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Formação do solo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar os fatores e processos de formação do solo. Identificar as principais formas de intemperismo físico e químico. Diferenciar rochas de minerais. Introdução A ciência do solo lida com os diversos processos que produzem os dife- rentes tipos de solo existentes. Ela engloba a física do solo, a química do solo, a biologia do solo e a pedologia, também conhecida como gênese do solo. Ao longo deste capítulo, você vai estudar os fatores que impactam diretamente a formação das diversas classes do solo, sistema aberto e dinâmico que constitui a base e a sustentação da sociedade humana e do ecossistema terrestre como um todo. Primeiramente, você vai conhecer os diversos processos que moldam as feições morfológicas do solo, como os fatores pedogenéticos (calcifica- ção, gleização, entre muitos outros). Depois, você vai se familiarizar com os diferentes processos de intemperismo químico e físico que provocam contínuas alterações nos solos. Esses fatores são essenciais para explicar características do solo como profundidade, cor e fertilidade. Por fim, você vai explorar os solos e seus constituintes. Assim, vai distinguir entre as diversas rochas e minerais que compõem os solos e são responsáveis pela sua correta classificação. Como os solos são formados? Assim como existem a atmosfera (ar), a hidrosfera (água) e a biosfera (vida), também há a esfera dos solos, a pedosfera. Ela é uma fi na camada que recobre a superfície sólida do planeta Terra tal qual uma casca recobre uma maçã. A pedosfera, ou seja, o conjunto de todos os solos, é fundamental para inúmeros processos vitais, como você pode ver na Figura 1. Entre as funções do solo, você pode considerar: produção de alimentos, fi bras e energia, regulação dos gases da atmosfera, reciclagem de dejetos orgânicos, habitat para organis- mos, meio para obras de engenharia, sistemas para suprir e purifi car a água (BRADY; WEIL, 2013). A palavra solo possui origem romana e deriva da palavra solum, que significa “fundo, fundação, terra ou chão”. Já minerais (do latim minera) são compostos químicos (na sua maioria em estado sólido) nos quais átomos e moléculas encontram-se distribuídos de forma ordenada e sistemática (cristalinos), como ocorre no quartzo, no feldspato e na mica, entre outros. Minerais possuem, em geral, as seguintes características: são sólidos, possuem estrutura cristalina e ocorrência natural, são inorgânicos e têm estrutura química definida. Por fim, por rocha entende-se o material que reveste a crosta terrestre. Ela é constituída por agregados que contêm um ou mais minerais ou mineraloides (LEPSCH, 2011). Por ser uma esfera que serve como interface entre as outras esferas, ou seja, que conecta as outras, o solo tem papel fundamental na regulação ambiental. Ele pode ser encarado como um dos principais recursos para a vida no Pla- neta. Dessa forma, é imprescindível que você conheça e estude os solos, bem como que saiba a melhor forma de utilizá-los e preservá-los simultaneamente. Para isso, nada melhor do que ir às origens — ou seja, saber de onde os solos vieram e como foram formados — para compreender mais profundamente esse importante recurso natural. Os solos são corpos tridimensionais, dinâmicos (em constante alteração) e vivos (com presença de organismos). Basicamente, são organizações de compostos sólidos (orgânicos e minerais — fase sólida) e espaços porosos contendo água (fase líquida) e ar (fase gasosa). Você talvez já possua uma definição clara do que é solo, mas provavelmente ainda não tem noção dos variados tipos de solos existentes. Só no Sistema Brasileiro de Classificação Formação do solo2 de Solos estão catalogadas 13 ordens, ou seja, 13 diferentes tipos de solos que diferem em atributos físicos, químicos, mineralógicos, topográficos (relevo), entre outros. Mas de onde vêm essas diferenças? A formação dos 13 diferentes tipos de solo, que são corretamente chamados de ordens, consiste basicamente em uma série de processos químicos e bioquímicos que ocorrem ao longo de milhões de anos. Tais processos resultam da ação direta de diversos fatores, indicados e resumidos nesta expressão: S = f (m, r, o, c, v, t). Essa expressão indica que os valores de todas as propriedades do solo (S), como pH, profundidade, textura (se é argiloso ou arenoso) e porosidade, são determinados pela ação e pela interação entre seu