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Questão Religiosa no Império Brasileiro

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Aula 05 (Prof. Pedro
Santos e Diogo
D'angelo)
História do Brasil p/ CACD (Diplomata)
Terceira Fase-Discursivas-Pós-Edital (4
Correções por Aluno)
Autores:
Carlos Roberto, Paulo Ferreira,
Rafaela Freitas, Renata Macedo,
Diogo D'angelo, Pedro Henrique
Soares Santos
Aula 05 (Prof. Pedro Santos e
Diogo D'angelo)
2 de Agosto de 2020
 
 
 
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Sumário 
Apresentação ...................................................................................................................................................... 2 
Primeira rodada de temas ................................................................................................................................. 3 
Tema 1 – A missão Penedo e a Questão Religiosa ........................................................................................ 3 
Abordagem contextual ................................................................................................................................... 4 
Tema 2 – O poder Executivo no Império ...................................................................................................... 11 
Abordagem Contextual ................................................................................................................................ 12 
Tema 3 – O projeto Ponsonby ...................................................................................................................... 16 
Abordagem contextual ................................................................................................................................. 17 
 
 
Carlos Roberto, Paulo Ferreira, Rafaela Freitas, Renata Macedo, Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos
Aula 05 (Prof. Pedro Santos e Diogo D'angelo)
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APRESENTAÇÃO 
Caro aluno, seja bem-vindo à primeira rodada de temas das discursivas para CACD! 
Como sabem realizar bem a segunda etapa é essencialíssimo para a aprovação! Assim, treino e foco na 
estrutura da redação são fundamentais para uma boa preparação. 
Aqui serão propostos três temas para vocês: um para uma redação de 90 linhas e dois para textos de 60 
linhas, tal como nos pede a prova do CACD. A proposta dissertativa de 90 linhas vale 30 pontos, enquanto 
que a de 60, 20 pontos. 
Você poderá escolher para envio qualquer dos temas desta aula. Contudo, não é obrigatório escolher um 
tema agora, caso prefiram aguardar os temas das próximas rodadas. Aconselhamos, entretanto, que não 
concentre a escolha nas últimas aulas, pois o treino dessa etapa pode acabar sendo negligenciado com a 
rotina pesada de estudos, o que poderá comprometer seu desempenho no dia da prova. 
 
Desejamos sucesso na caminhada de preparação e bons estudos! 
Carlos Roberto, Paulo Ferreira, Rafaela Freitas, Renata Macedo, Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos
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PRIMEIRA RODADA DE TEMAS 
Tema 1 – A missão Penedo e a Questão Religiosa 
 
“Pode-se afirmar que esse conflito foi fruto de uma conjuntura histórica em que pesaram elementos vários, 
vindo a envolver praticamente todos os aspectos da sociedade imperial da segunda metade do século XIX. 
Mesmo os estratos mais profundos sentiram os reflexos de uma querela político-jurídico-religiosa, que 
superou a intelectualidade ultramontana, regalista, maçônica e liberal.” 
SANTIROCCHI, Ítalo. Questão de consciência: os ultramontanos no Brasil e o regalismo do Segundo Reinado 
(1840-1889). Belo Horizonte: Fino Traço, 2015, p. 420-421. 
 
Em 1872 teve início no Império uma das cizânias mais importantes do período e que, estendendo-se até 
1875, causou grande consternação social e problemas ao regime monárquico. Em se tratando desta questão 
aborde, em 90 linhas, os seguintes pontos: 
 
→ O que foi a Questão Religiosa; 
→ Qual foi o posicionamento do Conselho de Estado sobre a questão; 
→ Qual foi o objetivo da Missão Penedo e seu resultado; 
 
 
 
