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Organizações 12a Edição ISBN 85-86804-61-4 Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou distribuída de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem o consentimento, por escrito, da Editora, incluindo, mas não limitado a, qualquer rede ou outro dispositivo eletrônico de armazenamento ou transmissão ou difusão para ensino a distância. Todos os direitos reservados. © 2006 de McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda. Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, 1.253 – 10o andar 04571-010 – São Paulo – SP Tradução do original em inglês Organizations: behavior, structure, processes Copyright © 2006, 2003, 2000, 1997, 1994, 1991, 1988, 1985, 1982, 1979, 1976 e 1973 de The McGraw-Hill Companies, Inc. ISBN da obra original: 0-07-298717-0 Diretor-geral: Adilson Pereira Editora de Desenvolvimento: Ada Santos Seles Preparação de Texto: Flávio Santos Imagem de Capa: © Getty Images Layout de Capa: David Seidler Editoração Eletrônica: Crontec Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índice para catálogo sistemático: 1. Comportamento organizacional : Administração executiva 658.4 Se você tem dúvidas, críticas ou sugestões, entre em contato conosco pelo endereço eletrônico mh_brasil@mcgraw-hill.com. Em Portugal, use o endereço servico_clientes@mcgraw-hill.com. Organizações : comportamento, estrutura e processos / James L. Gibson... [et al.] ; tradução Suely Sonoe Murai Cuccio ; revisão técnica Carlos Tasso Eira DeAquino. -- São Paulo : McGraw-Hill, 2006. Outros autores: John M. Ivancevich, James H. Donnelly, Robert Konopaske Título original : Organizations : behavior, structure, processes 12. ed. norte-americana Bibliografi a. ISBN 85-86804-61-4 1. Comportamento organizacional 2. Desenvolvimento organizacional 3. Efi cácia organizacional 4. Liderança 5. Organizações I. Gibson, James L. II. Ivancevich, John M. III. Donnelly, James H. IV. Konopaske, Robert. 06-2236 CDD-658.4 234 Parte Três Comportamento Dentro das Organizações: Infl uência Interpessoal e Coletiva SIGNIFICADO DO TERMO GRUPO Neste livro, grupo é defi nido como: dois ou mais empregados que interagem mutuamente de forma que o comportamento e/ou desempenho de um membro acaba infl uenciado pelo comportamento e/ou desempenho de outros membros.1 TIPOS DE GRUPO As organizações têm necessidades técnicas decorrentes de metas estabelecidas. A realização des- sas metas requer a execução de algumas tarefas e a designação de funcionários para executá-las.2 Conseqüentemente, a maioria dos empregados é constituída por membros de grupos baseados nas posições que eles ocupam dentro da organização, ou seja, eles constituem grupos formais. Além disso, sempre que os indivíduos se associam com certa freqüência, existe uma tendência de surgirem grupos, cujas atividades podem ser diferentes daquelas necessárias nas organizações; são esses os grupos informais. Tanto os grupos formais como os grupos informais apresentam características comuns. Grupos Formais As demandas e os processos da organização levam à formação de dois tipos de grupos formais: de comando e de tarefas. Grupo de Comando O grupo de comando, especifi cado no organograma da organização, é composto de subordinados que se reportam diretamente a um determinado supervisor. As relações de autoridade entre um gerente de departamento e os supervisores ou entre a enfermeira-chefe e suas subordinadas são exemplos de grupo de comando. Grupo de Tarefas Um grupo de tarefas é composto por funcionários que trabalham juntos para completar uma tare- fa ou um projeto específi co. Por exemplo, os funcionários de uma seguradora realizam tarefas que são necessárias. Quando surge uma solicitação de pagamento de prêmio por acidente, diver- sos funcionários devem se comunicar e coordenar seus esforços para tratar do pedido de forma grupo Conjunto de indivíduos no qual o comportamento e/ou desempenho de um dos membros é infl uenciado pelo comportamento e/ou desempenho de outros membros. grupos formais Grupos formados por decisão gerencial para atingir metas declaradas da organização. grupos informais Grupos formados mediante esforços individuais e desenvolvidos em torno de interesses comuns e de amizades, e não em torno de um esquema deliberado. Capítulo 8 Comportamento de Grupo e de Equipe 235 adequada. Essas interações e tarefas necessárias facilitam a formação de um grupo de tarefas.3 Enfermeiras de plantão no pronto-socorro de um hospital normalmente constituem um grupo de tarefas porque o tratamento de um paciente envolve diversas atividades necessárias. Um tipo es- pecial de grupo de tarefas é chamado de equipe. O desempenho de uma equipe é afetado por todos os mesmos fatores que infl uenciam os grupos, mas há outros fatores que afetam as equipes e que não afetam a produtividade de outros tipos de grupos. Por essa razão, o conceito de equipe será discutido separadamente mais adiante. Grupos Informais Grupos informais são agrupamentos naturais de pessoas em situações de trabalho, que se juntam em resposta a necessidades sociais. Em outras palavras, os grupos informais não resultam de um esquema deliberado, eles evoluem naturalmente. Existem dois tipos específi cos de grupos infor- mais: de interesse e de amizade. Grupos de Interesse Indivíduos que nem sempre são membros do mesmo grupo de comando ou de tarefas podem se unir para atingir algum objetivo mútuo. Os objetivos desse tipo de grupo não estão relacionados com os da organização, eles são específi cos para cada grupo. São exemplos de grupos de interesse: funcionários que se reúnem com o intuito de reivindicar perante a direção mais benefícios e gar- çons que coletam todas as gorjetas para dividir posteriormente entre todos. Grupos de Amizade Muitos grupos se formam em decorrência de características comuns entre os membros, como exemplo, idade, crenças políticas e origem étnica. Esses grupos de amizade muitas vezes esten- dem sua interação e comunicação às atividades fora do trabalho. Se os padrões de agrupamento dos empregados fossem documentados, perceber-se-ia, ime- diatamente, que eles pertencem a inúmeros grupos e a alguns grupos que se sobrepõem entre si. Uma distinção foi feita entre duas grandes classifi cações de grupo: grupo formal e grupo informal. A maior diferença entre eles é que os grupos formais de comando e de tarefas são planejados por organizações formais como meio para atingir um determinado fi m, enquanto os grupos informais de interesse e de amizade são formados em benefício próprio para satisfazer as necessidades hu- manas básicas de associação.4 Embora os grupos de amizade sejam informais, os gestores devem se esforçar para percebê- los e, se possível, infl uenciar de forma positiva esses grupos, direcionando seus esforços para as metas organizacionais.5 Na realidade, em algumas organizações, as associações formadas por