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HISTÓRIA DA ASTRONOMIA E O SISTEMA SOLAR ETAPA 1 Autor José Ademir Damasceno Júnior Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI CURSO LIVRE – ASTRONOMIA HISTÓRIA DA ASTRONOMIA E O SISTEMA SOLAR ETAPA 1 1 INTRODUÇÃO Percebe-se que a Astronomia, desde o advento da humanidade, desperta o fascínio nas pessoas, tanto em crianças quanto em adultos. Os egípcios, entre outras civilizações antigas, já faziam desenhos do céu em tumbas. Inclusive, os nativos americanos representavam alguns corpos celestes através de desenhos nas paredes das cavernas e penhascos. Os povos da Grécia antiga ficaram conhecidos por construírem globos que retratavam constelações e movimentos planetários (THORNBURGH, 2017). Acredita-se que justamente o encanto pela Astronomia, associada às diversas áreas do conhecimento, tenha influenciado o desenvolvimento da Física, Química, Biologia, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, das navegações, da poesia, da música, da literatura, dentre outras (BARAI et al., 2016). Na época atual, considerando o fato de a Astronomia conseguir atrair cada vez mais públicos de diferentes idades, a demanda por instrumentos que atendam à curiosidade dos indivíduos e favoreçam a aquisição dos conceitos astronômicos, contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem científica, revela-se bem mais imprescindível (ROMANZINI, 2011). Segundo Romanzini (2011), em busca de respostas às inquietações da humanidade, especialmente no processo de ensino e aprendizado, encontram-se disponíveis inúmeros recursos, entre outros: softwares desenvolvidos para a confecção de cartas celestes ou para a representação dos movimentos planetários, livros e documentários de divulgação científica, além de ambientes que proporcionam uma série de experiências relacionadas a este campo do saber. A Astronomia pode ser definida como o estudo dos astros. Ela representa uma atividade que abriu as portas do mundo da ciência para os seres humanos. Ainda na pré-história, homens e mulheres perceberam a existência de mecanismos e ciclos específicos que tinham impacto em suas atividades terrenas e eram definidos pela posição das estrelas. A cada dia, o Sol determinava a divisão entre o dia e a noite. Por outro lado, a Lua, a cada volta em torno da Terra, marcava o período conhecido como mês. A posição de determinados agrupamentos de estrelas no decorrer dos meses CURSO LIVRE – ASTRONOMIA indicava os melhores períodos para plantio e colheita. Há dezenas de milhares de anos, a compreensão desses fenômenos passou a ser fundamental para a sobrevivência das pessoas, dos primeiros agricultores. Portanto, desde os tempos remotos da humanidade, sobretudo com o advento da ciência Astronomia, que a observação do céu vem sendo utilizada para a construção de mapas, calendários e relógios, entre outras buscas por respostas, pelos diferentes povos e culturas (NOGUEIRA; CANALLE, 2009). O sistema solar (Figura 1) é formado pelo Sol, planetas e seus satélites, como exemplo, a Terra e a Lua, e ainda por outros corpos menores – como cometas e asteroides -, além do meio interplanetário. Os astros do sistema solar, especialmente o Sol, estão muito presentes em nossas vidas. A maneira como medimos o tempo, a nossa percepção visual e a nossa própria existência estão associadas diretamente às condições existentes no sistema solar. A nossa visão está adaptada a um faixa da radiação eletromagnética, sendo denominada de luz visível, capaz de penetrar a nossa atmosfera. Vale ressaltar que essa radiação é também a mais emitida pelo Sol. Além do mais, a escala de tempo que utilizamos em nosso dia a dia é baseada nos ciclos do Sol e da Lua. Ao mesmo tempo, a energia encontrada na superfície terrestre tem como fonte, principalmente, o Sol. Nesse sentido, uma das questões essenciais da humanidade é compreender o Universo do qual faz parte (MILONE et al., 2003). Nesse viés, acredita-se que, ao estudar Astronomia, o aluno poderá desenvolver o gosto pela ciência e pesquisa, assim como responder a algumas perguntas sobre o Universo com mais segurança. Ademais, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018, p. 556), o estudante terá a competência de “analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis”. FIGURA 1 – SISTEMA SOLAR FONTE: http://astro.if.ufrgs.br/ssolar.htm. Acesso em: 20 abr. 2021. Descrição da imagem: a imagem exibe a distribuição dos planetas no sistema solar. Da esquerda para a direita temos o Sol, na cor amarela, logo em seguida, os planetas Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, e ainda o planeta anão Plutão. O fundo da imagem é negro, representando a escuridão do Universo. CURSO LIVRE – ASTRONOMIA 2 HISTÓRIA DA ASTRONOMIA Sem dúvida, é notório o fascínio que as pessoas sentem pelo céu. Quem nunca admirou um pôr do Sol ou temeu uma tempestade? Porém, mesmo hoje em dia, os fenômenos celestes e atmosféricos presentes em nosso cotidiano não são compreendidos por grande parte da humanidade. De modo semelhante, ainda ocorre a mitificação dos fenômenos naturais. Infelizmente também, atualmente, é cada vez mais difícil contemplar o céu noturno escuro e estrelado, sobretudo para quem vive nos centros urbanos. A poluição luminosa das cidades ofusca o brilho de boa parte dos astros. Ainda assim, reservar um tempo para essa tarefa tendo inúmeros compromissos diários, tanto profissionais quanto pessoais, representa um grande obstáculo. Em tempos remotos, mais precisamente na pré-história (de 100 mil anos atrás até cerca de 8 mil a.C.), o ser humano vivia em pequenos grupos nômades. Ele tinha o desafio de sobreviver num ambiente natural e hostil. O cotidiano das pessoas consistia em caçar, pescar, procurar frutas e raízes, além de fugir de animais perigosos e se abrigar das variações climáticas. Nessa época, os humanos tinham que se adaptar às mudanças das estações, à alternância de claro-escuro, dentre outros aspectos. Provavelmente, o Sol foi o primeiro astro a chamar atenção, em razão do seu papel na transição entre o dia e a noite, ao mesmo tempo por ser a principal fonte de calor para nós. Por conseguinte, a Lua deve ter sido o segundo astro a ser notado, levando em consideração que ela ilumina a escuridão da noite, especialmente em sua fase cheia. Em seguida, alguns pontos brilhantes, contrastando com a escuridão do céu noturno, também foram percebidos, ou seja, além do Sol, outras estrelas passaram a atrair diferentes olhares (MILONE et al., 2003). Quando a observação do céu à noite se tornou uma prática para a humanidade, outros cinco astros errantes (significado original da palavra planeta, de origem grega) visíveis a olho nu foram notados. De acordo com Boczko (1984), a denominação inicial de planeta estava associada ao fato de que algumas “estrelas” se moviam entre as estrelas chamadas fixas, isto é, os planetas representavam astros móveis. É importante enfatizar que esse olhar mais apurado da natureza exigia dos nossos ancestrais um nível mais elevado de inteligência. É possível verificar essas habilidades mais desenvolvidas por meio dos desenhos de figuras de astros inscritos em rochas (rupestres), sendo encontrados em sítios arqueológicos. Todavia, tanto os astros quanto os animais, as montanhas, as florestas, os desertos e a água eram considerados divindades porque não eram completamente compreendidos (MILONE et al., 2003). Milone et al. (2003) afirmam que, após a última glaciação, a agricultura e a domesticação de animais favoreceram a sobrevivência dos seres humanos na Terra. No processo de civilização, foram construídos os primeiros vilarejos e povoados. As primeiras civilizações mais