Buscar

atualizado Projeto TCC (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Curso de Direito
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS
WILLIAM GABRIEL DE OLIVEIRA ALVES
Rio de Janeiro
2021.2
WILLIAM GABRIEL DE OLIVEIRA ALVES
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS
Artigo Científico Jurídico apresentado à Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso.
 Orientadora: Profa. Dra. Marcia dos Santos Pimentel Nunes
Rio de Janeiro
Campus Campo Grande-RJ
2021.2
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS
William Gabriel de Oliveira Alves
RESUMO:
O presente trabalho trata das formas de recuperação econômica das associações desportivas, em especial o instituto da Recuperação Judicial, previsto na lei nº 11.101/05. A referida lei estabelece que somente é aplicável a Recuperação Judicial aos empresários e às sociedades empresárias. Como a grande maioria dos clubes desportivos são estruturados em formato de Associação, ou seja, não exercem atividades com fins lucrativos, eles não possuem elemento de empresa, não se enquadrando no rol exemplificativo da Lei de Falência e Recuperação de Empresas. Como uma alternativa para esses clubes, em 06 de agosto de 2021, foi sancionada a Lei nº 14.193, que discorre acerca da instituição da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) e do Clube-empresa. Tal lei busca garantir a subsistência das entidades desportivas, criando o Regime Especial de Tributação de Entidades de Prática Desportiva Profissionais de Futebol (Simples-Fut), além de outras providências, dentre elas a possibilidade dos clubes se utilizarem do instituto da Recuperação Judicial.
Palavras-chave: Recuperação Judicial. Associações Desportivas. Lei de Falência e Recuperação de Empresas. Clubes de Futebol. Sociedades Empresárias. Clube Empresa. Empresário
SUMÁRIO:
1. Introdução; 2. Desenvolvimento; 2.1 
1. INTRODUÇÃO
	A pandemia instaurada em virtude do novo COVID-19 trouxe diversos problemas para os mundo esportivo. Com o adiamento, cancelamento e os portões fechados nos jogos durante a maior parte do ano de 2020, os clubes brasileiros de futebol da série A registraram queda de 10% nas suas receitas, que somaram R$ 5,5 bilhões, e um aumento de 15,6% no total dos passivos, para R$ 14,1 bilhões. A situação é ainda mais desesperadora ao observarmos os clubes que disputam da série B em diante, que muitas vezes se veem em situação de realizações de praças para a arrecadação de estádios ou até mesmo suas sedes sociais. 
	Como se não bastasse, muitos clubes estão entregues à administrações amadoras, onde são geridos por pessoas descapacitadas para o exercício das funções atribuídas, bem como, em alguns casos, de sujeitos maliciosos que utilizam da instituição para interesse próprio. Um exemplo dessa situação é o caso do Botafogo de Futebol e Regatas que, em balanço auditado, demonstrou que há uma deficiência de capital de giro de R$ 270 milhões. Além disso, houve um prejuízo de R$ 21 milhões causado, principalmente, pelas despesas financeiras relativas a juros e multas de obrigações tributárias. O passivo total do clube em 2020 foi de R$ 890 milhões.
	É inegável a importância que o futebol tem para a cultura do brasileiro, onde por diversas vezes se apresenta como uma válvula de escape para aqueles em que a sua única alegria é o clube do coração e não são poucas as vezes em que as pessoas esquecem as adversidades e mergulham no mundo mágico do esporte. Essa importante função social exercida pelos clubes acaba sendo ameaçada pelas crescentes dívidas e muitas das vezes não são encontradas soluções para uma reestruturação econômica o que leva essas associações a entram em colapso financeiro. Seu dirigentes, advogados e políticos prontamente começam a falar em recuperação judicial como alternativa para corrigir os danos causados pelos erros cometidos na gestão e administração. Em clubes como Vasco e Cruzeiro essa palavra já faz parte do vocabulário do dia a dia, mas é importante destacar que o assunto é interessante para todos os clubes endividados e que percorre por todos os corredores o interesse em recorrer a esse instituto para melhorar a situação de endividamento das instituições.
	A Recuperação Judicial de uma associação desportiva significa a oportunidade de reduzir o endividamento e preservar sua atividade, podendo ser suspensos por um período de 180 dias todos os bloqueios e penhoras sofridos. Na maioria das vezes o processo recuperacional envolve até o perdão de parte das dívidas, pois o credor, ciente de que o devedor não teria condições de pagar toda a dívida, acaba perdoando parte dos valores devidos em troca do pagamento programado. Assim é aberta a possibilidade de renegociação das dívidas dos clubes, por exemplo, por meio da aplicação de deságio sobre os créditos existentes contra a agremiação e de prazos alongados para pagamentos. Com a derrubada de vetos presidenciais a alguns dispositivos da Lei 14.112/2020 (Nova Lei de Falências), até mesmo os débitos tributários tiveram o pagamento facilitado, sendo autorizada a utilização dos prejuízos fiscais para pagamento de tributos, além de condições especiais de pagamento, com a concessão de descontos e prazo de até 84 meses.
	No dia 11 de março de 2021 o Figueirense, clube do estado de Santa Catarina, ingressou com tutela cautelar antecedente preparatória de pedido de Recuperação Judicial, buscando principalmente um dos efeitos mais imediatos e de grande impacto desta medida, que é a suspensão de todas as ações movidas em face da recuperanda, para posterior apresentação do regular pedido de recuperação no prazo legal. No documento, o clube apontou que as atividades corriam risco de se encerrarem imediatamente caso não conseguissem paralisar a execução das dívidas. 