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Abordagem contextual 
A questão religiosa engloba o conjunto das questões do fim do Império que se abateram sobre o regime 
monárquico após a guerra do Paraguai. Em conjunto com a questão militar, a questão da escravatura, a 
questão dinástica, o sentimento federalista e as críticas ao poder pessoal do imperador, a questão religiosa 
ajuda a compor o quadro de queda da monarquia representativa no Brasil. 
Iniciada em 1872, a questão religiosa opôs dois modelos de organização eclesiológicos então existentes no 
mundo maior do catolicismo: o ultramontanismo e o catolicismo liberal. Enquanto os primeiros buscavam se 
aliar cada vez mais estreitamente ao chefe da Igreja, o papa em Roma, atuando mais próximo dele para a 
reforma da Igreja em seus países, os liberais buscavam apoiar-se na tradição da igreja galicana (francesa) de 
maior autonomia para seus bispos; igualmente, os liberais tentavam aclimatar o catolicismo às realidades 
políticas pós-Revolução Francesa, do liberalismo político; por fim, os liberais ainda entendiam que na aliança 
Estado-Igreja dos Estados confessionais, o primeiro termo deveria ter precedência sobre o segundo, num 
momento quando a tentativa de ingerência do papado nas igrejas nacionais era entendido como uma 
ingerência no Estado, nesse contexto, na Nação. 
O conflito somente se torna inteligível na medida em que compreendemos a natureza das relações entre o 
Estado e a Igreja no Brasil imperial. Pelo artigo 5º da constituição de 1824, o catolicismo romano era 
estabelecido como religião de Estado, muito embora a mesma constituição tenha estabelecido o princípio 
da tolerância religiosa e permitido os cultos não-católicos desde que em locais em que não houvesse face 
exterior de templo (a rigor para que não houvesse proselitismo) e desde que respeitada a religião oficial. 
Essa união estabelecida pela constituição, e não por uma concordata entre o Império e a Santa Sé 
(concordata, aliás, que nunca foi realizada pelo regime monárquico), transformou, na prática, os padres, 
bispos e demais membros do clero, em funcionários públicos. O Império tinha o direito de apresentar os 
candidatos aos cargos eclesiásticos menores (párocos colados) e altas dignidades (bispos e arcebispo). O 
Estado era responsável pelo pagamento das côngruas eclesiásticas, pelo financiamento dos seminários, pela 
construção das igrejas, seminários, palácios episcopais. O aporte financeiro era sustentado (ou ao menos 
teoricamente) pelos dízimos eclesiásticos que eram passados integralmente para o governo, secularizado no 
segundo reinado, transformando-se, assim, em espécie de imposto. Igualmente, era a partir de lei aprovada 
pelo parlamento que se criavam novas dioceses. 
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Central nesse relacionamento era o poder de beneplácito do Imperador a quaisquer documentos papais 
(também chamado de exequatur) e o “recurso à Coroa”. O primeiro tratava-se do poder de vetar a validade 
de um documento papal no Império. Assim, encíclicas, breves e outros documentos do Vaticano, por vezes 
dirigidos a toda a comunidade dos fiéis do mundo, tinham que ter aprovação do Imperador para valer no 
Brasil. O segundo,permitia que se recorresse a uma instância civil para a resolução de alguns conflitos 
eclesiásticos, a lógica sendo a de proteger os indivíduos ou grupos de abusos clericais (bem no espírito 
liberal). O conjunto de poderes de interferência do Estado na Igreja, quando não consentido pela mesma, 
recebe o nome de “regalismo”. O “Padroado” se refere aos poderes que o braço temporal possui por 
delegação da Santa Sé – pelo menos assim entendido pela Cúria romana. 
Esse aparato burocrático-estatal entrava diretamente em choque com o modelo ultramontano, cada vez 
mais defendido pela elite eclesiástica e por sacerdotes formados nos seminários depois de reformas feitas 
pelos prelados dessa corrente. Os ultramontanos queriam liberdade para a Igreja agir conforme seus 
cânones, dogmas e orientações papais. O Estado, para eles, não deveria se intrometer nisso. Não quer dizer 
que defendessem a laicização. Ao contrário, queriam inverter a lógica até então vigente: que o Estado 
servisse à Igreja em sua missão de evangelização. 
Ironicamente, o próprio governo imperial passou a apontar conhecidos ultramontanos para assumirem 
bispados porque queria retirar os padres da política. Entendia que durante os períodos do primeiro reinado 
e das regências, os elementos clericais liberais foram fortes influenciadores dos movimentos de sedição 
(basta lembrar de frei Caneca). Bispos ultramontanos, moralizadores do clero e exigindo que os padres se 
ativessem a suas obrigações espirituais era algo que apetecia ao regime imperial que buscava ordem depois 
dos anos de turbulência. 
Ao longo do período imperial, Estado e Igreja – tanto a igreja nacional representada pelos bispos quanto com 
a Cúria Romana, representante da Igreja enquanto instituição universal – haviam entrado em choque em 
vários momentos, por variados motivos. Problemas relativos aos poderes do imperador na igreja brasileira, 
problemas relativos às ordens religiosas do Império (em franco estado de decadência), a questão dos 
casamentos (somente reconhecidos se católicos até o fim da década de 1860), a ausência de acordo acerca 
de uma concordata, a tentativa de ingerência do Estado nos seminários. Tudo isso foi criando tensão entre 
os poderes secular e religioso. Os dois modelos eclesiológicos foram se tornando intransigentes, com o 
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Estado apoiando o modelo cada vez menos expressivo do catolicismo liberal enquanto grande parte do clero 
fechava suas fileiras atrás de seus bispos cada vez mais alinhados com as diretrizes da Igreja Romana. 
O conflito teve suas sementes plantadas quando da promulgação da Encíclica Quanta Cura de 1864 e de seu 
apêndice, Syllabus Errorum. Nesta Encíclica e em seu anexo eram combatidos pelo papa Pio IX os chamados 
