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CAPÍTULO 2 CURSO FREDIE DIDIER - PRINCIPIOS E NORMAS FUNDAMENTAIS

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CAPÍTULO 1 – NORMAS FUNDAMENTAIS PROCESSUAIS
CAPÍTULO QUE TRATA SOBRE ALGUMAS NORMAS FUNDAMENTAIS. OBS: NÃO É DE ROL TAXATIVO.
A eficácia vertical das normas relativas aos direitos fundamentais dirige-se à regulação da relação do Estado com o indivíduo. A eficácia horizontal dos direitos fundamentais é entre os indivíduos privados.
É sempre bom lembrar a lição de Canaris de que os princípios não têm pretensão de exclusividade: um mesmo efeito jurídico (proporcionalidade e razoabilidade) pode ser resultado de diversos princípios (isonomia ou devido processo legal).
Há um conjunto de normas processuais que formam o que se pode chamar de Direito Processual Fundamental ou Direito Processual Geral. As normas processuais podem ser fundamentais sob uma perspectiva formal, material ou formal/material .
Essas normas processuais ora são princípios (como o devido processo legal), ora são regras (como a proibição do uso de provas ilícitas), ora são postulados (como a razoabilidade e a proporcionalidade). O Direito Processual Fundamental não é composto somente por princípios, é bom que isso fique claro.
 A observação é importante. A distinção entre regras e princípios tem grande importância prática. São normas com estruturas distintas e formas de aplicação próprias, orientadas por padrões de "argumentação específicos, que favorecem o estabelecimento de ônus argumentativos diferentes e impactam diretamente na definição daquilo que deve ser exigido de forma definitiva", por meio da solução jurisdicional.
Há normas fundamentais do processo civil que são, também, direitos fundamentais - encontram-se no art. S º da CF /1988. Há, no entanto, normas fundamentais do processo civil que não possuem o status de norma de direito fundamental, como é o caso das regras decorrentes dos arts. 2º e 12, CPC. As normas processuais fundamentais são multifuncionais, reunindo, essencialmente, cinco funções: estruturante, definitória, integrativa, interpretativa e bloqueadora6 
 Essas funções serão verificadas ao longo do Curso, quando demonstrados exemplos de aplicação concreta das normas fundamentais. Este capítulo do Curso dedica-se ao estudo das normas fundamentais do processo civil, sejam elas extraídas da Constituição Federal, sejam elas extraídas do Código de Processo Civil.
Algumas dessas normas, porém, não serão examinadas neste capítulo; optei por examiná-las em capítulos outros, que com elas mais proximamente se relacionem. Fiz isso com os princípios da inafastabilidade da jurisdição e do juiz natural (capítulo sobre jurisdição, neste volume do Curso), do estímulo da solução do litígio por autocomposição (capítulo sobre mediação e conciliação, neste volume do Curso) e com as regras fundamentais da motivação da decisão judicial (capítulo sobre decisão judicial, no v. 2 deste Curso) e da proibição de prova ilícita (capítulo sobre prova, no v. 2 deste Curso).
PRINCÍPIOS
· ​PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ --> artigo 132 do CPC/1973 consagrava o princípio da identidade física do juiz (“O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor”). O CPC de 2015, por sua vez, não prevê a regra da identidade física do juiz.
· PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL --> se refere à existência de juízo adequado para o julgamento de determinada demanda, conforme as regras de fixação de competência, e à proibição de juízos extraordinários ou tribunais de exceção constituídos após os fatos.
Princípio do devido processo legal
Art. 5º, LIV, da Constituição Federal. 
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
EXCEÇÃO: TUTELA DE URGÊNCIA COMPROVADA, TUTELA DE EVIDÊNCIA.
É preciso observar o contraditório e a ampla defesa (art. S º, LV, CF /1988) e dar tratamento paritário às partes do processo ( art. S º, I, CF /1988); proíbem-se provas ilícitas (art. S º, LVI, CF /1988); o processo há de ser público ( art. S º, LX, CF /1988); garante-se o juiz natural ( art. S º, XXXVII e LIII, CF/1988); as decisões hão de ser motivadas (art. 93, IX, CF/1988); o processo deve ter uma duração razoável (art. S º, LXXVIII, CF /1988); o acesso à justiça é garantido ( art. S º, XXXV, CF /1988) etc. Todas essas normas (princípios e regras) são concretizações do devido processo legal e compõem o seu conteúdo mínimo.
O princípio do devido processo legal tem a "função de criar os elementos necessários à promoção do ideal de protetividade" dos direitos, integrando o sistema jurídico eventualmente lacunoso. Trata-se da função integrativa dos princípios, examinada no capítulo introdutório deste volume do Curso. Desse princípio constitucional extraem-se, então, outras normas (princípios e regras), além de direitos fundamentais ainda sem o respectivo texto constitucional. Assim, além de público, paritário, tempestivo etc., adjetivos que correspondem às normas constitucionais expressamente consagradas (citadas acima), o processo, para ser devido, há de ter outros atributos. Um processo, para ser devido, precisa ser adequado, leal e efetivo.
Devido processo legal formal e devido processo legal substancial
O devido processo legal é direito fundamental que pode ser compreendido em duas dimensões. Há o devido processo legal formal ou procedimental, cujo conteúdo é composto pelas garantias processuais que vimos no item precedente: direito ao contraditório, ao juiz natural, a um processo com duração razoável etc. Trata-se da dimensão mais conhecida do devido processo legal. SUBSTANCIAL: LIMITAÇÃO DO PODER ESTATAL PARA NÃO EDITAR NORMAS QUE OFENDAM A RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. deve ser entendido como princípio de garantia da liberdade em geral contra as arbitrariedades do Estado, que proíbe que se prejudiquem determinados direitos fundamentais, a não ser por uma justificativa suficiente". Neste sentido, cumpre o devido processo substantivo a "função de reconhecer e proteger direitos fundamentais implícitos como parte da liberdade assegurada pela disposição do devido processo legal
A experiência jurídica brasileira assimilou a dimensão substancial do devido processo legal de um modo bem peculiar, considerando-lhe o fundamento constitucional das máximas da proporcionalidade e da razoabilidade. "Essa semelhança entre proporcionalidade e devido processo legal substancial é, a nosso ver, muito interessante para a nossa análise, por vários motivos: a) como adiantado acima, ajuda a esclarecer o conteúdo do devido processo legal substancial, que, abstratamente considerado, é vago e impreciso; b) ajuda a desfazer a ideia equivocada de que a acepção substancial do due process of law não seria aplicável em países do sistema romano-germânico, com menor liberdade para o julgador do que os do tipo judge makes law ... ; c) reforça a ideia de equilíbrio que permeia todo o processo civil, como no clássico dilema entre celeridade e segurança"
Sérgio Mattos demonstra que a concretização do devido processo legal substancial pela jurisprudência do STF é bem ampla e vaga: "segundo a jurisprudência do STF, devido processo substantivo pode significar desde a proibição de 'leis que se apresentem de tal forma aberrantes da razão', passando pela exigência 'de que as leis devem ser elaboradas com justiça, devem ser dotadas de razoabilidade ('reasonableness') e de racionalidade ('rationality'), devem guardar, segundo W. Holmes, um real e substancial nexo com o objetivo que se quer atingir', até a necessidade de 'perquirir-se ( ... ) se, em face do conflito entre dois bens constitucionais contrapostos, o ato impugnado afigura-se adequado (isto é, apto a produzir o resultado desejado), necessário (isto é, insubstituível por outro meio menos gravoso e igualmente eficaz) e proporcional em sentido estrito ( ou seja, se estabelece uma relação ponderada entre o grau de restrição de um princípio e o grau de realização do princípio contraposto ) ". É certo que há outros enunciados normativos constitucionaisdos quais podem ser extraídas a proporcionalidade e a razoabilidade: Estado de Direito, isonomia ou liberdade. É possível, inclusive, que seja mais fácil defender a existência dessas normas constitucionais a partir do desenvolvimento desses princípios mencionados. As constituições brasileiras anteriores a 1988 não continham texto normativo sobre o devido processo legal, nem por isso deixaram de ser aplicadas a proporcionalidade e a razoabilidade.
Considerar o devido processo legal como fundamento dos deveres de proporcionalidade ou razoabilidade não significa dizer que esses deveres apenas se aplicam ao âmbito processual jurisdicional. Como já se disse, o devido processo legal é princípio que se aplica em qualquer produção normativa, inclusive no processo de produção dos negócios jurídicos
o princípio do devido processo legal - direito fundamental previsto na Constituição Brasileira - aplica-se também ao âmbito privado, seja na fase pré-negocial, seja na fase executiva do negócio jurídico.
A Lei n. 11.12 7 /2005 ratificou este entendimento, quando determinou a alteração do art. 5 7 do Código Civil, relacionado ao procedimento para exclusão de associado, que passou a ter a seguinte redação: "A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto".
Assim, também não é lícito, no âmbito das relações privadas, restringir qualquer direito sem a observância do devido processo legal. ESTUDAR: eficácia horizontal dos direitos fundamentais
Princípio da dignidade da pessoa humana
A dignidade da pessoa humana pode ser considerada como sobre princípio constitucional, do qual todos os princípios e regras relativas aos direitos fundamentais seriam derivação, ainda que com intensidade variável. A dignidade da pessoa humana pode ser considerada um direito fundamental de conteúdo complexo, formado pelo conjunto de todos os direitos fundamentais, previstos ou não no texto constitucional.