material de origem (m), seu relevo (r), seus organismos (o), seu clima (c) e sua vegetação (v) ao longo do tempo (t). Dessa maneira, as características encontradas nos diversos solos existentes são na realidade um reflexo dos processos pedogenéticos — ou seja, da origem do solo — aos quais esses solos estiveram subordinados ao longo de milhões de anos. Para você compreender melhor como funciona essa fórmula aparente- mente complexa, considere o exemplo a seguir, baseado em um cenário real. A ideia é que você compare dois solos: um formado no Hemisfério Norte, de clima temperado, e um formado no Hemisfério Sul, de clima tropical. Nesse caso, fica evidenciada a diferença no fator clima (c). No Hemisfério Norte, ocorrem invernos rigorosos, cobrindo a superfície terrestre com uma camada generosa de neve, fenômeno que raramente ocorre no clima tropical do Hemisfério Sul. Essa camada de neve que fica sobre a superfície reduz a velocidade dos processos químicos/bioquímicos, preservando o material de origem (rochas e minerais), de maneira semelhante ao que uma geladeira faz na preservação de alimentos. Dessa forma, os solos do Hemisfério Norte geralmente são mais preserva- dos, ou melhor, mais “novos” do que aqueles encontrados sob clima tropical. Assim, esses solos apresentam diferenças significativas na qualidade da argila (poder de reter água e nutrientes), na profundidade, na cor, no teor de matéria orgânica, etc. Na Figura 1, a seguir, você pode ver algumas das funções ecológicas e sociais prestadas pelas diferentes classes de solo. 3Formação do solo Figura 1. Diversas funções ecológicas e sociais prestadas pelas diferentes classes de solo. Fonte: Adaptada de Brady e Weil (2013). Meio para o crescimento das plantas Sistema de reciclagem de nutrientes e dejetos orgânicos Habitat para os organismos do solo Modi�cador da atmosfera Sistema para suprir e puri�car a água Meio para obras de engenharia SOLO Outro exemplo bastante interessante diz respeito ao fator m (material de origem). A formação do solo nada mais é do que o processo de transformação da rocha em “terra”. O material rochoso de origem (chamado algumas vezes de rocha-mãe, rocha matriz ou material de origem) pode variar bastante em relação às suas características e constituição; calcário, arenito, basalto e granito são alguns exemplos de rocha-mãe existentes. Se você analisar duas importantes rochas matrizes, o granito e o basalto, vai encontrar solos com diferenças na quantidade de areia e acidez, por exemplo. O granito é formado por um mineral chamado de quartzo, que, além de ser naturalmente ácido, é muito duro e resistente ao intemperismo. Já o basalto é formado por minerais máficos, ricos em ferro e magnésio, alcalinos e mais “moles”. Os solos provenientes da rocha granítica geralmente são mais ácidos e mais arenosos, e os solos derivados das rochas basálticas, mais básicos e argilosos. Conhecer as diferenças existentes no material de origem, ou seja, as diferenças das rochas e minerais, é fundamental para que você possa com- preender plenamente os atributos físico-químicos dos solos. Formação do solo4 Os fatores tempo, clima, organismos, vegetação, relevo e material de origem atuam de forma conjunta e com intensidades diferentes na formação dos diferentes tipos de solos. A ação conjunta dos fatores leva à atuação dos processos de formação de solos, que são divididos em processos gerais e específicos. São quatro os processosgerais, como você pode ver a seguir. 1. Adição: como o próprio nome sugere, é a entrada de materiais minerais e/ou orgânicos no solo. A adição pode ocorrer de forma natural, por exemplo, pela entrada de água da chuva com íons dissolvidos, ou pelo vento trazendo poeira. Mas também pode ocorrer de maneira antrópica, ou seja, feita pelo homem, por exemplo, pela adição de fertilizantes, corretivos, etc. 2. Remoção: são perdas minerais, orgânicas e químicas (água ou íons) de um solo. 3. Transformação: a rocha matriz se converte em rocha alterada e solo por meio de diversos processos de intemperização, dirigidos por diversos fatores, como clima e atividade biológica. 