“erros modernos”: o liberalismo, o socialismo, o comunismo e o maçonismo, além de outros. Medidas duras 
e enérgicas eram pedidas aos bispos para combater esses considerados erros. 
A Encíclica Quanta Cura e o Syllabus não receberam o beneplácito do imperador. Mesmo assim, jornais 
católicos publicaram o documento traduzido no Brasil, buscando conseguir apoio dos fiéis para a 
implementação daquelas políticas no país. Tudo isso irritou o governo, mas a situação realmente saiu da 
normalidade quando prelados passaram a levar em conta as orientações presentes na Encíclica nas suas 
práticas pastorais. 
Em 1871, o presidente do Conselho de Ministros era o Visconde do Rio Branco. Rio Branco era, naquele 
momento, também o Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, da obediência do Lavradio. Nesse ano, Rio 
Branco conseguiu passar, não sem grande esforço, a lei do Ventre Livre. Esse projeto foi entendido à época 
como um grande passo rumo ao fim da escravidão. Festas e homenagens ao visconde foram realizadas depois 
da aprovação da lei. 
No conjunto dessas homenagens, um elogio público em 1872 foi feito por um padre maçom ao visconde. O 
bispo do Rio de Janeiro, Pedro Maria de Lacerda, repreendeu publicamente o padre, exortando-lhe a sair da 
maçonaria. Em resposta, os maçons atacaram o bispo na imprensa e organizaram uma missa, a ser presidida 
pelo mesmo padre. D. Pedro de Lacerda o proibiu sob pena de punições eclesiásticas. O padre ignorou e 
realizou missa, que contou com uma grande presença de maçons. O clima na Corte esquentou, o governo 
atuou para que o bispo não continuasse com o imbróglio, apelando inclusive para o representante da Santa 
Sé no Brasil. Sob pressão, D. Pedro de Lacerda recuou. 
No mesmo ano, D. Vital Maria foi sagrado bispo da diocese de Olinda. Jovem e absolutamente convicto de 
que a ortodoxia repousava em Roma, ardente defensor do recente Concílio Vaticano I que estabelecera o 
dogma da infalibilidade papal em dogma e moral, D. Vital assumiu uma diocese cheia de postulantes dos 
“erros” apontados no Syllabus. 
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Não demorou muito para os problemas começarem. Já nos seus primeiros documentos pastorais, exortou 
os fiéis a abandonarem as sociedades secretas. Logo procurou saber quem participava da maçonaria e 
descobriu não só membros do clero, mas também que muitas irmandades estavam cheias de maçons, em 
alguns casos, dominadas por eles. 
As irmandades eram associações de caráter misto no Império. Eram tanto civis quanto religiosas e possuíam 
atividades tanto civis quanto religiosas. Eram responsáveis por muitos trabalhos caritativos e sociais e 
igualmente responsáveis pela manutenção de alguns templos (normalmente templos construídos com 
recursos dos membros das irmandades) e de festas religiosas. Seu estatuto deveria ser aprovado pelos 
poderes secular e religioso e estavam sob a dupla alçada do poder estatal e do bispado, no que se refere ao 
aspecto civil e ao aspecto espiritual, respectivamente. 
Os jornais maçônicos não tardaram em revidar o ataque de D. Vital. Atacaram o ultramontanismo, atacaram 
o concílio Vaticano I, alguns mais radicais chegaram a atacar a Virgem Maria e a autoridade papal. Para 
desafiar o bispo, publicaram uma lista com todos os membros maçons do clero e presentes nas irmandades, 
tudo em 1872. Em resposta, d. Vital convidou os membros do clero para a “conversão” e buscou convencer 
as irmandades de ou converter os maçons ou retirá-los da irmandade sob pena de interdito espiritual de 
todas as atividades – significando que não poderiam ser rezadas missas nas capelas das irmandades, 
realizadas festas religiosas etc. 
Muitos ouviram a admoestação de D. Vital, mas houve quem resistisse. Uma das irmandades, a irmandade 
do Santíssimo Sacramento, não obedeceu aos pedidos de expulsão dos maçons, porque em seu estatuto não 
estava definida a expulsão de um membro por tal motivo. Argumentou que a maçonaria era permitida no 
Brasil e que, sendo o estatuto aprovado pelo poder civil, o bispo extrapolava suas funções. D. Vital decidiu 
então pela interdição, no que tange ao espiritual, da irmandade. 
Em face de tal fato, a irmandade decidiu apelar ao governo. Entrou com um “Recurso à Coroa”, que foi aceito 
pela procuradoria da província, teve parecer favorável do juiz de província, que d. Vital ignorou. Enquanto o 
caso se desenrolava na justiça provincial, a notícia chegava à Corte, alvoraçando todos os elementos político, 
dividindo opiniões, fazendo circular jornais a favor e contra o prelado, a favor e contra o governo, chegando 
mesmo a dividir os republicanos, já organizadosa partir de 1870. Tudo piorava porque D. Vital não estava 
sozinho. Em sua cruzada contra a maçonaria se juntara também um dos nomes mais respeitados do clero 
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nacional, D. Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará. D. Antônio procedera da mesma maneira que d. Vital: 
exortou os maçons à conversão, admoestou as irmandades e as que resistiram foram interditadas no 
espiritual (em resumo, embora haja algumas diferenças nos procedimentos adotados por um e por outro). 
Uma das irmandades locais entrou com um “Recurso à Coroa” e o bispo enfrentou a justiça civil como seu 
colega de Olinda. 
D. Pedro II, o governo de Rio Branco e o Conselho de Estado não ficaram alheios à situação. Particularmente, 
o imperador acreditava que a atitude dos dois bispos havia infringido o poder moderador, na medida em 
que cabia a ele exclusivamente dar o beneplácito às bulas papais. O Imperador chegou a desvelar o que 
pensava ser o melhor em sua fala do trono de 5 de maio de 1874: “O procedimento dos bispos de Olinda e 
do Pará sujeitou-os ao julgamento do Supremo Tribunal de Justiça. Muito me penaliza esse fato, mas cumpria 
que não ficasse impune tão grave ofensa à Constituição e às leis”. Ou seja, o imperador, ele mesmo recurso 
último da justiça no Império, havia emitido opinião e condenado os bispos. A complexidade da questão é 