Vale destacar que estamos diante de uma cautelar antecedente de pedido de recuperação judicial híbrida pelo fato de o clube Figueirense ser composto por uma associação civil, o Figueirense Futebol Clube, e por uma sociedade empresária de responsabilidade limitada, a Figueirense Ltda.
	O pedido foi negado pelo juiz Luiz Henrique Bonatelli, da Vara Regional de Recuperações Judiciais, Falências e Concordatas de Florianópolis. O magistrado seguiu a corrente de entendimento que defende a impossibilidade de as associações sem fins lucrativos figurarem como atores que poderiam utilizar-se do instituto da falência e da recuperação judicial "por não se enquadrarem no conceito de sociedade empresária".
"Com a devida vênia aos entendimentos em sentido contrário, este magistrado filia-se à primeira corrente doutrinária tida positivista, de modo que, por esta razão, entendo que as associações civis sem fins lucrativos não podem utilizar-se da recuperação judicial por não constituírem sociedade empresária."
Já em 2º grau, o entendimento foi outro. O desembargador Torres Marques entendeu que o fato de clube se enquadrar como associação civil não o torna ilegítimo para pleitear a Recuperação Judicial. Para ele, as atividades desenvolvidas constituem elemento típico de empresa.
"Concluo, portanto, que o fato de o primeiro apelante enquadrar-se como associação civil não lhe torna ilegítimo para pleitear a aplicação dos institutos previstos na Lei n. 11.101/2005, porquanto não excluído expressamente do âmbito de incidência da norma (art. 2º), equiparado às sociedades empresárias textualmente pela Lei Pelé e, notadamente, diante da sua reconhecida atividade desenvolvida em âmbito estadual e nacional desde 12/6/1921, passível de consubstanciar típico elemento de empresa (atividade econômica organizada)."
	Considerando que grande maioria dos clubes de futebol no Brasil estão constituídos como Associações Desportivas e não como Empresa, o assunto levanta algumas questões. Poderia uma pessoa jurídica sem fins lucrativos se valer do procedimento da recuperação judicial, previsto na lei 11.101/05? E, se tratando de associação desportiva, até que ponto é necessário edição normativa para que seja possível a Recuperação Judicialdessas instituições?
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 EMPRESA E EMPRESÁRIO: CONCEITO
	O conceito de empresa e empresário tem como base os fundamentos da Teoria da Empresa (Sistema Italiano), recepcionados pelo Código Civil de 2002 em seu Livro II. Tal teoria substituiu a Teoria dos Atos de Comércio ( Sistema Francês) que sustentava o código comercial de 1850. Ricardo Negrão (2008) versa que " com a adoção da Teoria da Empresa, grandemente desenvolvida pelo pelo jurista italiano Alberto Asquini, o Código Civil brasileiro optou por introduzir o sistema italiano para caracterização dos atos empresariais".
	De fato, o artigo 966 do Código Civil apresenta os elementos necessários para caracterização do empresário: "Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.". Vale ressaltar que não há na Lei o conceito de empresa na forma expressa, sendo que este pode ser extraído da definição de empresário, ou seja, uma empresa é caracterizada como a "atividade econômica organizada que será desenvolvida pelo empresário para a produção ou a circulação de bens ou serviços.
	Portanto, empresário, nos termos da Lei, é o sujeito e a empresa é o objeto da relação empresária. Para Fábio Ulhoa Coelho, "se o empresário é o exercente profissional de uma atividade econômica organizada, então empresa é uma atividade". E continua dizendo que "a empresa, enquanto atividade, não se confunde com o sujeito de direito que a explora, o empresário". Entende-se assim que o empresário é uma pessoa física ou jurídica, pois são essas que desenvolvem a empresa, ou seja, a atividade econômica organizada. 
	Além de outros elementos que caracterizam o empresário, como por exemplo a habitualidade das atividades, há de se ressaltar que a atividade econômica desenvolvida pelo empresário tem como objetivo maior a obtenção de lucro fim, assim considerado como a distribuição aos sócios de sociedade empresária ou titular de EIRELI ou firma individual.
	Esse é um elemento que não se encontra nas demais pessoas jurídicas elecandas no Art. 44 do Código Civil :
"São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)"
	Sendo assim, não se pode caracterizar como empresário uma associação desportiva, pois as atividades exercidas por elas possuem o lucro como um meio e não como fim, faltando um dos elementos da definição legal contemplada no Art. 966 do Código Civil.
2.2 AS ASSOCIAÇÕES DESPORTIVAS SEM FINS LUCRATIVOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
	Uma associação desportiva pode se resumir como uma entidade de direito privado que reúne pessoas em favor de um bem comum em prol do bem estar social, da cultura, política, filantropia ou realização de processos produtivos de bens e/ou serviços coletivos, sem visar o lucro, como se pode observar disposto no artigo 54 do Código Civil “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. 
Para se constituir uma associação é necessário reunir um grupo de pessoas interessadas em um objetivo em comum, que devem se identificar com as finalidades e objetivos da futura entidade. No Ordenamento Jurídico Nacional, em seu artigo 5º inciso XVII, pode-se observar o direito de constituir associações como sendo uma garantia fundamental “é plena a liberdade de associação para fins lícitos...”, ainda, no o inciso XVIII versa que “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.” 