desenvolvidasdatam cerca de 5.500 anos atrás. Elas surgiram às margens de relevantes bacias hidrográficas, em razão da disponibilidade de água e de terras férteis para cultivo de plantas, possibilitando assim condições mais adequadas para a fixação na região e CURSO LIVRE – ASTRONOMIA a sobrevivência dos habitantes. Dentre estas civilizações, destacaram-se as que se estabeleceram nas bacias dos rios Tigre e Eufrates (os sumerianos), na Mesopotâmia (atual região do Irão e Iraque), por volta do ano 3.500 a.C.; às margens do rio Nilo (atual Egito), há 3.100 a.C.; às margens do rio Indus (atual Índia), em torno de 2.500 a.C.; e às margens do rio Amarelo (atual China), próximo do ano 2.000 a.C. Estas sociedades influenciaram umas às outras, sobretudo pela proximidade entre elas, além de contribuir posteriormente para o desenvolvimento de outras civilizações, a Antiga Grécia, por exemplo. (MILONE et al., 2003). O desenvolvimento da escrita e o da matemática possibilitaram um maior avanço cultural e científico às primeiras civilizações. Com o advento e desenvolvimento dos conceitos astronômicos, os povos antigos passaram a rever suas crenças, pois associavam, com frequência, os fenômenos naturais aos seus deuses. A fim de compreender os dias, as noites, os eclipses, as fases da Lua, o movimento dos planetas entre as estrelas, dentre outros, recorriam às explicações mitológicas (MILONE et al., 2003). De modo análogo, nossos antepassados relacionavam os fenômenos celestes aos terrestres e vice-versa. Entre as civilizações supracitadas, a mais antiga é certamente a que surgiu na Mesopotâmia, reunindo uma gama de cidades mais bem organizadas nas bacias férteis dos rios Tigre e Eufrates. Uma das cidades-estados que se destacou entre as demais foi a Babilônia. Sua supremacia, principalmente em termos de estrutura e cultura, durou uns 300 anos. Sabe-se que os babilônios foram um dos primeiros povos a registrar a presença dos cinco planetas visíveis a olho nu (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), provavelmente por influência cultural dos sumerianos. Os nomes atribuídos aos astros observados estavam relacionados aos seus deuses (sua religião era politeísta), heróis e animais. Por meio de sua mitologia, os babilônios tinham a concepção que a água líquida era a Mãe da natureza e sustentadora da Terra (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Por sua vez, o céu era representado por uma cúpula azul feita de rocha em que as estrelas estavam incrustadas, sendo sustentada pelas altas montanhas terrestres. Esse povo pretendia entender as vontades dos deuses observando os astros no céu, que, para eles, determinavam os acontecimentos terrestres. Desse modo, a Astrologia e a Astronomia surgem juntas, sendo consideradas uma única forma de conhecimento. Exemplo disso, a palavra desastre significa, em sua origem, um fato que contraria os astros. Defende-se que os babilônios foram os primeiros a conceber as constelações primordiais, que eram somente representações de figuras de deuses, animais e objetos “desenhadas” pelas estrelas. Nesse caso, um exemplo de destaque são as constelações do Zodíaco (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Partindo desses pressupostos, é possível constatar que a humanidade busca compreender o Universo desde tempos remotos. Neste contexto, surgiu a Astronomia, já na pré-história, sendo assim considerada a mais antiga das ciências. Conforme Oliveira Filho e Saraiva (2003), alguns dos registros mais CURSO LIVRE – ASTRONOMIA antigos são atribuídos aos chineses, babilônios, assírios e egípcios, por volta de 3.000 a.C. Estes povos estudavam os astros com objetivos práticos, tendo em vista definir a melhor época para o plantio e a colheita. Ao reconhecer a periodicidade dos fenômenos, estes povos construíram seus calendários. A Astrologia, considerada como uma pseudociência, também surgiu da necessidade humana de querer prever acontecimentos, a fim de se beneficiar com estas informações. Para os povos antigos, somente os deuses tinham o poder de decidir sobre uma boa colheita, um bom período de chuvas, ou seja, eles influenciavam diretamente nos acontecimentos terrestres. Além do mais, civilizações mais avançadas, como exemplo, dos chineses, conseguiram, desde cedo, estabelecer o número de dias de um ano (365 dias), assim como realizar registros bem precisos acerca de cometas, meteoros e meteoritos, dentre outros corpos celestes, há 700 a.C. (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2003). Oliveira Filho e Saraiva (2003) asseveram, ainda, que outros povos, os babilônios, assírios e egípcios, por exemplo, também sabiam a duração do ano desde épocas pré-cristãs. Mesmo hoje em dia, fortes evidências de conhecimentos astronômicos de povos antigos podem ser encontradas. Uma das mais conhecidas é o monumento de Stonehenge (Figura 2), na Inglaterra, que data de 3000 a 1500 a.C. Esta obra é constituída por rochas distribuídas num formato circular, concêntricas, alinhadas de acordo com o nascer e o ocaso do Sol no advento do verão e do inverno. Por conta disso, mais uma vez é importante enaltecer a aplicação prática da Astronomia para estes povos na pré-história, seja para a construção de calendários, como fizeram os maias, na América Central, ou com o intuito de se guiarem durante as navegações, como utilizados pelos polinésios, observando as constelações, por exemplo (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2003). FIGURA 2 – STONEHENGE FONTE: http://astro.if.ufrgs.br/antiga/antiga.htm. Acesso em: 20 abr. 2021. Descrição da imagem: organização das pedras da estrutura de Stonehenge. Elas estão distribuídas em um formato quase circular. As pedras são grandes e pesadas, possuindo uma forma semelhante a um paralelepípedo. Estão fixadas no solo na posição vertical. Possuem uma cor cinzenta. O fundo da imagem possui cor verde, representando uma vegetação rasteira tipo grama. Um momento de destaque da ciência antiga se deu na Grécia, de 600 a.C. a 400 d.C., sendo superado somente no século XVI. Através do esforço CURSO LIVRE – ASTRONOMIA dos gregos em conhecer a natureza do cosmos, contando ainda com o conhecimento herdado dos povos mais antigos, foram revelados os primeiros conceitos de Esfera Celeste (Figura 3), sendo concebida como um material cristalino em que as estrelas estariam incrustradas, onde a Terra ocuparia o seu centro. Apesar disso, os gregos desconheciam o movimento de rotação da Terra. Pensavam que a esfera celeste girava em torno de um eixo passando pela Terra. Para eles, as estrelas giram em torno de um ponto fixo no céu, que seria uma das extremidades do eixo de rotação da esfera celeste (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2003). FIGURA 3 – ESFERA CELESTE FONTE: http://astro.if.ufrgs.br/esf.htm. Acesso em: 20 abr. 2021. Descrição da imagem: à esquerda da imagem, a esfera celeste configurada de forma transparente, onde a Terra ocupa o seu centro. À direita, uma sequência de círculos na cor cinza se sobrepondo, tendo uma pessoa no centro de cada um, configurando a superfície terrestre. No último círculo está ilustrado somente uma parte da esfera celeste, uma calota esférica sobre a cabeça da pessoa. O fundo da imagem é negro, representando a escuridão do Universo. Por milhares de anos, os astrônomos sabem que o Sol muda sua posição no céu no decorrer do ano, movendo-se aproximadamente um grau para leste por dia. O tempo que o Sol gasta para completar uma volta na esfera celeste representa um ano. Por sua vez, o caminho aparente percorrido pelo Sol no céu durante o ano simboliza a eclíptica (denominada assim porque os eclipses ocorrem somente quando a Lua está próxima da