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UNIVERSIDADE FEEVALE LARISSA BRAGA IERQUE A ATUAÇÃO DO INSTITUTO LULA NO GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM DO EX-PRESIDENTE LULA NOVO HAMBURGO 2016 LARISSA BRAGA IERQUE A ATUAÇÃO DO INSTITUTO LULA NO GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM DO EX-PRESIDENTE LULA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo pela Universidade Feevale. Orientadora: Prof. Christine Bahia de Oliveira NOVO HAMBURGO 2016 LARISSA BRAGA IERQUE Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, com o título “A atuação do Instituto Lula no gerenciamento de crise de imagem do ex-presidente Lula”, submetido ao corpo docente da Universidade Feevale, como requisito necessário para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo. Aprovado por: ________________________________________ Profª. Dra. Christine Bahia de Oliveira Professora Orientadora ________________________________________ Prof. Dr. Henrique Alexander Grassi Keske ________________________________________ Prof. Dr. Everton Rodrigo Santos Novo Hamburgo, 2016 AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades e ser minha base em todos os momentos. Aos meus pais, Lina e Marcio, e minha irmã, Giulia, por terem sonhado junto comigo, me apoiarem desde o início, não medindo esforços para que eu chegasse até esta etapa da minha vida. Ao meu esposo, Filipe, pelo carinho e compreensão mesmo quando precisei me ausentar para me dedicar ao trabalho. Seu amor me faz querer ser cada vez melhor. Essa conquista também é tua. Aos meus amigos, por me apoiarem em todos os momentos e serem meus grandes incentivadores. Em especial, a Luiza, que me ouviu e teve paciência para me ajudar durante este semestre. A Universidade Feevale, seu corpo docente, direção e administração, que me oportunizaram tanto conhecimento nestes quatro anos de graduação. A minha orientadora Christine Bahia, pela incansável e excepcional orientação, apoio e incentivo durante o desenvolvimento do trabalho. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado. RESUMO Este estudo analisa a atuação do Instituto Lula, enquanto assessoria de imprensa, no gerenciamento de crise de imagem do ex-presidente Lula. O objetivo é esclarecer o papel do Instituto no gerenciamento de crise de imagem de Lula a partir da análise das publicações feitas no site oficial do Instituto. Com o levantamento bibliográfico foi possível contextualizar o jornalismo como um todo, o jornalismo político, o conceito de sociedade e opinião pública, as teorias de assessoria de imprensa, os conceitos de imagem e imaginário, as teorias para o gerenciamento de crise de imagem, além do conceito de organização não-governamental e institutos políticos bem como suas diferenças. Na fundamentação teórica o estudo buscou embasamento em autores como Martins (2005), Lorenzon e Mawadyie (2006), Pereira Jr. (2009), Lage (2005), Forni (2003) e Tachizawa (2007). A pesquisa se caracteriza por ser qualitativa, exploratória e bibliográfica. A metodologia utilizada se baseia na análise de conteúdo de Laurence Bardin (2011) com categorias pré-definidas. Durante este estudo foi possível observar as principais teorias sobre jornalismo político, o terceiro setor e a assessoria de imprensa. Além disso, através da análise foi possível comparar as teorias de gerenciamento de crise de imagem com as ferramentas utilizadas pelo Instituto Lula. Palavras-chave: Jornalismo Político. Assessoria de Imprensa. Gerenciamento de crise de imagem. Organização Não-Governamental. ABSTRAT This review analyzes the actions of the Lula Institute, as a Press office, on the image crisis management of the ex-president Lula. The objective is to make clear the institute's role on Lula's image crisis management from the analysis of the publication made on the official site of the Institute. With the bibliographical review it was possible to contextualizar journalism in general, political journalism, the concept of society and public opinion, the theories of press office, the concept of image and imaginary, the theories to image crisis management, besides the concept of non-governmental organization and political institutes as well as its differences. In its theoretical foundation the studies search for basis in authors such as Martins (2005), Lorenzon (2006), Pereira Jr. (2005), Lage (2005), Forni (2002) and Tachizawa (2007). The research is characterized for being qualitative, explorative and bibliographical. The methodology that is used is based on the analysis of contents from Laurence Bardin (2011) with pre-defined categories. During these studies it was possible to observe the main theories about political journalism, the third sector in the press office. Besides that, through the analysis it was possible to compare the theories of managing image crisis to the tools used by the Lula Institute. Keywords: Political journalism. Press office. Image crisis management. Non- governmental organization. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Ações específicas de assessoria de imprensa .....................................29 Tabela 2 – Características do terceiro setor............................................................37 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Desafios de gestão para organizações do Terceiro Setor....................44 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1 JORNALISMO POLÍTICO ................................................................................. 12 1.1 HISTÓRICO DO JORNALISMO POLÍTICO ................................................. 14 1.1.2 Jornalismo político nos dias atuais ............................................................ 16 2 ASSESSORIA DE IMPRENSA .......................................................................... 24 2.1 IMAGEM, IMAGINÁRIO E IDENTIDADE ..................................................... 29 2.2 GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM .............................................. 32 3 O TERCEIRO SETOR E AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS .... 37 3.1 TIPOS DE ONGS ............................................................................................. 42 3.2 GESTÃO DE ONGS ......................................................................................... 43 3.3 INSTITUTOS PRESIDENCIAIS ....................................................................... 45 4 METODOLOGIA ................................................................................................ 47 4.1 INSTITUTO LULA ........................................................................................ 50 4.1.2 Luiz Inácio Lula da Silva ............................................................................ 52 4.2 ANÁLISE .......................................................................................................... 53 4.2.1 Análise das publicações do Instituto Lula .................................................. 54 4.2.2 Análise geral ........................................................................................... 131 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 132 6 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO...................................................................... 135 10 INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta como tema a assessoria de imprensa e o gerenciamento de crise de imagem política. O objetivo foi esclarecer e discutir o papel do Instituto Lula no gerenciamento de crise de imagem do ex-presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto assessoria de imprensa, a partir da análise das publicações feitas em seu site oficial. Os objetivos específicos foram caracterizar e conceituar o jornalismo político no Brasil, indicar a atuação da assessoria de imprensa e as ferramentas de gerenciamento de crise de imagem, caracterizar o que são organizações não-governamentais e institutos presidenciais, além de traçar o perfil do Instituto Lula a partir da análise das matérias publicadas em seu site oficial. Como problema de pesquisa, o estudo se dedicou a investigar como o Instituto Lula se posiciona no assessoramento do ex-presidente Lula frente à imprensa. Como hipóteses para responder a estas questões, destacam-se: A imagem de Lula é defendida pelo Instituto. Através do gerenciamento de crise de imagem, o Instituto Lula apresenta a impressão provável de que a organização e o ex-presidente são inocentes. Para o desenvolvimento desta pesquisa foi utilizado como metodologia a pesquisa exploratória, bibliográfica e análise de conteúdo, sendo que foram criadas três categorias para serem analisadas: a presença do jornalismo político, ferramentas de assessoria de imprensa e gerenciamento de crise de imagem e funções de uma organização não-governamental. A análise foi baseada nas publicações feitas entre os dias 1º e 15 de março de 2016, totalizando 38 textos. O período foi escolhido em função da repercussão da condução coercitiva do ex-presidente Lula e das investigações da Operação Lava Jato. A partir dessa análise, então, foi possível traçar o perfil do Instituto Lula e se o mesmo trabalha para gerenciar a crise de imagem do ex-presidente. As principais referências para o presente trabalho foram os autores Martins (2005), Lorenzon e Mawadyie (2006), Pereira Jr. (2009), Lage (2005), Forni (2003) e Tachizawa (2007). O estudo é justificado pela percepção da capacidade da comunicação social de influenciar a sociedade, transformando o pensamento social e 11 pautando discussões e