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Geo-história: Conceitos e Objetos Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Aline Carneiro Silverol 1ª Edição Copyright © 2020, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário Geo-história: Conceitos e Objetos Para início de conversa… .................................................................. 04 Objetivo ........................................................................................... 05 1. Os Conceitos-chave da Geografia e sua Relação com a História .. 06 2. Espaço/Paisagem ................................................................ 12 Referências ....................................................................................... 22 4 Geografia Histórica do Brasil Para início de conversa… As fronteiras não são recortes geográficos, tampouco linhas imaginárias ou mapeadas, embora o processo e avanço da globalização tornem cada vez mais vulneráveis as fronteiras físicas e econômicas; temos a sensação de que não existem mais fronteiras geográficas. Esta disciplina versará sobre a geo-história e seus conceitos, bem como suas dimensões políticas, sociais e culturais, além do espaço vivido, o território enquanto categoria de poder e a territorialidade enquanto um conjunto de elementos e estruturas identitárias. 5Geografia Histórica do Brasil Objetivo Estimular os profissionais em formação à refletirem sobre a importância da relação da História com a Geografia e os conceitos produzidos pela geo- história. 6 Geografia Histórica do Brasil 1. Os Conceitos-chave da Geografia e sua Relação com a História A geografia é uma ciência, um instrumento de análise dos espaços geográficos e suas especificidades, a partir das relações humanas e o meio ambiente. Dessa forma, não há como falar de geografias sem tratar das suas especificidades. Além disso, ela também é uma ciência que estuda o espaço geográfico, que corresponde ao palco das relações e realizações humanas. A necessidade do estudo geográfico teve início paralelamente ao surgimento do homem, pois este e natureza sempre caminharam juntos, e no sentido mais intrínseco, a interdependência entre os dois sempre existiu. Embora o ser humano, entre todas as espécies, tenha a capacidade de modificar o meio ambiente de acordo com suas necessidades, tanto para o bem quanto para o mal, a estreita ligação é visível. Na Antiguidade Clássica, os pensadores e contemporâneos Pitágoras e Aristóteles já apresentavam convicções acerca da forma esférica do planeta. Genericamente, podemos dizer que GEO significa Terra, e GRAFIA, significa descrição. Logo, a definição de GEOGRAFIA seria a descrição da terra, como superfície, atmosfera, hidrosfera, litosfera, biosfera e tantos outros elementos contidos. Nessa perspectiva, o estudo geográfico conduz o pesquisador a diversos olhares e direcionamentos, pois o levantamento de informações passa por diversas ramificações, tratando de elementos naturais, aspectos físicos, sociais, ações antrópicas sobre o espaço natural, organização social, econômica, distribuição populacional, culturas, problemas ambientais, produção culturais, recursos naturais, clima, relevo, hidrografia, vegetação, produção e reprodução humana e tantos outros levantamentos de dados que o estudo geográfico pode desenvolver. O barão de Humboldt, mais conhecido como Alexander von Humboldt, foi um geógrafo, naturalista e explorador, nascido na Prússia, atual Alemanha. Ele foi o precursor da geografia moderna, e baseava-se no estudo empírico corrente que muito contribuiu para o enriquecimento da ciência geográfica. Vejamos, a seguir, algumas subdivisões da geografia moderna: 7Geografia Histórica do Brasil ▪ Geografia Física: Estuda as características naturais, tais como: relevo, hidrografia, vegetação, clima e impactos decorrentes da exploração humana e ações fenomenológicas. ▪ Geografia Humana: Estuda a dinâmica populacional, suas peculiaridades nas relações sociais e transitoriedades. ▪ Geografia Cultural: Estuda os aspectos identitários entre os grupos sociais, a pertença, os aspectos culturais e interculturais, levando em consideração os lugares e não lugares. ▪ Geografia Política: Estuda os poderes e micropoderes existentes nas relações sociais e políticas, e suas implicações na constituição e configuração da política e seus resultados. ▪ Geografia Econômica: Estuda as relações econômicas e seus desmembramentos em todo o mundo, bem como fluxos de capitais, crescimento econômico dos países, valorização e desvalorização das moedas, câmbios entre outros. ▪ Geografia Médica: Estuda as doenças e suas distribuições no espaço geográfico, bem como o mapeamento das doenças, seus impactos nos países ditos em desenvolvimentos e desenvolvidos, assistência médica etc. Vale ressaltar a importância das escolas geográficas dos séculos XIX e XX. O século XIX rompe com a geografia descritiva, surgindo os precursores da geografia moderna: Alexander Von Humboldt, no início do século XIX, e Friedrich Ratzel, no século XI. Nesse período, o mundo está em pleno vapor: o capitalismo chegando e as relações e tratados comerciais alcançando voos mais altos. Quando chega o século XX, surgem os países socialistas e capitalistas, que terminam por reconfigurar as fronteiras; a grande guerra (Primeira e Segunda Guerras Mundiais) e tantas transformações terminam por direcionar novos estudos geográficos. No final do primeiro quartel do século XX, a Geografia Histórica ganhou visibilidade por meio de alguns intelectuais franceses pertencentes ao Collège de France, como: Auguste 8 Geografia Histórica do Brasil Longnon (1844-1911), Jean Brunhes (1869-1930), André Siegfried (1875- 1959), Roger Dion (1896-1981), Pierre Gourou (1900-1999) e tantos outros. Todos estes pensadores, geógrafos e professores de grandes universidades europeias, deixaram suas contribuições na fundação da Geografia Histórica, mas Auguste Longnon é reconhecido como o precursor e fundador. Vejamos, a seguir, algumas especificidades geográficas: Paisagem: A paisagem pode ser definida como uma forma em que a produção do espaço geográfico se revela diante da visão humana, não apenas dos olhos, pois o conceito de paisagem perpassa por todos os sentidos: tato, olfato, paladar e audição. A paisagem se define por expressar, externamente, um espaço baseado nos sentidos humanos. Com o nascimento da Geografia Histórica e Moderna, a concepção de paisagem ganhou e incorporou uma nova abordagem, pois nesse período, os interesses sociais se voltaram para as questões ecológicas e sustentáveis, o que terminou mudando a visão e o olhar para o desenvolvimento sustentável, colocando as visões utilitárias e descritivas de paisagem em um outro plano. Nessa perspectiva, a interpretação do que é paisagem está também associada ao entendimento e influências culturais dos últimos tempos. Logo, os elementos e símbolos culturais têm contribuído de forma determinante para o comportamento social e as relações com o meio ambiente, pois as marcas identitárias estão estreitamente representadas nas paisagens. A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É uma determinada porção do espaço, resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem umconjunto único e indissociável, em perpétua evolução. (BERTRAND, 1971, p. 2) Sauer (1925), em sua obra “Morfologia da Paisagem”, descreve que a paisagem cultural, diferentemente da paisagem natural, representa a materialização do pensamento humano, enquanto a paisagem natural 9Geografia Histórica do Brasil representa a combinação de elementos específicos como: relevo, vegetação, rios e tantos outros elementos. Dessa forma, o entendimento de paisagem depende da interação entre os elementos naturais antrópicos. Espaço: O espaço é um conjunto de formas e elementos, que contém movimentações sociais em constante diálogo com objetos geográficos e naturais, ou seja, é a própria realidade das coisas se relacionando ora com a sociedade, ora com a natureza. O espaço geográfico é também um termo muito utilizado na geografia na caracterização de lugar modificado por seres humanos. Espaço e lugar, embora harmônicos e familiares, têm significados diferentes. O lugar está muito ligado ao que compreendemos por segurança, já o espaço está ligado ao que compreendemos por liberdade. O espaço pode ser uma forma abstrata, embora o conceito de espaço se funda com o conceito de lugar, uma vez que o que começa como espaço termina, com o passar do tempo, se transformando em lugar. O espaço pressupõe a capacidade de mover-se, de se deslocar, e dessa forma, o espaço, enquanto localização ou perímetro relativo, está sempre se dirigindo a um objeto ou lugar. O sentido de espaço se origina das capacidades visual, auditiva e subjetiva das coisas. A sonorização das coisas do mundo está em constante conexão e diálogo, e somada a todas estas peculiaridades dos sons, a claridade das coisas ou até mesmo a subjetividade da visão enquanto um dos sentidos vai além do que se espera da visão ou do objeto visualizado. Os ruídos e sons terminam por colaborar para a construção do espaço auditivo; assim, os ruídos e sons podem evocar as impressões espaciais, sejam elas naturais (trovão, ventania, chuva etc.) ou não naturais (sirene, buzina, notas musicais, entre outros). O espaço enquanto símbolo de liberdade e sua própria amplidão é muito complexo, pois liberdade implica em espaço suficiente para atuar. O espaço tem um alcance mensurável, é simbólico, e quando fechado e humanizado, se torna lugar. Lugar: O lugar é um ponto de partida, de chegada, de encontros e de desencontros. O lugar é parte do mundo, de um território, de