O modelo organizacional, estatutário e a respeito da dissolução das associações estão dispostos nos artigos 53 a 61 do Código Civil, destaca-se:
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações
conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos
associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V - o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos
deliberativos;
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias
e para a dissolução;
VII - a forma de gestão administrativa e de aprovação das
respectivas contas. 
	Acerca da criação de associações pode-se observar ANDRADE FILHO:
"A criação de associações ou fundações é uma manifestação do direito livre de associação para o qual a Constituição Federal de 1988 reservou a mais ampla liberdade de configuração. Toda e qualquer associação pode ser livre; todavia a associação dotada de personalidade jurídica deve passar pelo crivo da lei. Portanto aquela liberdade pode ser regulada pela lei que, todavia, não deve em principio, impor que as restrições] não passem pela bitola do principio da proporcionalidade a exemplo do que ocorre com o principio da livre empresa".
	No tocante ao veto da busca pelo lucro, concedendo apenas lucros para um aumento de patrimônio da própria associação e não pessoal de seus associados analisa-se a posição de PEREIRA: 
"Associação de fins não lucrativos é aquela que se propõe a realizar atividades não destinadas a proporcionar interesse econômico a seus associados. Com esse critério, classificamse ainda na categoria de associações ideias que realizam negócios visando ao alargamento patrimonial da pessoa jurídica, sem proporcionar ganhos aos associados. Assim, a procura de vantagens matérias acessórias, indispensáveis à sobrevivência da associação não lhe retira o caráter não lucrativo do fim social.” 
	Por associação entende-se aquela instituição sem fins lucrativos que possui um ideal, no caso estudado no presente artigo, de manifestação desportiva, cultural e social sem a finalidade econômica final, ainda que seja atividade rentável. Sobre o tema discorre PERRUCI:
"Importante observar que o viés econômico da associação deve ser entendido de maneira restrita. Significa dizer que a caracterização da atividade econômica deve ser compreendida como sinônima do animus lucrandi e sua partilha posterior entre os integrantes da pessoa jurídica. Significa dizer que a simples verificação de resultado positivo – lucro – não é suficiente para descaracterizar o ente como associação. Nesta hipótese pelo fato de não se admitir na associação comunhão de diretos e obrigações reciprocas entre seus integrantes, não se poderá falar de economicidade da pessoa jurídica. A economicidade da atividade do ente jurídico informa a necessidade de ser produtora de riquezas e, por isto de bens, ou ainda de serviços patrimonialmente avaliáveis. Essas atividades podem ser exercidas como meio ou como finalidade. Na primeira hipótese ter-se-á a reversão integral do resultado obtido em benefício da própria entidade, como ocorre no seio das associações. É o caso, por exemplo, de entidade de pratica desportiva que vende a seus membros uniformes e outros produtos do clube, sem dividir o resultado com seus sócios, mas vertendo-o para a própria entidade, visto que possuem como principal motivação e objetivo o exercício e promoção de atividades esportivas.".
	Conforme já exposto, a maioria esmagadora dos clubes de futebol adotou o regime associativo como maneira de se constituir. O motivo disso é que, no contexto da época de criação dessas entidades, apenas era permitido tal regime, tendo em vista a finalidade da mera prática desportiva e a impossibilidade de obtenção de lucro com a atividade. O debate a respeito desse regime surgiu no momento em que começaram a ser injetados recursos financeiros astronômicos em torneios, ligas, patrocínios e etc. A partir daí surgiram previsões legislativas determinando a transformação dos clubes em sociedades empresárias, porém, essas legislações foram alvo de resistência e críticas por parte dos clubes edos estudiosos do assunto. Álvaro Melo Filho repele totalmente tal obrigação trazida pela Lei Pelé:
Registre-se que compelir um ente de futebol profissional a adotar a tipologia de “sociedade comercial”, com fins lucrativos é, sem dúvida, interferir na sua organização e funcionamento, derruindo o postulado constitucional da autonomia desportiva (art. 217, I, CF), a par de constranger Conselhos Deliberativos ou Assembleias Gerais de entes privados desportivos a adotar modelos legais que podem trazer prejuízos incalculáveis às suas tradições, patrimônio e identidade desportivas, dando suporte jurídico à apropriação e “comercialização” pelos acionistas de seus símbolos e sentimentos dos clubes construídos ao longo da história. Vale dizer, inserir na lex sportiva imposição do modelo de “sociedade comercial” aos centenários clubes desportivos, fundado num pressuposto de assegurar moralização e de gestão profissionalizada do desporto, integra tese irresponsável de ruptura, onde se combinam ficção jurídica e “mitologia” desportiva, cumuladas com inconstitucionalidade .
A Lei Pelé (Lei nº 9.615 de 1998) alterou radicalmente a estrutura do futebol brasileiro, mas, além dela, algumas outras leis também regulamentam a prática do desporto, entre elas, destacam-se: 
· A Lei Zico (Lei nº 8.672 de 1993), que trouxe a faculdade das entidades esportivas contratarem sociedades com fins lucrativos para gerir suas atividades. Tentou modernizar a gestão desportiva, mas foi, infelizmente, rechaçada por toda a classe dirigente, vez que não permitia qualquer benefício para esta nova adoção de gerenciamento; 
· A Lei nº 9.981 de 2000, que alterou alguns dispositivos da Lei nº 9.615, versando sobre a transformação da obrigatoriedade para a faculdade dos clubes em se tornarem empresas, sobre os contratos de atletas profissionais, sobre transmissão de jogos, sobre bingos e outros. Segundo Oliveira Junior (2004), a obrigatoriedade dos clubes em se tornarem empresas feria e fere a Constituição Federal.
