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UNIDADE II Unidade II – Processo de identificação e diagnóstico diferencial: Processos de identificação e de acolhida Convite ao estudo Quando se fala em educação inclusiva, é comum pensarmos, em um primeiro momento, nos alunos com deficiências física, mental, visual ou alunos surdos. Até mesmo os alunos que não têm deficiência são lembrados, uma vez que a educação inclusiva engloba todos os alunos. Porém, existe um público alvo da educação inclusiva que pode passar despercebido, justamente por não ter deficiência e, ainda assim, necessitar de um atendimento educacional especializado. Estamos falando, como você já sabe, dos educandos com altas habilidades/superdotação. Preparamos essa unidade para apresentar a você os processos de identificação e diagnóstico das pessoas com altas habilidades/superdotação. Lembramos que essas pessoas não possuem deficiência, e, portanto, chegarão à escola sem um diagnóstico clínico. Muitos desses educandos podem ter altas habilidades em áreas do conhecimento menos enaltecidas em nossa sociedade. Podem também passar um longo período sem ter suas habilidades reconhecidas e suas necessidades atendidas. Acreditamos que os professores e educadores em geral, têm uma parcela importante no reconhecimento das capacidades e talentos individuais dos alunos com altas habilidades/superdotação e, principalmente, no acolhimento destes. Por isso, precisam estar preparados para orientar esses educandos no desenvolvimento de suas potencialidades. Tendo como objetivo principal o atendimento a esse público específico da educação inclusiva, você está agora sendo convidado(a) a conhecer um pouco mais sobre as pessoas com altas habilidades/superdotação. Quem são essas pessoas e como podemos identificá-las? Iremos conhecê-las melhor para que nas próximas unidades consigamos refletir sobre as suas necessidades educativas. Na unidade anterior, conhecemos as angústias e preocupações das professoras Benedita e Consolação em relação ao comportamento apresentado por alguns dos seus alunos que estavam interferindo em sua aprendizagem. A necessidade e o desejo de saber mais sobre as práticas pedagógicas voltadas ao atendimento dos estudantes com altas habilidades/superdotação influenciaram na decisão das professoras na busca por aperfeiçoamento e capacitação para atuar com alunos com AH/SD. Quando o docente busca se aprimorar, ele propicia abertura para novas perspectivas de práticas pedagógicas que ressignificam o espaço escolar. Consolação agora se sente mais segura, já que desenvolve o seu trabalho no AEE em parceria com sua colega Benedita. Elas compreendem que a prática pedagógica do professor, seja em sala de aula regular ou no atendimento educacional especializado, no contexto das AH/SD se traduz em desafios. Para tanto, requer uma postura de mediação no processo de aprendizagem, uma vez que as características apresentadas muitas vezes superam as expectativas previstas. Convidamos você, cursista, para aprender juntamente com a Benedita e a Consolação, que estudantes com indicativos de AH/SD podem ser percebidos pelos professores regentes. O processo de identificação dos alunos com AH/SD deve acontecer o quanto antes para evitar problemas de desinteresse em sala de aula, baixo rendimento escolar, desajustamento, dentre outros fatores que podem prejudicar a aprendizagem desses estudantes. É importante ressaltar que essa identificação deve encontrar respaldo no trabalho desenvolvido em sala de aula, no AEE e, por consequência, no conjunto de práticas educacionais para atender às necessidades dos alunos com AH/SD de modo a favorecer o desenvolvimento de suas potencialidades. Quando você tem conhecimento e familiaridade com o assunto das AH/SD, consequentemente, tem condições de desenvolver um olhar crítico que observe os indicadores de altas habilidades/superdotação apresentados por seus alunos. Esse fato vai impactar no desenvolvimento de estratégias educacionais que sejam mais adequadas a esses estudantes. Essas novas práticas contribuirão para amenizar as barreiras de ensino aprendizagem, promovendo atendimento efetivo a esses alunos. Nesse processo, é fundamental que seja desenvolvido um trabalho colaborativo entre o ensino regular e AEE com o planejamento de práticas pedagógicas em consonância com os potenciais de cada aluno, “[...] trocando informações, construindo alternativas e propostas de aprendizagem que venham ao encontro dos interesses e necessidades dos alunos com AH/SD” (COSTA, s/a, p. 17). Fica aqui um alerta: essa responsabilidade é de toda a escola, que precisa estar aberta às diferenças e alinhada na promoção de práticas inclusivas. Curiosidades Vamos falar palavras difíceis? Conheça um pouquinho sobre a história de vida da Alice As informações aqui apresentadas foram retiradas de uma entrevista que Morgana Secco, mãe da Alice, concedeu ao Gshow - um portal da web pertencente ao Grupo Globo. o Clique aqui para você acessar a reportagem na íntegra: https://gshow.globo.com/Famosos/noticia/conheca-alice-a-menina-de- 2-anos-que-fala-palavras-dificeis-e-conquistou-famosos.ghtml Atualmente, Alice está com 2 anos de idade e ficou mundialmente conhecida por apresentar um vocabulário muito apurado para uma criança com essa faixa etária. A menina viralizou nas redes sociais após sua mãe publicar vídeos dela repetindo, com sucesso, palavras muito complexas. Os vídeos tiveram tanta https://gshow.globo.com/Famosos/noticia/conheca-alice-a-menina-de-2-anos-que-fala-palavras-dificeis-e-conquistou-famosos.ghtml https://gshow.globo.com/Famosos/noticia/conheca-alice-a-menina-de-2-anos-que-fala-palavras-dificeis-e-conquistou-famosos.ghtml repercussão que Morgana, a mãe de Alice, conta hoje com quase 3 milhões de seguidores em suas redes sociais1. Muitos chegam a acreditar que a pequena já sabe ler, mas conforme esclarece a mãe da menina, ela decora as histórias. Desde que nasceu, os pais de Alice leem para ela. Como destaca a mãe da menina em reportagem ao Gshow, a bebê sempre demonstrou muita atenção e interesse. Imagem 1 Fonte: YouTube Morgana afirma que recebe muitas mensagens de seguidores que buscam encontrar uma explicação para o desenvolvimento da Alice. Nas mensagens, essas pessoas sugerem a ela que procure um especialista para diagnosticar se a criança possui altas habilidades/superdotação. Morgana afirma que não vê a necessidade de um diagnóstico, pelo menos por agora. Independentemente de um diagnóstico, ela quer oferecer à filha um ambiente favorável ao seu desenvolvimento. Procura sempre dar atenção à Alice, respeitar seus interesses, propiciar condições para ela desenvolver a sua criatividade nas brincadeiras, tratando a filha como um bebê, o que de fato ela é. A mãe dessa menininha esperta esclarece ainda que não se faz diagnósticos em crianças tão pequenas como a Alice. Ela espera que quando Alice tiver que 1 Disponível em https://www.instagram.com/morganasecco/ Acesso em: 12 out. 2021 https://www.instagram.com/morganasecco/ frequentar a escola, uma classificação de algum especialista possa fazer sentido, considerando o tipo de atendimento que ela necessitará receber. Atualmente, a família de Alice mora em Londres, contudo, dentro de casa a família só se comunica em Português. Alice pronuncia as palavras com muita facilidade e uma das suas brincadeiras favoritas é “Vamos falar palavras dífíceis?”. o Clique aqui para assistir a uma reportagem com a pequena e encantadora Alice: https://www.youtube.com/watch?v=fRABmffggEI Provavelmente você tem conhecimento de outras crianças que apresentam precocidade no desenvolvimento de habilidades, como no caso de Alice. Esse conceito foi apresentado na Unidade l. Vamos relembrar? O termo precoce é utilizado para se referiràs crianças que apresentam alguma habilidade específica prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento. Já imaginou receber uma criança como a Alice em sua sala de aula? Vamos ficar atentos/atentas para identificá-las. Esse olhar apurado deve ser constante, cotidiano e dedicado não somente às crianças que apresentam alguma habilidade. Vamos conhecer agora um garotinho genial de 8 anos que tem um super talento para a música. Apesar de atualmente ele ser identificado com genialidade precoce, Luciane, a mãe do menino, afirma que, ainda bebê, ele demorou três anos para aprender a falar. Estamos falando de Gustavo Saldanha2. Fã de carteirinha dos Beatles, esse pequeno músico toca sete instrumentos musicais. Ele toca violão, guitarra, teclado, ukulele, baixo, e ainda se arrisca em bateria e gaita. Gustavo também canta, compõe e sabe praticamente todas as músicas dos Beatles. E não é “só” isso. O garotinho esperto instala sistemas operacionais em computadores. Além dessas habilidades, Gustavo demonstra muita facilidade na área tecnológica também. Em função do isolamento social como uma das medidas de contenção da pandemia do Covid 19, Gustavo passou a estudar em casa, de maneira remota. Isso contribuiu para desenvolver o seu interesse pelas plataformas de reunião, conforme Luciane explica, “Em pouco tempo, meu filho já estava 2 Para seguir Gustavo em sua rede social clique em: https://www.instagram.com/gustavosaldanhaofficial/ Acesso em: 12 out. 2021 https://www.youtube.com/watch?v=fRABmffggEI https://www.instagram.com/gustavosaldanhaofficial/ apaixonado pelas plataformas de reunião, como Zoom e Google Meet. Começou até a mexer nos sistemas operacionais e a transformar Windows em Mac”. Imagem 2 Fonte: Gismodo o Clique aqui para você acessar a reportagem sobre Gustavo na