ideais. O ex-presidente Lula, envolvido em escândalos na Operação Lava Jato, está com uma imagem maculada, causando divisão de opiniões no país. O Instituto Lula, que teve sua fundação para promover a cooperação do Brasil com a África e a América Latina através do exercício pleno da democracia e a inclusão social aliada ao desenvolvimento econômico, neste momento se faz constantemente presente na mídia. Não por seus propósitos de origem, mas exercendo a função de assessoria de imprensa e, muitas vezes, porta voz do ex-presidente. Por isso, percebeu-se a necessidade de entender o motivo desta atuação e as delimitações de um instituto político, bem como refletir a função de um assessor de imprensa enquanto gerenciador de crises. No primeiro capítulo do presente trabalho foi apresentado o conceito de jornalismo bem como as características do jornalismo político, além de seu histórico e transformações ao longo dos anos. Também trata do conceito de sociedade e opinião pública. No segundo capítulo foi abordado o que é assessoria de imprensa e as ferramentas de gerenciamento de crise de imagem, além de conceituar o que é imagem e imaginário, fazendo uma relação com a influência no gerenciamento de crises. Para Forni (2003), a assessoria de imprensa tem relacionamento direto com o gerenciamento de crises, pois é possível, em alguns casos, evitar até mesmo que uma crise se inicie. Para situar o leitor e contextualizar o tema tratado, o terceiro capítulo discorre sobre o que são organizações não-governamentais e suas diferenças diante dos institutos presidenciais. Além disso, apresenta as funções de uma ONG, bem como a segmentação e a gestão. A partir de uma pesquisa detalhada, foi possível traçar o perfil do Instituto Lula enquanto assessores do ex-presidente. Também foi possível destacar as estratégias para gerenciar a crise de imagem de Lula, com a utilização de personalidades e ferramentas descritas durante o trabalho. 12 1 JORNALISMO POLÍTICO O jornalismo, segundo o autor Clóvis Rossi (1980), é uma batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos, que são os leitores, telespectadores e ouvintes. Ele considera que o jornalismo tem a capacidade de entrar na vida das pessoas proporcionando através das notícias, descobertas, conquistas e inspirações. Para Vivaldo Azevedo (1979): Todo homem normal se interessa pela vida do outro, suas ambições e necessidades, para formar sua própria teoria e poder comparar-se, modernizando os conceitos sobre os mais diversos assuntos. Como indivíduo social, o homem gosta de transmitir suas mensagens e de receber de outras ideias os novos conhecimentos. (AZEVEDO, 1979, p.25) Luiz Beltrão (1992, p.67), conceitua o jornalismo, em sua obra Iniciação a filosofia do jornalismo, como “a informação de fatos correntes, devidamente interpretados e transmitidos periodicamente à sociedade, com objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem comum”. Já para Juarez Bahia (1964), o conceito de jornalismo é definido como o registro e a apreciação dos acontecimentos de interesse geral, a transmissão de informações, fatos ou notícias, com exatidão, clareza e rapidez, conjugando pensamento e ação. O jornalismo integra o universo da cultura, como espaço público, processo e linguagem de interpretação e socialização de discursos sociais conflitantes. É o que afirmam os jornalistas Norma Alcântara e Manoel Carlos Chaparro (2005) em sua obra “Imprensa na berlinda: a fonte pergunta”. Como linguagem, ambiente e processo, o jornalismo tem de ter a virtude essencial da confiabilidade, sob risco de fracassar. Segundo Alcântara e Chaparro (2005, p. 132): 13 Para o jornalismo ser e persistir confiável, as redações devem poder atuar com independência, liberdade e compromissos éticos. Essa é a expectativa da sociedade. Para o jornalismo poder ser independente, livre e ético, as culturas democráticas mais avançadas o vinculam aos objetivos cívicos e políticos das sociedades, impondo-lhes razões de valores e princípios, como liberdade, igualdade, paz, justiça, democracia, solidariedade, dignidade, direito à informação, à honra, etc. – as razões da vida e dos direitos humanos fundamentais. Por isso, não se imagina nem se aceita um jornalismo sem compromissos éticos, ou seja, sem a razão de ser dos valores e dos princípios que ordem os ideários das respectivas sociedades. (ALCÂNTARA; CHAPARRO, 2005, p.132) Vale lembrar que todos os dias, milhares de notícias são divulgadas e o trabalho dos jornalistas são comparados. Mas ler jornal não é o suficiente para ser um bom profissional de jornalismo. Checar as informações é essencial para a boa execução do trabalho jornalístico. Afinal, uma informação mal interpretada ou tendenciosa pode prejudicar uma carreira de anos de um repórter (MARTINS, 2005, p. 72). A checagem das informações vai além de ler e conversar com fontes. É parte de um trabalho em equipe. De contar com o colega de dentro do veículo e realizar um trabalho de qualidade, ainda que com muitas mãos. Porém, é preciso ter cuidado quando a relação se dá com jornalistas de fora. Segundo Martins (2005), há dois possíveis níveis de relação: lamentável e saudável. O tipo de relação lamentável ocorre da seguinte forma: Jornalistas de diferentes jornais, em princípio, competem entre si. Mas, às vezes, há quem faça o contrário, troque informações e – pior – combine a embocadura da matéria. Mais graveainda é quando ocorre o pacto de mediocridade, em geral nos momentos de confusão política ou de virada de situação. O repórter não sabe bem para que lado deve atirar, vê que o colega ao lado também está na dúvida, os dois detectam um terceiro vivendo o mesmo drama, e pronto: como quem não quer nada, entram em um acordo formal ou informal, e todos passam a atirar na mesma direção. No dia seguinte, quando se abre os jornais, eles estão iguaizinhos. (MARTINS, 2005, p.75). Já as relações saudáveis existem e são muito importantes no processo de construção da notícia. Para Martins (2005): 14 São aquelas que versam sobre assuntos que não têm a ver diretamente com a notícia do dia. Estão concentradas em background information: visões sobre a evolução de determinado problema, avaliações gerais sobre a situação, análise do comportamento desse ou daquele político, discussões sobre o que é fogo de palha e início de incêndio, casos do folclore político etc. Nessas conversas, mais do que o fato do dia, a moeda é a reflexão, a opinião. Se o pool é um pacto de mediocridade, a troca de informação de fundo entre colegas é o contrário: um jogo refinado em que, geralmente, todos saem ganhando. Mais importante: o leitor também. (MARTINS, 2005, p.76). Além do cuidado com o relacionamento entre profissionais, é preciso uma boa técnica de escrita. Segundo Martins (2005, p. 108), “um jornalista que não domina as palavras é como um pintor que não domina o pincel”. E a técnica de se escrever bem não surge do dia para a noite. É preciso ler para saber o que perguntar às fontes, ler matérias clássicas sobre jornalismo para entender de que forma se atinge o ápice dentro desse meio, e o cuidado com a linguagem não falada. Afinal, os detalhes, expressões e gestos são capazes de entregar quando algo é verdadeiro ou não (MARTINS, 2005). Conhecendo, então, conceitos do jornalismo, partimos para a definição de uma especialização jornalística, que é a política. 1.1 HISTÓRICO DO JORNALISMO POLÍTICO Do início do século XIX aos dias atuais, quase duzentos anos de história política se passaram e, com ela, a evolução da imprensa brasileira. A criação do Correio Braziliense, em 1808, por Hipólito José da Costa, não marca somente o nascimento da imprensa brasileira como também o início do processo que levou ao surgimento do jornalismo político nacional. Segundo Seabra e Sousa (2006), a Independência, ocorrida em 1822, fez com que as disputas políticas no Brasil fossem refletidas na imprensa política. Afinal, a separação de Portugal exigia uma imprensa atuante e que fizesse um posicionamento claro politicamente. Já no período regencial, como ainda não haviam partidos políticos, os veículos representavam três grandes grupos: exaltados, moderados e restauradores. Isso fez com que houvesse uma multiplicação de jornais e folhas (SEABRA; SOUSA 2006, p. 115). 