eclíptica) (Figura 4). Considerando que a Lua e os planetas percorrem o céu em uma região de dezoito graus em relação à eclíptica, essa região foi intitulada por Aristóteles como o Zodíaco (Figura 5), dividida em doze constelações com formas predominantemente de animais (atualmente as constelações do Zodíaco são treze, incluindo agora a constelaçãodo Ofiúco). Vale salientar que as constelações são grupos aparentes de estrelas. Além disso, os antigos gregos, e os chineses e egípcios antes deles, já tinham dividido o céu em constelações (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2003). CURSO LIVRE – ASTRONOMIA FIGURA 4 – ECLÍPTICA FONTE: http://astro.if.ufrgs.br/sol/sol.htm. Acesso em: 20 abr. 2021. Descrição da imagem: a imagem exibe a esfera celeste configurada de forma transparente, onde a Terra ocupa o seu centro. Temos em destaque também duas circunferências. Uma no plano horizontal formada por uma linha contínua, representando o Equador Celeste. Outra num plano inclinado formada por uma linha tracejada, indicando a Eclíptica. O fundo da imagem é branco. FIGURA 5 – ZODÍACO FONTE: http://astro.if.ufrgs.br/const.htm. Acesso em: 20 abr. 2021. Descrição da imagem: a imagem mostra as constelações do Zodíaco. São ilustradas duas circunferências circuncêntricas, onde o Sol ocupa o centro delas, sendo formadas por linhas brancas e contínuas, e inclinadas em relação ao plano horizontal. A circunferência menor define a órbita da Terra. Já a maior trata do círculo do Zodíaco, onde estão as constelações na forma de animais que configuram os signos das pessoas, de acordo com o dia do seu nascimento. O fundo da imagem é negro, representando a escuridão do Universo. CURSO LIVRE – ASTRONOMIA No Brasil, a exemplo de outros países menos desenvolvidos, julga-se que o ensino e a prática da Astronomia são diretamente influenciados pelo eurocentrismo, a partir da colonialidade também do saber. O conhecimento imposto pela Europa, através de uma violência epistêmica, é reconhecido como a única fonte de saber, desprezando as observações e registros de outros povos, por exemplo, americanos, africanos e, especialmente, dos indígenas, que já habitam as terras brasileiras (SILVA, 2016). Defende-se que os indígenas foram os primeiros observadores do céu no Brasil. Eles habitavam as terras brasileiras bem antes de toda a violência que sofreram com as sucessivas invasões dos portugueses e espanhóis. Ao observarem os céus, os índios notaram que inúmeros fenômenos tinham relação com suas práticas cotidianas, como exemplo, a pesca, a caça, a agricultura, entre outras. Além disso, essas práticas de observação do céu, transmitidas para diferentes gerações, representam um valioso legado cultural. O Guarani é um dos povos indígenas que habitavam a América Latina muito antes das violações cometidas pela Europa. Ocupando a região Sul do Brasil, eles possuíam uma visão própria do cosmo (AFONSO, 2006). Evidências apontam que os indígenas, por meio de observações mais frequentes e precisas, passaram a associar os fenômenos celestes com as variações sazonais, influenciando assim suas práticas de plantio e colheita. Eles perceberam que até mesmo o comportamento dos animais sofria influência de mudanças nos céus. Para além de fenômenos da natureza, as posições das estrelas na esfera celeste determinavam seus rituais e atividades cotidianas (AFONSO; SILVA, 2012). Os índios atribuíam forte significado aos corpos celestes. Segundo o povo Guarani, o Sol tinha representação religiosa e cotidiana. Por vezes era chamado de Kuarahy, sendo facilmente identificado nas representações e simbologias dessa população. Outra denominação utilizada para o Sol pelos Guarani foi Nhamandu, termo de cunho religioso. Nesse sentido, a cosmovisão do povo Guarani tinha um caráter bastante religioso. Para eles, Nhande Ru Ete (O pai sagrado) foi ajudado por quatro deuses para criar a terra e seus habitantes. Na visão dos Guarani, esses deuses representavam as linhas que compõem os pontos cardeais. E ainda, a Lua, chamada de Jasy, tinha forte representação no cotidiano destas pessoas, de forma semelhante ao Sol (SILVA, 2016). Considera-se a Astronomia uma ciência cultural. Exemplo disso, são as constelações, possuindo diferentes significados para os povos, habitantes das mais diversas regiões do nosso planeta, por toda a história humana. Os indígenas consideravam não somente as estrelas como constelações, mas também as regiões claras e escuras presentes no mesmo enquadramento observado. Semelhante a outros povos, nomeavam os corpos celestes e CURSO LIVRE – ASTRONOMIA determinadas regiões do céu relacionando com figuras do seu dia a dia com grande significado, de forma que colocavam nomes de animais e outros termos que representassem seus mitos e tradições. Todavia, a União Internacional de Astronomia (UIA, cuja abreviatura em inglês é IAU) não reconhece a classificação das constelações feitas pelos índios, como dos Guaranis, dentre outros. Por outro lado, são reconhecidas as 88 constelações provenientes do conhecimento greco-romano, a despeito da relevância do legado de outras culturas, reforçando assim, a colonialidade do eurocentrismo (SILVA, 2016). É importante destacar que muitos povos indígenas do Brasil sabem localizar algumas das regiões classificadas pelos astrônomos do Ocidente, como exemplo, as Plêiades, o Cruzeiro do Sul, a pequena e a grande nuvem de Magalhães, dentre outras áreas na esfera celeste, pois elas possuem significados em suas culturas (AFONSO; SILVA, 2012). Segundo Afonso (2009), em 1614, o monge capuchinho francês Claude d’Abbeville escreveu que os tupinambás verificavam com atenção o movimento do nascer e do pôr-do-sol, assim como o seu deslocamento na linha do horizonte que realiza entre os dois trópicos. Ainda de acordo com o autor, estes indígenas sabiam que quando o Sol se deslocava vindo do Norte ventos e brisas o acompanhavam. Por sua vez, o movimento contrário do Sol, agora vindo do Sul, trazia com ele o período das chuvas. Por meio da observação do deslocamento do Sol de um trópico a outro, depois com o seu retorno, eles já sabiam contar os anos. De forma similar, reconheciam os meses do ano através da associação com a época das chuvas, dos ventos ou, ainda, pela época mais adequada para o plantio e a colheita de algumas frutas. Posto isto, constata-se que a Astronomia tinha objetivos bem práticos para os povos indígenas, como exemplo, a orientação geográfica que era também essencial para a agricultura (AFONSO, 2009). Os indígenas faziam sistematicamente associações. Relacionavam as estações do ano e as fases da Lua com a biodiversidade, buscavam a melhor época do plantio e colheita, procuravam controlar, de forma natural, as pragas que atacam suas lavouras, dentre outras estratégias. Eles escolhiam a fase da Lua nova para a caça, devido ao fato de que neste período os animais se tornam mais agitados com o aumento de luminosidade. É importante enaltecer que os povos indígenas, que habitam o litoral, também relacionam as fases da Lua com as marés. Esta é uma associação bem relevante para eles, pois, a partir disso, é definida a pesca artesanal. A compreensão dos fenômenos naturais pelos índios possibilita que eles escolham o período mais propício para a caça ou pesca, uma vez que já sabem quais as espécies de animais ou peixes mais abundantes, de acordo com a época do ano e da fase da Lua. Exemplo disso, é a pesca da gurijuba (Arius parkeri), peixe bem tradicional da região de Belém, PA. Os indígenas desta região reconhecem que entre as fases da Lua minguante para a nova, nos meses de outubro e novembro, é o momento mais adequado para a sua pesca, em razão da abundância desta espécie (AFONSO, 2009). CURSO LIVRE – ASTRONOMIA Nessa perspectiva, é inegável a relevância do estudo da Astronomia para a sobrevivência da humanidade. Por meio de seus achados, a humanidade deixou de viver em pequenos grupos nômades, formados por indivíduos coletores e caçadores, num ambiente muito hostil, passando a viver com mais qualidade, elevando a sua expectativa de vida, ampliando seus limites geográficos e do conhecimento. Em face disso, a seguir, veremos como o estudo da Astronomia está dividido, assim como as contribuições de cada área. A Astronomia é dividida em dois ramos: astronomia observacionale astronomia teórica. A astronomia de observação é direcionada para adquirir informações e analisar dados usando princípios físicos básicos. Ela se concentra no estudo direto de estrelas, planetas, galáxias e qualquer tipo de corpo celeste no Universo. Neste campo, a Astronomia faz uso dos telescópios, porém os primeiros astrônomos observaram os corpos celestes a olho nu. Já a astronomia teórica é orientada para o desenvolvimento de modelos analíticos computadorizados, a fim de descrever objetos e fenômenos astronômicos. Ela nos permite analisar a maneira como os sistemas evoluíram. Diferentemente de muitos outros campos da ciência, os astrônomos não podem observar qualquer sistema completamente desde o momento em que surgiu até seu fim. A origem dos planetas, estrelas e galáxias ocorreu há bilhões de anos. Nesse sentido, os astrônomos precisam confiar em fotografias de corpos celestes em diferentes estados evolutivos para explicarem como eles se formaram, evoluíram e morreram. Esses dois campos da Astronomia se complementam, visto que a astronomia teórica é responsável em buscar explicações para os dados e resultados obtidos pela astronomia observacional. De forma similar, a astronomia observacional é usada para validar os resultados encontrados pela astronomia teórica. 3 O SISTEMA SOLAR A teoria mais aceita atualmente propõe que o sistema solar teve início a partir de uma nuvem primitiva de gás e poeira, provavelmente há 4,6 bilhões de anos. Ela é embasada na hipótese nebular, sugerida em 1755 pelo filosofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), e ainda desenvolvida em 1796 pelo matemático francês Pierre-Simon de Laplace (1749-1827), em seu livro Exposition du Systéme du Monde. Laplace, que desenvolveu a teoria das probabilidades, calculou e concluiu que se todos os planetas estão no mesmo plano, girando em torno do Sol na mesma direção, assim como em torno de si mesmos na mesma direção (com exceção de Vênus), somente poderiam ter se formado de uma mesma grande nuvem de partículas em rotação. Sendo assim, essa hipótese sugeria que uma grande nuvem rotante de gás interestelar, a nebulosa solar, colapsou para dar origem ao Sol e aos planetas. Vale frisar que a forca gravitacional da nuvem atuando em si mesma acelerou o colapso. Ao mesmo tempo, à medida que a nuvem colapsava, a rotação da nuvem aumentava por conservação do momento angular. Desse CURSO LIVRE – ASTRONOMIA modo, com o passar do tempo, a massa de gás rotante assumiria uma forma discoidal, apresentando uma concentração central que resultou na formação do Sol. Assim, os planetas teriam se formado por meio do material no disco (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Há poucos séculos, o sistema solar constituía todo o Universo conhecido. De certo modo, é recente a noção de que as estrelas que vemos no céu são astros semelhantes ao Sol, porém bem mais distantes. A observação do céu noturno, ainda em tempos remotos, mostrou aos seres humanos que alguns astros se movimentam contra um fundo de “estrelas fixas”, a saber: a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Contudo, atualmente, o significado da palavra planeta é diferente, e não mais classificamos a Lua como planeta (MILONE et al., 2003). Entre os corpos celestes, o Sol é aquele que mais tem impacto sobre as nossas vidas. É quase improvável não o perceber em um dia claro de verão, ou não notar a sua “ausência” em um dia chuvoso. Inicialmente, foi nomeado de Hélio pelos gregos, Mitras pelos persas e Rá pelos egípcios, citando apenas algumas culturas. Há cinco séculos do advento da era Cristã, o grego Anaxágoras (aproximadamente 430 a.C.) propôs que o Sol fosse uma bola de fogo, sendo considerada apenas uma superficial aproximação da realidade. Nos dias atuais, o Sol é considerado o centro gravitacional do sistema solar. Em volta dele orbitam os demais corpos, também é ele que mantém o sistema coeso. Entretanto, o que é o Sol? O Sol é uma estrela, dentre outras existentes no Universo. Ele pode ser classificado como uma estrela típica, bem comum no Universo. O Sol, por ser uma estrela, é fonte de energia. Vale ressaltar que, ao considerar toda a energia existente na superfície da Terra, a maior parte é oriunda do Sol que fornece 99,98% dela. Por outro lado, o brilho dos corpos do sistema solar ocorre, basicamente, em razão da reflexão da luz solar em sua superfície. Sua massa se mantém coesa pela própria força da gravidade. De modo similar, acontece também com os planetas (MILONE et al., 2003). O Sol, todavia, possui uma massa muito grande, o suficiente para que a contração provocada pela força da gravidade resulte em altas densidades e temperaturas em seu centro, proporcionando, assim, reações de fusão nuclear, com alta produção de energia. É justamente esse processo que diferencia principalmente uma estrela dos planetas. O Sol é uma esfera gasosa cuja temperatura na superfície é em torno de 5 500 graus centígrados. Em seu núcleo, a temperatura chega a 15 milhões de graus. Além do mais, sua massa é 333 mil vezes maior que a da Terra, no entanto a sua densidade média é somente de 1,41 gramas por centímetro cúbico, pouco maior que a da água que é de 1 grama por centímetro cúbico. Sua massa é constituída por 92,1% de hidrogênio, o primeiro elemento químico da tabela periódica, também o mais abundante no Universo. O restante é composto basicamente por hélio. Só 0,1% da massa do Sol é formada por elementos mais pesados. O Sol transmite ao nosso planeta energia de forma radiativa. Ele se encontra a CURSO LIVRE – ASTRONOMIA uma distância média de 150 milhões de quilômetros da Terra. Isso corresponde há cerca de 8 minutos-luz, dito de outro modo, a luz do Sol leva esse tempo para chegar à Terra. Por outro lado, a segunda estrela mais próxima é Próxima Centauri, que pode ser encontrada a uma distância 270 mil vezes maior, assim sua luz levará 4 anos e 4 meses para chegar ao nosso planeta. Por estar mais próximo, é possível estudar o Sol melhor do que qualquer outra estrela do Universo (MILONE et al., 2003). Hoje, a Lua é considerada um satélite. Enquanto um planeta orbita em torno do Sol, por sua vez um satélite orbita em torno de um planeta. Contudo, sob o ponto de vista de composição e características físicas, os planetas e satélites são bem parecidos em alguns casos. Em torno do Sol orbitam oito planetas conhecidos. Em ordem de proximidade média ao Sol são eles: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Vale lembrar que, em 2006, Plutão foi “rebaixado” e reclassificado como “planeta anão”. Os planetas podem ser classificados em dois tipos: planetas telúricos (semelhantes à Terra) e planetas jovianos (semelhantes a Júpiter). Os planetas telúricos são: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Já os jovianos são: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Plutão não se enquadra em nenhuma das categorias acima, por outro lado parece um grande cometa. Os planetas telúricos são pequenos, com baixa massa e constituídos basicamente por elementos pesados. Também são chamados de planetas