íntegra: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/11/03/menino-de-8-anos-e-o- brasileiro-mais-novo-a-ser-aceito-em-clube-internacional-de-pessoas- com-alto-qi.ghtml A mãe de Gustavo conta que começou a desconfiar da possibilidade de o filho apresentar altas habilidades/superdotação frente aos indicadores de interesse repentino de seu filho pela tecnologia e, em especial, pelo seu desempenho com as ferramentas tecnológicas. Durante o período de isolamento social, ela observou que “[...] nossa, as crianças estão entediadas em casa, querendo voltar para a escola, e nosso filho curtindo o desenvolvimento na tecnologia nessa velocidade? Estava estranho.” De acordo com a reportagem, os pais do menino procuraram, então, um centro de apoio a crianças com desenvolvimento intelectual acelerado em São Paulo. Foram realizados testes online durante cinco dias e os especialistas https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/11/03/menino-de-8-anos-e-o-brasileiro-mais-novo-a-ser-aceito-em-clube-internacional-de-pessoas-com-alto-qi.ghtml https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/11/03/menino-de-8-anos-e-o-brasileiro-mais-novo-a-ser-aceito-em-clube-internacional-de-pessoas-com-alto-qi.ghtml https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/11/03/menino-de-8-anos-e-o-brasileiro-mais-novo-a-ser-aceito-em-clube-internacional-de-pessoas-com-alto-qi.ghtml descobriram que Gustavo tinha 140 de QI, alcançando 99 de percentil de acertos no WAIS III, uma das avaliações de inteligência mais conceituadas do mundo. Como a Mensa Brasil não aceita crianças, o neurocientista Fabiano de Abreu, um dos membros dessa organização, orientou os pais de Gustavo a submeter a candidatura do filho à Mensa Internacional. Na Unidade l conhecemos Laura Büchele, uma menina de 9 anos com 139 de QI, membra da Mensa, maior e mais antiga organização de pessoas com alto QI do mundo. Recentemente, em novembro de 2021, Gustavo, com 140 de QI, recebeu o convite para fazer parte desse seleto grupo e é o segundo brasileiro membro da Mensa. o Clique aqui para assistir a uma reportagem com esse pequeno músico que já sonha em criar a “Gustavo Saldanha Animation Studios”, com restaurante, teatro, casa de shows e emissora de TV: https://www.youtube.com/watch?v=Nc_l39Cho1Y A história de Gustavo reforça a necessidade de um olhar atento às particularidades de cada aluno. Ao contrário da bebê Alice, que com 2 anos e 1 mês já se diverte ao pronunciar corretamente palavras difíceis, Gustavo demorou 3 anos para falar. Nesse ponto do curso, Benedita se lembrou de João, um aluno com muita dificuldade na escrita e na leitura das palavras. O ritmo de aprendizagem dele era diferente dos coleguinhas, mas por outro lado, João demonstrava muito interesse pelos animais, era curioso quando se tratava desse assunto e fazia perguntas muito elaboradas para a idade dele. A professora lembrou que uma vez que ele trouxe um esqueleto de sapo para a aula de ciências e afirmou que tinha encontrado o anfíbio morto. Então ele dissecou o animalzinho para estudar o seu esqueleto. Esse fato chamou a atenção de Benedita e contribuiu para modificar o seu olhar em relação às habilidades apresentadas por João. Consolação então comenta com Benedita sobre a importância de o professor mediar, problematizar, provocar e se comprometer com o processo ensino de modo a efetivar uma aprendizagem significativa. Para tanto, é preciso desenvolver um olhar voltado às necessidades dos seus aprendizes, levando em consideração a historicidade deles e o contexto em que estão inseridos, no intuito de desenvolver sua criticidade e autonomia. Como no caso de João, o aluno que apresenta https://www.youtube.com/watch?v=Nc_l39Cho1Y indicadores de AH/SD pode passar despercebido no ambiente escolar, o que prejudica o desenvolvimento de toda sua potencialidade e pode acarretar na desmotivação pelos estudos. Nesse aspecto, se a escola desconhece as características presentes nos alunos com AH/SD e suas respectivas necessidades educacionais, provavelmente encontrará dificuldades em reconhecê-los como tendo potenciais que precisam ser estimulados. Logo, esses alunos acabam ficando invisíveis no sistema educacional. Nesse sentido, sugerimos aos professores que trabalham com alunos com AH/SD que valorizem a identidade desses alunos, que identifiquem seus comportamentos superdotados e, a partir disso, organizem sua ação pedagógica de modo a abranger o desenvolvimento das habilidades presentes nesses alunos. O processo de identificação dos alunos com AH/SD Bianca é uma criança com idade aproximada entre um ano e meio e 2 anos. Ela lê com rapidez e fluência frases e pequenos textos que vê em anúncios nas ruas; outdoor, cartazes, fachadas de lojas entre outros. Ela também pronuncia até mesmo palavras consideradas difíceis para nós adultos, tais como; anticonstitucionalissimamente e oftalmotorrinolaringologista. A família de Bianca alega nunca ter ensinado a menina a ler, apesar de ter oportunizado à ela acesso a manipulação de livros e estimulado a fala por meio de brincadeiras. Frente a esse caso, qual a sua opinião? Bianca apresenta altas habilidades/superdotação? Casos como o de Bianca aparecem constantemente na mídia. Algumas habilidades ou talentos são supervalorizados em nossa sociedade, sobretudo os que envolvem rapidez de pensamento, compreensão e memória elevada. Já outras habilidades podem passar despercebidas, como as capacidades de originalidade de pensamento, imaginação e resolução de problemas de forma diferente e inovadora. Visto que o conceito de superdotação é multidimensional, no processo de identificação, devemos ficar atentos aos alunos que se destacam em várias áreas do conhecimento: artes, esportes, danças, música; e não somente em talentos acadêmicos que envolvem a rapidez em compreender os conteúdos e facilidade de memorização. Não podemos deixar de destacar que também existem alguns mitos em relação às pessoas com altas habilidades/superdotação,tais como: a) As pessoas superdotadas são autodidatas, portanto, conseguem se desenvolver sozinhas e não precisam de ajuda; b) A pessoa superdotada é fisicamente frágil e emocionalmente instável; c) O talento ou habilidades da criança pode desaparecer na vida adulta; d) A criança que nasce superdotada continuará a demonstrar habilidades intelectuais superiores ao longo de toda sua vida, independentemente das condições do ambiente; e) Superdotação é sinônimo de alta produtividade e sucesso na vida adulta; f) Superdotação é um fenômeno muito raro, dificilmente você irá se deparar com uma criança (ou jovem) que pode de fato ser considerada superdotada na escola; g) A criança superdotada é a que apresenta um bom rendimento escolar. Esses e outros mitos precisam ser repensados à luz do conhecimento. A desmistificação favorece a identificação e atendimento das pessoas com altas habilidades/superdotação. Acreditamos que, no contexto escolar, os professores e educadores conhecedores das características que os alunos apresentam, têm um importante papel de produzir e compartilhar conhecimentos. Destacamos assim, a necessidade do desenvolvimento de um trabalho de ensino engajado que estimule e favoreça o desenvolvimento das habilidades ou talentos dessas pessoas. O processo de identificação passa por nossas concepções acerca do que são as altas habilidades/superdotação. Conforme discutido na Unidade I, no Brasil, as altas habilidades/superdotação passaram a ser discutidas com maior veemência a partir da década de 90. Em 1995, um documento legal foi organizado pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e Desporto - as Diretrizes Gerais para o Atendimento Educacional dos alunos Portadores de Altas Habilidades, Superdotação e Talentos, terminologia utilizada na época. Nesse documento norteador das práticas educativas, as altas habilidades foram definidas como referentes aos comportamentos observados e/ou relatados que confirmam a expressão de “traços consistentemente superiores” em relação a uma média como idade, produção ou série escolar, em qualquer campo do saber ou do fazer. Os “traços consistentemente superiores'' são considerados nas diretrizes como aqueles que permanecem com frequência e duração no repertório de comportamentos da pessoa. Essa definição destaca os traços e comportamentos acima da média relacionáveis à permanência. De acordo com essa definição, as pessoas superdotadas são aquelas que apresentam traços consistentes superiores em relação a uma média que seja permanente e que podem ser registradas ou identificadas em épocas diferentes e situações semelhantes. Já na Política Nacional de Educação Especial de 1994, a definição de superdotação se refere às crianças que apresentam um notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes e capacidade psicomotora. A publicação Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas habilidades/superdotação, SEESP/MEC, de 2006 apresenta essas características ou perfis: Quadro 1 - adaptado de Brasil, 20063 Tipo Intelectual Apresenta flexibilidade e fluência de pensamento, capacidade de pensamento abstrato para fazer associações, produção ideativa, rapidez do pensamento, compreensão e memória elevada, capacidade de resolver e lidar com problemas. Tipo Acadêmico Evidencia aptidão acadêmica específica, atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória, gosto e motivação pelas disciplinas acadêmicas de seu interesse; habilidade para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento; capacidade de produção acadêmica. 