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RENATA DE CARVALHO JIMENEZ ALAMINO A UTILIZAÇÃO DE LODO DE ESGOTO COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL NA RECUPERAÇÃO DE SOLOS DEGRADADOS: Viabilidade, avaliação e biodisponibilidade de metais Tese de Doutorado (Geologia) UFRJ Rio de Janeiro 2010 ii UFRJ Renata de Carvalho Jimenez Alamino A UTILIZAÇÃO DE LODO DE ESGOTO COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL NA RECUPERAÇÃO DE SOLOS DEGRADADOS: Viabilidade, avaliação e biodisponibilidade de metais V. 1 Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como requisito necessário à obtenção do grau de Doutor em Ciências (Geologia). Área de concentração: Geologia de Engenharia e Ambiental Orientadores: Helena Polivanov Tácio Mauro Pereira de Campos Rio de Janeiro Janeiro, 2010 iii RENATA, de Carvalho Jimenez Alamino A utilização de lodo de esgoto como alternativa sustentável na recuperação de solos degradados: Viabilidade, avaliação e biodisponibilidade de metais - Rio de Janeiro: UFRJ / IGeo, 2010. xxi, 221f.: il., anexos, 30cm Tese (Doutorado em Geologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geologia, 2010. Orientadores: Helena Polivanov, Tácio Mauro Pereira de Campos 1. Geologia. 2.Setor de Geologia de Engenharia e Ambiental – Tese de Doutorado. I. Helena Polivanov. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geologia. III. Título. iv Renata de Carvalho Jimenez Alamino A UTILIZAÇÃO DE LODO DE ESGOTO COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL NA RECUPERAÇÃO DE SOLOS DEGRADADOS: Viabilidade, avaliação e biodisponibilidade de metais Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como requisito necessário à obtenção do grau de Doutor em Ciências (Geologia). Área de concentração: Geologia de Engenharia e Ambiental Orientadores: Helena Polivanov Tácio Mauro Pereira de Campos Aprovada em: 29 . março . 2010. Por: ________________________________________ Andréa Ferreira Borges, UFRJ _______________________________________ Antonio Soares da Silva, UERJ ________________________________________ Maria Cláudia Barbosa, COPPE/UFRJ _______________________________________ Izabel Christina d'Almeida Duarte de Azevedo, UFV _______________________________________ Emilio Velloso Barroso, UFRJ v AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Mauro & Márcia; irmãos, Ana Carolina & Wagner; e avós, Tião & Dina e Miguel & Ondina (in memorian) por serem meus anjos da guarda e porto seguro; Ao meu amor, Luis Mauricio, por colorir o meu céu e tornar a minha vida mais feliz; Aos amigos Patricia Moraes, André Ferreira, Vitor Hugo Gomes, Olga Venimar e Ingrid Lage pelo companheirismo, pelas alegrias e por enxugarem minhas lágrimas nos momentos difíceis; À professora e orientadora Helena Polivanov, pelos momentos de descontração no decorrer da pesquisa; Ao professor e orientador Tácio Mauro Pereira de Campos, pelas sugestões e financiamentos ao longo da pesquisa; sem os quais não seria possível a composição desta tese; A CAPES, pelo custeio da bolsa de estudos, e às demais instituições/programas (PRONEX, FAPERJ e PROAP) pelo incentivo financeiro; Aos professores Emílio Velloso Barroso e Andréa Ferreira Borges pela presença e preocupação constantes, pelos conselhos pertinentes ao trabalho; Ao professor Antônio Soares da Silva pela ajuda indispensável na interpretação da micromorfologia dos solos. Aos demais professores e/ou funcionários e/ou colaboradores do Departamento de Geologia da UFRJ; pela ajuda fundamental durante toda a jornada; especialmente aos técnicos de laboratório Osório Luiz da Silva e Roberto vi Gomes Lima, à secretária Christina Barreto Pinto, ao técnico de laminação Tarcísio Raymundo de Abreu e ao funcionário do IGeo, Sr. Sidney; A todos que passaram pelo Laboratório de Absorção Atômica no decorrer destes quase cinco anos. Especiais aos fiéis estagiários Bruno Cruz, Vitor Silos e Thiago Teles, principalmente pelas noites mal dormidas no chão do frio laboratório; ao Filipe Fratte e Leandro Victor pelo auxílio nas saídas de campo e pela agradável e divertida convivência nos laboratórios; A Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) e aos seus funcionários que gentilmente cederam o lodo de esgoto para a pesquisa; Ao geógrafo Ricardo César e