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Trabalho Final - Arte e Antropologia III

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Rio de Janeiro – RJ
 2020
 
	
Fernanda Paradelas Plaisant
Turma 1 
2019.1.02206.11
Arte e Antropologia III
	
Trabalho final sobre Assentamento de Rosana Paulino
Introdução
Tive a oportunidade de visitar a exposição ‘’Costura da Memória’’ de Rosana Paulino, no Museu de Arte do Rio. Assentamento foi uma das obras que mais me tocou, seja por sua natureza multimídia, sua mensagem ou por seu caráter educacional. Pois, isso é uma das principais características do trabalho de Rosana, ele é extremamente sutil, didático e cirúrgico. Não há uma só pessoa que entre em contato com sua obra e não tire um aprendizado dela. 
O título 
A escolha da nomeação da obra como ‘’Assentamento’’ não só complementa o sentido do trabalho como um todo, como também insere diferentes significados atrelados a esta palavra neste contexto que nos é exposto.
Pensar que muitos costumes, palavras e mais elementos culturais de hoje em dia vieram desse assentamento. Uma fundação forçada por meio de um processo violento de escravidão, que obrigou as pessoas escravizadas a se refazerem, sem levar em conta a multiplicidade de etnias, línguas e culturas que foram aglutinadas em uma só. Além desse sentido cultural, temos uma referência direta a religiões de matrizes africanas e a força que elas forneciam aos escravizados. 
A mulher da foto
Talvez uma das maiores subversões da artista seja ter utilizado o retrato de Auguste Stahl de uma mulher escravizada, retrato que contribuiu para a pesquisa ‘’científica’’ acerca de uma inferioridade de povos negros. Sua identidade desconhecida remete a toda uma ideia de não-existência. Conhecemos a história, sabemos suas consequências, mas seus personagens sofrem um apagamento. É esse apagamento que é evidenciado quando Rosana utiliza dessa imagem em sua instalação. Como afirma Juliana Ribeiro em seu texto para o catálogo da exposição Costura da Memória:
 Em trabalho mais recente, o foco nos retratos de família é ampliado para as fotografias de pessoas escravizadas, cujos rostos só sobreviveram ao presente porque passaram pelo horror de terem sido registrados para fins de classificação e hierarquização da “raça negra” numa escala inferior; ou ainda pelas suas características fenotípicas consideradas exóticas, ao mesmo tempo repulsivas e atraentes. Ao se valer dessas fotografias de escravizados, cujos nomes e histórias de vida se perderam, Paulino aproxima passado e presente, possibilitando o (re)encontro da população negra com esses antepassados.
(BEVILACQUA, 2018)
E a simbologia não termina aí, ela corta o tecido onde está o retrato e o remenda de forma irregular. Essa analogia faz referência ao ato de assentar. Para assentarem, foi necessário se remendar. Precisaram juntar os pedaços em que foram deixados e se refazer como seres humanos. 
É importante dar destaque também a três elementos que são adicionados a esse remendo. Um coração, que representa a humanidade, os sentimentos e o passado daquela pessoa, representado de forma pulsante. Um feto, demonstrando esperança e representando os descendentes que vieram e o nascimento de uma nova cultura. E, por fim, as raízes como veias, mostrando uma história baseada no sangue. 
O mar dos tablets
A gravação presente nos tablets e o som das ondas atenta para o fato de que os escravizados ficavam semanas presos nos navios, sem poder enxergar a luz do sol. Não tinham noção do passar do tempo, sendo o som do mar o único indicativo que eles recebiam do seu possível paradeiro. O vídeo das ondas fica se repetindo em um loop, em uma viagem quase que sem fim.
Os braços de madeira
Separados em cima de dois pallets, tínhamos um conjunto de braços negros misturados com madeira, como se fossem lenha. Fazendo alusão a exportação e ao tráfico negreiro, ela salienta como os escravos eram vistos como mercadoria. Aos olhos dos patrões, eras peças de lenha a serem queimadas e substituídas de forma rápida, realizando trabalhos extremamente pesados, que diminuíam sua qualidade de vida. 
Conclusão
Mas o que a obra diz como um todo? Rosana Paulino, de forma muito inteligente, cria uma narrativa, que não só evidencia o passado, mas também o presente. O feto, as raízes e o coração estão diretamente ligados ao resgate do passado e da diáspora. Seu trabalho denuncia, mas também anuncia. Ele mostra que é possível reconstruir esta história, de uma visão não-eurocêntrica, que levanta questões muito procuradas por pessoas negras hoje quanto a sua identidade e seus direitos. Adriana Palma, em seu artigo, fecha muito bem esta ideia:
Paulino vale-se de todo o seu complexo potencial artístico, em especial da sua tendência investigativa para desbravar diferentes disparadores do seu fazer poético, como vasculhar várias áreas do conhecimento e partir delas para continuar sensibilizando e comunicando as circunstâncias e questões que rondam uma busca maior do Brasil e do seu povo por entender as suas condições de mundo.
(PALMA, 2018) 
Bibliografia
PALMA, Adriana Dolci. Costurando os fios de uma trajetória artística. In: Rosana Paulino: a costura da memória / curadoria Valéria Piccoli, Pedro Nery ; textos Juliana Ribeiro da Silva Bevilacqua, Fabiana Lopes, Adriana Dolci Palma -- São Paulo : Pinacoteca de São Paulo, 2018. pp. 183-197. Disponível em: http://pinacoteca.org.br/wp-content/uploads/2019/07/AF_ROSANAPAULINO_18.pdf
Rosana Paulino - Educativo Exposição Assentamento. Disponível em: http://www.rosanapaulino.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/11/PDF-Educativo.pdf

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