internos por estarem mais próximos do Sol. Possuem poucos ou nenhum satélite e não apresentam anéis. A superfície é sólida e a atmosfera é tênue, similar à massa do planeta. Os planetas telúricos apresentam ou apresentaram atividade vulcânica, sendo responsável por relevantes modificações em sua estrutura interna e na superfície (MILONE et al., 2003). Em oposição, os planetas jovianos possuem grandes dimensões e massas, como exemplo, Júpiter. São similares ao Sol. A massa desses planetas tem proximidade com a das menores estrelas. Se um planeta joviniano fosse um pouco maior, possivelmente o processo de fusão nuclear ocorreria em seu interior e ele passaria a ser uma estrela. Os planetas jovianos, também chamados gigantes, são compostos praticamente por hidrogênio e hélio. Justamente por isso, a despeito de sua grande massa, são menos densos. Não possuem superfície sólida eatmosfera densa. Apresentam comumente muitos satélites e todos exibem anéis. A presença de uma atmosfera depende da massa do planeta e de sua temperatura. Esta, por outro lado, depende inicialmente da sua distância ao Sol. Os planetas menores e mais quentes, por estarem mais próximos do Sol, têm mais dificuldade em manter uma atmosfera. Assim, os elementos mais leves escapam mais facilmente do planeta. Portanto, os planetas telúricos só conseguem reter quase que apenas elementos mais pesados em sua atmosfera. Em contraste, os planetas gigantes são capazes de reter uma maior quantidade de material, até mesmo os elementos mais leves. É importante enaltecer que a existência de uma atmosfera faz reduzir a variação de temperatura na superfície entre o dia e CURSO LIVRE – ASTRONOMIA a noite (MILONE et al., 2003). Sabe-se que os planetas não possuem luz própria. Na verdade, a maior parte da energia que irradiam corresponde à luz do Sol refletida em sua superfície. Entretanto, existe um pequeno excesso de energia (com relação à recebida pelo Sol) que pode ter origem gravitacional ou radioativa. Verifica-se que esse excesso é maior nos planetas jovianos. Apesar de ser bem menor, a energia interna dos planetas telúricos é capaz de alterar sua aparência por meio de atividade geológica: vulcanismo e movimentos tectônicos. Além disso, existem outros mecanismos que determinam a aparência da crosta de um planeta ou satélite, a saber: a erosão, provocada pela atmosfera ou hidrosfera; e o crateramento. Este último acontece em todos os planetas internos e satélites de superfície sólida. Visto dessa forma, a análise da crosta permite determinar o período de formação de um dado terreno, bem como o seu estado atual de atividade (MILONE et al., 2003). Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol, o que dificulta sua observação no céu, apesar de ser visível a olho através de uma configuração favorável. Seu nome latino se refere ao do deus grego Hermes, filho de Zeus. Muito pequeno, é o segundo menor entre todos os planetas. Sua superfície está repleta de crateras resultantes do impacto de corpos menores. Por isso, supõe-se que a atividade vulcânica tenha ocorrido apenas no início, até por volta de 1/4 da sua idade atual. Caso tivesse acontecido atividade recente, as lavas teriam coberto e apagado suas crateras. Sua atmosfera é desprezível, sendo assim existe uma elevada variação da temperatura entre o dia e a noite: de - 170 graus (lado oculto do Sol) a +430 graus centígrados (lado iluminado pelo Sol). Chama muito atenção, comparando com a Terra, onde a variação é de poucas dezenas de graus. Sua órbita é extremamente excêntrica, sendo superado apenas por Plutão. Seu movimento de translação ao redor do Sol é de 88 dias, enquanto sua rotação ocorre somente em cerca de 58 dias (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Vênus é o mais brilhante dos planetas, orbitando entre Mercúrio e a Terra. Vênus é o nome latino da deusa grega do amor, Afrodite. Em razão do seu brilho, é facilmente identificável no céu, ele é também chamado de Estrela D’Alva ou estrela matutina – lembrando, contudo, que ele não é uma estrela. Está sempre próximo ao Sol, como Mercúrio, pois suas órbitas são internas à da Terra. Enquanto Mercúrio é bastante pequeno (2/5 da Terra), por outro lado, Vênus já apresenta um tamanho comparável ao da Terra. Por sinal, esse planeta é bem parecido com o nosso, em massa e composição química. A despeito dessas similaridades, sua atmosfera é bastante diferente da terrestre. A atmosfera de Vênus é muito espessa e reflete a maior parte da luz solar incidente. Esse é o motivo do seu grande brilho. Também por isso, ela impede a observação direta da superfície do planeta. O raio de Vênus só pode ser determinado através do uso de radares ou de sondas espaciais (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). CURSO LIVRE – ASTRONOMIA Por ser um planeta relativamente grande seu manto é convectivo, pois não consegue dissipar o calor interno por condução, similar ao que acontece com Mercúrio. A convecção levou gases para a superfície, formando uma atmosfera composta essencialmente por gás carbônico, CO 2 - quase 97% - e gás nitrogênio, N 2 - 3%. O gás carbônico é responsável por causar um enorme efeito estufa, que eleva a temperatura na superfície a 460 oC. Percebe-se que essa temperatura chega a ser maior que a de Mercúrio, apesar de estar mais próximo do Sol. As nuvens de Vênus são formadas por várias substâncias, dentre elas o ácido sulfúrico. A pressão atmosférica de Vênus é bastante elevada, em torno de 100 vezes maior que a da Terra. Existem ainda evidências de vulcanismo, que está associado ao manto convectivo. Tendo em vista o exposto, percebe-se que a superfície de Vênus possui condições bem inóspitas. Vênus possui rotação retrógrada, ou seja, ele gira em sentido contrário ao da maior parte dos movimentos do sistema solar. É também o único planeta em que o tempo de rotação (243 dias) é superior ao de translação em torno do Sol (225 dias). Portanto, um dia em Vênus dura mais que um ano (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). A Terra é o terceiro planeta do sistema solar, considerando a ordem de afastamento em relação ao Sol. Terra é o nome da deusa romana (na mitologia romana, chamada de Telo, a deusa do solo fértil, já na mitologia grega era Gaia, a “terra mater”, que quer dizer “terra mãe”), esposa do “deus Sol”. Sabe- se que o planeta em que vivemos era considerado até o Renascimento como em posição privilegiada, em torno da qual o Universo existia. Com o avanço das ideias, do conhecimento humano, a Terra deixou de ocupar um lugar de destaque e passou a ser apenas mais um dos planetas de uma estrela comum, o Sol. Contudo, é ainda considerada especial, haja vista pela existência e complexidade da vida em sua superfície. A temperatura na Terra permite que a água exista no estado líquido (além da Terra, é possível que Europa, um dos satélites Galileanos de Júpiter, possua água no estado líquido sob uma crosta de gelo). Na verdade, o nosso planeta deveria ser chamado de planeta Água e não Terra, visto que 3/4 de sua superfície são cobertos por água. A água é um dos fatores essenciais para a existência da vida (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). A atmosfera terrestre é formada basicamente por nitrogênio (78%), que faz com que o nosso planeta seja azul quando visto de fora. Porém, existem outros gases. Entre eles, deve-se enaltecer o oxigênio (20%) e o ozônio, pois filtram a radiação ultravioleta do Sol, que é fatal para alguns microrganismos e prejudicial para os seres vivos em geral. O oxigênio da atmosfera terrestre é basicamente produzido pelas plantas, por meio do processo de fotossíntese. Hoje em dia, a atmosfera possui uma pequena quantidade