ao Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) pela gentil realização de ensaios laboratoriais; Ao Laboratório de Fluorescência de Raios-X do Departamento de Geologia da UFRJ, em nome do professor Júlio Mendes, pela realização dos ensaios de Análise Química Total; Ao engenheiro agrônomo Silvio Tavares e à Embrapa Solos pela realização das análises químicas no solo e no percolante das colunas. A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste trabalho. MUITO OBRIGADA! vii o barro toma a forma que você quiser você nem sabe estar fazendo apenas o que o barro quer [Paulo Leminski] viii RESUMO ALAMINO, Renata de Carvalho Jimenez. A utilização de lodo de esgoto como alternativa sustentável na recuperação de solos degradados: Viabilidade, avaliação e biodisponibilidade de metais. Rio de Janeiro, 2010. xxi, 221 f. Tese (Doutorado em Geologia) – Programa de Pós-Graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. Atualmente um dos grandes problemas envolvendo o meio ambiente é a disposição final de resíduos potencialmente tóxicos produzidos pela ação antropogênica. Dentre tais, destaca-se o lodo de esgoto, que é um resíduo produzido durante o processo de tratamento de águas residuárias em estações de tratamento de esgoto (ETE). O presente trabalho tem como objetivo avaliar o aproveitamento do lodo de esgoto na recuperação de áreas degradadas em ambientes tropicais por meio de simulações em laboratório da incorporação do lodo no campo. Amostras de Latossolo (Duque de Caxias – RJ), de Chernossolo (Vila Kennedy – RJ) e de lodo de esgoto (ETE Ilha do Governador – RJ) foram coletadas e os seguintes ensaios viabilizados: (i) teores (bio)disponíveis de compostos inorgânicos por meio de fracionamento químico e colunas de lixiviação; (ii) distribuição dos elementos nas frações do sistema solo- lodo após a incorporação do lodo de esgoto e sua especiação; (iii) o transporte por meio de ensaios de coluna de lixiviação com retro-análises utilizando o programa computacional Pollute. De maneira geral é possível assegurar, com base nos ensaios de coluna e nas modelagens que a lixiviação dos metais estudados ocorreu mais rapidamente nas amostras de Latossolo do que nas de Chernossolo, ratificando os resultados encontrados na caracterização dos solos, nos ensaios de extração sequencial e nos testes de adsorção e retardo. Recomenda-se a utilização de lodo de esgoto na recuperação de áreas degradadas desde que sejam observadas as condições de contorno da área a ser aplicada e que severos critérios de monitoramento e fiscalização sejam estabelecidos. Palavras-chave: lodo de esgoto, solos, metais. ix ABSTRACT ALAMINO, Renata de Carvalho Jimenez. A utilização de lodo de esgoto como alternativa sustentável na recuperação de solos degradados: Viabilidade, avaliação e biodisponibilidade de metais. [The use of sewage sludge as sustainable alternative in the recovery of degraded soils: Viability, evaluation and biodisponibilityof metals]. Rio de Janeiro, 2010. xxi, 221 f. Tese (Doutorado em Geologia) – Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. One of the major problems involving the environment is the final disposal of potentially toxic wastes produced by anthropogenic inputs. Among these stands out the sewager sludge, which is a residue produced during wastewater processing in sewage treatmentplants. This study aims to evaluate the use of sewage sludge to recovery degraded areas in tropical environments by means of laboratory simulation tests of the incorporation of the sewage sludge in the field. Oxisols and Mollisols samples from Duque de Caxias – RJ and Vila Kennedy – RJ, and sewage sludge from Ilha do Governador - RJ were collected and tested: These included: (i) inorganic (bio)availability by sequential extraction and column percolation, (ii) elements distribution in soil fractions of the soil-sludge after the incorporation of sewage sludge and its speciation, (iii) solute transport through the column tests with backanalysis using the software Pollute. It wad verified that metals leaching occurred faster in samples of Oxisols than on Mollisols, confirming the results of soil characterization and sequential extraction tests of adsorption and retardation. It is recommended the use of sewage sludge in degraded areas since