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Apostila 1 - 8

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Geo-história: 
Conceitos e Objetos
Núcleo de Educação a Distância 
www.unigranrio.com.br
Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 
25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ
Reitor
Arody Cordeiro Herdy
Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação
Nara Pires
Pró-Reitoria de Programas de Graduação
Lívia Maria Figueiredo Lacerda
Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Aline Carneiro Silverol
1ª Edição
Copyright © 2020, Unigranrio
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por 
fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio.
Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária
Carlos de Oliveira Varella
Núcleo de Educação a Distância (NEAD)
Márcia Loch
Sumário
Geo-história: Conceitos e Objetos
Para início de conversa… .................................................................. 04
Objetivo ........................................................................................... 05
1. Os Conceitos-chave da Geografia e sua Relação com a História .. 06
2. Espaço/Paisagem ................................................................ 12
Referências ....................................................................................... 22
4 Geografia Histórica do Brasil
Para início de conversa…
As fronteiras não são recortes geográficos, tampouco linhas 
imaginárias ou mapeadas, embora o processo e avanço da globalização 
tornem cada vez mais vulneráveis as fronteiras físicas e econômicas; temos 
a sensação de que não existem mais fronteiras geográficas. Esta disciplina 
versará sobre a geo-história e seus conceitos, bem como suas dimensões 
políticas, sociais e culturais, além do espaço vivido, o território enquanto 
categoria de poder e a territorialidade enquanto um conjunto de elementos 
e estruturas identitárias.
5Geografia Histórica do Brasil
Objetivo
Estimular os profissionais em formação à refletirem sobre a importância 
da relação da História com a Geografia e os conceitos produzidos pela geo-
história.
6 Geografia Histórica do Brasil
1. Os Conceitos-chave da Geografia e sua Relação 
com a História
A geografia é uma ciência, um instrumento de análise dos espaços 
geográficos e suas especificidades, a partir das relações humanas e o meio 
ambiente. Dessa forma, não há como falar de geografias sem tratar das suas 
especificidades. Além disso, ela também é uma ciência que estuda o espaço 
geográfico, que corresponde ao palco das relações e realizações humanas.
A necessidade do estudo geográfico teve início paralelamente ao 
surgimento do homem, pois este e natureza sempre caminharam juntos, e 
no sentido mais intrínseco, a interdependência entre os dois sempre existiu. 
Embora o ser humano, entre todas as espécies, tenha a capacidade de modificar 
o meio ambiente de acordo com suas necessidades, tanto para o bem quanto 
para o mal, a estreita ligação é visível.
Na Antiguidade Clássica, os pensadores e contemporâneos Pitágoras 
e Aristóteles já apresentavam convicções acerca da forma esférica do planeta. 
Genericamente, podemos dizer que GEO significa Terra, e GRAFIA, 
significa descrição. Logo, a definição de GEOGRAFIA seria a descrição 
da terra, como superfície, atmosfera, hidrosfera, litosfera, biosfera e tantos 
outros elementos contidos. Nessa perspectiva, o estudo geográfico conduz 
o pesquisador a diversos olhares e direcionamentos, pois o levantamento de 
informações passa por diversas ramificações, tratando de elementos naturais, 
aspectos físicos, sociais, ações antrópicas sobre o espaço natural, organização 
social, econômica, distribuição populacional, culturas, problemas ambientais, 
produção culturais, recursos naturais, clima, relevo, hidrografia, vegetação, 
produção e reprodução humana e tantos outros levantamentos de dados que 
o estudo geográfico pode desenvolver.
O barão de Humboldt, mais conhecido como Alexander von 
Humboldt, foi um geógrafo, naturalista e explorador, nascido na Prússia, 
atual Alemanha. Ele foi o precursor da geografia moderna, e baseava-se 
no estudo empírico corrente que muito contribuiu para o enriquecimento 
da ciência geográfica. Vejamos, a seguir, algumas subdivisões da geografia 
moderna:
7Geografia Histórica do Brasil
 ▪ Geografia Física: Estuda as características naturais, tais como: 
relevo, hidrografia, vegetação, clima e impactos decorrentes da 
exploração humana e ações fenomenológicas.
 ▪ Geografia Humana: Estuda a dinâmica populacional, suas 
peculiaridades nas relações sociais e transitoriedades.
 ▪ Geografia Cultural: Estuda os aspectos identitários entre os grupos 
sociais, a pertença, os aspectos culturais e interculturais, levando 
em consideração os lugares e não lugares. 
 ▪ Geografia Política: Estuda os poderes e micropoderes existentes 
nas relações sociais e políticas, e suas implicações na constituição e 
configuração da política e seus resultados.
 ▪ Geografia Econômica: Estuda as relações econômicas e seus 
desmembramentos em todo o mundo, bem como fluxos de capitais, 
crescimento econômico dos países, valorização e desvalorização das 
moedas, câmbios entre outros.
 ▪ Geografia Médica: Estuda as doenças e suas distribuições no 
espaço geográfico, bem como o mapeamento das doenças, seus 
impactos nos países ditos em desenvolvimentos e desenvolvidos, 
assistência médica etc.
Vale ressaltar a importância das escolas geográficas dos séculos XIX e 
XX. O século XIX rompe com a geografia descritiva, surgindo os precursores 
da geografia moderna: Alexander Von Humboldt, no início do século XIX, 
e Friedrich Ratzel, no século XI. Nesse período, o mundo está em pleno 
vapor: o capitalismo chegando e as relações e tratados comerciais alcançando 
voos mais altos. Quando chega o século XX, surgem os países socialistas e 
capitalistas, que terminam por reconfigurar as fronteiras; a grande guerra 
(Primeira e Segunda Guerras Mundiais) e tantas transformações terminam 
por direcionar novos estudos geográficos. No final do primeiro quartel do 
século XX, a Geografia Histórica ganhou visibilidade por meio de alguns 
intelectuais franceses pertencentes ao Collège de France, como: Auguste 
8 Geografia Histórica do Brasil
Longnon (1844-1911), Jean Brunhes (1869-1930), André Siegfried (1875-
1959), Roger Dion (1896-1981), Pierre Gourou (1900-1999) e tantos outros. 
Todos estes pensadores, geógrafos e professores de grandes universidades 
europeias, deixaram suas contribuições na fundação da Geografia Histórica, 
mas Auguste Longnon é reconhecido como o precursor e fundador.
Vejamos, a seguir, algumas especificidades geográficas:
Paisagem: A paisagem pode ser definida como uma forma em que a 
produção do espaço geográfico se revela diante da visão humana, não apenas 
dos olhos, pois o conceito de paisagem perpassa por todos os sentidos: tato, 
olfato, paladar e audição. A paisagem se define por expressar, externamente, 
um espaço baseado nos sentidos humanos.
Com o nascimento da Geografia Histórica e Moderna, a concepção 
de paisagem ganhou e incorporou uma nova abordagem, pois nesse período, 
os interesses sociais se voltaram para as questões ecológicas e sustentáveis, o 
que terminou mudando a visão e o olhar para o desenvolvimento sustentável, 
colocando as visões utilitárias e descritivas de paisagem em um outro plano. 
Nessa perspectiva, a interpretação do que é paisagem está também associada 
ao entendimento e influências culturais dos últimos tempos. Logo, os 
elementos e símbolos culturais têm contribuído de forma determinante para 
o comportamento social e as relações com o meio ambiente, pois as marcas 
identitárias estão estreitamente representadas nas paisagens.
A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos 
disparatados. É uma determinada porção do espaço, resultado 
da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, 
biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os 
outros, fazem da paisagem umconjunto único e indissociável, em 
perpétua evolução. (BERTRAND, 1971, p. 2)
Sauer (1925), em sua obra “Morfologia da Paisagem”, descreve 
que a paisagem cultural, diferentemente da paisagem natural, representa 
a materialização do pensamento humano, enquanto a paisagem natural 
9Geografia Histórica do Brasil
representa a combinação de elementos específicos como: relevo, vegetação, 
rios e tantos outros elementos. Dessa forma, o entendimento de paisagem 
depende da interação entre os elementos naturais antrópicos.
Espaço: O espaço é um conjunto de formas e elementos, que contém 
movimentações sociais em constante diálogo com objetos geográficos e 
naturais, ou seja, é a própria realidade das coisas se relacionando ora com 
a sociedade, ora com a natureza. O espaço geográfico é também um termo 
muito utilizado na geografia na caracterização de lugar modificado por seres 
humanos. 
Espaço e lugar, embora harmônicos e familiares, têm significados 
diferentes. O lugar está muito ligado ao que compreendemos por segurança, 
já o espaço está ligado ao que compreendemos por liberdade. O espaço pode 
ser uma forma abstrata, embora o conceito de espaço se funda com o conceito 
de lugar, uma vez que o que começa como espaço termina, com o passar 
do tempo, se transformando em lugar. O espaço pressupõe a capacidade de 
mover-se, de se deslocar, e dessa forma, o espaço, enquanto localização ou 
perímetro relativo, está sempre se dirigindo a um objeto ou lugar.
O sentido de espaço se origina das capacidades visual, auditiva e 
subjetiva das coisas. A sonorização das coisas do mundo está em constante 
conexão e diálogo, e somada a todas estas peculiaridades dos sons, a claridade 
das coisas ou até mesmo a subjetividade da visão enquanto um dos sentidos 
vai além do que se espera da visão ou do objeto visualizado. Os ruídos e 
sons terminam por colaborar para a construção do espaço auditivo; assim, 
os ruídos e sons podem evocar as impressões espaciais, sejam elas naturais 
(trovão, ventania, chuva etc.) ou não naturais (sirene, buzina, notas musicais, 
entre outros).