4. Translocação: ocorre por meio das camadas do solo de elementos como água e nutrientes, eluviação e iluviação de argila e matéria orgânica, ou ainda ciclagem de nutrientes realizada por espécies vegetais. No link ou código a seguir, você tem acesso ao site da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Lá, pode ler mais sobre a formação do solo. https://goo.gl/tXowFB Há ainda modelos mais específicos em relação aos processos de formação de solo (pedogênese). No total, há 10 diferentes processos específicos que integram alguns dos processos gerais que você viu anteriormente. Assim, no processo conhecido por ferralitização, há substituição de sílica por óxidos de ferro e alumínio, o que é bastante comum em solos intemperizados nacionais. Esse processo engloba remoção, transformação e translocação, exemplificando 5Formação do solo https://goo.gl/tXowFB que esses mecanismos atuam em conjunto e não separadamente (KAMPF; CURI, 2012). O Quadro 1 e a Figura 2 apresentam diagramas para que você compreenda melhor esses processos específicos. Fonte: Adaptado de Kampf e Curi (2012). Processos pedogenéticos Descrição e exemplos de ocorrência Ferratilização Remoção de Si que ocasiona níveis concentrados de óxidos de Fe e Al; latossolos e nitossolos. Silicificação Acúmulo de Si; matriz e estrutura do solo tornam-se adensadas (cimentadas); latossolos e argissolos amarelos coesos. Plintização Cátions de Fe são reduzidos e translocados, seguidos de oxidação e precipitação; origina plintita ou petroplinita; plintossolos. Argiluviação Migração descendente de argila; argissolos, luvissolos, horizontes E, lamela. Podzolização Componentes (Fe, Al e matéria orgânica) migram e acumulam-se em horizonte iluvial; espodossolos, orstein. Gleização Redução de Fe em ambiente anóxico ou anaeróbico; sua translocação forma horizontes acinzentados; gleissolos, planossolos. Calcificação Carbonatos acumulam-se, formação de nídulos ou camadas adensadas; luvissolos, chernossolos rêndzicos. Ferrólise Degradação de argila e formação de horizonte B textural; pinossolos, argissolos. Salinização Acúmulo de sais por evaporação; gleissolos sálicos. Sulfurização Oxidação de S causa acidificação; gleissolos tiomóficos. Quadro 1. Processos pedogenéticos Formação do solo6 Figura 2. Fatores pedogenéticos e sua interação com os fatores gerais remoção, transformação e translocação. Remoção Transformação Translocação 1 6 8 2 3 4 5 7 910 A era glacial, ou era do gelo, teve fim há 12 mil anos. Quando o gelo começou a se derreter, as rochas (material de origem) foram expostas aos efeitos climáticos, como a elevação da temperatura na sua superfície. Além disso, foram expostas aos efeitos de organismos e vegetais que começaram a se desenvolver à medida que as rochas iam se transformando em terra. Assim, o processo de formação do solo se acelerou com o tempo. A importância do intemperismo na gênese dos solos Por meio de diversas reações de intemperização, em um longo e lento pro- cesso natural, a rocha-mãe inalterada transforma-se gradualmente em rocha alterada. Além disso, seus minerais constituintes (litogênicos ou primários) 7Formação do solo eventualmente fi cam disponíveis para fazer parte do solo que está se origi- nando. Portanto, se a superfície de um planeta rochoso como a Terra nunca se alterasse, haveria somente rochas, sem a possibilidade de vida, visto que todos os organismos existentes precisam dos nutrientes que se originam das rochas e de seus minerais (LEPSCH, 2011). Como você sabe, às vezes as dificuldades da vida moderna são chamadas de “intempéries”; na formação dos solos, as intempéries atmosféricas culminam na biotransformação das rochas. Assim, as rochas se fragmentam, liberando minerais e sintetizando outros. Esses minerais já liberados dos cristais podem ligar-se no solo a argilas e matéria orgânica, ficando disponíveis para serem absorvidos e utilizados por seres vegetais e microorganismos. Os principais fatores físicos e químicos relacionados ao desgaste das ro- chas, ao intemperismo e à formação dos solos são reações químicas da água (hidrólise), do oxigênio e de outros gases da atmosfera, em especial o gás carbônico, que pode formar o ácido carbônico sob determinadas condições. A temperatura é outro fator preponderante que se relaciona diretamente à velocidade do intemperismo. Dado que grande parte das rochas se origina na subsuperfície e sob grande profundidade, condições de elevadas pressão e temperatura atuam na fragmen- tação da rocha e na solubilização de seus minerais. Além disso, influenciam a formação de outros minerais mediante a alteração dos minerais presentes nas rochas. O intemperismo físico (às vezes chamado de mecânico) altera o tama- nho da rocha, fragmentando-a em pedaços menores, e expõe uma quantidade maior de sua área superficial ao intemperismo