3 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashabilidades.pdf Acesso em: 12 out. 2021 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashabilidades.pdf Tipo Criativo Relaciona-se às seguintes características: originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de forma diferente e inovadora, sensibilidade para as situações ambientais, podendo reagir e produzir diferentemente e, até de modo extravagante; sentimento de desafio diante da desordem de fatos; facilidade de auto-expressão, fluência e flexibilidade. Tipo Social Revela capacidade de liderança e caracteriza-se por demonstrar sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, habilidade de trato com pessoas diversas e grupos para estabelecer relações sociais, percepção acurada das situações de grupo, capacidade para resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influência no grupo. Tipo Talento Especial Pode-se destacar tanto na área das artes plásticas, musicais, como dramáticas, literárias ou cênicas, evidenciando habilidades especiais para essas atividades e alto desempenho. Tipo Psicomotor Destaca-se por apresentar habilidade e interesse pelas atividades psicomotoras, evidenciando desempenho fora do comum em velocidade, agilidade de movimentos, força, resistência, controle e coordenação motora. Fonte: a própria autora Uma pessoa com altas habilidades/superdotação pode se destacar em uma ou mais áreas combinadas e pode apresentar graus de habilidades variadas. É importante ressaltar que há características e perfis individuais que variam também de pessoa para pessoa, esses são aspectos relevantes com relação à superdotação. Ademais, ao tratar das individualidades, é importante compreender que essas pessoas, assim como todos nós, podem apresentar personalidades, sentimentos, atitudes e comportamentos diversificados, o que os diferencia enquanto pessoas. Conhecer esses perfis e tipos é importante,uma vez que, a partir deles, o professor poderá desenvolver estratégias de ensino apropriadas para atender às necessidades dos alunos com AH/SD. Apesar disso, é importante observar que qualquer “tipificação” não é um modelo diagnóstico de classificação. O olhar atento do professor é de suma importância para a identificação dos alunos que apresentam indicadores de altas habilidades/superdotação. A identificação por parte do professor pode contribuir para melhor qualidade de vida do aluno, pode favorecer um melhor acolhimento na sala de aula pelos colegas, pode representar investimento familiar no desenvolvimento de determinada habilidade e talento e, também, pode promover estimulação e atendimento adequado às suas necessidades educativas e pedagógicas. Renzulli (2004) e Gardner (1994) elucidam que as características apresentadas pelas pessoas com Altas Habilidades não apresentam um padrão, visto que estão diretamente ligadas ao contexto sociocultural que cada indivíduo está inserido. Em vista disso, o professor se torna uma peça importante nesse “quebra-cabeça” que é o processo de identificação, uma vez que ele passa o maior tempo com o aluno em sala de aula e pode perceber os interesses e desenvolvimento do estudante em determinadas áreas do conhecimento. O vasto referencial sobre a temática de AH/SD indica que o processo de identificação não é simples, ao contrário, conforme afirma Costa, (2016, p. 74) “demanda conhecimento dos principais conceitos a respeito da temática [...] A forma como este é utilizado definirá os rumos no sentido de planejamento e de orientação que serão desenvolvidos posteriormente a esse processo”. Ao encontro dessa afirmação, Freitas e Pérez (2012) elucidam que, O professor da escola inclusiva deve avançar em direção à diversidade. É necessário deixar de ser mero executor de currículos e programas predeterminados, para se transformar em responsável pela escolha de atividades, conteúdosou experiências mais adequados ao desenvolvimento das capacidades fundamentais dos seus alunos, tendo em conta o nível e as necessidades deles. Para tanto, é necessário conhecer as características individuais dos alunos com AH/SD e as diferentes formas de manifestação de suas singularidades por meio de observações que lhes permitam identificar as preferências e facilidades de cada um, assim como suas limitações (FREITAS; PÉREZ, 2012, p. 7) Entendemos com as autoras sobre a necessidade de um olhar crítico que demanda muita atenção dos professores, já que seus alunos apresentam perfis e comportamentos diferentes. Em razão disso, os estudantes com indicadores de AH/SD podem apresentar características singulares ao mesmo tempo em que se destacam em aspectos negativos. Tal fato pressupõe um trabalho diferenciado que leve em conta as particularidades dos alunos e a necessidade de orientação, acompanhamento e um atendimento que dê conta de atender às necessidades desses aprendizes (COSTA, 2016). Nessa direção, ao encontro do que defende Antipoff (1992), apresentamos algumas características que os estudantes com altas habilidades/superdotação podem apresentar. É importante que o professor fique atento: a) Ao melhor aluno, que se destaca nas disciplinas; b) Àquele que apresenta vocabulário mais elaborado; c) Ao aluno mais criativo e original; d) Ao aluno com maior capacidade de liderança; e) Ao aluno com pensamento criativo mais desenvolvido; f) Ao aluno com maior motivação para aprender; g) Ao aluno que os colegas mais gostam; h) Ao aluno com maior interesse nas áreas das ciências; i) Ao aluno que está avançado na escola em relação à idade. Em relação aos traços comuns do alunado que apresenta AH/SD, Alencar e Fleith (2001) explicam que se trata de um grupo consideravelmente heterogêneo. Assim, nem todos os estudantes podem apresentar as mesmas características, sendo algumas mais recorrentes em uma área do que em outra. No livro Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas habilidades / superdotação (BRASIL, 2006), podemos observar algumas das características apresentadas pelos alunos com AH/SD: Grande curiosidade a respeito de objetos, situações ou eventos, com envolvimento em muitos tipos de atividades exploratórias; Auto-iniciativa tendência a começar sozinho as atividades, a perseguir interesses individuais e a procurar direção própria; Originalidade de expressão oral e escrita, com produção constante de respostas diferentes e idéias não estereotipadas; Talento incomum para expressão em artes, como música, dança, teatro, desenho e outras; Habilidade para apresentar alternativas de soluções, com flexibilidade de pensamento; Abertura para realidade, busca de se manter a par do que o cerca, sagacidade e capacidade de observação; Capacidade de enriquecimento com situações-problema, de seleção de respostas, de busca de soluções para problemas difíceis ou complexos; Capacidade para usar o conhecimento e as informações, na busca de novas associações, combinando elementos, idéias e experiências de forma peculiar; Capacidade de julgamento e avaliação superiores, ponderação e busca de respostas lógicas, percepção de implicações e conseqüências, facilidade de decisão; Produção de idéias e respostas variadas, gosto pelo aperfeiçoamento das soluções encontradas; Gosto por correr risco em várias atividades; Habilidade em ver relações entre fatos, informações ou conceitos aparentemente não relacionados, e Aprendizado rápido, fácil e eficiente, especialmente no campo de sua habilidade e interesse. (BRASIL, 2006, p. 14-15) Em se tratando das características referentes à personalidade, Mosquera e Stobaüs (2006) pontuam que elas estão relacionadas ao fator genético e ao contexto sociocultural em que se encontram inseridos. A partir disso, os autores pontuam as características relacionadas à personalidade, quais sejam, sentido ético e moral muito desenvolvido; capacidade de liderança; grande perfeccionismo; autoconhecimento muito desenvolvido; elevada sensibilidade; perseverança; sensação de sentir-se diferente;inconformismo; engenhosidade e imaginação. Já no que se refere à criatividade, os autores ressaltam que essa é uma característica que se faz presente nas pessoas com AH/SD, que podem apresentar pensamento criativo, originalidade, fluidez, flexibilidade, pensamento independente e pensamento integrador. Retomamos o livro Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas habilidades / superdotação (BRASIL, 2006), para apontar as características comportamentais que podem ser notadas, em alguns casos, nos estudantes com AH/SD. Não é demais lembrar que o grupo de pessoas com altas habilidades/superdotação é um grupo homogêneo, e, portanto, esses alunos podem apresentar ou não, esses traços comportamentais: Necessidade de definição própria; Capacidade de desenvolver interesses ou habilidades específicas; Interesse no convívio com pessoas de nível intelectual similar; Resolução rápida de dificuldades pessoais; Aborrecimento fácil com a rotina; Busca de originalidade e autenticidade; Capacidade de redefinição e de extrapolação; Espírito crítico, capacidade de análise e síntese; Desejo pelo aperfeiçoamento pessoal, não aceitação de imperfeição no trabalho; Rejeição de autoridade excessiva; Fraco interesse por regulamentos e normas; Senso de humor altamente desenvolvido; Alta-exigência; Persistência em satisfazer seus interesses e questões; Sensibilidade às injustiças, tanto em nível pessoal como social; Gosto pela investigação e pela proposição de muitas perguntas; Comportamento irrequieto, perturbador, importuno; Descuido na escrita, deficiência na ortografia; Impaciência com detalhes e com aprendizagem que requer treinamento; Descuido em completar ou entregar tarefas quando desinteressado. (BRASIL, 2006, p. 15) Para aprofundar nessa questão, apresentaremos a seguir algumas