O espaço enquanto símbolo de liberdade e sua própria amplidão é 
muito complexo, pois liberdade implica em espaço suficiente para atuar. 
O espaço tem um alcance mensurável, é simbólico, e quando fechado e 
humanizado, se torna lugar. 
Lugar: O lugar é um ponto de partida, de chegada, de encontros e de 
desencontros. O lugar é parte do mundo, de um território, de uma região e 
desempenha um papel fundamental em sua história. O lugar seria também a 
10 Geografia Histórica do Brasil
fronteira demarcada entre a natureza e a sociedade. O lugar antropológico seria 
definido como lugar de pertença, simbólico, identitário, relacional e histórico. 
Para Certeau (1998, p.201), o lugar seria “uma configuração instantânea 
de posições. Implica uma relação de estabilidade”. Nessa perspectiva, seria 
possível entender o lugar como uma casa, uma praça, uma rua, ou até mesmo 
um bairro. Augé (2006) define o “não lugar” como espaços não identitários, 
não históricos e não relacionais. Nessa perspectiva, o lugar constrói uma 
identidade, pertença e passa por sua localização em um espaço. 
A ideia e lugar tornam-se mais específicos, geograficamente falando, 
quando já foram delimitados ou concebidos como lugar de pertença, o que 
caracteriza um laço emocional com o lugar. Dessa forma, o sentimento de 
pertença por um determinado lugar traz uma carga de afetividade generosa 
influenciada pelo conhecimento do lugar. O que seria então lugar e não lugar, 
cheio e vazio? Sabe-se que o lugar antropológico está cheio de sentido social.
O lugar pressupõe profundo significado de pertença e de identidade 
para o sujeito, logo, a imaginação espacial adquirida ao longo das experiências 
vividas termina por aproximar o sujeito ao seu lugar de origem. Nessa 
perspectiva, o homem é o resultado da sua própria experiência de vida e de 
mundo, tornando-o diferente de qualquer outro animal. 
Mas, na medida em que o não lugar é o negativo do lugar, torna-
se de fato necessário admitir que o desenvolvimento dos espaços 
da circulação, da comunicação e do consumo é um traço empírico 
pertinente da nossa contemporaneidade, que esses espaços são 
menos simbólicos do que codificados, assegurando neles toda uma 
sinalética e todo um conjunto de mensagens específicas (através de 
monitores, de vozes sintéticas) na circulação dos transeuntes e dos 
passageiros (Augé, 2006, p.115).
Geograficamente, o conceito de “lugar” representa uma porção de 
espaço dotada de significados e sentidos simbólicos e materiais, embora o termo 
possua uma série de significados, como: observatório, ponto de encontro, 
área, localidades e tantas outras. O significado de lugar é tão complexo, que 
não há uma definição definitiva; há apenas abordagens na utilização do termo. 
Segundo Sauer (1925), o termo “Lugar” é definido pela paisagem cultural, 
pois o sentido de lugar estaria vinculado à ideia da paisagem em si. 
11Geografia Histórica do Brasil
Região: A região é uma área delimitada geograficamente; é uma 
construção humana, também definida como uma extensão territorial que, por 
meio de seu clima, solo, vegetação, flora, fauna, produção cultural, econômica, 
diferencia-se de demais regiões, sendo demarcada, estabelecida e delimitada 
geograficamente. O conceito de região também faz referência à uma porção 
delimitada do território definida por questões geográficas, culturais e sociais, 
e que conta com várias subdivisões da região em subáreas.
A definição sistematizada do conceito de “região” foi elaborada por 
Herbertson, em seu artigo datado de 1905. O geógrafo se preocupou em criar 
uma geografia sistemática com ordens e divisões geográficas. Segundo Kayser 
(1966, p.283):
As regiões são organismos vivos e complexos. Nascem, isto é, tomam 
corpo e se cristalizam – desenvolvem-se, isto é, se estruturam de 
uma maneira cada vez mais firme, ganham coesão. Também podem 
morrer bruscamente, devido à intervenção de um agente exterior, 
ou por lenta desintegração.
O termo região deriva do latim regio, que tem como raiz o prefixo 
reg, que surge do significado de regência. Nos séculos XX e XXI, surgiram 
os conceitos de região natural, região geográfica e região homogênea. Estes 
termos têm apresentado vários dilemas relacionados à aplicabilidade dos 
conceitos, e por conta disso, constantemente, geógrafos são convidados para 
esclarecer os termos. Vale ressaltar que a definição de região tem uma estreita 
ligação com a relação entre sociedade e natureza. 
Território: O território, tradicionalmente falando, foi utilizado como 
conceito para estudar as relações entre espaço e poder desenvolvidas pelos 
Estados nacionais, sendo também definido como um espaço delimitado pelo 
exercício de uma determinada soberania nacional. Este termo é também 
utilizado na política, na biologia e na psicologia.
O pensamento geográfico vem se aperfeiçoando ao longo dos últimos 
séculos e o conceito de território continua relacionado e marcado pelas 
questões de poder. Assim, pode-se dizer que o poder e o território, embora 
12 Geografia Histórica do Brasil
autônomos, consolidam o conceito de território. O território é um espaço 
construído e delimitado a partir das relações de poderes políticos, econômicos 
e sociais.
Podem as formas, durante muito tempo, permanecer as mesmas, 
mas como a sociedade está sempre em movimento, a mesma 
paisagem, a mesma configuração territorial, nos oferecem, no 
transcurso histórico, espaços diferentes. (SANTOS, 1996, p.77).
Um território pode ser considerado como um conjunto de lugares, 
conectados a outros, mesmo antes de ser uma fronteira. O enraizamento no 
interior dos lugares entre grupos étnicos tem uma estreita ligação com a 
natureza e ambiente local. Mesmo em movimento e trânsito, o território 
representa o lugar simbólico e lugar da cultura.
Ao longo da história do pensamento geográfico, pode-se conferir 
as diversas transformações no mundo, nos aspectosterritoriais, sociais, 
econômicos, políticos e ambientais, e a geografia perpassou, trazendo 
contribuições significativas para uma melhor compreensão das relações 
humanas e de poder, sempre na busca pelo controle cultural, identitário e 
econômico.
2. Espaço/Paisagem
A geografia histórica apresenta uma abordagem mais humanista, com 
múltiplas leituras sobre o espaço e suas composições de formas e sentidos. 
Dessa forma, o arranjo espacial das formas e suas composições nos comunicam 
em forma de linguagem, embora subjetiva e abstrata. 
Três características definem o “espaço geográfico”: I) é sempre uma 
extensão fisicamente constituída, concreta, material, substantiva; II) 
compõe-se pela dialética entre a disposição das coisas e as ações 
ou práticas sociais; III) a disposição das coisas materiais tem uma 
lógica ou coerência. (GOMES, 2002, p.172)
13Geografia Histórica do Brasil
O espaço e a paisagem são construções humanas, de uma sociedade 
complexa em suas realizações e idealizações. Paisagem pode ser tudo o que 
nós percebemos, perpassando por todos os sentidos (visão, audição, tato e 
paladar), indo além de tudo isso, pois a subjetividade das coisas que sentimos, 
ouvimos, percebemos e vemos interfere na dimensão espacial e paisagística. 
Figura 1: Espaço. Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 2: Paisagem. Fonte: Elaborado pelo autor.
Espaço
Espaço Espaço
Paisagem
14 Geografia Histórica do Brasil
A compreensão das coisas só é possível quando todos os sentidos estão 
diminutamente dialogando. Segundo Santos (1985), perceber não é conhecer, 
pois depende da interpretação que termina por dar significado à paisagem e 
ao espaço. Nessa perspectiva, a união da paisagem com a população é o que 
dá sentido ao espaço. “O espaço é igual à paisagem mais todas as formas de 
vida nela existente.” (SANTOS, 1985, p.56)
A Paisagem Cultural da Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, 
representa a harmonia entre a paisagem natural e a intervenção do homem.
A paisagem não é estática, tampouco permanente; ela se transforma 
a cada ação humana sobre ela. A paisagem sofre uma constante mutação em 
suas formas naturais e artificiais; sua forma heterogênea se multiplica, divide, 
e sofre alteração em sua cor e volume a partir da produção humana. Quando 
transformada pelo homem, a paisagem natural passa a ser artificial. Espaço 
geográfico é todo e qualquer espaço delimitado pelos movimentos sociais. 
“Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem (…). 
Não apenas formada de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, 
sons, etc.” (SANTOS, 1996, p.61)
Dessa forma, a paisagem nada mais é do que um conjunto de 
elementos culturais, naturais e artificiais, que embora humanizados, podem 
ser observados em qualquer lugar. Vale ressaltar que os fenômenos naturais, 
como chuvas, relâmpagos, tufão, maremoto, terremoto e tantos outros 
também são elementos capazes de modificar as paisagens. Observe, a seguir, 
algumas paisagens:
Figura 3: Ilha de Páscoa - Chile. Fonte: Dreamstime
15Geografia Histórica do Brasil
Figura 4: Machu Picchu - Peru. Fonte: Dreamstime.
Figura 5: Cataratas do Iguaçu – Brasil. Fonte: Dreamstime.
16 Geografia Histórica do Brasil
Figura 6: Tsunami – Japão. Fonte: Dreamstime.
O espaço deve ser considerado em sua totalidade, levando em 
consideração todos os elementos que o compõem, independente do tempo. 
“O espaço evolui pelo movimento da sociedade total”. (SANTOS, 1978, 
p.171). Nessa perspectiva, embora submetido à lei da totalidade, o espaço 
dispõe de autonomia.
O espaço, considerado como um mosaico de elementos de diferentes 
eras, sintetiza, de um lado a evolução da sociedade e explica, de 
outro lado, situações que se apresentam na atualidade. (…) a 
noção de espaço é assim inseparável da ideia de sistemas de tempo. 