químico, porém sem levar a alterações químicas. Cascalhos e areias são exemplos de materiais oriundos de rochas intemperizadas por vias mecânicas (LEPSCH, 2011). Alterações químicas (liberação e alteração de íons), como o próprio nome sugere, são causadas por intemperismo químico, ocasionando a dissolução e a solubilização de íons. Alterações químicas em rochas originam argila e sais; estes últimos (principalmente cátions) podem permanecer retidos nas cargas negativas de minerais de argila, já outros podem continuar dissolvidos até atingirem um estado estável no lençol freático, por exemplo. Em suma, são dois os tipos de intemperismo que atuam na transformação da rocha de origem: físico e químico. O intemperismo físico “quebra” as rochas, expondo-as ao intemperismo químico. Quanto mais “quebrada” for a rocha, maior a superfície que estará em contato com o ambiente e que sofrerá mais intensamente o intemperismo químico. Já o intemperismo químico é o agente transformador dos minerais originais da rocha matriz. É o intempe- rismo químico que modifica a composição original dos minerais das rochas, Formação do solo8 transformando-os em minerais de argila (componentes dos solos). Ele também atua na solubilização de nutrientes presentes nos minerais das rochas, que posteriormente são utilizados pelas plantas. No Quadro 2, a seguir, você pode ver os diferentes agentes dos intempe- rismos físicos e químicos e o modo como atuam. Físico Químico Temperatura Contrai e dilata a rocha, favorecendo a fragmentação. Oxidação O oxigênio mais abundante na atmosfera que no local de formação das rochas oxida os minerais originais. Gelo Acessa as fendas das rochas e, com o aumento do volume causado pelo congelamento da água, fragmenta a rocha. Solução A rocha, ao ser exposta, entra em contato com a água, que solubiliza alguns sais minerais originais da rocha. Ventos Correntes de ar contendo sedimentos atuam no desgaste das superfícies das rochas. Hidratação A água hidrata alguns minerais originais naturalmente desidratados, transformando-os e favorecendo o intemperismo. Chuvas O impacto da gotas contribui para o desgaste e a fragmentação da rocha. Hidrólise É a principal reação; a água quebra quimicamente os minerais, removendo a sílica e enriquecendo em óxidos. É o principal fator para o “envelhecimento” dos minerais de argila. Quadro2. Agentes dos intemperismos físicos e químicos e sua atuação 9Formação do solo Potencial agronômico de solos altamente intemperizados Solos tropicais altamente intemperizados são facilmente encontrados no Bra- sil e na América Latina. Ao longo das últimas décadas, houve uma grande expansão agrícola em direção a áreas do Brasil nas quais predominam solos dessa categoria, como ocorre em áreas do bioma cerrado, por exemplo. Isso somente foi possível devido a correções de solo realizadas com o objetivo de amenizar os efeitos tóxicos e indesejáveis de fatores comumente relacionados à intemperização elevada, com destaque para a acidez predominante desses solos (que possuem naturalmente, portanto, valores de pH mais baixos do que a neutralidade). Essa condição afeta o crescimento de espécies vegetais de diversas maneiras, entre elas por meio da menor disponibilidade de nutrientes no solo (TAIZ et al., 2017). Tais nutrientes podem se encontrar em formas menos biodisponíveis, como é o caso do micronutriente molibdênio e dos macronutrientes fósforo, cálcio e magnésio. O potencial hidrogeniônico (pH) do solo tem influência direta sobre o desenvolvimento de espécies vegetais. Além disso, afeta a eficiência de fertilizantes e a persistência de moléculas conhecidas como herbicidas, que possuem efeito fitotóxico. Além da elevada acidez, outras características bastante comuns em solos altamente intemperizados no Brasil incluem: níveis elevados de alumínio (Al), que impede o crescimento radicular e afeta a absorção de cátions (TAIZ et al., 2017); baixa capacidade de troca de cátions (átomos carregados positivamente, como cálcio, Ca2+, magnésio, Mg2+ e potássio, K+); baixa disponibilidade de nutrientes de forma geral; e alta capacidade de adsorção (retenção por estruturas inorgânicas) de fosfato, o que leva a baixos níveis de disponibilidade de fósforo às culturas agrícolas (FONTES et al., 2001). Contudo, nem todas as peculiaridades de solos altamente intemperizados são maléficas ou dificultam seu uso pela agricultura e pela pecuária. Apesar do seu elevado grau de intemperismo e da noção de que são