova tradição religiosa, mas diante da necessidade de consolidar e difundir o cristianismo ela foi gradualmente sendo incorporada. As esculturas dos primeiros séculos depois de Cristo passaram a apresentar a despreocupação dos escultores em elaborar e talhar a matéria-prima (mármore primordialmente) de forma virtuosa, na qual ficaram expressadas noções de beleza, perfeição, equilíbrio e profundidade, ou de temas terrenos. Os escultores engajados com o cristianismo lançavam mão de outras ferramentas e almejavam obter outros resultados, e, por isso, a arte ficou tachada como rudimentar e de pouca elaboração. Segundo Gombrich (2012), a maior preocupação dos escultores daquele período foi a de expressar noções de aceitação, a conversão e a devoção ao cristianismo propriamente dito. 4 A ARQUITETURA DE ARCOS E BASÍLICAS Os romanos dos tempos áureos do Império destacaram-se na construção de estradas, aquedutos, balneários e fontes, e no seu todo compunham edificações e espaços urbanos de dimensões suntuosas. A partir do momento em que Constantino estabeleceu a Igreja Cristã como um poder no interior de seu governo, em 311 d.C., estas edificações, em termos de arcos, não serviam mais e novos e outros espaços de cultos públicos precisaram ser edificados. As formas até então existentes se tornaram insuficientes para abarcar toda TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 11 a congregação que agora se reunia e que acompanhava os trabalhos religiosos de uma missa. Os antigos espaços e rituais pagãos, que se caracterizavam por serem compostos por pequenos sacrários e de procissões e desfiles que transcorriam nas ruas pelo interior dos vilarejos, não davam mais conta da nova função que era atribuída às celebrações religiosas. As basílicas foram as principais construções do período de consolidação do cristianismo. Elas representaram uma das soluções mais eficientes para toda a nova organização e realização dos trabalhos religiosos, mas, antes de serem edificadas, muitos dos espaços, como salões de reuniões, recintos de tribunais de justiça, audiências públicas e espaços de feiras e mercados foram utilizados. Piccini (2009) explica que as basílicas cristãs possuem uma estrutura interna que promove um espaço escuro, de recolhimento, proteção e sugeria ao mistério espiritual. A estrutura mínima das basílicas possuía as partes de transepto, naves, nártex, abside. Observe a figura a seguir: FIGURA 4 - PLANTA BAIXA CONTENDO AS ESTRUTURAS PRINCIPAIS DAS BASÍLICAS FONTE: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2011/09/sc3a3o-joc3a3o-de-laterano- cc3b3pia.gif>. Acesso em: 7 ago. 2016. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 12 FIGURA 5 - ESTRUTURA EXTERNA E PLANTA BAIXA DA BASÍLICA AULA PALATINA FONTE: <http://www.learn.columbia.edu/ma/htm/related/ma_trier_02.htm>. Acesso em: 7 ago. 2016. Observe agora a imagem da basílica com toda a estrutura e a iluminação interna. FIGURA 6 - AULA PALATINA, ESPAÇO INTERNO FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-Ieo0GVLCgt4/U_xLEfXHkiI/AAAAAAAAFKk/jiqZI81Ees4/ s1600/DSC_0814.JPG>. Acesso em: 7 ago. 2016. TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 13 O que os antigos gregos e romanos desenvolveram não foi abandonado por completo, aquelas estruturas antigas receberam adaptações e outros significados, agora não mais militares ou de espetáculos de entretenimento, e sim religiosos e sagrados. Prossiga na leitura, pois será tratado sobre as edificações de mausoléus e catacumbas que serviram de refúgio e espaços de celebrações dos primeiros cristãos. 4.1 OS MAUSOLÉUS E AS CATACUMBAS Os mausoléus, cuja finalidade primordial era a de servirem de recintos fúnebres destinados a abrigar lideranças políticas de renome, constam desde a civilização egípcia e as pirâmides são os exemplares mais expressivos do objetivo para o qual foram construídas. Já as catacumbas consistiram em escavações subterrâneas nas paredes das rochas destinadas a reservar sepultamentos. As edificações das primeiras catacumbas remontam ao século II d.C. e são os locais em que se encontram as principais obras em afrescos e pinturas do período paleocristão. As regiões mais favoráveis à escavação de catacumbas foram as que apresentavam tufo, uma espécie de rocha vulcânica. Os locais das catacumbas encontravam-se abandonados, longe do interesse e da desconfiança do governo romano, assim, ali, os primeiros adeptos do cristianismo puderam praticar e expressar sua religiosidade por muito tempo sem serem descobertos. A procura por catacumbas foi tão intensa que se tornou necessário abrir cada vez mais galerias subterrâneas para atender à população. Observe as ramificações que a catacumba da Via Anapo, na Itália, atingiu. FIGURA 7 - MAPA DA CATACUMBA DE VIA ANAPO FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/07/Mappa_Catacombe_Via_Anapo.jpg>. Acesso em: 4 jul. 2016. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 14 Roma reserva muitas catacumbas, que se encontram ao longo das principais estradas mais antigas, as catacumbas de Priscilla; São Calisto; Domitilia; São Sebastião na via Ápia, em Anapo, estão entre as mais conhecidas. No interior das catacumbas existiam criptas, espécie de capelas decoradas com afrescos e cubículos que consistiam em uma câmara reservada a uma determinada família. Observe a ideia de cubículos na figura da catacumba a seguir: FIGURA 8 - CATACUMBA DE SÃO GENARO, NÁPOLES FONTE: <http://historiaybiografias.com/catacumbas/>. Acesso em: 16 jul. 2016. Os afrescos no interior das catacumbas geralmente referiam-se a temas bíblicos, tais como Adão e Eva e demais passagens enfatizadas nos sermões; assim como a Cristo, o nascimento, as peregrinações, os milagres e os mandamentos. Observe a imagem de um afresco em uma catacumba de Roma, que é denominada de ‘Ágape’, que diz respeito ao primeiro e segundo mandamentos, conhecidos como “Amar a Deus sobre todas as coisas e Amai- vos uns aos outros como eu vos amei”. TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 15 FIGURA 9 - AFRESCO COM TEMA ÁGAPE FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Catacumba_romana#/media/File:Agape_feast_02.jpg>. Acesso em: 4 jul. 2016. Caro acadêmico, além de os afrescos possuírem fator pedagógico e educativo no processo de conversão de novos adeptos, as representações eram oriundas do contexto de censura, perseguição e demais tribulações a que os cristãos eram submetidos, e diante destas imagens esperavam encontrar imagens e mensagem de milagres, redenção, ressureição e salvação da alma. 4.2 O CASO DE POMPEIA A cidade foi fundada no século III d.C., localizou-se ao sul de Nápoles. No primeiro século depois de Cristo a cidade foi atingida por terremotos e as ruínas ainda foram depositárias das cinzas que eram expelidas pelo vulcão Vesúvio. FIGURA 10 - POMPEIA E O MONTE DO VULCÃO VESÚVIO FONTE: <https://betonomundo.files.wordpress.com/2010/05/dsc_2197.jpg>. Acesso em: 10 jul. 2016. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 16 A cidade passou a ser escavada somente no século XVIII, o que possibilitou os estudos e a identificação de casas das famílias notáveis financeiramente, tais como domus, átrios, peristilos, basílicas, termas, piscinas e pátios. As edificações expressam a influência dos modelos gregos e etruscos. Apresentavam nos interiores decorações e preenchimentos com colunas, arcos, afrescos, cortinas, mosaicos, fontes e santuários. Mesmo Pompeia tendo sido fundada quando se dava o enfraquecimento das tradições politeístas e do avanço e da consolidação do cristianismo como tradição religiosa, ela comportava fundamentalmente as estruturas e edificações cujos usos e funções imitavam o antigo Império Romano anterior à cristianização. Pompeia representa a persistência e permanência do antigo modelo de cidade romana em meio à crescente mudança de sociedade que se anunciava, a da época paleocristã e cristã. Prossiga nos estudos, a seguir vamos apresentar elementos da arte e arquitetura bizantina. 5 ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA BIZANTINA Imagine uma sociedade em que ilustrar imagens humanas era censurado. Recorda a questão da iconoclastia, que foi estudada anteriormente?! Então, o movimento inicial partiu do interior do Império Bizantino a partir do século VIII. As poucas imagens humanas que eram permitidas foram as de ícones religiosos e políticos. Diante desta condição, os artistas dedicaram-se em aprofundar seus estudos e atividades e expressar a criatividade em arabescos decorativos aplicados em paredes, cujas expressões do universo onírico ficam ressaltadas por meio de linhas e cores. Os arabescos decorativos logo se popularizaram e chegaram até nós, ocidentais, por meio da tapeçaria. A arte e arquitetura bizantina é seguidamente indicada como um estilo rígido, pois em sua maioria dedicavam-se a retratar temas sacros e que se restringiam à plasticidade dos modelos antigos. Porém, é facilmente observável o legado dessa arquitetura às tradições greco-romanas e persas. O auge da arte e arquitetura bizantina ocorreu no tempo em que o cristianismo se tornava uma religião lícita, que poderia ser praticada publicamente sem implicar perseguição e intolerâncias aos devotos, o que por sua vez foi responsável por conferir riqueza, poder e majestosidade, aspectos que antes não eram desfrutados. Cole (2013) explica que a arquitetura bizantina se dedica em reservar os trabalhos de maior elaboração e refinamento às partes interiores das igrejas, e que em comparação à arte e arquitetura cristã, foi muito rica em contrastes obtidos a partir de cores, jogos de luz e materiais preciosos. TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 17 Vamos avançar nos estudos, que maiores elementos e detalhes sobre estes aspectos da arte e arquitetura bizantina serão apresentados! 5.1 O CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL Enquanto o Império Romano ruía e era invadido por povos das regiões ao norte da Europa, era transferido a Bizâncio o título de capital política e cultural da época. O Império Bizantino atingiu seu auge no século VI, quando do governo e reinado de Justiniano (527-562), cuja capital foi Constantinopla, que logo se tornou a capital política e cultural da época. Em 1204, os francos saquearam Constantinopla e o império começou a ser desmantelado territorialmente. Houve uma pequena recuperação no período, denominada de Paleólogo, entre os anos de 1261 e 1453, mas em 1453, Constantinopla foi tomada e sobrepujada pelos turcos otomanos, e a partir de então o império não conseguiu mais ser refeito nas proporções que havia alcançado nos tempos de Justiniano. A partir de agora nos dedicaremos a apresentar o que transcorreu em termos de artes e arquitetura mais expressiva do século VI em diante, prepare sua concentração e prossiga na leitura! 