uma região e desempenha um papel fundamental em sua história. O lugar seria também a 10 Geografia Histórica do Brasil fronteira demarcada entre a natureza e a sociedade. O lugar antropológico seria definido como lugar de pertença, simbólico, identitário, relacional e histórico. Para Certeau (1998, p.201), o lugar seria “uma configuração instantânea de posições. Implica uma relação de estabilidade”. Nessa perspectiva, seria possível entender o lugar como uma casa, uma praça, uma rua, ou até mesmo um bairro. Augé (2006) define o “não lugar” como espaços não identitários, não históricos e não relacionais. Nessa perspectiva, o lugar constrói uma identidade, pertença e passa por sua localização em um espaço. A ideia e lugar tornam-se mais específicos, geograficamente falando, quando já foram delimitados ou concebidos como lugar de pertença, o que caracteriza um laço emocional com o lugar. Dessa forma, o sentimento de pertença por um determinado lugar traz uma carga de afetividade generosa influenciada pelo conhecimento do lugar. O que seria então lugar e não lugar, cheio e vazio? Sabe-se que o lugar antropológico está cheio de sentido social. O lugar pressupõe profundo significado de pertença e de identidade para o sujeito, logo, a imaginação espacial adquirida ao longo das experiências vividas termina por aproximar o sujeito ao seu lugar de origem. Nessa perspectiva, o homem é o resultado da sua própria experiência de vida e de mundo, tornando-o diferente de qualquer outro animal. Mas, na medida em que o não lugar é o negativo do lugar, torna- se de fato necessário admitir que o desenvolvimento dos espaços da circulação, da comunicação e do consumo é um traço empírico pertinente da nossa contemporaneidade, que esses espaços são menos simbólicos do que codificados, assegurando neles toda uma sinalética e todo um conjunto de mensagens específicas (através de monitores, de vozes sintéticas) na circulação dos transeuntes e dos passageiros (Augé, 2006, p.115). Geograficamente, o conceito de “lugar” representa uma porção de espaço dotada de significados e sentidos simbólicos e materiais, embora o termo possua uma série de significados, como: observatório, ponto de encontro, área, localidades e tantas outras. O significado de lugar é tão complexo, que não há uma definição definitiva; há apenas abordagens na utilização do termo. Segundo Sauer (1925), o termo “Lugar” é definido pela paisagem cultural, pois o sentido de lugar estaria vinculado à ideia da paisagem em si. 11Geografia Histórica do Brasil Região: A região é uma área delimitada geograficamente; é uma construção humana, também definida como uma extensão territorial que, por meio de seu clima, solo, vegetação, flora, fauna, produção cultural, econômica, diferencia-se de demais regiões, sendo demarcada, estabelecida e delimitada geograficamente. O conceito de região também faz referência à uma porção delimitada do território definida por questões geográficas, culturais e sociais, e que conta com várias subdivisões da região em subáreas. A definição sistematizada do conceito de “região” foi elaborada por Herbertson, em seu artigo datado de 1905. O geógrafo se preocupou em criar uma geografia sistemática com ordens e divisões geográficas. Segundo Kayser (1966, p.283): As regiões são organismos vivos e complexos. Nascem, isto é, tomam corpo e se cristalizam – desenvolvem-se, isto é, se estruturam de uma maneira cada vez mais firme, ganham coesão. Também podem morrer bruscamente, devido à intervenção de um agente exterior, ou por lenta desintegração. O termo região deriva do latim regio, que tem como raiz o prefixo reg, que surge do significado de regência. Nos séculos XX e XXI, surgiram os conceitos de região natural, região geográfica e região homogênea. Estes termos têm apresentado vários dilemas relacionados à aplicabilidade dos conceitos, e por conta disso, constantemente, geógrafos são convidados para esclarecer os termos. Vale ressaltar que a definição de região tem uma estreita ligação com a relação entre sociedade e natureza. Território: O território, tradicionalmente falando, foi utilizado como conceito para estudar as relações entre espaço e poder desenvolvidas pelos Estados nacionais, sendo também definido como um espaço delimitado pelo exercício de uma determinada soberania nacional. Este termo é também utilizado na política, na biologia e na psicologia. O pensamento geográfico vem se aperfeiçoando ao longo dos últimos séculos e o conceito de território continua relacionado e marcado pelas questões de poder. Assim, pode-se dizer que o poder e o território, embora 12 Geografia Histórica do Brasil autônomos, consolidam o conceito de território. O território é um espaço construído e delimitado a partir das relações de poderes políticos, econômicos e sociais. Podem as formas, durante muito tempo, permanecer as mesmas, mas como a sociedade está sempre em movimento, a mesma paisagem, a mesma configuração territorial, nos oferecem, no transcurso histórico, espaços diferentes. (SANTOS, 1996, p.77). Um território pode ser considerado como um conjunto de lugares, conectados a outros, mesmo antes de ser uma fronteira. O enraizamento no interior dos lugares entre grupos étnicos tem uma estreita ligação com a natureza e ambiente local. Mesmo em movimento e trânsito, o território representa o lugar simbólico e lugar da cultura. Ao longo da história do pensamento geográfico, pode-se conferir as diversas transformações no mundo, nos aspectosterritoriais, sociais, econômicos, políticos e ambientais, e a geografia perpassou, trazendo contribuições significativas para uma melhor compreensão das relações humanas e de poder, sempre na busca pelo controle cultural, identitário e econômico. 2. Espaço/Paisagem A geografia histórica apresenta uma abordagem mais humanista, com múltiplas leituras sobre o espaço e suas composições de formas e sentidos. Dessa forma, o arranjo espacial das formas e suas composições nos comunicam em forma de linguagem, embora subjetiva e abstrata. Três características definem o “espaço geográfico”: I) é sempre uma extensão fisicamente constituída, concreta, material, substantiva; II) compõe-se pela dialética entre a disposição das coisas e as ações ou práticas sociais; III) a disposição das coisas materiais tem uma lógica ou coerência. (GOMES, 2002, p.172) 13Geografia Histórica do Brasil O espaço e a paisagem são construções humanas, de uma sociedade complexa em suas realizações e idealizações. Paisagem pode ser tudo o que nós percebemos, perpassando por todos os sentidos (visão, audição, tato e paladar), indo além de tudo isso, pois a subjetividade das coisas que sentimos, ouvimos, percebemos e vemos interfere na dimensão espacial e paisagística. Figura 1: Espaço. Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 2: Paisagem. Fonte: Elaborado pelo autor. Espaço Espaço Espaço Paisagem 14 Geografia Histórica do Brasil A compreensão das coisas só é possível quando todos os sentidos estão diminutamente dialogando. Segundo Santos (1985), perceber não é conhecer, pois depende da interpretação que termina por dar significado à paisagem e ao espaço. Nessa perspectiva, a união da paisagem com a população é o que dá sentido ao espaço. “O espaço é igual à paisagem mais todas as formas de vida nela existente.” (SANTOS, 1985, p.56) A Paisagem Cultural da Cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, representa a harmonia entre a paisagem natural e a intervenção do homem. A paisagem não é estática, tampouco permanente; ela se transforma a cada ação humana sobre ela. A paisagem sofre uma constante mutação em suas formas naturais e artificiais; sua forma heterogênea se multiplica, divide, e sofre alteração em sua cor e volume a partir da produção humana. Quando transformada pelo homem, a paisagem natural passa a ser artificial. Espaço geográfico é todo e qualquer espaço delimitado pelos movimentos sociais. “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem (…). Não apenas formada de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.” (SANTOS, 1996, p.61) Dessa forma, a paisagem nada mais é do que um conjunto de elementos culturais, naturais e artificiais, que embora humanizados, podem ser observados em qualquer lugar. Vale ressaltar que os fenômenos naturais, como chuvas, relâmpagos, tufão, maremoto, terremoto e tantos outros também são elementos capazes de modificar as paisagens. Observe, a seguir, algumas paisagens: Figura 3: Ilha de Páscoa - Chile. Fonte: Dreamstime 15Geografia Histórica do Brasil Figura 4: Machu Picchu - Peru. Fonte: Dreamstime. Figura 5: Cataratas do Iguaçu – Brasil. Fonte: Dreamstime. 