O órgão julgador presenta o Estado e, nessa circunstância, deve "resguardar" a dignidade da pessoa humana; resguardar, nesse contexto, é, de um lado, aplicar corretamente a norma jurídica "proteção da dignidade da pessoa humana" e, de outro, não violar a dignidade (por exemplo, na condução do depoimento da parte). O órgão julgador também deve "promover" a dignidade da pessoa humana. Há, no verbo promover, a exigência de um comportamento mais ativo do magistrado. Isso significa que, em algumas situações, o juiz poderá tornar, até mesmo de ofício, medidas para efetivar a dignidade da pessoa humana, além de poder valer-se da cláusula geral de atipicidade (art. 536, § 1 º) para a execução do direito fundamental à dignidade. Dois exemplos: a) exigência de respeito à ordem cronológica de conclusão (art. 12); no caso de grave violação à dignidade da pessoa humana, que não se encaixe em um dos incisos que excepcionaram a regra de observância da cronologia da conclusão; poderia o juiz "furar a fila", para promover a dignidade da pessoa humana; b) prioridade na tramitação processual; pessoa com doença grave, mas que não esteja no rol do art. 1.048, I; para promover a dignidade de pessoa humana, o juiz poderia determinar o processamento prioritário.
A norma, porém, não é de fácil aplicação: 
a) o âmbito de incidência do princípio da dignidade da pessoa humana é ainda muito impreciso;
b) essa "promoção judicial da dignidade da pessoa humana" exige fundamentação específica e relevante (art. 489, § 1º, I e II, CPC), pois há clara interferência do juiz no processo;
c) o CPC prestigia a autonomia da vontade das partes (art. 190); assim, essa promoção judicial da dignidade da pessoa humana tem como um dos seus limites a liberdade processual das partes, a quem se permite, preenchidos os pressupostos do exercício do poder de autorregramento processual, não aceitar este comportamento mais ativo do órgão julgador; isso porque uma das mais importantes dimensões da dignidade da pessoa humana é, exatamente, a liberdade, como poder de regular a própria existência.
 Essas diretrizes são, no entanto, meramente exemplificativas - o desenvolvimento da aplicação do art. 8º do CPC certamente revelará outras condicionantes que devem ser observadas pelo órgão julgador para "promover" a dignidade da pessoa humana no processo.
Há, ainda, outra questão: como distinguir a dignidade da pessoa humana, no processo, do devido processo legal? O devido processo legal é um direito fundamental cujo conteúdo é complexo e vem sendo construído nos últimos dez séculos. Desde 1.037, com o Decreto Feudal de Conrado II, inúmeras garantias processuais vêm sendo reunidas para dar à pessoa que é parte de um processo um tratamento digno - o tema será visto mais à frente. Essas garantias se articulam dentro de uma mesma rubrica: o devido processo legal. Bem pensadas as coisas, o devido processo legal é o rótulo que se deu à exigência de que um processo confira tratamento digno às pessoas. Dar um tratamento processual digno é garantir o contraditório, a produção de provas, o direito ao recurso, o juiz imparcial, a proibição de prova ilícita, a exigência de motivação, a lealdade processual, a publicidade etc. Enfim, a dignidade da pessoa humana, no processo, é o devido processo legal. A dignidade da pessoa humana, assim, ilumina o devido processo legal.
Eis alguns bons exemplos: direito da pessoa com deficiência auditiva de comunicar-se, em audiências, por meio da Língua Brasileira de Sinais (art. 162, III); consagração da atipicidade da negociação processual (art. 190, CPC); direito das pessoas com deficiência à acessibilidade aos meios eletrônicos de comunicação processual (art. 199, CPC); direito ao silêncio no processo civil (art. 388, CPC); proibição de pergunta vexatória à testemunha (art. 459, § 2º); humanização do processo de interdição (arts. 751, § 3º, 755, II)46; impenhorabilidade de certos bens (art. 833, CPC); tramitação prioritária de processos de pessoas idosas ou com doenças graves (art. 1.048, CPC). Observe que todas essas regras poderiam tranquilamente ser deduzidas do princípio do devido processo legal.
Finalmente, embora seja comum relacionar a dignidade da pessoa à pessoa natural ("pessoa humana", nos termos da Constituição Federal), no processo civil ela deve ser estendida a todo aquele que pode ser parte, ainda que com nível de intensidade diferente: além das pessoas naturais, as pessoas jurídicas, condomínios, nascituro, órgãos públicos etc. É preciso garantir a qualquer parte um tratamento digno.
Princípio da legalidade
O art. 8º do CPC impõe ao juiz o dever de observar o princípio da legalidade. O princípio da legalidade pode funcionar como uma norma processual ou como uma norma de decisão. Como norma processual, observá-lo nada mais é do que aplicar o devido processo legal, em sua dimensão formal. Não existe uma dimensão processual do princípio da legalidade que se distinga da dimensão formal do devido processo legal. Como norma material, o princípio da legalidade impõe que o juiz decida os casos em conformidade com o Direito. A referência à "legalidade" é metonímica: observar a dimensão material do princípio da legalidade é decidir em conformidade com o Direito, com o ordenamento jurídico, e não apenas com base na lei, que é apenas uma de suas fontes. O Direito não é apenas o legal (a Constituição, os atos administrativos, os precedentes judiciais e a própria jurisprudência são fontes do Direito), não é apenas o escrito (há normas implícitas, que não decorrem de textos normativos, assim como há o costume), nem é apenas o estatal (um negócio jurídico também é fonte do Direito).
 Consiste a dimensão material do princípio da legalidade: o juiz deve decidir em conformidade com o Direito, qualquer que seja a sua fonte
O dever de observar o princípio da legalidade também não significa que a interpretação dos textos normativos deva ser literal. A interpretação literal é o primeiro passo na tarefa hermenêutica, mas muitas vezes é insuficiente.O próprio art. 8 º impõe a interpretação teleológica e a observância da proporcionalidade e da razoabilidade. Além disso, há normas jurídicas sem texto que as preveja expressamente, como, por exemplo, o princípio da segurança jurídica. Convém repetir: observar o princípio da legalidade não é decidir com base em texto de lei interpretado literalmente; observar a legalidade é decidir em conformidade com o Direito, compreendido como conjunto de normas jurídicas positivadas em um dado ordenamento. O que se busca proibir é a decisão lastreada em Direito natural ou em Direito criado isoladamente pelo juiz - posição extremada da concepção conhecida como Direito alternativo. O dever de observar a legalidade deve ser compatibilizado com o dever de o órgão julgador fazer o controle de constitucionalidade da lei: ao não aplicar uma lei inconstitucional, estará observando a Constituição e, assim, decidindo em conformidade com o Direito.
Princípio do contraditório
Generalidades e a regra da proibição de decisão-surpresa
O processo é um procedimento estruturado em contraditório. Aplica-se o princípio do contraditório, derivado que é do devido processo legal, nos âmbitos jurisdicional, administrativo e negocial (não obstante a literalidade do texto constitucional). A Constituição Federal prevê o contraditório no inciso LV do art. S º: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes".
O princípio do contraditório pode ser decomposto em duas garantias: participação (audiência, comunicação, ciência) e possibilidade de influência na decisão. A garantia da participação é a dimensão formal do princípio do contraditório. Trata-se da garantia de ser ouvido, de participar do processo, de ser comunicado, poder falar no processo. Esse é o conteúdo mínimo do princípio do contraditório e concretiza a visão tradicional a respeito do tema. De acordo com esse pensamento, o órgão jurisdicional dá cumprimento à garantia do contraditório simplesmente ao dar ensejo à ouvida da parte.
Há, porém, ainda, a dimensão substancial do princípio do contraditório. Trata-se do "poder de influência". Não adianta permitir que a parte simplesmente participe do processo. Apenas isso não é o suficiente para que se efetive o princípio do contraditório. É necessário que se permita que ela seja ouvida, é claro, mas em condições de poder influenciar a decisão do órgão jurisdicional. Se não for conferida a possibilidade de a parte influenciar a decisão do órgão jurisdicional - e isso é o poder de influência, de interferir com argumentos, ideias, alegando fatos, a garantia do contraditório estará ferida. É fundamental perceber isso: o contraditório não se efetiva apenas com a ouvida da parte; exige-se a participação com a possibilidade, conferida à parte, de influenciar no conteúdo da decisão. 
Essa dimensão substancial do contraditório impede a prolação de decisão surpresa; toda questão submetida a julgamento deve passar antes pelo contraditório. Isso porque o "Estado democrático não se compraz com a ideia de atos repentinos, inesperados, de qualquer dos seus órgãos, mormente daqueles destinados à aplicação do Direito. A efetiva participação dos sujeitos processuais é medida que consagra o princípio democrático, cujos fundamentos são vetores hermenêuticos para aplicação das normas jurídicas".