5.2 A ESTRUTURA DAS CIDADES BIZANTINAS Conforme explica Piccini (2009), as cidades árabes estruturavam-se em torno do centro da cidade e bairros em volta do centro, que por sua vez dava conta de obedecer aos clãs, tribos e dinastias, evidenciados em meio aos grupos familiares amalgamados por meio dos vínculos sanguíneos entre os mesmos, e assim iam sendo preenchidos os corredores e as vielas no entorno dessas estruturas. As casas costumavam apresentar uma disposição que se fechava em torno de um pátio interno, o que por sua vez conferia o resguardo e o distanciamento em relação aos demais moradores não pertencentes à família e até desconhecidos. Cabe ressaltar que o centro da cidade era composto por uma mesquita principal, que consistia em espaços e locais à expressão do poder religioso, econômico e político; palácio ou cidadela destinados a espaços e locais de expressão do poder político; mercados nos quais desenvolviam-se as atividades relacionadas ao poder econômico; hamám, locais reservados para banhos públicos; e madrassas, espaços destinados a escolas religiosas. A cidade de Constantinopla conseguiu sobreviver aos ataques dos povos bárbaros no século V. A razão disso encontrava-se nas reforçadas defesas da cidade e a grande disponibilidade de ouro e artigos de luxo que podiam ser usados para subornar os invasores. Outro fator está no fato de que ela UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 18 se localizava na antiga região da Trácia, no continente europeu, na costa do pequenino Mar de Mármara e bem de frente para a Anatólia, na Ásia, situava-se num local e região ideal para conciliar e intermediar a comunicação entre dois mundos, o Ocidente e o Oriente. Em Constantinopla, o povo viviacomprimido em pequenos bairros, conjuntos de ruelas sombrias, pouco arejadas, onde se encontram as pobres moradas de um povo orgulhoso e arrogante, consciente de pertencer à mais civilizada das comunidades. As vielas acomodavam-se entre as pequenas tabernas e as moradias eram construídas com tijolos e materiais simples e de fácil adaptação. A capital do grande Império Romano do Oriente apresentava, em sua avenida principal, pórticos em dois andares cobertos por arcadas e a população de visitantes deslumbrava-se diante das lojas de luxo, e os ourives fascinavam os estrangeiros. 5.3 A ARQUITETURA BIZANTINA A arquitetura bizantina, de maneira geral, almejava complexidade, centralização das plantas e sofisticação dos espaços. As principais edificações foram as mesquitas, que por sua vez apresentam um interior iluminado, límpido e claro, efeito obtido pela presença de amplas janelas e aberturas revestidas com vitrais e mosaicos coloridos. Cole (2013) explica que os interiores das edificações bizantinas eram austeros, as paredes eram revestidas com mármores, mosaicos, afrescos tanto ornamentais como figurativos. Contavam com colunas, eram arrematados por capitéis folheados em ouro seguidos de telhados também em ouro. O ouro, a prata e incrustações com joias se faziam presentes também na composição dos altares. Paredes e pisos de muitas igrejas foram decoradas na forma de Opus sectile, que consistia no uso de pedras e mármores cortados e montados formando figuras geométricas, conforme é ilustrado na figura a seguir: TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 19 FIGURA 11 - ARTE OPUS SECTILE, SÉCULO XII FONTE: <http://www.newliturgicalmovement.org/2015/04/opus-sectile-work-in-holy-land-does. html#.V4wLVtIrLIU>. Acesso em: 17 jul. 2016. Os mosaicos foram utilizados pelos gregos, pelos romanos, pelas civilizações astecas e maias, mas foi em meio à arte bizantina que alcançaram maior expressão e refinamento. Foram introduzidos no império por volta dos séculos V e VI, geralmente possuíam fundos em ouro, que por sua vez conferia forte luminosidade, e nas auréolas que acompanhavam as figuras de Cristo, demais santos e a do imperador, o representante de Deus na Terra. Atente para a imagem que é apresentada a seguir. FIGURA 12 - JUSTINIANO I. BASÍLICA SAN VITALE, RAVENA FONTE: <http://uzinga.com.br/blog/2013/05/arte-bizantina/>. Acesso em: 17 jul. 2016. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 20 Os bizantinos foram responsáveis por elaborar quadros devocionais dedicadas a Jesus, Maria, os apóstolos e demais santos e mártires. Os artistas revestiam a superfície de uma placa ou madeira com material dourado, sobre a qual pintavam a imagem e depois retiravam com estiletes a película de tinta da pintura; costumavam aplicar também joias, no sentido de conferir ênfase e suntuosidade aos seus personagens. As imagens poderiam ser encontradas no interior de igrejas, bem como em oratórios no interior das residências. FIGURA 13 - NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO FONTE: <http://lealuciaarte.blogspot.com.br/2013/01/a-arte-bizantina_9226.html>. Acesso em: 17 jul. 2016. Após a morte de Justiniano, o império foi esfacelando-se territorialmente, durante o século VIII passaram a ocorrer invasões de território. A questão da iconoclastia, que a partir de então se acentuava ainda mais, colocou a perder muitas obras que os bizantinos haviam confeccionado. A partir de então a decoração figurativa que ilustrava figuras humanas no interior das igrejas foi retirada e substituída por cruzes, folhagens e temas geométricos. 