(SANTOS, 1985, p.21-22)
Então, o espaço seria o resultado das forças e relações de produção e 
a própria necessidade de circulação, distribuição e consumo. As intervenções 
sociais e as novas tecnologias têm impactado nos espaços naturais, tornando-os 
cada vez mais artificiais, e como o espaço é uma produção humana, ele está em 
17Geografia Histórica do Brasil
constante mutação. Dessa forma, o espaço seria um fator social e não apenas 
um reflexo, uma vez que o espaço é uma construção humana organizada pelo 
homem, de acordo com suas necessidades econômicas e culturais.
O espaço, sendo uma instância social e mutável, que tende a reproduzir-se, 
é ao mesmo tempo subordinado à lei da totalidade. Historicamente, as sociedades 
construíram seus espaços, enquanto lugar de convivência, de segurança, de 
comensalidade, de festas, de trabalho, de moradia, e este espaço social e humano é 
o que chamamos de lugar de pertença. Este espaço se define como “um conjunto 
de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma 
estrutura representada por relações sociais que se manifestam através de processos e 
funções” (SANTOS, 1978, p.122).
Nessa perspectiva, o homem e o espaço estão conectados, e é nessa 
interdependência que percebemos que o espaço só é espaço, seja geográfico 
ou social, se for organizado pelo homem. O ser humano é o único animal que 
constrói e reconstrói o seu espaço e lugar, de acordo com as suas necessidades 
e interesses. Em suma, o espaço traduz a totalidade à medida que a sociedade 
o transforma, e à medida que as engrenagens estruturais estão em constante 
diálogo, seja na produção, nas relações sociais, na distribuição da população, 
na economia e nas relações de consumo.
Espaço/Território/Territorialidade
Você já ouviu falar, em algum momento, sobre a definição do termo 
espaço, território e territorialidade? Mas, com certeza, você já assistiu 
na televisão, em telejornais, notícias sobre conflitos armados, invasão de 
países sobre outros, como os Estados Unidos invadindo o Iraque, e depois 
o Afeganistão, no final a última década do século XX, certo? Observe que 
todo conflito, quase sempre armado, se estabelece em um espaço geográfico, 
que pode ser compreendido a partir da noção de território. No âmbito do 
estudo da geografia, existem diferentes definições do termo “território”, cujos 
sentidos dependem da abordagem empregada (cultural, social, política ou 
jurídica).
18 Geografia Histórica do Brasil
O termo “território” deriva do vocábulo latino terra, que corresponde, 
nessa língua, a “territorium”. Território tem vários sentidos, quando analisado 
política, social, cultural e economicamente. Na verdade, o conceito de território 
não mudou ao longo da história; o termo ganhou novos significados, a fim de 
atender melhor às dúvidas relacionadas ao estudo da geografia.
Continuando a busca pela compreensão dos aportes conceituais 
da geografia histórica, discutiremos a dialética entre espaço, território e 
territorialidade, sob a perspectiva da ciência. Dessa forma, faz-se necessário 
entender o conceito de território e territorialidade, na perspectiva da geografia 
humana, além de estabelecer uma relação e/ou diálogo entre o espaço vivido, 
o território demarcado e a territorialidade em questão. A lógica se dá à 
medida que uma fração complementa a outra em todos os sentidos. Assim, 
a noção de paisagem, enquanto fragmento ou fração do espaço, se reflete da 
mesma forma quando tratamos da territorialidade e do território. 
O território, visto numa perspectiva histórica, pode ser considerado 
amplo, justamente por abranger toda a história humana. Pode-se também dizer 
que o território é responsável pela reprodução dos grupos sociais, reforçando 
a ideia de que as relações sociais são mediadas espacial e geograficamente. 
Nessa perspectiva, as relações sociais e de poder são mediadas pelo espaço. 
Para Santos (1978, p.171), “o espaço é uma instância social”. A constituição 
geográfica de um grupo social, ou até mesmo da própria sociedade, começa 
com a localização espacial. Dessa forma, a localização se estabelece no 
sistema de distribuição social, econômica ecultural. Estudos sobre território 
e territorialidade conquistaram espaços no Brasil, a partir das últimas três 
décadas do século XX. 
19Geografia Histórica do Brasil
Figura 7: Território. Fonte: Do autor.
Figura 8: Territorialidade. Fonte: Do autor. 
Território
Territorialidade Territorialidade
Territorialidade
20 Geografia Histórica do Brasil
 
 
Figura 9: Lugar. Fonte: Do autor.
Território poderia ser também uma construção histórica bem 
regulamentada e definida, responsável pela formação dos Estados modernos. 
Uma das mais importantes características a ser analisada sobre o conceito 
de território é a sua historicidade, pois sempre esteve presente em todos os 
períodos históricos, delimitada geograficamente. Já a territorialidade apresenta 
um outro papel, pois teria como forma de controle os processos sociais.
Territorialidade será definida como a tentativa, por um indivíduo 
ou grupo, de atingir, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos 
e relacionamentos, pela delimitação e afirmação do controle sobre 
uma área geográfica. Esta área será chamada território. (SACK, 
1986, p.19).
O território representa a dimensão cultural, simbólica e identitária dos 
grupos sociais e termina por sustentar a identidade e os símbolos dos grupos, 
a partir das lutas e resistências locais.
O conceito antropológico de territorialidade é “o esforço coletivo de 
um grupo social para ocupar, usar, controlar e se identificar com uma parcela 
específica de seu ambiente biofísico, convertendo-a assim em seu território” 
(LITTLE, 2002, p.3). A territorialidade é fundamental para a constituição 
Lugar
21Geografia Histórica do Brasil
da identidade e as duas são fundamentais para a construção do território. 
Dessa forma, o território é o resultado das diversas territorialidades; seria 
o produto dos processos sociais e políticos. A territorialidade representa a 
multidimensionalidade com que se constitui o território, como lugares com 
determinado grau de enraizamento, pertença e identitária.
Neste capítulo vimos que a construção de um território, enquanto 
espaço, requer uma série de elementos em sua constituição. Logo, o espaço 
vivido e suas relações com a sociedade; a territorialidade marcada pela 
pertença e identidade são fatores que possibilitam a construção do território. 
Dessa forma, não há território legítimo se estes elementos constitutivos não 
dialogarem entre si.
22 Geografia Histórica do Brasil
Referências
AUGÉ. M. Para que vivemos? Lisboa: 90 Graus, 2006.
BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: um esboço metodológico. 
Revista IGEOG/USP - Caderno de ciências da terra. São Paulo: USP, n. 13, 
1971.
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 
1998.
GEO UERJ. Exemplos brasileiros de geografia histórica: considerações sobre 
as obras de Maurício Abreu e Antonio Carlos Robert Moraes. Disponível 
em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/6913 
Acesso em: 07 jan. 2020.
GOMES, P. C. C. A condição urbana: ensaios de geopolítica da cidade. Rio 
de Janeiro: Bertrand, 2002. 
HENRIQUE OLIVEIRA. Breve análise conceitual de território. Disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=I6U9kz8ui9w. Acesso em: 04 jan. 
2019.
KAYSER, B. Les divisions de l’espace géographique dans les pays sous-
développés. Annales de Géographie. Paris, v. 75, 1966.
LITTLE, P. E. Territórios Sociais e Povos Tradicionais no Brasil. Por uma 
antropologia da territorialidade. Série Antropologia. 2002. Disponível em: 
http://www.unb.br/ics/dan/Serie322empdf.pdf. Acesso em: 04 jan. 2019.
http://www.unb.br/ics/dan/Serie322empdf.pdf
23Geografia Histórica do Brasil
MACHADO, M. S.; GOMES, A. N. D. Exemplos Brasileiros de Geografia 
Histórica. 2013. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.
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SANTOS, M. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. 2 ed. São 
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Espaço geográfico, história 
e a longa duração
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1ª Edição
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Sumário
Espaço geográfico, história e a longa duração
Para início de conversa… ................................................................... 04
Objetivo ............................................................................................ 05
1. Fernand Braudel e a Conjuração do Tempo e do Espaço ............ 06
2. A Ocupação do Espaço Geográfico Brasileiro na Perspectiva 
 da Longa Duração: o Latifúndio .............................................. 14
Referências ........................................................................................ 20
4 Geografia Histórica do Brasil
Para início de conversa…
A geopolítica do Brasil apresenta traços específicos ao longo dos 
últimos 500 anos. Entre eles, podemos citar os períodos Colonial, Imperial, 
Republicano e a Nova República, com características não distintas das 
anteriores, embora, perceba-se uma série de transformações diminutas, lenta 
e gradual. O conceito “geopolítico” ainda é muito prematuro quando se trata 
da história geopolítica do Brasil. Enquanto categoria da geografia, este analisa 
os fenômenos históricos e políticos do mundo atual e globalizado, levando 
em consideração os acontecimentos anteriores. Seu objetivo é reinterpretar 
a dimensão estrutural enquanto resultado dos conflitos políticos e sociais, 
ideológicos, culturais e territoriais de forma integrada com as demais ciências 
e áreas do conhecimento. Este conceito é relativamente novo e tem como 
marco o final do século XIX, estendendo-se no século XX, e sendo utilizado 
pela primeira vez pelo cientista sueco Rudolf Kjellén, por volta de 1899. 
5Geografia Histórica do Brasil
Objetivo
Compreender a temporalidade de longa duração formulada por 
Braudel.
6 Geografia Histórica do Brasil
1. Fernand Braudel e a Conjuração do Tempo e do 
Espaço
Braudel defende que a história das sociedades é simultaneamente 
espacial e temporal e que o espaço alterado, seja de forma natural ou artificial, 
revela uma estrutura histórica, embora de passagem. Seu orientador, Lucien 
Paul Victor Febvre, historiador modernista francês e cofundador da “Escola 
de Annales” o acompanhou enquanto esteve preso, já que ele poderia receber 
e enviar cartas durante o período em que esteve no cativeiro. 