que D. Macedo só seria condenado em 1º de julho. O resultado, pela fala do imperador, já era sabido. Como 
o imperador supostamente se manifestou: “O poder moderador não transige”. 
O Conselho de Estado não ficou tão dividido quanto parte da nação brasileira. Iniciando a consulta quando 
não havia ainda chegado a notícia dos tumultos no Pará, em fevereiro de 1873 (seguidas de outras em maio 
e junho do mesmo ano), o Conselho de Estado definiu que o bispo de Olinda – ao que seria estendido ao 
bispo do Pará – havia ultrapassado sua competência, havia desrespeitado a justiça e obstruído a execução 
das ordens do governo – de levantar os interditos. Por esse motivo, os bispos deveriam ser processados e 
punidos, com prisão se necessário (houve dissensão nos votos sobre o caminho a seguir no processo e o tipo 
de punição, do Visconde de Abaeté e Nabuco de Araújo, respectivamente). 
Os bispos foram então encaminhados para a Corte onde foram julgados em 1874, cada um em seu processo. 
Ambos foram condenados a quatro anos de prisão com trabalhos forçados, ao que o imperador comutou em 
prisão comum. Era um verdadeiro rebuliço na vida política e religiosa do Império. 
Temos, portanto, a via judicial escolhida pelo Conselho de Estado (com poucas divergências) e levado a cabo 
pelo Supremo Tribunal de Justiça, levando à prisão dos bispos na primeira metade de 1874. Nesse mesmo 
momento, o Ministro dos Negócios Estrangeiros ordenava a ida de Carvalho Moreira, o Barão de Penedo, 
ministro plenipotenciário em Londres e experiente diplomata, à Santa Sé para discutir com a Cúria e o Papa 
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uma admoestação papal aos bispos, de modo a encerrar os interditos. Penedo já havia atuado junto à Santa 
Sé quando da tentativa de discussão de uma Concordata na década de 1850, que fracassou. Agora era 
enviado, apesar da presença do Barão de Alhandra no local, para uma nova difícil negociação. 
A chamada missão Penedo de 1874 tinha então o objetivo de alcançar uma vitória moral ao governo, 
conseguindo do papado o que não conseguira pelo convencimento dos bispos. Implicava, essa ação, em 
aceitar o primado papal nas discussões eclesiásticas e, evidentemente, uma ação menos confrontativa no 
âmbito interno. Quando da ida de Penedo, os bispos ainda não haviam sido condenados, levando a crer as 
autoridades vaticanas e o papa Pio IX que ao alcançarem um acordo, os processos judiciais seriam suspensos. 
Depois de algum tempo, argumentando sempre que os bispos haviam usurpado as competências do poder 
moderador e obstruído o governo, Penedo conseguiu a promessa de que o papa enviaria uma carta de 
reprimenda ao bispo de Olinda, pedindo-o para levantar os interditos. Penedo cantou vitória ao governo 
imperial, dizendo que sabia inclusive como a carta começaria – gesta tua non laudatur (em tradução livre: 
“seus atos não são louváveis”). A carta alcançou d. Vital que suspeitou que o papa não soubesse de seu 
encarceramento. Enviou resposta e quando a Cúria obteve notícia dos eventos passados, mandou que d. 
Vital queimasse a carta e acusou o governo imperial, particularmente Penedo, de os haver enganado. A partir 
daí a posição da Santa Sé seria de que somente se negociaria com o governo uma vez que os bispos fossem 
soltos. O governo, liderado por Rio Branco até junho de 1875, manteve-se firme, argumentando que o poder 
judiciário era independente e nada poderia ser feito da parte do governo – muito embora o imperador 
tivesse o poder de anistia. 
A plataforma da anistia seria encampada pelo homem escolhido por Pedro II para substituir Rio Branco, o 
duque de Caxias. Caxias não queria assumir o governo, alegando a avançada idade e doenças. O imperador, 
sem opção, insistiu. Caxias trouxe para seu lado o homem forte que lhe daria sustentação, o Barão de 
Cotegipe (razão pela qual o gabinete, que se estende a 1877, é chamado gabinete Caxias-Cotegipe). O Barão 
de Cotegipe assumiria a crucial pasta dos Estrangeiros. 
A condição para assumir o governo foi a anistia dos bispos. Caxias e seu gabinete entendiam que a 
manutenção dos bispos presos não resolveria os problemas. Em verdade, os problemas só pioravam porque, 
em 1875, estourou a rebelião dos “quebra-quilos” no interior do Nordeste. Essa revolta foi marcada, para 
além da insatisfação com os novos pesos e medidas, por forte apelo religioso e jesuítas foram acusados de 
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estarem por detrás do levante depois que supostas cartas interceptadas de um jesuíta apontavam seu 
descontentamento com a política religiosa do governo e incitava as “massas ignorantes”, como diria 
Cotegipe, a se insurgirem. Por conta dessa questão, os jesuítas seriam inclusive expulsos da província de 
Pernambuco. 
Assim, Caxias e seu gabinete apostaram tudo na política de anistia e negociação com a Santa Sé. Depois do 
fracasso da missão Cotegipe, em 1874, um novo ministro plenipotenciário foi enviado para a Santa Sé, o 
Visconde de Araguaia – Alhandra foi enviado para a Rússia, onde morreria anos depois. Araguaia era um 
negociador experiente e já tinha atuado na Argentina, importante posto na diplomacia imperial – e o que dá 
um sinal da gravidade com a qual o governo encarava a situação. 
O imperador não teve muita escolha. Em 1875 o Conselho de Estado foi reunido para discutir a anistia e, com 
poucas exceções, votou pela soltura imediata, desde que os crimes não continuassem – leia-se, desde que 
os interditos fossem levantados. Antes mesmo que o decreto imperial fosse assinado (o seria em 17 de 
setembro), Cotegipe enviou um telegrama a Araguaia, a 14 de setembro, informando-o da situação e 
instruindo-o a entabular negociações com o Secretário de Estado Antonelli e com papa. Logo depois da 
assinatura do decreto, enviounovo despacho, assegurando a anistia. 
Araguaia conseguiu então que o papa re-enviasse a carta de admoestação e instruísse os bispos a levantarem 
o interdito. A questão religiosa, no que se refere a seu aspecto judicial, estava finalizada, embora a cizânia 
entre a Igreja e o Estado não seria remendada. 
 