5.4 O CASO DA BASÍLICA DE SANTA SOFIA Santa Sofia (divina sabedoria) é considerada a mãe das igrejas, foi edificada em Constantinopla entre os anos de 532 e 537, pelo imperador Justiniano, no terreno e local em que existia uma antiga basílica com o mesmo TÓPICO 1 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA PALEOCRISTÃ E BIZANTINA 21 nome. Os responsáveis pela obra não eram arquitetos ou mestres em construção, foram estudiosos e cientistas apenas, o que por sua vez foi responsável por conferir à obra uma espécie de fusão entre o modelo de igreja abobadada bifólia e basílica cupulada, façanha alcançada com o uso de tijolos como matéria-prima básica e blocos de pedra na estrutura das colunas. FIGURA 14 - A BASÍLICA DE SANTA SOFIA FONTE: <https://alfredojunior.files.wordpress.com/2013/10/basilica-de-santa-sofia.jpg>. Acesso em: 10 jul. 2016. O interior da basílica é composto por mosaicos, cúpulas, semicúpulas, arcos, sofitos, naves, nártex, galerias, exedrae; decorado com placas de mármore preto, amarelo, verde, azul, vermelho; revestido de mosaicos que representam cruzes, folhagens e ramagens douradas; no alto das colunas encontram-se capitéis cubiformes com espirais jônicas, folhagens em relevos profundos. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 22 FIGURA 15 - INTERIOR DE SANTA SOFIA FONTE: <http://lealuciaarte.blogspot.com.br/2013/01/a-arte-bizantina_9226.html>. Acesso em: 7 ago. 2016. A primeira cúpula da basílica possuía 32,6 metros de diâmetro, não resistiu e precisou ser reconstruída no ano de 563. 23 Neste tópico, você viu que: • O estilo paleocristão de arte e arquitetura ocorreu entre o século II e o século V depois de Cristo, quando o politeísmo e o paganismo deixaram de ser hegemônicos, e o cristianismo monoteísta passou a se expandir em meio à sociedade romana. • As pinturas presentes na arte paleocristã se caracterizavam por rígida e ampla exploração de contrastes de cores, pouca diversidade técnica ou efeitos ilusionistas, tendiam a expressar de forma mais clara e nítida as mensagens religiosas. • A representação de cenas bíblicas consistiu no principal tema da arte paleocristã, Cristo era representado sem barba e muitas vezes associado a peixes e âncoras, acompanhado de escritos em grego e latim. • As igrejas da Europa reúnem os exemplares mais expressivos da arte paleocristã, que eram devidamente encomendados e financiados pelos devotos religiosos do cristianismo. • Os locais e edificações destinados a atividades religiosas do politeísmo romano pouco foram utilizados quando da aceitação do cristianismo, salvo as edificações no formato de basílicas que haviam abrigado feiras comerciais e reuniões públicas. • As catacumbas serviam de locais de refúgio, celebração religiosa e sepultamentos aos primeiros cristãos e aos judeus nos tempos de intolerância e perseguição religiosa. • O Império Bizantino atingiu seu auge por volta do século VI, no governo e reinado de Justiniano (527-562), quando Constantinopla foi elevada a capital política e cultural tanto do Ocidente como do Oriente. • As principais estruturas que ocorriam no interior das cidades árabes foram o centro, o entorno do centro da cidade e bairros em volta do centro. • O centro da cidade era composto por uma mesquita, local de expressão do poder religioso, econômico e político; palácio ou cidadela, reservado ao poder político; mercado para atividades econômicas; hamám, locais para banhos públicos; e madrassas, as escolas religiosas. RESUMO DO TÓPICO 1 24 • Em meio à sociedade bizantina ocorria a questão religiosa da iconoclastia, o que por sua vez censurava a produção de imagens por parte da arte, o que fez com que os artistas se dedicassem em explorar arabescos decorativos aplicados em paredes, ressaltando linhas e cores. • No campo da arquitetura as principais construções foram as basílicas, que em seu interior apresentam amplas janelas e aberturas revestidas com vitrais e mosaicos coloridos, paredes revestidas com mármores, afrescos, colunas com capitéis folheados em ouro, seguidos de telhados também em ouro. 25 1 A arte que é identificada como sendo do estilo paleocritão gradualmente substituiu e se diferencioudo estilo greco-romano que havia prevalecido ao longo da antiguidade clássica. Esta substituição foi responsável por romper profundamente com o sentido que havia sido atribuído à arte até então. Com relação à função da arte e dos artistas na antiguidade clássica greco-romana e na fase paleocristã, analise as sentenças abaixo, atribuindo o seguinte código: I - Greco-romana. II - Paleocristã. ( ) A arte preocupou-se em explorar temas e técnicas que expressavam o belo, a harmonia, o equilíbrio. ( ) A arte preocupou-se em explorar temas e técnicas que expressavam o milagre, o sagrado e o divino. ( ) Os artistas estavam preocupados em experimentar estilos e técnicas diferentes que provocassem efeitos de ilusionismo e profundidade. ( ) Os artistas estavam preocupados em refinar ainda mais as técnicas e obter obras que causassem forte comoção no interior das igrejas. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I; II; I; II. b) ( ) II; I; II; I. c) ( ) I; I; II; II. d) ( ) II; II; I; I. 2 Os primeiros cristãos não tinham o direito de praticar e confessar sua religiosidade publicamente, pois isso contrariava a religião oficial do antigo Império Romano, e para tanto edificaram catacumbas. Com relação aos primeiros espaços ocupados e utilizados para as celebrações dos primeiros cristãos, assinale com V para as verdadeiras e F para as falsas: ( ) No interior das catacumbas é possível encontrar criptas decoradas com afrescos e cubículos pertencentes a uma determinada família. ( ) As catacumbas foram inventadas pelos primeiros cristãos como forma de se protegerem e refugiarem das perseguições que sofriam em meio à sociedade da época. ( ) As regiões em que ocorria tufo, uma espécie de rocha vulcânica, eram preferidas para a escavação das catacumbas. ( ) Os judeus que residiam em Roma também se refugiaram e faziam suas celebrações religiosas no interior das catacumbas. AUTOATIVIDADE 26 Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V; V; F; F. b) ( ) F; F; V; V. c) ( ) V; F; V; V. d) ( ) F; V; F; V. 3 A arte e a arquitetura bizantina, além dos aspectos peculiares como as restrições religiosas, apresentaram elementos exóticos e de ampla riqueza se comparados aos produzidos pela civilização ocidental. Diante disso, disserte sobre os aspectos que se destacam e que são mais expressivos em termos de artes e arquitetura daquela tradição. 