O grande dilema dos clubes em se constituir como associação desportiva ou sociedade empresária está no fato de uma poder exercer atividades com fins lucrativos e outra não. Enquanto a sociedade tem finalidade lucrativa, a associação não pode gozar de qualquer proveito econômico. Esse detalhe acaba mudando a forma que a instituição se sujeita às leis normativas e existe uma grande questão a ser considerada pelos clubes na hora de escolher a forma de se constituir, que são os benefícios dados às associações, como a imunidade tributária e isenção de imposto de renda, porém, também pode haver um ônus nesse caso: A impossibilidade de requerer uma recuperação judicial, com base na lei 11.101/05, instituto de suma importância para a sobrevivência de entidades em situação de crise econômico-financeira e assunto principal do presente trabalho.
2.3 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL E SUA APLICAÇÃO, NOS TERMOS DA LEI 11.101/05
	Para evitar demissões, falta de pagamentos e até seu fechamento, as companhias em situação de insolvência veem como solução a renegociação de suas dívidas acumuladas através de uma Recuperação Judicial. O instituto é utilizado como meio de evitar que essas empresas sejam levadas à falência e tem como principal objetivo apresentar um plano de recuperação que mostre que a empresa, mesmo diante das dificuldades, consegue se reerguer, caso consiga negociar suas dívidas para continuar exercendo sua atividade. A ideia não é apenas ajudar os donos do empreendimento, mas também evitar que trabalhadores fiquem sem emprego, que fornecedores percam um cliente, que consumidores percam um serviço ou produto e o que Estado deixe de arrecadar impostos. 
	No decorrer da recuperação, as dívidas da organização ficam congeladas por um período pré-determinado enquanto as operação seguem seu fluxo, a fim de que seja possível gerar recursos financeiros suficientes para saldar todos os credores ou a maior parte deles. O momento ideal para buscar a recuperação judicial é aquele que antecede o caos, ou seja, quando o gestor prevê que não conseguirão arcar com suas obrigações e precisarão de ajuda para sair da situação que chegaram. Contudo, ela também pode ser solicitada após o caos ser instaurado, desde que haja possibilidade de recuperação. Isso é o que acaba acontecendo na grande maioria dos casos, uma vez que os gestores, normalmente, não estão preparados para identificar quando, de fato, a organização precisará se socorrer nessa alternativa.
	A concessão da recuperação judicial se dá em momento após a apresentação do Plano de Recuperação Judicial (artigo 53, caput). No plano deverão constar todos os requisitos da lei, como o laudo de avaliação dos bens e ativos do devedor, e será “o elemento central para a análise da estratégia desenhada para o sucesso, ou não, da recuperação judicial” (SZTAJN, 2007, p. 265). Sua principal função é demonstrar aos credores, destinatários do plano, a viabilidade econômica de recuperação do devedor (COSTA; MELO, 2021), mediante apresentação dos meios que serão utilizados para tanto, previstos exemplificativamente no artigo 50, dentre os quais se distinguem a dilatação de prazos para pagamento das dívidas submetidas ao plano (inciso I) e a aplicação de deságio sobre essas. 
	Cumpridos os requisitos legais, o juiz concederá a recuperação judicial à requerente (artigo 58) caso os credores tenham aprovado o plano ou não tenham oposto objeções. Ayoub e Cavalli (2013) ressaltam que essa decisão tem natureza jurídica de sentença, com eficácia constitutiva e condenatória. Nesta etapa, outros benefícios serão concedidos ao devedor. 
	Algumas pessoas podem confundir o conceito de recuperação judicial com o de falência. Porém, apesar de serem procedimentos que podem ter certa relação, eles são totalmente diferentes, afinal, a recuperação, em sua essência, serve para evitar a falência. Todavia, quando a recuperação judicial fracassa, as organizações acabam encerrando completamente as suas atividades e todos os seus ativos são oferecidos para que suas dívidas sejam quitadas, caracterizando, assim, a falência. De outro lado, a recuperação judicial tem o objetivo de sanear a crise pela qual a empresa está passando, isto é, busca identificar qual a causa do problema e apoiar o gestor lhe dando subsidio para que consiga superar a crise, negociando com os credores e oportunizando, assim, que empresa a continue operando e cumprindo sua função social.
	Apesar de ser um processo benéfico para ambos os lados, é necessário ter alguns cuidados antes de elaborar um plano de recuperação judicial. Cabe salientar que é fundamental que, na documentação que registrará o plano de ação da recuperação, estejam compreendidos todos os credores da organização, sendo imprescindível verificar o potencial do negócio em gerar resultados que cubram todos os valores que a empresa deverá pagar. Além disso, é preciso ter atenção aos prazos. Caso a organização não apresente o plano durante o período exigido pela Lei, o juiz pode decretar de ofício a falência e não terá mais como voltar atrás nesse processo.