Ao defender a importância e a necessidade do conhecimento histórico, 
Braudel recorre à noção de tempo, pois no seu entendimento, a história 
não se limita aos estudos individualizados e particularizados, mas sim, 
nas permanências observadas a longa duração, embora o seu foco fosse as 
transformações ou mudanças. Para ele, o estudo entre longa duração e a curta 
duração seria relevante para a construção da história, ou seja, para Braudel, a 
curta duração versa apenas dos acontecimentos instantâneos, rápidos, comoas conjurações, revoltas, guerras, os tratados políticos. Já a longa duração 
trata dos fenômenos ou acontecimentos mais lentos, quase imperceptíveis 
aos olhos humanos, mas que deixa profunda contribuição, como as ideias, 
pensamentos, mentalidades entre outros.
Nessa perspectiva, o ser humano não consegue fugir do seu tempo 
histórico, pois as mudanças acontecem a todo instante, mesmo que de maneira 
lenta e gradual, independente da vontade humana. De forma metafórica, 
ele dizia que nem mesmo as estruturas são eternas, focando na diacronia 
e observando suas mudanças e transformações sucessivas. Já Lévi-Strauss 
buscava compreender as sociedades primitivas a partir de suas estruturas 
internas de forma sincrônica. Dessa forma, Braudel (1992, p.49) reforça que 
o tempo histórico é inegável e que todo o ser humano o vivencia.
Por estrutura, os observadores do social entendem uma organização, 
uma coerência, relações bastante fixas entre realidades e massas 
sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é sem dúvida, 
articulação, arquitetura, porém mais ainda, uma realidade que o 
tempo utiliza mal e veicula mui longamente.
7Geografia Histórica do Brasil
Embora contrário à linha estruturalista de seu contemporâneo 
Lévi-Strauss, Braudel não rejeitava o método estruturalista, mas reforçava 
que antes de qualificar a estrutura, ela deveria passar por uma análise mais 
cuidadosa, sendo confrontada com o tempo e suas mudanças. Já que a história 
é responsável por se dedicar ao estudo do tempo e suas durações, o uso da 
história de longa duração seria mais precisa.
Como a história se organiza? A história se organiza em fases, em 
épocas, em ciclos, em estações, em períodos? De que forma o conhecimento 
histórico se organiza? O conhecimento histórico se organiza com base nas 
marcações do tempo, do lugar, do espaço? Temos o calendário universal e as 
periodizações históricas, que também funcionam como referenciais universais, 
embora estejamos a todo instante criando marcos ou demarcações, e fatiando 
o tempo para explicar acontecimentos de ordem natural e artificial. Tudo isso 
nos ajuda a lidar e a melhor compreender as temporalidades.
Ontem, um dia, um ano podia parecer boas medidas para um 
historiador político. O tempo era uma soma de dias. Mas uma 
curva dos preços, uma progressão demográfica, o movimento dos 
salários, as variações da taxa de juro, o estudo (mais imaginado 
do que realizado) da produção, uma análise precisa da circulação 
reclamam medidas muito mais amplas. (BRAUDEL, 2005, p.47)
Seria possível identificar os principais períodos da história? Por 
que eles foram criados? Seriam as periodizações criações humanas? Por 
serem construções humanas, não seriam passíveis de mudanças e novas 
interpretações? Pense nisso!
Braudel utiliza a geografia, enquanto desafiadora da história, para 
captar a realidade viva do movimento histórico, das estratégias tomadas pelas 
civilizações de sobrevivências e a longa duração. “A geografia prevalece sobre 
a história. Os contextos geográficos, embora não sejam os únicos a contar, são 
os mais significativos” (BRAUDEL, 2004, p.128-129). 
Durante séculos, o homem é prisioneiro de climas, de vegetações, 
de populações animais, de culturas, de um equilíbrio lentamente 
construído do qual não pode desviar-se sem o risco de pôr 
tudo novamente em jogo. Vede o lugar da transumância na vida 
8 Geografia Histórica do Brasil
montanhesa; a permanência de certos setores da vida marítima 
enraizados em certos pontos privilegiados das articulações 
litorâneas; a durável implantação das cidades; a persistência das 
rotas e dos tráficos; a fixidez surpreendente do quadro geográfico 
das civilizações (BRAUDEL, 2005, p.50).
Nessa perspectiva, a geografia testemunha a diversidade, permitindo 
uma constante interação entre as sociedades e a natureza. Vale lembrar que 
o ritmo do homem segue um compasso distinto do ritmo da natureza, e 
que ele não está sozinho, portanto, esse processo depende do espaço vivido 
e modificado. “A geografia não se limita ao estudo da Terra; ela se estende a 
tudo o que vive sobre a Terra – notadamente o homem, sua vida econômica, 
social e política” (SIEGFRIED, 1941, p.484).
Veja, abaixo, um recorte textual do livro “História e Ciências Sociais”, 
de Fernand Braudel:
A Longa Duração
Há uma crise geral das ciências do homem: todas elas se 
encontram esmagadas pelos seus próprios progressos, mesmo que 
isso seja devido apenas à acumulação de novos conhecimentos e à 
necessidade de um trabalho colectivo, cuja organização inteligente 
ainda está por estabelecer; directa ou indirectamente, todas se vêem 
afectadas, queiram-no ou não, pelos progressos das mais ágeis entre 
elas, ao mesmo tempo que continuam, no entanto, lutando com um 
humanismo retrógrado e insidioso, incapaz já de lhes servir de ponto 
de referência. Todas elas, com maior ou menor lucidez, se preocupam 
com o lugar a ocupar no conjunto monstruoso das antigas e recentes 
investigações, cuja necessária convergência se vislumbra.
O problema está em saber como as ciências do homem irão 
superar estas dificuldades: se através de um esforço suplementar 
de definição ou, pelo contrário, mediante um incremento de mau 
humor. Em todo o caso, preocupam-se hoje mais do que ontem 
(com o risco de insistir teimosamente em problemas tão velhos 
como falsos) em definir os seus objetivos, métodos e superioridades. 
9Geografia Histórica do Brasil
Braudel (1990, p.261-263) 
Nessa perspectiva, um acontecimento pode representar diversos 
significados e relações. Os acontecimentos, sejam de pequena, média ou 
longa duração, podem testemunhar questões mais complexas e profundas em 
relação ao fato ocorrido. 
Encontram-se comprometidas, obstinadas, em confusas lutas a 
respeito das fronteiras que possam ou não existir entre elas. Cada 
uma sonha, de fato, manter-se nos seus domínios ou voltar a eles. 
Alguns investigadores isolados organizam aproximações: Claude 
Lévi-Strauss impele a antropologia «estrutural» para os processos 
da linguística, os horizontes da história «inconsciente» imperialismo 
juvenil das matemáticas «qualitativas». Tende para uma ciência capaz 
de unir, sob o nome de ciência da comunicação, a antropologia, a 
economia política e a linguística. Mas quem é que está preparado 
para transpor fronteiras e prestar-se a reagrupamentos, no momento 
em que a geografia e a história se encontra à beira do divórcio? [...].
História e Duração
Todo o trabalho histórico decompõe o tempo passado e escolhe 
as suas realidades cronológicas, segundo preferências e exclusões mais 
ou menos conscientes. A história tradicional, atenta ao tempo breve, 
ao indivíduo e ao acontecimento, habituou-se desde há muito à sua 
narração precipitada, dramática, de pouco fôlego.
A nova história econômica e social cola no primeiro plano da 
sua investigação a oscilação cíclica e aposta na sua duração: deixou-
se iludir pela miragem – e também pela realidade – dos aumentos e 
quedas cíclicas de preços. Desta forma, existe hoje, a par da narração 
(ou do «recitativo») tradicional, um recitativo da conjuntura que para 
estudar o passado o divide em amplas seções: períodos de dez, vinte 
ou cinquenta anos. [...].
10 Geografia Histórica do Brasil
Um evento, a rigor, pode carregar-se de uma série de significações 
ou familiaridades. Dá testemunho por vezes de movimentos muito 
profundos e, pelo jogo factício ou não das “causas” e dos “efeitos” 
caros aos historiadores de ontem, anexa um tempo muito superior 
à sua própria duração (BRAUDEL, 1992, p.45).
Todos os acontecimentos, sejam em cadeias ou esporádicas, carregam 
um tempo muito superior ao tempo de duração, embora pouco perceptível. 
Diferentemente de um acontecimento de curta duração, como uma partida 
de futebol, uma eleição, uma catástrofe, o aumento do valor do pão, ditos 
históricos, que são, na verdade, pequenos acidentes da vida cotidiana. 
Essa duração social, esses tempos múltiplos e contraditórios da 
vidados homens, que não são apenas a substância do passado, mas 
também o estofo da vida social atual (...). Que se trate do passado 
ou da atualidade, uma consciência clara dessa pluralidade do tempo 
social é indispensável a uma metodologia comum das ciências do 
homem (BRAUDEL, 1992, p.43).
Marc Bloch (considerado o pai da antropologia histórica e personagem 
indispensável da escola de Annales) junto com Braudel dialogavam em 
suas produções, pois a prática da interdisciplinaridade era uma marca nas 
produções dos historiadores. Os dois pensadores viveram tempos de guerras e 
estes períodos tornaram-se seleiros e fontes inesgotáveis para pesquisadores. 
Por qual razão Braudel apresenta a história como disciplina em crise? Por que 
Braudel defende a interdisciplinaridade e o trabalho conjunto das disciplinas? 