27 TÓPICO 2 ELEMENTOS DA ARTE E A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, o período pré-românico diz respeito à arte e arquitetura que pertenceram aos séculos V ao IX d.C. O estilo pré-românico de arte e arquitetura sucedeu à hegemonia que o mundo greco-romano havia exercido e antecedeu a arte românica, quando os valores e preocupações cristãos passaram a prevalecer. Trata-se da arte e da arquitetura que transcorreram a partir da decadência da antiguidade clássica e do fim do Império Romano, o que é chamado pelos estudiosos como antiguidade clássica tardia e o início da Dinastia Merovíngia (do século V ao VIII nas regiões da Gália), conhecida também como época da Alta Idade Média, pode-se dizer que se alastrou por toda a Europa e não foi localizada em alguma outra região do mundo. No interior do estilo de arte e arquitetura pré-românica coexistem e integram-se elementos das tradições artísticas dos povos imigrantes do norte da Europa e da população que se encontrava já radicada nas regiões mais centrais da Europa, isso quer dizer que se emaranham elementos das culturas pagãs e da tradição cristã primitiva, no sentido de enriquecimento e legitimação da segunda diante da primeira. 2 O CONTEXTO HISTÓRICO Foi um momento histórico marcado por fortes migrações, invasões e períodos de guerras (as Cruzadas) que transcorreram desde a queda das civilizações antigas da Mesopotâmia, Egito, Grécia e a queda do Império Romano, e em contrapartida presenciou a ascensão de países da Europa, como França, Inglaterra, Holanda, Espanha, Portugal, Itália, entre outros. A partir do século IV passaram a ocorrer ondas de imigração dos povos bárbaros, ou seja, povos que não falavam a língua latina, língua oficial nas regiões centrais da Europa. Tais invasões foram muito temidas, devido às notícias que circulavam em meio aos povoados e cidades da época. Os relatos informavam sobre práticas de invasão, saque, pilhagem e destruição. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 28 Dentre os povos que migravam encontravam-se os francos, godos, ostrogodos, burgúndios, visigodos, suevos, lombardos, anglos, saxões, vândalos. Foi um período de baixas nas condições de vida urbana, a fome e as doenças reduziram a população significativamente. Duby (1994) descreve que a sociedade da Idade Média se resumia a três ordens: os que rezavam, os que guerreavam/ caçavam e os que trabalhavam. Dentre os que rezavam estava o clero, formado pelos membros da Igreja: padres, cardeais, diáconos, árcades, bispos, arcebispos e o papa. Dentre os que guerreavam encontravam-se a nobreza e cavaleiros, formados por príncipes, marqueses, duques, arquiduques, condes, viscondes, barões. Os que caçavam eram os nobres e cavaleiros, a caça poderia se estender por meses, os principais alvos eram javalis, coelhos, raposas e alces. Dentre os que trabalhavam estavam camponeses, servos e vilões. As profissões da época relacionavam-se principalmente a atividades agrícolas, tais como: camponês, lavrador, jardineiros, moleiro, sapateiro, padeiro, ferreiro, costureiro, cavaleiro, capelão; sacerdote, artesãos, bruxas, feiticeiros, entre outros. Por muito tempo este período da história foi definido como o princípio da Idade das Trevas, como sendo um período de obscurantismo, baixa produção artística, cultural e econômica, mas não se pode generalizar e desconsiderar o que religiosos procuraram guardar e preservar em termos de conhecimento e arte no interior de mosteiros e conventos. 2.1 A CIDADE MEDIEVAL Nas cidades residia o menor número da população e muitas delas haviam deixado de oferecer serviços públicos e atividades comerciais. As antigas edificações, como termas, teatros, fóruns, foram transformadas em fortalezas de proteção diante das ondas de invasões, e se encontravam em péssimas condições de higiene e saúde pública. A paisagem mais típica era a de ruas irregulares, esgotos a céu aberto, o que por sua vez tornava as condições ideais à proliferação de doenças e epidemias. A maior parte da população encontrava-se nas áreas rurais da região central da Europa e lá passam a existir as bases fundamentais ao feudalismo. A sociedade, em sua grande parte, se ruralizou e passou a organizar a produção no sentido de se autossustentar, laços de confiança e espírito de comunidade se estruturam, a noção de liberdade é modificada em prol da segurança e as mentalidades dos indivíduos foram fortemente influenciadas pela tradição religiosa cristã católica. Benevolo (2005) explica que as terras no campo foram divididas em grandes propriedades, com dimensões em média de 5000 hectares, inicialmente possuíam as edificações principais, como castelos, abadias e igrejas. Os locais TÓPICO 2 | ELEMENTOS DA ARTE E