16 Geografia Histórica do Brasil Figura 6: Tsunami – Japão. Fonte: Dreamstime. O espaço deve ser considerado em sua totalidade, levando em consideração todos os elementos que o compõem, independente do tempo. “O espaço evolui pelo movimento da sociedade total”. (SANTOS, 1978, p.171). Nessa perspectiva, embora submetido à lei da totalidade, o espaço dispõe de autonomia. O espaço, considerado como um mosaico de elementos de diferentes eras, sintetiza, de um lado a evolução da sociedade e explica, de outro lado, situações que se apresentam na atualidade. (…) a noção de espaço é assim inseparável da ideia de sistemas de tempo. (SANTOS, 1985, p.21-22) Então, o espaço seria o resultado das forças e relações de produção e a própria necessidade de circulação, distribuição e consumo. As intervenções sociais e as novas tecnologias têm impactado nos espaços naturais, tornando-os cada vez mais artificiais, e como o espaço é uma produção humana, ele está em 17Geografia Histórica do Brasil constante mutação. Dessa forma, o espaço seria um fator social e não apenas um reflexo, uma vez que o espaço é uma construção humana organizada pelo homem, de acordo com suas necessidades econômicas e culturais. O espaço, sendo uma instância social e mutável, que tende a reproduzir-se, é ao mesmo tempo subordinado à lei da totalidade. Historicamente, as sociedades construíram seus espaços, enquanto lugar de convivência, de segurança, de comensalidade, de festas, de trabalho, de moradia, e este espaço social e humano é o que chamamos de lugar de pertença. Este espaço se define como “um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que se manifestam através de processos e funções” (SANTOS, 1978, p.122). Nessa perspectiva, o homem e o espaço estão conectados, e é nessa interdependência que percebemos que o espaço só é espaço, seja geográfico ou social, se for organizado pelo homem. O ser humano é o único animal que constrói e reconstrói o seu espaço e lugar, de acordo com as suas necessidades e interesses. Em suma, o espaço traduz a totalidade à medida que a sociedade o transforma, e à medida que as engrenagens estruturais estão em constante diálogo, seja na produção, nas relações sociais, na distribuição da população, na economia e nas relações de consumo. Espaço/Território/Territorialidade Você já ouviu falar, em algum momento, sobre a definição do termo espaço, território e territorialidade? Mas, com certeza, você já assistiu na televisão, em telejornais, notícias sobre conflitos armados, invasão de países sobre outros, como os Estados Unidos invadindo o Iraque, e depois o Afeganistão, no final a última década do século XX, certo? Observe que todo conflito, quase sempre armado, se estabelece em um espaço geográfico, que pode ser compreendido a partir da noção de território. No âmbito do estudo da geografia, existem diferentes definições do termo “território”, cujos sentidos dependem da abordagem empregada (cultural, social, política ou jurídica). 18 Geografia Histórica do Brasil O termo “território” deriva do vocábulo latino terra, que corresponde, nessa língua, a “territorium”. Território tem vários sentidos, quando analisado política, social, cultural e economicamente. Na verdade, o conceito de território não mudou ao longo da história; o termo ganhou novos significados, a fim de atender melhor às dúvidas relacionadas ao estudo da geografia. Continuando a busca pela compreensão dos aportes conceituais da geografia histórica, discutiremos a dialética entre espaço, território e territorialidade, sob a perspectiva da ciência. Dessa forma, faz-se necessário entender o conceito de território e territorialidade, na perspectiva da geografia humana, além de estabelecer uma relação e/ou diálogo entre o espaço vivido, o território demarcado e a territorialidade em questão. A lógica se dá à medida que uma fração complementa a outra em todos os sentidos. Assim, a noção de paisagem, enquanto fragmento ou fração do espaço, se reflete da mesma forma quando tratamos da territorialidade e do território. O território, visto numa perspectiva histórica, pode ser considerado amplo, justamente por abranger toda a história humana. Pode-se também dizer que o território é responsável pela reprodução dos grupos sociais, reforçando a ideia de que as relações sociais são mediadas espacial e geograficamente. Nessa perspectiva, as relações sociais e de poder são mediadas pelo espaço. Para Santos (1978, p.171), “o espaço é uma instância social”. A constituição geográfica de um grupo social, ou até mesmo da própria sociedade, começa com a localização espacial. Dessa forma, a localização se estabelece no sistema de distribuição social, econômica ecultural. Estudos sobre território e territorialidade conquistaram espaços no Brasil, a partir das últimas três décadas do século XX. 19Geografia Histórica do Brasil Figura 7: Território. Fonte: Do autor. Figura 8: Territorialidade. Fonte: Do autor. Território Territorialidade Territorialidade Territorialidade 20 Geografia Histórica do Brasil Figura 9: Lugar. Fonte: Do autor. Território poderia ser também uma construção histórica bem regulamentada e definida, responsável pela formação dos Estados modernos. Uma das mais importantes características a ser analisada sobre o conceito de território é a sua historicidade, pois sempre esteve presente em todos os períodos históricos, delimitada geograficamente. Já a territorialidade apresenta um outro papel, pois teria como forma de controle os processos sociais. Territorialidade será definida como a tentativa, por um indivíduo ou grupo, de atingir, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relacionamentos, pela delimitação e afirmação do controle sobre uma área geográfica. Esta área será chamada território. (SACK, 1986, p.19). O território representa a dimensão cultural, simbólica e identitária dos grupos sociais e termina por sustentar a identidade e os símbolos dos grupos, a partir das lutas e resistências locais. O conceito antropológico de territorialidade é “o esforço coletivo de um grupo social para ocupar, usar, controlar e se identificar com uma parcela específica de seu ambiente biofísico, convertendo-a assim em seu território” (LITTLE, 2002, p.3). A territorialidade é fundamental para a constituição Lugar 21Geografia Histórica do Brasil da identidade e as duas são fundamentais para a construção do território. Dessa forma, o território é o resultado das diversas territorialidades; seria o produto dos processos sociais e políticos. A territorialidade representa a multidimensionalidade com que se constitui o território, como lugares com determinado grau de enraizamento, pertença e identitária. Neste capítulo vimos que a construção de um território, enquanto espaço, requer uma série de elementos em sua constituição. Logo, o espaço vivido e suas relações com a sociedade; a territorialidade marcada pela pertença e identidade são fatores que possibilitam a construção do território. Dessa forma, não há território legítimo se estes elementos constitutivos não dialogarem entre si. 22 Geografia Histórica do Brasil Referências AUGÉ. M. Para que vivemos? Lisboa: 90 Graus, 2006. BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: um esboço metodológico. Revista IGEOG/USP - Caderno de ciências da terra. São Paulo: USP, n. 13, 1971. CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1998. GEO UERJ. Exemplos brasileiros de geografia histórica: considerações sobre as obras de Maurício Abreu e Antonio Carlos Robert Moraes. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/6913 Acesso em: 07 jan. 2020. GOMES, P. C. C. A condição urbana: ensaios de geopolítica da cidade. Rio de Janeiro: Bertrand, 2002. HENRIQUE OLIVEIRA. Breve análise conceitual de território. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=I6U9kz8ui9w. Acesso em: 04 jan. 2019. KAYSER, B. Les divisions de l’espace géographique dans les pays sous- développés. Annales de Géographie. Paris, v. 75, 1966. LITTLE, P. E. Territórios Sociais e Povos Tradicionais no Brasil. Por uma antropologia da territorialidade. Série Antropologia. 2002. Disponível em: http://www.unb.br/ics/dan/Serie322empdf.pdf. Acesso em: 04 jan. 2019. http://www.unb.br/ics/dan/Serie322empdf.pdf 23Geografia Histórica do Brasil MACHADO, M. S.; GOMES, A. N. D. Exemplos Brasileiros de Geografia Histórica. 2013. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index. php/geouerj/article/view/6913 Acesso em: 04 jan. 2019. SACK, R. Humam territoriality: its theory and history. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. SANTOS, M. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1996. ______. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985. ______. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1978. SAUER, Carl O. A morfologia da paisagem. Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1925. https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/6913 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/6913 Espaço geográfico, história e a longa duração Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Aline Carneiro Silverol 1ª Edição Copyright © 2020, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário Espaço geográfico, história e a longa duração Para início de conversa… ................................................................... 04 Objetivo ............................................................................................ 05 1. Fernand Braudel e a Conjuração do Tempo e do Espaço ............ 06 2. A Ocupação do Espaço Geográfico Brasileiro na Perspectiva da Longa Duração: o Latifúndio .............................................. 14 Referências ........................................................................................ 20 4 Geografia Histórica do Brasil Para início de conversa… A geopolítica do Brasil apresenta traços específicos ao longo dos últimos 500 anos. Entre eles, podemos citar os períodos Colonial, Imperial, Republicano e a Nova República, com características não distintas das anteriores, embora, perceba-se uma série de transformações diminutas, lenta e gradual. O conceito “geopolítico” ainda é muito prematuro quando se trata da história geopolítica do Brasil. Enquanto categoria da geografia, este analisa os fenômenos históricos e políticos do mundo atual e globalizado, levando em consideração os acontecimentos anteriores. Seu objetivo é reinterpretar a dimensão estrutural enquanto resultado dos conflitos políticos e sociais, ideológicos, culturais e territoriais de forma integrada com as demais ciências e áreas do conhecimento. Este conceito é relativamente novo e tem como marco o final do século XIX, estendendo-se no século XX, e sendo utilizado pela primeira vez pelo cientista sueco Rudolf Kjellén, por volta de 1899. 