15 Em 1832, com mais de cinquenta jornais no Brasil, Sodré (1999) define os veículos como Agressivos, injuriosos, menos preocupados com problemas gerais do que com as pessoas, espalhando a confusão sem o menor respeito pela vida privada de ninguém. (Otávio Tarquínio de Sousa, apud SODRÉ, 1999, p. 122). Segundo Sodré (1999, p. 122), “essa imprensa marrom não poupou ninguém”, afinal, tudo repercutia na Câmara e na imprensa. Nesse período, surgem jornais como Caramuru, Trombeta, Clarim, Diário do Rio e Aurora Fluminense. A maioria das publicações destes veículos era, segundo, Sodré (1999, p.122), “composta por pasquins que tinham uma vida breve e que lançavam mão de um tipo de humor violento”. Além das disputas no centro do poder, a imprensa brasileira daquele período teve um papel relevante nos conflitos regionais, como a Cabanagem, a Sabinada e a Farroupilha. Estas disputas políticas e rebeliões nas províncias moldaram o período regencial, cristalizando dois grandes grupos políticos: o Conservador e o Liberal (SEABRA; SOUSA, 2006). Já a imprensa das décadas de 50 e 60 do século XIX reflete o clamor de conciliação pacífica e acordo entre elites, o que permitiu o início de uma modernização no Brasil, ocasionando o surgimento de novos órgãos de imprensa como O Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, O Correio Paulistano, O País e O Correio da Manhã (SEABRA; SOUSA, 2006). O desenvolvimento industrial, em 1870, gera dois grandes temas que estampavam as páginas dos jornais: a campanha abolicionista, que com o fim da guerra do Paraguai ganha impulso; e a campanha republicana. Segundo Seabra e Sousa (2006, p. 117), “as duas voltam a exigir um jornalismo engajado, menos panfletário do que aquele feito nas primeiras décadas do século, mas com a mesma capacidade de mobilização”. O período de 1894 até 1930 é o período da chamada “política dos governadores”. A imprensa desse período é marcada pela coexistência de dois grandes grupos: veículos ligados à elite agroexportadora e jornais que representavam as camadas médias da sociedade. Em meados do século XX, uma aproximação entre literatura, jornalismo e política revolucionou as redações. E o auge da imprensa brasileira ocorre entre 16 1945 e 1964, quando os jornais e revistas brasileiras entram em nova fase, com forte influência norte-americana (SEABRA; SOUSA, 2006). Enquanto o jornal Última Hora – que tinha como ideia trazer conteúdo político com linguagem popular, diagramação inovadora e defendia o governo Getúlio Vargas – e Tribuna da Imprensa – que fazia oposição a era Vargas –, disputavam entre governo e oposição, outros veículos surgiam como inovadores: Correio da Manhã e Jornal do Brasil. É nesse período que surgem grandes nomes da crônica política brasileira, como Villas-Bôas Corrêa e Heráclio Assis de Sales (SEABRA; SOUSA, 2006). 1.1.2 Jornalismo político nos dias atuais O jornalismo político mudou, assim como o exercício da função. A informação detalhada, trabalhada e com qualidade ocupa o espaço até então ocupado pelo mero preenchimento diário de páginas de jornais nas editorias políticas. O jornalismo político, que passou por grandes mudanças nas últimas décadas, tem como a maior preocupação da cobertura jornalística informar sobre o que realmente acontece nos bastidores das Câmaras, Congressos, Assembleias e Palácios. A ideia de convencer o leitor a aprovar determinado partido, ideia ou candidato não é mais o foco dentro da imprensa política (MARTINS, 2005). Segundo Martins (2005, p. 17): Até algumas décadas atrás, os jornais, em sua maioria, tinham um caráter quase partidário. E dirigiam-se também a um leitor razoavelmente partidarizado. Para um e para outro, a opinião era ou mais importante que a notícia. (MARTINS, 2005, p.17) De acordo com Franklin Martins (2005), que durante muito tempo trabalhou no jornalismo político e foi ministro das Comunicações no Governo Lula, nessa época os leitores buscavam os jornais esperando encontrar cobertura afinada com seu viés político. Para Pena (2005) as relações de interesses entre a imprensa e o poder são vinculadas diretamente ao desenvolvimento e construção da sociedade: 17 A história da imprensa em todo mundo está ligada à história do poder. Mesmo nos países mais democráticos sempre houve estreita relação entre as empresas jornalísticas e os governos. Na maioria das vezes, há uma dependência mútua. Por um lado, anúncios oficiais movimentam milhões de dólares para os conglomerados de mídia. Por outro lado, aos governos também interessa um bom relacionamento com essas empresas a fim de manter uma imagem positiva perante a opinião pública. Casamento perfeito. Mas quando há divórcio, os ferimentos são mortais. Em alguns casos, levam a queda de presidentes ou falências. (PENA; 2005, p.103) Para cobrir política, o repórter precisa saber com o que está lidando, e para isso deve estudar, treinar e se aperfeiçoar para saber como ocorrem osprocessos dentro do Planalto, do Congresso, das Assembleias etc. Afinal, somente entrevistar os personagens principais da história não tornam a matéria essencial para leitura. Pelo contrário, gera um texto ingênuo, sem capacidade de interpretação do repórter e sem apuração adequada. (PENA, 2005) Para se compreender como se deu o processo que resultou na composição entre Ulysses e Waldir, por exemplo, é preciso entender o PMDB. Sua história. Como se formou. Para entender o PMDB, é preciso entender a história recente do Brasil. Como se deu a divisão das forças políticas durante a ditadura militar. De que forma se processou o bipartidarismo de então. Como as forças de oposição organizaram-se no MDB. O que ocorreu após a abertura democrática e a volta do pluripartidarismo. Como essas mesmas forças que se opunham à ditadura espalharam-se por diversos partidos. Quem ficou então no PMDB. Que pensamentos e interesses políticos representava. (LAGO, 2006, p. 148) Mesmo em meio ao turbilhão de informações recebidas diariamente através da televisão, rádio, jornais, revistas, internet, newsletters e assessorias de imprensa, o leitor pode se sentir confuso e perplexo. Nesse sentido, a interpretação dos fatos tem papel fundamental na construção dos valores e da opinião do leitor. Através dela, se procura causas e se avalia consequências, podendo, assim, ter um posicionamento real dos fatos. (MARTINS, 2005) Há vinte ou trinta anos, o noticiário político limitava-se à enunciação seca dos fatos, às declarações de autoridades e de parlamentares, à reprodução de comunicados. O leitor que se virasse para entender o que estava acontecendo. (...) Hoje em dia, muitos jornais estimulam os repórteres a escrever as matérias em um formato em que a notícia não é apenas dada, mas também interpretada. (MARTINS, 2005, p.22 e 23). Apesar de o jornalista que trabalha com política precisar contextualizar a notícia para situar o leitor, é preciso também saber lidar com a ética dentro do seu ambiente de trabalho. Para Martins, não há uma ética específica no 18 jornalismo político e tão pouco no jornalismo como um todo. Independentemente da cor da pele, classe social, gênero, idade ou sexo, é preciso seguir valores morais e obedecer a padrões de conduta. Ou seja, não há uma ética particular para cada segmento profissional e “o que varia são as situações de risco, os tipos de tentações e de pressões, os mecanismos de recompensa e punição” (MARTINS, 2005, p. 30). Justamente para evitar desvios de conduta dentro do jornalismo, vários veículos criaram manuais de conduta, que determinam o valor de presentes recebidos, propostas que devem ser avaliadas e forma de contato com as fontes. Em alguns casos, serve inclusive para que o jornalista tenha uma desculpa para recusar propostas ambíguas. Martins (2005) aponta que o trabalho do jornalista político é fácil pelo fato de existir uma enorme quantidade de fontes de informação. Somente em Brasília, por exemplo, há 513 deputados, 81 senadores, mais de 30 ministros e 11 integrantes do Supremo Tribunal Federal, fora suas assessorias. Portanto, a regra número 1 do jornalismo político é conversar com diversos tipos de pessoas, de vários lugares e com opiniões distintas. Afinal: Boa parte da luta política resume-se à disputa entre as diferentes versões do mesmo fato. Políticos mentem muito – às vezes até quando pensam em falar a verdade – e poucos são fontes confiáveis. Mas têm acesso a muita informação e são fontes imprescindíveis. Não dá para passar sem eles, mas tampouco dá para comprar a mercadoria pelo preço que é vendida. (MARTINS, 2005, p. 47) A solução, portanto, é correr atrás de fatos que possam aprovar ou refutar a informação dada. Como o jornalista não possui um ponto de partida confiável, quanto mais informações reunir sobre o assunto, mais próximo da verdade estará. Entretanto, é necessário usar o bom senso quando se trata da distância correta a se manter das fontes. Para Franklin (2005), sempre que surgirem situações desconfortáveis com a fonte – ainda que seja de alguém próximo – é preciso que o jornalista se pergunte se está cumprindo seu dever com a sociedade. Afinal, por mais que as fontes sejam importantes para o processo de construção da notícia, não deve ultrapassar o compromisso de informar com responsabilidade e independência (MARTINS, 2005). 19 Notícia, para Martins, é comunicação do fato. Segundo o jornalista "pode ser quase tudo ou quase nada – depende da informação prévia do leitor, telespectador ou ouvinte sobre o assunto" (MARTINS, 2005, p. 21). Quando a notícia é de fácil acesso para todos, como por exemplo a eleição de um presidente da república, a compreensão acontece de forma mais rápida em função do bombardeio de informações divulgadas antes do fato. Já quando a notícia fala sobre a eleição de um presidente da Câmara dos Deputados, como não é tão popular, faz com que alguns cidadãos fiquem sem compreender a informação por falta de conhecimento sobre o mesmo. Um dos motivos para essa mudança é o fato de, segundo Corrêa (2002), as pautas terem se renovado, assim como os profissionais que lidam com o jornalismo político. A cobertura política evoluiu de acordo com a necessidade de mais informações e com o afastamento da opinião dentro das redações e nas publicações feitas diariamente. Ou seja, além de evoluir a editoria, a imparcialidade também traz coerência e compromisso quando o assunto é jornalismo político e seus atores dentro do processo político-social. Por contar com a experiência e o tempo a seu favor, o jornalista político precisa trabalhar na credibilidade passada para as fontes. Afinal, ninguém conversará sobre um assunto sério com um profissional descomprometido e irresponsável quanto à divulgação dos reais fatos. Por isso, é preciso manter uma boa relação com as fontes dentro do processo de construção da notícia: A cada período, como parece evidente, renovam-se as fontes de informações dos repórteres, na reciclagem do poder. Entre