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Plano de Manejo do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco

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1 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Esta publicação contém o resumo executivo do Plano de Manejo do Refúgio de Vida 
Silvestre (RVS) Mata do Junco criado pelo Decreto Estadual n° 24.944, de 26 de dezembro 
de 2007, com área oficial de 894.76 ha. A criação dessa unidade atende a necessidade de 
uma preservação do habitat do macaco-guigó Callicebus coimbrai, espécie ameaçada de 
extinção, e pela necessidade de se conservar importantes mananciais que abastecem o 
município de Capela. 
O Refúgio de Vida Silvestre tem por objetivo proteger ambientes naturais onde se 
asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora 
local e da fauna residente ou migratória (SNUC, 2000). O RVS objetiva também o 
desenvolvimento de atividades científicas, educacionais e recreativas obedecendo às 
diretrizes propostas no plano de manejo (IBAMA, 2002). 
O plano de manejo do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco foi elaborado a partir de 
estudos técnicos realizados nos meios biótico, abiótico e antrópico, além de oficinas e 
reuniões com especialistas, técnicos governamentais e representantes das comunidades 
envolvidas. 
Desse esforço, resultou um documento que apresenta, entre outros aspectos, a inserção da 
Unidade de Conservação no contexto nacional, regional e as características 
socioambientais, históricas e culturais da região onde ela se insere, incluindo a zona de 
amortecimento que a protege. 
Por fim - e com base nessas premissas - o documento apresenta o zoneamento ambiental 
da unidade e um detalhado plano de ação por áreas de atuação. 
 
2 
 
1 - INTRODUÇÃO 
 
A criação do RVS Mata do Junco contempla os anseios da comunidade da região de Capela 
de preservar um remanescente de Mata Atlântica do Estado de Sergipe, com a presença de 
espécies ameaçadas de extinção ou de distribuição restrita e as nascentes do Riacho 
Lagartixo, que auxiliam o abastecimento municipal de água, possibilitando a realização de 
atividades de pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo e visitação pública 
sujeitas a restrições previstas no seu plano de manejo. 
Conforme prescrito pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o plano de 
manejo de uma unidade de conservação visa criar as condições necessárias para que ela 
venha alcançar seus objetivos, no caso de um refúgio de vida silvestre, é de assegurar 
condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da 
fauna residente ou migratória, aliada ao desenvolvimento de atividades científicas, 
educacionais e recreativas obedecendo às diretrizes propostas no plano de manejo (IBAMA, 
2002). 
Trata - se de um documento técnico que reúne informações sobre o meio físico (geologia, 
geomorfologia, solos, hidrografia e clima), biológico (vegetação e fauna) e socioeconômico. 
Essas informações, categorizadas como Diagnóstico Socioambiental, que serve de base 
para a formulação do zoneamento ambiental, ou seja, a divisão do território da unidade em 
parcelas, indicando qual o tipo de uso e ocupação da terra pode ser exercida em cada uma 
dessas parcelas, de modo que os objetivos da unidade possam ser melhores atingidos 
através de um detalhado planejamento de programas e ações. 
 
 2 - LOCALIZAÇÃO DO RVS E SUA REGIÃO 
O Refúgio de Vida Silvestre da Mata do Junco está localizado no centro oriental do Estado 
de Sergipe, pertencente à Mesorregião Leste Sergipana e Microrregião Sergipana do 
Cotinguiba, abrangendo parte do município de Capela (Figura 01). 
O acesso ao Refúgio só pode ser através do transporte rodoviário (Figura 02), sendo este 
variado destacando: 
− partindo de Aracaju/SE na BR-101 segue até o município de Capela entra na BR 
SE-226, não asfaltada, seguindo até o povoado de Lagoa Seca. 
− na região oeste do Estado através do município de Nossa Senhora das Dores 
pela BR SE-339 com uma distância de cerca de 16 Km até Capela e depois 
segue pela BR SE-226. 
− na região leste do Estado através do município Japaratuba segue pela BR SE-
226 numa distância de 3 Km segue pela BR SE-101 por 1 Km e segue 
novamente pela BR SE-226 por aproximadamente 16 Km. 
− via SE-100 Rodovia César Filho, conhecida como Litoral, a qual liga a Barra dos 
Coqueiros à Pirambu, até a entrada da BR-101 sentido Capela. 
Para chegar à sede do RVS Mata do Junco é necessário utilizar a Rodovia SE-208 que faz 
limite da unidade na porção oeste. Existem outras estradas secundárias não asfaltadas 
saindo a partir da Rodovia SE-422 que dá acesso principal ao Município de Capela. 
 
3 
 
Figura 01 - Localização do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco 
 
Fonte: STCP, 2010. 
O acesso mais utilizado é partindo da BR 101, seguindo em direção à Capela pela SE-208 
por onde se percorre cerca de 14,5 km até a entrada de acesso à sede da Unidade. 
A partir da sede do município de Capela se percorre 3,6 Km pela SE-208, sentido Aracaju 
até a sede da UC. 
 
4 
 
Figura 02 - Mapa Rodoferroviário do Leste do Estado de Sergipe 
 
Fonte: STCP, 2010. 
 
2.1 - População Inserida na Zona de Amortecimento do RVS ou Entorno Imediato do 
RVS 
Conceitualmente as agrovilas podem ser consideradas como um conjunto habitacional de 
pequenas casas e com infraestrutura básica necessária para a comunidade residente (na 
agrovila ou próximo à ela). 
A criação de agrovilas no assentamento José Emídio dos Santos visa à pulverização da 
ocupação com fins de facilitação da instalação da infraestrutura necessária e a proximidade 
das moradias dos assentados de seus lotes de produção. 
2.1.1 - Assentamento José Emídio dos Santos 
O assentamento José Emídio dos Santos foi organizado para a produção de alimentos, de 
acordo com a aptidão local e dos assentados. A criação de agrovilas no assentamento visa 
à pulverização da ocupação com fins de facilitação da instalação da infraestrutura 
necessária e a proximidade das moradias dos assentados de seus lotes de produção. A 
distribuição por agrovilas dos assentados é por afinidade, a fim de reduzir as tensões. 
Criado pelo INCRA em dezembro de 2005, o Projeto de Assentamento (PA) José Emídio 
dos Santos se insere em área pertencente a extinta Usina Santa Clara, localizada no Vale 
do Cotinguiba, a qual contava com terrenos de 5 grandes propriedades e outras menores. 
Para consolidação do PA na área, houve grande disputa de terra. 
A Usina Santa Clara (Foto 01), sob a ótica econômico-produtiva, foi uma das mais 
importantes usinas de Sergipe. Explorou a terra com o cultivo de cana-de-açúcar, voltado 
 
5 
 
para fabricação de açúcar em sua unidade industrial. No início dos anos 80 iniciou sua 
decadência em decorrência da disputa pelo controle financeiro da empresa entre os irmãos 
após falecimento do patriarca da família. 
Na década de 90, com a falência efetiva da Usina, seus proprietários a abandonaram 
mantendo apenas pastagem e um pequeno rebanho de gado bovino para justificar sua 
posse. Em 1995 o INCRA constatou a improdutividade do imóvel e sua viabilidade para o 
assentamento de 220 famílias de trabalhadores rurais sem-terra1 (época em que ocorreu a 
primeira ocupação da fazenda) (Ramos Filho, 2006). 
No período de 96 a 97 as tensões na área foram agravadas, culminando no assassinato do 
trabalhador rural acampado José Emídio dos Santos (daí o nome do PA em homenagem ao 
trabalhador), sendo o primeiro morto nas lutas no campo implementadas pelo MST, em 
Sergipe. 
Somente em 2005 as famílias receberam a imissão de posse dada pela justiça. Essas 
famílias eram compostas basicamente por bóias-fria (ex-cortadores de cana). A origem das 
famílias está vinculada principalmente a seis municípios sergipanos: Dores, Propriá, 
Japaratuba, Santo Amaro, Capela e Rosário. Além desses municípios ainda há poucas 
famílias do Sul/Sudeste do País. 
Foto 01 - Ruínas da Usina Santa Clara 
 
 Fotos: Cavilha, 2009. 
Atualmente, o PA José Emídio dos Santos conta com 3.170 hectares. Desse total, 1.781,8ha 
(5.880 tarefas de terra2, 20 tarefas delote rural e 1 tarefa de lote urbano para cada 
assentado) são destinados ao plantio. O restante se constitui, segundo o coordenador do 
assentamento, em APP e Reserva Legal. O assentamento está distribuído em 8 agrovilas 
pulverizadas: Chapada do Aparecido, Santo Antônio, Campinhos, Boa Vista, Cantagalo, 
Eucalipto, Sede e Analiço Barros (Miranda). Dessas 8 agrovilas (identificadas na Figura 03), 
apenas 2 não estão no contexto imediato do Refúgio: Sede e Eucalipto. 
 Os nomes dessas agrovilas estão vinculados ora a identidade local (proximidade dos 
povoados) ora a algum personagem público que se pretendeu homenagear. 
 
 
 
 
 
 
1 A questão legal associada a luta pela terra entre INCRA e a Usina pautou-se em duas ações (Ação Cautelar Atípica 
contra o INCRA e a Ação Ordinária de Revisão Cadastral e de Exclusão de Desapropriação). 
2 1 hectare = 3,3 tarefas 
 
6 
 
• Povoado Estreito 
Os moradores do povoado Estreito (Foto 02) desconhecem a história de sua formação, 
porém possivelmente está vinculada a época do auge dos canaviais e das usinas no 
município. Em relação ao tipo de moradia no povoado destacam-se as de taipa1 em ‘Pau-a-
Pique’. Atualmente é manifestação tradicional da arquitetura brasileira, em especial das 
regiões mais carentes, traduzindo-se num reflexo das condições sócio-político-cultural das 
localidades ou regiões. Sua construção é um processo artesanal com aproveitamento dos 
recursos locais disponíveis. 
Foto 02 - Aspectos do Povoado Estreito 
 
Legenda: (Esq.) Aspectos da Organização Espacial do Povoado; (Dir.) Tipo de Casa. 
Foto: Cavilha, 2009. 
• Povoado e Agrovila Boa Vista 
O Povoado Boa Vista é centenário. Segundo o morador antigo sr. Miguel (integrante da 
Associação Comunitária da Boa Vista), o povoado se iniciou concomitante ao surgimento 
das usinas e dos plantios de cana. A Agrovila Boa Vista, está lá instalada, pois algumas 
pessoas do povoado, que participaram desde a época do acampamento na fazenda da 
Usina Santa Clara, faziam parte do povoado (Foto 03). 
Foto 03 - Aspectos do Povoado e Agrovila Boa Vista 
 
 
1 A Taipa consiste em uma parede construída principalmente com adobe (bloco semelhante ao tijolo, preparado 
com argila crua, secada ao sol). 
A B 
 
7 
 
 
Figura 03 - Localização das Agrovilas e Comunidades do Entorno do Refúgio da Vida 
Silvestre 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
(verso) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Foto 03 – (Cont.) Aspectos do Povoado e Agrovila Boa Vista 
 
 
Legenda: (A) Escola Municipal Rural Boa Vista, (B) Posto de Saúde, (C) Igreja do Povoado, (D) Campo de 
Futebol da Agrovila, (E) Moradias da Agrovila Boa Vista com plantio de macaxeira, (F) Residências da 
Agrovila. 
 Foto: Cavilha, 2009. 
• Povoado Saco Leitão e Lagoa Seca 
Segundo entrevista com a professora Maria Sales Santos, o povoado de Lagoa Seca recebe 
esse nome por conta de um fato ocorrido com uma cigana chamada Iracema que foi 
assassinada por seu esposo de nome Eucalisto nas águas da lagoa. A partir disso, no 
período de estiagem, a lagoa começou a secar. 
Os povoados de Saco Leitão e Lagoa Seca são muito próximos. Além de propriedades com 
características urbanas como lote de menor tamanho, pequenos plantios nas casas em 
fronte a estrada de acesso ao Refúgio, há propriedades maiores com atividades econômicas 
desenvolvidas, principalmente de pecuária e criação de galinha nas áreas localizadas nas 
estradas secundárias (Foto 04). 
 