	Fato é que uma eventual interrupção nas atividades exercidas pelos clubes há de gerar bastante comoção social, tanto pelo fechamento de milhares de postos de trabalho, aumentando consequentemente a taxa de desemprego, tanto pela frustração de milhares de torcedores que têm em seu clube a sua única alegria. É de suma importância a subsistência das entidades desportivas, principalmente os grandes clubes, para a economia nacional, bem como a função social que exercem e evidente que a falência de uma dessas entidades prejudica todos que dela dependem. 
	Dessa forma, deve-se por em prática o princípio de conservação da empresa juntamente com o princípio da razoabilidade. Toda vez que uma entidade desportiva se encontrar em situação de insolvência, responde-se a seguinte questão: É razoável mantê-la em atividade? 
	Tal questão deve ser respondida em observância de uma série de fatores, principalmente a viabilidade financeira. Uma agremiação desportivaem situação de crise e que não seja viável se torna perigosa, de forma que, se não interrompidas suas atividades, esta continuará operando e se endividando cada vez mais. À medida em que suas dívidas aumentam, também aumenta o número de credores prejudicados, assim, coloca-se em risco não só a agremiação desportiva que já estava em crise, como também seus credores, que cada vez mais têm créditos que não se satisfazem.
	A recuperação judicial é disciplinada pela Lei 11.101/05 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas), que em seu Art. 1º, traz o seguinte texto "Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.". A lei indica expressamente sua aplicação apenas aos empresários e sociedades empresárias, não havendo qualquer disposição quanto às associações, pois se tratam de um tipo diferente de pessoa jurídica. No caso dos clubes de futebol, por se tratarem de associação desportiva, inclusive sem fins lucrativos, o tema não foi abordado, existindo assim uma lacuna quanto a possibilidade do pedido recuperação judicial por parte destas associações desportivas. 
	A já mencionada Lei 9.615 (Lei Pelé), dispõe em seu artigo 27, § 13 que "Para os fins de fiscalização e controle do disposto nesta Lei, as atividades profissionais das entidades de que trata o caput deste artigo, independentemente da forma jurídica sob a qual estejam constituídas, equiparam-se às das sociedades empresárias.". Resta claro que a referida lei equipara as entidades desportivas às sociedades empresárias. 
2.4. ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDÊNCIA
	A notícia de que o Figueirense teve seu o seu pedido de recuperação judicial reconhecido pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina causou enorme controvérsia por parte dos doutrinadores, já que a aplicação da recuperação para associações sem fins lucrativos ainda não é um tema pacificado no Brasil. Ainda assim, casos semelhantes ao do clube alvinegro se multiplicam pelo país, a ponto de não ser mais um exagero dizer que se trata de uma tendência. 
	Tal polêmica existe porque Lei de Recuperação Judicial e Falências (Lei 11.101/05) não deixa claro se as associações sem fins lucrativos têm ou não o direito de utilizar a recuperação. O artigo 1º afirma que o instituto deve ser usado pela "sociedade empresária" (o que não é o caso das associações), mas o 2º diz quem não pode se beneficiar da RJ e dele não constam as entidades que não buscam o lucro. 
	Como resultado temos duas correntes doutrinárias que se dividem ao tratar da legitimidade ativa das associações desportivas em relação à recuperação judicial. Existe a primeira, que é mais conservadora, positivista e literal, ela defende que apenas as entidades desportivas que se constituírem na forma de sociedade empresária podem postular recuperação judicial. 
	Já a segunda corrente, mais principiológica, sistemática e teleológica, entende ser possível juridicamente entidades desportivas, constituídas como associações civis sem fins lucrativos, postularem recuperação judicial, na forma da Lei 11.101/05. Um dos pressupostos adotados nessa tese é a ideia de que as leis não devem ser interpretadas de forma isolada, utilizando, assim, a teoria do diálogo das fontes, segundo a qual o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma sistemática, conjunta e unitária. 
	O caso do Clube é um reflexo dessa divisão e situações semelhantes têm acontecido com outras associações que desejam fazer uso da recuperação para tentar sair da crise financeira, principalmente hospitais e instituições de ensino mantidos por entidades beneficentes, como a Universidade Cândido Mendes e o Grupo Metodista. 
	Em dezembro do ano passado, foi promulgada a Lei 14.112, que modernizou o texto da Lei de Recuperação e Falências. Só que os parlamentares "esqueceram-se" das associações sem fins lucrativos, que não foram incluídas na nova versão da Lei 11.101/05, para a decepção dos operadores do Direito que se dedicam ao assunto. Segundo Wilmara Lourenço Santos, sócia-coordenadora do escritório Nelson Wilians Advogados no departamento tributário "A nova lei poderia claramente ter incluído as associações, tendo em vista a discussão sobre a matéria no período pandêmico, que impactou severamente a manutenção dessas associações". Concorda ainda o Dr. Pedro Henrique Sili Vieira, advogado sênior da área de reestruturação e insolvência do BMA Advogados, ao dizer que "O legislador poderia ter aproveitado a recente reforma da LRF para enfrentar diretamente o tema, o que acabou não sendo feito. Parece ter preferido delegar para a doutrina e para a jurisprudência a definição sobre o assunto, o que pode gerar alguma insegurança para as associações enquanto a matéria não for pacificada".