indivíduos, por meio de grupos de amizade, são até mais poderosas do que as afi liações formais.6 Esses grupos podem ser infl uenciados mediante a construção de boas relações com o líder do grupo informal, oferecendo a ele treinamento sobre comportamento de grupo e relações humanas e apoiando os esforços dos componentes para sustentar o relacionamento de grupo. POR QUE AS PESSOAS FORMAM GRUPOS Os grupos formais e informais são organizadas por diversas razões.7 Algumas delas envolvem necessidades, proximidade, atração, metas e economia. Satisfação das Necessidades O desejo de satisfação das necessidades pode ser força motivadora muito poderosa para a forma- ção de grupos.8 Mais especifi camente, algumas necessidades de segurança, sociais, de estima e auto-realização do empregado podem ser satisfeitas, até certo ponto, pela sua afi liação a grupos. Necessidade de Segurança Seum empregado não tem um grupo no qual se apoiar, quando se vê diante de várias demandas da direção, ele pode se sentir desamparado no enfrentamento do gestor e de todo o sistema or- 236 Parte Três Comportamento Dentro das Organizações: Infl uência Interpessoal e Coletiva ganizacional. Essa sensação de “solidão” produz um certo grau de insegurança. Se o empregado pertencer a um grupo, pode promover atividades de grupo e discutir as exigências da direção com os demais empregados, que podem lhe oferecer apoio. Mesmo em situações que afetem exclusi- vamente um único empregado, ele ainda consegue contar com o apoio do grupo nas suas ações.9 A interação e a comunicação entre os componentes de um grupo servem como amortecedor das pressões da direção. A necessidade desse tipo de alívio é mais forte em dois casos. No primeiro, um empregado novo pode depender muito do grupo para ajudá-lo a executar corretamente sua tarefa. No segundo, por causa dos esforços de muitas corporações em realizar enxugamentos de seus quadros funcionais, o indivíduo depende do apoio do grupo para ajustar-se a novas demandas e superar a sensação de insegurança.10 Necessidade Social A característica gregária das pessoas estimula a necessidade de afi liação; o desejo de fazer parte de um grupo acentua a intensidade das necessidades sociais. A necessidade de socialização está presente não apenas no trabalho, mas também fora do ambiente profi ssional, assim como se pode observar pela vasta quantidade de organizações sociais, políticas, civis e fraternais das quais é possível participar. Necessidade de Estima Por diversas razões, algum grupo de um determinado ambiente profi ssional pode ser visto pelos em- pregados como mais prestigiado (competência técnica, atividades externas etc.). Conseqüentemente, a participação nesse grupo carrega certo status não apreciado por pessoas não integrantes dele. Para empregados com alta necessidade de estima, a participação nesse tipo de grupo pode resultar em uma satisfação necessária.11 Proximidade e Atração A formação de grupos pode resultar da interação interpessoal. Proximidade e atração são duas facetas importantes da interação interpessoal. Proximidade envolve distância física entre os em- pregados que estão realizando o trabalho. Atração refere-se ao grau de ligação entre os emprega- dos em virtude de semelhança perceptual, atitudinal, de desempenho ou motivacional.12 Os indivíduos que trabalham muito próximos têm inúmeras oportunidades de trocar idéias, pensa- mentos e atitudes em relação a várias atividades, relacionadas ou não com o trabalho. Essas trocas muitas vezes resultam em algum tipo de formação de grupo. A proximidade também possibilita aos indivíduos conhecerem melhor as características das outras pessoas. Muitas vezes, os grupos são formados para apoiar a interação e o interesse. Por exemplo, os tripulantes da estação espacial precisam ser treinados em habilidades inter- pessoais, de apoio emocional e de interação coletiva.13 Em razão da proximidade e da atração por causa da natureza da tarefa, a formação de grupo é inevitável. O treinamento de toda a tripulação é fundamental para a produtividade e o bem-estar de todos. Esse tipo de treinamento aborda muitos problemas enfrentados em vôos espaciais de longa duração, quando não há possibilidade de se contar com os profi ssionais localizados na base. Metas do Grupo As metas do grupo, quando claramente entendidas, podem servir de motivação para o indivíduo se associar a ele. Por exemplo, um indivíduo pode se juntar a um grupo, que se reúne depois do expediente, para conhecer melhor os novos métodos de produção a serem implementados na orga- nização no ano seguinte. A pessoa que, voluntariamente, se reúne com o grupo após o expediente acredita ser necessário e importante para os empregados conhecer o novo sistema. O texto do próximo painel descreve diversas situações em que equipes de trabalho se mostraram extrema- mente efi cazes. Nem sempre é possível identifi car as metas de um grupo. A suposição de que grupos organiza- cionais formais são dotados de metas claramente defi nidas deve ser avaliada junto com o enten- dimento de que percepções, atitudes, personalidade e aprendizagem podem distorcer metas.14 Por Capítulo 8 Comportamento de Grupo e de Equipe 237 exemplo, um novo empregado talvez não seja nunca formalmente informado acerca das metas da unidade a que pertence. Observando o comportamento e as atitudes dos outros, ele pode chegar àquilo que entende como meta. Essa conclusão pode ou não ser precisa. Economia Em muitos casos, os grupos se formam porque as pessoas acreditam que, se organizadas, podem obter mais vantagens econômicas de seu trabalho. Realmente, incentivos fi nanceiros coletivos podem ser extremamente valiosos para sustentar a forma como a administração deseja conduzir a empresa.15 Por exemplo, trabalhadores de diferentes pontos de uma linha de montagem podem ser remunerados com base em um incentivo coletivo, no qual a produção do grupo determina a remuneração de cada um. Ao trabalhar e cooperar como grupo, o empregado pode obter mais Durante a última década, as organizações multinacionais se reorganizaram em torno de equipes globais com o intuito de melhorar a tomada de decisões e a produtivi- dade. Participando dessa tendência, diversas empresas mul- tinacionais adotaram a sabedoria das equipes. Cummins Engine, Ford Motor Co. e LTV Steel, entre outras, descobri- ram que, ao deixar os empregados tomarem decisões im- portantes – e não apenas seguir as ordens do chefe –, a produtividade e a qualidade melhoraram. Na Motorola, a crença básica na gestão participativa tornou-se foco crescente em equipes compostas de indivíduos de todos os níveis de gestão. Mediante a aplicação dessa crença de forma global, a Motorola organizou em equipes, de 80% a 90% dos empregados da fábrica de Tianjin, na China. Depois dis- so, surgiram vários exemplos da diferença entre sucesso e fracasso da organização em virtude do uso efi caz de equipes. Contudo, seja