 
 
 
 
 
C D 
E F 
 
10 
 
Foto 04 - Aspectos do Povoado Saco Leitão e Lagoa Seca 
 
 Legenda: (A e B) Escola Municipal Rural Lagoa Seca, (C) Rua no povoado de Saco Leitão. 
 Foto: Cavilha, 2009. 
• Povoado Miranda e Agrovila Analiço Barros (Miranda) 
O Povoado Miranda é um dos três maiores e mais desenvolvidos do município, juntamente 
com Pedras e Puringa. Próximo a ele localiza-se a Agrovila Analiço Barros também 
conhecida como Miranda (Foto 05). 
Foto 05 - Aspectos da Vila e Agrovila Miranda 
 
 
 
A B 
 
11 
 
Foto 05 – (Cont.) Aspectos da Vila e Agrovila Miranda 
 
 
Legenda: (A) Rua na Vila Miranda; (B) Praça em frente as casas construídas pela Prefeitura; (C) Casas 
construídas pela prefeitura; (D) Equipamentos da CVRD3 para prospecção de Carmelita; (E) Local de 
captação de água para abastecimento da Vila; (F) Fachada da Escola Municipal. 
 Foto: Cavilha, 2009. 
• Povoado e Agrovila Canta Galo 
Segundo informações de uma das moradoras mais antigas do povoado sra. Gildete, a 
história de como se formou a localidade foi perdida quando os mais antigos faleceram. 
Conta que a mais de 50 anos existe o povoado, mas que antigamente as características das 
propriedades eram diferentes. As casas eram mais espaçadas caracterizando-se como 
sítios. Havia um armazém para suprir algumas necessidades da comunidade e as principais 
usinas eram a Santa Clara e a Vassoura. Conta que grande parte dos moradores não possui 
escritura dos terrenos, pois os mesmos eram parte da Usina Santa Clara. Apenas 3 
proprietários do povoado possuem documentação de regularidade do terreno. Inclusive, 
esse é um dos principais fatores a contribuir para a não melhoria da localidade, pois a 
prefeitura não pode investir em melhorias nas casas, por exemplo, pois os moradores não 
possuem documentos de propriedade (Foto 06). 
 
 
 
 
 
3 CVRD - Companhia Vale do Rio Doce. 
E F 
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12 
 
Foto 06 - Aspectos do Povoado Canta Galo 
 
 
Legenda: (A) Escola Municipal Rural Canta Galo; (B) Tipo de residência de taipa; (C e D) Rua do Povoado. 
Foto: Cavilha, 2009. 
 
• Agrovila Campinhos 
A Agrovila Campinhos possui condição de acesso dificultada pelo atual estado da estrada 
de acesso e pela precariedade da ponte de acesso (Foto 07).E observou-se também a 
degradação das margens do Riacho Lagartixo. 
Foto 07 – Aspectos da Agrovila Campinhos 
 
 
 
 A B 
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 A B 
 
13 
 
Foto 07 – (Cont.) Aspectos da Agrovila Campinhos 
 
Legenda: (A) Entrada da Agrovila; (B) Precariedade da ponte sobre o riacho Lagartixo; (C) Utilização do riacho; 
(D) Degradação das margens do riacho Lagartixo. 
 Foto: Cavilha, 2009. 
• Agrovila Chapada do Aparecido 
Nessa agrovila são observadas situações de conflito entre os assentados, o assentamento e 
próprio Movimento dos Sem Terra (MST). Segundo o porta-voz da agrovila, Sr. Cícero 
conhecido como Mascate, a seis meses a construção das casas está paralisada. Situação 
que os obriga a morar em condições de precariedade e descontentamento geral da 
comunidade que diz não poder ter vínculo empregatício e nem trabalhar fora de seus lotes, 
em contrapartida não podem trabalhar em seus lotes, pois faltam recursos financeiros e não 
conseguem liberação dos recursos (pois não participam do projeto conjunto do 
assentamento) de R$21.000,00 que está disponível para cada assentado trabalhar em suas 
terras. A Foto 08 apresenta aspectos da Agrovila Chapada do Aparecido. 
Foto 08 - Agrovila Chapada do Aparecido 
 
 
 
 
 
 
 D C 
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14 
 
Foto 08 - (Cont.) Agrovila Chapada do Aparecido 
 
Legenda: (A) Estrada de Acesso a Agrovila; (B) Vista das Casas em construção; (C) Moradores a espera da 
construção das casas; (D) Vista da agrovila Campinhos e Santo Antonio a partir da estrada da agrovila. 
Foto: Cavilha, 2009. 
• Agrovila Santo Antônio 
É a que está mais próxima da Unidade na porção oeste. Durante campanha de campo 
foram observadas a utilização de técnicas de irrigação utilizando água de um riacho afluente 
da margem esquerda do Lagartixo. 
• Usina Junco Novo 
A Usina Junco Novo, localizada no entorno da UC, mas com sua Reserva Legal inserida 
nela, é um exemplo da perpetuidade dos plantios de cana-de-açúcar no municípiode 
Capela. Centenária, seu primeiro dono foi Antônio Moreira Mota, e atualmente continua 
sendo passada de pai para filho. A Foto 09 apresenta aspectos da Usina Junco Novo e do 
processo de fabricação de seus produtos. 
Foto 09 - Usina Junco Novo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 C D 
A B 
 
15 
 
Foto 09 - (Cont.) Agrovila Chapada do Aparecido 
 
 
Legenda: (A) Entrada da Fazenda; (B) Armazenagem dos produtos; (C) Alimentador da caldeira; (D e E) 
Gerador; (F) Controle automático dos processos da caldeira. 
Foto: Cavilha, 2009. 
A Usina emprega cerca de 300 a 350 funcionários, que em geral residem nos povoados 
próximos e recebem transporte dos povoados à indústria. 
 
3 - CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIOECONÔMICO 
O RVS Mata do Junco está inserido no contexto da cidade de Capela no Estado de Sergipe, 
localizada a 67 quilômetros de Aracaju, datam de 1735 e contam que o primeiro povoado na 
região surgiu devido à ocupação das terras do entorno da capela de Nossa Senhora da 
Purificação, na qual era conhecida como “Tabuleiro da Cruz” (CINFORM, 2002). 
Em Capela existe uma série de lendas, muitas festas folclóricas e festividades religiosas, a 
principal é Festa do Mastro, realizada no dia de São Pedro. Como os demais elementos dos 
festejos juninos que estão ligados à colheita, os mastros simbolizam a fecundação vegetal. 
Identifica-se nas festas religiosas do município um traço marcante da cultura local, tanto que 
Capela é conhecida por ter uma das maiores e mais importantes festas juninas do Estado 
de Sergipe e do Nordeste, atraindo milhares de turistas todos os anos, em especial nos 
meses de Maio e Junho, os quais vêm tanto para os preparativos quanto para a festa do dia 
29 de Junho (dia de São Pedro – Foto 10). Tendo início no final do mês de maio, a Festa do 
Mastro reúne várias comemorações durante um mês. No dia 31 de maio acontece a 
Sarandaia, este evento reúne foliões, acompanhados de uma banda e fogos de artifício, 
saem às ruas pedindo prêmio para serem utilizados no dia de São Pedro. 
C D 
E F 
 
16 
 
Durante primeira quinzena de junho são realizados mais dois eventos. Neste período existe 
a escolha da Rainha de São Pedro. E, no dia de Corpos Christi os moradores vão até a 
Mata do Junco para escolher a árvore que servirá de mastro na festividade final. Antes da 
retirada do mastro da Mata do Junco (Foto 10), se extraía a árvore da Mata do riacho 
Favela, próxima a sede municipal (informações do Sr. Miguel – antigo morador da 
comunidade de Boa Vista). 
Criada em 1930, a Festa do Mastro ganhou tamanho, atualmente os participantes chegam a 
5 mil pessoas, entre moradores de Capela e turistas. 
Foto 10 - Festa de São Pedro e Retirada do Mastro em Capela 
 
Fonte: CINFORM, 2009. Disponível em: http://www.cinform.com.br/hotsites/capela2009/inicio.asp. 
3.1 - Infraestrutura 
As agrovilas possuem uma infraestrutura dotada de casas (Foto 11), construídas, a partir de 
2007 pelo Instituto Patativa do Acaré (segundo o coordenador do projeto, esse instituto é 
vinculado ao MST). O recurso para construção foi de R$5.000,00 fornecido pelo INCRA e 
R$ 6.000,00 pela Caixa Federal. Durante visita de campo nas agrovilas, algumas das 
queixas de moradores das próprias agrovilas, se referiram a não construção e término de 
muitas das 280 casas planejadas para o assentamento e cujos recursos já teriam sido 
liberados. 
As casas, originalmente, possuem metragem de 6 x 11 metros, 3 quartos, cozinha, sala e 
banheiro. O acabamento é com cerâmica. Após o recebimento do contrato de Concessão de 
Uso é possível fazer alterações e ampliações nas casas. 
Foto 11 - Modelo de Casa e Arruamento Adotado nas Agrovilas do Assentamento 
 
 Fotos: Sampaio, 2009. 
 
