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COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 1 EVOLUÇÃO HITÓRICA DAS ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS 1 Introdução As causas do crime sempre foram objeto de estudo para diversos pensadores. Platão (428-7 a.C. – 348-7 a.C) sem dúvida foi um deles e, no livro “As Leis”, descreveu o crime como uma doença, com causas de natureza tríplice, quais sejam: as paixões (inveja, ciúme, ambição, cólera, etc.), a procura do prazer e por último a ignorância. Ainda na mesma obra, Platão descreveu a pena como um remédio, capaz de curar o delinquente. No entanto, apontou a chamada “pena de morte” como à sanção ideal para os resistentes ou irrecuperáveis ao tratamento penal. Guiado pela mesma linha de raciocínio, Aristóteles (384 a.C – 322 a.C), na obra “Ética a Nicómaco”, descreveu o criminoso como um inimigo da sociedade, que deveria ser castigado. Aristóteles via na política o principal fator determinante do crime, pois ela atribuía grandes desigualdades e miséria o que gerava a revolta. 2 O Iluminismo, Humanitarismo, Liberalismo Burguês ou “Filosofia das Luzes” Após a Idade Média a Europa vivenciou um período de terror, onde o tiranismo, autocratismo e o arbitrarismo dos reis dominavam o Estado. Assim muitos inocentes foram cruelmente condenados e castigados, enquanto muitos culpados ficaram impunes. As execuções dos culpados aconteciam da seguinte forma, segundo ensinamentos de Farias Júnior (1993, p. 25): As execuções tinham que seguir um ritual de teatralismo e de ostentação do condenado à execração e a irrisão pública, as carnes eram cortadas e queimadas com líquidos ferventes, os membros eram quebrados ou arrebentados na roda, ou separados do corpo através de tração de cavalos, o ventre era aberto para que as vísceras ficassem à mostra. Todos deveriam assistir as cenas horripilantes. O gritar, o gemer, as carnes cortadas e queimadas, a expressão de dor, enfim, todas as cenas horríveis deveriam ficar vivas na memória de todos. Por volta dos séculos XVII e XVIII na Europa, houve grande crescimento da burguesia classe que detinha o comando do desenvolvimento do capitalismo da época. A brutalidade do rei e a crueldade com que os condenados eram castigados não agradavam os burgueses o que causou conflitos entre os burgueses e a nobreza. Tais conflitos originaram o iluminismo. Os principais pensadores iluministas originalmente foram: O filósofo inglês John Locke (1632 – 1704) considerado o pai do iluminismo, que escreveu o livro “Ensaio Sobre o Entendimento Humano”. O jurista francês Charles de Montesquieu (1689 – 1755), que escreveu “O Espírito das Leis”, onde defendeu a separação dos três poderes do Estado. François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694 – 1778), filósofo francês que críticava a extremismo religioso, o clero católico e os detentores do poder da época, escritor do livro “Ensaio Sobre os Costumes”. Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778), também filósofo francês, foi um defensor assíduo da burguesia e um grande inspirador das ideias da revolução COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 2 francesa, escreveu vários livros dentre eles “O Contrato Social” e “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens”. E os filósofos franceses Denis Diderot (1713 – 1784), e Jean Le RondD'Alembert (1717 – 1783) elaboraram juntos a "Enciclopédia ou Dicionário Racional das ciências, das Artes e dos Ofícios", composta de 33 volumes publicados, pretendia reunir todo o conhecimento humano disponível, que se tornou o principal vínculo de divulgação de suas ideias naquela época. Por sua vez, Della Porta (1535 – 1616) autor da obra “A Fisionomia Humana”, observou através do estudo de cadáveres de vários criminosos concluiu, que através dos dados fisionômicos de uma pessoa pode-se deduzir seus caracteres psíquicos. 3 Cesare Bonesana, Marquês De Beccaria Não obstante a todos esses pensadores que defendiam a ideia de que o homem deveria conhecer a justiça. É evidente que o iluminismo ganhou força no ano de 1764 com a publicação da obra “Dei Delitti e Delle Pene” do italiano Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria (1738 – 1794). Segundo Dias e Andrade (1997, p. 08), Beccaria fundamentou: [...] legitimidade do direito de punir, bem como definir os critérios da sua utilidade, a partir do postulado contratual. Serão ilegítimas todas as penas que não revelem da salvaguarda do contrato social (sc., da tutela de interesses de terceiros) e inúteis todas as que não sejam adequadas a obviar às suas violações Seguindo os defendeu ainda que: futuras, em particular as que se revelem ineficazes do ponto de vista da prevenção geral. mesmos autores, Dias e Andrade ( 1997, p. 09), Beccaria O homem atua movido pela procura do prazer, pelo que as penas devem ser previstas de modo a anularem as gratificações ligadas a pratica do crime. Em conexão com isto, sustentou Beccaria a necessidade, como pressuposto da sua eficácia preventiva, de que as sanções criminais fossem certas e de aplicação imediata. 4 Escola Clássica ou Iusnaturalismo A denominação “Escola Clássica” foi dada pelos criadores da Escola Positivista. A Escola Clássica se difundiu por toda a Europa através de escritores, pensadores e filósofos que adotaram as teses e ideias de Beccaria. Os principais escritores dessa corrente doutrinaria foram: Gian Domenico Romagnosi (1761 – 1835) na Itália, Jeremias Bentham (1748 – 1832) na Inglaterra e na Alemanha Paul Johann Anselm Ritter Von Feuerbach (1775 – 1833) na Alemanha. A partir destes autores vários outros escreveram sobre o crime no âmbito da Escola Clássica. Segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 176), os autores do iusnaturalismoidealizavam o crime: [...] fato individual, isolado, como mera infração à lei: é a contradição com a norma jurídica que dá sentido ao delito, sem que seja necessariamente uma referencia à personalidade do autor (mero sujeito ativo do fato) ou à sua realidade social, para compreendê-lo. O decisivo é o fato não o autor. A determinação sempre justa da lei, COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 3 igual para todos e acertada, é infringida pelo delinquente em uma decisão livre e soberana. No que diz respeito à pena a Escola Clássica apresentava três teorias. Absoluta: que via a pena como exigência de justiça. Relativa: que lhe apontava que lhe apontava um fim pratico de prevenção geral e especial. E por fim a mista que resultava da fusão das duas primeiras. A fisionomia e a frenologia da Escola Clássica foram abordadas pelo suíçoJohann Kaspar Lavater (1741 – 1801), guiou seus estudos nas obras do italiano Della Porta, preocupou-se com a aparência externa do individuo, ou seja, entre o corpo e o psíquico. Tanto Lavater quanto para Della Porta adotaram a seguinte teoria, “quando se tem duvida entre dois presumidos culpados, condena-se o mais feio”. Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 179), Lavater sustentava que: [...] existe uma correlação entre determinadas qualidades do individuo e os órgãos ou partes do corpo onde se supõe que têm sua sede e concentração física e as correspondentes potências humanas. A vida intelectual podia ser observada na fronte (testa); a moral e sensitiva nos olhos e no nariz; a animal e vegetativa no mento (maxilar inferior). De acordo com Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 179), Lavater defendia que o delinquente “de maldade natural” se diferenciava das demais pessoas por características físicas tais como: [...] nariz oblíquo em relação com o rosto, que é disforme, pequeno e amarelo; não tem a barba pontiaguda; olhos grandes e ferozes, brilhantes sempre iracundos (coléricos), as pálpebras abertas, ao redor dos olhos pequenas manchas amarelas e, dentro, pequenos grãos de sangue brilhante com fogo, envolvidos por outros brancos, círculos de um vermelho sombrio rodeiam a pupila, olhos brilhantes e pérfidos e uma lagrima colocada nos ângulos inferiores; as sobrancelhas rudes, as pálpebras direitas, a mirada feroz e às vezes atravessada.Apesar da grande contribuição da Escola Clássica para a criminologia, essa apresentava falhas por não indagar as “causas” do comportamento criminoso. Eis que para ela a principal origem do delito era a livre decisão de seu autor em cometê-lo. 5 Escola Positiva ou Escola Italiana No século XIX notou-se a falência das ideias Iluministas tanto pelo crescente aumento da criminalidade e diversidade de crimes que se criaram quanto pelas altas taxas de reincidência. Assim ano de 1876, foi publicada a primeira edição do livro “L’Uomo delinquente” escrita pelo médico italiano Cesare Lombroso (1835 – 1909), dando inicio assim, a Escola Positiva Italiana. Lombroso teve como discípulos Enrico Ferri (1856 – 1929) e Rafael Garófalo (1851 – 1934) que foram de fundamental importância para os estudos da criminologia. É evidente que os três escreveram sobre a criminologia. No entanto, é interessante ressaltar que cada um deles estudou a criminologia de uma óptica diferente. Sendo que Lombroso atribuiu à criminologia o fator antropológico, Ferri por sua vez atribuiu a criminologia as condições sociológicas do criminoso, enquanto Garófalo atribuiu a criminologia o fator psicológico. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 4 5.1 A Antropologia de Cesare Lombroso Além do livro “L’Uomo delinquente” Lombroso escreveu outros tantos sobre esse tema, entre eles “La Donna delinquente, la prostituta e la donna normale” (1859), “Genio e degenerazione” (1908) e “Crime: It’s Causes and Remedies” (1913). A principal tese da teoria de Lombroso foi sem sombra de duvidas a do criminoso atávico, que havia sido criada anteriormente por Charles Robert Darwin (1809 – 1882) e foi por ele desenvolvida e ampliada. O criminoso atávico (nato), para Lombroso seria um homem menos civilizado que os demais membros da sociedade em que vive, sendo representado por um enorme anacronismo, ou seja, esses indivíduos reproduzem física e mentalmente características primitivas do homem. Essas deduções basearam-se em pressupostos de que os comportamentos humanos são biologicamente determinados. Assim, sendo o atavismo tanto físico quanto mental, poder-se ia identificar, valendo-se de sinais anatômicos, aqueles indivíduos que estariam hereditariamente destinados ao crime. Ainda, reduziu o crime a um fenômeno natural, pois considerava o criminoso como um indivíduo primitivo e doente. Dessa forma ele rejeitava uma definição estritamente legal a respeito do criminoso. Para suas deduções sobre o criminoso examinava o crânio de criminosos conhecidos, onde costumava encontrar, conforme ensinado por Garcia; Molina; Gomes (2002, p.193): [...] uma grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis), análoga à que se encontra nos vertebrados inferiores”. E baseou o “atavismo” ou caráter regressivo do tipo criminoso no exame do comportamento de certos animais e plantas, no de tribos primitivas e selvagens de civilizações indígenas e, inclusive, em certas atitudes da psicologia infantil profunda. De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece uma serie de estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliais, assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, grande desenvolvimento das maças do rosto, orelhas em forma de asas, tubérculos de Darwin, uso frequente de tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso frequente de um determinado jargão, altos índices de reincidência, etc.). Do ponto de vista tipológico defendeu a classificação do criminoso em seis categorias: criminoso nato (atávico), louco moral (doente), epilético, ocasional, passional, e louco. Lombroso ainda fazia uma inter-relação entre a criminalidade atávica, loucura moral e epilepsia, que segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 193): [...] o criminoso nato é um ser inferior, atávico, que não evolucionou, igual a uma criança ou a um louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores; é um individuo que, ademais, sofre alguma forma de epilepsia, com suas correspondentes lesões cerebrais. Lombroso buscava, entre outras coisas, estabelecer uma divisão entre o “bom” e o “mau” cidadão, buscando nos maus patologias, para justificar a pena como meio de defesa da sociedade. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 5 5.2 A Sociologia Criminal de Erico Ferri Ferri se sobressaiu nos estudos sobre criminologia através dos fatores sociológicos. Ao contrário do que defendia Lombroso, não acreditava que o delito era produto exclusivo de patologias individuais. Entendia que a criminalidade originava-se de fenômenos sociais. Assim defendeu as causas do crime como sendo individuais ou antropológicas (constituição orgânica e psíquica do individuo, características pessoais como raça, idade, sexo, estado civil, etc.) físicas ou naturais (clima, estação, temperatura, etc.) e sociais (opinião pública, família, moral, religião, educação, alcoolismo, etc.). Segundo Garcia; Molina; Gomes (2002, p. 196): [...] o cientista poderia antecipar o numero exato de delitos, e a classe deles, em uma determinada sociedade e em um número concreto, se contasse com todos os fatores individuais, físicos e sociais antes citados e fosse capaz de quantificar a incidência de cada um deles. Porque, sob tais premissas, não se comete um delito mais nem menos (lei da “saturação criminal”). Ferri defendia também, a teoria dos “substitutivos penais”, pois para ele a pena, por si só, seria ineficaz, se não viesse precedida ou acompanhada das oportunas reformas econômicas, sociais, etc., orientadas por uma analise cientifica e etimológica do delito. Para ele os pilares dessa reforma seriam a Psicologia Positiva (defendida por Garófalo), a Antropologia Criminal (apontada por Lombroso) e a Estatística Social. Quanto à tipologia, Ferri acreditava na existência de seis categorias de delinquentes: nato, louco, habitual, ocasional, passional e involuntário ou imprudente. Mas apesar das tipologias, acreditava na combinação da vida cotidiana e nas características de diferentes tipos em uma mesma pessoa. Sustentou ainda, a tese da pena indeterminada e da indenização da vítima como medida de caráter penal. O marco em sua carreira foi à publicação do livro “Sociologia Criminale” (1892). 5.3 A Psicologia Positiva de Rafael Garófalo Por sua vez, Garófalo foi o primeiro autor da Escola Positiva, a utilizar a denominação “Criminologia”, tal nome foi dado ao livro “Criminologia” publicado no ano de 1885. Além deste Garófalo escreveu outro de importância semelhante, tais como: “Ripparazione e vittime Del delitto” (1887) e “La supertition socialiste” (1895). Em suas obras preocupava-se com a definição psicológica do crime, eis que defendia a teoria do “crime natural”, para definir os comportamentos que afrontam os sentimentos básicos e universais de piedade e probidade em uma sociedade. Para ele a ausência desses sentimentos no delinquente o conduziriam ao crime. Segundo Dias e Andrade (1997, p. 17): A sua obra ficou assinalada pela tentativa de definição dum conceito <<sociológico>> de crime, capaz de satisfazer as exigências de universalidade que a criminologia deveria respeitar para justificar o qualificativo de crime. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 6 Garófalo acreditava ainda, que o criminoso tinha um déficit na esfera moral da personalidade, de base endógena, e uma mutação psíquica, transmissível hereditariamente e com conotações atávicas e degenerativas. Com relação à tipologia, definiu quatro categorias de delinquentes: o assassino, o criminoso violento, o ladrão e o lascivo. Entendia que as penas deveriam servir como castigos e ter como referência as características particulares de cada criminoso. 