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Tema 2 – O poder Executivo no Império 
 
Considerando o enquadramento constitucional do poder executivo inaugurado pela Carta de 1824 e a prática 
política governamental até a queda da monarquia, disserte sobre: 
 
➢ Os diversos modelos de chefia do Executivo de 1824 a 1889; 
➢ A relação entre a Câmara dos Deputados e o poder Executivo no mesmo período; 
 
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Abordagem Contextual 
 
O poder executivo durante o período imperial e suas relações com o poder legislativo entre 1822 e 1889 são 
tema recorrente nas análises e narrativas políticas de historiadores do Brasil. A mais famosa interpretação 
esquemática deste modelo político foi epitomada na expressão “parlamentarismo às avessas” para designar 
a relação entre governo e Câmara dos Deputados ou ainda a famosa frase cunhada por um político do fim 
do Império: “o rei reina, governa e administra”. 
Ambas as expressões-síntese mascaram uma realidade política muito mais ampla e complexa, construída e 
transformada ao longo dos 67 anos de monarquia constitucional no Brasil. Analisemos de modo 
intercambiado a organização do executivo por período e o relacionamento com o parlamento. 
O primeiro e necessário enquadramento para compreendermos a natureza do poder executivo no Brasil 
imperial refere-se à constituição de 1824. A Carta traz em seus artigos 102 a 104 as definições do poder 
executivo, sendo o 102 o mais relevante. De modo cabal, o texto constitucional estabelece que o imperador 
“é o chefe do poder executivo e o exercita por meio de seus Ministros de Estado”. Em sequência, em quinze 
incisos, enumera suas atribuições, dentre as quais podemos destacar: nomear bispos, nomear magistrados, 
negociar com outras nações, realizar tratados, comandar as forças de mar e terra. Interessante é notar que 
não são nos artigos concernentes ao poder executivo que a constituição dá ao imperador a liberdade de 
nomear e demitir seus ministros livremente, mas sim nos dispositivos referentes ao poder moderador, uma 
importante distinção. 
Assim, pode-se afirmar com absoluta clareza que, pela letra da constituição, o Império brasileiro não era 
parlamentar. Isto é, a formação do governo, o apontamento dos ministros, não dependia da Câmara dos 
Deputados – nem de apoio, nem de maioria. A monarquia era constitucional e não parlamentar, tal como a 
monarquia francesa entre 1815 e 1848. 
Entre 1824 e 1831, a prática política nacional foi marcada, assim, por uma relativa independência entre o 
Gabinete e a Câmara dos Deputados. Mas precisamente pela ausência de “controle” pelo legislativo da 
formação do ministério de Pedro I é que se começaram as rusgas entre o Imperador e a Câmara. A título de 
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exemplo podemos nos lembrar da crise final que se abateu sobre o governo na troca realizada pelo monarca, 
contra os desejos da Câmara, do “Ministério Brasileiro” pelo “Ministério dos Marqueses”. Assim, pode-se 
afirmar que a busca dos grupos mais liberais na Câmara por um controle maior do poder executivo foi um 
dos fatores de queda do imperador e que resultaria, mais a frente, em modificações na prática política 
imperial. 
A abdicação do imperador foi um choque para as elites políticas imperiais. Com a saída do monarca e a 
menoridade do herdeiro, a monarquia brasileira deveria então passar por uma regência. Como o 7 de abril 
foi um evento relativamente inesperado em suas consequências, o corpo político sequer estava reunido na 
Corte. Uma Regência Trina provisória foi organizada e, depois de reunida a Assembleia, eleita uma Regência 
Trina permanente. 
Pela constituição de 1824, e até 1834, a Regência, na ausência de um membro da família do imperador maior 
de 25 anos, deveria ser formada por três membros, nomeada pela Assembleia Geral – isto é, Câmara e 
Senado juntos. A Regência governaria em nome do imperador, sendo, novamente até 1834, o membro mais 
velho o presidente da Regência. Como regentes, pelo artigo 129, os três seriam irresponsáveis, tal como o 
imperador no exercício de seu poder moderador, e apontariam os ministros. 
Entre 1831 e 1834, portanto, o governo foi dirigido por um grupo de três homens que tinham o poder de 
nomear e demitir seus ministros. Apesar disso, a relação com o legislativo, durante a regência trina 
permanente, foi marcada por negociações para os cargos ministeriais, haja vista a situação política instável 
e a própria eleição dos regentes pela Assembleia. 
Até 1834, os regentes trinos não tinham mandato eletivo demarcado na constituição. O silêncio 
constitucional causava apreensão nos círculos políticos porque, afinal, uma vez apontados os regentes pelas 
Câmaras, eles seriam chefes do Executivo até a maioridade do imperador? 
Assim, em 1832, a Câmara votou uma lei que a permitia modificar a constituição na legislatura seguinte, tal 