17 
 
Nenhuma possui esgotamento sanitário e saneamento básico. Porém, estão incluídas no 
Programa Casa Nova Vida Nova resultado de uma parceria entre o Governo Federal, Caixa 
Econômica e o Governo do Estado de Sergipe, visando garantir a construção de moradias 
dignas a famílias de baixa renda que vivem em situação de risco. Dessa forma, já estão 
previstas a pavimentação das ruas das agrovilas com cascalho (piçarra) e a implantação de 
sistema de abastecimento de água por poço tubular profundo. 
A água no assentamento atualmente é proveniente de poços artesianos. 
A rede elétrica, gerenciada pela ENERGISA, fornece energia para todas as agrovilas, sendo 
que a iluminação dos postes é gerenciada pela prefeitura de Capela. 
Não há coleta de lixo, sendo este um dos principais problemas socioambientais do 
município, referenciados por quase todos os entrevistados no levantamento de campo e na 
Oficina de Planejamento Participativo. 
Não há escolas nas Agrovilas. Até a quarta série são utilizadas as escolas das comunidades 
do entorno. Para as séries posteriores, são utilizadas as escolas de Capela ou da 
Comunidade Miranda. Segundo o coordenador do assentamento, há projeto de implantar 
uma escola de ensino médio na agrovila de Santo Antônio e uma sala de aula de 
alfabetização ao 4º ano em cada agrovila4. Para o deslocamento utilizam transporte 
fornecido pela prefeitura (ônibus escolar). 
• Uso do Solo no Assentamento 
Essa infraestrutura é fundamental para a vida nas localidades e para o escoamento da 
produção. A atual produção do assentamento é quase toda voltada para o plantio de cana 
(Foto 12), representando, segundo o coordenador do assentamento, 1.340 tarefas de terra. 
Foto 12 - Plantio de Cana-de-açúcar no Assentamento José Emídio 
 
 Fotos: Cavilha, 2009. 
Além da cana produzem, em menor escala, macaxeira e feijão (além de outras culturas 
menos representativas como banana, inhame, frutíferas). O plantio, manutenção e 
destinação da produção é feita individualmente por cada assentado, não se tem uma 
organização coletiva. A implantação de um sistema coletivo é difícil devido a cultura local, 
sendo caracterizado pelo coordenador do assentamento como uma das maiores 
dificuldades dentro do assentamento. A única iniciativa é do chamado Grupo União e 
Progresso, localizado na agrovila Santo Antonio. Esse grupo propõe-se a plantar e cuidar 
das roças coletivamente, mas com produção individual. 
 
4 A duração obrigatória do Ensino Fundamental foi ampliada de oito para nove anos pelo Projeto de Lei nº 3.675/04. 
 
18 
 
Nas áreas produtivas do assentamento (Foto 13), há grande variabilidade de produção. 
Alguns se vinculam apenas a cana e roça de subsistências. Outros não produzem, pois 
ainda não possuem suas terras definidas. E ainda há outros como o sr. José Carlos da Silva 
(agrovila Boa Vista) cuja produção de inhame chegou a 4 toneladas e foi direcionada a 
atravessadores da região para ser revendida nas feiras locais que ocorrem semanalmente 
no município e em outros centros da região como Japaratuba. 
Foto 13 - Plantio de Culturas no Assentamento José Emídio 
 
 Legenda: (Esq.) Plantio de Macaxeira, (Dir.) Plantio de Banana. 
 Foto: Cavilha, 2009. 
O excedente da produção é quase todo vendido a atravessadores da região. Fato que reduz 
a renda do produtor e a produtividade, pois ficam apenas com os melhores produtos, 
descartando cerca de 30% do que é produzido. As maiores dificuldades encontradas para 
venda da produção, segundo alguns moradores do assentamento, é a falta de transporte 
para deslocamento entre a área de produção e as feiras de revenda. 
Visando a organização produtiva, o assentamento possui alguns projetos vinculados a 5 
linhas de produção: cana-de-açúcar, banana, mandioca, piscicultura e leite. A idéia é 
agregar valor a produção rural, inserindo no mercado produtos já industrializados, como é o 
caso do projeto já aprovado pelo INCRA denominado Terra Sol, no qual há a previsão de 
construção de uma fábrica de produção de farinha e um engenho (mini-usina) para 
produção de álcool, cachaça e vinagre. O local de instalação seriam os 7 hectares, onde 
anteriormente era a sede da Usina Santa Clara.Pretende-se, segundo coordenador do assentamento, instalar um programa de integração 
dos cultivos onde os resíduos de determinadas produções possam retornar ao ambiente 
com outra finalidade. Um exemplo citado foi a utilização do sorgo, tanto para produção de 
farinha como para silagem, sendo que uma parte iria para a indústria e o bagaço residual da 
industrialização seria destinado a alimentação das vacas leiteiras. 
Outra intenção é a inserção das mulheres no projeto frango de corte em conjunto com a 
Secretaria de Planejamento do Estado. Essa produção é responsável por parte da renda 
dos moradores, que a complementam com a Bolsa Família, alguns com a aposentadoria e 
outros programas do governo de repasse financeiro. 
 
4 - ANÁLISE DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO 
4.1 - Meio Físico do RVS Mata do Junco 
• Clima 
Não há um estudo com dados climatológicos sistematizados específicos da região da UC 
disponível para consulta pública. Deste modo, pesquisou-se no sistema Hidroweb da ANA 
 
19 
 
dados de três estações climatológicas situadas nas proximidades da UC, em séries 
históricas incompletas, referentes ao período entre 1953 e 2000 (Tabela 01). 
Tabela 01 - Estações Climatológicas nas Proximidades da UC, Período de Atividade e 
Médias Gerais de Precipitação Anual 
ESTACÃO CÓDIGO MUNICÍPIO RESPONSÁVEL STATUS PERÍODO MÉDIA (MM) 
Fazenda 
Cajueiro 1036063 Japaratuba ANA ativa 
1992-
2000 1292,7 
Siriri 1037047 Siriri SUDENE desativada 1964-1994 1286,7 
Capela 1037009 Capela SUDENE desativada 1953-1994 1300,4 
Org.: STCP, 2009. 
Segundo dados da ANA (2009), observam-se nas séries históricas médias bastante 
semelhantes entre as estações (Tabela 01). A precipitação máxima média anual de 2.109,5 
mm foi registrada em 1964 na estação Capela e a mínima média anual de 549,2 mm em 
1983 na mesma estação. 
• Geologia 
A UC localiza-se na área de ocorrência de rochas que compõem a Formação Riachuelo que 
são o Grupo Barreiras e os Depósitos Aluvionares das Formações Superficiais (Tabela 02). 
Tabela 02 - Unidades Litoestratigráficas Reconhecidas na Unidade de Conservação 
UNIDADE LITOESTRATIGRÁFICA ÁREA HA % 
Grupo Barreiras 874,1 96,5 
Depósitos Aluvionares 20,4 2,3 
Formação Riachuelo 11,1 1,2 
Fonte: CPRM, 2001. Organizado por STCP, 2009. 
As rochas associadas à Formação Riachuelo possuem idades relacionadas ao Cretáceo 
Inferior e caracterizam-se por serem as rochas mais antigas da UC. Os depósitos do Grupo 
Barreiras possuem uma faixa de idade que varia do Pleistoceno ao Terciário Médio, e os 
Depósitos Aluvionares caracterizam-se por serem as áreas mais recentes da UC, com idade 
associada ao Holoceno. 
Pode se observar que as áreas deposicionais associadas às Formações Superficiais 
compreendem 98,8 % da Unidade de Conservação, com 96,5 % associadas ao Grupo 
Barreiras e 2,3 % aos Depósitos Aluvionares, Figura 04. 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
Figura 04 - Mapa Geológico da Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre 
Mata do Junco. Escala 1:250.000 
 
Fonte: CPRM, 2001. Organizado por STCP, 2009. 
- Grupo Barreiras 
Os sedimentos do Grupo Barreiras estão distribuídos amplamente no leste do Estado de 
Sergipe, separados da linha de costa pelas coberturas continentais pleistocênicas e 
holocênicas. 
Nas fotos 14 e 15 observa-se a ocorrência de depósitos conglomeráticos polilíticos, com 
matriz arenosa intercalados com depósitos de argilitos. Normalmente os conglomerados são 
oligomíticos (fragmentos de poucas variedades petrográficas) sendo que os fragmentos 
apresentam-se arredondados, além da estratificação cruzada e tangencial indicando 
processos fluviais na deposição dos estratos. 
 
 
 
21 
 
 
Foto 14 - Afloramento dos Depósitos do Grupo Barreiras, com Intercalação de 
Camadas de Conglomerado com Matriz Arenosa e Argilitos, Ponto 5 
 
 Foto: STCP, 2009. 
 
Foto 15 - Detalhe dos Depósitos Conglomeráticos do Grupo Barreiras, Ponto 5 
 
 Foto: STCP, 2009. 
- Depósitos aluvionares 
Os depósitos aluvionares são constituídos predominantemente por areia, silte e argila, que 
formam terraços nas margens dos principais rios (Menezes Filho et al., 1988). Este material 
é muitas vezes retirado pela população local com finalidade de uso na construção civil. 
O material composto por areias e seixos de tamanhos variados provenientes da Formação 
Barreiras depositam-se nos rios e córregos da UC e entorno. Este material é muitas vezes 
retirado pela população local com finalidade de uso na construção civil. 
- Formação Riachuelo 
A Formação Riachuelo pode ser dividida em três Membros interdigitados entre si (Membro 
Angico, Taquari e Maruim) (Schaller, 1969). 
Conglomerado 
Argilito 
 
22 
 
A foto 16 ilustra a ocorrência das rochas sedimentares da Formação Riachuelo, com a 
presença de materiais bastante intemperizados, cuja principal característica é a composição 
por sedimentos finos, normalmente argilosos. 
Foto 16 - Afloramento de Rochas Sedimentares da Formação Riachuelo 
 
 Foto: STCP, 2009. 
• Geomorfológico 
De acordo com o Mapeamento Geomorfológico do Brasil (SISCOM/IBAMA, 2009) a área de 
estudo está inserida no Domínio Morfoestrutural de Embasamentos de Estilos Complexos, 
no subdomínio morfológico dos Embasamentos do Nordeste. Localmente a Unidade de 
Conservação está inserida na Unidade de Relevo denominada Depressão Sertaneja. 
Na região da UC, o Grupo Barreiras é palco de marcante ocupação antrópica como 
atividades agropastoris e a expansão do turismo. Os sedimentos do Grupo Barreiras 
constituem, em alguns locais, aquíferos importantes, responsáveis pelo abastecimento de 
água de algumas cidades e vilarejos. 
• Pedológico 
Na área da Unidade de Conservação predominam basicamente duas grandes ordens de 
solos, associadas principalmente aos grandes compartimentos geomorfológicos, aos grupos 
litológicos e aos aspectos vegetacionais. (IBGE, 2007). 
• Hidrografia 
Segundo a compartimentação hidrográfica do Brasil, determinada pela Resolução do CNRH 
no 32 de 15/10/2003, o RVS Mata do Junco está inserida na Região Hidrográfica do Atlântico 
Leste, que é constituída por diversas bacias hidrográficas que desaguam diretamente no 
Oceano Atlântico . 
Conforme a compartimentação hidrográfica do Brasil, o Estado de Sergipe está inserido nos 
contextos da Região Hidrográfica do São Francisco e da Região Hidrográfica do Atlântico 
Leste No contexto estadual, a SEMARH divide o estado em seis bacias hidrográficas. A UC 
insere-se no contexto da bacia do Rio Japaratuba. 
A bacia hidrográfica do rio Japaratuba é constituída pelo rio que lhe empresta o nome e tem 
como principais afluentes: o rio Japaratuba Mirim, Lagartixo, Siriri, Cancelo e riacho do 
Prata. Tem sua nascente na Serra da Boa Vista na divisa entre os municípios de Feira Nova 
e Graccho Cardoso e deságua no Oceano Atlântico, no município de Pirambu. 
 