5.4 A Sociologia Criminal ou Escola Franco-Belga No século XIX em Bruxelas(1892) no 3o Congresso Internacional de Antropologia Criminal, que ocorreu o desequilíbrio da Escola Positiva e começou a se consolidar a Sociologia Criminal. Os principais estudioso dessa nova linha de estudos a respeito da criminologia foram: Alexandre Lacassagne (1843 a 1924), Émile Durkheim (1858 a 1917) e Lambert Adolphe Jacques Quetelet (1796 a 1874). A sociologia criminal baseia-se nos estudos do ambiente (miséria, ambiente moral e material, a educação, a família, etc.), para a caracterização do criminoso e assim do crime. A partir da concepção de que o ambiente é um fator determinante da criminalidade, começou a aplicar-se e desenvolverem os métodos e os instrumentos próprios da sociologia criminal, nomeados métodos clássicos a recolha e interpretação de dados estatísticos. No fim do século XIX iniciou-se a Criminologia Socialista, que entendia como explicação do crime como egoísmo, que nasce a partir da natureza da sociedade capitalista. Para esses autores, o desaparecimento ou redução sistemática do crime aconteceria a partir do momento em que fosse instaurado o socialismo. Dias e Andrade (1997, p. 27) salientam que: A representação do capitalismo como um sistema virado para a obtenção do lucro e a competição, propício ao exacerbamento do egoísmo e hostil ao florescimento dos sentimentos de altruísmo e solidariedade. O capitalismo tornaria, por isso, os homens mais individualistas e << mais propensos à prática do crime>>. 6 Criminologia Nova ou Criminologia Crítica No ano de 1960 ocorreu a mais arrebatadora virada no estudo da criminologia. Esses estudos surgiram de um conjunto de perspectivas, tais como: o labeling approach(perspectiva interacionalista), a etnometodologia e a criminologia racial. O labeling approach reporta-se ao delinquente ou até mesmo ao crime propriamente dito e ao sistema de controle. Essa linha de raciocínio se pergunta: por que determinadas pessoas são tratadas como criminosos, quais as consequências desse tratamento e qual a fonte de sua legitimidade. Essa perspectiva sofre a influencia do interacionalismo simbólico, ou seja, de que o delinquente apenas de difere do homem normal pela estigmatização que sofre. O labeling approach ainda, rejeita o pensamento determinista e os modelos estruturais e estatísticos do comportamento do delinquente. O objetivo etnometodologia é entrar no cotidiano dos participantes de determinada sociedade e descobrir as regras e os rituais que eles assumem como garantidos para se assegurar. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 7 A criminologia radical, por sua vez, apresentou um desenvolvimento das premissas do interacionalismo em um sentido oposto ao da etnometodologia, eis que crítica sistematicamente tanto o interacionalismo como a própria etnometodologia. Nesse sentido Dias e Andrade (1997, p. 27) observam que: As normas penais passaram a serem vistas dentro de perspectivas de pluralismo axiológico/conflito, como expressão do domino de um grupo ou classe Em resumo o direito criminal passa agora a ser encarado como um instrumento nas mãos de moral entrepreneurs ou serviço dos interesses dos detentores do poder. A criminologia nova ou crítica, de modo sistemático e original, confronta as aquisições das teorias sociológicas sobre crime e controle social com os princípios da ideologia e da defesa social. Como se observa criminologia crítica apresentou uma mudança de foco do autor de crime para o contexto social no qual ele se insere propenso às relações de poder de ordem macro e microssocial, à estigmatização e ao etiquetamento, à reação social e à criminalização anterior e posterior ao delito. 2.7 A Criminologia no Brasil Foi nas ultimas décadas do século XIX que a criminologia começa a ganhar força no Brasil. Sendo João Vieira de Araújo (1844 – 1922) o maior recepcionador no país das ideias sobre criminologia expostas pelo médico italiano Cesare Lombroso. No entanto, Tobias Barreto (1839 – 1889), foi o primeiro crítico brasileiro de Cesare Lombroso, pois segundo ele pelos princípios dados por Lombroso, seria preciso recolher ao hospital a humanidade inteira. Segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 80), Barreto escreveu sobre o criminoso: O criminoso é fato natural sujeito a outras leis que não as leis de liberdade e o homem é todo feito à imagem, não de Deus, porém da natureza. Pregou a reforma do homem pelo homem mesmo, acrescentando que “não se corrige o homem, matando-o ou aviltando”. Silvio Romero (1851 – 1914), por sua vez estudou os tipos étnicos, os caracteres das coletividades, a alma dos grupos, as índoles individuais, moldadas nos vícios ambientais, os e os vincos deixados nos espíritos pela atmosfera social. Segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 84), Romero definia o bem como: O bem é uma flor do cérebro do próprio homem; a fisiologia é a alma da psicologia; o homem tem afeição do meio que habita pelatirania dos fatos exteriores; há uma espécie de paralisia moral ou intelectual determinada pela ignorância, os criminosos saem das prisões três vezes piores; assim como há ideias com a cor da bílis, existem atos com a cor do sangue; o homem é o que ele come. Já Clóvis Beviláqua (1859 – 1944), publicou no ano de 1896 a primeira obra sobre criminologia, denominada “Criminologia e Direito”, onde ele retratou a criminologia no Estado do Ceará em relação ao tempo e à população, a distribuição geográfica dos crimes, etc.. Euclides da Cunha (1866 – 1909) foi o primeiro estudioso sobre criminologia a aplicar a Sociologia Criminal no Brasil. Cunha ainda comparou a teoria de Lombroso a uma topografia psíquica. Escrito do livro “Os Sertões” (1902), examinou as causa da denominada por ele “delinquência sertaneja”, que segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 94) ele eram: COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 8 Vastas galerias de indivíduos que são índices ou sumários de um meio [...] como feixes de fatos, cada um com seu rótulo, sua rubrica inapagável e eterna [...]. Cada indivíduo é um resumo, um compêndio. E todos são reais e apanhados em flagrante. Sãocristalizações humanas obtidas por quatrocentos anos de labutar em meia-cultura. Euclides da Cunha ainda, revelou que fatores naturais ou sociais retardam ou interrompem o desenvolvimento mental, criam à loucura do deserto, excitam a fraqueza irritável das gentes supersticiosas e incultas predispostas ao desafogo máximo das paixões. Nina Rodrigues (1862 – 1906), uma das receptoras da teoria lombrosiana no Brasil. Foi considerada pelo próprio Lombroso apostolo da Antropologia Criminal na América do Sul. Criadora da teoria da criminalidade étnica defendia que na em uma mesma sociedade, poderiam ser encontradas raças em diferentes fases de evolução (moral e jurídica). Acreditava ainda, que a civilização era boa para os brancos e má para os negros. Acreditava que para o Brasil deveria ser criado quatro tipos de códigos penais, para que assim, pudesse atender às diversidades principalmente as de clima e raça. Nina como Lombroso também costumava estudar crânios, sendo que começou seus estudos por meio de experiências com o “exame do crânio de Lucas”. Afrânio Peixoto (1876 – 1947) foi um crítico assíduo da concepção de Durkhein e Lacassagne, costumava dizer que, conforme ensinamentos de Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 94): A sociedade tem os criminosos que merece; o meio social é o caldo de cultura da criminalidade; o