em operações domésticas ou globais, também é importante observar que, se, por um lado, as equipes são capazes de melhorar a qualidade, a efi cácia, a criatividade e a satisfação, por outro, a forma- ção de equipes de alto desempenho consome tempo e dinheiro. Além disso, tempo e dinheiro devem ser inves- tidos nos esforços iniciais para formação de equipes. Em outras palavras, esse esforço deve ser visto como investi- mento. Esse é o caso dos relatos a seguir. O Ritz-Carlton Hotel Co. criou “equipes de trabalho autogerenciadas” que aumentam a capacidade de toma- da de decisão por parte de pessoas que não pertencem a grupos de gestores. A meta é melhorar a qualidade e reduzir os custos. Rotatividade de pessoal era considera- da uma das áreas de custo mais elevado. Na unidade localizada em Tyson Corner, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, local piloto para a implementação do programa da companhia, a adoção desse tipo de equipe reduziu a rotatividade de 56% para 35%. Com custos de treinamento de quatro a cinco mil dólares por emprega- do novo, a economia foi signifi cativa. O setor de serviços não é o único a se benefi ciar com o uso de equipes. Na Air Products, uma indústria química, uma equipe interfuncio- nal que atua com fornecedores conseguiu uma economia de 2,5 milhões de dólares em um ano. Na Olin, a com- panhia também usa equipes interfuncionais em lugar da tradicional estrutura funcional departamentalizada para atender às expectativas do cliente. A satisfação do cliente aumentou signifi cativamente. Por fi m, a Osh-Kosh B’Gosh combinou o uso de equi- pes de trabalho com equipamentos avançados. Com isso, a companhia aumentou a produtividade, a velocidade e fl exibilidade das suas fábricas americanas, conseguin- do, assim, manter 13 das suas 14 unidades nos Estados Unidos, tornando-se, desse modo, uma das poucas em- presas fabricantes de roupas infantis a alcançar esse feito.Sem sombra de dúvidas, as equipes funcionam. Con- forme mencionado, não há como evitar os custos iniciais de tempo e de dinheiro. Por fi m, equipes de trabalho não devem ser impostas ao empregados. Ao permitir que a iniciativa da formação de equipes parta dos em- pregados, pode ser desenvolvida uma atmosfera de efe- tiva colaboração na promoção do interesse de todos. Fontes: Martha L. Maznevski e Joseph J. DiStephano, “Global Leaders Are Team Players: Developing Global Leaders through Membership on Global Teams”, Human Resource Management, verão/outono 2000, p. 195-208; Xiangming Chen e Warren Barshes, “To Team or Not to Team?”, The China Business Review, 2000, p. 30-34; Vegt Vander Gerber, Ben Emans e Evert van de Vliert, “Motivating Effects of Task and Outcome Interdependence in Work Teams”, Group and Organization Management, jun. 1998, p. 124-143; Laurel Coppersmith e Arlene Grubbs, “Team- Building: The Whole May Be Less than the Sum of Its Parts”, Human Resource Professional, maio/jun. 1998, p. 10-14; Cheryl Rosen, “Ritz Staff Gets Authority: Work Teams to Start Making Line Decisions”, Business Travel News, 31 jul. 1995, p. 1-2; e Barbara Kanegsberg, “Cultural Revolution”, Chemical Marketing Reporter, 10 abr. 1995, p. SR3-5. Painel Equipes Globais 238 Parte Três Comportamento Dentro das Organizações: Infl uência Interpessoal e Coletiva benefícios econômicos. No entanto, na remuneração baseada no desempenho individual, a es- trutura pode atrapalhar a produtividade coletiva ao confrontar as dependências individuais com as coletivas.16 Mediante a combinação dos planos de incentivo com a cultura de trabalho da empresa e o tipo de grupo usado, os processos coletivos podem ser mais bem alinhados com os da organização.17 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DOS GRUPOS Os grupos podem aprender da mesma forma que os indivíduos. O desempenho de um grupo de- pende tanto da aprendizagem individual quanto da forma como os membros aprendem a trabalhar, bem ou mal, uns com os outros.18 Um comitê para um novo produto, formado para reagir à con- corrência, pode se tornar uma equipe efi caz se tiver como principal preocupação os interesses da companhia; contudo, ele pode ser inefi caz se a principal preocupação dos seus componentes for o cumprimento das metas departamentais individuais e não o desenvolvimento de uma reação con- tra o concorrente. Esta seção descreve alguns estágios gerais de evolução dos grupos, bem como o processo de desenvolvimento seqüencial envolvido. Cientistas comportamentais e gestores têm interesse em saber como se desenvolvem os gru- pos. Inúmeros modelos tentam traçar o processo de desenvolvimento do grupo. Existem dois modelos que se destacam na explicação do processo: o modelo de cinco estágios e o modelo do equilíbrio pontuado. Modelo de Cinco Estágios Esse modelo explica o processo de desenvolvimento de um grupo em termos de um ciclo de ma- turidade.19 Os cinco estágios do modelo são: 1. Formação. É o estágio de “quebrar o gelo”, de conhecer as pessoas. Os componentes do grupo experimentam comportamentos, testam sua posição e fazem perguntas uns aos outros. O grupo estabelece regras básicas superfi ciais, porém, específi cas. 2. Tormenta. Esse é o estágio de confl itos em que os componentes argumentam, debatem e experimentam papéis, conselhos dados por outros membros e tentativas de obter funções de lide- rança. A hierarquia do grupo começa a tomar forma. 3. Normalização. O grupo começa a trabalhar mais efetivamente junto. Há um senso de coletividade ou atração por pertencer ao grupo. É o início da fase de coesão. Um conjunto de expectativas coletivas é disseminado dentro do grupo. 4. Desempenho. Já existem estrutura, hierarquia e normas do grupo. Ele está focado em cumprir as metas e em se tornar uma unidade efi ciente. Esse estágio é importante, pois demonstra a maturidade do grupo. 5. Interrupção. O grupo se prepara para dispersar. As metas foram cumpridas e as tarefas concluídas. Alguns membros fi cam deprimidos por conta da perda de coesão no futuro. Não há tempo determinado para a progressão pelos cinco estágios do ciclo.20 Na verdade, al- guns grupos podem se envolver em mais de um estágio ao mesmo tempo. Por exemplo, o estágio de tormenta (debate, argumentação) pode ocorrer ao mesmo tempo do estágio de desempenho. Os limites entre os vários estágios não são claros.21 O modelo de cinco estágios deve ser usado como um quadro geral, mas não como um retrato preciso do desenvolvimento dos grupos. Modelo de Equilíbrio Pontuado Algumas pessoas acreditam que o modelo de cinco estágios é estático demais e não realista. O modelo de equilíbrio pontuado apresenta o desenvolvimento de grupos como um conceito de três fases.22 Na primeira fase, os grupos defi nem tarefas, estabelecem metas e analisam várias etapas de execução dos planos. Em algum momento, em uma seqüência contínua de tempo, o grupo de- cide mudar suas perspectivas e adotar uma ação. O grupo atinge seu