Sob a perspectiva da longa duração, Braudel elabora uma abordagem 
da história capaz de isolar um instantâneo em meio à diversidade 
do mundo, sondando as permanências e as repetições da história, as 
constâncias e os constrangimentos da vida social (RODRIGUES, 
2009, p.166).
Braudel destaca os passos percorridos pela história nos acontecimentos 
de longa duração. Preocupado em compreender as mudanças ocorridas 
na sociedade ao longo do tempo, ele também não deixa de analisar as 
11Geografia Histórica do Brasil
permanências e as repetições da história. Para ele, os historiadores modernos 
apresentam “uma forte desconfiança em relação à história tradicional e história 
dos acontecimentos” (BRAUDEL, 1992, p.11). Assim, as ciências humanas 
nas últimas décadas têm se preocupado em analisar, de forma cuidadosa, o 
social em sua totalidade, e para que isso seja possível, a interdisciplinaridade é 
imprescindível para o pesquisador. A história tradicional, ao longo do tempo, 
se limitou ao tempo breve, narrativo, dramático e precipitado. 
A recente ruptura com as formas tradicionais do séc. XIX implicou 
uma ruptura total com o tempo breve. Operou, como se sabe, em 
proveito da história econômica e social e em detrimento da história 
política. [...] O historiador dispõe com toda a certeza de um tempo 
novo, elevado à altura de uma explicação, em que a história se pode 
inscrever, recortando-se, segundo pontos de referência inéditos, 
segundo curvas e a sua própria respiração. (BRAUDEL, 1992, 
p.13).
Dessa forma, a ruptura do tempo breve objetivava recuperar 
acontecimentos em sua totalidade, levando em consideração questões sociais, 
econômicas e políticas. Nesse contexto de ruptura, o personagem central não 
seria o homem? Se os homens fazem história, porque a ignoraram por tanto 
tempo? Estas curvas históricas não seriam a negação do homem ao tempo 
vivido, às suas produções naturais e artificiais? O que seria o tempo novo 
senão um aproveitamento do tempo tradicional acrescendo novos olhares e 
análises? 
Os observadores do social entendem por estrutura uma 
organização, uma coerência, relações suficientemente fixas entre 
realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura 
é, indubitavelmente, um agrupamento, uma arquitectura; mais 
ainda, uma realidade que o tempo demora imenso a desgastar e a 
transportar. Certas estruturas são dotadas de uma vida tão longa que 
se convertem em elementos estáveis de uma infinidade de gerações: 
obstruem a história, entorpecem-na e. portanto, determinam o seu 
decorrer. (BRAUDEL, 1992, p.14).
Como exemplo de evento de longa duração, podemos citar a escravidão 
no Brasil, que durou aproximadamente 350 anos.
12 Geografia Histórica do Brasil
Figura 1: Tipos físicos de diferentes nações africanas escravizadas no Brasil. Litografia de Jean-Baptiste Debret publicada no 
livro Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, em 1835.
Dessa forma, o homem enquanto prisioneiro do tempo, dos climas, 
das vegetações, das culturas, da política, da economia e de tantos outros 
aprisionamentos, há séculos, consiste em elementos tentadores para o 
historiador analisar, utilizando o tempo de suas durações. Até que ponto 
as estruturas construídas, ao longo da história da humanidade, obstruíram 
a história real, entorpeceram os acontecimentos e, por fim, determinaram 
os resultados? O historiador moderno tem um papel fundamental no 
esclarecimento dos acontecimentos de longa duração, pois o seu compromisso 
com a verdade vai além dos seus interesses pessoais e particulares. Aqui, 
busca-se compreender não as permanências, mas as mudanças ocorridas nas 
sociedades nas últimas décadas. Vale ressaltar que a longa duração ainda 
aparece como uma possibilidade embaraçosa, porém importante enquanto 
perspectiva e abordagem nas análises históricas. 
A costumada ampliação do estudo e da curiosidade. Tão-pouco se 
trata de uma escolha, de que a história seja a única beneficiada. 
Para o historiador, aceitá-Ia equivale a prestar-se a uma mudança 
de estilo, de atitude, a uma inversão de pensamento, a uma nova 
concepção do social. (BRAUDEL, 1992, p.17)
O historiador, partindo dessa perspectiva de análise dos acontecimentos 
históricos, passa a se preocupar com todas as ciências do homem, desbravando 
as fronteiras disciplinares, curiosidades, mudanças naturais e artificiais, 
descobertas no campo das ciências sociais e aplicadas, e políticas culturais, 
econômicas, ambientais e fenomenológicas. O historiador tem um papel 
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13Geografia Histórica do Brasil
social enquanto analista de todas estas áreas do conhecimento ao registrar os 
acontecimentos. A curiosidade move, desloca, aguça e direciona o olhar do 
historiador/pesquisador, embora exista a possibilidade da contaminação da 
história por outras ciências. Assim, a história e a duração do tempo como 
possibilidades dimensionais necessárias ao estudo dos acontecimentos e das 
preocupações teóricas nos presenteia com o estudo da longa duração. Para 
Braudel (1992, p.17) “a história é a soma de todas as histórias possíveis: uma 
coleção de ofícios e de pontos de vista, de ontem, de hoje e de amanhã.”
[...] em cada lugar, os sistemas sucessivos do acontecer social 
distinguem períodos diferentes, permitindo falar de hoje e de 
ontem. Este é o eixo das sucessões. Em cada lugar, o tempo das 
diversas ações e dos diversos atores e a maneira como utilizam 
o tempo social não são os mesmos. Já no viver comum de cada 
instante, os eventos não são sucessivos, mas concomitantes. Temos 
aqui o eixo das coexistências. (SANTOS, 2004, p.159)
Milton Santos reforça que, em cada lugar, encontram-se, 
simultaneamente, a diacronia e a sincronia, no tempo das diversas ações e 
atores. Embora, no espaço geográfico, as temporalidades não se apresentem da 
mesma forma para os diversos agentes sociais, elas acontecem e se manifestam 
simultaneamente. A geografia humana na interpretação dos lugares precisa 
levar em consideração as formas sociais enquanto produções históricas. Logo, 
a forma como Santos nos apresenta a análise dos lugares em sua totalidade é 
a forma que Braudel reforça, em sua análise sobre os movimentos e mudanças 
nas sociedades, a apresentação do tempo de longa duração como fio condutor. 
“[...] o espaço é a acumulação desigual de tempos” (SANTOS, 2004, p.9). 
Assim, a geografia se apresenta como pano de fundo no desenrolar dos 
acontecimentos históricos, reforçando a importância das contribuições de 
outras áreas do conhecimento na produção histórica, por meio da prática 
interdisciplinar.
Para trabalhar com o tempo e o espaço, é necessário levar em 
consideração outras possibilidades e parâmetros comparáveis, pois o espaço 
se caracteriza pela diferença entre os elementos que o compõem. 
14 Geografia Histórica do Brasil
[...] cada lugar geográfico concreto corresponde, em cada momento, 
um conjunto de técnicas e de instrumentos de trabalho, resultado 
de uma combinação específica que também é historicamente 
determinada (SANTOS, 2004, p.56)
Nessa perspectiva, as múltiplas relações entre o lugar geográfico e suas 
produções terminampor estabelecer recortes temporais e o próprio tempo 
relacionado ao lugar vivido. Logo, para compreendermos as periodizações, 
são necessárias ações humanas em seu tempo.
2. A Ocupação do Espaço Geográfico Brasileiro na 
Perspectiva da Longa Duração: o Latifúndio
O que seria o espaço geográfico? Seu conceito sofre variações? Apresenta 
característica específica? Seria o espaço geográfico a materialização da relação 
entre o meio ambiente e o homem e suas ações? O espaço geográfico é um dos 
principais conceitos da geografia, e conhecermos o seu significado significa 
conhecer o espaço geográfico do nosso país e sua importância para a nossa 
soberania. Para Santos, o espaço geográfico seria um conjunto de sistemas de 
objetos e ações humanas. Para os geógrafos de corrente humanista, o conceito 
de espaço geográfico está vinculado à subjetividade por questões culturais, 
sociais e políticas.
O espaço é o resultado dessa associação que se desfaz e se renova 
continuamente, entre uma sociedade em movimento permanente e 
uma paisagem em evolução permanente. (...) Somente a partir da 
unidade do espaço e do tempo, das formas e do seu conteúdo, é 
que se podem interpretar as diversas modalidades de organização 
espacial (SANTOS, 1979, p.42-43).
O espaço geográfico é resultado de um processo histórico das diversas 
sociedades, levando em consideração seus interesses, técnicas, valores e 
produções. “A configuração territorial não é o espaço, já que sua realidade 
15Geografia Histórica do Brasil
vem de sua materialidade, enquanto o espaço reúne a materialidade e a vida 
que a anima.” (SANTOS, 1996, p.51). Dessa forma, o espaço evoluiu pelo 
movimento das sociedades; já o território corresponde à complexidade dos 
ambientes natural e artificial, das construções humanas e seus impactos na 
sociedade.
A ocupação e o desenvolvimento do território brasileiro ocorreram 
de várias formas e momentos distintos. Os ciclos econômicos contribuíram 
de forma precisa para a formação desse território. São eles: Ciclo do Pau-
Brasil; Ciclo da Cana-de-Açúcar; Ciclo do Ouro; Ciclo do Algodão; Ciclo 
do Café; e Ciclo da Borracha. Estes ciclos fazem referência às atividades 
econômicas que, ao longo da formação do espaço geográfico brasileiro, foram 
desenvolvidas em diversos momentos e em várias regiões.