micróbio é o criminoso que só tem importância quando encontra o caldo que o faz fermentar. Peixoto defendia ainda, que o código penal deveria ser reescrito de tempos em tempos. Júlio Pires Porto-Carrero (1887 – 1937), costumava dizer que a Pedagogia destruirá a Penologia. Segundo Lyra e Araújo Júnior (1990, p. 101), costumava dizer que: Determinar o destino a dar ao criminoso, de um ponto de vista humano, do verdadeiro ponto de vista do interesse social. O homem que delinquiu continua a ser homem, como qualquer denós, que não estamos livres de um dia também cair nas malhas da lei. Luis Carpenter (1876 – 1957) foi o primeiro estudioso da criminologia a aplicar suas visões criminológicas ao Direito Militar. Escreveu os livros “O Velho Direito Penal Militar Clássico e as Ideias Modernas da Sociologia Criminal” (1914). Descreveu os segundo ele denominados crimes propriamente militares, as contravenções disciplinares e os chamados crimes impropriamente militares (entidades bifrontes, híbridas, da cintura para cima crime comum, da cintura para baixo crime militar). O presidente da Sociedade Brasileira de Criminologia foi Evaristo de Moraes (1871 – 1939). Sobre criminologia escreveu os livros “Crianças Abandonadas e Crianças Criminosas” (1900); “Teoria Lombrosiana do Delinquente” (1902); “Ensaios de COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 9 Patologia Social” (1921); “Criminalidade da Infância e da Adolescência (1927); “Criminalidade Passional” (1933) e “Embriaguez e Alcoolismo”. Joaquim Pimenta (1886 – 1963), estudava o alcoolismo como fonte direta da criminalidade e as lutas das famílias e sua persecução na sociedade sertaneja. 5 Conclusão Diante do exposto, podemos concluir que a criminalidade hoje em dia, vem aumentando consideravelmente, o que gera muita insegurança a sociedade em geral. Osfatores que levam a esse aumento podem ser chamados como biopsicossociais. Em contrapartida, percebe-se que houve uma evolução, na história do pensamento humano no que se refere aos delitos e as penas. Assim, as penas que anteriormente eram cruéis e degradantes, passaram a ser mais justas, eis que o que se busca hoje em dia é dissuadir a pratica de crimes e ressocialização dos criminosos. Ainda, não podemos dizer que o Estado finalizou seu intento, mas caminha gradativamente para isso. Podemos perceber que a tendência atual, em alguns casos, considerados menos graves, é à substituição da pena privativa de liberdade por outras opções menos aflitivas, como as multas. A jornada é longa e árdua, mas não podemos negar a evolução que ocorreu, ainda á que se modificar muitas coisas, mas estamos no caminho. REFERÊNCIAS ARAÚJO JÚNIOR, João; Marcello de LYRA, Roberto. Criminologia. 2. ed. Rio de Janeiro, 1990 BARATA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 1999. BENEVIDES, Paulo Ricardo. Caos: superlotação x penas alternativas. Revista Visão Jurídica. São Paulo, ano VI, n. 59, p. 70-71, abril/2011. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011 CARVALHO, Maria C. Neiva de; MIRANDA, Vera Regina. Psicologia jurídica: temas de aplicação. 2. reimpressão. Curitiba: Juruá, 2009. DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: O delinquente e a Sociedade Criminógena. 2. ed. Serra da Boa Viagem, 1997 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de Criminologia. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1993. GARCIA, Antônio; MOLINA, Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. 4. ed. São COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 10 Paulo: Revista dos Tribunais, 2002 GOMES. Luiz Flavio. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002 GONZAGA, M. T. C.; SANTOS, H. M. R.; BACARIN, J. N. B. A cidadania por um fio: a luta pela inclusão dos apenados na sociedade. Maringá: Dental Press, 2002. MOLINA, A. G. P.; GOMES, F. L. Criminologia. 2. ed. São Paulo: RT, 1997. OLIVEIRA, Frederico Abrahão de. Manual de Criminologia. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do advogado, 1996. SCHELP, Diogo. Entrevista com Anthony Daniels: Eles têm culpa sim. Revista Veja. São Paulo, edição 2230, p. 17-21, 17 de agosto de 2011. SILVA JÚNIOR, Edison Miguel da. Teorias criminológicas sobre o problema do crime.11/12/2006. Disponível em: <http://www.novacriminologia.com.br/Artigos/ArtigoLer.asp?idArtigo=1823>. Acesso em: 30/06/2011. SMANIO, Gianpaolo Poggio. Criminologia e juizado especial criminal: modernização do processo penal e controle social. São Paulo: Atlas, 1997. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 11 FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA: CONFIABILIDADE, CONTEÚDO E OBJETIVOS DO SABER CIENTÍFICO CRIMINOLÓGICO Visando a divulgar a moderna Criminologia no Brasil, passamos a publicar nesta seção alguns trechos do livro Criminologia, de autoria de Antonio García-Pablos de Molina e do Dr. Luiz Flávio Gomes (5.ed.rev. e atual.- São Paulo: Revista dos Tribinais, 2007. A função básica da Criminologia consiste em informar a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinquente, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos - o mais seguro e contrastado - que permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no homem delinquente. A investigação criminológica, enquanto atividade científica, reduz ao máximo a intuição e o subjetivismo, submetendo o problema criminal a uma análise rigorosa, com técnicas empíricas. Sua metodologia interdisciplinar permite, ademais, coordenar os conhecimentos obtidos setorialmente nos distintos campos do saber pelos respectivos especialistas, eliminando contradições e suprindo as inevitáveis lacunas. Oferece, pois, um diagnóstico qualificado e de conjunto sobre o fato delitivo. Convém, sem embargo, desmitificar algumas crenças sobre o saber científico criminológico, pois oferecem uma imagem distorcida da Criminologia como ciência, da contribuição que esta pode oferecer e de sua própria função. A Criminologia, como ciência, não pode trazer um saber absoluto, certo e definitivo sobre o problema criminal, senão um saber relativo, limitado, provisional a respeito do mesmo. A experiência demonstra que com o tempo e o progresso as teorias se superam, as concepções outrora mais aceitas caem no esquecimento e tornam-se obsoletas. A Criminologia aspira conhecer e explicar a realidade com pretensões de objetividade, busca a verdade e o progresso. Entretanto, como disse Popper, ao referir-se a este último, o progresso constitui uma "busca sem fim". 1. O saber criminológico como saber científico, dinâmico e prático sobre o problema criminal. a) Convém, antes de tudo, recordar que a Criminologia não é uma ciência exata, capaz de explicar o fenômeno delitivo formulando leis universais e relações de causa e efeito. A conhecida crise do paradigma causal-explicativo obriga relativizar a suposta exatidão do conhecimento científico e, com isso, o ideal de cientificidade herdado do século XIX, que tomava como modelo as então denominadas ciências exatas. Por isso, os esquemas causais perderam hoje o monopólio da explicação dos fenômenos, especialmente dos fatos humanos e culturais, que escapam da simplista lei de causalidade física e natural. O racionalismo crítico desmistificou a infalibilidade e universalidade do conhecimento científico. O sistema conceitual deste já não aparece como veículo de uma verdade objetiva, senão como conjunto de proposições e hipóteses não refutadas que, em todo caso, nunca poderão ser verificadas com absoluto rigor. Chegou-se a afirmar, por isso, que o método científico seria, em última análise, uma técnica da refutação; e a investigação científica, mais uma crítica do conhecimento que uma impossível busca da verdade. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 12 A tudo isso se deve a prudente atitude de reserva que caracteriza a moderna etiologia criminal; o desprestígio das teorias monocausais, que tratam de reconduzir, sem êxito, a explicação do delito a um determinado fator em virtude das inflexíveis relações de causa e efeito; e, inclusive, o abandono da terminologia convencional, inclinada ao emprego de conceitos importados das ciências naturais, como o conceito de causa. Frente ao exposto, parece mais realista propugnar, como função básica da Criminologia, a obtenção de um núcleo de conhecimentos seguros sobre o crime, o delinquente,a vítima e o controle social. Núcleo de conhecimentos que significa saber sistemático, ordenado, generalizador e não mera acumulação de dados ou informações isoladas e desconexas. Em outras palavras, conhecimento científico obtido com método e técnicas de investigação rigorosas, confiáveis e não refutadas, que tomam corpo em proposições, depois de contrastados e elaborados os dados empíricos iniciais. b) Tampouco pode-se conceber a Criminologia, sem mais, como uma poderosa central de informações sobre o crime (clearing), como se fosse um gigantesco banco de dados. O poder da informática, desde logo, com as novas formas de obtenção, armazenamento, processamento e transmissão de informações, ampliou as funções tradicionais de qualquer disciplina científica, abrindo horizontes desconhecidos. Não se pode duvidar que uma informação completa, obtida em pouco tempo, permita racionalizar as decisões e subministre uma bagagem científica e instrumental muito valiosa. Basta pensar, por exemplo, nos serviços criminológicos de documentação que podem ser criados por meio da oportuna centralização de dados e nas úteis análises secundárias que, com indiscutíveis consequências práticas, podem ser realizadas com a informação colhida. De qualquer modo, nem a Criminologia esgota sua missão na obtenção e fornecimento de informação centralizada sobre o crime, por importante que esta seja, nem devem passar inadvertidas as limitações da informática decisional em sua aplicação ao exame da realidade delitiva e os perigos de uma concepção da Criminologia desta natureza. A Criminologia, como ciência, não pode ser tão-somente um gigantesco banco de dados centralizado, senão uma fonte dinâmica de informação; do mesmo modo que a tarefa do criminólogo é sempre provisória, inacabada, aberta aos resultados das investigações interdisciplinares, nunca definitiva. A obtenção de dados não é um fim em si mesmo, senão um meio; os dados são material bruto, neutro, que têm que ser interpretados de acordo com uma teoria. Não basta somente sua obtenção e seu armazenamento. Uma Criminologia concebida como mera central de informações, como banco de dados, corre o mesmo perigo que COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 13 correram os arquivos e registros europeus dos anos 30, convertidos em cemitérios de dados em razão do caráter biológico das informações que armazenavam. Bastou a crise das teorias biológicas para que tornasse inútil todo esforço acumulado em longos anos para a concretização de tais arquivos. É óbvio que a informação que um banco de dados possa subministrar, por completo que seja o seu programa, será sempre uma informação estática, rígida, cujas limitações são traçadas inexoravelmente por aquele. Por último, a concepção da Criminologia como clearing não só empobrece seus fins últimos, senão que lhe pode dar uma orientação equivocada, parcial e até mesmo tendenciosa. Com efeito, devendo circunscrever-se a informação centralizada aos dados constantes nos diversos registros, existe o risco de se limitar aquela à criminalidade registrada ou a determinadas manifestações mais salientes que a delinquência convencional. A seletividade dos dados processados conduzirá inevitavelmente a uma informação também seletiva, vinculada somente com certos delitos e com certos delinquentes, criando-se assim um lamentável círculo vicioso. c) A Criminologia, conforme já se disse, não é uma ciência exata nem uma ciência dos dados; muito menos uma central de informações sobre o delito. Porém, tampouco é uma ciência academicista, de professores, obsessiva por formular modelos teóricos explicativos do crime: a Criminologia, como ciência, é uma ciência prática[6]6, preocupada com os problemas e conflitos concretos, históricos - com os problemas sociais - e comprometida com a busca de critérios e pautas de solução dos mesmos. Seu objeto é a própria realidade, nasce da análise dela e a ela deve retornar, para transformá-la. Por isso, junto com a reflexão teórica sobre seus princípios básicos, ganha maior interesse a cada dia a investigação criminológica orientada às demandas práticas. A excelente predisposição e receptividade que mostram em nosso tempo a práxis e o legislador em relação ao saber criminológico ressaltam a necessidade de que a Criminologia possa subministrar informação viável e pronta aos mesmos. Pois é um fato, tão óbvio quanto lamentável, que se adotem urgentes e graves decisões sem a oportuna base empírica, abrindo-se um perigoso abismo entre a teoria e a práxis ou entre a investigação criminológica e a realidade social. E temos a impressão de que os centros de decisão política se distanciam cada vez mais, progressivamente, da experiência científico-criminológica. Tal dissociação produz resultados funestos. Uma Criminologia pouco atenta à realidade histórica se perde em estéreis elucubrações acadêmicas. Porém, quando a práxis desconsidera a experiência científica ou quando as decisões legislativas são adotadas sem a imprescindível informação criminológica, se produz um perigoso retorno ao obscurantismo, à arbitrariedade, à ineficácia ou à mera rotina: um genuíno despotismo não iluminista. De qualquer modo, a necessária orientação da Criminologia como ciência à realidade social, às exigências e demandas desta, não deve mediatizar, nem perder de vista seu próprio campo de investigação. Porque a sociedade, em última análise, é particularmente sensível a determinadas manifestações criminosas e a certas personalidades criminais; com frequência, só confia em respostas severas e repressivas, em "soluções" de curto prazo, mais passionais que reflexivas, segundo as conclusões da psicanálise (a psicologia da sociedade punitiva). Uma Criminologia COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 14 preocupada tão-somente em satisfazer as expectativas sociais, provavelmente, só se interessaria pelo delito convencional, pelo crime utilitário, desatendendo a investigação de outras modalidades criminosas, quase sempre menos atrativas, porém, sem dúvida, muito mais perigosas, ainda que não provoquem tanto alarme social. Referida Criminologia, em última instância, se conformaria com subministrar aos poderes públicos os dados empíricos necessários para aperfeiçoar a repressão daquelas condutas, sem se aprofundar na etiologia das mesmas e sugerir a viabilidade de outras respostas alternativas. A vocação prática da Criminologia sugere uma reflexão final: o criminólogo teórico deve esforçar-se para reunir não apenas conhecimentos úteis - a experiência criminológica, enquanto tal, sempre o é -, senão praticáveis, pensando nos seus diversos destinatários e em sua aplicação à realidade pelos operadores do sistema. O assunto escolhido, o método da investigação, a formulação dos seus resultados e a própria linguagem devem ser orientados para tal fim. A Criminologia tradicional, chamada hoje depreciativamente de positivista, soube ao menos oferecer à práxis um núcleo harmonioso de conhecimentos, com um aparato conceitual e instrumental assumido sem grandes dificuldades pela sociedade e pelas instituições. A moderna Criminologia - que se autodenomina crítica - corre o risco, pelo contrário, de se distanciar perigosamente das instâncias sociais que estão incumbidas de assumir, traduzir e aplicar os conhecimentos científicos. Ainda que isso se deva, sem dúvida, ao caráter fragmentário das investigações atuais, ao pluralismo metodológico que as inspira e ao predomínio da contribuição crítica da moderna Criminologia; sobre as exigências sistemáticas e construtivas mais frágeis em toda etapa de transição e mudança, parece imperiosa a necessidade de ajustar a transmissão das informações criminológicas às expectativas de seus destinatários sociais. 