próprio ponto de inércia ou de equilíbrio. Ele atinge o ponto de equilíbrio quando percebe que o tempo está acabando. Depois dessa fase de percepção, vem a fase fi nal para a realização das tarefas. Capítulo 8 Comportamento de Grupo e de Equipe 239 Pesquisas constataram que o movimento da fase 1 para a fase 2 ocorre mais ou menos no meio entre a primeira reunião do grupo e o prazo fi nal. Um repentino senso de urgência parece contagiar e motivar os membros do grupo. A Figura 8.1 mostra o padrão do modelo de equilíbrio pontuado. Como mostra a fi gura, a primeira fase toma cerca de metade do ciclo de formação do grupo. Ocorre, então, uma explosão repentina de energia para completar as tarefas.23 Por fi m, surge um impulso fi nal para concluir o projeto de forma positiva. A aplicação desse modelo é mais adequada do que a de outros modelos em equipes de projeto e grupos temporários. CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS À medida que os grupos vão avançando pelos vários estágios de desenvolvimento, eles começam a exibir certas características: estrutura, hierarquia de status, papéis, normas, liderança, coesão e confl ito. O confl ito em grupos é um tema tão importante que será objeto de estudo do próximo capítulo. Esta seção analisa as demais características dos grupos. Para compreender o comporta- mento de grupos, é necessário ter consciência dessas características gerais.24 Estrutura Dentro de qualquer grupo, algum tipo de estrutura se desenvolve com o passar do tempo. Os com- ponentes do grupo são diferenciados com base em fatores como expertise, proatividade, poder e status; cada membro ocupa uma posição dentro do grupo. O padrão de relações entre as posições constitui a estrutura do grupo.25 Os membros avaliam o prestígio, o status e a importância de cada posição em relação ao grupo. Na maioria dos casos, as diferenças de status entre as posições criam as estruturas hierárquicas do grupo. O status em grupos formais geralmente é baseado na posição ocupada dentro da organização formal, enquanto em grupos informais pode ser baseado em alguma característica importante para o grupo (por exemplo, classifi cação geral entre os jogadores de golfe, capacidade de comunicação com a direção). Os outros membros esperam um determinado tipo de comportamento do ocupante de cada posição. O conjunto de expectativas de comportamento associado à posição dentro da estrutura compõe o papel do ocupante dessa posição. FIGURA 8.1 Aproximação do Modelo de Equilíbrio Pontuado Início Fase 1 Fase 2 Fase 3Mudança repentina Explosão final de energia Baixo Médio D es em p en h o Bom Destacado Prazo final Tempo 240 Parte Três Comportamento Dentro das Organizações: Infl uência Interpessoal e Coletiva Hierarquia de Status Status e posição são termos tão semelhantes que muitas vezes podem ser usados como sinônimos. O status atribuído a determinada posição geralmente decorre de certas características que diferen- ciam uma posição das outras. Em alguns casos,a atribuição de um status a uma pessoa é baseada em fatores como tempo de serviço, idade ou capacidade. Por exemplo, o funcionário mais velho pode ser visto como mais tecnicamente profi ciente e, portanto, obter status atribuído pelo grupo de técnicos. Assim, o status atribuído pode não ter nenhuma relação com a hierarquia de status formal. Papéis Cada pessoa dentro da estrutura do grupo possui um papel associado que consiste de comporta- mentos esperados do ocupante daquela posição.26 Por um lado, espera-se que o diretor do serviço de enfermaria de um hospital organize e controle o departamento de enfermagem e auxilie na preparação e administração orçamentária. Por outro, espera-se que a enfermeira-supervisora su- pervisione as atividades das enfermeiras envolvidas em serviços específi cos, como obstétricos, pediátricos e cirúrgicos. Esses comportamentos esperados geralmente são consensuais não apenas entre ocupantes das posições, mas também entre componentes do grupo de enfermeiras e de outros funcionários do hospital. Além do papel esperado, existem o papel percebido e o representado. Papel percebido con- siste no conjunto de comportamentos que a pessoa ocupante de determinada posição acredita que deva representar. (Em alguns casos, o papel percebido pode corresponder ao papel esperado.) O papel representado é o comportamento que efetivamente a pessoa demonstra. Grupos razoavel- mente estáveis ou permanentes normalmente estimulam um bom equilíbrio entre o papel esperado e o percebido. Contudo, podem surgir confl itos ou frustrações em razão de diferenças entre os três papéis. Quando ocorre um desvio muito grande entre papel representado e papel esperado, a pessoa ou acaba tornando-se mais parecida com o papel esperado ou deixando o grupo. Normas Normas são padrões compartilhados por membros de um grupo.27 Elas têm certas características que são importantes para os componentes do grupo. Primeiro, as normas são formadas apenas em relação a aspectos que têm signifi cado para o grupo. Elas devem ser formalizadas por escrito, mas são freqüentemente comunicadas de forma verbal aos componentes. Em muitos casos, elas jamais são declaradas formalmente, mas, de algum modo, são de conhecimento de todos os membros do grupo. Segundo, as normas são aceitas em diversos graus pelos componentes do grupo. Alguns as aceitam totalmente, outros, apenas de forma parcial. Terceiro, as normas podem ser aplicadas a todos os membros do grupo ou a apenas alguns de seus componentes. Tanto os grupos formais como os informais podem ter diversas normas. Por exemplo, a maio- ria dos grupos possui normas que estimulam o desenvolvimento de muita lealdade e de muito comprometimento por parte dos componentes. Como prova da lealdade dos membros, esperam-se deles determinados comportamentos (por exemplo, trabalhar até mais tarde, aceitar transferên- cias, ajudar outros membros). Outros grupos adotam normas formais ou informais de vestimenta. Todos os membros da equipe de vendas de uma companhia podem se vestir de forma semelhante para demonstrar a imagem desejada pela empresa aos clientes; os trabalhadores do centro de ope- rações de um banco, que não lidam diretamente com os clientes, podem se vestir de forma mais casual. Por fi m, os grupos possuem normas de alocação de recursos e de desempenho. As normas de alocação de recursos de uma organização formal estão relacionadas à forma como símbolos de status, remuneração e promoções são alocados. Os grupos informais também podem ter normas de alocação relacionadas a recompensas informais, como quem trabalha com quem ou quem deve ser ajudado e quem deve ajudar. As normas de desempenho referem-se à avaliação do desempenho satisfatório. Nos grupos formais, essa avaliação pode ser realizada com certa clareza pelo gestor, porém, assim como será possível observar, as normas de desempenho podem não ser aceitas pelo normas Padrões, aceitos