A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA 29 escolhidos para instalação dessas estruturas foram os que ofereciam maior proteção diante de invasões e possíveis saques dos povos que chegavam das regiões do norte da Europa, para tanto o alto de colinas e os cursos de rios mais afastados foram os locais mais procurados. Outras instalações faziam parte destas propriedades, tais como: pontes, celeiros, estábulos, moinhos d´água e de vento, casa do ferreiro, forno, espaços de terra reservados a aldeias, terra de cultivo e de pousio (reservada), jardins, pomar, pântano, bosques, pradarias, floresta. Benevolo (2005) explica que não havia muita preocupação no planejamento, as edificaçõeseram providenciadas conforme a necessidade e o número de população que se instalava em meio a um feudo. As edificações procuravam se valer das condições naturais, das ruínas e monumentos antigos, adaptar-se às irregularidades dos terrenos, contornar enseadas e cursos d´água, a composição com a paisagem passava desapercebida. DICAS Caro acadêmico, no sentido de ampliar suas referências com relação à arte pré- românica e que você consiga se aproximar ainda mais do contexto histórico da época que estamos estudando, sugerimos que você assista ao filme O Incrível Exército de Brancaleone. O incrível exército de Brancaleone. Mario Monicelli. Itália. 1966. 120min. FONTE: <https://capadedvd.files.wordpress.com/2009/02/oincrc3advelexc3a9rcitodebrancaleone. jpg>. Acesso em: 19 jul. 2016. Além de estudar e conhecer mais sobre a Idade Média, você vai se divertir muito, pois retrata um grupo de maltrapilhos liderados por Brancaleone que se reúnem imaginando-se um grande e nobre grupo de cavaleiros medievais que partem em busca de aventuras em meio à Itália medieval acometida pela miséria, pobreza e peste negra. Boa sessão de cinema! UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 30 3 A ESCULTURA E A PINTURA PRÉ-ROMÂNICA No período pré-românico os ecos do antigo Império Romano já eram pouco expressivos e em meio aos escombros surgia uma nova forma de vida, agora sediada numa espécie de cidade celestial, livre dos infortúnios dos deuses do panteão politeísta e em comunhão com os santos. Foi a partir do século IV que ocorreu o choque e o sincretismo entre as tradições clássicas das regiões centrais da Europa e as tradições autóctones (regionais, locais, comunitárias) do norte da Europa, e que foi responsável por gerar algo novo e diferente em toda tradição da cultura ocidental. Em meio aos grupos que haviam migrado das regiões ao norte da Europa existia a tradição da escultura em madeira e fundição de minérios. As esculturas lançavam mão de modelos que incluíam figuras como aves e dragões tramadas e unidas em um feitio só. O resultado desse contexto todo foi a fusão da arte mediterrânea, cristã e germânica. FIGURA 16 - ESCULTURA EM ESTILO VIKING FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/310396599293946414/>. Acesso em: 16 jul. 2016. É comum encontrar exemplares dessa forma de arte expressos em trenós e navios vikings. As peças sugeriam que também eram utilizadas em rituais e magias espirituais, o que por sua vez remontava às formas e expressões artísticas de povos como os Moaris, da Nova Zelândia, e das tribos teutônicas primitivas. Já em meio aos grupos de maior tradição cristã, a arte pré-românica se acentua pela presença de imagens planas, sem texturas e noção tridimensional. TÓPICO 2 | ELEMENTOS DA ARTE E A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA 31 Identifica-se que as técnicas eram restritas, porém, o maior esforço estava em obter a maior expressividade por meio de estudos de contrastes de cores e na capacidade de as obras despertarem emoção e comoção no observador/contemplador. Observe cuidadosamente, desde os pés do santo até o fundo superior, a expressividade que a pintura a seguir, de aproximadamente 830 d.C., apresenta. FIGURA 17 - PINTURA DE SÃO MATEUS FONTE: <https://hum.hse.ru/announcements/145472638.html>. Acesso em: 16 jul. 2016. Em comparação à arte herdada do cristianismo primitivo da época paleocristã, no período pré-românico ocorrem mudanças significativas. Neste momento o cristianismo já era amplamente aceito em meio à população europeia e podia ser praticado sem os adeptos sofrerem danos ou perseguição por isso. Apresentando algumas diferenças de como foi estudado o caso da figura de Jesus Cristo na época paleocristã, agora, em meio à arte pré-românica, é possível identificar que ele foi representado como o grande professor e depositário dos ensinamentos, o maior exemplo da fé cristã. Observe na figura a seguir o afresco ítalo-bizantino. UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 32 FIGURA 18 - CRISTO EM MAJESTADE. MOSTEIRO DE SANT’ANGELO, FORMIS - ITÁLIA FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_europeia_(da_Pr%C3%A9-Hist%C3%B3ria_%C3%A0_ Idade_M%C3%A9dia)#/media/File:Italo-Byzantinischer_Meister_001.