23 
 
No seu percurso o rio Japaratuba possui planície aluvial muito larga, principalmente nos 
municípios de Capela e Japaratuba, onde se desenvolve o cultivo da cana-de-açúcar. 
A UC situa-se entre os rios Japaratuba e Siriri, sua parte nordeste posiciona-se junto ao 
divisor de águas destes rios e sua parte sudeste próxima à planície aluvial do Rio 
Japaratuba (Figura 05) . 
A exploração significativa em termos econômicos para a bacia hidrográfica e especialmente 
para o Estado é o potencial mineral explorado a exemplo do: petróleo, gás natural, sal 
gema, potássio, calcário, magnésio, turfa e areia, além da irrigação e expansão da cultura 
da cana-de-açúcar, também o turismo e lazer, pesca e abastecimento humano e animal. 
A unidade de conservação situa-se entre os rios Japaratuba e Siriri, sua parte nordeste está 
posicionada junto ao divisor de águas destes rios e sua parte sudeste próxima à planície 
aluvial do Rio Japaratuba (Foto 17). 
Foto 17 - Divisores de Bacias e Proximidades da Planície Aluvial do Rio Japaratuba 
 
Fonte: STCP, 2009.O Rio Japaratuba tem suas nascentes na cota aproximada de 250 m e sua bacia é 
caracterizada pelo formato alongado, baixa amplitude topográfica, com cotas altimétricas 
que decrescem paulatinamente de montante a jusante. A bacia apresenta-se simétrica, 
relevo ondulado com topos em geral aplainados e centro marcado pelo vale do Rio 
Japaratuba. A UC encontra-se no lado esquerdo da bacia (Foto 18). 
Foto 18 - Relevo Ondulado com Topos Aplainados, Típico da Bacia do Rio Japaratuba 
 
 Fonte: STCP, 2009. 
 
24 
 
 
Figura 05 - Bacia do Rio Japaratuba no Contexto Hidrográfico da Região 
 
 Fonte: STCP, 2009. 
A pequena área da UC não permite o desenvolvimento de extensa rede de drenagem em 
seu interior, no entanto há rios e riachos que a cortam diversas nascentes em seu interior. 
No quadro geral da rede hidrográfica, normalmente observam-se nos limites da UC e seu 
entorno, leitos fluviais perenes (aqueles cursos que drenam água o ano todo) e efêmeros, 
nitidamente marcados. 
Para efeito de planejamento e manejo da unidade de conservação, foi considerado como 
área de influência todas as bacias hidrográficas cujos rios principais fluem para o interior da 
unidade ou dela saem em especial a bacia do Riacho Lagartixo, dada sua importância como 
manancial. 
 
 
 
25 
 
 
4.2 - Meio Biológico do RVS Mata do Junco 
• Aspectos Biogeográficos da Região do Refúgio de Vida Silvestre Mata do 
Junco 
O RVS Mata do Junco insere-se no contexto do domínio morfoclimático da Mata Atlântica. 
Mesmo sendo o segundo maior fragmento de Mata Atlântica do Estado de Sergipe, a Mata 
do Junco foi alvo de poucos estudos vegetacionais. Santos et al., 2007 denominaram-na 
como um remanescente de Mata Atlântica sub-decidual, tipo ilhas, com uma variedade baixa 
de espécies arbóreas provocada pelo isolamento desses fragmentos. 
4.2.1- Vegetação 
A vegetação do RVS Mata do Junco é primordialmente uma floresta de tabuleiro, que no 
Estado de Sergipe está bastante desfigurada por ter sido desmatada para transformação em 
pastagens e plantações, e que atualmente está sujeita a erosão e um consequente processo 
de savanização, devido ao processo erosivo que retira os horizontes férteis do solo, 
deixando exposto um solo laterilizado e concrescido. 
Varias áreas do Refúgio Mata do Junco são áreas de solo lateritizado, comportando uma 
vegetação aberta não florestal com predomínio de arbustos esparsos e fortemente 
esclerófilos. 
Áreas de intenso processo regenerativo ocupam a maior parte do RVS Mata do Junco, a 
sucessão de espécies já alcançou estagio secundário de desenvolvimento. Nesta fase de 
regeneração ocorre o recrutamento de plântulas de espécies emergentes, que são 
responsáveis por grande parte da diversidade dentro de uma floresta e fundamentais para 
dar suporte alimentício à fauna associada, pois são as maiores produtoras de frutos e 
sementes de uma mata. 
- Floresta de Tabuleiro 
A vegetação de floresta de tabuleiro, vegetação típica da Mata Atlântica nordestina, é única 
nos limites do RVS Mata do Junco, possuindo diferentes níveis de conservação. 
A constante presença de clareiras chama a atenção de visitadores. As clareiras naturais, 
formadas por quedas naturais de árvores, proporcionam um processo de regeneração e 
sucessão de rápido efeito resiliente. Além das clareiras naturais, ocorrem clareiras 
originadas pela retirada de árvores em processos extrativistas. 
Este processo de origem antrópica permite o mesmo processo regenerativo intenso que 
ocorre nas clareiras naturais, mas quando a clareira ocupa áreas relativamente grandes do 
terreno, a esperada regeneração é dificultada pela distância no núcleo da clareira ao 
restante da vegetação. A presença constante de espécies pioneiras tais como a Umbauba, 
Cecropia spp., Pau pombo, Tapirira guianensis e Ingá-porca Sclerolobium paniculata 
indicam que há diferentes estágios de recuperação. 
- Áreas Degradadas de Solos Lateritizados 
Nas áreas mais degradadas da Mata do Junco podemos observar uma vegetação aberta 
composta dominantemente por arbustos e gramíneas típicas de regiões de cerrado ou de 
borda de mata. 
São áreas de difícil recuperação por conta do solo concrescido e sem horizontes A e B. A 
esclerofilia comum nas espécies que habitam estas áreas dificulta a ciclagem dos nutrientes, 
por dificultar a decomposição da serrapilheira, que é fundamental para a reconstituição dos 
horizontes A e B perdidos por lixiviação. Nestas áreas ainda são comuns a retirada de solo 
para a uso em aterramentos e construção de estradas de terra. Esta retirada intensifica o 
processo erosivo na região facilitando a formação de voçorocas. 
 
26 
 
- Áreas Agrícolas, Pastagens Abandonadas e Vegetação Regenerante 
As áreas onde a vegetação foi retirada e que o solo não sofreu lateritização encontra-se em 
processo regenerativo e são comuns nas bordas das matas preservadas, nas áreas de 
cultivo abandonadas e em fragmentos de mata que sofreram corte raso. Nestas áreas há 
um predomínio de espécies pioneiras como Cecropia pachistachya. É marcante a presença 
de diversas espécies de gramíneas nativas e forrageiras, como também a presença de 
Scleria melaleuca (cyperacea) conhecida como tiririca. 
4.2.2 - Fauna 
O diagnóstico ambiental da fauna foi desenvolvido a partir da Metodologia de Avaliação 
Ecológica Rápida (AER), direcionada tanto a ecossistemas terrestres quanto aquáticos, 
originalmente proposta pela The Nature Conservancy (TNC) como uma estratégia para a 
gestão de áreas protegidas (Sobrevilla & Bath; 1992; Sayre et. al., 2003). 
O trabalho foi realizado por uma equipe multidisciplinar, com estudos sobre vegetação, 
mastofauna, avifauna e herpetofauna. 
• Mastofauna 
A notável diversidade de formas, adaptações morfológicas e hábitos alimentares dos 
mamíferos, denotam uma grande eficiência na ocupação dos mais variados nichos, 
indicando que os mesmos mantêm uma complexa relação de interdependência com o meio. 
A posição geográfica do RVS Mata do Junco (Figura 06) indica que a mesma encontra-se 
na região “b” (sudeste da Bahia), mas muito próxima da “região nordeste”, potencialmente 
uma área de transição entre ambas, assim como numa área de transição com a Caatinga. 
Esta situação favorece a presença de uma mastofauna rica em espécies, potencialmente 
num equilíbrio tênue, cujos representantes estão sujeitos a níveis elevados de extinção. 
Figura 06 - Localização do RVS Mata do Junco (Capela, Sergipe) no Contexto das 
Zonas Biogeográficas da Floresta Atlântica 
 
 Fonte: Modificado de Vivo, 1997b. 
Neste levantamento foram registradas para o RVS Mata do Junco e região 23 espécies de 
mamíferos, distribuídas em oito ordens, 16 famílias e 22 gêneros (Anexo 01). Ao todo foram 
duas espécies de marsupiais, dois tatus, um tamanduá, cinco morcegos, dois primatas, 
cinco carnívoros, dois veados e quatro roedores (Foto 19). 
Esta riqueza representa 48,5% das famílias, 15,5% dos gêneros e 8% das espécies de 
mamíferos terrestres da Floresta Atlântica, com oito das dez ordens possíveis, segundo 
Miretzki (2006). Por exemplo, se considerarmos unicamente os registros obtidos em campo 
no RVS Mata do Junco, por visualização, vestígios e capturas, tem-se dez espécies (Anexo 
 
27 
 
01), o que representa 35,7% da fauna registrada no Parque Nacional Serra de Itabaiana de 
igual modo. 
Foto 19 - Mamíferos Registrados para o RVS Mata do Junco, Capela, Sergipe 
 
Legenda: (A) morcego Saccopteryx bilineata*, (B) morcego Platyrrhinus lineatus (C) morcego Micronycteris 
megalotis*, (D) morcego Carollia perspicillata*, (E) morcego-vampiro Desmodus rotundus, (F) tatu-peba 
Euphractus sexcinctus, (G) tatu-galinha Dasypus novemcinctus e (H) saruê Didelphis albiventris. As figuras 
marcadas com (*) foram tiradas de indivíduos da Reserva, as demais são ilustrativas. 
Foto: MIretzki, 2009. 
 