1. Popper, K. R. Conjeturas y refutaciones. El desarrollo del conocimiento científico, p. 13 e ss. r 2. O problema da conexão causal foi flexibilizado excessivamente, de modo que hojenão se estabelece, como já se estabeleceu nas ciências naturais do início do século passado: nas outrora "ciências exatas". A Lógica e a Filosofia da Ciência atendem a construções probabilísticas e a uma linguagem estatística e relativizador que evita conexões simples e lineares, necessárias. Já foi dito, por isso (assim: Serrano Maillo, A. Introdução, cit., p. 172 e ss) que a causalidade é uma categoria artificial, inventada pelo homem, porque na natureza não existiriam relações desse tipo, senão "correlações". E que a Criminologia moderna (etiologia) opera com um conceito menos exigente que se ajusta com a constatação de três requisitos: a existência de uma correlação entre dois fenômenos, prioridade temporal da variável independente e a ausência de uma terceira variável que, ao concorrer, desmentiria a conexão (idem, ibidem). 3. Sobre a possível concepção da Criminologia como Central de Informação ou Banco de Dados Centralizado, vide Kaiser, G. Kriminologie, cit., p. 15 e ss.; García-Pablos, A. Tratado de Criminología, cit., p. 213 e ss. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 15 O CRIME SEGUNDO LOMBROSO Cesare Lombroso (1835-1909) foi um homem polifacético; médico, psiquiatra, antropólogo e político, sua extensa obra abarca temas médicos ("Medicina Legal"), psiquiátricos ("Os avanços da Psiquiatria"), psicológicos ("O gênio e a loucura"), demográficos ("Geografia Médica"), criminológicos ("L’Uomo delincuente). Lombroso entende o crime como um fato real, que perpassa todas as épocas históricas, natural e não como uma fictícia abstração jurídica. Como fenômeno natural que é, o crime tem que ser estudado primacialmente em sua etiologia, isto é, a identificação das suas causas como fenômeno, de modo a se poder combatê-lo em sua própria raiz, com eficácia, com programas de prevenção realistas e científicos. Para Lombroso a etiologia do crime é eminentemente individual e deve ser buscada no estudo do delinquente. É dentro da própria natureza humana que se pode descobrir a causa dos delitos. Lombroso parte da ideia da completa desigualdade fundamental dos homens honestos e criminosos. Preocupado em encontrar no organismo humano traços diferenciais que separassem e singularizassem o criminoso, Lombroso vai extrair da autópsia de delinquentes uma "grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis) análoga a que se encontra nos seres inferiores" . Assim, surgiu a hipótese, sujeita a investigações posteriores, de que haveria certas afinidades entre o criminoso, os animais e principalmente o homem primitivo, que ele considerava diferente, psicológica e fisicamente, do homem dos nossos tempos. Lombroso empreende um longo estudo antropológico no seu livro "L’Uomo delincuente" acerca da origem da criminalidade. Professando um particular evolucionismo, Lombroso procura demonstrar que o crime, como realidade ontológica, pode ser considerado uma característica que é comum a todos os degraus da escala da evolução, das plantas aos animais e aos homens; dos povos primitivos aos povos civilizados; da criança ao homem desenvolvido. O "crime" teria como característica ser extremamente frequente, brutal, violento e passional nos níveis inferiores dessas escalas. Assim Lombroso vai teorizar acerca dos equivalentes do crime nas plantas e nos animais ("L’Homme Criminel, chapitre premier), a morte de insetos pelas plantas carnívoras ("homicídio"), a morte para ter o comando da tribo entre os cavalos, cervos e touros ("homicídio por ambição"), a fêmea do crocodilo que mata seus filhotes que ainda não sabem nadar ("infanticídio"), as raposas que se devoram entre si e algumas vezes mesmo devoram suas progenitoras ("canibalismo e parricídio"). Entre os chamados "selvagens" ou "povos primitivos" Lombroso também encontra a incidência generalizada do crime. O incremento excessivo da população, comparativamente aos meios naturais de subsistência explicaria os abortos e os infanticídios. São também comuns e frequentes segundo Lombroso o homicídio dos velhos, das mulheres, dos doentes, os homicídios por cólera, por capricho, de parentes por ocasião do funeral de morto importante, por sacrifícios religiosos, os cometidos por brutalidade ou por motivo fútil, os causados por desejo de glória etc.. São ainda comuns entre os selvagens o canibalismo, o roubo, o rapto, o adultério e os crimes contra a autoridade (chefes, deuses ou a própria tribo). COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 16 Dentro da ideia evolucionista lombosiana (de passagem [física ou psíquica] do organismo mais simples para o mais complexo) os germes da loucura moral e do crime se encontram de maneira normal na infância. Lombroso advogava a existência na infância de uma predisposição natural para o crime. As analogias entre o imaturo e o criminoso se dariam na fase da vida instintiva, através da qual se observa a precocidade da cólera, que faz com que a criança bata nos circunstantes e tudo quebre, em atitudes comparáveis ao comportamento violento criminoso. O ciúme, a vingança, a mentira, o desejo de destruição, a maldade para com os animais e os seres fracos, a predisposição para a obscenidade, a preguiça completa, exceto para as atividades que produzem prazer, são, entre outros, índices que Lombroso apontou, das tendências criminais na infância. A educação conduziria, porém, a criança para o período de "puberdade ética", submetendo-a a profunda metamorfose. Identificando pois a origem da criminalidade, como ontologia, nessas "fases primitivas" da humanidade, Lombroso entende que o criminoso é uma subespécie ou um subtipo humano (entre os seres vivos superiores, porém sem alcançar o nível superior do homo sapiens) que, por uma regressão atávica a essas fases primitivas, nasceria criminoso, como outros nascem loucos ou doentios. A herança atávica explicaria, a seu ver, a causa dos delitos. O criminoso seria então um delinquente nato (nascido para o crime), um ser degenerado, atávico, marcado pela transmissão hereditária do mal. O atavismo (produto da regressão, não da evolução das espécies) do criminoso seria demonstrado por uma série de "estigmas". De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece de uma série de estigmas degenerativos, comportamentais, psicológicos e sociais. O criminoso nato seria caracterizado por uma cabeça sui generis, com pronunciada assimetria craniana, fronte baixa e fugídia, orelhas em forma de asa, zigomas, lóbulos occipitais e arcadas superciliares salientes, maxilares proeminentes (prognatismo), face longa e larga, apesar do crânio pequeno, cabelos abundantes, mas barba escassa, rosto pálido. O homem criminoso estaria assinalado por uma particular insensibilidade, não só física como psíquica, com profundo embotamento da receptividade dolorífica (analgesia) e do senso moral. Como anomalias fisiológicas, ainda, o mancinismo (uso preferente da mão esquerda) ou a ambidextria (uso indiferente das duas mãos), além da disvulnerabilidade, ou seja uma extraordinária resistência aos golpes e ferimentos graves ou mortais, de que os delinquentes típicos pronta e facilmente se restabeleceriam. Seriam ainda comuns, entre eles, certos distúrbios dos sentidos e o mau funcionamento dos reflexos vasomotores, acarretando a ausência de enrubescimento da face. Consequência do enfraquecimento da sensibilidade dolorífica no criminoso por herança seria a sua inclinação à tatuagem, acerca da qual Lombroso realizou detidos estudos. Os estigmas psicológicos seriam a atrofia do senso moral, a imprevidência e a vaidade dos grandes criminosos. Assim, os desvios da contextura psíquica e sentimental explicariam no criminoso a ausência do temor da pena, do remorso e mesmo da emoção do homicida perante os despojos da vítima.Absorvidos pelas paixões inferiores, nenhuma relutância eles sentem perante a ideia dominante do crime. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 17 As conclusões de Lombroso (L’Homme Criminel) foram construções eminentemente empíricas baseadas em resultados de 386 autópsias de delinqüentes e nos estudos feitos em 3939 criminosos vivos por Ferri, Bischoff, Bonn, Corre, Biliakow, Troyski, Lacassagne e pelo próprio Lombroso. Lombroso porém não esgota na teoria da criminalidade nata a sua explicação para a etiologia do delito. A criminalidade nata não dá conta de todas as categorias antropológicas de delinquentes, nem mesmo, numa mesma categoria, de todos os casos habituais. Ele antevê na loucura moral e na epilepsia mais dois fatores capazes de fornecer uma elucidação biológica para o fenômeno delito. O louco moral é aquele indivíduo que tem, aparentemente, íntegra a sua inteligência, mas sofre de profunda falta de senso moral. É um homem perigoso pelo seu terrível egoísmo. É capaz de praticar um morticínio pelo mais ínfimo dos motivos. Lombroso o diferenciava do alienado definindo-o como um "cretino do senso moral," ou seja, uma pessoa desprovida absolutamente de senso moral. A explicação da criminalidade do louco moral também é dada pela biologia, é congênita, mas pode, de acordo com o meio na qual o indivíduo se desenvolve, aflorar ou não. A epilepsia foi outra explicação aventada por Lombroso como causa da criminalidade. A epilepsia ataca os centros nervosos em que se elaboram os sentimentos e as emoções. Objetaram-lhe, porém, que se a epilepsia, bem conhecida e perceptível, explica em certos casos o delito, em outros não se observa haver sinal objetivo da doença em face do delito praticado. A essa objeção Lombroso opôs a sua teoria da epilepsia larvada, sem manifestações facilmente visíveis, que poderia explicar a etiologia do delito. Ao passo que a epilepsia declarada se exterioriza em meio a contrações musculares violentíssimas, a epilepsia larvada se denuncia por fugazes estados de inconsciência que nem todos percebem. Lombroso não abandonou uma das explicações da etiologia do delito pelas outras. Procurou coordená-las. Assim, por exemplo, acentuou que a teoria do atavismo se completava e se corrigia com os estudos referentes ao estado epilético. A etiologia do crime para Lombroso interrelaciona portanto o atavismo, a loucura moral e a epilepsia: o criminoso nato é um ser inferior, atávico, que não evolucionou, igual a uma criança ou a um louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores; é um indivíduo que, ademais, sofre alguma forma de epilepsia, com suas correspondentes lesões cerebrais . Lombroso, baseado em suas observações, encarava o seu tipo primordial de criminoso, o criminoso nato, como compondo 40 % do total da população criminosa, restando as demais àquelas outras formas de crime que tinham por fontes a loucura, a ocasião, o alcoolismo e a paixão. Para Lombroso essas formas eram ligadas mais estreitamente a suas causas ocasionais e portanto, não forneceriam uma base possível para uma etiologia desses delitos. MAURICIO JORGE PEREIRA DA MOTA - Trabalho de conclusão de curso apresentado na disciplina de Direito Penal do Mestrado em Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 18 Criminalistica Forense Texto extraído do Boletim Jurídico - ISSN 1807-9008 https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-penal/3295/criminalistica-forense Andre Gomes Rabeschini Funcionário Publico do Estado de São Paulo, Bacharel em Direito pela Universidade Nove de Julho, Especializando em Direito Penal e Processual Penal pela USCS/SP. Resumo: Conjunto de conhecimentos que, reunindo as contribuições de várias ciências, indica os meios para descobrir os crimes, identi[car os seus autores e encontrá-los, utilizando-se da química, da antropologia, da psicologia, da medicina legal, da psiquiatria, da datiloscopia etc. que são consideradas ciências auxiliares do direito penal. Palavras-Chave: Criminalística; Balística; Datiloscopia; Medicina Legal. Abstract: Set of knowledge, bringing together the contributions of various sciences, indicates the means to discover the crimes, identify the perpetrators and [nd them, using chemistry, anthropology, psychology, forensic medicine, psychiatry, the [ngerprinting etc. that are considered auxiliary sciences of law penal. Keywords: Criminology; ballistics; [ngerprinting; Forensic Medicine. Sumário: 1. Introdução; 2. Princípios Cientí[cos da Criminalística; 2.1. Princípio do Uso; 2.2. Princípio da Produção; 2.3. Princípio do Intercâmbio; 2.4. Princípio da Correspondência de Características; 2.5. Princípio da Reconstrução; 2.6. Princípio da Certeza; 2.7. Princípio da Probabilidade; 3. Ciências da Criminalística Forense; 3.1 Química Forense; 3.2 Laboratório Forense; 3.3 Técnicas Forenses Instrumentais; 3.4 Balística Forense; 3.5. Datiloscopia; 3.6. Hematologia Forense; 3.7. Entomologia Forense e Cronotanatognose; 3.8. Tanatologia Forense; 4. Conclusão; 5. Referencias. 1. Introdução É considerada uma disciplina nascida da Medicina Legal, que é quase tão antiga quanto a própria humanidade. Uma vez que em épocas passadas o médico era pessoa de notório saber, sendo sempre consultado. No século XIX era a medicina legal que tratava da pesquisa, da busca e da demonstração de elementos relacionados com a materialidade do crime. Mas com os avanços dos diversos ramos das ciências, como a Química, a Biologia e a Física, houve a necessidade de uma maior especialização, o que fez com que outros proUssionais passassem a ser consultados. Desse modo, surge a necessidade da criação de uma nova disciplina para a pesquisa, análise e interpretação de vestígios encontrados em locais de crimes. Nasce assim a criminalística, uma ciência independente que vem dar apoio à polícia e a justiça, tendo como objetivo o esclarecimento de casos criminais. Handersenn Shouzo Abe COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 19 Consta que a criminalística nasceu com Hans Gross, que é considerado o pai dessa ciência, já que foi ele quem cunhou este termo. Juiz de instrução e professor de direito penal austríaco, autor da obra “System Der Kriminalistik”, em 1893. Considerada um manual de instruções dos juízes de direito, que deUnia a criminalística como “O estudo da fenomenologia do crime e dos métodos práticos de sua investigação”. A criminalística pode ser dividida em duas fases: a primeira aquela em que se buscava a verdade através de métodos primitivos, mágicos ou através da tortura, considerando que na maioria das vezes não se conseguia obter uma conUssão do acusado de forma espontânea; a segunda fase que procurava a verdade através de métodos racionais, surgindo assim os fundamentos cientíUcos da criminalística deixando de lado as crenças nos milagres e nas mágicas. Dois são os seus princípios básicos: a) Princípio de Locard (1877-1966): “Todo o contacto deixa um traço (vestígio)”; b) Princípio da Individualidade: Dois objetos podem parecer indistinguíveis, mas não há dois objetos absolutamente idênticos. É a combinação destes dois princípios que torna possível a identiUcação e a prova cientíUca. De acordo com o Princípio da Troca de Locard, qualquer um, ou qualquer coisa, que entra em um local de crime leva consigo algo do local e deixa alguma coisa para trás quando parte. 