as muitas divisões para a classificação das fontes pelos critérios da confiabilidade, da segurança das informações, do acesso ao centro decisório do poder, a primeira aparta o informante vocacional – que se aplica à especulação, que se sabe tudo, está sempre atento e sobrevive às mudanças de governo e de situações -, daqueles que, pelas mutáveis circunstâncias da intimidade com os mandantes do momento, desfiam o rosário de confidências aos primeiros ouvidos dispostos a escutá-los. (CORRÊA, 2002, p. 100) Segundo Pereira Junior (2009, p.19), “a realidade não é vista quando o público lê um jornal ou revista, assiste televisão, navega na internet ou ouve rádio”, mas sim quando consegue formar sua opinião através de um trabalho que mostre vários lados e ângulos de determinada notícia. Para Pereira Junior (2009, p.19): 20 Expor o acontecido significa, antes de mais nada, escolher episódios, aproximar eventos dispersos, privilegiar um incidente em lugar do outro. A notícia encurta trechos expositivos, estica outros, relembra episódios correlatos ou suprime momentos inteiros, sem dó nem piedade. (PEREIRA JR., 2009, p. 19) Assim, além de filtrar o que é mais importante para a sociedade, o jornalista precisa saber interpretar os acontecimentos a sua volta e em torno do fato noticiado: O trabalho jornalístico seria, assim, o de explicar o encadeamento de eventos que produziram o fato, não falsear a sua ordem, mas dar legitimidade a suas escolhas ao encadear o evento a outros, também legitimados. [...] Os fatos serão mais sólidos quanto mais implicados estiverem numa cadeia mais ampla, coesa e interdependentes de eventos. (PEREIRA JR., 2009, p. 29) Justamente para ajudar a sociedade a formar uma opinião sobre o que acontece no meio político, muitos veículos procuram deixar a notícia nitidamente separada da opinião. Issofaz com que dentro do jornalismo político existam dois gêneros: cobertura jornalística e jornalismo opinativo. Para Franklin Martins (2005): Muitos diários e emissoras de televisão fazem, por conta própria, controles periódicos do espaço ou do tempo dedicado aos candidatos, de modo a garantir que, no noticiário, sua presença seja equitativa ou, pelo menos, proporcional a seu peso eleitoral. (MARTINS, 2005, p. 18). Portanto, essa mudança no noticiário político trouxe um intenso processo de modernização e profissionalização. As principais transformações acontecem em dois pontos: nos veículos e no perfil do leitor. Essa mudança estratégica teve enorme impacto na alma e na cara dos jornais. Na alma: eles tiveram de deixar bem claro para o leitor que vendem informação, e não opinião embrulhada em notícia. Daí a necessidade da isenção na cobertura jornalística. Na cara: os jornais passaram a cobrir áreas que antes eram desprezadas, criando editorias ou cadernos voltados para segmentos específicos. (MARTINS, 2005, p. 19). Por isso, a tendência dentro do jornalismo político é o de respeitar a pluralidade de opiniões dos leitores, ouvintes e telespectadores. Levando, assim, a informação contextualizando para que o leitor se situe e, também, separando a notícia da opinião. Isso não quer dizer que a imprensa de opinião ou partidária esteja com os dias contados. Segundo Martins (2005): 21 Esse espaço vem se deslocando progressivamente do terreno dos jornais diários, em que os custos de produção são altíssimos, para o das publicações de periodicidade mais longa, como seminários, quinzenários e revistas. Sindicatos, associações profissionais, movimentos sociais, grupos culturais e círculos de debates produzem e continuarão a produzir regularmente publicações voltadas para seu público específico, mas com edições bem espaçadas. (MARTINS, 2005, p. 20). Além das publicações feitas pelas associações profissionais e sindicatos, a migração do papel para a internet tem disseminado as informações político- partidárias da imprensa. Afinal, possui baixo custo, a alimentação é ágil, a interação é fácil e vem se afirmando como “mídia talhada para a imprensa segmenta e partidarizada” (MARTINS, 2005, p.20). Ou seja, a imprensa de opinião está longe de desaparecer, mas tende a florescer no meio eletrônico. Entretanto, a imprensa de opinião dificilmente voltará a ser protagonista. O motivo é simples: a mídia tradicional precisa se dirigir para públicos plurais, que façam clara separação entre informação e opinião, respeitando o posicionamento dos diversos tipos de leitores. Portanto, a aposta dos veículos está nas colunas de opinião, com jornalistas, cientistas políticos e profissionais ligados a cobertura política que debatem, escrevem e falam sobre determinado fato diante de sua visão crítica (MARTINS, 2005). Segundo Barnett e Gaber (2001), o jornalismo político tem passado por uma crise. Ela tem quatro principais causas: a redundância de notícias políticas, os desafios de se fazer jornalismo com novas tecnologias, o jornalismo tradicional versus amador, e as pressões econômicas e comerciais, que exigem um jornalismo político mais sério. (BARNETT e GABER, 2001). Um agravante que tem feito muitos jornalistas perderem a credibilidade é a falta de atualização da informação. Para Franklin Martins (2005), o jornalista deve começar o dia lendo jornais. No mínimo, o veículo em que trabalha e o principal concorrente. Segundo Martins (2005), o principal compromisso do jornalista é com a sociedade e não com a opinião pública. Dentro do jornalismo político, principalmente, é preciso saber lidar com ambos sem confundir seus conceitos e funções. A opinião pública, por exemplo, é a opinião predominante na sociedade. Para o jornalista político, a opinião pública é importante, pois tem um forte 22 impacto sobre os fatos políticos. Portanto, é imprescindível que o jornalista político saiba interpretar os humores da opinião pública para entender as tendências do desenvolvimento do fato em questão. Martins (2005), entretanto, aponta os cuidados com a opinião pública: Ela é um perigo com sua mania de simplificar as coisas e pronunciar verdades absolutas e definitivas sobre tudo. Todos nós temos uma tia assim. E sabemos que não é fácil lidar com ela e, muito menos, contrariá-la. O melhor é manter certa distância dela. (MARTINS, 2005, p.35). Enquanto a opinião pública é apenas um ator dentro do processo político, a sociedade, com quem o jornalismo precisa ter sua principal lealdade, tem suas vontades, objetivos, definições e desejos já consolidados, sem um público específico a seguir. O compromisso do jornalista não é com o que pensa a parte mais ativa e participativa da sociedade, mas sim com os interesses gerais da comunidade e sociedade. Para manter a independência diante do poder, Martins (2005) explica: Mal ou bem, os grandes jornais, rádios e TVs conhecem seu próprio poder de fogo e sabem que seu principal capital é a credibilidade, algo que só se conquista e mantém com independência, o que, por sua vez depende da credibilidade e da independência de seus profissionais. (MARTINS, 2005, p.36). Além de se preocupar mais com a sociedade do que com a opinião pública, o jornalista político deve se precaver dos boatos. Afinal, na luta política, os atores sempre tentam apresentar os fatos de acordo com o ângulo que lhes favorece. Por isso, o repórter precisa aprender a livrar-se da “contra- informação”. Para Franklin (2005): Nessa guerra, vale-tudo: a verdade e a meia verdade, a inverdade e a quase-verdade, a mentira piedosa e a mentira deslavada, a calúnia e a intriga, a adulação e a propaganda, a ficção política e o conto da carochinha. Inventa-se qualquer coisa para promover ou derrubar alguém, esvaziar ou vitaminar carreiras, limpar a área ou congestionar o meio-campo. Por isso mesmo, só garimpa bem a informação o repórter que consegue se desvencilhar da contra-informação. (MARTINS, 2005, p.70 e 71) Ao longo desse capítulo, além de conceituar o jornalismo e a especialização política, bem como seu histórico, foi possível observar as mudanças que ocorreram ao longo dos anos dentro do meio político e, 23 consequentemente, do jornalismo em si. Partimos, então, para uma das funções do jornalismo: a assessoria de imprensa. 24 2 ASSESSORIA DE IMPRENSA Como citado no capítulo anterior, jornalista é o profissional que trabalha na imprensa e com a imprensa. Seu objetivo é transmitir, de forma clara e objetiva, as notícias para o público, cumprindo seu papel de levar a verdade para a sociedade. Dentro da profissão de jornalista, há a função de assessoria de imprensa. Entretanto, vale ressaltar que não é uma exclusividade do jornalismo. Para Norma Alcântara e Manoel Carlos Chaparro (2005), o jornalista Ivy Lee foi quem marcou o surgimento da Assessoria de Imprensa: (...) somos mais ou menos herdeiros de um americano chamado Ivy Lee. Em 1906, ele inventou a atividade especializada que hoje chamamos de assessoria de imprensa ou assessoria de comunicação. Com um bem-sucedido projeto profissional de relações com a imprensa, a serviço de um cliente poderoso, Ivy Lee conquistou por direito e mérito, na história moderna da comunicação social, o título de fundador das relações públicas, berço da assessoria de imprensa. Ou vice-versa. (ALCÂNTARA; CHAPARRO, 2005, p. 34) Já no Brasil, o modelo de jornalismo empresarial foi, em grande parte, definido durante o período em que o Brasil se encontrava no surto de industrialização pós-guerra (...) entre as décadas de 40 e 60. Trazido pelas mãos das corporações norte-americanas - este período foi marcado igualmente pela implantação das primeiras multinacionais americanas no país - os jornais empresariaisbrasileiros acabariam