de forma geral, de comportamento individual e coletivo, resultante da interação entre membros durante um certo período. Capítulo 8 Comportamento de Grupo e de Equipe 241 grupo informal. Na verdade, os grupos informais podem ter normas de desempenho próprias. A Tabela 8.1 apresenta exemplos de algumas normas positivas e negativas demonstradas em um estudo.28 Quando os gestores tentam montar grupos de alto desempenho, devem levar em conta tanto as normas formais quanto as informais.29 Liderança O papel de liderança em grupos é uma característica crucial, porque o líder desempenha um pa- pel fundamental para a determinação do sucesso do grupo.30 O líder de um grupo exerce certa infl uência sobre os membros. No grupo formal, o líder exerce poder legitimamente concedido, ou seja, o líder pode recompensar ou punir os membros que não obedeçam às diretrizes, ordens e normas. O papel de liderança também representa um papel signifi cativo no grupo informal. A pessoa que se torna líder de um grupo informal é, normalmente, um membro respeitado, de status eleva- do, que: 1. Contribui para o cumprimento das metas do grupo. 2. Ajuda os membros a satisfazerem suas necessidades. 3. Incorpora os valores do grupo. Fundamentalmente, o líder representa a personifi cação dos valores, motivos e aspirações dos membros. 4. É a escolha dos componentes do grupo para representar sua opinião quando há interação com líderes de outros grupos. 5. É um facilitador do confl ito grupal, um iniciador das ações coletivas, além de preocupar-se em manter o grupo como unidade funcional. Líderes são raros. Muitas vezes, os componentes de um grupo procuram alguém para seguir.31 Tornar-se um líder efi caz de um grupo não requer, necessariamente, charme ou uma biblioteca de teorias prontas para serem aplicadas. Requer, no entanto, visão, criatividade, metas claras, disposição para trabalhar tanto com pessoas do mesmo nível como com pessoas do nível inferior ou superior e boas habilidades de comunicação.32 Um bom líder concentra o foco de suas nego- ciações de forma a criar, orientar e iniciar novos compromissos direcionados às ações voltadas a metas comuns – principalmente em conversações que garantam ação de cooperação efi caz dentro da organização.33 Independentemente de ser responsável por um grupo formal ou informal, o líder deve ser tanto aberto (incentivando a participação dos componentes) como autoritário (intervindo sempre que necessário para cumprir as metas do grupo).34 Na realidade, o bom líder deve exercer papéis sociais, de mediação e de organização.35 TABELA 8.1 Exemplos de Normas Positivas e Negativas Normas Positivas Normas negativas 1. É tradição na empresa as pessoas defenderem a companhia quando ela é criticada injustamente. 1. Na nossa empresa, eles estão sempre tentando tirar vantagem de nós. 2. Na nossa companhia, as pessoas buscam sempre melhorar, mesmo que estejam se desempenhando bem. 2. Aqui, não há sentido em se esforçar, ninguém se esforça. 3. Nessa empresa, as pessoas são boas ouvintes e buscam sempre idéias e opiniões dos outros. 3. Nessa companhia, é cada um por si, e Deus por todos. 4. Nessa companhia, os gestores e os supervisores realmente se preocupam com seus subordinados. 4. Na nossa empresa, é melhor esconder seus problemas e fugir do supervisor. 242 Parte Três Comportamento Dentro das Organizações: Infl uência Interpessoal e Coletiva Coesão Os grupos formais e informais parecem possuir atitudes, comportamentos e desempenhos pró- ximos ou equivalentes. Essa proximidade, denominada coesão, é geralmente descrita como uma força atuante sobre os membros, para mantê-los dentro do grupo, que é maior que a força para empurrá-los para fora do grupo. Ao juntar-se a um grupo, o indivíduo adquire uma sensação de participação e de ânimo.36 Um grupo coeso, portanto, envolve indivíduos atraídos uns pelos ou- tros. Um grupo com pouca coesão não possui atratividade interpessoal entre os membros. Evidentemente, existem inúmeras fontes de atração para um grupo. Ogrupo pode ser atraente a um indivíduo porque:37 1. As metas e os componentes do grupo são compatíveis e claramente especifi cados. 2. O grupo possui liderança carismática. 3. A reputação do grupo indica que ele realiza as tarefas com êxito. 4. O grupo é pequeno, mas de tamanho adequado para permitir que as opiniões dos membros sejam ouvidas e avaliadas pelos demais. 5. Os membros têm um magnetismo pessoal, no sentido de oferecerem apoio e ajuda mútua para superar os obstáculos e as barreiras em busca do crescimento e do desenvolvimento pessoal. Como o grupo bem coeso é normalmente composto de pessoas motivadas a trabalharem juntas, espera-se que ele tenha um desempenho coletivo efi caz. Esse raciocínio não conta com evidências conclusivas de pesquisas. Em geral, à medida que a coesão de um grupo vai aumentando, o nível de conformidade às normas coletivas também aumenta. Contudo, as normas do grupo podem ser inconsistentes com as da organização. Coesão e Desempenho O conceito de coesão é fundamental para entender os grupos existentes dentro das organizações. O grau de coesão do grupo pode causar efeitos positivos ou negativos, dependendo do nível de correspondência entre as metas do grupo e as da organização. A Tabela 8.2 exibe quatro relações distintas possíveis. A tabela mostra que, se a coesão for forte e o grupo concordar com as metas da organização formal e aceitá-las, o comportamento do grupo será positivo do ponto de vista da organização. Contudo, se o grupo for muito coeso, mas suas metas não forem congruentes com as da organiza- ção formal, o comportamento do grupo será negativo na visão dessa organização. A Tabela 8.2 também mostra que, se a coesão do grupo for fraca e as metas dos membros não forem compatíveis com as da direção, os resultados provavelmente serão negativos do ponto de vista da organização. O comportamento, decorrente da fraca coesão, deve-se mais à base indivi- dual do que à coletiva. A coesão do grupo pode ser fraca e, no entanto, as metas dos componentes serem compatíveis com as da organização formal. Nesse caso, os resultados provavelmente serão positivos, embora, mais uma vez, em uma base individual e não em uma base coletiva. Concordância com as Metas Organizacionais Fraca Forte Grau de Coesão do Grupo Fraca Desempenho provavelmente distante das metas organizacionais. Desempenho provavelmente direcionado ao cumprimento das metas organizacionais. Forte Desempenho efetivamente distante das metas organizacionais. Desempenho efetivamente direcionado ao cumprimento das metas organizacionais. coesão Força de vontade dos membros de um grupo em continuarem nele e o compromisso deles para com o grupo. TABELA 8.2 Relações entre Coesão do Grupo e Concordância com as Metas Organizacionais Capítulo 8 Comportamento de Grupo e de Equipe 243 Pensamento Grupal (Groupthink) Grupos altamente coesos são forças importantes no comportamento organizacional. Em outras pa- lavras, a organização deveria reunir pessoas bastante semelhantes em um ambiente isolado, es- tabelecer-lhes uma meta em comum e recompensá-las pelo desempenho. Superfi cialmente, essa idéia parece boa. Contudo, um autor oferece uma análise provocante sobre grupos altamente coesos.38 Irving Janis estudou as decisões sobre política internacional tomadas por diversas administra- ções presidenciais e concluiu que esses grupos eram altamente coesos e bem articulados. Ele denominou esse processo de tomada de decisão groupthink ou pensamento grupal. Na defi nição de Janis, pensamento grupal é a “deterioração da efi cácia mental, da verifi cação da realidade e do julgamento moral” em prol da solidariedade do grupo. Em seu livro, ele descreveu as seguintes características do groupthink: 1. Ilusão de invulnerabilidade. Os membros do grupo acreditam ser invencíveis. 