5Geografia Histórica do Brasil Objetivo Compreender a temporalidade de longa duração formulada por Braudel. 6 Geografia Histórica do Brasil 1. Fernand Braudel e a Conjuração do Tempo e do Espaço Braudel defende que a história das sociedades é simultaneamente espacial e temporal e que o espaço alterado, seja de forma natural ou artificial, revela uma estrutura histórica, embora de passagem. Seu orientador, Lucien Paul Victor Febvre, historiador modernista francês e cofundador da “Escola de Annales” o acompanhou enquanto esteve preso, já que ele poderia receber e enviar cartas durante o período em que esteve no cativeiro. Ao defender a importância e a necessidade do conhecimento histórico, Braudel recorre à noção de tempo, pois no seu entendimento, a história não se limita aos estudos individualizados e particularizados, mas sim, nas permanências observadas a longa duração, embora o seu foco fosse as transformações ou mudanças. Para ele, o estudo entre longa duração e a curta duração seria relevante para a construção da história, ou seja, para Braudel, a curta duração versa apenas dos acontecimentos instantâneos, rápidos, comoas conjurações, revoltas, guerras, os tratados políticos. Já a longa duração trata dos fenômenos ou acontecimentos mais lentos, quase imperceptíveis aos olhos humanos, mas que deixa profunda contribuição, como as ideias, pensamentos, mentalidades entre outros. Nessa perspectiva, o ser humano não consegue fugir do seu tempo histórico, pois as mudanças acontecem a todo instante, mesmo que de maneira lenta e gradual, independente da vontade humana. De forma metafórica, ele dizia que nem mesmo as estruturas são eternas, focando na diacronia e observando suas mudanças e transformações sucessivas. Já Lévi-Strauss buscava compreender as sociedades primitivas a partir de suas estruturas internas de forma sincrônica. Dessa forma, Braudel (1992, p.49) reforça que o tempo histórico é inegável e que todo o ser humano o vivencia. Por estrutura, os observadores do social entendem uma organização, uma coerência, relações bastante fixas entre realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é sem dúvida, articulação, arquitetura, porém mais ainda, uma realidade que o tempo utiliza mal e veicula mui longamente. 7Geografia Histórica do Brasil Embora contrário à linha estruturalista de seu contemporâneo Lévi-Strauss, Braudel não rejeitava o método estruturalista, mas reforçava que antes de qualificar a estrutura, ela deveria passar por uma análise mais cuidadosa, sendo confrontada com o tempo e suas mudanças. Já que a história é responsável por se dedicar ao estudo do tempo e suas durações, o uso da história de longa duração seria mais precisa. Como a história se organiza? A história se organiza em fases, em épocas, em ciclos, em estações, em períodos? De que forma o conhecimento histórico se organiza? O conhecimento histórico se organiza com base nas marcações do tempo, do lugar, do espaço? Temos o calendário universal e as periodizações históricas, que também funcionam como referenciais universais, embora estejamos a todo instante criando marcos ou demarcações, e fatiando o tempo para explicar acontecimentos de ordem natural e artificial. Tudo isso nos ajuda a lidar e a melhor compreender as temporalidades. Ontem, um dia, um ano podia parecer boas medidas para um historiador político. O tempo era uma soma de dias. Mas uma curva dos preços, uma progressão demográfica, o movimento dos salários, as variações da taxa de juro, o estudo (mais imaginado do que realizado) da produção, uma análise precisa da circulação reclamam medidas muito mais amplas. (BRAUDEL, 2005, p.47) Seria possível identificar os principais períodos da história? Por que eles foram criados? Seriam as periodizações criações humanas? Por serem construções humanas, não seriam passíveis de mudanças e novas interpretações? Pense nisso! Braudel utiliza a geografia, enquanto desafiadora da história, para captar a realidade viva do movimento histórico, das estratégias tomadas pelas civilizações de sobrevivências e a longa duração. “A geografia prevalece sobre a história. Os contextos geográficos, embora não sejam os únicos a contar, são os mais significativos” (BRAUDEL, 2004, p.128-129). Durante séculos, o homem é prisioneiro de climas, de vegetações, de populações animais, de culturas, de um equilíbrio lentamente construído do qual não pode desviar-se sem o risco de pôr tudo novamente em jogo. Vede o lugar da transumância na vida 8 Geografia Histórica do Brasil montanhesa; a permanência de certos setores da vida marítima enraizados em certos pontos privilegiados das articulações litorâneas; a durável implantação das cidades; a persistência das rotas e dos tráficos; a fixidez surpreendente do quadro geográfico das civilizações (BRAUDEL, 2005, p.50). Nessa perspectiva, a geografia testemunha a diversidade, permitindo uma constante interação entre as sociedades e a natureza. Vale lembrar que o ritmo do homem segue um compasso distinto do ritmo da natureza, e que ele não está sozinho, portanto, esse processo depende do espaço vivido e modificado. “A geografia não se limita ao estudo da Terra; ela se estende a tudo o que vive sobre a Terra – notadamente o homem, sua vida econômica, social e política” (SIEGFRIED, 1941, p.484). Veja, abaixo, um recorte textual do livro “História e Ciências Sociais”, de Fernand Braudel: A Longa Duração Há uma crise geral das ciências do homem: todas elas se encontram esmagadas pelos seus próprios progressos, mesmo que isso seja devido apenas à acumulação de novos conhecimentos e à necessidade de um trabalho colectivo, cuja organização inteligente ainda está por estabelecer; directa ou indirectamente, todas se vêem afectadas, queiram-no ou não, pelos progressos das mais ágeis entre elas, ao mesmo tempo que continuam, no entanto, lutando com um humanismo retrógrado e insidioso, incapaz já de lhes servir de ponto de referência. Todas elas, com maior ou menor lucidez, se preocupam com o lugar a ocupar no conjunto monstruoso das antigas e recentes investigações, cuja necessária convergência se vislumbra. O problema está em saber como as ciências do homem irão superar estas dificuldades: se através de um esforço suplementar de definição ou, pelo contrário, mediante um incremento de mau humor. Em todo o caso, preocupam-se hoje mais do que ontem (com o risco de insistir teimosamente em problemas tão velhos como falsos) em definir os seus objetivos, métodos e superioridades. 9Geografia Histórica do Brasil Braudel (1990, p.261-263) Nessa perspectiva, um acontecimento pode representar diversos significados e relações. Os acontecimentos, sejam de pequena, média ou longa duração, podem testemunhar questões mais complexas e profundas em relação ao fato ocorrido. Encontram-se comprometidas, obstinadas, em confusas lutas a respeito das fronteiras que possam ou não existir entre elas. Cada uma sonha, de fato, manter-se nos seus domínios ou voltar a eles. Alguns investigadores isolados organizam aproximações: Claude Lévi-Strauss impele a antropologia «estrutural» para os processos da linguística, os horizontes da história «inconsciente» imperialismo juvenil das matemáticas «qualitativas». Tende para uma ciência capaz de unir, sob o nome de ciência da comunicação, a antropologia, a economia política e a linguística. Mas quem é que está preparado para transpor fronteiras e prestar-se a reagrupamentos, no momento em que a geografia e a história se encontra à beira do divórcio? [...]. História e Duração Todo o trabalho histórico decompõe o tempo passado e escolhe as suas realidades cronológicas, segundo preferências e exclusões mais ou menos conscientes. A história tradicional, atenta ao tempo breve, ao indivíduo e ao acontecimento, habituou-se desde há muito à sua narração precipitada, dramática, de pouco fôlego. A nova história econômica e social cola no primeiro plano da sua investigação a oscilação cíclica e aposta na sua duração: deixou- se iludir pela miragem – e também pela realidade – dos aumentos e quedas cíclicas de preços. Desta forma, existe hoje, a par da narração (ou do «recitativo») tradicional, um recitativo da conjuntura que para estudar o passado o divide em amplas seções: períodos de dez, vinte ou cinquenta anos. [...]. 