solos “ruins” ou de baixo valor agroeconômico, esses solos na realidade apresentam diversas características desejáveis do ponto de vista agrícola. Assim, muitos desses solos Formação do solo10 altamente intemperizados possuem características benéficas do ponto de vista estrutural, apresentando boa porosidade e boa permeabilidade, além de estabi- lidade (característica diretamente relacionada à capacidade de percolação de água). Ademais, em geral apresentam excelente profundidade (FONTES et al., 2001). Portanto, quando devidamente corrigidos, esses solos podem suportar elevado crescimento e densa vegetação, permitindo enraizamento profundo e boa utilização de água e nutrientes disponíveis em maior profundidade. Rochas e minerais: materiais de origem dos solos Como você viu, os solos são formados a partir da biotransformação de rochas (comumente chamadas de horizonte R) e da posterior disponibilização de seus minerais. Acima do horizonte R localiza-se o horizonte C (saprólito), contendo material alterado de rocha. Acima deste está o solum, composto de diversas camadas como O, A, E e B (horizonte orgânico, horizonte mineral húmico, horizonte de máxima remoção de argila ou óxidos de ferro e horizonte de máxima agregação ou expressão de cor, respectivamente) (LEPSCH, 2011). Solos são, portanto, formados por uma gama de constituintes, com destaque para seus minerais e rochas. Estes constituem a fração inorgânica do solo, que responde pela maior porção dos componentes do solo e inclui subprodu- tos do intemperismo do material de origem, bem como reações entre estes (GIESEKING et al., 1975). Alguns minerais, como os de estrutura fibrosa sepiolite e paligorsquite, somente são encontrados em classes especiais de solos e ajudam na definição de qual é a rocha matriz existente que os originou. É importante você notar ainda que a formação de grandes quantidades de coloides inorgânicos nos solos é de suma importância para que estes possam dar suporte a uma comunidade vegetal complexa e adensada. Coloides (do grego kolla, cola) são agregados heterogêneos formados no solo que podem conter somente matéria inorgânica (minerais e rochas) ou também matéria orgânica (organismos como bactérias, fungos e actinomicetos). Os coloides do solo contêm basicamente as partículas de menor tamanho (argila) e fração húmica, sendo os grandes responsáveis pela fertilidade dos solos ao adsorverem íons e possibilitarem atividade química e troca catiônica. 11Formação do solo Solos altamente intemperizados (como é o caso dos argissolos e latossolos) são comuns no Brasil e na América Latina, onde sustentam grandes áreas de produção agrícola intensiva (FONTES et al., 2001). Nesses solos, de mineralogia aparentemente simples, predominam silicatos do tipo 1:1 e óxidos de ferro (Fe), alumínio (Al) e por vezes manganês (Mn) como integrantes da mineralogia da fração argila. Além disso, há predomínio de caulinita (Figura 3) como o principal mineral silicatado — este contém agrupamentos de sílica (Si02 ou SiO4) que interagem com íons metálicos, como o sódio (Na) e o magnésio (Mg), podendo ainda interagir com hidrogênio (H). Em relação aos principais óxidos de Fe presentes em solos intemperizados nacionais, destacam-se goethita e hematita (Figura 4). Figura 3. Mineral caulinita, considerado o principal mineral silicatado em solos nacionais. Fonte: Aleksandr Pobedimskiy/Shutterstock.com. Formação do solo12 Figura 4. Goethita (à esquerda) e hematita, os principais óxidos de Fe encontrados no Brasil. Fonte: a) Ilizia/Shutterstock.com; b) Bjphotographs/Shutterstock.com. Apesar do número relativamente baixo de minerais que predominam em solos tropicais intemperizados, estes podem se comportar de maneiras distintas devido à enorme variabilidade no tamanho de partículas no solo, no grau de envelhecimento e na substituição isomórfica, entre outros aspectos (FONTES et al., 2001). Além disso, há o efeito direto relacionado aos diferentes ambien- tes nos quais os solos são formados, que afetam diferentemente os minerais presentes nesses solos. A halita e o quartzo são dois minerais bastante comuns. A halita possui como fórmula NaCl (cloreto de sódio, também conhecido como sal de cozinha). Nesse mineral, cátions de sódio e ânions de cloro realizam ligação iônica, havendo transferência do elétron localizado na camada de valência do sódio para o cloro, formando cubos nos quais seis átomos de sódio se ligam a seis átomos de cloro. Já o quartzo (SiO2) possui