teorias que destacam traços de comportamento ou características que as pessoas com altas habilidades/superdotação podem apresentar. Teorias que, inclusive, embasam as políticas públicas de inclusão, na elaboração dos documentos legais e orientam as práticas de ensino apresentadas anteriormente. Esse arcabouço teórico pode respaldar e direcionar o processo de identificação. Contudo, é importante reconhecer que esses alunos possuem suas individualidades. Para além de rótulos, é importante destacar que esses alunos são constituídos pelas relações que estabelecem com a família e com outras pessoas, pelas suas vivências e sentimentos individuais. Nessa direção, nosso objetivo é facilitar uma identificação, concebendo que o entorno desses alunos pode estimular e favorecer seu desenvolvimento, inclusive o desempenho escolar. Os principais construtos teóricos sobre a identificação das AH/SD Muitos alunos com altas habilidades/superdotação podem se apresentar invisíveis na sala de aula e necessitam ser identificados para serem atendidos. A grande finalidade da identificação é a possibilidade de oferecer um atendimento especializado adequado às necessidades desses alunos. O estudante com AH/SD faz parte de uma educação eletiva do atendimento educacional especializado. Acreditamos que, no presente ponto da discussão, você deve estar se questionando: Como podemos compreender o processo de identificação dos alunos com AH/SD? Como resposta a esse questionamento, é importante entender que dentro das políticas de atendimento das pessoas com altas habilidades/superdotação existem modelos de identificação propostos por vários autores. Conhecer esses modelos vai nos ajudar a compreender como são direcionados os processos de identificação. Dentre os pesquisadoresque desenvolveram esses modelos, um dos pioneiros na área que podemos destacar é Joseph Renzulli, psicólogo educacional do Centro Nacional de Pesquisa sobre o Superdotado e Talentoso na Universidade de Connecticut nos Estados Unidos. Renzulli foi o primeiro a dizer que os comportamentos de superdotação consistem da inter-relação de três traços humanos - a Teoria dos Três Anéis, como ficou conhecida. Imagem 3 - Representação do Diagrama de Venn, adaptada de Renzulli (1986) Fonte: A própria autora Para Renzulli, os superdotados são aqueles que apresentam como características comportamentais esse conjunto de traços concomitantemente: I) Habilidade acima da média em alguma área do conhecimento, não necessariamente muito superior à média; II) Envolvimento com a tarefa (motivação, vontade de realizar, perseverança e concentração); III) Criatividade (pensar algo diferente, ver novos significados; e, retirar ideias de um contexto e usá-las). Há de se considerar que nenhum desses traços (habilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade) é mais importante do que o outro. E, também, não necessitam necessariamente de estar presentes ao mesmo tempo e na mesma proporção na criança superdotada. Conforme estamos apresentando, a identificação consiste em um processo que pode implicar na criança, num primeiro momento, apresentar um desses traços e, ao longo de um dado período, pode apresentar ou desenvolver os demais traços. Em seus trabalhos, Renzulli apresenta também algumas explicações sobre as causas da superdotação. Para o autor, a superdotação emerge em diferentes épocas e diferentes circunstâncias da vida da pessoa. Conforme apresenta, o livro A construção de práticas educacionais para alunos com Altas Habilidades/Superdotação, do MEC/SEE (2007), além de fatores genéticos, a superdotação também é influenciada por: fatores do indivíduo, tais como, auto- estima elevada, coragem, persistência, energia, alta motivação. Além disso, há de se considerar também os fatores ambientais relacionados às oportunidades variadas, personalidade e nível educacional dos pais, estimulação dos interesses infantis, entre outros. De acordo com o documento de orientação de identificação das pessoas com altas habilidades/superdotação, observamos que Assim sendo, os comportamentos de superdotação podem ser exibidos em certas crianças (mas não em todas elas) em alguns momentos (não em todos os momentos) e sob certas circunstâncias (e não em todas as circunstâncias de sua vida). (MEC, 2007, p.38, apud RENZULLI, 1985; RENZULLI e REIS, 1997a; RENZULLI, REIS e SMITH, 1981) As pesquisas identificadas acima apresentam uma posição contrária em relação aos mitos de que “a criança que nasce superdotada continuará a demonstrar habilidades intelectuais superiores ao longo de toda sua vida, independentemente das condições do ambiente”, uma vez que não compreende determinada habilidade como um traço imutável e único. Esse posicionamento é importante, já que apresenta a necessidade de atender as necessidades individuais dessa criança. Tanto a família como a escola devem se preocupar em proporcionar um ambiente que estimule o desenvolvimento da criança com altas habilidades/superdotação. Na oportunidade de contrapor os mitos da superdotação com o conhecimento científico, podemos destacar a pesquisa de Pérez (2004) que categoriza esses mitos em sete grupos, como observamos a seguir. Quadro 2 - elaborado pela autora Grupos Conceitos e definições Mitos 01 Mitos sobre constituição Mitos que especulam sobre possíveis origens das AH/SD e características inatas destas pessoas. - As AH/SD são uma característica exclusivamente genética; - As AH/SD são uma característica que depende exclusivamente do estímulo ambiental; - Pais organizadores (condutores); - A criança com AH/SD é egoísta e solitária; - A criança com AH/SD é ‘metida’, ‘sabichona’, ‘exibida’, ‘nerd’, ‘CDF’; - Crianças com AH/SD(s) são fisicamente frágeis, socialmente ineptas e com interesses estreitos. 02 Mitos sobre a distribuição Se referem as AH/SD como uma característica com incidência maior ou exclusiva em determinadas parcelas da população, sobretudo nas classes privilegiadas. - Todos temos AH/SD, basta estimulá-las e poderemos ‘fabricar’ uma criança com superdotadas; - A incidência das AH/SD na população é muito pequena; - Existem mais homens do que mulheres com AH/SD; - As pessoas com AH/SD provêm de classes socioeconômicas privilegiadas. 03 Mitos sobre a identificação Trazem à tona a discussão sobre vantagens ou desvantagens da ‘rotulação’ e colocam em tela a discussão sobre a identidade da pessoa com AH/SD. - A identificação fomenta a rotulação; - A identificação fomenta atitudes negativas na pessoa com AH/SD; - Não se deve identificar a pessoa com AH/SD; - Não se deve comunicar à criança que ela tem AH/SD. 04 Mitos sobre níveis ou graus de inteligência Mitos de que a inteligência pode ser quantificada e traduzida em um número ou coeficiente. - A PAH é apenas aquela que tem um QI excepcional; - Criança talentosa, mas não com AH/SD; - As crianças inteligentes também são criativas, na mesma proporção. 05 Mitos sobre desempenho Relacionados às expectativas de sucesso baseadas no desempenho acadêmico. - A criança com AH/SD se destaca em todas as áreas de desenvolvimento humano - Superdotação Global; - A criança com AH/SD se destaca em todas as áreas do currículo escolar, tem que ter boas notas - é o aluno nota 10 em tudo. 06 Mitos sobre consequências Esses mitos atribuem determinadas consequências ao comportamento de superdotação às quais as PAH estariam fadadas. - A PAH desenvolve doenças mentais, desajustamento social e instabilidade emocional; - O QI se mantém estável durante toda a vida; - Crianças com AH/SD serão adultos eminentes; - Tudo é fácil para a PAH; - As crianças com AH/SD se auto-educam, não precisam de ninguém. 07 Mitos sobre o atendimento Relacionados a pouca divulgação de experiências de atendimento inclusivas, ao pouco conhecimento de alternativas viáveis para países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, desconhecimento das necessidades das PAH e aos mitos descritos anteriormente apresentados - As crianças com AH/SD não precisam de atendimento educacional especial; - O atendimento especial fomenta a criação de uma elite; - Crianças com AH/SD devem ir a escolas especiais; - A aceleração é a abordagem de atendimento mais correta para os alunos com AH/SD; - Não se deve incentivar o agrupamento de crianças com AH/SD. Fonte: A própria autora, com base em Pérez (2004)4 A pesquisa de Pérez (2004) apresenta proposta de combate a alguns mitos ou ideias errôneas acerca das altas habilidades/superdotação. Esses equívocos prejudicam a identificação dos alunos superdotados e asseguram a discriminação, já que faz com que eles sejam vistos como os “CDFs” ou os “sabichões” na escola. Visto dessa forma, o processo de identificação vai passar pelo processo de desmistificação, a fim de observar as verdadeiras características desses alunos. É interessante considerar o processo de identificação sob a ótica dos estudos de Guimarães e Ourofino (2007, p. 55) quando eles afirmam que, 4 Disponível em: http://www.bdae.org.br/dspace/handle/123456789/898 Acesso em: 15 out.2021 http://www.bdae.org.br/dspace/handle/123456789/898 A identificação e a avaliação do aluno com altas habilidades/superdotação têm se constituído um desafio para educadores e psicólogos. A simples rotulação de um indivíduo com altas habilidades/superdotaçãonão têm valor ou importância se não for contextualizado dentro de um planejamento pedagógico ou de uma orientação educacional. Além disso, o processo de identificação deste aluno deve ter como base referenciais teóricos consistentes e resultados de pesquisa sobre o tema. (GUIMARÃES; OUROFINO, 2007, p. 55). Os estudos desses autores proporcionam constantes reflexões acerca do processo de identificação, uma vez que apontam para a relevância de respaldar o trabalho do professor ao subsidiar o entendimento dos comportamentos e indicadores de AH/SD. Assim, os professores terão mais segurança para reconhecer e identificar os estudantes que apresentam características de altas habilidades/superdotação, em um processo bem estruturado e relacionado com a teoria. Para tanto, além dos estudos desses pesquisadores, citamos ainda o trabalho desenvolvido por Galbraith e Delisle (1996). Esses autores apresentam uma lista de comportamentos que está disponível no livro A construção de práticas educacionais para alunos com Altas Habilidades/Superdotação - MEC/SEE (2007), como podemos observar a seguir: Quadro 3 Quadro 5 - Formulário para a identificação da superdotação. Reserve alguns minutos para listar os nomes dos alunos que venham primeiramente à sua mente quando você lê as descrições abaixo. Utilize esta lista como uma “associação livre” e de forma rápida. Não é necessário preencher todas as linhas. É provável que você encontre mais do que um aluno em cada descrição. 