por se tornar produtos híbridos como seus congêneres do norte, que se baseiam, sobretudo, na tentativa de síntese entre o jornalismo, o marketing e as relações públicas. (LORENZON; MAWADYIE, 2006, p. 55) A assessoria de imprensa da Volkswagen é apontada por vários autores como pioneira no Brasil. Segundo Duarte (2011, p. 57), o jornalista Alaor Gomes foi chamado em 1961 para estruturar um setor específico de ligação entre a imprensa e a Volks. O setor surgiu como “Seção de Imprensa” e foi incluído na Divisão de Relações Públicas. Os primeiros materiais desenvolvidos eram chamados de calhaus – pequenas notas de oito a dez linhas redigidas para ocupar pequenos espaços que ficassem vazios quando finalizassem a diagramação das páginas. O objetivo, segundo Duarte (2011, p. 57), não era, necessariamente, obter citações da empresa ou dos produtos, mas sim “tornar o tema transporte de interesse da imprensa, valendo-se de uma divulgação 25 baseada na prestação de serviços, que criasse credibilidade para que a Volks se tornasse fonte dos veículos de comunicação”. A iniciativa foi tão bem- sucedida que jornalistas faziam visitas regulares a fábrica, e com isso, aumentaram as pautas sobre a indústria automobilística. (DUARTE, 2011). Por isso, a década de 60 foi marcada, principalmente, pelo desenvolvimento das práticas de relações públicas e sua regulamentação, ocorrida em 1967. Apesar dos profissionais de relações públicas atuarem nas assessorias de imprensa, jornalistas também fazem parte do campo de atuação da AI. Segundo Gerson Lima (1985, p.14), a “expansão das assessorias de imprensa é um fenômeno que, no Brasil, coincidiu com o regime militar pós-64”. Quando a sociedade brasileira volta a exercer seu papel político no Brasil, as assessorias de imprensa passaram a ser redimensionadas e voltam a cumprir o papel de facilitadoras da busca do repórter pela notícia. (LIMA, 1985, p. 14) A Assessoria de Imprensa é responsável pelas informações e publicações diárias de notícias na mídia. Através do contato diário e permanente com os veículos de comunicação, os assessores de imprensa buscam a publicação de seus textos, trazendo prestígio aos seus assessorados. Para Chinem (2003): A Assessoria de Imprensa trabalha com material redacional, que não é pago; ele é enviado para a mídia, que o aproveita dependendo do seu valor, o qual, por sua vez, leva em conta unicamente o interesse do leitor. Em uma redação nunca se deve pensar em incrementar vendas nem em impulsionar negócios dos outros. Importante é a notícia. E notícia não tem preço (CHINEM, 2003, p. 18). De acordo com as concepções de Chinem (2003), as funções da assessoria de imprensa podem ser relacionadas nos seguintes tópicos: buscar consolidar o relacionamento do cliente com a mídia, procurar oportunidades para desenvolver novas atividades para a empresa, promover a imagem da empresa/entidade perante o público-alvo, capacitar o cliente na hora de se relacionar com a mídia, fazer um planejamento da empresa/entidade sobre a opinião pública, e assessorar os diversos setores. Segundo Ferraretto e Ferraretto (2009, p. 14), as atividades das assessorias podem ser sintetizadas no relacionamento com os veículos de comunicação, realização de clipagem, organização e atualização da mailing list, 26 edição de house organs – periódicos destinados aos públicos interno e externo –, elaboração de produtos jornalísticos como fotografias, vídeos e programas de rádio e televisão, produção de impressos variados, e participação no estabelecimento de estratégias de comunicação. A vida de uma organização está diretamente relacionada com seus públicos, que variam de acordo com a atuação da instituição. Fazem parte da organização o público interno – funcionários e dirigentes –, público externo – consumidores, clientes, fornecedores e usuários –, e públicos mistos – acionistas. Para aprimorar o fluxo de informações entre os públicos de determinada organização, utiliza-se os serviços de assessoria de imprensa. A assessoria de imprensa pode ser um departamento interno, pode ser contratado por empresas terceirizadas, ou, ainda, um misto com as duas modalidades anteriores. (FERRARETTO, Elisa Kopplin; FERRARETTO, Luiz Artur, 2009). De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais (2007, p.8), a função do assessor de imprensa é “facilitar a relação entre seu cliente – empresa, pessoa física, entidades e instituições – e os formadores de opinião”, cabendo a esse profissional orientar o assessorado quanto ao que pode ou não interessar aos veículos e, portanto, vir a ser notícia. Assim, uma das principais atribuições do assessor de imprensa é intermediar a relação entre o assessorado e os veículos de comunicação. A matéria-prima, neste caso, é a informação e o processo de abordagem para divulgação da notícia. Para Lopes (1994, p. 9), o assessor de imprensa deve facilitar o acesso dos grupos externos às realizações de uma empresa ou instituição, por meio de uma linguagem simples e organizada, mediada pelos meios de comunicação, além de promover a integração e a satisfação de segmentos internos que convivem e sustentam as estruturas organizacionais. (LOPES, 1994, p.9) Portanto, é importante que o assessor de imprensa mantenha um bom relacionamento com os variados públicos da empresa, organização ou instituição, a fim de que as informações sejam entregues corretamente aos veículos e ao público em geral. 27 Segundo as concepções de Lorenzon e Mawadyie (2006, p.12), o universo da comunicação empresarial jamais estará completo sem um profissional que realize a ancoragem dos fatos. Com isso, a comunicação institucional moderna acabou sendo baseada no seguinte tripé: jornalismo, propaganda e marketing, e relações públicas. Portanto, segundo Lorenzon e Mawadyie: Isto deu ao assessor de imprensa uma enorme importância estratégica. Uma assessoria moderna precisa definir com precisão estratégias de comunicação para os diferentes perfis de mídia e de público, e identificar as oportunidades de inserção de matérias nos mais diferentes veículos. (LORENZON; MAWADYIE, 2006, p. 12) Duarte (2011), explica que por atuarem como intermediários qualificados que aproximam fontes e imprensa, os assessores de imprensa estimulam a circulação de informação verdadeira e de credibilidade. Assim, os assessores “ajudam a implantar uma cultura de transparência nas relações entre organização e a sociedade” (DUARTE, 2011, p.61). O autor faz um comparativo com os benefícios da assessoria de imprensa também dentro das redações: De um lado, auxiliam os jornalistas, ao fornecer informações confiáveis e facilitar o acesso. De outro, orientam fontes na compreensão sobre as características da imprensa, a necessidade e as vantagens de um relacionamento transparente e ainda as capacitam para aproveitar da melhor maneira possível as oportunidades oferecidas pelo interesse jornalístico. (DUARTE, 2011, p. 61). Quando repórteres procuram assessores em busca de uma entrevista, cabe ao assessor identificar e escolher os melhores caminhos para o atendimento. Segundo Lorenzon e Mawadyie (2006, p. 15), “o assessor deve munir-se do material jornalístico de suporte e comparecer à sala da fonte minutos antes do horário marcado para a entrevista. A fonte, em geral, vai aproveitar e comentar com o assessor sobre sua estratégia de defesa”. Depois de encerrada a entrevista, o assessor continua agindo com a mesma cordialidade que precedeu a entrevista e acompanha o repórter até a saída. (LORENZON; MAWADYIE, 2006). No processo de filtragem entre o que pode vir a ser notícia e público que terá acesso a determinada informação, o assessor pode poupar tempo do repórter e auxiliá-lo a entender a situação que envolve seu assessorado antes da entrevista iniciar. Entretanto, segundoLima (1985, p. 37), o repórter “deve 28 investigar a fonte, analisar o conteúdo do texto e estar atento para aquilo que, talvez, tenha sido omitido”. Isso porque o assessor de imprensa, de acordo com Lippmann (1919), em seu artigo A Natureza da Notícia, afirma que “assessor de imprensa só é responsável pela verdade na medida em que essa se harmoniza com a concepção que tem o empregador dos próprios interesses”. Segundo Lorenzon e Mawadyie (2006, p. 13), um dos principais desafios dentro do jornalismo é manter a credibilidade e não ceder às notícias tendenciosas. Uma das alternativas é apostar na internet, afinal “é inadmissível que empresas de algum porte não possuam um site próprio, para veicular as ações da organização e ancorar as notícias para a imprensa comerciais de alguma importância sem um pequeno portal com material sobre ela mesma e sobre seus clientes”. Com a modernização das assessorias e o fácil acesso a informações na internet, a mais tradicional ferramenta das assessorias de imprensa – o press- release – está, segundo Lorenzon e Mawadyie, desacreditada. Isso se deve ao fato de “muitos releases trazerem poucas informações relevantes e serem, às vezes, muito mal escritos” (2006, p.34). Outro fato que também traz descrédito para o press-release é a veiculação de informações distorcidas ou incompletas. O que dá retorno dentro das redações, para Lorenzon e Mawadyie (2006), é: (...)o release bem feito, que traz notícias, tem densidade, abre horizontes para as redações. O que toda assessoria, no fundo, sabe há muito tempo. Então porque as assessorias não insistem? A resposta é simples. O mercado não cobra. Há uma acomodação geral quanto ao release. (...) É fácil concluir, então, que o problema não é a notícia desinteressante, nem o texto ruim em si, quase sempre originado da falta do que dizer. É a falta de inserção do release numa estratégia de comunicação mais global da assessoria. (LORENZON; MAWADYIE, 2006, p. 35) Assim, para exercer o papel de assessor de imprensa, o jornalista precisa saber as técnicas corretas de abordagem da imprensa, como por exemplo, um release que não ultrapasse 30 linhas, um conteúdo com assuntos enfatizados e que chamem a atenção da imprensa, bem como um clipping de qualidade. Na tabela abaixo, é possível verificar as principais ações específicas de assessoria de imprensa segundo a autora Sêmia Mauad: 29 Tabela 1: ações específicas da assessoria de imprensa 1. Envio de press releases; 6. Manter o mailing atualizado; 2. Preparo do clipping; 7. Montar o press kits; 3. Follow up; 8. Realizar entrevistas coletivas e individuais; 4. Gerenciar crises; 9. Manter um bom relacionamento com a mídia; 5. Preparar Media Training para os seus assessorados. Fonte: Sêmia Mauad Além destas ferramentas de trabalho dentro das assessorias de imprensa, há momentos em que é preciso lidar com crises de imagem, como veremos a seguir. 