de gás carbônico, no entanto ela já deve ter sido muito maior, porém, felizmente, foi consumida por vários processos. Nesse sentido, o efeito estufa atualmente é muito menor na Terra do que é em Vênus. A Terra é um planeta muito ativo geologicamente, pois possui vulcanismo e movimentos tectônicos importantes causados pela CURSO LIVRE – ASTRONOMIA convecção do manto interno à crosta. A Lua é o satélite natural do nosso planeta. Sua superfície é coberta por crateras de impacto, sobretudo na face oposta à Terra. Observa-se também os mares (regiões escuras) e montanhas (regiões claras). Na verdade, os mares são grandes regiões preenchidas por lava solidificada. Por outro lado, não há indícios de atividade vulcânica atualmente na Lua. Como não possui atmosfera significativa, sua temperatura é basicamente definida pela radiação solar, tendo grandes diferenças entre o dia e a noite. O movimento de translação da Terra é por volta de 365 dias, enquanto a sua rotação se realiza em cerca de 24h (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). A Lua é um satélite de certo modo particular no sistema solar, visto que possui um tamanho comparável aoda Terra. Sua massa é somente 80 vezes menor que a da Terra. Por outro lado, Ganímedes, um dos satélites de Júpiter, apresenta uma massa cerca de 10.000 vezes menor que a do planeta. Todavia, o tamanho da Lua é apenas 1/4 do da Terra. Do ponto de vista físico, o conjunto Terra-Lua poderia ser considerado um sistema binário. Entre possíveis teorias para explicar a formação lunar, existe a de formação conjunta com a Terra e posterior separação, captura, ou mesmo formação inicial em separado. De todo modo, a teoria mais defendida atualmente afirma que a Terra, há cerca de 4,6 bilhões de anos, sofreu o impacto de um objeto de massa muito alta (como Marte, por exemplo), e o resultado disso é que uma parte da Terra foi ejetada. Em pouco tempo, essa massa arrancada nessa colisão teria se reorganizado para formar a Lua (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Marte é o quarto planeta telúrico mais distante do Sol e o único do sistema solar a apresentar aspectos e características semelhantes aos da Terra. Seu nome se refere ao deus latino da guerra, cujo correspondente grego é Ares. Possui uma atmosfera bem rarefeita, cujo elemento principal é o gás carbônico (95%). Sua cor avermelhada se deve à poeira que cobre parcialmente a sua superfície. Parte dela é recoberta por lava solidificada, resultando em grandes planícies. No entanto, existem também crateras de impacto e montanhas. Vale destacar que a maior montanha do sistema solar está em Marte. É o monte Olimpo, um vulcão extinto, que possui 25 km de altura. Possivelmente ocorreram processos de convecção em algum período do passado, todavia Marte é um planeta pequeno, sendo assim esses processos cessaram e atualmente seu calor é dissipado basicamente por condução. Sua temperatura na superfície varia em torno de -90 e 30 graus centígrados. Ele possui dois satélites, Fobos e Deimos (em grego, Medo e Terror), haja vista que os nomes representam os dois filhos do deus da guerra, Ares, de acordo com a mitologia grega. São pequenos, da ordem de 10 quilômetros de raio, possuindo forma irregular, semelhantes a uma batata. São provavelmente asteroides que foram capturados pela gravidade do planeta. A translação de Marte acontece por cerca de 687 dias, já a sua rotação ocorre por volta de 24h, análoga a da Terra (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). CURSO LIVRE – ASTRONOMIA Júpiter é o maior planeta do sistema solar, sendo seu raio por cerca de 11 vezes maior que o da Terra. Sua massa é 318 vezes superior à da Terra. É o protótipo dos planetas jovianos, os gigantes gasosos. Por coincidência, o seu nome latino corresponde em grego a Zeus, o maior dos deuses do Olimpo. Mesmo possuindo provavelmente um núcleo formado por materiais pesados, ele é composto praticamente por hidrogênio e hélio na forma gasosa. Desse modo, Júpiter, assim como os demais planetas jovianos, não possui uma superfície sólida como os planetas terrestres. Ademais, sua atmosfera é também formada por hidrogênio e hélio. Ela é bastante espessa e define a aparência do planeta. A imagem de Júpiter apresenta uma série de faixas coloridas paralelas ao seu equador, que indicam nuvens de diferentes movimentos, temperatura e composição química. Uma estrutura que desperta a atenção dos estudiosos é a chamada Grande Mancha Vermelha. De forma semelhante às faixas, ela também está associada a um fenômeno meteorológico. Sua proporção equivale a mais do que o dobro do tamanho da Terra. O movimento de translação de Júpiter ocorre por volta de 12 anos terrestres, enquanto a sua rotação se dá em cerca de 10h (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Júpiter possui um tênue anel e mais de 63 satélites, mas esse número continua a crescer em virtude de novas descobertas. De todo modo, quatro delas se destacam por seu tamanho: Io, Europa, Ganímedes e Calisto. São chamados satélites galileanos, haja vista que foram descobertos por Galileu, no início do século XVII. Ganímedes é o maior satélite do sistema solar. Io e Europa são semelhantes aos planetas telúricos, constituídos praticamente por rochas. Io possui vulcões ativos e Europa uma atmosfera de oxigênio, além de um provável oceano de água líquida abaixo de uma crosta de gelo. De todos os satélites do sistema solar, somente cinco possuem atmosferas: Europa, Io, Ganímedes, Titã (Saturno) e Tritão (Netuno). Júpiter emite energia superior ao que recebe do Sol, podendo este excesso ter origem gravitacional (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). O nome do planeta Saturno vem do deus romano que ensinou aos homens a agricultura, e é por alguns relacionado ao deus grego Cronus. Saturno é o segundo maior planeta do sistema solar. É análogo a Júpiter em vários aspectos, como exemplo, na estrutura interna e atmosfera. Possui bandas atmosféricas que são menos contrastantes entre si que as de Júpiter. Assim como Júpiter, possui uma pequena fonte de calor interna. Saturno exibe um belo sistema de anéis que é visível por meio de uma pequena luneta. Denomina-se um sistema, visto que o disco que vemos em torno de Saturno corresponde a pelo menos sete anéis. Os anéis são constituídos por partículas de gelo e poeira, cujos tamanhos vão desde um milésimo de milímetro até dezenas de metros. A despeito de sua grande extensão, o raio externo fica a 480 000 quilômetros do centro de Saturno -os anéis são extremamente finos, cerca de duzentos metros. Para se ter uma ideia do que essa dimensão representa, basta imaginar um disco do tamanho de CURSO LIVRE – ASTRONOMIA um quarteirão com uma espessura próxima de um centésimo de milímetro (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Os anéis de Saturno são conhecidos há bastante tempo, porém os anéis dos demais planetas jovianos somente foram descobertos na década de 1970. Saturno tem ao menos 56 satélites. Um satélite que chama bastante atenção é Titã, pois é o segundo maior satélite do sistema solar. Possui um núcleo rochoso, recoberto por um manto de gelo de compostos orgânicos. Sua atmosfera é bem espessa e formada basicamente por nitrogênio, também contém moléculas orgânicas complexas, estrutura que se acredita ser análoga à atmosfera terrestre primitiva. A temperatura máxima na superfície de Titã é de -100 graus centígrados. O período de translação de Saturno se dá em cerca de 29 anos terrestres, já a sua rotação se completa em pouco mais de 10h (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Os planetas supracitados são conhecidos desde a Antiguidade. Todavia, Urano foi o