	Com esses pedidos de Recuperação Judicial foram colacionados importantes precedentes de deferimento da aplicação da Lei de Recuperação de Empresas e da recuperação judicial às associações sem fins lucrativos. Sabe-se que a certeza e a segurança jurídica são dois pilares fundamentais para o direito empresarial, onde os agentes dependem de regras claras, aplicadas de forma previsível e uniforme pelo Poder Judiciário, para que possam calcular seus riscos e tomar suas decisões. Insegurança jurídica, aliás, é uma expressão que sai com muita facilidade da boca dos especialistas em recuperação judicial. Afinal de contas, as associações sem fins lucrativos que desejam buscar esse caminho sabem que, para elas, entrar com uma ação de RJ é como fazer uma aposta: se derem sorte, vão ter seu caso apreciado por um juiz que pertence à corrente que não se prende estritamente ao texto da lei. Do contrário, terão o pedido negado.
	Sendo assim, não se tem visto como prudente que os institutos da falência e da recuperação judicial sejam aplicados a associações simplesmente com base em interpretação extensiva do art. 1º da Lei de Recuperação de Empresas, causando divergências doutrinárias e jurisprudenciais. Isso traria muita instabilidade ao sistema. Alex Hatanaka, advogado da área de reestruturação e insolvência do escritório Mattos Filho. afirma que "Do ponto de vista da segurança jurídica, a situação não é boa, há muitas associações pedindo a recuperação sem ter previsão na lei, só com base na jurisprudência. Se houvesse clareza na lei seria bem mais fácil, as associações não ficariam ao sabor da interpretação de quem julga. "
	Um argumento que tenta justificar o cabimento da recuperação judicial, extrajudicial e da falência para as associações civis desportivas se relaciona com o caráter eminentemente empresarial da gestão e exploração do esporte profissional por entidades desportivas. No ponto, vale esclarecer que há, na doutrina, quem revele a possibilidade de as associações civis desenvolverem atividades com finalidade lucrativa desde que sejam utilizadas para cobrir os gastos da associação, isto é, para a manutenção das atividades. Nesse sentido, discorre a Professora Maria Helena Diniz: "Não perde a categoria de associação mesmo que se realizem negócios para manter ou aumentar o seu patrimônio, sem, contudo, proporcionar gastos aos associados, p. ex., associação esportiva que vende aos seus membros uniformes, alimentos, bolas, raquetes etc., embora isso traga, como consequência, lucro ara a entidade". Ainda, conforme preceitua o Professor Felipe Falconi Pernuci, "as associações que praticam o desporto de modo profissional dos dias atuais há muito desvalvularam-se do ideal associativo".
	Como argumento dificultador à recuperação judicial de associações desportivas sem fins lucrativos, tem-se a necessidade de que a associação desportiva possua o mínimo de recursos financeiros para promover a recuperação judicial, cujos custos podem ser elevados. Há necessidade de se arcar com o pagamento de consultores para avaliar previamente a efetiva situação econômico-financeira da agremiação desportiva e estruturar um plano de. Também haverá despesas com pagamento de advogados e auditores, convocaçõese realização de assembleias de credores, honorários do administrador judicial e a própria reestruturação da empresa e execução do plano de recuperação. 
	Já que a lei não cuidou de resolver o problema, há um consenso entre os especialistas em recuperação judicial de que a tão aguardada uniformidade só será alcançada quando o Superior Tribunal e Justiça for chamado a se pronunciar sobre o assunto. Pedro Escosteguy, do Moraes & Savaget Advogados, explica que: "É o papel da jurisprudência auxiliar os operadores do Direito a criar uma segurança jurídica lastreada em julgados similares e jurisprudência consolidada. O Código de Processo Civil de 2015 possui previsão específica sobre incidentes de solução de controvérsias repetitivas, assim como os tribunais editam súmulas sobre entendimentos já pacificados. Não duvido de que eventualmente essa questão venha a ser abordada por alguma delas". Porém, ninguém espera que o STJ se pronuncie tão cedo sobre a recuperação judicial de associações sem fins lucrativos. 
2.4. MUDANÇA PARA CLUBE EMPRESA COMO ALTERNATIVA
	Em 06 de agosto desse ano foi sancionada a Lei do Clube-Empresa (Lei nº 14.193/2021), bastante esperada pelos principais atores do futebol brasileiro, é considerada um marco para a profissionalização e modernização desse mercado, tornando-o atrativo para possíveis investidores e financeiramente sadio para os clubes. Nesse contexto, a lógica do projeto original era a de que o clube de futebol constituiria uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), mediante a transferência de parte de seus ativos para a SAF, que sucederia o clube em campeonatos e contratos relativos ao futebol, ficando a SAF sujeita a certas regras de governança, controle e transparência. Em contrapartida, a SAF se beneficiaria de regime tributário especial (Simples-Fut) e poderia obter recursos no mercado financeiro, inclusive por meio das debêntures-fut, que teriam tributação específica e incentivada.
	A Lei do Clube-Empresa prevê a faculdade do clube ou pessoa jurídica original adimplir suas obrigações diretamente aos seus credores mediante do Regime Centralizado de Execuções ou pela recuperação judicial e extrajudicial, conforme a Lei 11.101/05. No Regime Centralizado de Execuções, o clube ou pessoa jurídica original concentrará em um único local (juízo) através de concurso de credores as execuções, as suas receitas e os valores, bem como a distribuição desses valores aos credores em concurso e de forma ordenada. 