01 Aprende fácil e rapidamente 02 Original, imaginativo, criativo, não-convencional 03 Amplamente informado; informado em áreas não comuns 04 Pensa de forma incomum para resolver problemas 05 Persistente, independente, auto-direcionado (faz coisa sem que seja mandado) 06 Persuasivo, capaz de influenciar os outros 07 Mostra senso comum; pode não tolerar tolices 08 Inquisitivo, cético, curioso sobre o como e o porquê das coisas 09 Adapta-se a uma variedade de situações e novos ambientes 10 Esperto ao fazer coisas com materiais comuns 11 Habilidades nas artes (música, dança, desenho etc.) 12 Entende a importância da natureza (tempo, lua, sol, estrelas, solo, etc.) 13 Vocabulário excepcional, verbalmente fluente 14 Aprende facilmente novas línguas 15 Trabalhador independente, mostra iniciativa 16 Bom julgamento, lógico 17 Flexível, aberto 18 Versátil, muitos interesses, interesses além da idade cronológica 19 Mostra insights e percepções incomuns 20 Demonstra alto nível de sensibilidade, empatia com relação aos outros 21 Apresenta excelente senso de humor 22 Resiste à rotina e repetição 23 Expressa ideias e reações, frequentemente de forma argumentativa 24 Sensível à verdade e à honra Fonte: A própria autora, com base em Galbraith e Delisle (1996, p. 14)5. 5 Disponível em: Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashab1.pdf Acesso em: 15 out. 2021 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/altashab1.pdf Galbraith e Delisle (1996) apresentaram essa lista de comportamentos para auxiliar os professores a desenvolverem um olhar sensível para a identificação dos alunos com indicadores de altas habilidades em sala de aula. O Quadro 5, exposto anteriormente, apresenta algumas das características que esses alunos podem apresentar. É importante frisar que nem todas essas características irão se apresentar no mesmo indivíduo. Uns têm algumas dessas características e outros têm outras. Galbraith e Delisle (1996) pontuam que para ser considerado superdotado, o aluno não precisa exibir todas estas características. Ellen Winner (1998) ressalta também algumas características apresentadas em relação às habilidades escolares e algumas atitudes às quais todo professor deve ficar atento; a) Leitura precoce por volta dos quatro anos, ou antes, com instrução mínima; b) Fascínio por números e relações numéricas; c) Memória prodigiosa para informação verbal e ou matemática; d) Frequentemente brincam sozinhas e apreciam a solidão; e) Preferem amigos mais velhos, próximos a ela em idade mental; f) Se interessam por problemas filosóficos, morais, políticos e sociais; g) Apresenta alto senso de humor em decorrência de habilidades verbais. Compondo esse rol de pesquisadores que nos apresentam os indicadores de altas habilidades/superdotação, por fim, vamos tratar dos estudiosos George Betts e Maureen Neihart (1988). Após muitos anos de estudos, pesquisas e observações, os referidos autores desenvolveram propostas de estudo que contribuem para a distinção de seis perfis, ou características gerais das pessoas com altas habilidades/superdotação, os quais são: bem sucedido, desafiante, escondido, desistente, duplamente excepcional e autônomo. Esses seis perfis estão organizados em dois grupos; os alunos que se enquadram no primeiro grupo, exibem realização acadêmica compatível com alto potencial característico de sua condição. E, os alunos do segundo grupo, encontram obstáculos no transcurso de seu desenvolvimento. Para facilitar a compreensão esquematizamos a seguir tais informações: Quadro 4 GRUPO GRUPO 1 - exibem realização acadêmica compatível com alto potencial característico de sua condição GRUPO 2 – não exibem realização acadêmica compatível com alto potencial característico de sua condição. Encontram obstáculos no percurso de desenvolvimento PERFIL Tipo I - Bem sucedido Tipo VI - Aprendiz autônomo Tipo II - Desafiante ou Divergente Tipo III – Escondido ou potencial oculto/encoberto Tipo IV - Desistente ou evadido Tipo V - Duplamente excepcional Fonte: A própria autora, com base em Betts e Maureen Neihart (1988)6. Tipo I - Bem sucedido: Aprendem bem e são capazes de pontuar alto em testes de desempenho e em testes de inteligência. Como resultado, eles geralmente são identificados para serem colocados em programas para os superdotados. Raramente exibem problemas de comportamento porque estão ansiosos pela aprovação de professores, pais e outros adultos. Tipo II - Desafiante ou Divergente: Geralmente possui um alto grau de criatividade e pode parecer obstinado, sem tato ou sarcástico. Frequentemente, questiona a autoridade e pode desafiar o (a) professor(a) na frente da classe. Eles não se conformam com o sistema e não aprenderam a usá-lo em seu proveito. Eles recebem pouco reconhecimento e poucas recompensas ou honras. Suas interações na escola e em casa frequentemente envolvem conflitos. 6 Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/240729625 Acesso em: 15 out. 2021 https://www.researchgate.net/publication/240729625 https://www.researchgate.net/publication/240729625 Tipo III – Escondido ou potencial oculto/encoberto: Esses alunos talvez não tenham apresentado no ensino fundamental, nas séries iniciais, as características de indicativos de altas habilidades/superdotação. Tem-se a ideia de que essas habilidades surgiram só no ensino médio, mas, geralmente, eles escolhem o anonimato em resposta à pressão para se destacar ou devido à necessidade de pertencimento a um grupo de pares não-talentosos. Geralmente, são meninas que escondem seus talentos ou não são reconhecidas como superdotadas pela família e professores. Frequentemente se sente inseguro(a) e ansioso(a). Suas necessidades de mudança estão comumente em conflito com as expectativas dos professores e pais. Há uma tendência de empurrar essas crianças, de insistir para que continuem com seu programa educacional, não importa como elas se sintam, o que apenas aumenta sua resistência e negação. Tipo IV - Desistente ou evadido: Geralmente o sistema não atende as necessidades desse aluno, em consequência ele apresenta um baixo rendimentoescolar o que faz com que se sinta rejeitado, deprimido e na defensiva. É o aluno que tira nota baixa, tem dificuldade de adaptação e falta de motivação. Pode abandonar a escola devido a um histórico de rejeição e falta de apoio de familiares e professores. A escola pode parecer irrelevante e talvez hostil para ele. Demonstra interesse em áreas inusitadas que podem, inclusive, estar fora do âmbito do currículo da escola regular. São, geralmente, crianças superdotadas que foram identificadas muito tarde, talvez não antes do ensino médio. Eles podem se demonstrar amargos e ressentidos como resultado de se sentirem rejeitados e negligenciados. Sua autoestima é muito baixa e eles precisam de um relacionamento profissional próximo com um adulto em que possam confiar. A programação tradicional não é mais apropriada para o Tipo IV. Tipo V - Duplamente excepcional: Apresenta uma segunda condição de desenvolvimento associada à superdotação, tais como, déficit de atenção, dislexia, autismo e/ou outros. Geralmente apresentam dificuldades de aprendizagem. Não exibem os comportamentos que as escolas procuram nos superdotados, já que podem ter uma caligrafia desleixada ou comportamento divergente, o que dificulta a realização das tarefas escolares. Em decorrência desses fatores muitas vezes suas potencialidades são desacreditadas e a possibilidade de superdotação é descartada. A vasta maioria dos programas para superdotados não identificam essas crianças. E, quando são identificadas, tem-se o desafio de lhes oferecer uma programação diferenciada que os acolha. Tipo VI - Aprendiz autônomo: Poucas crianças superdotadas demonstram este estilo em uma idade muito precoce, embora os pais possam observar evidências ou características desse perfil em casa. Esses alunos aprenderam a trabalhar com eficácia no sistema escolar. No entanto, ao contrário do tipo I (bem sucedido) que se esforçam para atender as expectativas, as crianças do tipo VI (autônomas), usam o sistema para criar novas oportunidades para si próprias. Têm autoconceitos fortes e positivos, são bem-sucedidos e recebem atenção e apoio positivos por suas realizações, bem como por quem são. Eles são muito respeitados por adultos e colegas e frequentemente desempenham alguma função de liderança dentro de sua escola ou comunidade. Esse trabalho de Betts e Maureen Neihart (1988) é muito relevante, uma vez que vai ao encontro da