2. Tendência à moralização. Qualquer visão contrária à do grupo é vista pelos membros como fraca, perigosa ou não inteligente. 3. Sentimento de unanimidade. Todos os membros do grupo apóiam as decisões do líder. Os membros até podem ter alguma restrição às decisões, mas não expressam suas opiniões. Preferem guardá-las a demonstrar fraqueza. Esse comportamento demonstra como a pres- são do grupo em torno da solidariedade pode distorcer o julgamento individual de cada membro. 4. Pressão para se adequar. Existem tentativas formais e informais para desencorajar a dis- cussão de opiniões divergentes. O grupo exerce grande pressão para cada membro se ade- quar a ele. 5. Descarte das idéias contrárias. Qualquer pessoa ou grupo externo que critique ou se oponha a uma decisão recebe pouca ou nenhuma atenção do grupo. Os membros do grupo tendem a expressar forte favoritismo em relação às suas idéias, de modo que a informação seja proces- sada e avaliada, garantindo, assim, a prevalência das suas opiniões. Certamente, para que o grupo seja capaz de lidar com um problema, é necessário algum grau de coesão. Se uma tarefa for atribuída a sete pessoas de sete unidades organizacionais diferentes, ela talvez jamais seja efetivamente completada. No entanto, quando se trata de coesão, mais quan- tidade nem sempre signifi ca mais qualidade. Embora membros de um grupo de tarefas possam redefi nir o processo de solução de um problema, para atingir um acordo e não para tomar a melhor decisão, os integrantes de um grupo coeso podem redefi ni-lo a fi m de preservar as relações entre os componentes e a imagem do grupo. O pensamento grupal ilustra o impacto da dinâmica e da coesão do grupo no desempenho coletivo. A próxima seção Painel analisa os grupos de reuniões bem articulados do presidente George H. W. Bush (41o presidente norte-americano), envolvendo a invasão iraquiana do Kuwait em 1990. Um estudo examinou os efeitos da lealdade do grupo e das tendências à distorção na gestão de equipes.39 Os resultados mostraram que, quando os grupos trabalham juntos em algumas ativi- dades coletivas bem-sucedidas, a coesão decorrente se manifesta na forma de lealdade interna do grupo, e, com base nessa lealdade, os membros estabelecem relações entre suas melhores idéias e a medida do valor e status do seu grupo. A lealdade para com a decisão do grupo eclipsa a lógica e nega a existência de valor nas idéias de outras fontes. O fenômeno do groupthink tem sido usado para explicar fatos como o escândalo Watergate, o caso do Irã-contras e as decisões eticamente questionáveis em muitas grandes organizações. Na verdade, um pesquisador que analisou a situação envolvendo a decisão de lançamento do ônibus espacial Challenger responsabilizou o pensamento grupal pelo desastre.40 Os líderes tinham uma solução preferida e desenvolveram comportamentos destinados a promover o lançamento e não a realizar uma análise crítica de outras alternativas. A Figura 8.2 mostra o esquema de Janis para o pensamento grupal, que pode ser usado por gestores para avaliar sua própria situação. Quando se analisa como o pensamento grupal afeta a tomada de decisão, deve-se começar com um grupo coeso. As questões estruturais e situacionais também fazem parte do processo de tomada pensamento grupal ou groupthink O desejo de concordância de um grupo coeso interfere com a consideração de soluções alternativas por parte do grupo. 244 Parte Três Comportamento Dentro das Organizações: Infl uência Interpessoal e Coletiva de decisão. Como mostra a Figura 8.2, há diversos sintomas de groupthink e de tomada de decisão equivocada que contribuem para a pouca probabilidade de o resultado ser bem-sucedido. A teoria de Janis mostra a necessidade de liderança para enfrentar os sintomas mostrados na Figura 8.2, a fi m de superar seus efeitos e tomar as decisões ideais. A NATUREZA E OS TIPOS DE EQUIPE Até aqui, as discussões envolvidas no capítulo concentraram-se em questões relacionadas a todos os tipos de grupo. Agora, a atenção será voltada a um tipo especial de grupo, a equipe.41 A adoção de esquemas de trabalho em equipes tem-se tornadocada vez mais comum em todos os tipos de organização, seja doméstica ou localizada em outros países.42 Conforme discutido anteriormente, equipes são um tipo especial de grupo de tarefas, constituído de dois ou mais indivíduos respon- sáveis pelo cumprimento da meta ou do objetivo. Todas as equipes existem para resolver problemas. Portanto, é correto afi rmar que solução de problemas é uma atividade praticada continuamente pelas equipes. As equipes tendem a ser classifi cadas em cinco categorias, con- forme sua duração e seus objetivos: equipes de trabalho para solução de problemas, virtuais, interfuncionais, de projetos especiais (skunkworks) e autogerenciadas. A teoria do pensamento grupal até hoje infl uencia as análises sobre tomada de decisão de grupo. Antes de Janis, os psicólogos sociais exploravam as implicações nas situações de grupos pequenos. A análise de Janis estendeu a teoria do groupthink a estudos de toma- da de decisões organizacionais e de assuntos inter- nacionais. Algumas decisões presidenciais foram analisadas ten- do como base o conceito de pensamento grupal. Análises feitas sobre os presidentes norte-americanos Kennedy, Nixon, Carter, Reagan e George H. W. Bush oferecem visões interessantes sobre a infl uência dos diferentes estilos nos ambientes coletivos. A decisão presidencial na crise do Golfo Pérsico entre 1990 e 1991 depois da invasão do Kuwait pelo Iraque em 2 de agosto de 1990 mostra como o presidente George H. W. Bush operava em ambientes coletivos. A coesão do grupo era importante para o presidente Bush. O clima de companheirismo era excelente, apesar de alguns confrontos entre John Sununu e C. Boyden Gray. Brent Scowcroft era, de longa data, o confi dente do presidente. O círculo interno coeso do presidente era conhecido como a “gangue dos oito”. Se, por um lado, o presidente Bush era cordial e às vezes incentivava discussões