	O clube de futebol que requerer a centralização das suas execuções terá o prazo de até 60 dias para apresentação do seu plano de credores, podendo o Poder Judiciário conceder o prazo de seis anos para pagamento dos credores. Se o clube ou pessoa jurídica original comprovar a adimplência de ao menos 60% do seu passivo original ao final do prazo de seis anos, poderá obter a prorrogação do Regime Centralizado de Execuções por mais quatro anos.
	Na hipótese do clube eleger a recuperação judicial como meio de elidir seu passivo, este gozará de legitimidade para requerer a recuperação judicial e extrajudicial a partir do momento em que se transformar em sociedade na anônima de futebol (SAF). Na recuperação judicial, o clube de futebol fará a declaração de suas dívidas e de seus credores, apresentará um plano de recuperação judicial (renegociação de dívidas) que será analisado pelos credores, que poderão aceitar, rejeitar ou modificar o mesmo; havendo aprovação (acordo), este será homologado pela Justiça.
	Recentemente, o clube Cruzeiro contratou a empresa de investimentos XP para a analisar a captação desses recursos e a viabilidade de transformação do clube em sociedade anônima de futebol.Já os clubes Vasco da Gama e Portuguesa já propuseram o regime centralizado de execuções com base na noviça legislação, sendo que o clube paulista conseguiu a programação do prazo para pagamento de suas dívidas para seis anos.
	A Lei veio para encerrar a discussão que tem dividido os comentários dos especialistas na área: a possibilidade ou não de reestruturação da dívida de clubes de futebol por meio de recuperação judicial ou extrajudicial. Nesse aspecto, as SAFs estarão definitivamente legitimadas para apresentarem pedidos recuperacionais, nos termos da Lei nº 11.101/2005. Em outras palavras, a Lei do Clube-Empresa confere legitimidade ativa aos clubes de futebol para o ajuizamento de recuperação judicial e extrajudicial, independentemente da constituição da SAF.
	Todavia, deve-se observar alguns pontos da Lei 14.193. Na proposta aprovada os clubes, após o período de transição, ficam submetidos uma carga fiscal superior às associações civis, apesar de inferior à carga fiscal das demais sociedades empresárias. O substitutivo prevê a Tributação Específica do Futebol (TEF) para as SAFs. Nos primeiros cinco anos a partir da constituição da SAF, incidirá a alíquota de 5%, em regime de caixa mensal, exceto sobre a cessão de direitos de atletas. A partir do sexto ano da constituição da SAF, incidirá a alíquota de 4%, em “regime de caixa mensal”, sobre todas as receitas, inclusive sobre cessão de direitos de atletas. Bruno Coaracy expõe o seguinte: "Do ponto de vista negativo, se assim posso dizer, vejo a incidência tributária a partir do 6° ano em relação as receitas oriundas das transferências de atletas, digo, pois, para alguns clubes essa é a principal fonte de receita, logo, penso ser este um ponto sensível que certamente será muito debatido em momento futuro e oportuno, embora o texto traga uma diminuição da alíquota de 5% para 4% quando da incidência da respectiva receita". Outro ponto importante a ser observado é o abandono dos proprietários. Os donos podem simplesmente perder o interesse em investir no clube, focando-se com os ganhos em venda de jogadores e publicidade. Há o risco da marca ser explorada financeiramente e largada no âmbito esportivo. Este tema implica também na chance de falência. 
	Uma associação desportiva pode sofrer insolvência civil se possuir mais obrigações do que rendimentos para cobrir tais pagamentos, bastante similar à falência. Como há uma rotatividade de mandatários, regida pelo sistema presidencial, o fato de não haver responsáveis pelo ativo dificulta essa ação. Na realidade, é improvável a insolvência de um clube de futebol em decorrência das oportunidades que envolvem o capital compra e venda de jogadores, bilheteria, publicidade. Mesmo que em estado crítico, os clubes se mantém. Já no modelo empresarial, a situação se reverte. Uma empresa pode falir. A falência no futebol implicar em ter de reiniciar todas as competições estaduais e nacionais da última divisão, um risco que pode ser considerado altíssimo.
3. CONCLUSÃO
	No presente trabalho observou-se uma grande controvérsia a respeito da legitimidade ativa de determinadas entidades em se valer do instituto da recuperação judicial, previsto na Lei nº 11.101/2005. Verificou-se a difícil situação econômico-financeira enfrentada pelos clubes de futebol brasileiros, bem como suas dificuldades em se recuperar dessa situação.
	Na sequência, foi possível entender o conceito de empresário e como ele se constitui no ordenamento jurídico brasileiro. Pôde-se ainda observar, conforme disposto no artigo 54 do Código Civil, que “Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. A partir daí entendeu-se que o conceito de Associação pode se resumir como uma entidade de direito privado que reúne pessoas em favor de um bem comum em prol do bem estar social, da cultura, política, filantropia ou realização de processos produtivos de bens e/ou serviços coletivos, sem visar o lucro.
	Foi verificada também a disposição do instituto da recuperação judicial no ordenamento jurídico, bem como os requisitos para sua aplicação prática. Foi apresentado o entendimento doutrinário doutrinário acerca da sua aplicação às associações desportivas, o qual se divide em duas vertentes. Como a lei que regula as recuperação judicial é vaga, abriu-se entendimento para a possibilidade de suaaplicação. Foram apresentadas decisões que abriram precedente para a discussão, como o caso do Figueirense Futebol Clube, que teve sua recuperação judicial deferida.