questão dos mitos, no sentido de desconstruir ideias errôneas, como a ideia de que o superdotado sempre apresenta um bom desempenho escolar. Ao longo da história encontramos vários exemplos de que não há uma relação biunívoca entre altas habilidades/superdotação e alto desempenho escolar. Dentre, os exemplos podemos apresentar; ● O professor de música de Beethoven uma vez disse que, como compositor, ele era “sem esperança”; ● Isaac Newton - que descobriu o cálculo, desenvolveu a teoria da gravitação universal, originou as três leis do movimento - tirava notas baixas na escola; ● Albert Einstein tinha dificuldades de ler e soletrar e foi reprovado em matemática; ● John Kennedy recebia em seus boletins constantes observações de “baixo rendimento” e tinha dificuldades em soletrar; ● Walt Disney foi despedido pelo editor de um jornal porque ele “não tinha boas idéias e rabiscava demais”; ● Dr. Robert Jarvick foi rejeitado por 15 escolas americanas de medicina. Ele inventou o coração artificial; ● Thomas Edison, que além da lâmpada elétrica inventou a locomotiva elétrica, o fonógrafo (que virou o gravador), o telégrafo e o projetor de cinema, foi um mau aluno, pouco assíduo e desinteressado. Saiu da escola e foi alfabetizado pela mãe. (MEC, 2007 vol.0, p.39, Quadro 3) Além de combater os mitos que prejudicam a identificação desses alunos com altas habilidades/ superdotação, o trabalho de Betts e Maureen Neihart (1988), também aponta a necessidade do atendimento adequado a cada perfil apresentado. Esse fato coaduna com o objetivo central da presente unidade, que é a identificação para oferecer um atendimento adequado às necessidades dos alunos com altas habilidades/ superdotação. Apresentamos aqui um panorama geral das principais teorias que embasam e orientam os processos de identificação dos estudantes com AH/SD. Assim, através das características comportamentais de Renzulli (1986), e de outras teorias, os pesquisadores conseguiram levantar vários indicadores de altas habilidades/superdotação, como os apresentados por Galbraith e Delisle (1996), Ellen Winner (1998), e Betts e Maureen Neihart (1988), dentre outros. Essas pesquisas foram desenvolvidas com o intuito de promover a identificação desses alunos. Essas teorias podem nos auxiliar para que ao final do processo de identificação seja produzido um parecer cientificamente embasado, dando oportunidade e conferindo o direito ao aluno de fazer parte do atendimento especializado. O atendimento especializado na sala de recurso do AEE para esse público é a finalidade da identificação, além de promover a elaboração de propostas de intervenção pedagógica, sugestões de enriquecimento intracurricular, dentre outras ações que favoreçam o trabalho e o desenvolvimento desses estudantes, na perspectiva da escola inclusiva. Procedimentos de identificação dos alunos com AH/SD À luz das informações apresentadas, você deve estar se perguntando: Como identificar o aluno com altas habilidades/superdotação? Será que o teste de Quociente de Inteligência – QI, que mensura as habilidades gerais de raciocínio, pode ser eficiente para identificar as pessoas com indicativos de AH/SD? Até décadas atrás, o teste de QI era tido como um método eficiente de identificação das pessoas com altas habilidades/superdotação. Entretanto, visto que o QI mede uma gama estreita de habilidades humanas, com enfoque na facilidade com a linguagem e números, nos últimos anos a eficácia deste teste tem sido questionada. Em específico, pelo fato de demonstrar pouca eficiência em identificar habilidades relacionadas às áreas não-acadêmicas. Neste sentido, há uma parcela da população com indicadores de AH/SD que não são identificadas pelo teste usual de QI padronizado, visto que tal exame não privilegia as áreas mais subjetivas, como por exemplo, as habilidades cinestésicas, como as empregadas nas artes plásticas e na música. Outra estratégia de identificação de altas habilidades/superdotação que tem sido recomendada por pesquisadores como Guenther (1995) é a técnica de auto identificação. Essa técnica consiste em perguntas bem elaboradas feitas para a própria criança ou adolescente, com o intuito de compreender quais são os principais interesses, como é sua relação com os professores e colegas, a forma como participa das atividades desenvolvidas na escola, formas de pensamento preferidas e reações a elementos diversos com os quais tem contato, dentre outras perguntas apresentadas. Outros critérios importantes nesse processo de identificação das crianças ou adolescentes com altas habilidades/superdotação se referem à percepção de seus colegas de sala, professores e familiares acerca do comportamento e traços que apresenta. A nomeação pelos colegas de sala de aula, dos alunos que se destacam em alguma atividade é outro critério utilizado no processo de identificação. Assim, a partir desse conhecimento, percebe-se que para a identificação de alunos com indicadores de altas habilidades/superdotação é necessário adotar múltiplos critérios, além de considerar informações obtidas de fontes variadas, incluindo tanto da própria pessoa, como de seus professores, familiares e amigos. Em vista disso, não é demais enfatizar a relevância do papel do psicólogo e demais profissionais especialistas no processo de identificação dos alunos com indicativos de AH/SD. O processo de identificação dos estudantescom altas habilidades/superdotação pode variar muito, uma vez que este é constituído por uma gama variada de procedimentos que seguem diversos critérios. Não é nosso objetivo eleger um método ou uma técnica de identificação como sendo mais eficiente. Cabe a cada unidade escolar (seja da rede estadual ou municipal de ensino) avaliar o que lhes está ao alcance e o que é mais adequado ao contexto em que está inserida. Deste modo, iremos apresentar alguns procedimentos de identificação do aluno com indicadores de altas habilidades/superdotação. Concebemos a identificação dos estudantes com AH/SD como processos que não estão fechados, prontos e acabados. Ao contrário, esse caminho está sendo construído ao longo dos anos, e vem sendo cada vez mais aprimorado. Destacamos assim a necessidade de contribuir para que esse processo seja cada vez mais eficiente e para que mais crianças e jovens com indicadores de altas habilidades/superdotação sejam identificados e recebam atendimento educacional especializado. Munhoz, Rossato e Souza (2017) apresentam um relato de experiência vivenciado por duas professoras. Eles descrevem o processo de identificação que tem sido praticado na cidade de Londrina e região metropolitana, em Salas de Recursos Multifuncional para Altas Habilidades/Superdotação- SRMAH/SD orientadas pelo Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação - NAAH/S. Para tanto, os pesquisadores elaboraram duas etapas do processo de identificação. A primeira etapa trata da indicação do aluno com indicativos de altas habilidades/superdotação. E na segunda etapa ocorre a identificação realizada pelo professor especialista que atende na SRMAH/SD com a orientação do NAAH/S. 1ª etapa | Indicação Primeiramente, vamos compreender como esse aluno será encaminhado ao professor especialista para participar do processo de identificação. Existem diferentes fontes de indicação. A própria família que identificou no filho características de comportamentos diferentes das de seus irmãos e/ou interesse em áreas específicas, bem como aspectos de precocidade; a escola através da percepção de colegas e/ou professores de áreas específicas, nas quais o aluno demonstra notável talento e interesse; auto identificação por se destacar ao participar de concursos, campeonatos (de música, dança, esportes em geral), olimpíadas, estandes, feiras, dentre outros. Considerando que a criança superdotada pode apresentar habilidades em áreas menos prestigiadas em nossa sociedade, e que por vezes passam despercebidas aos olhares de seus familiares e amigos, o ideal é que essa indicação seja feita pela escola, por meio da observação apurada dos professores e da equipe pedagógica. O olhar direcionado dos professores para analisar traços de comportamento e indicadores de altas habilidades é o que vai possibilitar a identificação destes alunos. A percepção do professor em relação ao aluno com indicadores de altas habilidades dependerá dos conhecimentos acerca da área que adquiriu. As observações e a análise do contexto de sala regular de ensino são aspectos fundamentais no processo de indicação do aluno. Para facilitar a percepção sobre se há ou não necessidade de indicação, o professor da sala regular pode dispor de questionários elaborados a partir do arcabouço teórico anteriormente apresentado nesta unidade. Munhoz, Rossato e Souza (2017) adotam os Questionários para Identificação de Indicadores de Altas Habilidades/Superdotação (QIIAHSD) produzidos a partir de estudos desenvolvidos por Freitas e Pérez (2012) disponíveis no livro Altas habilidades/superdotação: atendimento especializado. São três tipos de questionários: o primeiro é direcionado ao professor do ensino regular (QIIAHSD-Pr); o segundo aos responsáveis (QIIAHSD-R); e o último, aos alunos (QIIAHSD-A). Tais questionários apresentam embasamento na Teoria dos Três Anéis de Renzulli, que agora você já conhece. Questionários, fichas e formulários para variados níveis de ensino também podem ser encontrados no "Manual de Identificação de altas habilidades /superdotação" de Freitas e Pérez (2016), pesquisadoras que são referências na área. É importante frisar que esse material (questionários, fichas e formulários) nos auxiliam no processo de