2. Princípios CientíUcos da Criminalística 2.1. Princípio do Uso Os fatos apurados pela Criminalística são produzidos por agentes físicos, químicos ou biológicos; 2.2. Princípio da Produção Sobreditos agentes agem produzindo vestígios indicativos de suas ocorrências, com uma grande variedade de naturezas, morfologias e estruturas; 2.3. Princípio do Intercâmbio Os objetos ou materiais, ao interagirem, permutam características ainda que microscópicas; 2.4. Princípio da Correspondência de Características A ação dos agentes mecânicos reproduzem morfologias caracterizadas pelas naturezas e modos de atuaçãodos agentes; 2.5. Princípio da Reconstrução A aplicação de leis, teorias cientí[cas e conhecimentos tecnológicos sobre a complexão dos vestígios remanescentes de uma ocorrência estabelecem os nexos causais entre as várias etapas da ocorrência, culminando na reconstrução do evento; 2.6. Princípio da Certeza COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 20 O princípio técnico e cientí[co que presidem os fatos criminalísticos inalteráveis e su[cientemente comprovados, atestam a certeza das conclusões periciais; 2.7. Princípio da Probabilidade Em todos os estudos da prova pericial, prepondera a descoberta no desconhecido de um número de características que corresponda à característica do conhecido. Pela existência destas características comuns, o perito conclui que o conhecido e o desconhecido possuem origens comuns devido à impossibilidade de ocorrências independentes deste conjunto de características. 3. Ciências da Criminalística Forense 3.1 Química Forense É ramo da Química que se ocupa da investigação forense no campo da química especializada, a [m de atender aspectos de interesse judiciário, atendendo basicamente as áreas de estudos da Criminalística e da Medicina Forense. 3.2 Laboratório Forense A [nalidade de um laboratório de Criminalística reside no exame técnico-cientí[co dos vestígios, principalmente aqueles que não são passíveis de comprovação de campo, buscando- se respostas de como fora perpetrada a infração penal, vinculando-se ao seu autor ou autores, através da determinação do nexo de causalidade. 3.3 Técnicas Forenses Instrumentais A possibilidade da observação do universo microscópico, através de equipamentos eletrônicos, forneceu ao pesquisador da área forense laboratorial uma inestimável contribuição para avaliação e análise de vestígios encontrados em locais de ocorrências de delitos. 3.4 Balística Forense A Balística Forense é uma parte da Física/Química aplicada à Criminalística que estuda as armas de fogo, sua munição e os efeitos dos disparos (trajetória, os meios que atravessam) por elas produzidos, sempre que tiverem uma relação direta ou indireta com infrações penais, visando esclarecer e provar sua ocorrência. Pode ser dividida em balística interna, externa e de ferimentos, onde cada uma possui seu referencial de estudo. 3.5. Datiloscopia Datiloscopia ou papiloscopia é o processo de identiUcação humana por meio das impressões digitais, normalmente utilizado para Uns judiciários. Esta área do conhecimento estuda as papilas dérmicas (saliências da pele) existentes na palma das mãos e na planta dos pés, também conhecida como o estudo das impressões digitais. O primeiro sistema cientíUco de identiUcação foi o sistema antropométrico, lançado em Paris por Alfonse Bertillon (1853-1914), em 1882. Em 1888, o inglês Francis COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 21 Galton (1822-1911) estabeleceu as bases cientíUcas da impressão digital. Poucos anos mais tarde, um croata radicado na Argentina, Juan Vucetich (1858-1925), apresentou seu sistema de identi[cação, com o nome de Icnofalangometria. O termo criado por Vucetich foi modi[cado por Francisco Latzina, em 1894, que sugeriu o nome datiloscopia, constituído por elementos gregos. 3.6. Hematologia Forense Estudo do sangue, objetivando colher prova criminal, é parte da medicina legal que estuda todos os aspectos do sangue e dos órgãos hematopoéticos, isto é, relativos à formação e desenvolvimento das células sanguíneas, com a Unalidade de colher prova criminal. 3.7. Entomologia Forense e Cronotanatognose A Entomologia Forense é a ciência determinada a estudar insetos de diversas ordens em procedimentos legais, em destaque para os pertencentes as ordens díptera e Coleóptero. Os conhecimentos entomológicos podem servir de auxílio para revelar o modo e a localização da morte do indivíduo, além de estimar o tempo de morte ou intervalo pós-morte. O conhecimento da fauna de insetos, o seu habitat, biologia e comportamento, podem determinar inclusive o local onde a morte ocorreu. Cronotanatognose é a denominação dada ao diagnóstico cronológico da morte, ou seja, ao espaço de tempo veri[cado em diversas fases do cadáver culminando com o momento em que se veri[cou o óbito. Abaixo são descritos com mais detalhes algumas das mais usuais metodologias aplicadas para o cálculo do tempo de óbito na área médico-legal por meio de características inerentes às mudanças sofridas pelo corpo após a morte. 3.8. Tanatologia Forense É o estudo cientíUco da morte. Ele investiga os mecanismos e aspectos forenses da morte, tais como mudanças corporais que a acompanham e o período após a morte, bem como os aspectos sociais mais amplos relacionados a ela. É principalmente um estudo interdisciplinar oferecido como um curso de estudo em várias faculdades e universidades. 4. Conclusão Os cientistas forenses primeiramente encontram as pistas. Essas pistas são então analisadas e seu signi[cado é determinado. A mais recente contribuição da química para o trabalho forense veio com as técnicas de per[lamento de DNA. Este método tem a capacidade de identi[car uma pessoa através da codi[cação genética. Uma única investigação em um laboratório forense pode envolver muitos tipos de cientistas, tais como: químicos, toxicólogos, biólogos moleculares, botânicos e geólogos, só para mencionar alguns. Estes detetives “cientistas” montam um quebra-cabeça muito difícil, para formar um quadro do crime. Percebe-se que a ciência forense no mundo continua crescendo e se expandindo. Entende-se como investigação verdadeira aquela que se sustente sobre o tripé COMPILAÇÃO DE TEXTOS - CRIMINOLOGIA 22 ciência, lógica e legalidade. A lógica serve-se da ciência para se instrumentalizar e a observância à legalidade é simples decorrência do trabalho técnico de apuração. O resultado desse labor transparece, por força da semiótica, em linguagem formalizada, na essência da investigação policial que despido de formalismos, se subordina unicamente ao rito da Lógica. Este possui vida própria, pois conta uma história. A história de um crime. 5. Referencias DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcântara, Medicina Legal, 5a ed., São Paulo, Saraiva, 2008. DESGUALDO, Marco Antônio. Recognição visuográ[ca e a lógica na Investigação Criminal, 2001. DOREA, Luiz Eduardo. Fenômenos Cadavéricos & Testes simples para cronotanatognose. Porto Alegre, Sagra- Luzzatto, 1995. Multidisciplinaridade na Perícia Criminal. Disponível em: http://www.abcperitoso[ciais.org.br/arti.htm. Acesso em: 01 setembro 2014. ARAGÃO, Ranvier Feitosa. Vestígio Material e Imprecisão – Criminalística Estática, Dinâmica e Pósmoderna, IV SEMINÁRIO BRASILEIRO DE BALÍSTICA FORENSE E PERÍCIAS DE CRIMES CONTRA A VIDA, Recife, PE, outubro, 2006. BRANCO, Regina Pestana de O. Química Forense sob Olhares eletrônicos, Campinas, SP, Millennium Editora, 2005. Elaborado em outubro/2014
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