28 
 
• Caracterização Geralda Mastofauna 
Entre as várias formas de se caracterizar a mastofauna, optou-se por avaliá-la segundo três 
critérios, que sobejamente possuem interações recíprocas. São elas a massa corporal, a 
locomoção e a alimentação. Um resumo de todas estas informações é apresentado na 
tabela 03. 
A massa corporal (peso) reflete diretamente os aspectos biológicos das espécies (p.ex. 
reprodução, quantidade de alimento ingerido) e também no tamanho corporal. Porém, 
poucas espécies de mamíferos terrestres possuem um único tipo de alimento (p.ex. 
morcego-vampiro Desmodus rotundus, sangue). 
Para fins deste relatório apresentam-se seis classes: ARB. Arborícola (desloca-se 
regularmente pelo estrato arbóreo, geralmente tem cauda preênsil); TER. Terrestre 
(desloca-se pelo solo); SAQ. Semi-aquático (apresenta adaptações morfológicas para a 
ocupação do ambiente aquático, geralmente com membranas interdigitais); VOA. Voador 
(presença de asas); FOS. Semi-fossorial (desloca-se pelo solo ou sob ele, cava galerias ou 
buracos); ESC. Escansorial (apresenta grande facilidade para subir em árvores bem como 
usam intensivamente o estrato horizontal do ambiente) (tabela 03). 
Tabela 03 - Lista das Espécies de Mamíferos Registradas no RVS Mata do Junco e 
Região, Capela, Sergipe, Relacionadas a Suas Características Biológicas 
HÁBITO (HA) * 
(HA) 
LOCOMOÇÃO (LO) * 
(LO) I ... >= 100g pol = polinívoro arb = arborícola 
II 101 >= 500g ins = insetívoro ter = terrestre 
III 501 >= 1000g omn = omnívoro saq = semi-aquático 
IV 1001 >= 5000g car = carnívoro voa = voador 
V 5001 > ... her = herbívoro fos = semi-fossorial 
 fru = frugívoro esc = escansorial 
 hem = hematófago 
 pis = piscívora 
TÁXON NOME POPULAR CP HA LO 
Didelphis albiventris gambá-de-orelha-branca III/IV fru/omn esc 
Marmosops incanus cuíca, marmosa I ins/omn arb 
Dasypus novemcinctus tatu-galinha IV ins/omn fos 
Euphractus sexcinctus tatu-peba IV/V omn fos 
Tamandua tetradactyla tamanduá-mirim V ins esc 
Callicebus coimbrai guigó-de-Sergipe IV fru/omn arb 
Callithrix jacchus sagui III omn arb 
Saccpteryx billineata morcego I ins voa 
Desmodus roundus morcego-vampiro I hem voa 
Carollia perspicillata morcego I fru/pol voa 
Platyrrhinus lineatus morcego I fru/omn voa 
Micronycteris megalotis morcego I ins/fru voa 
Leopardus pardalis jaguaritica V car ter 
Puma yagouaroundi gato-mourisco IV car ter 
Cerdocyon thous cachorro-do-mato V omn ter 
Potos flavus jupará IV fru/omn esc 
Procyon cancrivorus mão-pelada IV/V omn saq 
Mazama americana veado-mateiro V her ter 
Mazama gouazoubira veado-catingueiro V her ter 
Sciurus sp. esquilo I her arb 
Hydrochoerus hydrochaeris capivara V her saq 
 
29 
 
HÁBITO (HA) * 
(HA) 
LOCOMOÇÃO (LO) * 
(LO) Cuniculus paca paca V her ter 
Dasyprocta prymnolopha cutia IV her ter 
* fontes: Fonseca et al. (1996), Eisenberg & Redford (1999). 
 
• Espécies Endêmicas dos Ecossistemas Regionais 
Endemismos remetem a questão da amplitude da distribuição das espécies. Em geral as 
espécies ditas endêmicas estão restritas a uma determinada área limitada e definida e 
apresentam populações pequenas, sendo na maioria das vezes estenóicas e ameaçadas de 
extinção. No caso do presente estudo, considera-se endêmica a espécie com ocorrência 
restrita a Floresta Atlântica do nordeste brasileiro. Nesse caso uma única espécie foi 
encontrada, o guigó-de-Sergipe Callicebus coimbrai. 
O guigó-de-Sergipe Callicebus coimbrai é uma espécie diurna e arborícola cujas populações 
sobrevivem em uma grande diversidade de áreas de florestas secundárias, ombrófilas, 
decíduas e enclaves úmidos da Caatinga nos Estado de Sergipe e norte da Bahia (Souza et 
al., 2008), sendo um dos dois primatas registrados na UC (o segundo é sagui Callithrix 
jacchus) durante os estudos para elaboração do Plano de Manejo do RVS Mata do Junco. 
Esta espécie é também uma das principais justificativas para a criação da referida UC. 
• Espécies Ameaçadas de Extinção 
As espécies ameaçadas de extinção encontradas no referente estudo elencou seis 
espécies, sendo dois primatas, três carnívoros e um artiodáctilo: guigó-do-Sergipe 
(Callicebus coimbrai); sagui (Callithrix jacchus); cachorro-do-mato (Cerdocyon thous); 
jaguatirica (Leopardus pardalis); gato-mourisco (Puma yagouaroundi); veado-mateiro 
(Mazama americana). 
Este conjunto de espécies apresenta indícios de que suas populações estão decrescendo 
pelo excesso de exploração e destruição extensiva de habitats ou por outro distúrbio 
ambiental, podendo inclusive ter suas populações seriamente reduzidas a ponto de não 
apresentarem condições de recuperação sem a intervenção humana. 
• Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas 
As espécies exóticas e cosmopolitas devem ser entendidas aqui como aquelas de caráter 
doméstico ou sinantrópico, ou seja, cuja existência na área de estudo tem haver com a 
presença humana. Entre essas temos os roedores camundongo Mus musculus, rato-preto 
Rattus rattus e ratazana Rattus norvergicus, sendo que apenas R. rattus tem mostrado 
alguma afinidade com ambientes melhor preservados. Embora nenhuma destas espécies 
tenha sido registrada no RVS Mata do Junco, sua presença, ao menos nas áreas de borda 
da Reserva deve ser considerada certa, em função da presença de resíduos domésticos, 
em algumas localidades. 
A região da unidade é dominada por uma atividade agropastoril, sendo, portanto comum a 
presença de gado ovino e bovino e de eqüinos Equus cabalos (Foto 20 A). Sempre cabe 
destaque a maciça presença do cachorro doméstico Canis familiaris (Foto 20 C e D), não 
apenas nas áreas urbanas vizinhas, como no interior do RVS Mata do Junco. Esta espécie 
tem sido apontada como uma das principais pragas em áreas florestais, decorrente de cães 
que invadem áreas florestais sozinhos ou em pequenas matilhas (v. Oliveira et al., 2008), 
quando não conseguem atacar grandes espécies de animais silvestres, os acuam, 
causando estresse e fazendo com que se movimentem para outras áreas, tornando-os mais 
expostos à caça e atropelamento. 
Ainda como outros danos à Unidade, ocorrem diversos sinais de presença humana no 
interior do RVS Mata do Junco, através do lixo deixado sem acondicionamento adequado, 
tráfego de veículos (carroças, automóveis, motocicletas, bicicletas) por todas as áreas da 
 
30 
 
UC, corte ou aproveitamento irregular de madeira (Foto 21), alta frequência de pedestres, 
bem como, a presença de caçadores que fazem o uso de armas ou armadilhas (Foto 22). 
Foto 20 - Mamíferos Exóticos e Sinantrópicos Presentes na Borda e no Interior do RVS 
Mata do Junco, Capela, Sergipe 
A B
C D
A B
C D
 
 Legenda: (A) Cavalo, próximo a captação do córrego Lagartixo, (B) Bois no interior do RVS Mata do Junco, (C) 
 Cachorros domésticos na borda do RVS Mata do Junco, (D) Cachorros domésticos no interior do 
 RVS Mata do Junco. 
 Foto: Miretzki, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
Foto 21 - Indicações da Presença Humana e seu Uso Irregular do RVS Mata do Junco, 
Capela, Sergipe 
 
 Legenda: (A) Caminho usado frequentemente por moradores da vizinhança do RVS Mata do Junco, incluindo 
 passagem com carroça, (B) Seleção de madeira para uso humano e (C) Morador local conduzindo 
 seus bois pelo interior do RVS Mata do Junco. 
 Foto: Miretzki, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
Foto 22 - Ponto de Espera para Caça, Encontrado Próximo à Captação de Água do 
Córrego Lagartixo, RVS Mata do Junco, Capela, Sergipe. 
 
 
 Foto: Miretzki, 2009. 
• Espécies Migratórias 
Existem indícios, no entanto, de que os mamíferos neotropicais realizam algum tipo de 
deslocamento sazonal, como tem sido suspeitado no caso de espécies de morcegos. Para a 
área de estudo, variações populacionais sazonais podem ser esperadas para algumas 
espécies de morcegos da família Phyllostomidae (p.ex. Carollia perspicillata, Platyrrhinus 
lineatus),como já observado para outras regiões do Brasil (Bianconi, 2003; Bianconi et al., 
2004). 
• Espécies Indicadoras de Qualidade Ambiental 
Os mamíferos podem ser divididos segundo sua capacidade de tolerância as alterações 
ambientais em espécies estenóicas/aloantrópicas e eurióicas/sinantrópicas. No grupo das 
espécies estenóicas, estão os mamíferos dependentes do ambiente natural, não tolerando 
grandes alterações no mesmo, por sua vez as aloantrópicas não toleram a presença 
humana, quando essa se traduz na alteração do ambiente; ambos são indicadores de boa 
qualidade do meio em que vivem. 
Este é o caso, por exemplo, dos morcegos da subfamília Phyllostominae (Fenton et al., 
1992; Castro-Luna et al., 2007), que foi representada no estudo por Micronycteris megalotis. 
Ainda neste grupo são incluídas as espécies ameaçadas de extinção (veado-mateiro 
Mazama americana), raras (jupará Potos flavus), endêmicas (guigó-de-Sergipe C. coimbrai) 
e em especial os carnívoros (jaguatirica Leopardus pardalis). 
No segundo grupo, o das espécies eurióicas e sinantrópicas, estão os táxons com grande 
“plasticidade ecológica”, que não só toleram a alteração ambiental como podem se favorecer 
da mesma, aumentando suas populações. Este é o caso de alguns ratos do mato (família 
Cricetidae, p.ex. Oligoryzomys sp., Necromys lasiurus), roedores de maior porte (p.ex 
capivara Hydrochoerus hydrochaeris), tatus do gênero Dasypus e Euphractus, marsupiais 
(p.ex. gambá Didelphis albiventris) e até mesmo de carnívoros mais generalistas (p.ex. 
 