identificação, contudo, não são determinantes. O processo de identificação envolve mais do que preencher fichas e formulários, esse material compreende um rol extenso de instrumentos de coleta de informações a serem analisadas pelo professor especialista que tem domínio teórico e prático para desempenhar essa função. Munhoz, Rossato e Souza (2017) sugerem que o instrumento de coleta de informações dos alunos na percepção do professor (QIIAHSD-Pr) seja aplicado a, pelo menos, três professores. Assim, deve se considerar a área de interesse em que o aluno se destaca, no intuito de formar a comissão de três professores. Como exemplo, se o aluno se destacou na área matemática, o professor de matemática deve participar do processo. Os demais professores, de outras áreas do conhecimento também devem ser inseridos no processo, para identificar como esse aluno se desenvolve em outras áreas. Esses professores serão convidados a informar por meio de registros, do preenchimento de questionário, sobre algumas características gerais desse aluno. Caso o estudante se destaque nas áreas artística e esportiva esteja cursando os anos finais do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio, os seus professores podem optar pela utilização do (QIIAHSD-Pr) desenvolvido por Freitas e Pérez (2012). Observe a seguir a Ficha Complementar para Características Esportivas e Artísticas. Imagem 4 - Questionário de identificação de indicadores de altas habilidades em áreas artísticas e esportivas Fonte: PÉREZ, S. G. B. P.; FREITAS, S. N. Manual de identificação de altas habilidades/superdotação . Guarapuava: Apprehendere, 2016, p. 72 Após preencher o cabeçalho do questionário com as informações pessoais do aluno, os professores tratam de questões mais gerais sobre comportamento, e em seguida, respondem sobre as características específicas; Liderança, Habilidade Acima da Média, Criatividade e Comprometimento com a Tarefa, sendo esses três últimos correspondentes à Teoria dos Três Anéis de Renzulli. Em relação ao traço/característica Habilidade Acima da Média, o professor precisa analisar em quais áreas o referido aluno se destaca; natação, futebol, voleibol, dança, atletismo, música, teatro e artes visuais. Para cada habilidade o professor precisa informar o grau de destaque, respondendo a várias perguntas utilizando os conceitos, excelente, muito bom, bom, regular e ruim. Registros como esses possibilitam aos professores conversarem entre si acerca do desempenho do aluno relatando suas características gerais. E se forem observadas características semelhantes no desempenho do estudante em diferentes disciplinas, é solicitado que os professores das áreas colaborem também para o processo de indicação. Este processo deverá ocorrer, de preferência, com o apoio da equipe pedagógica da escola. Como sugestão, os professores podem solicitar ao aluno que apresenta desempenho acima da média em artes, por exemplo, que faça um desenho a ser encaminhado junto com a ficha/questionário a uma Salas de Recursos Multifuncional para Altas Habilidades/Superdotação- SRMAH/SD. Isso pode contribuir para o processo de sua identificação, que terá continuidade na segunda etapa. A relevância do contato com a área de AH/SD e do conhecimento das necessidades educacionais Especiais desses alunos, é de dar-lhes a atenção diferenciada que necessitam. Se esses estudantes não forem reconhecidos e atendidos de acordo com suas particularidades, podem deixar de desenvolver suas habilidades e interesses. Desmotivados e desconhecendo suas capacidades, esses alunos podem ficar frustrados, alémde perder o interesse pela escola. Por outro lado, conforme Munhoz, Rossato e Souza (2017): A indicação destes alunos para a identificação em SRMAH/SD possibilita a eles, primeiramente, o autoconhecimento, uma vez que se percebem diferentes, frequentemente, mas não sabem a razão; um maior desenvolvimento de suas habilidades, já que poderão frequentar, em contraturno, a SRMAH/SD que oferece atividades de enriquecimento curricular; e, talvez o mais significativo, o convívio com os pares. (MUNHOZ, ROSSATO E SOUZA, 2017, p.9) Os pesquisadores apontam que os alunos indicados passaram pelo processo de identificação não com os professores que os indicaram, mas sim com o professor especialista orientado pelo NAAH/S. A partir do instante que a equipe pedagógica indica o aluno e envia todas as informações obtidas com os questionários ao professor especialista da SRMAH/SD mais próxima, inicia-se a segunda etapa do processo, a identificação. 2ª etapa | Identificação O professor especialista que atende na SRMAH/SD mais próxima da escola que indicou determinado aluno para participar do processo de identificação, irá receber o material referente ao levantamento de informação sobre esse estudante. Esse material (fichas, questionários, formulários, relatório e material produzido pelos estudantes) faz parte da coleta de dados realizada pelos professores e será encaminhado ao professor especialista que fará uma análise da avaliação desenvolvida no contexto escolar. De posse dos indicadores de altas habilidades/superdotação nas determinadas áreas apresentadas pela equipe pedagógica da escola, o professor especialista irá selecionar materiais que comporão o roteiro de entrevista a ser feita com os pais ou responsáveis da criança ou adolescente. Munhoz, Rossato e Souza (2017) apresentam um segundo questionário que pode auxiliar nesse processo; o (QIIAHSD-R) de Freitas e Pérez (2012). Imagem 5 - Questionário para identificação de indicadores de altas habilidades/superdotação Fonte: PÉREZ, S. G. B. P.; FREITAS, S. N. Manual de identificação de altas habilodades/superdotação . Guarapuava: Apprehendere, 2016, p. 77 O professor especialista vai marcar uma entrevista com esses pais ou responsáveis para obter maiores informações sobre o aluno e também para explicar sobre o atendimento educacional especializado. Ao receber os pais ou responsáveis, o professor especialista explicita todo o processo, explica que a criança foi indicada pela escola na qual está matriculada, para participar de um processo de identificação de altas habilidades/superdotação. Utilizando uma linguagem clara e acessível, o professor explica para os pais da criança o que é altas habilidades/superdotação e que o processo de identificação resultará em um melhor atendimento às necessidades educacionais do aluno, independente de ser identificada as AH/SD, ou não. Nesse contexto, o profissional precisa desenvolver uma boa comunicação com a família de modo a obter seu apoio, já que o processo de identificação pode durar um período que não é fixável e podendo estender-se por algumas semanas ou até meses. Durante esse tempo, o aluno participa de algumas atividades e entrevistas no intuito de obter informações acerca da necessidade de participar ou não de um programa de atendimento educacional especializado. Esse atendimento dependerá do interesse da criança ou adolescente, não sendo forçada ou obrigada a fazer nada. Essas questões precisam ficar bem delineadas para a família, sobre cada etapa do que será realizado. A ficha ou questionário pode ser um dos instrumentos para buscar indicadores de comportamento de altas habilidades/superdotação na criança ou adolescente. O questionário é composto por pontos de características gerais e mais específicas. Apresenta várias perguntas, tais como: Com quantos anos seu filho(a) começou a ler (Não só o seu nome, mas frase)? Ele lê por conta própria livros de seu interesse (fora da escola)? Quantos por ano? Sobre que assunto seu filho mais gosta de conversar ou estudar ou que atividade mais gosta de fazer? , dentre outras perguntas. O questionário oportuniza aos pais relatar contextos e situações pontuais que permitem identificar alguns indicadores de altas habilidades/superdotação. É uma análise qualitativa a ser realizada pelo professor especialista no sentido de volver um olhar mais apurado para identificar essas questões. A esse respeito, Munhoz, Rossato e Souza (2017) revelaram sobre o material em questão, Nesta entrevista utiliza-se o QIIAHSD-R, que além de trazer questões que ajudam na identificação do comportamento de AH/SD, dá oportunidade para que o responsável conte fatos importantes da vida da criança/adolescente antes do ingresso na escola, no convívio familiar, ou mesmo na educação infantil. (MUNHOZ, ROSSATO E SOUZA, 2017, p.10) Essas questões se apresentam em forma de perguntas sobre as áreas de interesse do aluno. Perguntas específicas com respostas pontuais, sobre se determinadas coisas acontecem ou aconteceram com a criança ou adolescente, e apresenta como opções de resposta as opções nunca, raramente, às vezes, frequentemente e sempre. Também são apresentadas perguntas mais genéricas relacionadas ao comportamento da criança ou adolescente em casa, como exemplo, se ela/ele apresenta maneiras de pensar, sentir ou agir que se diferem dos irmãos e amigos. Outras perguntas são apresentadas de modo a favorecer a identificação do aluno com AH/SD. Esse questionário também apresenta relação com o Diagrama de Venn proposto por Renzulli (1986), tendo em vista, conforme já mencionado, que os materiais elaborados para auxiliar no processo de identificação são produzidos a partir do referencial teórico específico da área. Nessa direção, relacionada aos elementos que compõem a Teoria dos Três Anéis são organizadas as referentes questões: Habilidade Acima da Média - A memória da criança é muito destacada, especialmente em assuntos do seu interesse? Ele tem muitas informações sobre os temas que são do seu interesse? Conhece mais palavras que seus