Não é lícita a aplicação de qualquer punição processual, sem que se dê oportunidade de o "possível punido" manifestar-se previamente, de modo a que seja possível, de alguma forma, influenciar no resultado da decisão. Mais condizente com a essa visão do princípio do contraditório é o art. 772, II, do CPC, que impõe ao juiz que, em qualquer momento da fase executiva, advirta o executado que o seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça. Ora, antes de punir, adverte sobre o comportamento aparentemente temerário, para que a parte possa explicar-se.
Também deve ser assim a aplicação da multa do art. 77, § 2º, CPC. Deverá o magistrado, ao expedir a ordem ou o mandado para cumprimento da diligência, providenciar advertir esses sujeitos (partes ou terceiros) de que o seu comportamento recalcitrante poderá resultar na aplicação da mencionada multa. Sem essa comunicação/advertência prévia, a multa porventura aplicada é inválida, por desrespeito ao princípio do contraditório. O responsável precisa saber das possíveis consequências de sua conduta, até mesmo para demonstrar ao magistrado as razões pelas quais não cumpriu a ordem, ou não a fez cumprir, ou até mesmo para demonstrar que a cumpriu ou não criou qualquer obstáculo para o seu cumprimento. Afinal, o contraditório se perfaz com a informação e o oferecimento de oportunidade para influenciar no conteúdo da decisão; participação e poder de influência são as palavras-chave para a compreensão desse princípio constitucional. Esse dever de advertência foi expressamente consagrado no§ 1 º do art. 77 do CPC.
Fundamental o direito a ser acompanhado por um advogado. O acompanhamento técnico é importantíssimo, ao menos como regra para a efetivação do direito ao contraditório. Compõe, por isso mesmo, o conteúdo mínimo do princípio do devido processo legal.
O juiz pode basear-se em fato que não foi alegado pelas partes. O art. 493 do CPC determina que "se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao órgão jurisdicional torná-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão." O juiz pode, portanto, levar em consideração ex officio fato superveniente relevante para a solução da causa. Sucede que, para observar o contraditório, deve antes ouvir as partes sobre esse fato - é, aliás, o que determina o par. ún. desse mesmo art. 493. Esse dispositivo concretiza a regra geral prevista no art. 10 do CPC, também ela consagradora do princípio do contraditório: "O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício". O dever é reforçado pelo art. 933, CPC, que disciplina o processo em tribunais. Há questões fáticas que podem ser apreciadas pelo magistrado ex o_fficio. O juiz pode conhecer de fatos que não tenham sido alegados. Ele pode trazer, ele pode aportar fatos ao processo. Mas o órgão jurisdicional não pode levar em consideração um fato de ofício, sem que as partes tenham tido a oportunidade de se manifestarem a respeito.
Imagine a seguinte situação: A e B estão litigando, cada um argumenta o que quis e o juiz, no momento da sentença, baseia-se em um fato que não foi alegado pelas partes, não foi discutido por elas, mas está provado nos autos. O juiz não pode fazer isso sem submeter esse fato ao prévio debate entre as partes. Isso feriria, escancaradarnente, o contraditório. A decisão formar-se-ia com base em questão de fato sobre a qual as partes não falaram, e, portanto, basear-se-ia em questão a respeito da qual as partes não puderam ter exercitado o "poder de influência", não puderam dizer se o fato aconteceu ou não aconteceu, ou aconteceu daquela ou de outra forma. Não pode o órgão jurisdicional decidir com base em um argumento, uma questão jurídica ou uma questão de fato não postos pelas partes no processo. O órgão jurisdicional teria de, nessas circunstâncias, intimar as partes para manifestar-se a respeito ("intimem-se as partes para que se manifestem sobre a constitucionalidade da lei"). Não há aí qualquer prejulgamento. Trata-se de exercício democrático e cooperativo do poder jurisdicional, até mesmo porque o juiz pode estar em dúvida sobre o tema. Assim, evita-se a prolação de uma decisão-surpresa. Decisão-surpresa é decisão nula, por violação ao princípio do contraditório.
Há um velho brocardo iura novit curia (do Direito cuida a corte). Há, ainda, outro da mihi factum dabo tibi ius ( dá-meos fatos, que eu te darei o direito).
Há, porém, situações excepcionais, em que se admite a decisão sem a ouvida da parte contrária (inaudita altera parte). O par. ún. do art. 9º traz alguns exemplos: decisão que concede tutela provisória liminar de urgência (art. 300, § 2º, CPC), decisão que concede tutela provisória liminar de evidência ( arts. 311, II e III, CPC) e a decisão que determina a expedição do mandado monitório, na ação monitória (art. 701, CPC), que também é exemplo de tutela provisória da evidência. Embora não conste do rol do par. ún. do art. 9º, também é exemplo de decisão liminar aquela prevista no art. 562 do CPC, que autoriza a expedição tutela antecipada possessória, que também é de evidência, assim como a tutela provisória no processo de despejo (art. 59, § 1 º, Lei 8.245/1991) e a tutela provisória no mandado de segurança (art. 7º, III, Lei n. 12.016/2009). O rol, como se vê, não é exaustivo. Não há violação da garantia do contraditório na concessão, justificada pelo perigo, de tutela provisória liminar. Isso porque há uma ponderação legislativa entre a efetividade e o contraditório, preservando-se o contraditório para momento posterior. O contraditório, neste caso, é postecipado para momento seguinte ao da concessão da providência de urgência. Como a decisão é provisória, o prejuízo para o réu fica aliviado. Nos casos de tutela provisória liminar de evidência, embora não haja perigo, a alta probabilidade de êxito da demanda é reconhecida como apta a mitigar o contraditório, postecipando-o da mesma maneira.
Dever de o juiz zelar pelo efetivo contraditório
Mal aplicada, a regra pode levar a situações que descambem para arbitrariedades e, no limite, para o reconhecimento da quebra da imparcialidade do juiz. É preciso ter muito cuidado. A norma deve restringir-se a permitir adequações do processo feitas pelo juiz, em situações excepcionais, para reequilibrar o contraditório. A norma não permite que o juiz interfira no conteúdo das postulações, desconsidere a revelia decorrente de citação válida, determinando nova citação, ou que controle a vontade das partes manifestada validamente no processo.
Há um interessante dispositivo que serve para a concretização deste dever: o inciso VI do art. 139, primeira parte, confere ao juiz o poder de "dilatar os prazos processuais" - dispositivo semelhante se encontra no art. 775, § 2º, CLT. A dilação dos prazos processuais é urna das principais técnicas para reequilibrar o contraditório. Imagine-se o caso de o réu ter anexado à contestação dez mil documentos, além de ter reconvindo; os quinze dias previstos para o autor manifestar-se sobre tudo isso são, no caso, claramente insuficientes para um contraditório efetivo. Ao permitir que se amplie o prazo processual, o inciso VI do art. 139 confere ao juiz um poder para cumprir o dever que lhe foi cometido pela parte final do art. 7º.
Um exemplo. A designação de curador especial é urna técnica de equilibrar o contraditório em favor daqueles considerados pela lei corno em situação de vulnerabilidade processual. É possível que, em situações atípicas de vulnerabilidade processual, o juiz designe um curador especial à parte, fora das hipóteses do art. 72, corno forma de zelar pelo efetivo contraditório. Basta pensar na hipótese de o advogado não comparecer à audiência de instrução, em que serão ouvidas as partes e algumas testemunhas; para não prejudicar o equilíbrio do contraditório, o juiz poderá determinar que um defensor público, presente no fórum, atue corno curador especial naquela audiência.
É possível admitir intervenção de terceiro por determinação judicial atípica (intervenção iussu iudicis atípica) como técnica de zelar pelo contraditório.
Princípio da ampla defesa
A ampla defesa corresponde ao aspecto substancial do princípio do contraditório.
Contraditório e ampla defesa formam um belo e conhecido par. Não por acaso, estão previstos no mesmo dispositivo constitucional (art. 5º, LV, CF /1988). Tradicionalmente, a doutrina distinguia ambas as garantias, embora reconhecesse que entre elas havia forte conexão. Bem ilustrativo desta concepção é o entendimento de Delosmar Mendonça Jr.: " ... são figuras conexas, sendo que a ampla defesa qualifica o contraditório. Não há contraditório sem defesa. Igualmente é lícito dizer que não há defesa sem contraditório. ( ... ) O contraditório é o instrumento de atuação do direito de defesa, ou seja, esta se realiza através do contraditório"
Princípio da publicidade
VIDE RESOLUÇÃO DO CNJ Nº 0001776-16.2010.2.00.0000 https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=92
art. 5 º, XXXIII e XXXIV, b da Constituição, inciso I, § 4º, art. 103-8. art. 93, XI
Processo devido é processo público. O direito fundamental à publicidade dos atos processuais está garantido pelo art. 5º, LX, CF /1988. Os arts. 8º e 11 do CPC reafirmam essa exigência. Como afirmou o juiz americano Louis Brandeis, "A luz do sol é o melhor dos detergentes; a luz elétrica é o melhor policial".
Os atos processuais hão de ser públicos. O princípio da publicidade gera o direito fundamental à publicidade. Trata-se de direito fundamental que tem, basicamente, duas funções: a) proteger as partes contra juízos arbitrários e secretos ( e, nesse sentido, é conteúdo do devido processo legal, como instrumento a favor da imparcialidade e independência do órgão jurisdicional); b) permitir o controle da opinião pública sobre os serviços da justiça, principalmente sobre o exercício da atividade jurisdicional.