10 Geografia Histórica do Brasil Um evento, a rigor, pode carregar-se de uma série de significações ou familiaridades. Dá testemunho por vezes de movimentos muito profundos e, pelo jogo factício ou não das “causas” e dos “efeitos” caros aos historiadores de ontem, anexa um tempo muito superior à sua própria duração (BRAUDEL, 1992, p.45). Todos os acontecimentos, sejam em cadeias ou esporádicas, carregam um tempo muito superior ao tempo de duração, embora pouco perceptível. Diferentemente de um acontecimento de curta duração, como uma partida de futebol, uma eleição, uma catástrofe, o aumento do valor do pão, ditos históricos, que são, na verdade, pequenos acidentes da vida cotidiana. Essa duração social, esses tempos múltiplos e contraditórios da vidados homens, que não são apenas a substância do passado, mas também o estofo da vida social atual (...). Que se trate do passado ou da atualidade, uma consciência clara dessa pluralidade do tempo social é indispensável a uma metodologia comum das ciências do homem (BRAUDEL, 1992, p.43). Marc Bloch (considerado o pai da antropologia histórica e personagem indispensável da escola de Annales) junto com Braudel dialogavam em suas produções, pois a prática da interdisciplinaridade era uma marca nas produções dos historiadores. Os dois pensadores viveram tempos de guerras e estes períodos tornaram-se seleiros e fontes inesgotáveis para pesquisadores. Por qual razão Braudel apresenta a história como disciplina em crise? Por que Braudel defende a interdisciplinaridade e o trabalho conjunto das disciplinas? Sob a perspectiva da longa duração, Braudel elabora uma abordagem da história capaz de isolar um instantâneo em meio à diversidade do mundo, sondando as permanências e as repetições da história, as constâncias e os constrangimentos da vida social (RODRIGUES, 2009, p.166). Braudel destaca os passos percorridos pela história nos acontecimentos de longa duração. Preocupado em compreender as mudanças ocorridas na sociedade ao longo do tempo, ele também não deixa de analisar as 11Geografia Histórica do Brasil permanências e as repetições da história. Para ele, os historiadores modernos apresentam “uma forte desconfiança em relação à história tradicional e história dos acontecimentos” (BRAUDEL, 1992, p.11). Assim, as ciências humanas nas últimas décadas têm se preocupado em analisar, de forma cuidadosa, o social em sua totalidade, e para que isso seja possível, a interdisciplinaridade é imprescindível para o pesquisador. A história tradicional, ao longo do tempo, se limitou ao tempo breve, narrativo, dramático e precipitado. A recente ruptura com as formas tradicionais do séc. XIX implicou uma ruptura total com o tempo breve. Operou, como se sabe, em proveito da história econômica e social e em detrimento da história política. [...] O historiador dispõe com toda a certeza de um tempo novo, elevado à altura de uma explicação, em que a história se pode inscrever, recortando-se, segundo pontos de referência inéditos, segundo curvas e a sua própria respiração. (BRAUDEL, 1992, p.13). Dessa forma, a ruptura do tempo breve objetivava recuperar acontecimentos em sua totalidade, levando em consideração questões sociais, econômicas e políticas. Nesse contexto de ruptura, o personagem central não seria o homem? Se os homens fazem história, porque a ignoraram por tanto tempo? Estas curvas históricas não seriam a negação do homem ao tempo vivido, às suas produções naturais e artificiais? O que seria o tempo novo senão um aproveitamento do tempo tradicional acrescendo novos olhares e análises? Os observadores do social entendem por estrutura uma organização, uma coerência, relações suficientemente fixas entre realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é, indubitavelmente, um agrupamento, uma arquitectura; mais ainda, uma realidade que o tempo demora imenso a desgastar e a transportar. Certas estruturas são dotadas de uma vida tão longa que se convertem em elementos estáveis de uma infinidade de gerações: obstruem a história, entorpecem-na e. portanto, determinam o seu decorrer. (BRAUDEL, 1992, p.14). Como exemplo de evento de longa duração, podemos citar a escravidão no Brasil, que durou aproximadamente 350 anos. 12 Geografia Histórica do Brasil Figura 1: Tipos físicos de diferentes nações africanas escravizadas no Brasil. Litografia de Jean-Baptiste Debret publicada no livro Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, em 1835. Dessa forma, o homem enquanto prisioneiro do tempo, dos climas, das vegetações, das culturas, da política, da economia e de tantos outros aprisionamentos, há séculos, consiste em elementos tentadores para o historiador analisar, utilizando o tempo de suas durações. Até que ponto as estruturas construídas, ao longo da história da humanidade, obstruíram a história real, entorpeceram os acontecimentos e, por fim, determinaram os resultados? O historiador moderno tem um papel fundamental no esclarecimento dos acontecimentos de longa duração, pois o seu compromisso com a verdade vai além dos seus interesses pessoais e particulares. Aqui, busca-se compreender não as permanências, mas as mudanças ocorridas nas sociedades nas últimas décadas. Vale ressaltar que a longa duração ainda aparece como uma possibilidade embaraçosa, porém importante enquanto perspectiva e abordagem nas análises históricas. A costumada ampliação do estudo e da curiosidade. Tão-pouco se trata de uma escolha, de que a história seja a única beneficiada. Para o historiador, aceitá-Ia equivale a prestar-se a uma mudança de estilo, de atitude, a uma inversão de pensamento, a uma nova concepção do social. (BRAUDEL, 1992, p.17) O historiador, partindo dessa perspectiva de análise dos acontecimentos históricos, passa a se preocupar com todas as ciências do homem, desbravando as fronteiras disciplinares, curiosidades, mudanças naturais e artificiais, descobertas no campo das ciências sociais e aplicadas, e políticas culturais, econômicas, ambientais e fenomenológicas. O historiador tem um papel about:blank about:blank about:blank about:blank about:blank 13Geografia Histórica do Brasil social enquanto analista de todas estas áreas do conhecimento ao registrar os acontecimentos. A curiosidade move, desloca, aguça e direciona o olhar do historiador/pesquisador, embora exista a possibilidade da contaminação da história por outras ciências. Assim, a história e a duração do tempo como possibilidades dimensionais necessárias ao estudo dos acontecimentos e das preocupações teóricas nos presenteia com o estudo da longa duração. Para Braudel (1992, p.17) “a história é a soma de todas as histórias possíveis: uma coleção de ofícios e de pontos de vista, de ontem, de hoje e de amanhã.” [...] em cada lugar, os sistemas sucessivos do acontecer social distinguem períodos diferentes, permitindo falar de hoje e de ontem. Este é o eixo das sucessões. Em cada lugar, o tempo das diversas ações e dos diversos atores e a maneira como utilizam o tempo social não são os mesmos. Já no viver comum de cada instante, os eventos não são sucessivos, mas concomitantes. Temos aqui o eixo das coexistências. (SANTOS, 2004, p.159) Milton Santos reforça que, em cada lugar, encontram-se, simultaneamente, a diacronia e a sincronia, no tempo das diversas ações e atores. Embora, no espaço geográfico, as temporalidades não se apresentem da mesma forma para os diversos agentes sociais, elas acontecem e se manifestam simultaneamente. A geografia humana na interpretação dos lugares precisa levar em consideração as formas sociais enquanto produções históricas. Logo, a forma como Santos nos apresenta a análise dos lugares em sua totalidade é a forma que Braudel reforça, em sua análise sobre os movimentos e mudanças nas sociedades, a apresentação do tempo de longa duração como fio condutor. “[...] o espaço é a acumulação desigual de tempos” (SANTOS, 2004, p.9). Assim, a geografia se apresenta como pano de fundo no desenrolar dos acontecimentos históricos, reforçando a importância das contribuições de outras áreas do conhecimento na produção histórica, por meio da prática interdisciplinar. Para trabalhar com o tempo e o espaço, é necessário levar em consideração outras possibilidades e parâmetros comparáveis, pois o espaço se caracteriza pela diferença entre os elementos que o compõem. 14 Geografia Histórica do Brasil [...] cada lugar geográfico concreto corresponde, em cada momento, um conjunto de técnicas e de instrumentos de trabalho, resultado de uma combinação específica que também é historicamente determinada (SANTOS, 2004, p.56) Nessa perspectiva, as múltiplas relações entre o lugar geográfico e suas produções terminampor estabelecer recortes temporais e o próprio tempo relacionado ao lugar vivido. Logo, para compreendermos as periodizações, são necessárias ações humanas em seu tempo. 2. A Ocupação do Espaço Geográfico Brasileiro na Perspectiva da Longa Duração: o Latifúndio O que seria o espaço geográfico? Seu conceito sofre variações? Apresenta característica específica? Seria o espaço geográfico a materialização da relação entre o meio ambiente e o homem e suas ações? O espaço geográfico é um dos principais conceitos da geografia, e conhecermos o seu significado significa conhecer o espaço geográfico do nosso país e sua importância para a nossa soberania. Para Santos, o espaço geográfico seria um conjunto de sistemas de objetos e ações humanas. Para os geógrafos de corrente humanista, o conceito de espaço geográfico está vinculado à subjetividade por questões culturais, sociais e políticas. O espaço é o resultado dessa associação que se desfaz e se renova continuamente, entre uma sociedade em movimento permanente e uma paisagem em evolução permanente. (...) Somente a partir da unidade do espaço e do tempo, das formas e do seu conteúdo, é que se podem interpretar as diversas modalidades de organização espacial (SANTOS, 1979, p.42-43). O espaço geográfico é resultado de um processo histórico das diversas sociedades, levando em consideração seus interesses, técnicas, valores e produções. “A configuração territorial não é o espaço, já que sua realidade 15Geografia Histórica do Brasil vem de sua materialidade, enquanto o espaço reúne a materialidade e a vida que a anima.” (SANTOS, 1996, p.51). Dessa forma, o espaço evoluiu pelo movimento das sociedades; já o território corresponde à complexidade dos ambientes natural e artificial, das construções humanas e seus impactos na sociedade. A ocupação e o desenvolvimento do território brasileiro ocorreram de várias formas e momentos distintos. Os ciclos econômicos contribuíram de forma precisa para a formação desse território. São eles: Ciclo do Pau- Brasil; Ciclo da Cana-de-Açúcar; Ciclo do Ouro; Ciclo do Algodão; Ciclo do Café; e Ciclo da Borracha. Estes ciclos fazem referência às atividades econômicas que, ao longo da formação do espaço geográfico brasileiro, foram