2.1 IMAGEM, IMAGINÁRIO E IDENTIDADE Diante de situações que envolvem grandes fenômenos e personagens midiáticos, algumas questões estão entrelaçadas: a imagem, o imaginário, a identidade e a reputação que se faz a partir de um fato ou notícia. É o caso do ex-presidente Lula, que apesar de ter seu nome citado em escândalos como da Lava Jato, ainda é aclamado por muitos. Segundo Roberto de Castro Neves (1998, p. 3) a imagem “é como percebemos as coisas. A nossa imagem é como somos percebidos pelos outros. E como cada um tem liberdade para perceber cada coisa do jeito que lhe aprouver, as alternativas imaginativas são infinitas”. Para Augé (1997, p.31), “as imagens podem servir para tudo”. Ou seja, além de operar em campo simbólico, as imagens operam diante de representações. Além de serem construções mentais, ainda são construídas diante da percepção de objetos. No caso da pesquisa em questão, a imagem criada é a de um político, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. De acordo com Augé (1997, p. 31), as percepções podem ser contidas nos mundos físico, social e cultural. Logo, a percepção do mundo é uma das 30 condições da construção das imagens e de sua dinâmica, que é o imaginário. Portanto, as imagens guardam alguma relação do mundo exterior com as consciências dos sujeitos. Costa (2008) alerta sobre a ambiguidade das palavras Marca e Imagem. Afinal, o termo imagem é ambíguo e polissêmico. Por isso: O termo imagem tem duas acepções principais: a primeira “imagem” como objeto material, representação física das coisas, de objetos e produtos que se encontram em nosso ambiente e tem a sua raiz no eikon dos gregos. A segunda percepção é “imagem como representação mental, produto sintético e intangível da imaginação individual – e, por extensão, do imaginário coletivo; a raiz do conceito é o termo imago, oriundo da psicologia. (COSTA, 2008, p. 86). Assim, pode-se entender que as imagens são a elaboração de um primeiro contato do sujeito com a realidade. A partir dela, é que se formam os conceitos sobre objetos e sujeitos. Para Laplantine e Trindade (1997, p.10) imagens também podem ser definidas como construções baseadas nas informações obtidas pelas experiências visuais anteriores. Nós produzimos imagens porque as informações envolvidas em nosso pensamento são sempre de natureza perceptiva. Imagens não são coisas concretas mas são criadas como parte do ato de pensar. Assim, a imagem que temos de um objeto não é o próprio objeto, mas uma faceta do que nós sabemos sobre esse objeto externo. (LAPLANTINE e TRINDADE, 1997, p.10) Quando o assunto é política, a primeira associação feita é da imagem de algum político, seja aquele que fez alguma melhoria na cidade ou até mesmo aquele acusado de corrupção pela grande mídia. Portanto, a imagem de um político está fortemente ligada às informações recebidas sobre ele. Segundo Persona (2012), o político ou profissional de marketing eleitoral precisa superar as expectativas da população, pois assim ganha tanto o voto quanto a consideração das pessoas, e elas passam a ser também ferramentas de divulgação do seu trabalho. (PERSONA, 2012). Segundo Rubim (2003), atualmente a imagem dos candidatos é construída a partir de pesquisas de opinião, grupos focais, marketing eleitoral, esforço e motivação, que são utilizados para que o candidato conquiste o maior número de eleitores. E essa construção da imagem pública na política também envolve a desconstrução da imagem pública do candidato adversário. (RUBIM, 2003). 31 Se a imagem, é o resultado de um primeiro contato com a realidade, como no caso da política, o imaginário é o signo, a sua significação. Segundo Barthes (1980, p.27), o imaginário "é uma relação que se estabelece entre um significante e significado". Dessa forma, o imaginário pode mudar o real. Afinal, se apodera das imagens, alterando-as para que "ao libertar-se do real que são as imagens primeiras, pode inventar, fingir, improvisar, estabelecer correlações entre os objetos de maneira improvável e sintetizar ou fundir essas imagens” (BARTHES, 1980, p.27). Augé enfatiza e alerta que quando os meios de comunicação de massa operam como mediadores no lugar das mediações simbólicas, tal operação "contém em si uma possibilidade de violência" (AUGÉ, 1997, p.22). Hipoteticamente, este pode ser um dos motivos dos confrontos entre apoiadores e não-apoiadores do ex-presidente Lula. Segundo Baldissera (2003), a “imagem e identidade mantêm uma relação de dependência, ou seja, a imagem nasce da identidade, independente se esta identidade e as informações que a alimentam e constroem existem ou não”. Ou seja, o público, a partir das informações recebidas, constrói a imagem em sua mente e estabelece a partir disso seus valores. Com relação à política, Torquato (2011) define a identidade como: (...)caráter de um político. É sua história pessoal e profissional.Se for plena de ações e serviços públicos, traz para o político um espaço de simpatia na sociedade. Se for cheia de casos suspeitos, só com muito esforço pessoal – principalmente no campo das atitudes – consegue- se retocar o borrão. Ao político, um discurso forte é fator fundamental. O discurso agrega pontos de vista a respeito dos problemas sociais, a visão adequada sobre soluções, pontuações fortes a respeito de temáticas do país, do estado e das regiões. Ao discurso, seguem-se as ações, o plano operativo. (TORQUATO, 2011, p. 282) Entende-se, portanto, que a identidade é um conjunto de qualidades morais acrescidos da soma de virtudes e defeitos. Segundo Barbosa (2006), o discurso nunca pode contrariar a realidade e, assim, não engana por muito tempo o eleitor. Segundo ele, o que sustenta a identidade “são os valores como lealdade, simplicidade, companheirismo, honestidade, ética, moral, acervo de conhecimentos, formação cultural, os serviços prestados à comunidade, a largueza de espírito”. 32 Quando há uma ruptura na imagem e no imaginário de determinada personalidade ou organização, se inicia uma crise de imagem, como veremos a seguir. 2.2 GERENCIAMENTO DE CRISE DE IMAGEM Uma das ferramentas utilizadas dentro da assessoria de imprensa é o gerenciamento de crise de imagem. A imagem de uma organização é formada pela relação entre um conjunto de valores e ações tomadas por ela e a percepção do público sobre o fato. Quando ocorre uma ruptura nessa imagem, se inicia uma crise. A crise, segundo Lopes (apud FORNI, 2003, p. 363), é “qualquer coisa negativa que escape ao controle da empresa e ganhe visibilidade”. Dessa forma, tanto um fenômeno natural – como uma enchente – quanto uma falha humana podem desencadear uma crise e colocar em dúvida a credibilidade e a reputação de uma organização. Qualquer fato que aconteça e afete a imagem de uma instituição ou de uma personalidade pode gerar uma crise. “No mercado, admite-se como crise (do ponto de vista da comunicação) acontecimentos que, pelo seu potencial explosivo ou inesperado, têm o poder de desestabilizar organizações e governos e suscitar pauta negativa”. (FORNI, 2003, p.373). Para Lopes (1994, p. 30), a consolidação da democracia no país estabeleceu uma sociedade civil mais atuante. Esse novo posicionamento fez com que empresas e organizações utilizassem adequadamente a ferramenta de comunicação institucional. O autor afirma que, em momentos de crise, deve-se evitar o silêncio Nos momentos de crise, o silêncio e a omissão podem tornar-se fortes aliados da desinformação e do surgimento de boatos, estabelecendo- se um clima de expectativa muito prejudicial a qualquer estrutura empresarial. Nesses casos, um investimento permanente na área de comunicação não é gasto supérfluo, mas sim algo indispensável. (LOPES, 1994, p. 30) Uma das características de uma crise é o fator surpresa, embora alguns autores considerem que a crise dá alguns sinais antes de iniciar. 