Buscar

Resumo - Medicina liberal - Janinne S

Prévia do material em texto

A FORMAÇÃO SOCIAL DA PRÁTICA MÉDICA 
A Medicina Liberal é datada em diferentes épocas, devido às suas distintas formas de 
organização social, sendo na Europa e EUA, nascida no século XIX, em função do maior 
amadurecimento das forças produtivas sociais naquele momento e, na América Latina, no 
século XX. Nesse sentido, a medicina liberal é definida como a forma histórica de organização 
social da prática médica, assumida no período de consolidação do capitalismo concorrencial, 
em que é exercida nas clínicas ou nos consultórios privados de cada profissional. Tendo como 
uma das características centrais das práticas liberais em saúde, a livre escolha pela clientela, 
também chamada de “livre concorrência", além do aspecto fundamental da autonomia técnico-
gerencial e econômica nessa caracterização. Do ponto de vista da autonomia técnico-gerencial, 
o médico liberal tem a capacidade de elaborar o diagnóstico, realizar anamnese, estabelecer um 
plano de tratamento do paciente, eleger a melhor conduta terapêutica para aquele caso, gerenciar 
o processo de trabalho no interior do seu consultório, em outras palavras, é ser dono do seu 
próprio negócio, tornando-se um pequeno empresário. Já na autonomia econômica, é a 
capacidade do profissional determinar, livremente, o valor dos seus serviços. Portanto, a 
medicina liberal é uma medicina de mercado determinada pelo mercado capitalista na troca de 
bens e serviços, que entende a saúde como uma mercadoria e não como um direito, gerando 
conflitos entre as pessoas que defendem a saúde como direito (garantida pelo Estado), sendo 
contrária a essa comercialização. 
Ademais, diante da intensificação dos fluxos de pessoas na zona urbana, devido a 
circulação de mercadorias e a venda de diversas formas de serviços, fez com que a medicina 
liberal partisse do pressuposto que a sociedade já estava imersa em ampla rede de relações 
mercantis generalizadas. Nesse contexto, a consulta médica torna-se uma espécie de marcador 
dos serviços de saúde, sendo uma unidade comercializada, de modo que, os valores passam a 
ser calculados a partir da mesma, tornando padrão referencial no estabelecimento dos valores 
nas trocas de bens e serviços. É válido destacar que, essa relação de compra e venda de 
consultas, está atrelada a subordinação ao esquema de reprodução mercantil simples, bem como 
o personalismo e o individualismo (relação médico/paciente), valorizando a concorrência e o 
mérito individual (na esfera econômica), sendo características primordiais da medicina liberal. 
Portanto, a centralidade do consultório médico é um lugar privilegiado para a realização 
do trabalho em saúde, na qual, essa relação médico-paciente (contato entre 
prestador/consumidor), historicamente, se desenvolveu em vários ambientes de práticas 
diferentes: 1) O médico vai ao domicílio do cliente, quando sua presença é expressamente 
solicitada; 2) O cliente busca o local específico de trabalho, o consultório; 3) Os dois se 
encontram em ambiente coletivo e tecnicamente diferenciado, o hospital. Seguindo essa lógica, 
o padrão do trabalho liberal se materializa na clientela própria, sendo essa, beneficiária dos 
serviços prestados pelo profissional, já que independe de intermediários, com exceção em 
alguns casos que acontecem nos hospitais, que sofrem interferências do Estado. Além disso, a 
situação supracitada ocorre de forma autônoma pelo profissional liberal, no qual, estabelece 
diretamente aos seus clientes, as condições de tratamento, remuneração e instrumentos de 
trabalho próprios, incluindo equipamentos e recursos. 
Concernente a monopolização da clientela ocasionada pelos grandes produtores e diante 
do aumento da concorrência entre os pequenos, surgiram três formas “atípicas” de prática 
liberal: 1) Produtor isolado com clientela mista, havendo perda da autonomia na fixação dos 
preços dos seus serviços; 2) Produtor autônomo em contexto coletivo, tem duas distinções: I- 
dispõe de clientela própria e utilizando meios de trabalhos de outrem; II- obedece a todas as 
normas institucionais de trabalho e não dispõe de clientela pessoal, recebe de acordo com o seu 
procedimento feito; 3) Produtor autônomo associado, estabelece relações de cooperação com 
outros produtores semelhantes. 
Em suma, é válido salientar que através da tecnificação crescente do ato médico, fez 
com que o emprego de instrumentos e equipamentos cada vez mais caros, fossem exigidos, 
assim, canalizando o estreitamento da clientela, uma vez que, passa a ser constituída cada vez 
mais por membros das camadas sociais mais elevadas, ou seja, podem pagar por esses 
serviços/consulta, fato chamado de “Empresariamento da Medicina”. Por fim, é o profissional 
liberal quem define as suas próprias regras, já que tem o domínio tanto sobre a sua força de 
trabalho e o seu estabelecimento, quanto ao ambiente interno que estão as pessoas que formam 
a equipe de trabalho. Com isso, o profissional liberal consegue ao mesmo tempo exercer a 
função de trabalhador e de pequeno empresário. Assim, fica evidente que, a Medicina Liberal 
é resultado do desenvolvimento derivado do capitalismo e das suas relações econômicas. 
 
REFERÊNCIA: 
NOGUEIRA, Roberto Passos. Do físico ao médico moderno: a formação social da 
prática médica. São Paulo: EdUnesp, 2007. P. 141 - 166 
 
https://ava.ufba.br/mod/resource/view.php?id=538016
https://ava.ufba.br/mod/resource/view.php?id=538016
https://ava.ufba.br/mod/resource/view.php?id=538016
https://ava.ufba.br/mod/resource/view.php?id=538016
https://ava.ufba.br/mod/resource/view.php?id=538016
https://ava.ufba.br/mod/resource/view.php?id=538016

Continue navegando