desenvolvidas em diversos momentos e em várias regiões. O pau-brasil foi extraído durante o período colonial entre os anos de 1500 e 1530. De origem nativa da Mata Atlântica, ele tinha grande valor comercial na época; sua tinta servia para tingir tecidos, e a madeira, para produzir móveis de qualidade. Embora a extração tenha contribuído para o desenvolvimento local e regional, a tinta e a madeira eram destinadas à Metrópole (Portugal). O objetivo inicial dos ocupadores e exploradores do território brasileiro, na época (Novo Mundo), era o ouro, mas eles não o encontraram no primeiro momento. As regiões costeiras e, principalmente, o Nordeste tiveram três expedições ao total: a primeira expedição, datada de 1502; a segunda, datada de 1503; e a terceira, datada de 1503. Não durou muito tempo e a árvore entrou em processo de extinção. O processo de ocupação do espaço geográfico brasileiro começou de forma devastadora, e o Nordeste, em parte, foi quem recebeu os primeiros exploradores portugueses. Com o processo de extinção do pau-brasil, e percebendo a fertilidade da terra da Região Nordeste, rapidamente, os exploradores desenvolveram outra forma de assistir à Metrópole, investindo na cana-de-açúcar, produto já cultivado nas colônias portuguesas. O Ciclo do Açúcar data, no Brasil, da segunda metade do século XVI ao século XVII, sendo considerado a maior empresa agrícola do mundo ocidental do período. Neste período, foram criadas as capitanias hereditárias, período 16 Geografia Histórica do Brasil em que o território foi fatiado e explorado pelos donatários. O Nordeste foi a primeira região que trouxe o desenvolvimento e o crescimento econômico para o Brasil, pois foi nesse período que a empresa açucareira atingiu seu maior desenvolvimento. A Zona da Mata nordestina foi, em parte, responsável pelo crescimento e desenvolvimento econômico da época; não podemos esquecer a faixa litorânea do Rio Grande Norte ao Recôncavo Baiano. Vale ressaltar que nesse período, os estados de Pernambuco e Bahia tornaram-se o centro dinâmico da vida social, econômica e política, por conta do grande crescimento da produção açucareira. Por volta de 1530, chegaram as primeiras mudas de cana-de-açúcar, trazidas da Ilha da Madeira (situada no oceano Atlântico, a sudoeste da costa portuguesa), na expedição de Martim Afonso de Sousa. Em 1532, é fundado o primeiro povoamento do Brasil por Martim Afonso de Sousa: a Vila São Vicente – São Paulo, dando início à colonização e exploração do Brasil. No final do século XVII, a produção da cana-de açúcar entrou em declínio por conta da concorrência com outras colônias europeias, principalmente das Antilhas, que já havia ultrapassado a produção açucareira do Brasil. Nesse período, começa um novo ciclo econômico no Brasil – o Ciclo do Ouro. O eixo econômico da colônia é deslocado para a Região Sudeste, precisamente, para o estado de Minas Gerais. Com a descoberta do ouro no século XVIII, Portugal, que estava endividado e com dificuldades econômicas internas, por uma série de questões, inclusive má administração, encontra uma luz no fim do poço: a “extração do ouro” na colônia brasileira. A corrida do ouro, no século XVIII, resultou em um grande deslocamento populacional em direção às regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, embora Minas gerais tenha recebido o maior fluxo populacional. Com o avanço da mineração, as regiões auríferas cresceram em população e economicamente. Embora a exportação de ouro já tivesse um destino certo, ainda assim, as cidades do entorno se desenvolveram. A extração de ouro começou na primeira década do século XVIII e durou pouco, por causa do esgotamento progressivo nas regiões exploradas. A descoberta das minas e a corrida do ouro atraíram brasileiros e portugueses e esses deslocamentos deram início a vários povoados e, consequentemente, a novas cidades. 17Geografia Histórica do Brasil O Ciclo do Algodão, no Brasil, ocorreu na segunda metade do século XVIII ao início do século XIX. A decadência das minas e da extração de ouro não impactou tanto na economia porque já havia, embora em pequena escala, a circulação de produtos centrada na produção de gêneros agrícolas; o algodão se destacou na Região Nordeste. O Maranhão passou a representar um braço forte na economia brasileira, embora o produto fosse, em quase sua totalidade, voltado para o mercado externo, principalmente para a Inglaterra. Vale ressaltar que o Ceará também se destacou na plantação e produção de algodão, se aproximando da produção maranhense. Nos dois estados, a mão de obra empregada era escrava. A Companhia do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão, criada em 1756, tornou-se a principal empresa responsável pela produção de algodão. O Ciclo do Café, no Brasil, corresponde aos anos de 1800 a 1930 – período de grande fluxo migratório interno e externo. O café exerceu grande influência econômica e no mercado financeiro do Brasil na época. As primeiras mudas de café chegaram ao Brasil na segunda década do século XVIII, por meio de Francisco de Melo Palheta, trazidas da Guiana Francesa. No início do século XIX, as plantações de café ocorreram em grande escala nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O Vale do Paraíba está localizado entre os respectivos estados e predominou no comando da produção do café durante muitas décadas. As condições climáticas na região do Vale do Paraíba, com chuvas regulares, terra roxa e fértil foram os principais fatores que contribuíram para que a plantação e colheita dessem certo. O café foi o ciclo econômico responsável pelo desenvolvimento industrial no Brasil no século XX; o excedente de café gerou o acúmulo de capital paraos grandes cafeicultores da época, o que foi imprescindível no período em que o café entra em decadência. A crise de 1929, nos Estados Unidos, terminou impactando na economia cafeeira, já que os Estados Unidos eram um dos maiores consumidores da época. Com o declínio do café e a concorrência com outros países, o capital excedente do café foi investido em fábricas e na indústria a partir da década de 1930. 18 Geografia Histórica do Brasil Vale ressaltar que o ciclo do café deslocou o eixo econômico do Brasil para o Sudeste, e como consequência, o fluxo migratório, possibilitando o surgimento de novas cidades e o desenvolvimento de outras. O Ciclo da Borracha data do final do século XIX. Com a criação da indústria de automóveis, e demanda por automóveis pela classe média da época, a necessidade de produção da borracha também aumentou significativamente, pois ela era a matéria-prima para a produção de pneus e de outros acessórios. O Brasil chegou a se tornar o maior exportador de borracha na primeira década do século XX. A Região Amazônica recebeu um grande fluxo populacional de outras regiões no período, contribuindo para o crescimento populacional e urbano em Manaus. O eixo econômico se desloca para a Região Norte e o território passa a configurar um novo esboço em seu espaço geográfico. A Região Amazônica apresentou um significativo desenvolvimento econômico e urbano; cidades se desenvolveram e outras surgiram por conta dos deslocamentos populacionais de outras regiões. No início da segunda década do século XX, outros países, como Ceilão, Indonésia e Malásia começaram a produzir em larga escala, e empresários holandeses e ingleses entraram na disputa comercial e no lucrativo mercado de borracha, o que desencadeou uma queda na exportação da borracha brasileira. O latifúndio foi uma das bases da estrutura da produção colonial ligada à produção em larga escala e a fatores históricos. O latifúndio correspondia a uma faixa de terra considerável, ou seja, uma grande propriedade rural, que tinha atividades vinculadas na agroindústria, além de seus produtos destinados aos mercados interno e externo – na época, sua força motriz era a mão de obra escrava. No Brasil colonial, o latifúndio correspondia a uma propriedade de mais de 500 hectares de terras que, por conta da extensão, grande parte era inexplorada, e por fim improdutiva. Já o minifúndio corresponde a uma pequena propriedade de terra ou rural, que tem atividades vinculadas ao consumo local, regional e nacional. Essa propriedade era destinada a desenvolver a economia interna e tinha como força motriz a mão de obra familiar. No Brasil, o minifúndio está atrelado à produção para subsistência, em parte familiar e em parte para atender ao comércio local. As doações de 19Geografia Histórica do Brasil sesmarias, áreas desmembradas da capitania, farta mão de obra escrava e a prática da monocultura são elementos que compõem a ocupação do espaço geográfico brasileiro na perspectiva da longa duração. Logo, percebe-se que, ao pensar na ocupação do espaço geográfico brasileiro na perspectiva da longa duração, é necessário apresentar, também, os ciclos econômicos, que tiveram início no período pré-colonial e se estenderam até a segunda república (Era Vargas). A ocupação do espaço geográfico brasileiro na perspectiva da longa duração é marcada por diversos aspectos que nos chamam a atenção. Um deles diz respeito aos ciclos econômicos, que permitiram uma série de fluxos populacionais entre as regiões, e as demarcações de terras, como as capitanias hereditárias, as sesmarias, o latifúndio, a monocultura, a mão de obra escrava e os movimentos pela reforma agrária nas últimas décadas. Neste capítulo, vimos que, se colocando contra a tendência predominante da história de curta duração e de caráter de fatos individuais, o historiador Braudel buscou evidenciar a história de longa duração e dos fatos coletivos, deixando a narrativa histórica para apresentar uma história real, justamente por ganhar auxílio de outras áreas do conhecimento. Dessa forma, o acontecimento não deve ser apenas registrado, mas apreendido como uma construção criada. Assim, Braudel marca, a partir de suas produções, um novo momento para a história, na construção de um novo objeto e de um novo método. 