 Essas duas funções revelam que a publicidade processual tem duas dimensões: a) interna: publicidade para as partes, bem ampla, em razão do direito fundamental ao processo devido; b) externa: publicidade para os terceiros, que pode ser restringida em alguns casos, como se verá.
 A Constituição Federal estabelece possibilidade de restrição (mas não eliminação) da publicidade externa: "a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem" (art. S º, LX, CF /1988).
O CPC repete a exigência no art. 189. O art. 189 determina que alguns processos devem tramitar em segredo de justiça: I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. O art. 189 do CPC é regra que dá densidade normativa ao princípio da publicidade. O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores. O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante de divórcio ou separação (art. 189, § 2 º, CPC). Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público, nas audiências ou sessões de julgamento ( art. 11, par. ún., CPC).
A Emenda Constitucional n. 45/2004 ratificou a exigência da publicidade de todos os atos provenientes dos órgãos do Poder Judiciário. Os incisos IX e X do art. 93 da CF /1988 passaram a ter a seguinte redação: "IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros".
A arbitragem que envolveentes públicos, porém, não pode ser sigilosa (art. 2º, § 3º, da Lei n. 9.307 /1996).
O art. 190 do CPC autoriza a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos. Não se admite, porém, o pacto de sigilo processual, um "segredo da justiça" de origem negocial. Caso desejem o processo sigiloso, as partes devem encaminhar-se para a arbitragem
Há uma íntima relação entre o princípio da publicidade e a regra da motivação das decisões judiciais. a publicidade torna efetiva a participação no controle dessas mesmas decisões. A publicidade é instrumento de eficácia da garantia da motivação. 
Em um sistema de precedentes obrigatórios, como o brasileiro, a publicidade ganha contornos ainda mais peculiares e importantes. Todo processo passa a ser de interesse de várias pessoas, pois dele pode resultar um precedente aplicável a casos atuais e futuros. É por isso que o § 5 º do art. 927 impõe aos tribunais o dever de dar publicidade aos seus precedentes.
CPC determinou (art. 979, §§ 1 º, 2º, e 3º): "§ 1 º Os tribunais manterão banco eletrônico de dados atualizados com informações específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente, comunicando-o imediatamente ao Conselho Nacional de Justiça para inclusão no cadastro. § 2º Para possibilitar a identificação dos processos abrangidos pela decisão do incidente, o registro eletrônico das teses jurídicas constantes do cadastro conterá, no mínimo, os fundamentos determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados. § 3º Aplica-se o disposto neste artigo ao julgamento de recursos repetitivos e da repercussão geral em recurso extraordinário". O Conselho Nacional de Justiça regulamentou esse dispositivo na Resolução n. 235/2016.
Princípio da duração razoável do processo
A Convenção Americana de Direitos Humanos, Pacto de São José da Costa Rica, no art. 8, 1, prevê: "Toda pessoa tem o direito a ser ouvida com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem os seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza:'
Estávamos, pois, diante de norma constitucional, que impunha a decisão judicial em prazo razoável. Concluía-se, portanto, que, também em nosso país, o direito ao processo sem dilações indevidas, como corolário do devido processo legal, vinha expressamente assegurado ao membro da comunhão social por norma de aplicação imediata (art. S º, § 1 º, CF /1988).65 Decorreria esse direito fundamental, ainda, do princípio da inafastabilidade da jurisdição. A EC n. 45/2004, que reformou constitucionalmente o Poder Judiciário, incluiu o inciso LXXVIII no art. S º da CF /1988: "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação". O CPC ratificou esse princípio no art. 4º, esclarecendo que ele se aplica inclusive à fase executiva: ''As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa". O inciso II do art. 139 reforça o princípio: ''Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: ( ... ) II - velar pela duração razoável do processo". Processo devido é, pois, processo com duração razoável.
"O reconhecimento destes critérios traz como imediata consequência a visualização das dilações indevidas como um conceito indeterminado e aberto, que impede de considerá-las como o simples desprezo aos prazos processuais pré-fixados. Assim, é evidente que se uma determinada questão envolve, por exemplo, a apuração de crimes de natureza fiscal ou econômica, a prova pericial a ser produzida poderá demandar muitas diligências que justificarão duração bem mais prolongada da fase instrutória. ( ... ) Por outro lado, não poderão ser taxadas de 'indevidas' as dilações proporcionadas pela atuação dolosa da defesa, que, em algumas ocasiões, dá azo a incidentes processuais totalmente impertinentes e irrelevantes. E, ademais, é necessário que a demora, para ser reputada realmente inaceitável, decorra da inércia, pura e simples, do órgão jurisdicional encarregado de dirigir as diversas etapas do processo.
Há alguns instrumentos que podem servir para concretizar esse direito fundamental: a) representação por excesso de prazo, com a possível perda da competência do juízo em razão da demora (art. 235, CPC); b) mandado de segurança contra a omissão judicial, caracterizada pela não prolação da decisão por tempo não razoável, cujo pedido será a cominação de ordem para que se profira a decisão; e) se a demora injusta causar prejuízo, ação de responsabilidade civil contra o Estado, com possibilidade de ação regressiva contra o juiz; d) a EC n. 45/2004 também acrescentou a alínea "e" ao inciso II do art. 93 da CF /88, estabelecendo que "não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão"; e) a reclamação por usurpação de competência também pode ser utilizada, quando a usurpação se dá por atos omissivos. O par. ún. do art. 7º da Lei n. 4.717 /1965 (Lei da Ação Popular) também possui regra que serve a esse direito fundamental: "O proferimento da sentença além do prazo estabelecido privará o juiz da inclusão em lista de merecimento para promoção, durante 2 (dois) anos, e acarretará a perda, para efeito de promoção por antiguidade, de tantos dias quantos forem os do retardamento, salvo motivo justo, declinado nos autos e comprovado perante o órgão disciplinar competente". 
O processo não tem de ser rápido/célere: o processo deve demorar o tempo necessário e adequado à solução do caso submetido ao órgão jurisdicional.
A partir do momento em que se reconhece a existência de um direito fundamental ao devido processo, está -se reconhecendo, implicitamente, o direito de que a solução do caso deve cumprir, necessariamente, uma série de atos obrigatórios, que compõem o conteúdo mínimo desse direito.
Princípio da igualdade processual (paridade de armas)
O art. 5º, caput, da CF /1988, é a fonte normativa do princípio da igualdade processual. CPC Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Da primeira parte do art. 7º do CPC decorre, diretamente, em um plano infraconstitucional, o princípio da igualdade processual. A redação é prolixa, mas o propósito é simples: as partes devem ser tratadas com igualdade. A igualdade processual deve observar quatro aspectos:
a) imparcialidade do juiz (equidistância em relação às partes); 
b) igualdade no acesso à justiça, sem discriminação (gênero, orientação sexual, raça, nacionalidade etc.);
 c) redução das desigualdades que dificultem o acesso à justiça, como a financeira ( ex.: concessão do benefício da gratuidade da justiça, arts. 98-102, CPC), a geográfica (ex. possibilidade de sustentação oral por videoconferência, art. 937, § 4º, CPC), a de comunicação (ex.: garantir a comunicação por meio da Língua Brasileira de Sinais, nos casos de partes e testemunhas com deficiência auditiva, art. 162, III, CPC) etc.; 
d) igualdade no acesso às informações necessárias ao exercício do contraditório.
 É importante, no entanto, registrar que o princípio da igualdade no processo costuma revelar-se com mais clareza nos casos em que se criam regras para tratamento diferenciado. Por mais paradoxal que possa parecer, o tratamento distinto é, em alguns casos, a principal forma de igualar as partes. Alguns exemplos, além de outros já citados: nomeação de curador especial para incapazes processuais (art. 72, CPC); regras especiais de competência territorial para a proteção de vulneráveis (arts. 53, I, II e III, "e", CPC; art. 101,I, CDC); intimação obrigatória do Ministério Público nospara incapazes processuais (art. 72, CPC); regras especiais de competência territorial para a proteção de vulneráveis (arts. 53, I, II e III, "e", CPC; art. 101, I, CDC); intimação obrigatória do Ministério Público nos casos que envolvam interesse de incapaz ( art. 178, II, CPC); proibição de citação postal de incapaz (art. 247, II, CPC); tutela provisória satisfativa de direitos evidentes (art. 311, CPC); prazo em dobro para os entes públicos manifestarem-se nos autos (art.183, CPC); eliminação do efeito suspensivo automático da apelação contra sentença que rejeita embargos à execução (art. 1.012, § 1º, III, CPC); tramitação prioritária de processos que envolvem idosos ou pessoas com doença grave (art. 1.048, CPC) etc. O dever de o tribunal uniformizar a sua jurisprudência e observá-la é, também, manifestação do princípio da igualdade (art. 926, CPC).
Uma importante dimensão do princípio da igualdade, no processo, é o dever de o órgão julgador confrontar o caso concreto com o caso paradigma, de modo a verificar se é ou não caso de aplicação do precedente ou da jurisprudência (art. 489, § 1º, V e VI, CPC).