primeiro dos planetas a serem descobertos na era moderna, em 1781, pelo astrônomo inglês de origem alemã William Herschel (1738-1822). Urano, cujo nome está relacionado ao deus grego que personifica o céu, provavelmente possui um núcleo rochoso similar ao da Terra recoberto por um manto de gelo. Desse modo, ele é diferente de Júpiter e Saturno em sua estrutura interna. Sua atmosfera é constituída praticamente por hidrogênio e hélio, contudo apresenta também um pouco de metano. Possui também bandas atmosféricas, como os demais planetas jovianos. No entanto, verifica- se uma anomalia em seu eixo de rotação, pois está muito próximo do plano orbital, ou seja, o seu eixo é basicamente perpendicular ao dos demais planetas. Acredita-se que isso tenha sido resultado de um grande impacto. Ele possui também um sistema de anéis, entretanto eles são observados de frente e não lateralmente como os de Saturno, por exemplo, em função da posição do seu eixo de rotação. Esse planeta possui ao menos 27 satélites, todos compostos principalmente por gelo. Entre seus maiores satélites, o mais próximo de Urano é Miranda. Ele possui um relevo formado por vales e despenhadeiros. Os movimentos de translação e rotação de Urano se realizam em cerca de 84 anos terrestres e 17,2h, respectivamente (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Logo após a descoberta de Urano, percebeu-se que os cálculos matemáticos não reproduziam com exatidão a suaórbita. Assim, sugeriu-se que existiria um outro planeta, cuja influência gravitacional era a responsável pelos desvios de sua órbita e inconsistência nos dados. No ano de 1845, o jovem matemático inglês John C. Adams (1819-1892) e logo em seguida o astrônomo francês Urbain Le Verrier (1811-1877) previram a existência de Netuno, que foi, finalmente, observado pelo astrônomo alemão Johann G. Galle (1812-1910) e H. L. d’Arrest em 1846. O fato de que Netuno foi previsto e só depois comprovada a sua existência é considerada uma grande vitória da ciência. Netuno é o nome latino de Poseidon, o deus grego dos mares. CURSO LIVRE – ASTRONOMIA Ele possui uma estrutura interna semelhante a Urano, sendo constituída por rochas e gelo. Exibe uma atmosfera espessa com bandas atmosféricas. Possui ao menos 13 satélites e um sistema de anéis. Entre seus satélites, Tritão ocupa um papel de destaque. É um satélite bem ativo, que possui os chamados vulcões de gelo. É importante destacar que dentre todos os corpos do sistema solar, a atividade vulcânica está presente somente na Terra, Vênus, Io e Tritão. A translação de Netuno se completa por volta de 164,8 anos terrestres, e sua rotação acontece em cerca de 16h (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). Até meados de 2006, Plutão era tido oficialmente como planeta do sistema solar. Todavia em 24 de agosto de 2006, a União Astronômica Internacional (IAU) estabeleceu uma nova definição de planeta, que somente considerava um objeto com tal se ele estivesse praticamente sozinho em sua órbita. Porém, Plutão é apenas um dos inúmeros objetos do denominado cinturão de Kuiper. Sendo assim, a IAU reclassificou Plutão, “rebaixando-o” para o status de “planeta anão”. Plutão foi descoberto em 1930, pelo americano Clyde Tonbaugh. Na mitologia, Plutão é o deus romano do mundo dos mortos, mundo este chamado de Hades pelos gregos. Sua órbita é bem excêntrica, por isso sua distância ao Sol, em seu movimento de translação, pode variar em torno de 40%. Em razão disso, sua órbita e a de Netuno se interceptam, de forma que em algumas situações Netuno passa a ficar mais afastado do Sol do que Plutão. Ele é menor até que a nossa Lua. Sua observação é bem difícil, tendo em vista o seu pequeno tamanho, assim algumas das informações que temos sobre ele são ainda incertas. É bem provável ser composto de rochas (70%) e gelo de compostos orgânicos (30%). Tem possivelmente uma pequena atmosfera de Nitrogênio, monóxido de carbono e metano (CH4). Plutão possui ao menos três satélites. As conhecidas são: Caronte (descoberta em 1978), Nix e Hidra (descobertas em 2005). A translação de Plutão se completa em cerca de 248 anos terrestres, já a sua rotação se realiza por volta de 6,3 dias (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). 4 A VISÃO DE UNIVERSO DOS CIENTISTAS Maluf (2006) explica que Aristóteles, a partir das ideias de Platão (428-348 a.C.) e de Eudóxio (~406-~380 a.C.), separando os movimentos dos corpos sublunares (que está entre a Terra e a órbita da Lua) dos corpos supralunares (que está acima ou além da Lua), defende a ideia sobre o movimento circular ser o mais perfeito de todos. Assim, assevera que o movimento dos corpos celestes que orbitava a Terra era de esferas concêntricas (Figura 6). Ainda segundo o autor, apesar da concordância acerca do movimento dos corpos celestes, existe discordância entre o modelo platônico e o aristotélico. Para o primeiro, as esferas são entes matemáticos, enquanto para o segundo elas são entendidas como objetos materiais (como esferas cristalinas). Por esta razão, o sistema aristotélico apresenta o cosmos composto por 55 esferas, CURSO LIVRE – ASTRONOMIA sendo que ele acreditava que a última tinha a função de um motor primário responsável pelo movimento das outras. FIGURA 6 – MODELO DE ARISTÓTELES FONTE: https://bit.ly/3ALOeQp. Acesso em: 21 abr. 2021. Descrição da imagem: a imagem mostra o modelo planetário de Aristóteles. São ilustradas esferas concêntricas que representam as órbitas da Lua, dos planetas e do Sol, e a Terra ocupando o centro. Na esfera mais externa, podem ser encontradas as estrelas fixas. As calotas superiores das esferas são transparentes, já as inferiores têm cor lilás com estrelas distribuídas em sua superfície. O fundo da imagem é cinza. Há séculos, a humanidade tem pensado sobre a distribuição e a organização dos astros no céu. No entanto, o modelo geocêntrico dominou o pensamento filosófico europeu até o século XVI. Em grego, “geo” significa Terra. Sendo assim, geocêntrico quer dizer que a Terra ocupa o centro do Universo. Tal modelo foi idealizado por Ptolomeu (astrônomo, matemático e geógrafo) no século II, a partir de ideias preexistentes. Nesse modelo, a Terra era o centro do Universo e em torno dela orbitavam os outros planetas, além do Sol. Quanto maior o tempo gasto para um planeta girar em torno da Terra – ou seja, retornar ao mesmo ponto do céu em relação às estrelas fixas – maior era a sua distância. As estrelas fixas ficavam todas a uma mesma distância, superando a distância do planeta considerado o mais distante na época, Saturno. Em busca de explicar corretamente os movimentos e brilhos observados dos planetas, o modelo geocêntrico precisava de uma série de complicações geométricas. Assim, foram concebidos os equantes e deferentes (MILONE et al., 2003; NOGUEIRA; CANALLE, 2009). CURSO LIVRE – ASTRONOMIA Para Ptolomeu, a Terra fica numa posição um pouco afastada do centro do deferente (desse modo, o deferente é um círculo excêntrico em relação à Terra). Até este ponto, o modelo de Ptolomeu (Figura 7) não discordava do modelo proposto por Hiparco (há aproximadamente 250 anos). A novidade de Ptolomeu foi o equante, que é um ponto ao lado do centro do deferente equidistante à Terra, em relação ao qual o centro do epiciclo se move com uma velocidade linear constante, e ainda tinha o objetivo de explicar o movimento não uniforme dos planetas. No contexto atual, sabe-se que os planetas não seguem uma rota perfeitamente circular pelo céu por causa também do movimento da Terra. Pelo contrário, com o passar do tempo eles mudam de direção (de Oeste para Leste, e vice-versa) enquanto avançam girando sobre si mesmos, tal fato resultou em sua