33 
 
cachorro-do-mato Cerdocyon thous; gato-mourisco Puma yagouaroundi) em geral muito 
comuns e abundantes em ambientes secundários. 
Contudo, é importante frisar que não é a presença ou ausência de determinadas espécies 
que podem indicar a boa ou má qualidade do ambiente, mas sim a composição do conjunto 
ao ser comparada com outras áreas, sabidamente melhor preservadas, ou com histórico de 
alteração menos intenso. 
• Avifauna 
Com base nos levantamentos, obteve-se um total de 134 espécies com ocorrência 
confirmada para a região, enquadrada em 18 ordens e 40 famílias (Anexo 02). As famílias 
com maior riqueza de espécies foram Tyrannidae (22 espécies), Acciptridae (9 espécies) e 
Thamnophilidae (7 espécies). 
Este total de espécies (134) representa cerca de 40% das espécies indicadas para o Estado 
por Sousa (2009), considerando que muitas delas são restritas a outros ambientes que não 
as áreas de Floresta Atlântica, o que tornaria este inventário mais representativo em relação 
ao bioma especificamente. Embora tenha sido caracterizado por uma AER, o presente 
estudo pode contribuir com a inclusão de algumas espécies que não constavam na lista 
apresentada por Sousa (2009). Certamente há outras espécies ainda não identificadas na 
área que possivelmente seriam registradas com um esforço de coleta de dados mais intenso 
que aqueles normalmente utilizados em AER. 
Espécies Endêmicas dos Ecossistemas Regionais 
Dentre o total de espécies relacionado para esta UC, apenas sete espécies são 
consideradas como endêmicas do Brasil. Entre estas espécies estão a choca-do-planalto 
Thamnophilus pelzeni (Foto 23), espécie endêmica do Brasil que habita entre as florestas 
mesófilas e Caatinga, o chorozinho-do-papo-preto Herpsilochmus pectoralis e o bico-de-
veludo Schistochlamys ruficapillus. Outras três espécies habitam áreas de Floresta Atlântica: 
o beija-flor-de-costas-violeta Thalurania watertonii, o olho de fogo rendado Pyriglena atra e o 
cuspidor-de-máscara-preta Conopophaga melanops. Além destas, o tiê-sangue 
Ramphocelus bresilius também é uma espécie endêmica do bioma Floresta Atlântica, mas 
que ocorre nas áreas abertas e bordas de floresta deste bioma. 
Foto 23 - Exemplar Macho da Choca-do-planalto Thamnophilus pelzelni Registrado na 
Unidade. 
 
 Foto: Lima, 2009. 
• Espécies Ameaçadas de Extinção 
De acordo com a lista de espécies ameaçadas do IBAMA (2003), três das espécies 
registradas por este trabalho são oficialmente consideradas em risco de extinção em nível 
nacional. 
 
34 
 
Da família Trochilidae, o beija-flor-de-costas-violeta Thalurania watertonii é restrito às áreas 
baixas do domínio da Floresta Atlântica e é classificado como Vulnerável à extinção pelo 
IBAMA (2003). Supõe-se que a principal causa do possível declínio populacional desta 
espécie, o qual a levou à inclusão em listas de espécies ameaçadas, seja a relação direta 
entre a fragmentação e diminuição de habitat disponível (Birdlife, 2009). 
Da família Thamnophilidae, duas espécies estão entre as ameaçadas de extinção, também 
por motivos de redução de habitat disponível. São o chorozinho-de-papo-preto 
Herpsilochmus pectoralis e o papa olho-de-fogo-rendado Pyriglena atra. No Estado de 
Sergipe, o chorozinho-de-papo-preto H. pectoralis é conhecido em diversas localidades 
(Sousa, 2009), embora o conhecimento sobre esta espécie esteja limitado à recente 
descrição do ninho e ovos (Silva et al. 2008) e contínua ampliação da área de abrangência 
da espécie (Birdlife, 2009). Esta espécie é classificada como Vulnerável à extinção pelo 
IBAMA (2003). 
A outra espécie de Thamnophilidae, a olho-de-fogo-rendado Pyriglena atra, ocorre em 
poucas localidades no Estado de Sergipe (Willis & Oniki 1982). É uma espécie restrita a 
áreas de Floresta Atlântica e devido ao alto grau de fragmentação na região, a espécie é 
considerada na categoria Ameaçada de extinção pelo IBAMA (2003). Considera-se que a 
mesma ainda não desapareceu, devido à utilização de ambientes em estado secundário de 
sucessão ecológica, o que ainda permite a sua conservação neste bioma (Birdlife, 2009). 
Deste modo, podemos propor que a espécie tenha uma tolerância à fragmentação de 
habitats. 
• Espécies de Interesse Científico e Conservacionista 
Além das espécies destacadas como endêmicas e ameaçadas de extinção, todas as outras 
espécies da comunidade de ambientes de floresta representam potencialmente um grupo de 
interesse para finalidades científicas. Com o intuito de habilitar e gerar informações sobre 
questões conservacionistas na região, tais espécies podem, por meio de estudos ecológicos 
de longo prazo, indicar os possíveis efeitos que a fragmentação do habitat pode gerar na 
estrutura e dinâmica de suas populações e consequentemente da comunidade. Como 
exemplo, o patinho Platyrinchus mystaceus é uma espécie que habita apenas ambientes 
florestais em estado médio/avançado de conservação, motivo que o torna uma espécie de 
interesse científico para entender melhor quais são as limitações quanto à condição do 
habitat para a manutenção desta e outras espécies na Unidade (Foto 24). 
Foto 24 - Exemplar de Patinho Platyrinchus mystaceus Registrado na Unidade 
 
 Foto: Lima, 2009. 
O tangará-falso Chiroxiphia pareola é uma espécie abundante cujo habitat está relacionado 
às florestas em estado intermediário e até em estados iniciais, o que representa uma 
espécie potencial para estudo dos efeitos das áreas de borda nas espécies da Unidade 
(Foto 25). 
 
35 
 
 
Foto 25 - Macho do Tangará-falso Chiroxiphia pareola Registrado na Unidade 
 
 Foto: Lima, 2009. 
• Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas 
Nas áreas do entorno da UC do presente estudo foram identificadas populações do pardal 
Passer domesticus, espécie exótica que pode ser potencialmente invasora de ambientes 
abertos e urbanos. No caso desta área protegida, nas áreas onde existem construções 
podem existir condições para que esta espécie se expanda para dentro da mata, como no 
caso da SAAE, área da sede administrativa do RVS Mata do Junco, além das diversas 
agrovilas do Assentamento José Emídio Santos presentes nas regiões limítrofes da unidade. 
• Espécies de Interesse Econômico e Cultural/ Espécies Cinegéticas 
Entre as espécies registradas para o RVS Mata do Junco destacam-se algumas pelo 
interesse cultural. Entre as espécies canoras que sofrem com capturaspara manutenção em 
cativeiro domiciliar estão principalmente aquelas da ordem dos passeriformes, dos gêneros 
Turdus, Sporophila, Euphonia e Volatinia, todas elas identificadas em gaiolas em 
propriedades do entorno da cidade de Capela, onde está localizada esta Unidade de 
Conservação, além de espécies da família Tyrannidae que não puderam ser identificadas. 
Entre as espécies cinegéticas, os gêneros Crypturellus, Ortalis, Penelope, Rallus, além de 
potencialmente todas as espécies da família Columbidae, sofrem com atividades de caça na 
região. 
• Espécies Migratórias 
Na região, entre os grupos Falconiformes, Tyrannidae, Hirundinidae e Vireonidae, existem 
espécies com o hábito migratório. Embora algumas espécies destes grupos possam 
apresentar um hábito migratório, não há relevância para fazer destaques quanto a este tipo 
de comportamento, pois nenhuma das espécies de maior relevância para a região 
enquadra-se nesta categoria. 
• Espécies Indicadoras de Qualidade Ambiental 
Em relação quanto ao potencial de espécies indicadoras de qualidade ambiental, podem-se 
destacar todas aquelas que habitam as áreas de interior de floresta, incluindo diversos 
grupos: Tinamidae, Thamnophilidae, Conopophagidae, Dendrocolaptidae, Pipridae, Tytiridae 
e algumas espécies de Trochilidae, Tyrannidae e Thraupidae. 
• Herpetofauna 
Com base nos levantamentos elencaram-se pelo menos 18 espécies de répteis e 20 de 
anfíbios são de ocorrência certa para a Unidade em estudo e seu entorno. Em sua 
totalidade, os anfíbios compreenderam representantes da ordem Anura, enquanto os répteis 
 
36 
 
subdividem-se em um quelônio, oito lagartos e nove serpentes. Entrevistas conduzidas com 
a população regional permitem inferir a ocorrência, para o RVS e seu entorno, de pelo 
menos mais uma espécie de crocodiliano (possivelmente o jacaré de papo amarelo Caiman 
latirostris), de um anfisbenídeo (cobra cega Amphisbaena sp.) e de seis outras serpentes 
(cobra cipó Leptophis ahaetulla; dormideira Leptodeira annulata; coral falsa Oxyhropus 
trigeminus; caninana Spilotes pullatus, boipeva ou cobra chata Waglerophis merremii e 
jararaca verde Bothiopsis bilineata) (Anexo 03). 
As fotos 26 a 28 a seguir apresentam parte das espécies registradas e/ou esperadas para o 
RVS Mata do Junco e sua região de entorno. 
Foto 26 - Anfíbios Registrados para o RVS Mata do Junco, Estado de Sergipe 
 
 Legenda: (A) sapo Rhinella granulosa; (B) sapo cururu Rhinella jimi; (C) sapinho de chifres Proceratophrys 
laticeps; (D) perereca Dendropsophus branneri; (E) perereca Dendropsophus sp.; (F) perereca verde 
Hypsiboas albomarginatus; (G) perereca Hypsiboas crepitans; (H) sapo martelo Hypsiboas faber; (I) 
perereca Hypsiboas raniceps; (J) perereca verde Phyllomedusa bahiana; (K e L) perereca das casas 
Scinax fuscovarius. 
 Fotos: Morato, 2009. 
 
37 
 
 
 
Foto 27 - Anfíbios e Répteis Registrados ou Esperados para o RVS Mata do Junco, 
Estado de Sergipe 
 
 Legenda: (A e B) rã cachorro Physalaemus cuvieri; (C) rã ou gia Leptodactylus natalensis; (D) rã ou gia 
Leptodactylus ocellatus; (E) rã ou gia Leptodactylus vastus; (F) sapo da terra Dermatonotus 
muelleri; (G) rã do mato Ischnocnema sp.; (H) rã do mato Ischnocnema vinhai; (I) cágado 
Mesoclemmys tuberculatus; (J) jacaré de papo amarelo Caiman latirostris; (K) camaleão Iguana 
iguana; (L) calango Tropidurus hispidus. 
Fotos: Morato, 2009. 
 