 De acordo com esta visão mais substancial, o princípio da igualdade pode confundir-se com o devido processo legal substancial.
Princípio da eficiência (duvidas)
A aplicação do princípio da eficiência ao processo é uma versão contemporânea (e também atualizada) do conhecido princípio da economia processual. O princípio da eficiência, aplicado ao processo, é um dos corolários da cláusula geral do devido processo legal. Resulta, ainda, da incidência do art. 37, caput, da CF /1988, e art. 8º do CPC. Esse dispositivo também se dirige ao Poder Judiciário. O princípio repercute sobre a atuação do Poder Judiciário em duas dimensões: a) Administração Judiciária e b) a gestão de um determinado processo. 
pode-se sintetizar a "eficiência", meta a ser alcançada por esse princípio, como o resultado de uma atuação que observou dois deveres: a) o de obter o máximo de um fim com o mínimo de recursos (efficiency); b) o de, com um meio, atingir o fim ao máximo ( effectiveness ).
Eficiente é a atuação que promove os fins do processo de modo satisfatório em termos quantitativos, qualitativos e probabilísticos. Ou seja, na escolha dos meios a serem empregados para a obtenção dos fins, o órgão jurisdicional deve escolher meios que os promovam de modo minimamente intenso (quantidade - não se pode escolher um meio que promova resultados insignificantes) e certo (probabilidade - não se pode escolher um meio de resultado duvidoso), não sendo lícita a escolha do pior dos meios para isso ( qualidade - não se pode escolher um meio que produza muitos efeitos negativos paralelamente ao resultado buscado).A eficiência é algo que somente se constata a posteriori: não se pode avaliar a priori se a conduta é ou não eficiente.
Efetivo é o processo que realiza o direito afirmado e reconhecido judicialmente. Eficiente é o processo que atingiu esse resultado de modo satisfatório, nos termos acima. Um processo pode ser efetivo sem ter sido eficiente - atingiu-se o fim "realização do direito" de modo insatisfatório ( com muitos resultados negativos colaterais e/ou excessiva demora, por exemplo). Mas jamais poderá ser considerado eficiente sem ter sido efetivo: a não realização de um direito reconhecido judicialmente é quanto basta para a demonstração da ineficiência do processo.
Aplicações do princípio da eficiência no processo
O órgão jurisdicional é, assim, visto como um administrador: administrador de um determinado processo.
I) O dever de eficiência impõe-se na escolha do meio a ser utilizado para a execução da sentença (arts. 139, IV, 297 e 536, § 1º, CPC). O meio executivo deve promover a execução de modo satisfatório, nos termos mencionados acima. 
II) O princípio da eficiência exerce uma função interpretativa. Os enunciados normativos da legislação processual devem ser interpretados de modo a observar a eficiência. Dispositivos relacionados à suspensão do processo, por exemplo, que impõem um limite temporal máximo para a suspensão (art. 313, § 4º, CPC), devem ser interpretados com temperamento: em certas situações, o prosseguimento do processo, após o vencimento do prazo máximo de suspensão, é medida que pode revelar-se extremamente ineficiente, sob o ponto de vista da administração do processo. 
III) Do princípio da eficiência pode-se extrair a permissão de o órgão jurisdicional estabelecer uma espécie de "conexão probatória" entre causas pendentes, de modo a unificar a atividade instrutória, como forma de redução de custos, mesmo que isso não implique a necessidade de julgamento simultâneo de todas elas.
Princípio da boa-fé processual
Os sujeitos processuais devem comportar-se de acordo com a boa-fé, que, nesse caso, deve ser entendida como uma norma de conduta ("boa-fé objetiva"). Não se pode confundir o princípio (norma) da boa-fé com a exigência de boa-fé (elemento subjetivo) para a configuração de alguns atos ilícitos processuais, como o manifesto propósito protelatório, apto a permitir a tutela provisória prevista no inciso I do art. 311 do CPC.
Além do princípio da boa-fé processual, há, ainda, regras de proteção à boa-fé, que concretizam o princípio da boa-fé e compõem a modelagem do devido processo legal brasileiro. As normas sobre litigância de má-fé (arts. 79-81 do CPC) são um exemplo disso. Há quem veja no inciso Ido art. 3 º da CF /1988 o fundamento constitucional da proteção da boa-fé objetiva 1°.É objetivo da República Federativa Brasileira a construção de urna sociedade livre, justa e solidária. Haveria um dever fundamental de solidariedade, do qual decorreria o dever de não quebrar a confiança e de não agir com deslealdade.
O contraditório não serve apenas para dar aos litigantes o direito de poder influenciar na decisão, mas também "tem urna finalidade de colaboração com o exercício da jurisdição" 1 º 5. O direito ao contraditório não pode ser exercido ilimitadamente: o respeito à boa-fé objetiva é exatamente um desses limites.
"O princípio do devido processo legal, que lastreia todo o leque de garantias constitucionais voltadas para a efetividade dos processos jurisdicionais e administrativos, assegura que todo julgamento seja realizado com a observância das regras procedimentais previamente estabelecidas, e, além, representa uma exigência de fair triai, no sentido de garantir a participação equânime, justa, leal, enfim, sempre imbuída pela boa-fé e pela ética dos sujeitos processuais.”
"Nesse sentido, tal princípio possui um âmbito de proteção alargado, que exige o fair triai não apenas dentre aqueles que fazem parte da relação processual, ou que atuam diretamente no processo, mas de todo o aparato jurisdicional, o que abrange todos os sujeitos, instituições e órgãos, públicos e privados, que exercem, direta ou indiretamente, funções qualificadas constitucionalmente como essenciais à Justiça".
É mais simples, portanto, a argumentação da existência de um dever geral de boa-fé processual como conteúdo do devido processo legal. Afinal, convenhamos, o processo para ser devido (giusto, como dizem os italianos, equitativo, como dizem os portugueses) precisa ser ético e leal. Não se poderia considerar justo um processo pautado em comportamentos desleais ou antiéticos.
a)Proibição de criar113 dolosamente posições processuais, ou seja, proibição de agir de má-fé. O dolo processual é conduta ilícita, por conta da incidência do princípio da boa-fé. Mas há regras expressas que concretizam isso, por exemplo: o requerimento doloso da citação por edital (art. 258, CPC), a litigância de má-fé ( art. 80, CPC)114 e a atuação dolosa do órgão jurisdicional ( art. 143, I, CPC).
b)A proibição de ventre contra factum proprium. A doutrina costuma enumerar os seguintes pressupostos para a configuração do ventre contrafactum proprium como comportamento ilícito: a) existência de duas condutas de uma mesma pessoa, sendo que a segunda contraria a primeira; b J haja identidadede partes, ainda que por vínculo de sucessão ou representação; e) a situação contraditória se produza em uma mesma situação jurídica ou entre situações jurídicas estreitamente coligadas; d) a primeira conduta (factum proprium) tenha um significado social minimamente unívoco, a ser averiguado segundo as circunstâncias do caso; e) que o factum proprium seja suscetível de criar fundada confiança na parte que alega o prejuízo, confiança essa que será averiguada segundo as circunstâncias, os usos aceitos pelo comércio jurídico, a boa-fé ou o fim econômico-social do negócio. Como exemplo de aplicação da proibição de ventre contra factum proprium no processo civil: recorrer contra uma decisão que se aceitara ( art. 1.000 do CPC) ou pedir a invalidação de ato a cujo defeito deu causa (art. 276 do CPC brasileiro), ou impugnar a legitimidade já aceita em processo anterior.
 c) A proibição de abuso de direitos processuais. O abuso do direito é conduta ilícita; o abuso de um direito processual também. Qualquer abuso do direito no processo é proibido pela incidência do princípio da boa-fé processual.
d) Verwirkung (suppressio, de acordo com a sugestão consagrada de Menezes Cordeiro): perda de poderes processuais em razão do seu não exercício por tempo suficiente para incutir no outro sujeito a confiança legítima de que esse poder não mais seria exercido. Asuppressio é a perda de uma situação jurídica ativa, pelo não exercício em lapso de tempo tal que gere no sujeito passivo a expectativa legítima de que a situação jurídica não seria mais exercida12º; o exercício tardio seria contrário à boa-fé e abusivo.
Três exemplos de suppressio processual: a) perda do poder do juiz de examinar a admissibilidade do processo, após anos de tramitação regular, sem que ninguém houvesse suscitado a questão; b) perda do direito da parte de alegar nulidade, em razão do lapso de tempo transcorrido, que fez surgir a confiança de que não mais alegaria a nulidade; c) perda do direito à multa judicial, em razão de a parte ter demorado excessivamente para comunicar o descumprimento da decisão.
A negociação processual, seja aquela relativa ao litígio, seja aquela que tem por objeto as normas e situações jurídicas processuais (art. 190 do CPC), deve observar o princípio da boa-fé processual (aplicação ao processo do art. 422 do Código Civil) .
Princípio da efetividade
principio da efetividade: os direitos devem ser, além de reconhecidos, efetivados. Processo devido é processo efetivo. O princípio da efetividade garante o direito fundamental à tutela executiva, que consiste "na exigência de um sistema completo de tutela executiva, no qual existam meios executivos capazes de proporcionar pronta e integral satisfação a qualquer direito merecedor de tutela executiva" 126.