 	Dada a importância e a função social exercida pelo futebol, atrelada à insegurança jurídica existente devido à não especifidade da lei de recuperação judicial e falência, foi editada uma nova lei com intuito de possibilitar a subsistência dos clubes insolventes, a chamada Lei do Clube Empresa. Entre outras vantagens, a lei trouxe a possibilidade dos clubes requererem a recuperação judicial. Porém, no decorrer do trabalho, foram mencionados alguns pontos que merecem observação, como o regime de tributação e a sujeição à falência por parte dos clubes que aderirem a nova forma de se constituir. Como toda empresa, as Sociedade Anônimas do Futebol, criadas pela Lei do Clube Empresa, estarão sujeitas à falência. Logo, caso não tenha seu plano de recuperação judicial aprovado ou torne-se inadimplente, pode ter sua falência requerida pelos credores.
 	A falência significa, a grosso modo, a “morte” da empresa. Com a morte da Sociedade Anônima de Futebol, para o time de futebol renascer, terá que ser criada outra pessoa jurídica que será obrigada a começar sua trajetória desportiva da última divisão do seu campeonato estadual. Logo, o simples fato de “virar” clube-empresa não salvará o clube da falência. É preciso mais. A gestão há de ser profissional e as contas devem estar em dia. Se for para serem mantidas as velhas práticas, é melhor os clubes não se tornarem SAFs. Isso porque as associações somente podem ter sua insolvência civil decretada que, apesar de se parecer com o instituto da falência, é bem mais branda e gravosa.
 	Em outras palavras, se for para manter-se inadimplente ou continuar gastando mais do que fatura, é mais seguro para os times de futebol manterem-se como associações do que submeter-se ao risco de falência. Vale destacar que a transformação em clube empresa ou a cisão do departamento de futebol são um caminho sem volta. Uma vez transmutadas em SAFs, os times de futebol não podem mais voltarem a ser clubes/associações.
 	Assim, a “Lei do clube-empresa” disponibiliza ferramentas importantes, que, se bem utilizadas, podem ajudar os clubes, mas, se não forem bem articuladas, podem significar o fim.
	Não é possível frisar qual das forma de constituição melhor se enquadra aos clubes de futebol, mas fato é que 
	
https://www.rotajuridica.com.br/artigos/a-possibilidade-da-recuperacao-judicial-dos-clubes-de-futebol-com-o-advento-da-lei-14-193-2021/
https://www.migalhas.com.br/depeso/336823/e-se-o-botafogo-pedir-recuperacao-judicial
https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2021/07/02/divida-dos-clubes-de-futebol-cresce-na-pandemia.ghtml
https://ge.globo.com/blogs/blog-do-rodrigo-capelo/post/2020/02/06/recuperacao-judicial-extrajudicial-falencia-e-insolvencia-civil-um-guia-para-entender-o-que-pode-acontecer-com-clubes-endividados.ghtml
https://www.conjur.com.br/2021-mar-29/carvalho-recuperacao-judicial-clubes-futebol
https://www.migalhas.com.br/quentes/342150/figueirense-e-primeiro-time-a-ter-legitimidade-de-recuperacao-judicial
https://www.migalhas.com.br/depeso/317853/recuperacao-judicial-para-associacoes-desportivas-sem-fins-lucrativos--mudanca-para-forma-empresarial--clube-empresa--ou-refundacao---im-possibilidades--requisitos-e-limitacoes
https://www.univali.br/graduacao/direito-itajai/publicacoes/revista-de-iniciacao-cientifica-ricc/edicoes/Lists/Artigos/Attachments/1001/Arquivo%2023.pdf
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Curso de direito Civil. Parte Geral. V1. 19. ed, Rio de Janeiro: Forense, 1999.
51 CARLEZZO, Eduardo. Direito Desportivo Empresarial. São Paulo. Juarez de Oliveira: 2004. p. 27-28.
https://leiemcampo.com.br/wp-content/uploads/2019/10/TCC-P%C3%B3s-UCAM-Direito-Desportivo-Guilherme-Charles-.pdf
60 OLIVEIRA JÚNIOR, Piraci Ubiratan. Clubes de futebol e seus reflexos fiscais. Rio de Janeiro: Mauad, 2004.
https://economia.uol.com.br/guia-de-economia/recuperacao-judicial-empresa-falencia-fases-processo.htm?cmpid=copiaecola
https://www.conjur.com.br/2021-mar-29/carvalho-recuperacao-judicial-clubes-futebol
https://www.conjur.com.br/2021-jun-05/apesar-inseguranca-rj-entidades-fins-lucrativos-avanca
https://www.conjur.com.br/2021-ago-30/opiniao-lei-clube-empresa-esconde-trunfo-endividados
https://www.conjur.com.br/2021-set-18/opiniao-recuperacao-judicial-clubes-lei-141932021
https://www.uol.com.br/esporte/colunas/lei-em-campo/2021/07/19/pl-do-clube-empresa-e-uma-boa-especialistas-apontam-riscos-e-vantagens.htm
file:///home/chronos/u-26e292dd768cf0599a5f8fdd8993275fbd2a70ab/MyFiles/Downloads/719-49-2332-1-10-20181112.pdf

Outros materiais