composição totalmente distinta, contendo um átomo de silício (Si+4) ligado a dois átomos de oxigênio (O–2), e é um dos minerais mais comuns da litosfera (camada mais externa do Planeta, formada de rocha e solo). Minerais formam-se na natureza por meio de um processo conhecido como cristalização (LEPSCH, 2011). Esse processo ocorre ao longo de milhões de anos, a partir de um líquido ou gás sujeito a variações de pressão e temperatura, o que culmina com a união de íons em diversas estruturas e arranjos. O formato definitivo depende de diversos fatores, entre eles o espaço para a expansão 13Formação do solo existente na matéria-prima. Quando reduzidos, os minerais resultantes podem assumir a forma de conglomerados ou agregados cristalinos, em que poucas faces são distinguíveis. Além disso, o tamanho dos íons e a quantidade de átomos são fatores determinantes que ditam o arranjo final do mineral após o processo de cristalização. Os diferentes átomos possuem raio atômico de variados tamanhos. Assim, átomos menores e maiores podem constituir múltiplos arranjos, produzindo minerais com arranjos distintos que possuem as mesmas constituições quí- micas. O que muda é o ambiente onde os minerais se formaram. É o caso do diamante e do grafite, que contêm somente carbono. Assim, cátions como potássio (K+), chumbo(Pb+2), sódio (Na+), ferro (Fe+2) e cálcio (Ca+2) podem se arranjar ao redor de ânions comuns na litos- fera, como oxigênio (O–2), enxofre (S–2) e cloro (Cl–), de diferentes maneiras, levando à formação de estruturas como tetraedros (como no caso do quartzo), octaedros e outras estruturas derivadas desta. Por exemplo, tetraedros de silício (contendo quatro íons de oxigênio) podem unir-se uns aos outros, ou ainda ligarem-se a octaedros de alumínio, formando silicatos e aluminossilicatos. Importantes minerais formam-se na união tetraedro-tetraedro, como o quartzo, os feldspatos, as micas e as olivinas. De grande importância, os tetraederos e octaedros são as estruturas geométricas mais encontradas na crosta terrestre; eles sempre envolvem a combinação de oxigênio com diversos cátions. Substituições isomórficas e sua importância na formação dos diferentes minerais Até este ponto, você aprendeu sobre o que são minerais e rochas, viu como os minerais são formados a partir da união de diferentes elementos químicos ao longo do tempo e conheceu o modo como estes se arranjam de acordo com o tamanho dos diversos cátions e ânions. Algumas vezes, cátions são substituídos em um mineral por outros cátions de tamanho e valência similares (daí o nome “substituições isomórfi cas”), então se formam estruturas cristalinas similares, mas com claras diferenças na sua composição química. Esse processo é de ex- trema importância, pois leva à formação de diferentes minerais a partir de outros mais simples ou comuns, como ocorre com frequência em minerais silicatados. Entretanto, diferenças no tamanho (apesar de pequenas) e, principalmente, na valência do cátion substituto levam a desbalanços de carga que devem ser Formação do solo14 equacionados, originando minerais com menor resistência e maior fraqueza na estrutura, sendo estes mais suscetíveis à decomposição (LEPSCH, 2011). Curiosamente, não há substituições conhecidas que ocorrem envolvendo o quartzo, o que explica sua excelente estabilidade. Por outro lado, em feldspatos pode haver a substituição de cátions — no caso, o alumínio substitui o silício, e o eventual desbalanço de cargas leva à associação de cátions como sódio e potássio ao cristalino. Desse processo, originam-se ortoclásios, albita e anortita, incluídos no grupo dos feldspatos porém detentores de menor resistência pelos motivos que você viu anteriormente. O arranjo de átomos no interior dos diferentes minerais e sua composição química leva a uma gama de propriedades apresentadas por eles. Assim, átomos unidos forte- mente dão origem a minerais de elevada dureza e resistência à decomposição, como ocorre no quartzo. Outras propriedades importantes incluem: clivagem, originária de ligações químicas mais fracas; fratura, originária de distribuição de força desigual em superfícies irregulares ao longo do tempo; brilho, que tende a ser vítreo em minerais em que predominam ligações iônicas; e cor. Além dessas propriedades, minerais ainda são classificados quanto ao traço, à densidade e ao hábito cristalino que possuem. Um mineralogista chamado Mohs desenvolveu, no início do século XIX, uma escala utilizada