 O art. 4º do CPC, embora em nível infraconstitucional, reforça esse princípio como norma fundamental do processo civil brasileiro, ao incluir o direito à atividade satisfativa, que é o direito à execução: "Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa". Esse posicionamento é reforçado pela compreensão atual do chamado "princípio da inafastabilidade" (examinado no capítulo sobre jurisdição, neste volume do Curso), que, conforme célebre lição de Kazuo Watanabe, deve ser entendido não como uma garantia formal, uma garantia de pura e simplesmente "bater às portas do Poder Judiciário", mas, sim, como uma garantia de "acesso à ordem jurídica justa", consubstanciada em urna prestação jurisdicional ternpestiva, adequada, eficiente e efetiva. "O direito à sentença deve ser visto corno direito ao provimento e aos meios executivos capazes de dar efetividade ao direito substancial, o que significa o direito à efetividade em sentido estrito" 127 Também se pode retirar o direito fundamental à efetividade desse princípio constitucional, do qual seria corolário.
a interpretação das normas que regulamentam a tutela executiva tem de ser feita no sentido de extrair a maior efetividade possível; b) o juiz tem o poder-dever de deixar de aplicar urna norma que imponha urna restrição a um meio executivo, sempre que essa restrição não se justificar corno forma de proteção a outro direito fundamental; c) o juiz tem o poder-dever de adotar os meios executivos que se revelem necessários à prestação integral de tutela executiva
Princípio da adequação (legal, jurisdicional e negocial) do processo
um processo inadequado ao direito material pode importar verdadeira negação da tutela jurisdicional.
O princípio da adequação pode ser visualizado em três dimensões: a) legislativa, como informador da produção legislativa das regras processuais; b) jurisdicional, permitindo ao juiz, no caso concreto, adaptar o procedimento às peculiaridades da causa que lhe é submetida; c) negocial: o procedimento é adequado pelas próprias partes, negocialmente. No segundo e no terceiro casos, a adequação é feita in concreto, em um determinado processo; há quem prefira, assim, designar o fenômeno de adaptabilidade, flexibilidade ou elasticidade do processo.
Inicialmente, a própria construção legislativa do processo deve ser feita tendo-se em vista a natureza e as peculiaridades do seu objeto; o legislador deve atentar para essas circunstâncias, pois um processo inadequado ao direito material pode importar verdadeira negação da tutela jurisdicional. O princípio da adequação não se refere apenas à estruturação do procedimento. A tutela jurisdicional há de ser adequada; o procedimento é apenas uma forma de encarar esse fenômeno130 . O princípio da inafastabilidade da jurisdição ( estudado no capítulo sobre jurisdição, neste volume do Curso) garante uma tutela adequada à realidade de direito material, ou seja, garante o procedimento, a espécie de cognição, a natureza do provimento e os meios executórias adequados às peculiaridades da situação litigiosa.13 1 Do princípio da inafastabilidade, é possível retirar o princípio da adequação. Também é possível retirá-lo do direito fundamental a um processo devido: processo devido é processo adequado.132 Lembre-se que o devido processo legal é uma cláusula geral, de onde se podem retirar outros princípios, tal como o da adequação.
O titular do direito litigioso precisa de uma série de medidas estabelecidas pelo legislador, dentre as quais avulta a criação de um procedimento adequado às particularidades da situação jurídica substancial submetida à apreciação do órgão jurisdicional.
A adequação do processo apresenta-se, segundo Galena Lacerda, sob três aspectos: subjetivo, objetivo e teleológico, que não se entrelaçam. O processo há de ser adequado aos sujeitos processuais. As regras processuais hão, pois, de serem adequadas àqueles que vão participar do processo. Esta é a adequação subjetiva do processo.
Eis algumas regras de adequação subjetiva do processo: a) intervenção obrigatória do Ministério Público nos processos que envolvam interesse de incapaz (art. 178, II, CPC); b) diferenciação de regras de competência (domicílio do alimentando, art. 53, II, CPC; entes públicos federais, art. 109, I, CF /1988); c) incapacidade processual para litigar em certos procedimentos (art. 8º, Lei n. 9.099 /1995); d) prazos especiais para entes públicos (art. 183, CPC) etc.
A adequação teleológica do procedimento faz-se de acordo com os diversos objetivos a que ele visa alcançar. "Claro está que o processo de conhecimento, porque visa à definição do direito, requer atos e rito distintos daqueles exigidos para a execução, onde se cuida da realização coativa do direito declarado, ou para o processo cautelar, que busca a segurança do interesse em lide". Há adequação teleológica também quando o procedimento é adaptado aos objetivos preponderantes em cada caso. Assim, por exemplo, o procedimento dos Juizados Especiais é adequado aos propósitos da duração razoável do processo e da efetividade, que presidiram a sua criação. 
Três são, basicamente, os critérios objetivos de que se vale o legislador para adequar a tutela jurisdicionalpelo procedimento: um, a natureza do direito litigioso, cuja relevância impõe uma modalidade de tutela diferenciada; o segundo, a evidência como se apresenta o direito material no processo; o terceiro, a situação processual da urgência.
São exemplos do primeiro critério de adequação objetiva alguns procedimentos especiais, criados para a tutela de determinadas situações litigiosas: as ações possessórias, a ação de alimentos e a busca e apreensão em alienação fiduciária.
A indisponibilidade do direito é fator levado em consideração para a diferenciação procedimental. Galena Lacerda, ao analisar esta adequação objetiva, assim se manifesta: "Interessante é observar corno a diferença de grau entre a disponibilidade e a indisponibilidade do objeto, isto é, do bem jurídico material, influi necessariamente nas regras de processo. As repercussões dessa gradação nos vários tipos de processos explicam as soluções várias e específicas para problemas corno o impulso processual, a extensão dos poderes do juiz e dos direitos e deveres processuais das partes, os efeitos da aquiescência, a natureza da preclusão e da coisa julgada, a distinção quanto aos vícios do ato processual, a disponibilidade das provas, a substituição e a sucessão no processo, e tanto outros".
A tutela diferenciada da evidência é aquela em que regras processuais são adaptadas, tendo em vista a alta probabilidade de o direito afirmado existir. É preciso tutelar o direito evidente de modo distinto. São exemplos de adequações objetivas que levam em consideração esse critério: a criação dos procedimentos especiais do mandado de segurança (Lei n. 12.016/2009) e da ação monitória (arts. 700 e segs., CPC) e a possibilidade de tutela provisória da evidência (art. 311, CPC; art. 562, CPC; art. 59, § 1º, Lei n. 8.245/1991). Ainda é possível adequar objetivamente o processo às situações de urgência (perigo), corno se faz ao autorizar-se a tutela provisória de urgência (arts. 300-310, CPC).
É preciso que o processo seja adequado também in concreto. A adequação, nesse caso, é dever do órgão jurisdicional, que deve observar os mesmos critérios de adequação. Eis que aparece o princípio da adaptabilidade, elasticidade ou adequação judicial do procedimento: cabe ao órgão jurisdicional prosseguir na empresa da adequação do processo, iniciada pelo legislador, mas que, em razão da natural abstração do texto normativo, pode ignorar peculiaridades de situações concretas somente constatáveis caso a caso.
o inciso VI do art. 139 do CPC expressamente autoriza que o juiz dilate os prazos processuais e altere a ordem de produção de provas, tendo em vista as peculiaridades do conflito; b) possibilidade de redistribuição do ônus da prova (art. 373, § 1º, CPC); e) o julgamento antecipado do mérito, em que se pode abreviar o rito processual, com a supressão de uma de suas fases (arts. 355-356, CPC); d) a não realização da audiência de tentativa de autocomposição, se o litígio não admitir autocomposição (art. 334, § 4º, II, CPC); e) as variantes procedimentais previstas na Lei de Ação Popular (Lei n. 4.717 /1965, arts. 7º e segs.); f) a possibilidade de o relator da ação rescisória fixar o prazo de resposta, dentro de certos parâmetros (art. 970, CPC); g) adequação do processo em jurisdição voluntária (art. 723, par. ún., CPC) etc.
O princípio da adequação pode ser visualizado em três dimensões: a) legislativa, como informador da produção legislativa das regras processuais; b) jurisdicional, permitindo ao juiz, no caso concreto, adaptar o procedimento às peculiaridades da causa que lhe é submetida; c) negocial: o procedimento é adequado pelas próprias partes, negocialmente. No segundo e no terceiro casos, a adequação é feita in concreto, em um determinado processo; há quem prefira, assim, designar o fenômeno de adaptabilidade, flexibilidade ou elasticidade do processo.
O princípio da inafastabilidade da jurisdição (estudado no capítulo sobre jurisdição, neste volume do Curso) garante uma tutela adequada à realidade de direito material, ou seja, garante o procedimento, a espécie de cognição, a natureza do provimento e os meios executórias adequados às peculiaridades da situação litigiosa. Do princípio da inafastabilidade, é possível retirar o princípio da adequação. Também é possível retirá-lo do direito fundamental a um processo devido: processo devido é processo adequado. Lembre-se que o devido processo legal é uma cláusula geral, de onde se podem retirar outros princípios, tal como o da adequação.