O pau-brasil foi extraído durante o período colonial entre os anos 
de 1500 e 1530. De origem nativa da Mata Atlântica, ele tinha grande valor 
comercial na época; sua tinta servia para tingir tecidos, e a madeira, para 
produzir móveis de qualidade. Embora a extração tenha contribuído para 
o desenvolvimento local e regional, a tinta e a madeira eram destinadas à 
Metrópole (Portugal). O objetivo inicial dos ocupadores e exploradores do 
território brasileiro, na época (Novo Mundo), era o ouro, mas eles não o 
encontraram no primeiro momento. As regiões costeiras e, principalmente, 
o Nordeste tiveram três expedições ao total: a primeira expedição, datada de 
1502; a segunda, datada de 1503; e a terceira, datada de 1503. Não durou 
muito tempo e a árvore entrou em processo de extinção.
O processo de ocupação do espaço geográfico brasileiro começou de 
forma devastadora, e o Nordeste, em parte, foi quem recebeu os primeiros 
exploradores portugueses. 
Com o processo de extinção do pau-brasil, e percebendo a fertilidade 
da terra da Região Nordeste, rapidamente, os exploradores desenvolveram 
outra forma de assistir à Metrópole, investindo na cana-de-açúcar, produto já 
cultivado nas colônias portuguesas.
O Ciclo do Açúcar data, no Brasil, da segunda metade do século XVI ao 
século XVII, sendo considerado a maior empresa agrícola do mundo ocidental 
do período. Neste período, foram criadas as capitanias hereditárias, período 
16 Geografia Histórica do Brasil
em que o território foi fatiado e explorado pelos donatários. O Nordeste foi a 
primeira região que trouxe o desenvolvimento e o crescimento econômico para 
o Brasil, pois foi nesse período que a empresa açucareira atingiu seu maior 
desenvolvimento. A Zona da Mata nordestina foi, em parte, responsável pelo 
crescimento e desenvolvimento econômico da época; não podemos esquecer a 
faixa litorânea do Rio Grande Norte ao Recôncavo Baiano. 
Vale ressaltar que nesse período, os estados de Pernambuco e Bahia 
tornaram-se o centro dinâmico da vida social, econômica e política, por conta 
do grande crescimento da produção açucareira.
Por volta de 1530, chegaram as primeiras mudas de cana-de-açúcar, 
trazidas da Ilha da Madeira (situada no oceano Atlântico, a sudoeste da costa 
portuguesa), na expedição de Martim Afonso de Sousa. Em 1532, é fundado 
o primeiro povoamento do Brasil por Martim Afonso de Sousa: a Vila São 
Vicente – São Paulo, dando início à colonização e exploração do Brasil.
No final do século XVII, a produção da cana-de açúcar entrou 
em declínio por conta da concorrência com outras colônias europeias, 
principalmente das Antilhas, que já havia ultrapassado a produção açucareira 
do Brasil. Nesse período, começa um novo ciclo econômico no Brasil – o Ciclo 
do Ouro. O eixo econômico da colônia é deslocado para a Região Sudeste, 
precisamente, para o estado de Minas Gerais. Com a descoberta do ouro no 
século XVIII, Portugal, que estava endividado e com dificuldades econômicas 
internas, por uma série de questões, inclusive má administração, encontra 
uma luz no fim do poço: a “extração do ouro” na colônia brasileira. A corrida 
do ouro, no século XVIII, resultou em um grande deslocamento populacional 
em direção às regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, embora Minas 
gerais tenha recebido o maior fluxo populacional. 
Com o avanço da mineração, as regiões auríferas cresceram em 
população e economicamente. Embora a exportação de ouro já tivesse um 
destino certo, ainda assim, as cidades do entorno se desenvolveram. A extração 
de ouro começou na primeira década do século XVIII e durou pouco, por causa 
do esgotamento progressivo nas regiões exploradas. A descoberta das minas 
e a corrida do ouro atraíram brasileiros e portugueses e esses deslocamentos 
deram início a vários povoados e, consequentemente, a novas cidades.
17Geografia Histórica do Brasil
O Ciclo do Algodão, no Brasil, ocorreu na segunda metade do século 
XVIII ao início do século XIX. A decadência das minas e da extração de 
ouro não impactou tanto na economia porque já havia, embora em pequena 
escala, a circulação de produtos centrada na produção de gêneros agrícolas; o 
algodão se destacou na Região Nordeste. O Maranhão passou a representar 
um braço forte na economia brasileira, embora o produto fosse, em quase sua 
totalidade, voltado para o mercado externo, principalmente para a Inglaterra. 
Vale ressaltar que o Ceará também se destacou na plantação e 
produção de algodão, se aproximando da produção maranhense. Nos dois 
estados, a mão de obra empregada era escrava. A Companhia do Comércio 
do Grão-Pará e do Maranhão, criada em 1756, tornou-se a principal empresa 
responsável pela produção de algodão.
O Ciclo do Café, no Brasil, corresponde aos anos de 1800 a 1930 
– período de grande fluxo migratório interno e externo. O café exerceu 
grande influência econômica e no mercado financeiro do Brasil na época. 
As primeiras mudas de café chegaram ao Brasil na segunda década do século 
XVIII, por meio de Francisco de Melo Palheta, trazidas da Guiana Francesa. 
No início do século XIX, as plantações de café ocorreram em grande escala 
nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O Vale do Paraíba está localizado 
entre os respectivos estados e predominou no comando da produção do café 
durante muitas décadas. 
As condições climáticas na região do Vale do Paraíba, com chuvas 
regulares, terra roxa e fértil foram os principais fatores que contribuíram 
para que a plantação e colheita dessem certo. O café foi o ciclo econômico 
responsável pelo desenvolvimento industrial no Brasil no século XX; o 
excedente de café gerou o acúmulo de capital paraos grandes cafeicultores da 
época, o que foi imprescindível no período em que o café entra em decadência. 
A crise de 1929, nos Estados Unidos, terminou impactando na economia 
cafeeira, já que os Estados Unidos eram um dos maiores consumidores da 
época. Com o declínio do café e a concorrência com outros países, o capital 
excedente do café foi investido em fábricas e na indústria a partir da década 
de 1930.
18 Geografia Histórica do Brasil
Vale ressaltar que o ciclo do café deslocou o eixo econômico do Brasil 
para o Sudeste, e como consequência, o fluxo migratório, possibilitando o 
surgimento de novas cidades e o desenvolvimento de outras.
O Ciclo da Borracha data do final do século XIX. Com a criação da 
indústria de automóveis, e demanda por automóveis pela classe média da época, 
a necessidade de produção da borracha também aumentou significativamente, 
pois ela era a matéria-prima para a produção de pneus e de outros acessórios. 
O Brasil chegou a se tornar o maior exportador de borracha na primeira década 
do século XX. A Região Amazônica recebeu um grande fluxo populacional 
de outras regiões no período, contribuindo para o crescimento populacional 
e urbano em Manaus. O eixo econômico se desloca para a Região Norte e o 
território passa a configurar um novo esboço em seu espaço geográfico.
A Região Amazônica apresentou um significativo desenvolvimento 
econômico e urbano; cidades se desenvolveram e outras surgiram por conta dos 
deslocamentos populacionais de outras regiões. No início da segunda década 
do século XX, outros países, como Ceilão, Indonésia e Malásia começaram 
a produzir em larga escala, e empresários holandeses e ingleses entraram na 
disputa comercial e no lucrativo mercado de borracha, o que desencadeou 
uma queda na exportação da borracha brasileira.
O latifúndio foi uma das bases da estrutura da produção colonial ligada 
à produção em larga escala e a fatores históricos. O latifúndio correspondia a 
uma faixa de terra considerável, ou seja, uma grande propriedade rural, que 
tinha atividades vinculadas na agroindústria, além de seus produtos destinados 
aos mercados interno e externo – na época, sua força motriz era a mão de 
obra escrava. No Brasil colonial, o latifúndio correspondia a uma propriedade 
de mais de 500 hectares de terras que, por conta da extensão, grande parte 
era inexplorada, e por fim improdutiva. Já o minifúndio corresponde a 
uma pequena propriedade de terra ou rural, que tem atividades vinculadas 
ao consumo local, regional e nacional. Essa propriedade era destinada a 
desenvolver a economia interna e tinha como força motriz a mão de obra 
familiar. No Brasil, o minifúndio está atrelado à produção para subsistência, 
em parte familiar e em parte para atender ao comércio local. As doações de 
19Geografia Histórica do Brasil
sesmarias, áreas desmembradas da capitania, farta mão de obra escrava e a 
prática da monocultura são elementos que compõem a ocupação do espaço 
geográfico brasileiro na perspectiva da longa duração. Logo, percebe-se que, 
ao pensar na ocupação do espaço geográfico brasileiro na perspectiva da longa 
duração, é necessário apresentar, também, os ciclos econômicos, que tiveram 
início no período pré-colonial e se estenderam até a segunda república (Era 
Vargas).
A ocupação do espaço geográfico brasileiro na perspectiva da longa 
duração é marcada por diversos aspectos que nos chamam a atenção. Um 
deles diz respeito aos ciclos econômicos, que permitiram uma série de fluxos 
populacionais entre as regiões, e as demarcações de terras, como as capitanias 
hereditárias, as sesmarias, o latifúndio, a monocultura, a mão de obra escrava 
e os movimentos pela reforma agrária nas últimas décadas. 
Neste capítulo, vimos que, se colocando contra a tendência 
predominante da história de curta duração e de caráter de fatos individuais, 
o historiador Braudel buscou evidenciar a história de longa duração e dos 
fatos coletivos, deixando a narrativa histórica para apresentar uma história 
real, justamente por ganhar auxílio de outras áreas do conhecimento. Dessa 
forma, o acontecimento não deve ser apenas registrado, mas apreendido como 
uma construção criada. Assim, Braudel marca, a partir de suas produções, 
um novo momento para a história, na construção de um novo objeto e de um 
novo método.