designação, que é o termo grego para “errantes”. O sistema de Ptolomeu explicava, de forma bem complexa, esse fenômeno por meio de um sistema de círculos chamados epiciclos, algo similar a um relógio celestial que gira continuamente. Funcionava com apurada precisão que, apesar de Copérnico apontar falhas no sistema, como exemplo, o movimento da Terra, os astrônomos relutaram em abandonar o referido modelo (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2003; FARNDON, 2015). FIGURA 7 – MODELO DE PTOLOMEU FONTE: http://aulasdefisica.com/download/astronomia/cursoastronomia/fundamentoshistastro_arquivos/image006.jpg. Acesso em: 21 abr. 2021. Descrição da imagem: a imagem é um esboço do modelo planetário de Ptolomeu. São ilustradas circunferências maiores circuncêntricas formadas por linhas contínuas, que representam as deferentes da Lua, dos planetas e do Sol, e a Terra ocupando o centro. Por meio de circunferências menores, também são indicados os epiciclos dos corpos que giram em torno da Terra. Na última deferente, de circunferência maior, são encontradas as estrelas distribuídas. O fundo da imagem é branco. CURSO LIVRE – ASTRONOMIA Em 1514, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) publicou um livreto manuscrito para os amigos. Em Commentarioulos (Pequeno comentário), ele incluiu não somente a tese de que a Terra se movia ao redor do Sol e de que as estrelas se encontravam a enormes distâncias, mas também a ideia de que esse arranjo explicava inúmeros fenômenos, como exemplo, o movimento retrógrado dos planetas. Com o intuito de explicar mais facilmente o movimento dos planetas, Copérnico propôs o modelo heliocêntrico: Hélio, em grego, significa Sol. Nesse modelo, o Sol se encontrano centro e os planetas orbitavam em torno dele. Uma única particularidade era a Lua, que continuava orbitando em torno da Terra (Figura 8). Um modelo similar em que o Sol ficaria no centro do Universo já havia sido proposto por Aristarcos de Samos (281 a.C.) e Nicolas de Cusa (1401-1464), entretanto, sem grandes repercussões. O modelo heliocêntrico era tanto mais simples quanto ele também elucidava várias supostas coincidências do modelo geocêntrico de modo bem natural. Além do mais, Copérnico determinou os raios e períodos das órbitas dos planetas com uma precisão muito boa, mesmo considerando que fossem circunferências (MILONE et al., 2003; FARNDON, 2015). FIGURA 8 – MODELO DE COPÉRNICO FONTE: https://bit.ly/3xwPkxf. Acesso em: 21 abr. 2021. Descrição da imagem: a imagem é um esquema do modelo planetário de Copérnico. São ilustradas circunferências circuncêntricas formadas por linhas contínuas que representam as órbitas dos planetas, e o Sol ocupando o centro. Em volta da Terra é indicada também a órbita da Lua através de uma circunferência menor. O fundo da imagem é branco. CURSO LIVRE – ASTRONOMIA O astrônomo e físico italiano Galileu Galilei (1564-1642) era realmente um cientista genial. No início do século XVII, não só apresentou o telescópio como um importante instrumento científico. Teve o insight de apontá-lo para o céu noturno e revelar descobertas fantásticas. Dentre elas, as montanhas e vales na superfície da Lua, os satélites de Júpiter, as fases de Vênus, semelhantes às da Lua; e as manchas solares. Foram essas descobertas que convenceram Galileu de que Copérnico estava correto, ao afirmar que o Sol, e não a Terra, ocupa o centro do Universo. Todavia, isso foi de encontro ao que defendia a Igreja Católica, que insistia na visão ptolomaica da Terra fixa e imóvel no centro do Universo. Além disso, Galileu obteve vários resultados experimentais sobre os movimentos dos corpos que contribuíram para a base do trabalho de Newton. O modelo de Copérnico infelizmente ainda possuía problemas. Ele defendia que as órbitas dos planetas eram circunferências perfeitas, sendo que para explicar corretamente os movimentos observados seriam necessários artifícios geométricos, similar ao que acontecia com o modelo geocêntrico (MILONE et al., 2003; FARNDON, 2015). Foi o astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630), no início do século XVII, quem comprovou que as órbitas planetárias eram elípticas. Com essa finalidade, ele fez uso das observações do astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), do qual foi assistente durante o último ano de vida e seu sucessor como responsável pelo observatório de Uraniborg. Os dados obtidos por Tycho Brahe eram os mais precisos da época e no limite do que a olho nu podemos conseguir. Kepler, ao tentar explicar seus resultados, que não eram compatíveis com o modelo de Copérnico, ele propôs as três leis que descrevem corretamente os movimentos dos planetas. Vale destacar que Tycho Brahe não acreditava na hipótese heliocêntrica de Copérnico, todavia foram suas observações acerca dos planetas que levaram às leis de Kepler do movimento planetário. Por meio do trabalho de Kepler, foi possível melhor compreender como os planetas se movimentam ao redor do Sol. Entretanto, algo ainda intrigava as pessoas: por quê? (MILONE et al., 2003; OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2003). Foi só com a Teoria da Gravitação Universal (TGU) proposta pelo físico e matemático inglês Isaac Newton (1643-1727), publicada em 1687, que isso foi respondido. A TGU mostra que os corpos se atraem uns aos outros, isto é, um corpo cria em torno de si um campo gravitacional que é sentido por todos os outros corpos. Essa é a razão pela qual a Terra está ligada ao Sol, por exemplo. Além do mais, nas escalas astronômicas a força gravitacional é dominante e rege grande parte dos fenômenos celestes. Com a Teoria da Gravitação Universal, Newton conseguiu explicar ainda dois pontos da mecânica: a conversão de movimentos lineares em movimentos circulares e/ ou elípticos, e sobre a variação da força gravitacional em função da distância. Newton, apoiando-se no movimento terrestre e nas leis de Kepler, demonstra matematicamente que a força com que um corpo atrai outro é mais intensa quanto maior forem suas massas, por outro lado ela decresce com o quadrado CURSO LIVRE – ASTRONOMIA da distância entre eles. Assim, Newton causou uma ruptura com o sistema copernicano. Ele rejeitou a ideia de um mundo finito que girava ao redor do Sol e propôs a teoria de um mundo infinito com diversos sistemas solares, em que o Sol se encontra em movimento junto com a Via Láctea. Bachelard (2006) explica que, com o processo de racionalização na Física, Newton ultrapassa o imediatismo e o realismo ingênuo, reconhecendo as órbitas elípticas, parabólicas e hiperbólicas (DAMASCENO JÚNIOR; ROMEU, 2018). Partindo desses pressupostos, dessa fundamentação teórica, é possível responder a algumas perguntas que intrigaram ou que continuam intrigando a humanidade? Por exemplo, a forma da Terra é plana? REFERÊNCIAS AFONSO, G. B. Mitos e estações no céu Tupi-Guarani. Scientific American Brasil, Brasil, p.46-55. 2006. AFONSO, G. B. Astronomia indígena. In: REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 61., 2009, Manaus. Anais... Manaus: SBPC, 2009. Disponível em: https://bit. ly/3hYyMrs. Acesso em: 30 maio 2021. AFONSO, G. B.; SILVA, P. S. da. O céu dos índios de Dourados: Mato Grosso do Sul. Dourados: Uems, 2012. BACHELARD, G. A epistemologia. 10. ed. Tradução de Fátima Lourenço Godinho e Mário Carmino Oliveira. Lisboa: Edições 70. 2006. BARAI, A. et al. Astronomia nos anos iniciais do Ensino Fundamental: uma parceria entre universidade e escola. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 33, n. 3, p. 1009- 1025, 2016. Disponível: https://dialnet.unirioja. es/servlet/articulo?codigo=5775884. 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