38 
 
Foto 28 - Répteis Registrados e/ou Esperados para o RVS Mata do Junco, Estado de 
Sergipe 
 
Legenda: (A) lagartixa Coleodactylus meridionalis; (B) calango Mabuya heathi; (C) calango verde Ameiva 
ameiva; (D) teiú Tupinambis merianae; (E) cobra cega Typhlops brongersmianus; (F) jibóia Boa 
constrictor; (G) salamanta Epicrates assisi; (H) cobrinha do folhiço Taeniophalus occipitalis; (I) 
cobra cipó Chironius exoletus; (J) corre campo Philodryas nattereri; (K) caninana Spilotes pullatus; 
(L) cobra coral Micrurus ibiboboca. 
Fotos: Morato, 2008, 2009. 
• Aspectos Biogeográficos e Ecológicos da Herpetofauna 
No geral, esta comunidade mostra-se como de organização complexa, abrangendo espécies 
cujas associações variam desde aquelas exclusivamente associadas a sistemas florestais 
(e.g., os anfíbios Ischnocnema spp. Proceratophrys laticeps, o pequeno lagarto 
Coleodactylus meridionalis e a serpente Echinanthera occipitalis, todas associadas a 
folhiços de matas úmidas) até aquelas associadas exclusivamente a ambientes abertos, 
cuja distribuição estende-se às restingas litorâneas e/ou às Caatingas (e.g., os lagartos 
Ameiva ameiva, Cnemidophorus ocellifer, Mabuya heathi e Tropidurus hispidus e a serpente 
Epicrates assisi) (ver Vanzolini et al., 1980; Freitas & Silva, 2005; 2007; Passos & 
Fernandes, 2008). 
 
39 
 
- Anfíbios 
Na área do RVS e em seu entorno, a maior parte das espécies de anfíbios registrada (N = 
14) foi encontrada habitando ambientes no entorno de coleções lênticas de águas em áreas 
abertas, especialmente lagoas e açudes artificiais (Anexo 03). 
No interior da Unidade, os recursos hídricos são, em sua maioria, lóticos, não tendo sido 
encontradas espécies associadas aos mesmos. Dentre aquelas que foram encontradas 
utilizando-se desse ambiente destaca-se a perereca Dendropsophus sp. (Foto 26 E), cuja 
identificação específica não foi possível, podendo a mesma constituir-se em espécie ainda 
não descrita. 
Uma condição que chamou a atenção no que diz respeito à reprodução de anuros consistiu 
na alta incidência de espécies de Hylidae nesta atividade à época dos estudos de campo, 
porém nenhuma de Leptodactylidae. Sendo os dois grupos mais abundantes localmente 
(tanto em termos de riqueza quanto abundância) e havendo uma pequena diversidade de 
tipos de recursos hídricos na região, é possível que haja uma partilha temporal do uso de 
tais recursos pelas larvas desses dois grupos. 
- Quelônios 
A única espécie de quelônio registrado para o RVS Mata do Junco, Mesoclemmys 
tuberculatus, corresponde a uma forma comumente associada ao bioma das Caatingas 
(Vanzolini et al., 1980). Trata-se de uma forma com distribuição considerada restrita à bacia 
do rio São Francisco (Bour & Zaher, 2005), muito embora Loebmann et al. (2006) a tenham 
registrado para o extremo norte do Estado do Piauí. Esta espécie foi registrada deslocando-
se por terra próxima ao rio Lagartixo, nas imediações do ponto 4. 
- Crocodilianos 
Embora se tenha procurado, jacarés não foram avistados durante os trabalhos de campo. 
Porém, segundo relatos dos moradores locais, bem como do colaborador do RVS, Sr. 
Marcelo “Guigó”, alguns açudes e lagoas presentes à leste da Unidade contariam com a 
presença desses animais. As dimensões dos animais descritos (até dois metros de 
comprimento) sugerem tratar-se do jacaré-de-papo-amarelo Caiman latirostris. Porém, duas 
formas distintas foram descritas: a de um animal “claro e cinzento” (possivelmente referente 
à espécie em questão) e outro “preto”, que chegava a ser maior que o primeiro. Esta 
descrição talvez possa significar a presença local de outra espécie de jacaré (possivelmente 
o jacaré do Pantanal Caiman yacare), que foi durante muito tempo introduzido em diversas 
regiões do país com a finalidade de comercialização de sua pele. 
- Squamata 
A fauna de Squamata registrada para o RVS Mata do Junco abrange formas típicas da 
região Atlântica do nordeste brasileiro (ver Freitas & Silva, 2005). 
Muito embora o estudo ora realizado tenha identificado poucas espécies dos diferentes 
grupos que compõem os Squamata (lagartos, serpentes e anfisbenídeos) e, também, tenha 
havido a constatação de que parte das espécies seja associada a ambientes abertos 
alterados (especialmente lagartos), observa-se que o RVS conta com uma riqueza 
significativa de diferentes famílias pertencentes ao grupo. 
Dentre os lagartos, por exemplo, Iguana iguana consiste em uma espécie herbívora 
semiarborícola, ao passo em que Tupinambis merianae é terrestre omnívora. 
Também deve ser dadodestaque ao pequeno Sphaerodactylidae Coleodactylus 
meridionalis, um dos menores lagartos brasileiros e insetívoro especialista em folhiço de 
mata, cuja presença indica a existência de porções da Unidade com matas em bom estado 
de conservação. 
Quanto às serpentes, algumas das espécies registradas (jibóia Boa constrictor e sucuri 
Eunectes murinus) compreendem as maiores serpentes brasileiras, e sua presença indica a 
 
40 
 
existência de uma comunidade de pequenos vertebrados - componentes básicos de sua 
dieta - possivelmente ainda rica. De outro lado aparecem, por sua vez, as pequenas 
serpentes Echinanthera occipitalis e Typhlops brongersmianus. 
Também ocorrem na região espécies especialistas em predar animais serpentiformes, tais 
como a cobra coral Micrurus ibiboboca. Por fim, destaque deve ser dado à jararaca-verde 
Bothriopsis bilineata (Foto 29), cuja ocorrência para a Unidade, caso venha a ser confirmada 
em estudos futuros, indicará bom estado geral de sistemas arbóreos complexos. 
Foto 29 - Jararaca Verde Bothriopsis bilineata, Espécie Arborícola Registrada 
Mediante Entrevista e Esperada para o RVS Mata do Junco, Estado de 
Sergipe 
 
 Foto: Morato, 2008. 
• Conservação da Herpetofauna Local 
Muito embora a herpetofauna do RVS Mata do Junco apresente grupos indicadores de certa 
variabilidade ambiental da Unidade e possa ser ainda considerada como subamostrada, 
possivelmente ela encontre-se empobrecida em relação a uma condição original, se não em 
termos de riqueza, certamente quanto à abundância dos indivíduos de algumas espécies de 
maior porte, cujas populações em geral demandam áreas de vida maiores. 
Alguns impactos derivados da ocupação antrópica do entorno e do próprio interior da 
Unidade puderam ser diagnosticados em campo, alguns dos quais com efeitos incidentes 
sobre a herpetofauna. Dentre tais impactos destaca-se a presença intensa de trilhas abertas 
no interior da mata e seu uso como vias de acesso pelas comunidades regionais. Tal uso 
tem efeitos diretos sobre os anfíbios e répteis da região. O encontro de serpentes pelos 
transeuntes, por exemplo, geralmente culmina no abate dos animais, tidos indistintamente 
como “nocivos”. 
Tal abate estende-se a quaisquer animais serpentiformes, a sapos e até mesmo a pequenos 
lagartos, que por vezes são também tidos como “animais peçonhentos”. 
Além disso, as travessias das trilhas pelos moradores são habitualmente acompanhadas de 
animais domésticos, especialmente cães, cavalos e jumentos (Foto 30), que geram seus 
respectivos impactos sobre as espécies e sobre os ecossistemas. 
Os cães, por exemplo, eventualmente perseguem e matam determinadas espécies de 
répteis, tais como os grandes lagartos, além de diversos outros animais. 
 
41 
 
 
Foto 30 - Trilha no Interior do RVS Mata do Junco, Utilizada Pelos Moradores do 
Entorno como Via de Acesso. Observar a Presença de Cachorro 
Doméstico e o Alto Pisoteio do Solo 
 
 Foto: Morato, 2009. 
Já os equinos, além de compactarem o solo durante sua passagem, podem pisotear ninhos 
de anfíbios que nidificam em poças à margem das trilhas. Não raro, cavalos e jumentos 
também são deixados para pastarem no interior da mata, aumentando o alcance da 
compactação do solo e o pisoteio de ninhos. Enfim, tais animais, quando defecam ou 
mesmo quando trazem sementes presas ao pelo, são responsáveis pela disseminação de 
capins exóticos no interior da Unidade, com destaque ao capim navalha, densamente 
presente ao longo das trilhas (Foto 31). 
Foto 31 - Invasão de Capim Navalha sob a Floresta no RVS Mata do Junco, 
Possivelmente Derivado do Transporte de Sementes por Animais 
Domésticos 
 
 Foto: Morato, 2009. 
Outro problema diagnosticado na Unidade, presente tanto ao longo das trilhas quanto em 
seu entorno imediato, compreende a deposição irregular de lixo (Foto 32). 
A deposição irregular de lixo pode gerar sérias consequências sobre a herpetofauna. 
Lagartos oportunistas como Tupinambis merianae e Ameiva ameiva eventualmente buscam 
alimentos no lixo, podendo vir a ser contaminados ou mesmo morrer pela ingestão acidental 
de materiais pérfuro-cortantes ou contaminados que podem estar associados aos restos de 
comida. 
 
42 
 
Os resíduos líquidos derivados de produtos químicos e/ou até mesmo de restos alimentares 
em decomposição podem escorrer até pequenos cursos e poças d’água, contaminando os 
mesmos e impedindo o recrutamento de anfíbios cujas desovas são associadas a estes 
ambientes. 
Assim, o lixo acumulado pode também culminar no aparecimento de muitas espécies 
exóticas pela presença de sementes de algumas plantas (tais como frutos cítricos, 
leguminosas ou mesmo capins) ou pela atração e concentração de animais associados ao 
homem, tais como os cães e ratos domésticos. 
Foto 32 - Pacote com Lixo Doméstico Atirado no Interior do RVS Mata do Junco. 
 
 Foto: Morato, 2009. 
Por fim, outro impacto verificado no interior da Unidade compreende seu uso para a caça e 
para a retirada de madeira (Foto 33). A primeira atividade incide diretamente sobre os 
grandes lagartos (especialmente o teiú Tupinambis merianae), ao passo em que a segunda 
tende a diminuir a área de vida de espécies arbóreas e a gerar a formação de clareiras, nas 
quais as espécies oportunistas de répteis prevalecem e onde as espécies vegetais exóticas, 
especialmente os capins, proliferam com maior intensidade. 
Foto 33 - Lenha Cortada no Interior do RVS e Acumulada Para Ser Oportunamente 
Transportada 
 
 Foto: Morato, 2009. 
• Espécies de Interesse Científico e Conservacionista 
No que diz respeito a estudos direcionados à ecologia de populações, o cágado 
Mesoclemmys tuberculatus e a sucuri Eunectes murinus consistem nas espécies sobre as 
quais menos se conhece sobre sua biologia. Tais espécies ocupam principalmente os 
cursos d’água externos ao RVS, mas denotam interesse em conservação e justificariam a 
inclusão de novas áreas à UC. 
 