20 Geografia Histórica do Brasil
Referências
BRAUDEL, F. Escritos sobre a história. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
______. Gramática das civilizações. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.  
______. História e Ciências Sociais. 6 ed. Lisboa: Editorial Presença, 1990.
______. História e Ciências Sociais. A longa duração. São Paulo: Perspectiva, 
1992.
Do microcosmo ao 
macrocosmo: a geo-história do Brasil 
no contexto da história mundial.
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Sumário
Do microcosmo ao macrocosmo: A geo-história do Brasil no 
contexto da história mundial.
Para início de conversa… .................................................................. 04
Objetivo ........................................................................................... 05
1. O Brasil na Geopolítica Mundial: Uma Perspectiva Histórica ....... 06
2. A Formação Social, Cultural, Política e Econômica do Brasil ....... 14
Referências ....................................................................................... 18
4 Geografia Histórica do Brasil
Para início de conversa…
Atualmente, estamos no final da segunda década do século XXI da 
chamada era tecnológica. Tempo este de avanço no compartilhamento de 
informações, mas também das incertezas políticas, sociais e econômicas. 
Vivemos um momento no qual novos termos, como livre-comércio, 
neoliberalismo, globalização, sociedade da informação, midiatização, 
marketing social e político e tantos outros invadem nosso cotidiano. 
Entretanto, não podemos nos esquecer de que cada nação tem suas próprias 
regras e demandas internas, além disso, todas estão inseridas neste mundo 
globalizado, ora inclusivo, ora excludente.
Vale ressaltar que o Brasil não conseguiu ascensão pelo 
neoliberalismo, embora tenha começado nessa doutrina econômica, 
precisamente, em 1990, com a chegada de Fernando Collor ao poder e o 
seu discurso moderno, marcado pelo liberalismo social, que influenciou o 
sistema econômico, político e social durante o seu governo. Nesta unidade 
de aprendizagem, veremos a posição do Brasil na geopolítica mundial e a 
sua formação social, cultural, política e econômica.
5Geografia Histórica do Brasil
Objetivo
Analisar as relações da geo-história do Brasil entre microcosmo e o 
macrocosmo no contexto mundial.
6 Geografia Histórica do Brasil
1. O Brasil na Geopolítica Mundial: Uma 
Perspectiva Histórica
Friedrich Ratzel é considerado o fundador do conceito de geopolítica, 
também considerada um novo ramo do conhecimento científico. Deslocou suas 
pesquisas para a “paisagem natural” e para a “relação homem-meio”. Ratzel 
deixou muitas contribuições, por exemplo: a ideia de que o estudo da geografia 
política está relacionada com o “Estado, o solo e a sociedade”. Para ele, espaço 
é poder. Seu estudo privilegiou o elemento humano, a história, o espaço e a 
formação dos territórios.
O general Mário Travassos, em sua obra publicadaem 1931, ocasião em 
que lançou os fundamentos da geopolítica brasileira definiu: 
Geopolítica é um processo interpretativo dos fatos geográficos, em 
seus aspectos negativos e positivos, de cuja soma algébrica deve 
resultar um juízo da situação de um país, no momento considerado, 
não como um julgamento definitivo fruto de uma predestinação 
de caráter determinista e, muito menos, de uma forma de seleção 
coletiva, visando a objetivos políticos nem sempre confessáveis.
Nessa perspectiva, a geopolítica seria a arte de aplicar a política nos 
espaços geográficos, demarcando os seus limites.
Tratados e Limites
O Tratado de Tordesilhas,  precedido pelo Tratado de Toledo e pela 
Bula Inter Coetera, sinalizava que Portugal sabia o que queria. Nesse tratado, 
o direito a todas as terras a serem descobertas ao sul das Canárias foi dado a 
Portugal. Após as conquistas de Cristóvão Colombo, em 1492, os reis católicos 
pediram ao papa, autoridade da época, que dividisse o mundo entre os dois reinos 
(Portugal e Espanha), assegurando à Espanha as terras ainda não descobertas 
do ocidente. Dessa solicitação, surgiu a Bula Inter Coetera, que dava à Espanha 
as terras a descobrir a ocidente de um meridiano distante de 100 léguas para 
oeste do Arquipélago de Cabo Verde. Portugal recusou a mediação e firmou 
intensas negociações com a Espanha, que resultou na assinatura do Tratado 
de Tordesilhas, assegurando a Portugal todas as terras ainda desconhecidas a 
oriente de um meridiano mais afastado de 370 léguas para oeste de Cabo Verde.
7Geografia Histórica do Brasil
Sabe-se que as primeiras décadas após a chegada de Cabral se 
caracterizaram por intensas atividades comerciais, dando início à extração 
de pau-brasil, por conta do seu valor comercial na época (tinta e madeira). 
Por volta de 1531, Martim Afonso de Sousa, após chegar à colônia, 
começou a distribuir as sesmarias aos colonos portugueses, algum tempo 
depois, implementou as capitanias hereditárias.
Sesmarias eram uma gleba de terra concedida para uso dos colonos, que consistiria em 
uma subdivisão da capitania, com o objetivo de que fosse aproveitada. Os capitães-
donatários eram obrigados a distribuir 80% das terras como sesmarias.
Capitanias hereditárias são grandes faixas de terra, que iam da costa até a linha do 
Tratado de Tordesilhas, doadas aos capitães-mores mediante um documento chamado 
“carta de doação”. Os capitães também eram chamados de donatários, uma vez que 
recebiam títulos de governadores de suas posses.
O sistema de capitanias hereditárias, inicialmente, organizou 
o território colonial, descentralizou a política administrativa e trouxe 
autonomia para as unidades. 
Em 1548, foi instituído o Governo Geral e, com a centralização 
da administração, o governador passou a fiscalizar e auxiliar as capitanias. 
O governador geral tinha como auxiliares na administração da colônia 
três elementos fundamentais: o Ouvidor-mor – encarregado de aplicar a 
justiça –; o Provedor-mor – encarregado de arrecadar os impostos – e o 
Capitão-mor, encarregado de defender o litoral. 
A falta de recursos da metrópole e as experiências vividas nas 
ilhas do atlântico fez com que os portugueses implantassem as capitanias 
hereditárias.
Na colônia brasileira, entretanto, por uma série de questões, as 
capitanias fracassaram pelas seguintes razões: 
Glossário
Glossário
8 Geografia Histórica do Brasil
 ▪ Falta de capitais dos donatários e o desinteresse de muitos deles, 
que nem chegaram a tomar posse de seus lotes.
 ▪ Falta de terras férteis em algumas capitanias.
 ▪ Ataques dos índios, que destruíram algumas vilas e engenhos.
 ▪ Falta de comunicação entre as várias capitanias.
Apesar dos esforços, as capitanias hereditárias fracassaram, exceto, 
a capitania de Pernambuco e a de São Vicente. Por fim, os bandeirantes 
receberam a responsabilidade por tal fracasso, pela historiografia brasileira, 
por terem rompido a Linha de Tordesilhas, a partir dos deslocamentos 
interioranos, desbravando e demarcando o que seria o território brasileiro.
As Entradas tinham como função mapear o território brasileiro, 
principalmente, do interior, elas também atuavam no combate aos grupos 
indígenas que apresentavam resistência aos colonizadores. A maior parte 
delas eram compostas por soldados portugueses e brasileiros a serviço 
das províncias.
São expedições oficiais organizadas pelo governo, que saíam do litoral em direção ao 
interior do Brasil.
As Bandeiras tinham a função de descobrir pedras preciosas, ouro e 
prata. Eram lideradas por paulistas chamados de bandeirantes e compostas 
por brancos, agregados, mamelucos e outros. Os bandeirantes atacavam 
as missões jesuíticas e capturavam os índios que seriam comercializados 
como escravos.
São expedições organizadas e financiadas por particulares, principalmente, os paulistas. 
Partiam de São Paulo e São Vicente em sua maioria, rumo às regiões Centro-oeste e 
Sul do Brasil.
Glossário
Glossário
9Geografia Histórica do Brasil
Três Bandeiras se destacaram:
 ▪ Bandeira de Raposo Tavares (1598-1658);
 ▪ Bandeira de Domingos Jorge Velho (1615-1703);
 ▪ Bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva (1672-1740).
O historiador paulista Afonso D’Escragnolle Taunay declarou que: 
Foi o ouro o verdadeiro causador da tomada de posse definitiva das 
terras centrais. Não existissem o arraial do Bom Jesus do Cuiabá 
e o arraial guaporeano, futura Vila Bela, e Alexandre de Gusmão 
disporia de débil base de argumentação para invocar o uti possidetis 
em favor da fixação da fronteira do Brasil a dois mil quilômetros a 
oeste da linha tordesilhana. (TAUNAY, 2012, p. 208)
Segundo o historiador, os bandeirantes em busca pelo ouro e pela 
exploração mineral, além de tomar posse, também ocupavam de forma 
efetiva o território a oeste de Tordesilhas. 
Vale ressaltar que o avanço português sobre o território espanhol 
com base na Linha de Tordesilhas ocorreu durante a União Ibérica, período 
em que Portugal e suas colônias foram governados por monarcas espanhóis 
no entre 1580 ae 1640. Em razão da morte de D. Sebastião, rei de Portugal, 
na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, sem deixar herdeiros. A sucessão 
passou para os parentes mais próximos, no caso, os reis da Espanha. 