20 Geografia Histórica do Brasil Referências BRAUDEL, F. Escritos sobre a história. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. ______. Gramática das civilizações. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. ______. História e Ciências Sociais. 6 ed. Lisboa: Editorial Presença, 1990. ______. História e Ciências Sociais. A longa duração. São Paulo: Perspectiva, 1992. Do microcosmo ao macrocosmo: a geo-história do Brasil no contexto da história mundial. Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Aline Carneiro Silverol 1ª Edição Copyright © 2020, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário Do microcosmo ao macrocosmo: A geo-história do Brasil no contexto da história mundial. Para início de conversa… .................................................................. 04 Objetivo ........................................................................................... 05 1. O Brasil na Geopolítica Mundial: Uma Perspectiva Histórica ....... 06 2. A Formação Social, Cultural, Política e Econômica do Brasil ....... 14 Referências ....................................................................................... 18 4 Geografia Histórica do Brasil Para início de conversa… Atualmente, estamos no final da segunda década do século XXI da chamada era tecnológica. Tempo este de avanço no compartilhamento de informações, mas também das incertezas políticas, sociais e econômicas. Vivemos um momento no qual novos termos, como livre-comércio, neoliberalismo, globalização, sociedade da informação, midiatização, marketing social e político e tantos outros invadem nosso cotidiano. Entretanto, não podemos nos esquecer de que cada nação tem suas próprias regras e demandas internas, além disso, todas estão inseridas neste mundo globalizado, ora inclusivo, ora excludente. Vale ressaltar que o Brasil não conseguiu ascensão pelo neoliberalismo, embora tenha começado nessa doutrina econômica, precisamente, em 1990, com a chegada de Fernando Collor ao poder e o seu discurso moderno, marcado pelo liberalismo social, que influenciou o sistema econômico, político e social durante o seu governo. Nesta unidade de aprendizagem, veremos a posição do Brasil na geopolítica mundial e a sua formação social, cultural, política e econômica. 5Geografia Histórica do Brasil Objetivo Analisar as relações da geo-história do Brasil entre microcosmo e o macrocosmo no contexto mundial. 6 Geografia Histórica do Brasil 1. O Brasil na Geopolítica Mundial: Uma Perspectiva Histórica Friedrich Ratzel é considerado o fundador do conceito de geopolítica, também considerada um novo ramo do conhecimento científico. Deslocou suas pesquisas para a “paisagem natural” e para a “relação homem-meio”. Ratzel deixou muitas contribuições, por exemplo: a ideia de que o estudo da geografia política está relacionada com o “Estado, o solo e a sociedade”. Para ele, espaço é poder. Seu estudo privilegiou o elemento humano, a história, o espaço e a formação dos territórios. O general Mário Travassos, em sua obra publicadaem 1931, ocasião em que lançou os fundamentos da geopolítica brasileira definiu: Geopolítica é um processo interpretativo dos fatos geográficos, em seus aspectos negativos e positivos, de cuja soma algébrica deve resultar um juízo da situação de um país, no momento considerado, não como um julgamento definitivo fruto de uma predestinação de caráter determinista e, muito menos, de uma forma de seleção coletiva, visando a objetivos políticos nem sempre confessáveis. Nessa perspectiva, a geopolítica seria a arte de aplicar a política nos espaços geográficos, demarcando os seus limites. Tratados e Limites O Tratado de Tordesilhas, precedido pelo Tratado de Toledo e pela Bula Inter Coetera, sinalizava que Portugal sabia o que queria. Nesse tratado, o direito a todas as terras a serem descobertas ao sul das Canárias foi dado a Portugal. Após as conquistas de Cristóvão Colombo, em 1492, os reis católicos pediram ao papa, autoridade da época, que dividisse o mundo entre os dois reinos (Portugal e Espanha), assegurando à Espanha as terras ainda não descobertas do ocidente. Dessa solicitação, surgiu a Bula Inter Coetera, que dava à Espanha as terras a descobrir a ocidente de um meridiano distante de 100 léguas para oeste do Arquipélago de Cabo Verde. Portugal recusou a mediação e firmou intensas negociações com a Espanha, que resultou na assinatura do Tratado de Tordesilhas, assegurando a Portugal todas as terras ainda desconhecidas a oriente de um meridiano mais afastado de 370 léguas para oeste de Cabo Verde. 7Geografia Histórica do Brasil Sabe-se que as primeiras décadas após a chegada de Cabral se caracterizaram por intensas atividades comerciais, dando início à extração de pau-brasil, por conta do seu valor comercial na época (tinta e madeira). Por volta de 1531, Martim Afonso de Sousa, após chegar à colônia, começou a distribuir as sesmarias aos colonos portugueses, algum tempo depois, implementou as capitanias hereditárias. Sesmarias eram uma gleba de terra concedida para uso dos colonos, que consistiria em uma subdivisão da capitania, com o objetivo de que fosse aproveitada. Os capitães- donatários eram obrigados a distribuir 80% das terras como sesmarias. Capitanias hereditárias são grandes faixas de terra, que iam da costa até a linha do Tratado de Tordesilhas, doadas aos capitães-mores mediante um documento chamado “carta de doação”. Os capitães também eram chamados de donatários, uma vez que recebiam títulos de governadores de suas posses. O sistema de capitanias hereditárias, inicialmente, organizou o território colonial, descentralizou a política administrativa e trouxe autonomia para as unidades. Em 1548, foi instituído o Governo Geral e, com a centralização da administração, o governador passou a fiscalizar e auxiliar as capitanias. O governador geral tinha como auxiliares na administração da colônia três elementos fundamentais: o Ouvidor-mor – encarregado de aplicar a justiça –; o Provedor-mor – encarregado de arrecadar os impostos – e o Capitão-mor, encarregado de defender o litoral. A falta de recursos da metrópole e as experiências vividas nas ilhas do atlântico fez com que os portugueses implantassem as capitanias hereditárias. Na colônia brasileira, entretanto, por uma série de questões, as capitanias fracassaram pelas seguintes razões: Glossário Glossário 8 Geografia Histórica do Brasil ▪ Falta de capitais dos donatários e o desinteresse de muitos deles, que nem chegaram a tomar posse de seus lotes. ▪ Falta de terras férteis em algumas capitanias. ▪ Ataques dos índios, que destruíram algumas vilas e engenhos. ▪ Falta de comunicação entre as várias capitanias. Apesar dos esforços, as capitanias hereditárias fracassaram, exceto, a capitania de Pernambuco e a de São Vicente. Por fim, os bandeirantes receberam a responsabilidade por tal fracasso, pela historiografia brasileira, por terem rompido a Linha de Tordesilhas, a partir dos deslocamentos interioranos, desbravando e demarcando o que seria o território brasileiro. As Entradas tinham como função mapear o território brasileiro, principalmente, do interior, elas também atuavam no combate aos grupos indígenas que apresentavam resistência aos colonizadores. A maior parte delas eram compostas por soldados portugueses e brasileiros a serviço das províncias. São expedições oficiais organizadas pelo governo, que saíam do litoral em direção ao interior do Brasil. As Bandeiras tinham a função de descobrir pedras preciosas, ouro e prata. Eram lideradas por paulistas chamados de bandeirantes e compostas por brancos, agregados, mamelucos e outros. Os bandeirantes atacavam as missões jesuíticas e capturavam os índios que seriam comercializados como escravos. São expedições organizadas e financiadas por particulares, principalmente, os paulistas. Partiam de São Paulo e São Vicente em sua maioria, rumo às regiões Centro-oeste e Sul do Brasil. Glossário Glossário 9Geografia Histórica do Brasil Três Bandeiras se destacaram: ▪ Bandeira de Raposo Tavares (1598-1658); ▪ Bandeira de Domingos Jorge Velho (1615-1703); ▪ Bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva (1672-1740). O historiador paulista Afonso D’Escragnolle Taunay declarou que: Foi o ouro o verdadeiro causador da tomada de posse definitiva das terras centrais. Não existissem o arraial do Bom Jesus do Cuiabá e o arraial guaporeano, futura Vila Bela, e Alexandre de Gusmão disporia de débil base de argumentação para invocar o uti possidetis em favor da fixação da fronteira do Brasil a dois mil quilômetros a oeste da linha tordesilhana. (TAUNAY, 2012, p. 208) Segundo o historiador, os bandeirantes em busca pelo ouro e pela exploração mineral, além de tomar posse, também ocupavam de forma efetiva o território a oeste de Tordesilhas. Vale ressaltar que o avanço português sobre o território espanhol com base na Linha de Tordesilhas ocorreu durante a União Ibérica, período em que Portugal e suas colônias foram governados por monarcas espanhóis no entre 1580 ae 1640. Em razão da morte de D. Sebastião, rei de Portugal, na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, sem deixar herdeiros. A sucessão passou para os parentes mais próximos, no caso, os reis da Espanha. Veja alguns tratados que contribuíram para demarcar o território brasileiro: Tratados de Utrecht: foi um desdobramento da Guerra de Sucessão ao Trono de Espanha (1702-1714). Primeiro Tratado de Utrecht entre Portugal e França (1713) estabeleceu as fronteiras portuguesas do norte do Brasil. O rio Oiapoque foi reconhecido como limite natural entre a Guiana e a Capitania do Cabo do Norte. A França reconheceu o direito de Portugal à bacia do Amazonas. Segundo Tratado de Utrecht entre Portugal e Espanha (1715) estabeleceu segunda devolução da Colônia de Sacramento a Portugal. 