como determinava a Carta de 1824. Em 1834, uma Câmara dominada pelos liberais passou o chamado Ato 
Adicional, que buscava ampliar as autonomias provinciais, descentralizar o governo, liquidar com o Conselho 
de Estado e reformar a Regência. 
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Pelo artigo 26 da lei de 12 de agosto de 1834, a Regência, na ausência de parentes do imperador, passaria a 
ser formada por um único regente. Este seria eleito pelos colégios eleitorais das províncias e teria mandato 
de quatro anos. Como regente uno, recebia os mesmos poderes da Regência trina anterior, podendo nomear 
e demitir seus ministros. 
Essa modificação, e a prática política até 1840, acabou levando à chamada “experiência republicana” do 
período regencial, já que transformava a chefia do executivo em cargo eletivo independente do legislativo, 
com mandato fixo. 
A relação entre o regente uno e o parlamento não foi harmoniosa, particularmente durante a regência do 
Padre Feijó, de 1835-1837. Durante seu mandato de regente, o país enfrentou graves crises advindas das 
diversas rebeliões provinciais que estouraram depois da abdicação e que ameaçavam a unidade territorial 
do Império. Em face de sua incapacidade de suprimir as revoltas e da pressão das elites contrárias ao 
movimento de descentralização esposada por ele, Feijó renunciou. Em seu lugar, subiu ao poder Araújo Lima, 
um grande expoente do que se organizava agora como o Partido Conservador. Araújo Lima e seus 
correligionários colocariam em prática o “Regresso”, um movimento de retorno à centralização política, 
embora não nos moldes do primeiro reinado. 
De forma sintética, portanto, temos dois movimentosdurante as regências. Entre 1831 e 1834, um executivo 
coletivo, eleito pelo parlamento e harmonizado com ele. Entre 1834 e 1840, um executivo singular, eleito 
pelos eleitores provinciais (diferente dos votantes, vale relembrar), com mandato fixo e independente do 
legislativo. A crescente partidarização da política nesse período levou a conflitos entre o Executivo e o 
Legislativo, acarretando à renúncia de Feijó por falta de apoio. 
Com a subida do Imperador ao poder em 1840, o modelo governamental voltava, teoricamente aos moldes 
de 1824-1831, com inclusive a restauração do Conselho de Estado, abolido durante as Regências. Sabe-se 
que o governo entre 1840 e 1847 foi marcado por profundos antagonismos entre os Conservadores 
saquaremas e os Liberais luzias, chegando ao nível de rebelião em 1842, em Minas Gerais e São Paulo. Apesar 
de os liberais terem sido os responsáveis pela articulação do Golpe da Maioridade, D. Pedro II logo os apeou 
do poder e convocou os conservadores, independentemente da vontade parlamentar. 
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O modelo político imperial viria finalmente a se estabilizar – apesar de a prática variar até o fim do Império 
– com o decreto imperial 523 de 20 de julho de 1847, um decreto do imperador organizando o modo de se 
proceder à escolha ministerial, razão pela qual não se trata de lei. 
De acordo com esse decreto, o imperador passaria a escolher o Presidente do Conselho de Ministros (ou 
Gabinete). Este presidente, por sua vez, seria responsável pela escolha do restante dos ministros. Em última 
análise, o poder executivo repousaria ainda sobre o monarca, mas no dia-a-dia, passaria para esse 
presidente, que poderíamos chamar de primeiro-ministro. O apontamento do presidente do conselho não 
correspondia, necessariamente, a maiorias na Câmara nem requeria seu apoio, apesar de Pedro II ter 
buscado trabalhar dessa forma com via de regra. Essa ausência de regra formal, a despeito de oficiosa, pôde 
ser observada no caso da queda do gabinete Saraiva em 1868 ou da perda de voto de confiança de Rio Branco 
em 1871. No primeiro caso tivemos um gabinete caindo apesar de ter maioria na Câmara, por ter perdido o 
apoio do imperador. No segundo, a permanência de um gabinete apesar da perda da maioria na Câmara. Em 
geral, no entanto, o apontamento de um novo presidente normalmente era seguido de uma dissolução da 
câmara baixa. Em sequência, novas eleições eram organizadas pelo próprio governo dirigido pelo presidente 
do conselho. Isso resultava, usualmente, em uma maioria de seu partido dado que as eleições eram 
costumeiramente manipuladas, mesmo com as frequentes reformas eleitorais. 
Por esse motivo podemos compreender porque a designação de “parlamentarismo às avessas” é 
equivocada. Parte da consideração da existência de um modelo “puro” parlamentar, o inglês, positivamente 
valorado, em contraposição ao modelo brasileiro, “invertido”, negativamente valorado. Também a 
afirmação de que o “rei reina, governa e administra”, embora mais próxima da realidade histórica não 
sintetiza plenamente a complexa realidade política imperial. 
 