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2016. Na imagem acima Jesus Cristo é apresentado como o rei dos reis, numa grandiosidade semelhante à que Zeus e Júpiter haviam desfrutado. Essa imagem seguiu com tamanha força e poder, inquestionável e inabalável, até o final da Idade Média. A ourivesaria e o uso das iluminuras também tiveram relevante destaque nesse período. A ourivesaria, em especial, foi aperfeiçoada com os povos oriundos do norte da Europa e destinou-se a elaborar joias, castiçais, relicários, cruzes, estatuetas, entre outras esculturas da temática religiosa. As iluminuras consistiam em imagens e figuras decorativas que foram incluídas em manuscritos bíblicos e pergaminhos medievais, foram produzidas por monges copistas no interior de mosteiros e abadias e conferiam aspecto decorativo e nobre aos documentos religiosos. TÓPICO 2 | ELEMENTOS DA ARTE E A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA 33 UNI O que é ourivesaria? É a atividade de elaboração de jóias, acessórios e ornamentos a partir de pedras preciosas (ouro, prata, diamante). Trata-se de uma atividade que remonta às sociedades de 2000 anos antes de Cristo, aproximadamente. Ourives é a profissão de quem trabalha com ourivesaria. As iluminuras consistiam em imagens e figuras decorativas que foram incluídas em manuscritos bíblicos e pergaminhos medievais, foram produzidas por monges copistas no interior de mosteiros e abadias e conferiam aspecto decorativo e nobre aos documentos religiosos. FIGURA 19 - ILUMINURAS MEDIEVAIS FONTE: <http://historiadocarmelo.blogspot.com.br/p/iluminuras-carmelitas-madievais.html>. Acesso em: 17 jul. 2016. 4 A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA Pouco se sabe e pouco ainda resta sobre a arte do período histórico que transcorreu entre a queda do Império Romano e o surgimento da Idade Média. As edificações deste período foram muito acometidas pelos processos naturais de erosão e os processos históricos de migrações e guerras. Segundo Gombrich (2012), monges e missionários celtas e saxões foram responsáveis por transpor os padrões e técnicas de sua população (madeira) UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 34 à tradição cristã (pedra), o que por sua vez foi responsável por fazer surgir igrejas e campanários em pedra, o que resultou em edificações em estruturas cuja armação em pedra imitava os modelos feitos em madeira. Era uma arquitetura destinada a consolidar e legitimar o poder da Igreja Católica tanto na esfera temporal terrena como religiosa e espiritual. A igreja, muitas vezes, foi a única edificação em pedra de toda uma comunidade, e o campanário que ela comportava servia de referência aos moradores da comunidade como aos que chegavam de outros lugares. Observe a imagem da planta da Igreja de San Julian de Prados, edificada por volta do século IX. FIGURA 20 - PLANTA BAIXA DA IGREJA DE SÃO JOÃO DE PRADOS FONTE: <http://es.slideshare.net/MusaClio1985/tema-4-el-arte-asturiano>. Acesso em: 7 ago. 2016. Agora observe a imagem externa da planta edificada. TÓPICO 2 | ELEMENTOS DA ARTE E A ARQUITETURA PRÉ-ROMÂNICA 35 FIGURA 21 - IGREJA DE SAN JULIÁN DE PRADOS - ESPANHA FONTE: <http://listas.20minutos.es/lista/lo-mejor-de-oviedo-285836/>. Acesso em: 16 jul. 2016. O plano fundamental das igrejas e mosteiros do estilo pré-românico remonta às primeiras igrejas e basílicas que os primeiros cristãos romanos haviam edificado, cuja estrutura era a de uma nave central, um coro e duas ou quatro naves colaterais; o que por sua vez lhes conferia um aspecto mais rústico, nãodispunham de muitas ou amplas aberturas, a passagem de luz natural era pouco aproveitada; aos poucos os arquitetos ousaram e incluíram uma galeria transversal, denominada de transepto, o que atribuiu os primeiros sinais de diferenciação nas edificações; a edificação das igrejas demandava muitos anos de trabalho. DICAS OS CANTOS GREGORIANOS As igrejas e mosteiros, por meio de sua edificação e arquitetura, favoreciam que o interior se tornasse um espaço de acústica privilegiada. No interior de igrejas e mosteiros, além das celebrações religiosas e das atividades dos monges copistas, desenvolveu-se a arte musical do canto gregoriano, caracterizado por ser em voz monofônica, ou seja, em uma só melodia. A origem destes cantos remonta à declamação de salmos judaicos, e ao longo da Idade Média foram utilizados em meio à liturgia católica romana. Estudos mais atuais defendem que a frequência e ressonância alcançada por esta modalidade de canto possui propriedades medicinais. Para se apropriar desta forma de canto e música, acesse a sugestão feita a seguir. Vozes da tranquilidade (Voices of Tranquility). Coro Gregoriano da Abadia de Grimbergen, Bélgica, conduzido por Geroen van Boesschoten. FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=D6Y2e4CXg8s>. Acesso em: 17 jul. 2016. 36 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, vimos que: • O período pré-românico diz respeito aos primeiros séculos da Idade Média, que foram marcados por baixa concentração da população nos espaços urbanos, que em contrapartida buscava cada vez mais se ruralizar. • Foi uma época marcada com fortes movimentos de migração que partiam do norte da Europa e rumavam às regiões centrais, nas quais formam-se reinos que depois originaram os países como a França, a Inglaterra, Espanha, Portugal, Holanda, entre outros. • As estruturas edificadas que ainda subsistiam dos antigos moldes romanos foram utilizadas para base de proteção e fortificação diante das ameaças de invasões, saques e pilhagens que poderiam ocorrer com a chegada dos povos do norte da Europa. • As artes e a arquitetura deste período, além de atender às necessidades religiosas, foram responsáveis por reunir elementos tanto da tradição romana quanto dos grupos chamados bárbaros, o que por sua vez permitiu a implementação de técnicas que combinavam materiais como a pedra e a madeira. • Na arquitetura da época pré-românica se destacaram as edificações de igrejas, basílicas, mosteiros, campanários, que receberam decorações em seus interiores com pinturas que apresentavam a figura de Jesus Cristo em destaque. 