até hoje para determinação da dureza de minerais. Nessa escala, o talco ocupa a posição de menor dureza (1) e o diamante possui o valor 10 para indicar a maior resistência e dureza. Por sua vez, o quartzo possui valor 7 (LEPSCH, 2011). Em avaliações práticas, costuma-se utilizar a unha na tentativa de riscar o mineral; caso se produzam riscos na superfície desse mineral, ele possui menor dureza do que a unha humana, que nessa escala tem um valor aproximado de 2. Já o canivete comum possui dureza em torno de 5. Outros minerais importantes para a indústria e a agricultura são o talco, a gipsita (gesso) e a calcita (constituinte principal do calcário). Eles possuem durezas na escala Mohs iguais a 1, 2 e 3, respectivamente. A apatita (valor 4 na escala Mohs) é utilizada na produção de fertilizantes fosfatados; e o coríndon (que possui valor de dureza igual a 9) é parte fundamental de esmeris e lixas. 15Formação do solo Tipos de rocha: o material de origem dos solos Como você viu, rochas nada mais são do que materiais sólidos formados por um mineral ou pela união de dois ou mais minerais (JENNY, 1941). Os dife- rentes minerais agregam-se seguindo padrões defi nidos, podendo constituir rochas como o granito. Este é formado pelo resfriamento de magma originário do interior da Terra e contém quartzo e feldspatos em associação a micas. O granito é, portanto, excelente exemplo de rocha ígnea (ou magmática). Além desta, existem rochas sedimentares e metamórfi cas. Como o próprio nome sugere, as rochas sedimentares formam-se a partir de materiais já existentes na superfície do Planeta. Tais materiais são transportados ao fundo ou ao longo de mares, lagos ou oceanos, onde ocorre solidifi cação; os arenitos são rochas que se incluem nessa categoria. Por fi m, rochas metamórfi cas são derivadas de outras que já foram classifi cadas como ígneas ou sedimentares e se formam sob grande pressão ou temperatura. Os solos originários das diferentes rochas matriz em muito refletem as características dessas rochas. Nas rochas sedimentares, a friabilidade (coesão entre as partículas) afeta diretamente os solos que serão formados. Diversas planícies na costa brasileira possuem solos que na realidade foram formados a partir de sedimentos trazidos pelo mar ou praias antigas. Já a base dos morros e montanhas contém solos que se desenvolveram a partir de sedimentos que foram erodidos como efeito das chuvas e posterior saturação por água, sendo arrastados à base. A presença de diferentes tipos de minerais e rochas é fator preponderante na formação de um solo. Sua qualidade e sua composição — aliadas aos fatores relacionados à pedogênese do solo — ditam a classe de solo formada e sua vocação para o uso agrícola, por exemplo. Somente o manejo consciente e racional e um perfeito en- tendimento do complexo planta-solo-atmosfera pode garantir a sustentabilidade da produção de alimentos e a conservação do solo. Preservando o solo, alicerce da produção e da vida, é possível garantir que gerações futuras desfrutem dos mesmos bens de que você dispõe hoje. Formação do solo16 BRADY, N.; WEIL, R. R. Elementos da natureza e propriedades dos solos. Porto Alegre: Bookman, 2013. FONTES, M. P. F.; CAMARGO, O. A.; SPOSITO, G. Eletroquímica das partículas coloidais e sua relação com a mineralogia de solos altamente intemperizados. Scientia Agricola, v. 58, n. 3, p. 627-646, jul/set. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sa/v58n3/ a29v58n3.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2018. GIESEKING, J. E. et al. Soil components: inorganic components. New York: Springer- -Verlag, 1975. v. 2. KAMPF, N.; CURI, N. Formação e evolução do solo (Pedogênese). In: KER, J. C. et al. Pedologia: fundamentos. Viçosa: SBCS, 2012. LEPSCH, I. F. 19 lições de pedologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. TAIZ, L. et al. Fisiologia e desenvolvimento vegetal. Porto Alegre: Artmed, 2017. Leitura recomendada EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Brasília: EMBRAPA, 2006. Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/downloads/sistema-brasileiro-de- -classificacao-dos-solos2006.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2018. 17Formação do solo http://www.scielo.br/pdf/sa/v58n3/ https://www.agrolink.com.br/downloads/sistema-brasileiro-de- Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. C02_Atributos_solo.indd 14 27/07/2018 17:08:13
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