43 
 
Em relação à conservação, o jacaré de papo amarelo Caiman latirostris é certamente a 
espécie em situação mais preocupante localmente. Muito embora tenha sido retirada das 
listas atuais de animais consideradas como ameaçados de extinção no Brasil, esta espécie, 
inclusive seus filhotes, tem sido alvo de abate no entorno da Unidade. 
A identificação dos locais de ocorrência e de nidificação da espécie também denota 
interesse científico e justificaria a anexação de novas áreas ao RVS ou à Zona de 
Amortecimento deste como uma das estratégias de conservação. 
• Espécies Exóticas 
A única espécie exótica da herpetofauna, presente na região do RVS, consiste na lagartixa 
das paredes Hemidactylus mabouia. Esta espécie foi introduzida da África e, atualmente, é 
amplamente disseminada por todo o país. Trata-se, contudo, de espécie sinantrópica e 
encontrada quase exclusivamente em ambientes urbanizados e/ou em habitações humanas, 
sendo rara sua presença em ecossistemas naturais. Esta espécie não foi registrada na área 
interna do RVS. 
• Espécies Indicadoras de Qualidade Ambiental 
Conforme já citado, os anfíbios dos gêneros Ischnocnema e Proceratophrys, o lagarto 
Coleodactylus meridionalis e a serpente Echinanthera occipitalis compreendem espécies 
com hábitos associados ao folhiço de matas densas, e consistem em bons indicadores do 
estado de conservação desses ecossistemas. 
De outro lado, a abundância de espécies de áreas abertas pode indicar uma condição 
oposta. Espécies como o calango verde Ameiva ameiva (Teiidae) têm sido utilizadas para se 
atestar a intensidade das condições de alteração ambiental provocadas pelo homem em 
diversas regiões. 
5 - PLANEJAMENTO DO RVS MATA DO JUNCO 
A elaboração do Plano de Manejo do RVS Mata do Junco tomou como base a realização de 
um diagnóstico ambiental da área e seu entorno executado a partir de levantamentos de 
campo e dadossecundários, os quais ampliaram o conhecimento sobre os meios físico, 
biótico e socioeconômico relacionados. 
Para a elaboração do planejamento buscou - se identificar as forças impulsoras e as 
restritivas verificadas na Unidade de Conservação e em seu entorno. 
Esta etapa contou com os subsídios produzidos nas Oficinas de Planejamento das quais 
participaram representantes da comunidade, bem como representantes dos setores 
públicos, privado e sociedade civil que se relacionam direta ou indiretamente com o Refúgio. 
O planejamento da UC envolve a definição de objetivos específicos, o zoneamento e a 
proposição de programas, abrangendo as ações a serem desenvolvidas pela SEMARH para 
que o Refúgio atinja os seus objetivos de criação. 
• Histórico do Planejamento 
O planejamento das atividades do RVSMJ foi iniciado em 2007, quando a SEMARH 
elaborou um diagnóstico da região para subsidiar a criação da UC. Nesse mesmo ano, foi 
criado o Refúgio, também foram realizadas reuniões com entidades públicas de diferentes 
instâncias governamentais. No início de 2010 foi inaugurada a sede da UC. 
• Método Aplicado para Elaboração do Manejo 
A elaboração do Plano de Manejo do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco tomou como 
base um diagnóstico ambiental executado a partir de levantamentos de campo e dados 
secundários (obtidos na literatura). 
 
 
44 
 
5.1 - Planejamento 
Esta etapa contou com os subsídios das Oficinas de Planejamento em que participaram 
representantes da comunidade, dos setores público e privado, além da sociedade civil. 
• Diretrizes do Planejamento 
O planejamento do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco tem como base, 
fundamentalmente, as seguintes premissas: 
− Termo de Referência componente do Processo Licitatório nº 015.000-29773/2008-0 – 
Secretaria de Estado de Administração; 
− Plano de Trabalho elaborado pela STCP Engenharia de Projetos Ltda e aprovado pela 
SEMARH/SE. 
− Orientações dispostas no “Roteiro Metodológico de Planejamento – Refúgio Nacional, 
Reserva Biológica, Estação Ecológica” (IBAMA, 2002). 
− Estudos para a criação do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco. 
− Regulamento para a categoria de Refúgio de Vida Silvestre (Lei nº 9.985, de 18 de julho 
de 2000) e para proteção de fauna, flora e dos recursos hídricos. 
− Discussões e conclusões das Oficinas de Planejamento, promovidas pela STCP/ 
SEMARH/SE, que resultou em uma Matriz Estratégica de Planejamento, entre outros 
indicativos e conclusões. 
5.2 - Avaliação Estratégica do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco 
Por meio da identificação dos pontos fracos e ameaças (Tabela 04), pontos fortes e 
oportunidades (Tabela 05) do Refúgio e seu entorno, determinaram-se os principais 
aspectos favoráveis ou contrários ao alcance dos objetivos de criação da UC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
Tabela 04 - Matriz de Avaliação Estratégica - Forças Restritivas e Premissas Defensivas ou de Recuperação 
AMBIENTE INTERNO/PONTOS FRACOS AMBIENTE EXTERNO/AMEAÇAS 
− Retirada de madeira nativa e exótica; 
− Retirada de “lenha” seca e verde para cozinhar; 
− Desmatamento da Flora e Mata Ciliar; 
− Exploração da Taquara; 
− Caça de paca, tatu, guigó, aves e outros animais na UC; 
− Possibilidade de caçadores na UC; 
− Invasão de gado (pela ausência de cerca e vigilância insuficiente); 
− Disposição de lixo na área do Refúgio; 
− Presença de espécies animais e vegetais exóticas; 
− Existência de piscinas artificiais atualmente de uso público; 
− Falta de sinalização adequada dos limites do Refúgio; 
− Quantidade muito grande de trilhas sem controle de acesso; 
− Presença de estradas que cortam a unidade; 
− Perímetro da UC sinuoso e em contato direto com atividades 
produtivas e estradas; 
− Trânsito de veículos sem controle. 
− Poluição dos mananciais por indústrias e comunidades; 
− Utilização de agrotóxicos nos arredores da UC; 
− Expansão urbana desordenada; 
− Acúmulo de lixo em locais inapropriados; 
− Coleta de lixo municipal deficiente; 
− Ausência de saneamento básico nas comunidades do entorno; 
− Aumento do fluxo de veículos e da velocidade na Rodovia Miranda SE 226; 
− Monocultura da cana-de-açúcar – agrotóxicos, fogo, vinhaça; 
− Queimadas de vegetação/canaviais nos limites da UC; 
− Exploração mineral de cascalho e carnalita – Estreito até Miranda; 
− Não atuação do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Capela; 
− Ausência de políticas públicas voltadas para suprir necessidades de 
extensão rural/florestal. 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
Tabela 05 - Matriz de Avaliação Estratégica - Forças Impulsoras e Premissas Ofensivas ou de Avanço 
AMBIENTE INTERNO/PONTOS FORTES AMBIENTE EXTERNO/OPORTUNIDADES 
Relevância e Biodiversidade: 
− Grande diversidade de espécies nativas da Mata Atlântica; 
− Registro de ocorrência do macaco Guigó Callicebus coimbrai e de outras 
espécies de relevância para conservação; 
− Representar um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do 
Estado; 
− Valor cultural agregado (fornecimento de mastro para a festa de São 
Pedro); 
− Presença de várias nascentes; 
− Servir como banco de germoplasma. 
Relevância e Biodiversidade: 
− Existência de fragmentos de vegetação no entorno da Unidade; 
− Aumento das ações municipais para conservação do meio ambiente; 
− Aumentar a conectividade dos fragmentos considerando a recomposição 
das áreas de preservação permanente. 
Uso Público: 
− Abastecimento de água da cidade; 
− Manutenção da boa qualidade da água; 
− Foco de atratividade para atividades de educação ambiental, trilhas em 
contato com a natureza, etc. 
Uso Público: 
− Atratividade de turistas ou de grupos de estudantes para conhecer a Região 
e o Refúgio. 
 
Pesquisa: 
− Existência de pesquisas realizadas na UC e de projetos de 
monitoramento das comunidades da fauna; 
− Potencial para existência de sítios arqueológicos – históricos, como do 
cemitério quilombola apontado pela comunidade. 
Pesquisa: 
− A procura de conhecimento; 
− Disponibilidade de informações científicas; 
− Incentivo aos projetos agro-ecológicos; 
− Incentivo a criação de abelhas silvestres. 
Desenvolvimento Local: 
− Disponibilidade de recurso financeiro e pessoal; 
− Diálogo com a comunidade local “Rotineiro”; 
Desenvolvimento Local: 
− Marketing ambiental para o município; 
− Compensação ambiental; 
 
47 
 
AMBIENTE INTERNO/PONTOS FORTES AMBIENTE EXTERNO/OPORTUNIDADES 
− Ofertar serviços ambientais. − Captação de recursos para recuperação de mananciais do entorno da UC; 
− Artesanato sustentável; 
− Ecoturismo. 
Gestão: 
− Regularização Fundiária do Refúgio definida; 
− Ações da SEMARH periódicas na UC; 
− Disponibilidade de recurso financeiro e pessoal. 
Gestão: 
− Proximidade com os Projetos de Assentamento; 
− Envolvimento da comunidade no trabalho de conscientização ambiental; 
− Parcerias com Instituições Públicas e Privadas. 
 
 
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5.3 - Objetivos Específicos 
Os objetivos específicos foram baseados no Art. 13 da Lei n° 9.985/2000 que apresenta 
como objetivo de um Refúgio a proteção de ambientes naturais onde se asseguram 
condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e 
da fauna residente ou migratória. Também foi considerado o Art. 1° do Decreto de 
Criação da Unidade (Decreto n°24.944/2007): 
Art. 1° Fica criado o Refúgio de Vida Silvestre, no Município de Capela, com 
objetivo de proteger a Mata Atlântica e seus recursos naturais, em especial as 
nascentes do Riacho Lagartixo, garantindo condições para a existência do 
macaco-guigó Callicebus coimbrai e realização de pesquisas científicas, 
educação ambiental e ecoturismo. 
Baseados nessas prerrogativas e nos estudos temáticos que embasaram o diagnóstico 
do RVS Mata do Junco foram definidos como objetivos específicos: 
− Preservar a diversidade biológica do remanescente de Mata Atlântica nordestina do 
Estado de Sergipe; 
− Contribuir para a recuperação e manutenção dos remanescentes da Mata Atlântica 
nordestina;

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