Há quem entenda, ainda, que o princípio da adequação decorre do princípio da efetividade, também esse corolário do devido processo legal. É como afirma Marinoni, visualizando a adequação como imposição do direito fundamental à efetividade: ''A compreensão desse direito depende da adequação da técnica processual a partir das necessidades do direito material. Se a efetividade requer a adequação e a adequação deve trazer efetividade, o certo é que os dois conceitos podem ser decompostos para melhor explicar a necessidade de adequação da técnica às diferentes situações de direito substancial".
O titular do direito litigioso precisa de uma série de medidas estabelecidas pelo legislador, dentre as quais avulta a criação de um procedimento adequado às particularidades da situação jurídica substancial submetida à apreciação do órgão jurisdicional. O processo há de ser adequado aos sujeitos processuais. 
Critérios de adequação: subjetivo, objetivo e teleológico
As regras processuais hão, pois, de serem adequadas àqueles que vão participar do processo. Esta é a adequação subjetiva do processo.
Eis algumas regras de adequação subjetiva do processo: a) intervenção obrigatória do Ministério Público nos processos que envolvam interesse de incapaz (art. 178, II, CPC); b) diferenciação de regras de competência (domicílio do alimentando, art. 53, II, CPC; entes públicos federais, art. 109, I, CF /1988); c) incapacidade processual para litigar em certos procedimentos (art. 8º, Lei n. 9.099 /1995); d) prazos especiais para entes públicos (art. 183, CPC) etc. 
A adequação teleológica do procedimento faz-se de acordo com os diversos objetivos a que ele visa alcançar. "Claro está que o processo de conhecimento, porque visa à definição do direito, requer atos e rito distintos daqueles exigidos para a execução, onde se cuida da realização coativa do direito declarado, ou para o processo cautelar, que busca a segurança do interesse em lide". Há adequação teleológica também quando o procedimento é adaptado aos objetivos preponderantes em cada caso. Assim, por exemplo, o procedimento dos Juizados Especiais é adequado aos propósitos da duração razoável do processo e da efetividade, que presidiram a sua criação.
 Três são, basicamente, os critérios objetivos de que se vale o legislador para adequar a tutela jurisdicional pelo procedimento: um, a natureza do direito litigioso, cuja relevância impõe uma modalidade de tutela diferenciada; o segundo, a evidência como se apresenta o direito material no processo; o terceiro, a situação processual da urgência. São exemplos do primeiro critério de adequação objetiva alguns procedimentos especiais, criados para a tutela de determinadas situações litigiosas: as ações possessórias, a ação de alimentos e a busca e apreensão em alienação fiduciária.
Princípio da cooperação e o modelo do processo civil brasileiro
O princípio da cooperação torna devidos os comportamentos necessários à obtenção de um processo leal e cooperativo.
art. 6 º do CPC: "Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva". O modelo também se caracteriza pela exigência de lealdade no processo. Não por acaso, o art. 6 º sucede o art. S º, que consagra o princípio da boa-fé processual.
Esse modelo caracteriza-se pelo redimensionamento do princípio do contraditório, com a inclusão do órgão jurisdicional no rol dos sujeitos do diálogo processual, e não mais como um mero espectador do duelo das partes.
A condução do processodeixa de ser determinada exclusivamente pela vontade das partes (marca do processo liberal dispositivo). Também não se pode afirmar que há uma condução inquisitorial do processo pelo órgão jurisdicional, em posição assimétrica em relação às partes. Busca-se uma condução cooperativa do processo, sem destaques para qualquer dos sujeitos processuais.
O modelo cooperativo parece ser o mais adequado para uma democracia. Dierle José Coelho Nunes, que fala em modelo comparticipativo de processo como técnica de construção de um processo civil democrático em conformidade com a Constituição, afirma que "a comunidade de trabalho deve ser revista em perspectiva policêntrica e comparticipativa, afastando qualquer protagonismo e se estruturando a partir do modelo constitucional de processo". Disso surgem deveres de conduta para as partes e para o órgão jurisdicional, que não conduz o processo ignorando ou minimizando o papel das partes na "divisão do trabalho" 165 , mas, sim, em urna posição paritária, com diálogo e equilíbrio. A cooperação, corretamente compreendida, em vez de "determinar apenas que as partes - cada urna para si - discutam a gestão adequada do processo pelo juiz, faz com que essas dele participem". 
As partes não decidem com o juiz; trata-se de função que lhe é exclusiva. Pode-se dizer que a decisão judicial é fruto da atividade processual em cooperação, é resultado das discussões travadas ao longo de todo o arco do procedimento; a atividade cognitiva é compartilhada, mas a decisão é manifestação do poder, que é exclusivo do órgão jurisdicional, e não pode ser minimizado. Neste momento, revela-se a necessária assimetria entre as posições das partes e a do órgão jurisdicional: a decisão jurisdicional é essencialmente um ato de poder. Em um processo autoritário/inquisitorial, há essa assimetria também na condução do processo. Eis o modelo de direito processual civil adequado à cláusula do devido processo legal e ao regime democrático.
O princípio da cooperação atua diretamente, imputando aos sujeitos do processo deveres. Assim, são ilícitas as condutas contrárias à obtenção do "estado de coisas" ( comunidade processual de trabalho) que o princípio da cooperação busca promover.
Vejamos algumas manifestações desses deveres em relação às partes: a) dever de esclarecimento: os demandantes devem redigir a sua demanda com clareza e coerência, sob pena de inépcia; b) dever de lealdade: as partes não podem litigar de má-fé (arts. 79-81 do CPC), além de ter de observar o princípio da boa-fé processual (art. S º, CPC); c) dever de proteção: a parte não pode causar danos à parte adversária (punição ao atentado, art. 77, VI, CPC; há a responsabilidade objetiva do exequente nos casos de execução injusta, arts. 520, I, e 776, CPC).
O dever de esclarecimento consiste no dever de o tribunal se esclarecer junto das partes quanto às dúvidas que tenha sobre as suas alegações, pedidos ou posições em juízo, para evitar decisões tomadas em percepções equivocadas ou apressadas. Assim, por exemplo, se o magistrado estiver em dúvida sobre o preenchimento de um requisito processual de validade, deverá providenciar esclarecimento da parte envolvida, e não determinar imediatamente a consequência prevista em lei para esse ilícito processual (extinção do processo, por exemplo). Do mesmo modo, não deve o magistrado indeferir a petição inicial, tendo em vista a obscuridade do pedido ou da causa de pedir, sem antes pedir esclarecimentos ao demandante - convém lembrar que há hipóteses em que se confere a não advogados a capacidade de formular pedidos, o que torna ainda mais necessária a observância desse dever. 
O dever de esclarecimento não se restringe ao dever de o órgão jurisdicional esclarecer-se junto das partes, mas também o dever de esclarecer os seus próprios pronunciamentos para as partes. É certo que esse dever decorre do dever de motivar, que é uma das garantias processuais já consolidadas ao longo da história. O dever de motivar contém, obviamente, o dever de deixar claras as razões da decisão. Essa circunstância não impede, porém, que se veja aqui também uma concretização do princípio da cooperação, já positivada.
O dever de consulta é variante processual do dever de informar, aspecto do dever de esclarecimento, compreendido em sentido amplo. Não pode o órgão jurisdicional decidir com base em questão de fato ou de direito, ainda que possa ser conhecida ex officio, 176 sem que sobre elas sejam as partes intimadas a manifestar-se. Deve o juiz consultar as partes sobre esta questão não alvitrada no processo, e por isso não posta em contraditório, antes de decidir. Eis o dever de consulta, expressamente consagrado no art. 1 O do CPC, já examinado no item sobre o princípio do contraditório.
 A concretização do princípio da cooperação é, no caso, também uma concretização do princípio do contraditório, que assegura aos litigantes o poder de influenciar na solução da controvérsia.
O órgão jurisdicional tem o dever de lealdade, de resto também consequência do princípio da boa-fé processual, conforme já examinado. O órgão jurisdicional também tem o dever de zelar pelo efetivo contraditório (art. 7º, parte final, CPC, também já examinado).
Caso o magistrado "descubra" a falta de um requisito de admissibilidade, não deve determinar a extinção do processo (se esse for o efeito previsto) sem antes ouvir as partes sobre a questão. 
Tem o magistrado, ainda, o dever de apontar as deficiências das postulações das partes, para que possam ser supridas. Trata-se do chamado dever de prevenção, variante do dever de proteção. O dever de prevenção tem um âmbito mais amplo: vale genericamente para todas as situações em que o êxito da ação ou da defesa possa ser frustrado pelo uso inadequado do processo. São quatro as áreas de aplicação do dever de prevenção: explicitação de pedidos pouco claros, o caráter lacunar da exposição dos fatos relevantes, a necessidade de adequar o pedido formulado à situação concreta e a sugestão de certa atuação pela parte. "Assim, por exemplo, o tribunal tem o dever de sugerir a especificação de um pedido indeterminado, de solicitar a individualização das parcelas de um montante que só é globalmente indicado, de referir as lacunas na descrição de um facto, de se esclarecer sobre se a parte desistiu do depoimento de uma testemunha indicada ou apenas se esqueceu dela e de convidar a parte a provocar a intervenção de um terceiro".