e debates abertos, por outro, ele não dava muita prioridade a questionamentos e ob- jeções levantados por membros individuais do grupo e nem atribuía a ninguém o papel de “advogado do diabo”. A “gangue dos oito” não seguia nenhum processo espe- cífi co de avaliação de alternativas. Essa característica é totalmente contrária à do grupo de tomada de decisão do presidente Kennedy na crise dos mísseis cubanos em 1962. O grupo de Kennedy apresentou pelo menos dez alternativas e as discutiu metodicamente. O presidente Bush, apoiado por Scowcroft, sabia perfeitamente o que o grupo desejava fazer e assumiu a liderança em todas as discussões. A equipe do presidente Bush era homogênea em ter- mos de visão social e ideológica. A harmonia era facil- mente mantida por causa do histórico similar de cada membro e do clima de amizade existente. Isso resultou em pouco questionamento contrário ao consenso obtido sobre como lidar com a invasão do Kuwait por Saddam Hussein. Embora existisse pensamento grupal nas reuniões da “gangue dos oito” do presidente Bush, o resultado fi nal foi a reversão da anexação do Kuwait pelo Iraque. A lide- rança e a habilidade do presidente suplantaram os pos- síveis problemas decorrentes do pensamento grupal. Ele conseguiu reunir líderes mundiais e criar uma coalizão liderada pelos Estados Unidos para participar da guerra no solo, que acabou se mostrando mais simples do que previra a “gangue dos oito”. Mesmo com o pensamento grupal existente na equi- pe do presidente Bush, o resultado produzido foi posi- tivo; porém, nem sempre esse é o caso. O groupthink pode gerar resultados tanto negativos quanto positivos, assim como mostram as histórias relatadas em organiza- ções e em situações políticas. Fonte: Steve A. Yetiv, “Groupthink and the Gulf Crisis”, British Journal of Political Science, v. 33, 2003, p. 419-442. Painel Pensamento Coletivo e Resultado Positivo Capítulo 8 Comportamento de Grupo e de Equipe 245 Equipes para Solução de Problemas As equipes para solução de problemas são formadas em caráter temporário para tratar de um problema específi co enfrentado pela organização. Por exemplo, o gerente de produção pode formar uma equipe para estudar espaço e equipamentos necessários para reconfi gurar a área de produção, a fi m de acomodar um novo produto. Do mesmo modo, um gerente de marketing pode formar uma equipe para avaliar os efeitos que a nova campanha publicitária do concorrente possa ter sobre as vendas da companhia. Como indicam os exemplos, o tempo de existência de uma equipe para solução de problemas é geralmente curto. Em grande parte, essas equipes são compostas de fun- cionários do mesmo departamento ou da mesma área da organização que se reúnem para atacar e resolver um problema específi co. Depois de resolvido o problema, a equipe é dissolvida. Equipes Virtuais À medida que as organizações buscam, ativamente, métodos para cortar custos, reduzir o tempo do ciclo de produção, aumentar a resposta do cliente e se integrar mais amplamente com os fornece- Falhas estruturais da organização + 1. Isolamento do grupo 2. Falta de tradição de liderança imparcial 3. Falta de normas exigindo procedimentos metódicos 4. Homogeneidade da origem social e ideologia dos membros etc. Conflito situacional provocativo 1. Muito estresse de ameaças externas com pouca esperança de solução melhor do que a do líder 2. Baixa auto-estima temporariamente induzida por a. Recentes fracassos que salientam a inadequação dos membros b. Dificuldades excessivas das tarefas de tomada de decisão atuais que reduzem a sensação de auto-eficácia de cada membro c. Dilemas morais: Aparente falta de alternativas viáveis, exceto as que violam normas éticas Tomadores de decisão constituem um grupo coeso Busca de convergência (tendência ao pensamento grupal) Sintomas do pensamento grupal Tipo I. Supervalorização do grupo 1. Ilusão de invulnerabilidade 2. Crença na moralidade inerente ao grupo 3. Racionalização coletiva 4. Estereótipos externos ao grupo Tipo II. Pressões em torno de uniformidade 5. Autocensura 6. Ilusão de unanimidade 7. Pressão direta sobre dissidentes 8. Patrulha ideológica autonomeada Conseqüências observáveisCondições antecedentes Pouca probabilidade de resultado bem-sucedido Sintomas de tomada de decisão equivocada 1. Levantamento incompleto das alternativas 2. Levantamento incompleto dos objetivos 3. Falha ao examinar os riscos da escolha preferida 4. Falha em reavaliar as alternativas inicialmente rejeitadas 5. Busca insuficiente de informações 6. Viés seletivo no processamento de informações disponíveis 7. Falta de planos contingenciais + FIGURA 8.2 Esquema de Janis para o Pensamento Grupal Fonte: Adaptado de Irving Janis e Leon Mann, Decision Making, Nova York: The Free Press, 1977. 246 Parte Três Comportamento Dentro das Organizações: Infl uência Interpessoal e Coletiva dores, muitas estão criando e usando equipes virtuais para ajudar a atingir esses objetivos. Entre outras vantagens das equipes virtuais, estão a capacidade de oferecer aos empregados horários de trabalho mais fl exíveis (por exemplo, mediante telecomutação) que possibilitam atendimento 24 horas por dia, sete dias por semana a clientes localizados em diversas áreas, de diferentes fusos horários, além de reduzir o tempo e os custos com viagens necessárias nas reuniões de equipes.43 Defi nida como “equipe que se baseia na tecnologia interativa para trabalhar em conjunto quando os componentes estão separados por distância física”,44 as equipes virtuais podem contar com diversas tecnologias interativas incluindo o tradicional correio eletrônico, a troca instantânea de mensagens, a teleconferência, a videoconferência, as transmissões em rede, os gerenciadores de reuniões, o quadro branco virtual e a rede de troca de informações eletrônicas.45 A General Electric (GE) está estendendo variadas ferramentas de colaboração em tempo real a seus 340 mil empregadose a diversos clientes e fornecedores.46 Nesse processo, estão incluídas ferramentas que permitirão aos funcionários: • Usar os recursos de troca de mensagens instantânea e de conferência em tempo real, além do compartilhamento de aplicativos. • Criar espaços de trabalho compartilhados em rede, mesmo que o usuário não seja tecnicamente profi ciente. • Dividir os projetos em tarefas e acompanhar o seu andamento. • Adotar em novos projetos as melhores práticas de projetos já concluídos. Além disso, clientes e fornecedores terão acesso em tempo real aos dados e processos internos na intranet da GE. Os diretores da GE argumentam que esses recursos ajudarão a revolucionar a companhia à medida que forem avançando no século XXI.47 Outras organizações não estão se mobilizando com a mesma rapidez da GE para entrar no mundo das equipes virtuais e da tecnologia colaborativa. Para que essa estrutura de trabalho fun- cione, é necessário levar em conta diversos fatores. Primeiro, a