37 1 Os povos bárbaros, que migravam das regiões do norte às regiões centrais da Europa, são indicados como um dos fatores responsáveis no processo de desagregação do Império Romano do Ocidente e de origem da Idade Média. Com relação aos povos bárbaros é correto afirmar que: I - Foi por volta dos séculos IV e V que estes povos iniciaram os processos de migração e transferências dos reinos. II - A expressão “bárbaros” foi utilizada pelos romanos para designar as populações que habitavam as regiões além da fronteira do Império Romano e aos que não falavam latim. III- São exemplos de povos bárbaros os visigodos, vândalos, suevos, ostrogodos, francos, burgúndios e anglo-saxões. IV- Os povos bárbaros apresentavam governos centralizados e grandes estruturas militares e com isso conseguiram dominar os povos romanos. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças I e III estão corretas. c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas. 2 Construa um texto explicando como se encontrava distribuída a população e as principais atividades econômicas da época pré-românica: AUTOATIVIDADE 38 39 TÓPICO 3 ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA ROMÂNICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Segundo Cole (2013), a arte e arquitetura românica, ou romanesca, como também é chamada, é oriunda do estilo paleocristão e pré-românico e, quando consolidada, proporcionou as condições favoráveis para que a arte e arquitetura gótica a sucedesse. Gombrich (2012), quando analisa os diferentes estilos artísticos que prevaleceram ao longo da sociedade, explica que os egípcios foram responsáveis por expressar e representar o que sabiam que existia, os gregos eram capazes de ver, já os medievos expressavam o que sentiam. Logo, interpreta-se que estava longe dos artistas e arquitetos ousarem em fazer obras semelhantes ou que imitavam a natureza, que fossem harmônicas e belas; antes, queriam evidenciar elementos do poderio da Igreja, a fé e o universo sagrado religioso, portanto, nas obras deste período nada deveria desviar a atenção, sugerir dúvidas, especulações e confundir a mensagem religiosa que desejam transmitir. Foi a partir do século VII que a arquitetura românica passou a se configurar como um modelo e estilo hegemônico. A abordagem dessa arte já não se identificava com o estilo greco-romano da antiguidade, mas não é possível dizer que não devesse nada a essa, entende-se que a arte desse período trilha uma espécie de síntese e continuidade. O estilo românico ficou expresso na arquitetura, na tapeçaria, na escultura, na pintura, em iluminuras, mas nem todos os registros ultrapassaram as provas de resistência do tempo e das circunstâncias históricas, muitas destas obras não existem mais fisicamente, mas mesmo diante da escassez de fontes e referências é possível compreender no que consistia este estilo artístico e arquitetônico. 40 UNIDADE 1 | PRINCIPAIS ELEMENTOS DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO DO ESTILO PALEOCRISTÃO, BIZANTINO, PRÉ-ROMÂNICO E ROMÂNICO 3 A CIDADE MEDIEVAL MURADA As cidades muradas/muralhas representavam soluções diante dos possíveis ataques súbitos feitos por estrangeiros. Registravam-se edificações de muralhas até ao redor de mosteiros e conventos. As muralhas destinavam- se a salvaguardar uma determinada edificação religiosa ou de algum grande proprietário de terras. As muralhas que a cidade do Porto recebeu em diferentes momentos da história, por exemplo, nos séculos III, IV, IX e XII, a linha escura no interior da demarcação da grande muralha de porta e postigos, diz respeito aos espaços murados ainda antes do século XIV. Observe a figura a seguir: 2 O CONTEXTO HISTÓRICO O momento de solidez e ampla aceitação do estilo românico é identificado entre os séculos VII e XI. Mumford (2008) descreve que nesse período a vida desceu a um nível de subsistência; por nada mais que a segurança do corpo, o homem dava-se por satisfeito e colocava-se sob a proteção de algum senhor feudal. O estilo de arte e arquitetura românico pôde se desenvolver quando já instalado um estado ideal de condições no cenário político, econômico e social, ou seja, quando as ondas de migração haviam se estabilizado, a ocupação das terras já rendia grandes safras de alimentos, a vida urbana estava sendo retomada, e a devoção religiosa encontrava-se em alta. Benevolo (2005) explica que a partir do século X já era perceptível o aumento da população, a estabilidade e a integração entre os grupos invasores, como os vikings, os húngaros e os árabes; os ganhos em termos de produtividade com a invenção de técnicas agrícolas, como a rotação trienal, o sistema de tração animal, ampliação do número de moinhos espalhados pela Europa e melhoria de navegação em torno do Mediterrâneo. TÓPICO 3 | ELEMENTOS DA ARTE E ARQUITETURA ROMÂNICA 41 FIGURA 22 - PORTAS E POSTIGOS DA MURALHA DO PORTO NO SÉCULO XIV FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Muralhas_fernandinas_do_Porto#/media/File:Muralhas_ Fernandinas.svg>. Acesso em: 4 ago. 2016. LEGENDA: 1. Porta Nova ou Nobre (inicialmente de Miragaia); 2. Postigo dos Banhos; 3. Postigo da Lingueta; 4. Postigo da Alfândega ou do Terreirinho; 5. Postigo do Carvão (o único ainda existente); 6. Porta da Ribeira; 7. Postigo do Pelourinho; 8. Postigo da Forca; 9. Postigo da Madeira;
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