O art. 321 é emblemático; ele garante ao demandante o direito de emendar a petição inicial, se o órgão jurisdicional considerar que lhe falta algum requisito; não é permitido o indeferimento da petição inicial sem que se dê a oportunidade de correção do defeito. Não cumprindo o autor a diligência que lhe fora ordenada, a petição inicial será indeferida.
É a articulação dos princípios da boa-fé processual, contraditório (incluindo a regra que proíbe decisão surpresa, art. 10, CPC), respeito ao autorregramento da vontade e primazia da decisão de mérito que produz o modelo processo cooperativo encampado pelo nosso CPC e justifica reconhecer a existência de um verdadeiro princípio da cooperação.
 Note, enfim, que há o princípio da cooperação, que se destina a transformar o processo em uma "comunidade de trabalho" (Arbeitsgemeinschaft, comunione dei /avaro) "e a responsabilizar as partes e o tribunal pelos seus resultados", e há as regras de cooperação, que concretizam esse princípio ( como, p. ex., a que exige que o pronunciamento judicial seja claro, inteligível). O § 3º do art. 357 cuida do saneamento compartilhado; o art. 339 cuida do dever do réu de indicar o legitimado passivo da demanda; o art. 77, § 1 º, e o art. 772, II, consagram o dever de o juiz advertir o sujeito de que sua conduta pode configurar-se ato atentatório à dignidade da justiça
O art. 7 º do CPC consagra o princípio da igualdade processual. Na parte final, o dispositivo determina ao juiz "zelar pelo efetivo contraditório". Certamente, surgirá a discussão sobre se a parte final do art. 7 º do CPC permite que se afirmea existência de um dever geral de auxílio no direito brasileiro. Não nos parece possível defender a existência deste dever no direito processual brasileiro. A tarefa de auxiliar as partes é do seu representante judicial: advogado ou defensor público. Não só não é possível: também não é recomendável. É simplesmente imprevisível o que pode acontecer se se disser ao órgão julgador que ele tem um dever atípico de auxiliar as partes. É possível, porém, que haja deveres típicos de auxílio, por expressa previsão legal.
Há diversos modelos de direito processual. Todos eles podem ser considerados em conformidade com o princípio do devido processo legal.
A doutrina costuma identificar dois modelos de processo na civilização ocidental influenciada pelo iluminismo: o modelo dispositivo e o modelo inquisitivo. Identificamos um terceiro modelo: o processo cooperativo.
Em suma, o modelo adversarial assume a forma de competição ou disputa, desenvolvendo-se como um conflito entre dois adversários diante de um órgão jurisdicional relativamente passivo, cuja principal função é decidir o caso. O modelo inquisitorial (não adversarial) organiza-se como uma pesquisa oficial, sendo o órgão jurisdicional o grande protagonista do processo. No primeiro sistema, a maior parte da atividade processual é desenvolvida pelas partes; no segundo, cabe ao órgão judicial esse protagonismo.
Princípio, aqui, é termo utilizado não no sentido de "espécie normativa", mas, sim, de "fundamento", "orientação preponderante" etc. Assim, quando o legislador atribui às partes as principais tarefas relacionadas à condução e à instrução do processo, diz-se que se está respeitando o denominado princípio dispositivo; tanto mais poderes forem atribuídos ao magistrado, mais condizente com o princípio inquisitivo o processo será. A dicotomia princípio inquisitivo-princípio dispositivo está intimamente relacionada à atribuição de poderes ao juiz: sempre que o legislador atribuir um poder ao magistrado, independentemente da vontade das partes, vê-se manifestação de "inquisitividade"; sempre que se deixe ao alvedrio dos litigantes a opção, aparece a "dispositividade". 
Já se pretendeu distinguir o processo penal e o processo civil exatamente pelo conjunto de poderes atribuídos ao magistrado, inicialmente mais intenso naquele do que nesse. Também há quem relacione o processo adversaria! ao common law e o processo inquisitivo ao civil law.
A "dispositividade" e a "inquisitividade" podem manifestar-se em relação a vários temas: a) instauração do processo; b) produção de provas; c) delimitação do objeto litigioso ( questão discutida no processo); d) análise de questões de fato e de direito; e) recursos etc.
 Nada impede que o legislador, em relação a um tema, encampe o "princípio dispositivo" e, em relação ao outro, o "princípio inquisitivo".
Por exemplo: no direito processual civil brasileiro, a instauração do processo e a fixação do objeto litigioso (o problema que deve ser resolvido pelo órgão jurisdicional) são, em regra, atribuições da parte (arts. 2º, 141 e 492, CPC). Já em relação à investigação probatória, o CPC admite que o juiz determine a produção de provas ex officio (art. 370 do CPC).
Difícil, portanto, estabelecer um critério identificador da dispositividade ou da inquisitoriedade que não comporte exceção. Não há sistema totalmente dispositivo ou inquisitivo: os procedimentos são construídos a partir de várias combinações de elementos adversariais e inquisitoriais. Não é possível afirmar que o modelo processual brasileiro é totalmente dispositivo ou inquisitivo. O mais recomendável é falar em predominância em relação a cada um dos temas: em matéria de produção de provas, no efeito devolutivo dos recursos, na delimitação do objeto litigioso etc. O SISTEMA BRASILEIRO É COOPERATIVO.
É fundamental visualizar o problema, enfim, sob dois aspectos: a) propositura da demanda: delimitação do objeto litigioso do processo; b) estrutura interna do processo: impulso processual, produção de provas, efeito devolutivo do recurso etc. No primeiro aspecto, há uma dimensão substancial da dispositividade/inquisitividade; no segundo, uma dimensão processual do tema.
Preferível que a denominação princípio dispositivo seja reservada tão-somente aos reflexos que a relação de direito material disponível possa produzir no processo. E tais reflexos referem-se apenas à própria relação jurídico-substancial. Assim, tratando-se de direito disponível, as partes têm ampla liberdade para dele dispor, através de atos processuais (renúncia, desistência, reconhecimento do pedido). Os autores, como se pode constatar, pretendem dar ao princípio dispositivo/inquisitivo uma dimensão substancial, pois o relacionam à situação jurídica discutida: se disponível, processo dispositivo; se indisponível, processo inquisitivo.
Os princípios do devido processo legal, da boa-fé processual, do contraditório e do respeito ao autorregramento da vontade no processo, juntos, servem de base para o surgimento de outro princípio do processo: o princípio da cooperação. O princípio da cooperação define o modo como o processo civil deve estruturar-se no direito brasileiro
Princípio do respeito ao autorregramento da vontade no processo
É o direito que todo sujeito tem de regular juridicamente os seus interesses, de poder definir o que reputa melhor ou mais adequado para a sua existência; o direito de regular a própria existência, de construir o próprio caminho e de fazer escolhas. O princípio do respeito ao autorregramento da vontade no processo visa, enfim, à obtenção de um ambiente processual em que o direito fundamental de autorregular-se possa ser exercido pelas partes sem restrições irrazoáveis ou injustificadas. De modo mais simples, esse princípio visa tornar o processo jurisdicional um espaço propício para o exercício da liberdade.
O direito de a parte, ora sozinha, ora com a outra, ora com a outra e com o órgão jurisdicional, disciplinar juridicamente as suas condutas processuais é garantido por um conjunto de normas, subprincípios ou regras, espalhadas ao longo de todo o Código de Processo Civil. A vontade das partes é relevante e merece respeito. Há um verdadeiro microssistema de proteção do exercício livre da vontade no processo.
I) O CPC é estruturado de modo a estimular a solução do conflito por autocomposição: a) dedica um capítulo inteiro para regular a mediação e a conciliação (arts. 165-175); b} estrutura o procedimento de modo a pôr a tentativa de autocomposição como ato anterior ao oferecimento da defesa pelo réu (arts. 334 e 695); cJ permite a homologação judicial de acordo extrajudicial de qualquer natureza (art. 515, III; art. 725, VIII); d) permite que, no acordo judicial, seja incluída matéria estranha ao objeto litigioso do processo (art. 515, § 2º); e) permite acordos processuais (sobre o processo, não sobre o objeto do litígio) atípicos (art. 190). O sistema do direito processual civil brasileiro é, enfim, estruturado no sentido de estimular a autocomposição. A autocomposição é uma das formas de exercício do poder de autorregramento. Mesmo assim, respeita-se a vontade das partes de não resolver o litígio por autocomposição (art. 334, § 4º, I, CPC). 
II) É a vontade da parte que delimita o objeto litigioso do processo (arts. 141 e 490, CPC) e do recurso (arts. 1.002 e 1.013, CPC). Não por outra razão, o § 2º do art. 322 do CPC determina que a postulação deva ser interpretada de acordo com a boa-fé, exatamente como se deve fazer em relação aos atos jurídicos de um modo geral (art. 113, Código Civil). Como se sabe, ato jurídico é ato voluntário.
III) O CPC prevê um número bem significativo de negócios processuais típicos
IV) O CPC prevê uma cláusula geral de negociação processual, que permite a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos, uma vez preenchidos os pressupostos do caput do art. 190. Dessa cláusula geral surge o subprincípio da atipicidade da negociação processual, a mais importante concretização do princípio do respeito autorregramento da vontade no processo

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