10 Geografia Histórica do Brasil O Tratado de Madri (1750): anulou o Tratado de Tordesilhas, consagrando o princípio de uti possidetis. Portugal garantiu o controle da maior parte da Bacia Amazônica, enquanto a Espanha controlava a foz do rio do Prata. Portugal devolveu Sacramento e definiu as fronteiras aproximadas do Brasil até os dias atuais. O tratado ignorou a vontade dos índios e jesuítas da região dos Sete Povos das Missões. Tratado de El Pardo (1761): anulou o Tratado de Madri e a Colônia do Sacramento voltava para Portugal. Guerras Guaraníticas (1754-1777): guerra de resistência dos jesuítas e guaranis contra colonos e tropas portuguesas. Nesse período, datado de 1759, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil. Mesmo depois da Coroa portuguesa ter desistido dos Sete Povos das Missões, os habitantes da capitania de São Pedro continuaram a luta que garantiu a formação do atual estado do Rio Grande do Sul. Tratado de Santo Ildefonso (1777): devolveu para a Espanha Sacramento e Sete Povos das Missões em troca da Ilha de Santa Catarina. Tratado de Badajós (1801): confirmou os limites do Tratado de Madri. Divisão políticae regional mais recente do território brasileiro A Região Norte é formada por sete estados, ocupando 45,25% da área do Brasil. A Região Nordeste é formada por nove estados mais o anexo de Fernando de Noronha a Pernambuco, totalizando 28,8% da área do Brasil. A Região Centro-oeste é formada por quatro estados, contando com o Distrito Federal, ocupando 18,86% da área do Brasil. A Região Sudeste é formada por quatro estados, ocupando 10,33% da área do Brasil, e a Região Sul formada por três estados, ocupando 6,76 da área do Brasil. A formação étnica da população brasileira apresenta como tripé cultural os seguintes grupos: indígenas, europeus e negros, principalmente bantos e sudaneses. A miscigenação da população brasileira teve início no período colonial, que, em seu início, contou com a mão de obra indígena, entretanto, esta não atendia às suas necessidades. Dessa forma, foi necessário buscar mais mão de obra para atender às demandas na produção, principalmente, açucareira. 11Geografia Histórica do Brasil Caio Prado Júnior sintetizou os três séculos de colonização no Brasil como uma: [...] incoerência e instabilidade no povoamento, pobreza e miséria na economia, dissolução nos costumes, inércia e corrupção nos dirigentes leigos e eclesiásticos. (PRADO JR., 1972, p. 356) Nessa perspectiva, Caio Prado reforçou os traços do Brasil do início do século XIX, como carente de nexo moral, traço que se destacou nesse período e após. Para ele, o sistema trouxe, desde a sua gênese, sua autodestruição, e/ ou deterioração, corrupto e corruptível. Pensar no Brasil inserido na geopolítica mundial é muito complexo, pois precisamos levar em consideração as seguintes questões: o Brasil político: nação e território; a organização do Estado brasileiro; a distribuição espacial da população; os movimentos migratórios: migração, emigração e imigração; a estrutura fundiária e seus problemas demográficos; a divisão inter-regional do trabalho e da produção e consumo; a integração da indústria com a estrutura urbana de modo geral; a gestão ambiental e políticas de preservação; a cultura e sua diversidade; as divisões naturais do espaço brasileiro em biomas, ecossistemas e domínios e a inserção do Brasil ao processo de internacionalização da economia. O Brasil atual apresenta algumas questões referentes à geopolítica e tem avançado, embora a passos curtos, nas seguintes esferas: produção de energias renováveis, como a eólica e a solar, reduzindo o consumo e a dependência em relação ao petróleo; crescimento populacional e o aumento do consumo que, em tese, tem preocupado quanto às disparidades socioeconômicas da sociedade; a exploração por parte de algumas indústrias no meio ambiente, no desenvolvimento de suas atividades econômicas, tem impactado negativamente, poluindo rios, terras e a atmosfera. Dessa forma, um dos maiores desafios dos planejadores urbanos, no Brasil, é administrar as deficiências urbanas e suas complexidades, advinda em parte do problema da expansão urbana nas periferias metropolitanas em suas diferentes federações e da distribuição de renda nas mãos da minoria. A grande extensão territorial do Brasil possibilitou a expansão da agricultura e da pecuária, favorecida pelo clima favorável e terra fértil. A grande 12 Geografia Histórica do Brasil variedade de vegetais e paisagens são características do território brasileiro, tornando-o complexo em sua estrutura, e com as intensas devastações ao longo do tempo comprometeu parte das largas áreas próximas ao litoral, perdendo parte de sua cobertura natural. A extração do pau-brasil, a produção da cana de açúcar, o café e seu escoamento e o avanço de plantações de diversas finalidades são exemplos dessa devastação. (...) territórios que só esperavam a iniciativa e o esforço do homem. É isto que estimulará a ocupação dos trópicos americanos. Mas trazendo este agudo interesse, o colono europeu não traria com ele a disposição de pôr-lhe a serviço, neste meio tão difícil e estranho, a energia do seu trabalho físico. Viria como dirigente da produção de gêneros de grande valor comercial, como empresário de um negócio rendoso; mas só a contragosto, como trabalhador. Outros trabalhariam para ele. (PRADO JR., 1986, p.56) O Brasil seria o país do futuro? Com essa extensão territorial e potencial de produção teria tudo para ser. Entretanto, ao longo da nossa história, ainda não conseguimos alcançar esse quilate e o seu real valor enquanto Estado, território e nação. As diversas regiões do Brasil, com suas características próprias e produções, ao longo da história e da formação social do povo brasileiro tem contribuído com seus ciclos econômicos, deslocando o eixo econômico e os processos migratórios, redesenhando o território e suas identidades regionais, acolhendo migrantes e imigrantes de diversas nacionalidades, tornando-se um país múltiplo culturalmente e diverso em suas produções. Agora, para falarmos do Brasil na geopolítica mundial, precisamos adentrar a sua história. O projeto geopolítico não teria sido desenhado e idealizado ainda em Portugal com a ideia de resguardar o território e depois colonizá-lo? Embora, há quem diga, que a vinda da Família Real portuguesa para Brasil tenha sido motivada por outras questões e interesses, não se pode negar que a promoção da então colônia de exploração a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves tenha sido um avanço aos olhos do mundo, o que motivou o projeto do Brasil Imperial e, consequentemente, a Independência. Logo, temos um desdobramento na geopolítica, que teve o seu início ainda em Portugal, depois da ideia de resguardar e colonizar o território, 13Geografia Histórica do Brasil vimos que, com a vinda da Família Real para a sua colônia por uma questão de honra e dignidade, a colônia foi promovida, abrindo a possibilidade de redesenhar o projeto geopolítico com império e assim por diante até chegar à Proclamação da República. Entretanto, uma outra questão muito relevante foi a queda da Velha República e o início da Era Vargas, em 1930, que mais uma vez redesenhou o projeto geopolítico, acabando com a política do Café com Leite (1891- 1930). Em seu governo, Vargas deixou bem claro o seu projeto de nação, criou a melhor legislação trabalhista e previdenciária que o Brasil já teve, se opondo aos interesses internacionais, pois o seu interesse era voltado para o Brasil. Dessa forma, o seu governo contrariava os interesses do empresariado internacional, imposto pelo governo norte-americano da época. Com uma nova estrutura do território brasileiro, um projeto geopolítico moderno foi desenhado pensando em uma configuração geográfica que durou aproximadamente 60 anos. No período da transferência da capital do Brasil, foram idealizadas grandes rodovias, contando todo o território nacional, investimentos na educação e várias outras incorporações, visando o fortalecimento e desenvolvimento do país. O seu sucessor, Juscelino Kubitschek, implantou mudanças em seu governo, dando espaço ao que chamamos de globalização, quando trouxe para o país as montadoras de automóveis, desestimulando a produção e a indústria nacional e o fim da indústria automobilística no Brasil, restando apenas as montadoras, além de ampliar o endividamento externo do Brasil. O governo de Jânio Quadros durou pouco tempo, preocupado em varrer a corrupção instalada, ficou apenas alguns meses e renunciou ao cargo, o seu vice e sucessor varguista, João Goulart, enfrentou muita dificuldade em governar diante da pressão da classe conservadora brasileira e das Forças Armadas, culminando no Golpe Militar de 1964, que durou 21 anos, gerando retrocesso em diversos setores da sociedade. Em 1985, o Brasil escreveu uma nova história, com redemocratização do país e uma série mudanças na Constituição Federal, que entraram em vigor em prol de uma sociedade igualitária em direitos e deveres. Com a morte do presidente eleito Tancredo Neves,
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