33 De acordo com Eid (2003, pg. 7), as principais causas de matérias negativas sobre empresas e organizações em veículos tradicionais são os problemas reais nas relações com a comunidade (corrupção, incompetência, negligência na gestão e atendimento ao público, deficiência de serviço na saúde, segurança e educação, dentre outros), bem como os problemas reais que atingem o relacionamento com a imprensa (mau atendimento aos jornalistas e veículos por parte da assessoria de imprensa ou dirigente do órgão gerador das notícias negativas). Além disso, as críticas da oposição, denúncias mentirosas e posição política e/ou interesse dos jornalistas e veículos também são consideradas causas para uma repercussão negativa na mídia. Segundo Lorenzon e Mawadyie (2006, pg.70), o posicionamento da empresa de não atender o repórter é direito reservado apenas às fontes privadas. “Nenhuma empresa é obrigada a abrir suas portas para o jornalista. Mas em casos de denúncia que envolve o consumidor ou morador no entorno das instalações, a opinião pública tem o direito de saber o que de fato aconteceu”. Manter um bom relacionamento com a mídia amplia as chances de amenizar os efeitos de uma crise, por isso, é importante que o assessor colabore com a mídia. “Soluções bem pensadas, em vez de atitudes defensivas devem ser colocadas em prática ao se lidar com a mídia.” (SUSSKIND ; FIELD, 1997, p. 226). Segundo Susskind e Field (1997): Uma das maneiras de se manter a confiança da mídia é aborda-la com abertura e honestidade. Tentar ganhar tempo escondendo informações da mídia é um dos piores erros a ser cometido. Ao invés de ganhar tempo, a empresa perde a credibilidade e aguça a antipatia da mídia o que fomenta matérias desfavoráveis. (SUSSKIND: FIELD, 1997, 235). Uma das hipóteses de Lorenzon e Mawadyie (2006, p. 73) é de que “quanto maior a empresa, melhor preparada ela está para o gerenciamento das crises”. Entretanto, Lorenzon e Mawadyie alertam para as mudanças que a crise traz, por mais preparada que esteja a organização: 34 O assessor deve ter claro, de qualquer forma, que um cenário de crise grave altera completamente a rotina do seu departamento. Todas as atividades cotidianas ficam como que em suspenso, até que a crise comece a ser conjurada. A comunicação com a mídia passa a ser controlada por instâncias de decisão superiores, pois é a imagem da instituição e de seus diretores que está em jogo. Eles serão como que forçados a tratar pessoalmente a questão - para ir direto ao assunto, os diretores terão de defende-se. Cabe ao assessor de imprensa, nessas situações, contentar-se com o papel de coadjuvante. (LORENZON; MAWADYIE, 2006, pg. 75). Por isso, o papel da assessoria de imprensa é fundamental no gerenciamento de crise de imagem, afinal, é possível em alguns casos evitar até mesmo que a crise inicie. Uma das funções do assessor quando há um desencadeamento da crise é apurar as informações solicitadas pelo repórter para oferecer respostas plausíveis e que evitem publicações equivocadas sobre o assunto. “Saber o estágio da matéria, as fontes que o repórter já consultou, a versão e a dimensão que ele tem da denúncia facilita o controle da pauta”. (FORNI, 2003, p. 368). Durante uma crise, é comum que empresas criem o chamado “comitê executivo da crise”. Segundo Lorenzon e Mawadyie (2006, p. 77), a presidência da empresa, com a participação da assessoria de imprensa, será o responsável pelo comitê. Sendo que “a função do comitê executivo é a de unificar a linguagem da empresa diante do ocorrido e de reunir as informações para que as necessidades dos jornalistas e da opinião pública sejam atendidas”. Além da presidência e da assessoria, profissionais técnicos da área em que ocorreu o principal problema devem compor o grupo. Ao definir quem deve participar do grupo responsável por unificar as informações, é criado o comitê de relações com o público externo, que, segundo Lorenzon e Mawadyie (2006, p.77), é composto por “um ou mais porta-vozes”. O papel do porta-voz é o de fazer com que o discurso da empresa seja transmitido de modo coerente e padronizado para o público externo. Entretanto, ele precisa ser orientado pelo assessor sobre como enfrentar os jornalistas na entrevista. Quanto à escolha, Lorenzon ressalta: Este não pode ser o presidente da empresa - cuja imagem deve ser preservada - nem muito menos o próprio assessor de imprensa, sob o risco de ele perder a condição de neutralidade que a função exige. O porta-voz pode ser um executivo graduado, o advogado da empresa, no caso de o acidente exigir indenizações pesadas para as vítimas, ou o médico-chefe, se houver feridos (LORENZON; MAWADYIE 2006, p. 78) 35 O porta-voz não pode utilizar linguagem técnica, o que trará prejuízos para a comunicação. Além disso, não deve mentir ou sonegar informações. Ele tem dedemonstrar firmeza nas afirmações e evitar confrontos com jornalistas ou familiares das vítimas (no caso de um acidente). (LORENZON; MAWADYIE 2006). Outro comitê formado é o de redação. O assessor monta uma equipe para facilitar a realização das coletivas de imprensa e da preparação dos textos de apoio e notas à imprensa. O comitê de redação prepara o press release diário sobre o acidente e os procedimentos adotados pela empresa. Os releases, segundo Lorenzon e Mawadyie, “servirão de apoio para o porta-voz nas entrevistas coletivas”. (LORENZON; MAWADYIE 2006). O último comitê é de acompanhamento de mídia: com a participação da assessoria de imprensa ativa neste comitê, os participantes monitoram e corrigem eventuais erros cometidos pela mídia. Além de providenciar uma listagem com o nome e os cargos dos funcionários envolvidos no acidente, o comitê tem “de acompanhar o andamento dos contatos entre o departamento jurídico e os recursos humanos e os familiares das vítimas. (...) É importante, ainda, ter um histórico de outros acidentes que envolvam o nome da companhia” (LORENZON; MAWADYIE 2006, p.79). Todos esses comitês e procedimentos, por mais agilidade e transparência, podem não garantir isenção total do jornalista. Segundo Lorenzon e Mawadyie (2006, p. 79), “todo acidente grave deflagra reações emocionais que acabam por afetar a todos. No entanto, será uma maneira de fazer com que a razão e os fatos prevaleçam. É um investimento que vale a pena”. A credibilidade é um fator que colabora para uma volta por cima no pós- crise. Afinal, uma empresa sem credibilidade tende a sair com mais dificuldade da crise. Segundo Forni (2003): 36 A manutenção da imagem está diretamente ligada à credibilidade construída. Credibilidade não se constrói da noite para o dia. Empresários, autoridades públicas, políticos e governos constroem credibilidade com o seu passado e seu presente, com uma atuação transparente e ética com a sociedade e a imprensa. Esse background é que sedimenta uma imagem. O selo da credibilidade associado a uma empresa, organização ou pessoa resiste ao tempo e aos fatos. Quando eventualmente episódio negativo os atinge, as reações passam a ser vistas em função desse ‘patrimônio‘ (FORNI, 2003, p. 381). O objetivo do gerenciamento de crise, portanto, é amenizar ou até mesmo evitar os estragos que uma crise pode causar. Administrar uma crise de imagem da forma correta pode evitar uma futura situação de crise. Segundo Forni (2003, pg. 363), “a maioria das crises de imagem, se bem administrada, pode ser superada. Mesmo a ocorrência ou divulgação de problema grave não caracteriza, necessariamente, uma crise”. (FORNI, 2003) Depois de percorrermos os conceitos de jornalismo, funções do repórter político, relacionamento com a fonte, ferramentas de assessoria de imprensa, imagem e imaginário, além das estratégias de gerenciamento de crise de imagem, partimos para o estudo do terceiro setor e as organizações não- governamentais, assim como seus conceitos, funções e gerenciamento. 37 3 O TERCEIRO SETOR E AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS Nos capítulos anteriores, percorremos pelos conceitos de Jornalismo Político e Assessoria de Imprensa. Neste capítulo, trataremos do Terceiro Setor e as Organizações Não Governamentais, bem como suas formas de atuação. O conceito de Terceiro Setor é emergente das últimas três décadas e trata-se de uma expressão traduzida do inglês “Third Sector”. Segundo Fernandes (1997, p.24), o Terceiro Setor é representado por organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela iniciativa e participação voluntária da sociedade civil, dando continuidade às práticas tradicionais da caridade e da filantropia. Para Lester Salamon (2005, p. 93), trata-se de um conjunto de entidades que compartilham, pelo menos, cinco características principais: Tabela 2 – Características do terceiro setor 1) São, em grande parte, organizadas e institucionalizadas; 2) São privadas; 3) Não são distribuidoras de lucro; 4) São auto gerenciadas, 5) São, em grande parte, voluntárias. Fonte: Lester Salamon (2005) Cabe ressaltar que, segundo Menegasso (2001), o Primeiro Setor é representado pelo Estado e pelas instituições governamentais que caracterizam o espaço e o serviço público. Já o Segundo Setor é representado pelo Mercado, que pertence ao espaço jurídico de direito privado, caracterizando-se pelo comércio ou atividades que visam o lucro. É válido destacar que o Terceiro Setor surgiu com intuito de melhorias às falhas admitidas pelo Governo. Dentro disso, este setor abrange entidades mantidas pelo capital privado, com destinação deste ao público de interesse de cada uma dessas organizações, como ONGs, fundações, associações civis e religiosas e unidades assistenciais. Fernandes (1997, p.27) define o terceiro setor como: 38 um composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação da ação voluntária, num âmbito não governamental, dando continuidade às práticas tradicionais de caridade, da filantropia e do mecenato e expandido o seu sentimento para outros domínios, graças, sobretudo à incorporação da cidadania e das suas múltiplas manifestações na sociedade civil. (FERNANDES, 1997, p. 27) Dentro deste contexto surgem as Organizações Não Governamentais. A denominação ONG surgiu pela primeira vez em 1945, em um documento das Nações Unidas, e engloba um grupo de entidades com diversas