Veja alguns tratados que contribuíram para demarcar o território 
brasileiro:
Tratados de Utrecht: foi um desdobramento da Guerra de Sucessão 
ao Trono de Espanha (1702-1714). Primeiro Tratado de Utrecht entre 
Portugal e França (1713) estabeleceu as fronteiras portuguesas do norte 
do Brasil. O rio Oiapoque foi reconhecido como limite natural entre a 
Guiana e a Capitania do Cabo do Norte. A França reconheceu o direito 
de Portugal à bacia do Amazonas. Segundo Tratado de Utrecht entre 
Portugal e Espanha (1715) estabeleceu segunda devolução da Colônia 
de Sacramento a Portugal. 
10 Geografia Histórica do Brasil
O Tratado de Madri (1750): anulou o Tratado de Tordesilhas, 
consagrando o princípio de uti possidetis. Portugal garantiu o controle da 
maior parte da Bacia Amazônica, enquanto a Espanha controlava a foz do rio 
do Prata. Portugal devolveu Sacramento e definiu as fronteiras aproximadas 
do Brasil até os dias atuais. O tratado ignorou a vontade dos índios e jesuítas 
da região dos Sete Povos das Missões. 
Tratado de El Pardo (1761): anulou o Tratado de Madri e a Colônia 
do Sacramento voltava para Portugal.
Guerras Guaraníticas (1754-1777): guerra de resistência dos jesuítas 
e guaranis contra colonos e tropas portuguesas. Nesse período, datado de 
1759, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil. Mesmo depois da 
Coroa portuguesa ter desistido dos Sete Povos das Missões, os habitantes da 
capitania de São Pedro continuaram a luta que garantiu a formação do atual 
estado do Rio Grande do Sul.
Tratado de Santo Ildefonso (1777): devolveu para a Espanha 
Sacramento e Sete Povos das Missões em troca da Ilha de Santa Catarina. 
Tratado de Badajós (1801): confirmou os limites do Tratado de Madri.
Divisão políticae regional mais recente do território brasileiro
A Região Norte é formada por sete estados, ocupando 45,25% da área 
do Brasil. A Região Nordeste é formada por nove estados mais o anexo de 
Fernando de Noronha a Pernambuco, totalizando 28,8% da área do Brasil. A 
Região Centro-oeste é formada por quatro estados, contando com o Distrito 
Federal, ocupando 18,86% da área do Brasil. A Região Sudeste é formada por 
quatro estados, ocupando 10,33% da área do Brasil, e a Região Sul formada 
por três estados, ocupando 6,76 da área do Brasil. 
A formação étnica da população brasileira apresenta como tripé cultural 
os seguintes grupos: indígenas, europeus e negros, principalmente bantos 
e sudaneses. A miscigenação da população brasileira teve início no período 
colonial, que, em seu início, contou com a mão de obra indígena, entretanto, 
esta não atendia às suas necessidades. Dessa forma, foi necessário buscar mais 
mão de obra para atender às demandas na produção, principalmente, açucareira. 
11Geografia Histórica do Brasil
Caio Prado Júnior sintetizou os três séculos de colonização no Brasil 
como uma:
[...] incoerência e instabilidade no povoamento, pobreza e miséria 
na economia, dissolução nos costumes, inércia e corrupção nos 
dirigentes leigos e eclesiásticos. (PRADO JR., 1972, p. 356)
Nessa perspectiva, Caio Prado reforçou os traços do Brasil do início do 
século XIX, como carente de nexo moral, traço que se destacou nesse período 
e após. Para ele, o sistema trouxe, desde a sua gênese, sua autodestruição, e/
ou deterioração, corrupto e corruptível. 
Pensar no Brasil inserido na geopolítica mundial é muito complexo, 
pois precisamos levar em consideração as seguintes questões: o Brasil 
político: nação e território; a organização do Estado brasileiro; a distribuição 
espacial da população; os movimentos migratórios: migração, emigração e 
imigração; a estrutura fundiária e seus problemas demográficos; a divisão 
inter-regional do trabalho e da produção e consumo; a integração da indústria 
com a estrutura urbana de modo geral; a gestão ambiental e políticas de 
preservação; a cultura e sua diversidade; as divisões naturais do espaço 
brasileiro em biomas, ecossistemas e domínios e a inserção do Brasil ao 
processo de internacionalização da economia. 
O Brasil atual apresenta algumas questões referentes à geopolítica 
e tem avançado, embora a passos curtos, nas seguintes esferas: produção 
de energias renováveis, como a eólica e a solar, reduzindo o consumo 
e a dependência em relação ao petróleo; crescimento populacional e o 
aumento do consumo que, em tese, tem preocupado quanto às disparidades 
socioeconômicas da sociedade; a exploração por parte de algumas indústrias 
no meio ambiente, no desenvolvimento de suas atividades econômicas, tem 
impactado negativamente, poluindo rios, terras e a atmosfera. Dessa forma, 
um dos maiores desafios dos planejadores urbanos, no Brasil, é administrar as 
deficiências urbanas e suas complexidades, advinda em parte do problema da 
expansão urbana nas periferias metropolitanas em suas diferentes federações 
e da distribuição de renda nas mãos da minoria.
A grande extensão territorial do Brasil possibilitou a expansão da 
agricultura e da pecuária, favorecida pelo clima favorável e terra fértil. A grande 
12 Geografia Histórica do Brasil
variedade de vegetais e paisagens são características do território brasileiro, 
tornando-o complexo em sua estrutura, e com as intensas devastações ao 
longo do tempo comprometeu parte das largas áreas próximas ao litoral, 
perdendo parte de sua cobertura natural. A extração do pau-brasil, a produção 
da cana de açúcar, o café e seu escoamento e o avanço de plantações de 
diversas finalidades são exemplos dessa devastação.
(...) territórios que só esperavam a iniciativa e o esforço do homem. 
É isto que estimulará a ocupação dos trópicos americanos. Mas 
trazendo este agudo interesse, o colono europeu não traria com ele 
a disposição de pôr-lhe a serviço, neste meio tão difícil e estranho, 
a energia do seu trabalho físico. Viria como dirigente da produção 
de gêneros de grande valor comercial, como empresário de um 
negócio rendoso; mas só a contragosto, como trabalhador. Outros 
trabalhariam para ele. (PRADO JR., 1986, p.56)
O Brasil seria o país do futuro? Com essa extensão territorial e 
potencial de produção teria tudo para ser. Entretanto, ao longo da nossa 
história, ainda não conseguimos alcançar esse quilate e o seu real valor 
enquanto Estado, território e nação. As diversas regiões do Brasil, com suas 
características próprias e produções, ao longo da história e da formação social 
do povo brasileiro tem contribuído com seus ciclos econômicos, deslocando 
o eixo econômico e os processos migratórios, redesenhando o território e 
suas identidades regionais, acolhendo migrantes e imigrantes de diversas 
nacionalidades, tornando-se um país múltiplo culturalmente e diverso em 
suas produções. 
Agora, para falarmos do Brasil na geopolítica mundial, precisamos 
adentrar a sua história. O projeto geopolítico não teria sido desenhado e 
idealizado ainda em Portugal com a ideia de resguardar o território e depois 
colonizá-lo? Embora, há quem diga, que a vinda da Família Real portuguesa 
para Brasil tenha sido motivada por outras questões e interesses, não se pode 
negar que a promoção da então colônia de exploração a Reino Unido de 
Portugal, Brasil e Algarves tenha sido um avanço aos olhos do mundo, o que 
motivou o projeto do Brasil Imperial e, consequentemente, a Independência.
Logo, temos um desdobramento na geopolítica, que teve o seu início 
ainda em Portugal, depois da ideia de resguardar e colonizar o território, 
13Geografia Histórica do Brasil
vimos que, com a vinda da Família Real para a sua colônia por uma questão 
de honra e dignidade, a colônia foi promovida, abrindo a possibilidade de 
redesenhar o projeto geopolítico com império e assim por diante até chegar 
à Proclamação da República.
Entretanto, uma outra questão muito relevante foi a queda da Velha 
República e o início da Era Vargas, em 1930, que mais uma vez redesenhou 
o projeto geopolítico, acabando com a política do Café com Leite (1891-
1930). Em seu governo, Vargas deixou bem claro o seu projeto de nação, 
criou a melhor legislação trabalhista e previdenciária que o Brasil já teve, se 
opondo aos interesses internacionais, pois o seu interesse era voltado para o 
Brasil. Dessa forma, o seu governo contrariava os interesses do empresariado 
internacional, imposto pelo governo norte-americano da época. Com 
uma nova estrutura do território brasileiro, um projeto geopolítico 
moderno foi desenhado pensando em uma configuração geográfica que 
durou aproximadamente 60 anos. No período da transferência da capital 
do Brasil, foram idealizadas grandes rodovias, contando todo o território 
nacional, investimentos na educação e várias outras incorporações, visando 
o fortalecimento e desenvolvimento do país. O seu sucessor, Juscelino 
Kubitschek, implantou mudanças em seu governo, dando espaço ao que 
chamamos de globalização, quando trouxe para o país as montadoras de 
automóveis, desestimulando a produção e a indústria nacional e o fim da 
indústria automobilística no Brasil, restando apenas as montadoras, além de 
ampliar o endividamento externo do Brasil. 
O governo de Jânio Quadros durou pouco tempo, preocupado 
em varrer a corrupção instalada, ficou apenas alguns meses e renunciou 
ao cargo, o seu vice e sucessor varguista, João Goulart, enfrentou muita 
dificuldade em governar diante da pressão da classe conservadora brasileira 
e das Forças Armadas, culminando no Golpe Militar de 1964, que durou 21 
anos, gerando retrocesso em diversos setores da sociedade.
Em 1985, o Brasil escreveu uma nova história, com redemocratização 
do país e uma série mudanças na Constituição Federal, que entraram em 
vigor em prol de uma sociedade igualitária em direitos e deveres. Com a 
morte do presidente eleito Tancredo Neves,

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