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Tema 3 – O projeto Ponsonby 
 
Em 1828, quando a Convenção Preliminar de Paz foi finalmente aceita pelo Império e pelas Províncias Unidas 
do Rio da Prata depois da mediação inglesa, Lord Ponsonby, enviado britânico, teria afirmado que o nascente 
Estado uruguaio seria “um algodão entre dois cristais”, significando que o novo Estado traria estabilidade e 
paz para o Prata ao se tornar um tampão entre o Brasil e a Argentina (Províncias Unidas/Confederação 
Argentina). 
Acerca disso, disserte sobre essa afirmação de Ponsonby para as relações entre o Brasil e o Rio da Prata entre 
1828 e 1864, argumentando pelo sucesso ou fracasso desse projeto para a região. 
 
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Abordagem contextual 
 
A intermediação britânica na região do Rio da Prata para a resolução do conflito entre o Império do Brasil e 
as Províncias Unidas buscava solucionar uma guerra que prejudicava o comércio com os dois países, mas 
também cujo resultante tratado de paz poderia igualmente ser um problema para os interesses ingleses. 
Lord Ponsonby, enviado da Grã-Bretanha, atuou firmemente para que as bases da paz trouxessem 
estabilidade duradoura para a região, ao propor e alcançar o que se poderia considerar como paz de 
compromisso: nem o Brasil manteria o domínio da Banda Oriental, nem os platinos incorporariam o 
território, numa tentativa deliberada de reconstrução do antigo Vice-Reino do Rio da Prata. Dessa maneira, 
o estuário do Prata permaneceria navegável internacionalmente e a fronteira entre os dois beligerantes seria 
diminuída. A rigor, uma tal negociação parecia lançar as bases para uma relação se não harmoniosa, no 
mínimo pacífica entre Buenos Aires e o Rio de Janeiro. 
A realidade geopolítica no Rio de Prata, contudo, não seguiria os planos de Ponsonby e seu projeto de 
“Estado-tampão” acabou por se tornar não o “algodão”, mas um catalisador dos conflitos entre o Império e 
as Províncias Unidas e, depois, o Paraguai. Assim, o projeto de pacificação pela diminuição das fronteiras 
fracassou e, ao contrário, foi epicentro de muitas disputas entre os dois grandes países garantidores da 
independência uruguaia. A resposta à questão proposta, portanto, deveria seguir o caminho da 
argumentação do fracasso do projeto do intermediário inglês. 
Depois da independência uruguaia acertada em 1828 e confirmada pela constituição do Estado Oriental de 
1830, não tardou para que os conflitos se reacendessem na bacia do Prata. Os conflitos entre os “partidos” 
unitário e federal nas Províncias Unidas transbordou para o Estado uruguaio, internacionalizando a luta 
faccional entre os defensores de um Estado centralizado e forte e os adeptos de um Estado com amplas 
autonomias provinciais. Assim, pouco a pouco o partido blanco uruguaio foi se identificando com o partido 
federal argentino enquanto as propostas unitárias encontravam eco entre os colorados orientais. 
Dado que naquele momento histórico o sentimento nacional ainda estava em construção no mundo da 
antiga América hispânica, as lealdades políticas do Prata transcendiam as fronteiras estabelecidas (embora 
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ainda não demarcadas) entre os países. Lealdades pessoais, partidárias e entre facções faziam as vezes, 
tornando o Prata terreno fértil para conflitos civis envolvendo esses grupos. O problema se tornava grave na 
medida em que num conflito de recorte partidário, envolvia-se mais de um Estado na contenda. Assim, por 
exemplo, federales enquanto estavam no poder na Argentina opunham-se aos colorados no poder no 
Uruguai e apoiavam os blancos – como ocorreu quando Rozas esteve no poder na Argentina. 
Entre 1830 e 1837, a situação se manteverelativamente calma – no que se refere à relação entre os Estados 
– entre no “torvelinho” do Prata, como diz Gabriela Pereira. Desde 1835, Rozas assumiu o poder na província 
de Buenos Aires e passou a exercer, progressivamente, cada vez mais poder na então Confederação 
Argentina. Sua política foi marcada, para nossos intentos aqui, por uma perseguição aos unitários, muitos 
dos quais emigraram para o Uruguai. Desde de 1835, o partido blanco havia assumido o poder no Uruguai 
com Oribe e houve relativa confluência entre os países platinos, causando alarme no Império que, no 
entanto, não tinha condições de atuar na região à época pela instabilidade interna da Regência. 
Em 1836, o contexto começou a mudar, direcionando o Prata ao conflito. Neste ano, a revolta no Rio Grande 
do Sul, que havia se iniciado em 1835, ganha o caráter separatista, com a proclamação da República do 
Piratini em setembro. A revolta ganhou, assim, maiores proporções porque se dava em região de fronteira 
do Império e longe dos centros de abastecimento do Brasil, tornando mais lenta e difícil a resposta brasileira, 
além de envolver os vizinhos em conflito. 