finalidades e atividades desenvolvidas. As Nações Unidas utilizaram o termo ONG para definir toda organização da sociedade civil que não estivesse vinculada a um governo. Hoje elas são definidas como instituições privadas que têm uma finalidade pública, sem fins lucrativos. Em geral, as ONGs perseguem benefícios sociais ou ambientais. Para serem oficiais, essas entidades precisam ter uma estrutura legal e formal. No Brasil, as atividades das Organizações Não Governamentais surgem no contexto da ditadura militar, onde vigorava a estratégia de desenvolvimento latino-americana “Autoritária Modernizante”. Essa estratégia gerava, além da repressão política e cultural, a exclusão das classes populares – desde as tradicionais até as autoridades religiosas. A partir disso, várias ONGs emergiram após os anos 1970, pois alcançaram, além dos financiamentos internacionais, “o apoio de alas progressistas da Igreja Católica, que reviu suas posições quanto à organização da população para participar de movimentos e mobilizações conscientizadoras” (GOHN, 2000, p. 12). O objetivo da repressão imposta pelos militares a partir de 1964, era, segundo Netto (2002, p.16), “de uma contrarrevolução preventiva”. Dessa forma, os ditadores tentavam frear os mais variados movimentos sociais que se posicionavam a favor de um modelo alternativo da sociedade. Os movimentos sociais sofreram violentas repressões, pois expressavam um modelo de ação social pautado na luta pela mudança do regime político do país. Petras (1999, p. 44) afirma que o ponto de partida para o desenvolvimento das ONGs ocorre somente quando “os setores mais perceptíveis das classes dirigentes neoliberais perceberam que suas políticas estavam polarizando a sociedade e provocando um descontentamento social de grandes proporções”. 39 A consequência disso foi que no início da década de 80 os políticos neoliberais começaram a financiar e promover uma estratégia paralela nos Estados Unidos, Europa e América Latina, a partir de organizações “comunitárias de base” (“grass roots”), com uma ideologia antiestatal para intervir nas classes potencialmente conflitantes. (MACHADO, 2012) Petras enfatiza que as limitações dessas organizações já eram evidentes naquela época, tendo em vista que ao mesmo tempo em que atacavam as violações dos direitoshumanos, raramente denunciavam os seus patrocinadores norte‐americanos e europeus que as financiavam e aconselhavam. Não havia esforço sério para ligar as políticas econômicas neoliberais às violações dos direitos humanos, pois os patrocinadores limitavam a esfera da crítica e das ações das ONGs em prol dos direitos humanos. Para a autora Thereza Montenegro, ONGs são: um tipo particular de organizações que não dependem nem econômica nem institucionalmente do Estado, que se dedicam a tarefas de promoção social, educação, comunicação e investigação/experimentação, sem fins de lucro, e cujo objetivo final é a melhoria da qualidade de vida dos setores mais oprimidos. (MONTENEGRO, 1994, p. 11). Portanto, o termo não-governamental quer dizer não pertencente ao Estado. Entretanto, não quer dizer que as ONGs fazem, necessariamente, oposição ao governo. Em alguns países, inclusive, os governos fazem parcerias com organizações para implantar políticas públicas. (MONTENEGRO, 1994). Segundo Tachizawa (2007), em sua obra Organizações Não Governamentais e Terceiro Setor, as ONGs brasileiras se caracterizam menos pela atuação em serviços e mais por atividades com coletivos organizados. Em julho de 2014, foi regulamentado, por intermédio da lei nº 13019, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado e sem fins lucrativos como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, instituindo e disciplinando o Termo de Parceria. Para Tachizawa (2007, p. 39), a lei “abre às entidades um caminho institucional mais moderno, condizente com as necessidades atuais da sociedade, já que rompe com velhas amarras regulatórias”. Assim como nas demais entidades, as Oscips têm Estatuto, que deve conter requisitos legais e 40 normas, a fim de evitar fraudes, atitudes e posturas antiéticas no âmbito da sociedade. Segundo os artigos da lei, uma Oscip deve ter, obrigatoriamente, como objeto social, em seu estatuto de constituição, pelo menos um dos seguintes objetivos: Defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; Promoção da assistência social; Promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; Promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação de que trata a lei; Promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata a lei; Promoção de segurança alimentar e nutricional; Promoção do voluntariado; Promoção do desenvolvimento econômico e social e do combate à pobreza; Experimentação, não lucrativa, de novos modelos socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; Promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; Promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; Estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas. Além disso, as ONGs podem ter como foco de atuação educação, saúde, cultura, comunidade, apoio à criança e adolescente, voluntariado, meio ambiente, apoio a portadores de deficiência, parcerias com o governo e outras categorias. (TACHIZAWA, 2007, p.20). 41 De acordo com uma pesquisa de 2010 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), no Brasil haviam mais de 290 mil Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos (Fasfil). Em 2002, as pesquisas da Abong apontavam que as principais áreas de atuação das ONGs eram educação (52,40%), organização popular e participação popular (38,27%), seguidas por justiça e promoção de direitos (36,73%), fortalecimento de outras ONGs sem movimentos populares (26,02%), e relação de gênero e discriminação sexual (25%). Segundo a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), um dos elementos fundamentais para o reconhecimento de uma organização não governamental (ONG) é o caráter não lucrativo. A expressão “sem fins lucrativos”, segundo Montenegro, salienta a ideia de que não devem ser confundidas com o restante das organizações privadas, cujas atividades se orientam visando a acumulação de capital. Entretanto, o fato de não terem fins lucrativos não significa que essas organizações não cobrem pelos serviços prestados para arcar com suas despesas. (MONTENEGRO, 1994). Segundo Koury, ONGs são organizações sem fins lucrativos que possuem certo grau de autonomia e realizam atividades, projetos e programas na chamada área de ‘política de desenvolvimento’ com o objetivo de contribuir para a erradicação das condições de vida desiguais e injustas no mundo”, sobretudo nos países pobres do hemisfério sul. E conclui: “ONGs são, portanto, organizações que podem apoiar grupos e movimentos populares de uma maneira que nem o mercado e nem Estado são capazes.” (CAMPOS apud KOURY, 1999, p. 2) A valorização da cidadania aparece como tarefa adicional de quem se dedica ao assessoramento no chamado terceiro setor e às ONGs. Segundo Ferraretto e Ferraretto (2009, p. 55), “a correta divulgação das atividades de uma ONG pode garantir a sua sobrevivência como instituição”. Dessa forma, uma boa assessoria é capaz de auxiliar na captação de recursos necessários para sua manutenção. Segundo Oliveira Neto, há dois modelos de financiamento das ONGs: o modelo americano e o modelo alemão. O primeiro é baseado na contribuição 42 dos indivíduos e das empresas. Os generosos incentivos fiscais, que já fazem parte da cultura americana, contribuem para que a sustentação do Terceiro Setor seja feita pela contribuição individual, com uma participação muito pequena de transferências do orçamento público. Na Alemanha, aproximadamente 60% de todo o financiamento das entidades sociais vêm do poder público. Isso acontece na Europa e é reflexo do contrato social europeu. A transferência de recursos públicos para atores da sociedade civil é um marco que caracteriza a Europa. (BRASIL, 2010, p. 451) Segundo Carvalho, na Inglaterra, o indivíduo atribui a uma entidade qualquer que ele escolher uma libra e o Imposto de Renda deduz automaticamente aquilo que ele contribuiu. Segundo ele, o primeiro-ministro Tony Blair ainda introduziu uma reforma em que o Estado dá mais uma libra para a libra que o indivíduo doar. (BRASIL, 2010, p. 451). No Brasil, não existe um modelo, as ONGs podem receber doações de indivíduos, empresas e até mesmo de Estados estrangeiros e/ou outras organizações internacionais. Outra forma de captação de recursos pelas ONG’s é por meio de convênios celebrados com o poder público. 3.1 TIPOS DE ONGS A heterogeneidade das ONGs levou Gohn (2000) a identificar quatro tipos de organizações não‐governamentais atuando no Brasil: as caritativas, as desenvolvimentistas, as ambientalistas e as cidadãs. Segundo a autora, essas Organizações “não trabalham na linha da militância e da politização da sociedade civil, como os movimentos sociais. Apenas algumas ONGs cidadãs evocam o mundo da política, da participação, ao contrário das [...] assistencialistas” (GOHN, 2000, p. 59). As chamadas “ONGs cidadãs”, que conforme Gohn, nascem e crescem referidas ao campo das associações e dos movimentos sociais. Elas são voltadas para reivindicação dos direitos de cidadania e “atuam no espaço urbano construindo redes de solidariedade, promovendo ou participando de programas e serviços sociais básicos e emergenciais, atuando junto a minorias discriminadas”. 43 Gohn (2000) assim estabelece a caracterização das organizações não- governamentais:
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