colegas ou palavras mais difíceis e complexas que seus colegas ainda não conhecem? Tende a conhecer coisas complicadas examinando-as parte por parte? Aprende rapidamente coisas que lhe interessam e usa o que aprendeu em outras áreas? Criatividade - As ideias que ele propõe são vistas como diferentes ou inusitadas pelos demais? É muito curioso? Tem muitas ideias, soluções e respostas incomuns, diferentes e inteligentes? Gosta de arriscar-se e enfrentar desafios? É muito imaginativo e inventivo? É sensível às coisas bonitas? Comprometimento com a tarefa - Dedica muito tempo e energia a algum tema ou atividade que gosta ou lhe interessa? É muito exigente e crítico consigo mesmo, nunca está satisfeito com o que faz? Insiste em buscar soluções para os problemas? O questionário apresenta perguntas sobre outros aspectos também, como Liderança: Seu filho é autossuficiente? É escolhido pelos colegas e amigos para a função de liderança da turma? Ele é cooperativo com os demais? Tem a tendência de organizar o grupo? Sabe se expressar bem e convence os outros os seus argumentos? A partir da entrevista com os pais, também é feito uma anamnese em que se busca os indicadores específicos de comportamento. Como exemplo, Com quantos ela anos andou?, com o intuito de identificar se a criança teve algum indicativo de precocidade nessa área. Também podem ser apresentadas perguntas para obter informações da família sobre o comportamento da criança em casa. Quais conteúdos gosta de assistir na televisão? Costuma utilizar a internet para buscar informações sobre assuntos do que interesse (assuntos específicos como mecânica ou astronomia, por exemplo)? Tem algum hábito ou costume (como desmontar os brinquedos ou colecionar coisas)? Fica muito tempo concentradana execução de uma tarefa do seu interesse? Finalizada a entrevista, o professor especialista pode solicitar aos pais que registrem de alguma forma, através de um termo, por exemplo, que permite que o filho participe de outros processos de identificação. Os pais ou responsáveis precisam permitir a participação do seu filho/da sua filha nas atividades propostas, além de permitir também que ele/ela participe de entrevistas. É importante retomar a informação de que esse processo de identificação do aluno com indicadores de AH/SD não apresenta um prazo fechado, já que se trata de identificar características em uma pessoa que é única e faz parte de um grupo heterogêneo. De acordo com Vieira (2018, p. 114), “Constitui-se como processo contínuo que adota múltiplos critérios, no qual o planejamento das atividades deve abranger diferentes áreas das inteligências”. Por essa razão, o professor e a sala de aula se configuram como fontes relevantes de informação sobre as características apresentadas pelo aluno com indicativos de AH/SD. (VIEIRA, 2018). De acordo com Munhoz, Rossato e Souza (2017), o processo de identificação do aluno pode ser organizado em etapas com duração de uma hora. Aqui estamos falando da etapa que envolve a participação do aluno no desenvolvimento das atividades que fazem parte do processo de identificação. As autoras destacam que um encontro muito longo pode se tornar exaustivo, o que prejudicaria o desempenho do aluno na realização das atividades. Para evitar que isso ocorra, podem ser agendados um ou dois encontros semanais, conforme a necessidade. A quantidade de encontros também vai depender de como o aluno responde ao ser exposto ao processo. Chegada a essa etapa de identificação como aluno, o professor deve buscar criar um vínculo com o aluno, já que ele vai realizar nas próximas semanas as atividades referentes à identificação de AH/SD. O processo deve ocorrer de forma leve e descontraída para deixar o aluno confortável, de modo que não se sinta constrangido ou pressionado a apresentar um desempenho considerado satisfatório. Em uma conversa com esse estudante, o professor especialista deve procurar explicar minuciosamente o processo para explicar que ele será entrevistado e será convidado a participar de algumas atividades. O aluno precisa compreender que passará por um percurso, para que ao final dele, se conheça melhor. Além disso, os resultados desse processo vão apontar a necessidade, ou não, de participação nas ações desenvolvidas no AEE. Como direcionamento dessas ações, Munhoz, Rossato e Souza (2017) sugerem que Num primeiro momento, explica-se o que é a SRMAH/SD, por que ele foi indicado, o que a participação na sala pode trazer de benefícios para ele, se vier a ser matriculado. Mostra-se a teoria usada no processo de identificação, que é a dos três anéis de Rezulli, sempre deixando claro que, se no tempo em que passar pelo processo não for observado o comportamento de AH/SD, ele só terá a ganhar, pois realizará atividades divertidas, desafiadoras e de autoconhecimento. (MUNHOZ, ROSSATO E SOUZA, 2017, p.11). O professor especialista pode solicitar ao aluno a sua permissão para analisar o material de registro escolar. Aberta essa oportunidade, o professor pode analisar a organização que o aluno faz desse material, pode ter acesso às suas produções, no caso de alunos com habilidades artísticas, pode observar se os desenhos do estudante fazem parte do material, dentre outras opções. Após a aproximação inicial na etapa com o aluno do processo de identificação, o professor vai aplicar uma entrevista. Para realizar essa atividade o professor pode elaborar um roteiro e/ou utilizar o questionário QIIAHSD-A, de Freitas e Pérez (2012), o qual apresentamos a seguir: Imagem 6 - Questionário para identificação de indicadores de altas habilidades/superdotação - aluno Fonte: ]PÉREZ, S. G. B. P.; FREITAS, S. N. Manual de identificação de altas habilidades/superdotação . Guarapuava: Apprehendere, 2016, p. 72 Com o questionário, será possível obter diferentes informações oferecidas pelo próprio aluno, visto que a aplicação deste vai conferir oportunidade para o estudante responder às questões apresentadas, além de compartilhar as suas experiências pessoais e interpessoais. Esses relatos podem se constituir como uma seara rica de informações onde será possível coletar os indicadores de altas habilidades/superdotação. Munhoz, Rossato e Souza (2017) sugerem também, além de aplicar o questionário, solicitar para o aluno produzir um texto respondendo à pergunta: Quem sou eu? E ainda, pode haver a proposta de um jogo com a criança ou adolescente, ou outra dinâmica para favorecer a descontração e “quebrar o gelo”. Para além de avaliar, o jogo proposto pode contribuir para diferenciar a SRMAH/SD da sala de ensino regular, apresentando um espaço educativo onde também se pode brincar como parte do processo de aprender, e participar de atividades dinâmicas e divertidas. Você vai observar que o QIIAHSD-A aplicado ao aluno é semelhante ao QIIAHSD-R aplicado aos pais ou responsáveis, o que favorece a realização do cruzamento de dados na oportunidade de fazer um levantamento de informações coerentes. Serão respondidas pelo aluno as mesmas questões, referentes aos aspectos de Liderança, Habilidade Acima da Média, Comprometimento com a Tarefa e Criatividade. O próximo procedimento de identificação realizado na etapa com o aluno é propor uma série de atividades variadas. O objetivo com essas atividades, a partir da Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner (1994) é analisar se o aluno tem Inteligência Linguística; Lógico-matemática; Musical; Espacial; Cinestésica; Naturalística; Interpessoal; e Intrapessoal, apresentadas na Unidade I. Assim, deve oferecer ao aluno oportunidades de experiências dentro dessas áreas para que seja possível o levantamento de informações sobre as áreas específicas. Com a utilização desse recurso, será possível identificar, na criança ou adolescente, os indicadores da característica de criatividade, por exemplo. Criatividade ao falar, ao contar uma história, ao cantar, ao dançar, ao desenhar, ao propor soluções de respostas diferentes para uma mesma situação-problema, dentre outras atividades. Desse modo, será possível identificar se o estudante apresenta a criatividade nas áreas de matemática, física, artística, esportiva, liderança e outras. Para realizar essa análise é preciso possibilitar a esse aluno um espaço de fala para que ele se manifeste em relação a seus interesses. Na sequência, apresentaremos algumas atividades interessantes que podem ser utilizadas como instrumentos no processo de identificação de alunos com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação. Instrumentos de identificação das AH/SD Vamos apresentar algumas propostas de atividades que poderão ser utilizadas como instrumentos de identificação das altas habilidades/superdotação. Essas atividades podem ser aplicadas de modo a favorecer a identificação das áreas do conhecimento com as quais o aluno apresenta interesse e habilidades específicas. Jogos Boole O Jogo Boole é composto, geralmente, por (12) doze cartas que indicam algumas categorias (três personagens, três animais, três meios de transporte e três guloseimas, por exemplo). As cartas são manipuladas pelo jogador em uma ordem vertical de modo a solucionar enigmas ou problemas propostos. Cada linha vertical deve conter um personagem, um meio de transporte e um animalzinho. O livro que acompanha as cartas possui as histórias que envolvem somente nove cartas, as outras três cartas são colocadas onde o jogador escolher para completar a história. O jogo visa o desenvolvimento da capacidade de raciocínio lógico da criança ou adolescente por meio de histórias que são construídas sobre uma estrutura
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