tecnologia tem que atender ao propósito da colaboração. Se todos os membros do grupo precisarem receber a mesma informação com rapidez, a troca de informações pela web ou o correio eletrônico coletivo são adequados. Se houver necessidade de treinamento, a conferência em rede com o recurso de quadro branco em tempo real e o compartilhamento de dados são mais adequados. Segundo, os membros da equipe virtual devem ser selecionados criteriosamente. A escolha de membros dotados das habilidades necessárias, de experiência, de ética profi ssional e de habilidade interpessoal é fundamental para o funcionamento efi caz da equipe. Terceiro, a confi ança entre os integrantes da equipe deve ser cultivada desde o início do processo. Reuniões presenciais e/ou exercícios de treinamento de formação de equipes devem ser usados durante os períodos iniciais da composição para facili- tar o desenvolvimento da confi ança. Essa confi ança será crítica mais tarde no processo quando problemas, desacordos e prazos pressionarem as relações entre os membros que não conseguirem acompanhar o ritmo dos trabalhos para cumprir as metas. Por fi m, as equipes precisam desen- volver senso de propósito e de metas compartilhadas. Os líderes devem ser capazes de estabelecer uma visão de equipe e de ajudar a resolver os confl itos entre os integrantes do grupo e a superar os obstáculos.48 A Microsoft é outra companhia que adota a abordagem da equipe virtual. Como mostra a seção Painel seguinte, a Microsoft usa equipes virtuais em todos os aspectos do seu trabalho. É necessário atenção especial quando se conduzem equipes virtuais cujos membros são de países com culturas e línguas diversas. Equipes com esse perfi l de membros enfrentam mais difi culdades na comunicação e no estabelecimento de confi ança.49 As nuanças culturais nas reuniões presenciais podem enventualmente passar despercebidas durante uma teleconferência ou trans- missão pela web. Conseqüentemente, membros de equipes virtuais podem sofrer com os equívo- cos na comunicação e interpretação durante a execução de projetos importantes. Para reduzir o risco desse tipo de problema, os membros da equipe devem ser reunidos frente a frente e em sessões de treinamento interculturais nos estágios iniciais do processo de formação da equipe e, periodicamente, quando necessário. Capítulo 8 Comportamento de Grupo e de Equipe 247 Companhias como GE, AT&T, Pfi zer, Motorola, Shell Oil e Sun Microsystems continuam a testar o uso de equipes virtuais em suas empresas globais; assim, essas práticas tornar-se-ão cada vez mais comuns nas organizações de todos os tipos e tamanhos.50 Equipes Interfuncionais Recentemente, um número crescente de organizações vem utilizando equipes compostas por indi- víduos de diferentes departamentos ou áreas, reunidos em torno de uma tarefa ou de um projeto. Esses grupos, denominados equipes interfuncionais ou multifuncionais, monitoram, padronizam e aperfeiçoam processos de trabalho envolvendo diferentes partes da organização. Por exemplo, um fabricante de computadores pode formar uma equipe interfuncional composta por membros das áreas de marketing, vendas, pesquisa e desenvolvimento, engenharia e recursos humanos para elaborar e desenvolver planos de marketing para um novo produto. Seguindo a mesma linha, al- gumas faculdades inovadoras de administração de empresas estão reunindo professores de vários departamentos, como marketing, fi nanças, gestão e operações, para planejar e ensinar princípios integrados nos cursos de gestão. As equipes interfuncionais podem existir por tempo indetermi- nado. Uma regra geral associada ao uso de equipes interfuncionais é que quanto mais longa a duração, maior a rotatividade de entrada e saída dos componentes da equipe. Uma equipe multifuncional efi caz consegue reduzir o tempo de realização de um projeto se for composta por representantes de departamentos críticos para a sua conclusão. Muitas equipes mul- tifuncionais funcionam melhor sem chefi as estabelecidas, já que a equipe em si serve de base para vários indivíduos exibirem habilidades de liderança.51 Ao estabelecer uma equipe interfuncional, os gestores não devem se preocupar apenas em obter representação de todos os departamentos importantes. Ao contrário, o foco deve estar voltado para o recrutamento de pessoas de mente aberta, capazes de ter uma visão de longo prazo da situação e de enfrentar sem medo confrontos e mudanças. É necessário observar que a formação de equipes interfuncionais pode levar mais tempo do que o desenvolvimento de equipes para solução de problemas por causa dos sentimentos iniciais de desconfi ança entre os membros de diferentes departamentos. De fato, os estágios iniciais da maioria dos esforços para formação de equipes interfuncionais enfatizam o estabelecimento de confi ança e do trabalho em equipe. A Microsoft é uma organização que depende de equipes virtuais e do desenvolvimento delas. Todos na Microsoft, de uma forma ou outra, estão envolvidos em equipes virtuais que englobam todos os aspectos do trabalho cotidiano – desde equipes de projetos formais focados nos clientes externos e internos até redes informais de relacionamento entre colegas. Equipes virtuais, assim como se denominam esses gru- pos, consistem em pessoas reunidas para realizar trabalhos intergrupais para fi ns específi cos. Os integrantes da equi- pe, portanto, fi cam localizados tanto dentro do mesmo escritório como em locais que ultrapassam as fronteiras físicas. Assim, como seria previsível, a tecnologia está dis- ponível para simplifi car o trabalho. Contudo, isso apenas signifi ca usar ferramentas de comunicação remota já esta- belecidas, tais como videoconferência e recursos de troca de mensagens instantânea. Os gestores da Microsoft sugerem o que é a carac- terística mais importante de uma equipe virtual: o esta- belecimento de um conjunto de valores compartilhados. “A semelhança de espírito criada por esses valores é a liga que combina a diversidade de forças existente den- tro da equipe”, afi rma a empresa. “Equipes virtuais não conseguem ter êxito se seus componentes possuírem cren- ças concorrentes.” São dois os objetivos das equipes que caracterizam todo projeto virtual da Microsoft: o compartilhamento de informações para evitar duplicação e a obtenção de resultados mais positivos que os possivelmente obtidos de modo individual. A fi losofi a da Microsoft é desen- volver gestores de forma a capacitá-los a criar ambientes de equipe em que as pessoas se sintam envolvidas e de- sejem neles permanecer. Fontes: Annie Garfoot, “Virtual Team Case Study: Microsoft”, IT Training, 2 jun. 2004, p. 1-2; e Wally Bock, “Some Rules for Virtual Teams”, The Journal for Quality and Participation, outono de 2004, p. 43. Painel Equipes Virtuais da Microsoft Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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