O envolvimento dos platinos não tardou. Pouco tempo depois de proclamada a república no Rio Grande do 
Sul, construiu-se um eixo de aliança entre Rivera(colorado)-Farroupilhas-Unitários argentinos e outro entre 
Rozas-Oribe enquanto as autoridades imperiais tateavam a região em busca de aliados de conveniência para 
lutar contra os revolucionários, alcançando entendimento parcial com Rozas entre o final da década de 1830 
e o início da década de 1840. 
Para complicar ainda mais a situação, o Uruguai entrou, entre 1839 e 1851, numa longa guerra civil, que 
envolveu todos os grupos citados e teve fases diversas, alterando a lógica das alianças na medida em que os 
contextos políticos internos de cada país se transformavam. 
O início dessas mudanças se deu com a maioridade do imperador em 1840 no Brasil e o sufocamento das 
revoltas em outras províncias que não as do Sul. Direcionando maiores recursos e esforços, o Império 
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conseguiu negociar uma saída para a Farroupilha, pelo tratado de Poncho Verde de 1845. Apaziguado a 
fronteira Sul, o Império voltou-se para o Uruguai, onde se digladiavam os partidários platinos. Temendo que 
Rozas pudesse usar Oribe para anexar o Estado Oriental, o Império voltou-se para seu antigo inimigo, Rivera, 
e apoio-o quando esteve perto da derrota (depois que ingleses e franceses deixaram de apoiar o governo de 
Montevidéu, única cidade sob domínio dos colorados). Até o fim da Guerra Grande, seria o Império a manter 
o governo colorado (ou o governo de Defesa Nacional) em Montevidéu por um apoio financeiro sistemático. 
O apoio aos colorados implicava na hostilidade (inicialmente velada e depois aberta) ao governo Rozas, mal-
visto pelo Império como expansionista e belicoso. Para se contrapor ao federal de Buenos Aires, a diplomacia 
imperial buscou aliados dentro da Confederação para combatê-lo, conseguindo o suporte do importante 
caudilho de Entre-Ríos, José Justo de Urquiza. Uma aliança foi então selada entre Urquiza, os colorados e o 
Império. Essa força marchou sobre a Banda Oriental, assegurou a rendição de Oribe (e consequentemente o 
fim do cerco de Montevidéu em 1851) e depois marchou sobre Rozas, alcançando a vitória na batalha de 
Monte Caseros em 1852. Rozas se exilou e, pouco tempo depois, a Confederação foi rachada em dois Estados 
– a Confederação e o estado de Buenos Aires. 
Ao fim da guerra contra Rozas e Oribe, o Império estabeleceu-se como hegemônico sobre o Uruguai a partir 
dos tratados de 1851. Essa hegemonia durou até a expiração dos acordos dez anos depois, coincidindo com 
o meio do mandato de Bernardo Berro no Uruguai. 
Berro buscou uma política de fortalecimento do Estado uruguaio, o que implicava a não renovação dos 
tratados realizados com o Brasil – inclusa a taxa zerada de passagem de gado à pé ao Brasil, o retorno de 
escravos fugidos etc. Essa política desagradou fortemente o governo imperial. Por sua vez, uma tal política 
também era contrária ao Estado argentino, unificado em 1862, porque implicava em desgarrar o Uruguai 
dos interesses partidários argentinos. Assim, Berro com sua política “nacional”, perdeu apoio dos dois 
grandes países que, por um breve momento histórico, entre 1862 e 1868, mantiveram relações cordiais. Por 
fim, seu combate a grupos de caudilhos no interior, levou ao início de uma guerra civil liderada pelos 
colorados. Findo o mandato de Berro em 1864, o Uruguai estava isolado no Prata e no meio de uma guerra 
civil. O governo passou às mãos de Aguirre, blanco, que manteve uma postura desafiadora ao Império, mas 
sem conseguir aliar-se a Mitre na Argentina. 
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A concórdia entre Brasil e Argentina levou a uma concertação diplomática, resultando no apoio de ambos ao 
colorado Venâncio Flores contra o governo de Aguirre. Acossado dos dois lados, o governo uruguaio apelou 
para o ditador Solano López do Paraguai. Obtendo informações da situação a partir do ponto de vista dos 
blancos uruguaios, temeroso da Argentina e do Brasil e buscando tornar o Paraguai um agente internacional 
de peso da região, López apoiou a causa dos blancos. Ultimou o Brasil a não invadir o Uruguai em favor de 
Flores, sob pena de guerra. Ao ignorar o ultimato, o Paraguai, em dezembro de 1864, iniciou o conflito que 
se tornaria o maior da América do Sul. 
Temos que a criação do Uruguai, longe de ter diminuído os conflitos no Prata, acabou por ser o catalisador 
de guerras na região. Depois de sua independência tivemos: o envolvimento partidário uruguaio na 
revolução farroupilha; a guerra entre o Império e Rozas a partir das questões uruguaias; a declaração de 
guerra do Paraguai por apoio aos blancos no Uruguai. Tornando-se mais um elemento na geopolítica do 
Prata e fonte de preocupações para os grandes vizinhos, o Uruguai foi palco de movimentos que precipitaram 
conflitos que respondiam a interesses além de suas fronteiras. 
 
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