there are observed the outline conditions of the area and a severe criteria of monitoring and inspection are established. Keywords: sewage sludge; soils, metals. x LISTA DE FIGURAS Figura 2:1. Tratamento da fase líquida de esgotos. (1) cidade (2) rede de esgotos (3) e (4) tratamento preliminar, grades e caixa de areia (5) tratamento primário, decantador (6) e (7) tratamento secundário, tanque de aeração e decantador (8) desaguamento no rio. Fonte: Sabesp (2009). ____________________________________________ 30 Figura 2:2. Tratamento da fase sólida. (1) cidade (2) entrada do lodo primário (3) entrada do lodo secundário (4) adensadores (5) flotadores (6) digestores (7) filtro prensa (8) esteira (9) tortas para o aterro sanitário. Fonte: SABESP (2009). ______________ 34 Figura 2:3. Esquema genérico de um sistema de monitoramento para a disposição final do lodo _____________________________________________________________ 53 Figura 3:1. Relações entre geodisponibilidade e biodisponibilidade dos elementos químicos (CORTECCI, 2001) _________________________________________________ 59 Figura 3:2. Diagramas Eh-pH compilados de (GSJ, 2005) para Cd, Pb, Zn, Cr, Cu e Ni gerados a partir do banco de dados FACT do programa computacional FactSage® 5.2 (BALE et al., 2002). ______________________________________________ 68 Figura 3:4. Esquema de uma coluna de solo, com entrada do percolante e saída do efluente. _________________________________________________________________ 86 Figura 4:1. Detalhe da coleta de amostra indeformada do horizonte Bw de um Latossolo retirado na rodovia Washington Luiz, km 111 - Duque de Caxias, RJ. __________ 92 Figura 4:2. Detalhe da coleta de amostra indeformada do horizonte Bt de um Chernossolo retirado próximo ao nº 34.926 da Av. Brasil, no Caminho Rodrigues, em Vila Kennedy - RJ. _____________________________________________________________ 93 Figura 4:3. Etapas do processamento e coleta do lodo na ETIG: (a) decantadores; (b) digestores; (c) centrífuga de desaguamento e (d) coleta no caminhão caçamba. _ 94 Figura 4:4. Classificação morfológica dos poros (adaptado de BREWER, 1976) _________ 99 Figura 4:5. Método de fracionamento descrito por Mann & Ritchie (1993) com algumas adaptações propostas por Gomes et. al. (1997; 2001). _____________________ 102 Figura 4:6. Teste de toxicidade aguda com oligoquetas da espécie Eisenia Andrei. _____ 105 Figura 4:7. Teste de fuga com oligoquetas da espécie Eisenia andrei; preparação do recipiente contendo lodo de esgoto e solo artificial (A) e início do ensaio com solo artificial e Latossolo acrescido de lodo de esgoto (B). ______________________ 106 Figura 4:8 Esquema da coluna de lixiviação utilizada no ensaio. ____________________ 108 Figura 4:9. Esquema do sistema de reservatório utilizado no ensaio de coluna de lixiviação. ________________________________________________________________ 109 Figura 4:10. Sistema de filtração do percolado no ensaio de coluna de lixiviação. _______ 110 Figura 4:11. Esquema de coluna de lixiviação contendo: (1) reservatório superior, (2) reservatório inferior, (3) vazadouro, (4) colunas de solo (5) funis e (6) provetas para recolhimento do percolado. __________________________________________ 110 xi Figura 4:12. Amostras coletadas, acondicionadas e identificadas após lixiviação em coluna. ________________________________________________________________ 112 Figura 4:13. ICP-MS da Perkin Elmer Instruments. Laboratório da Embrapa Solos, RJ. __ 113 Figura 4:14. A: Aparato da coluna desmontado: (1) membrana geotêxtil, (2) corpo de prova com amostra, (3) lodo de esgoto e (4) parte superior da coluna com pedra porosa. B: Amostra de solo fora do corpo de prova. ________________________________ 113 Figura 4:15. Amostra depois de percolada na coluna, pronta para a impregnação e posterior confecção de lâmina visando análise micromorfológica. ____________________ 114 Figura 4:16. Equipamentos utilizados na detecção de metais das amostras de solo das colunas. A: ICP-AES e B: Digestor de microondas. Laboratório da Embrapa Solos, RJ. _____________________________________________________________ 114 Figura 4:17. Tela do ‘software’ Pollute para a entrada dos dados gerais. ______________ 116 Figura 4:18. Tela do ‘software’ Pollute para a entrada dos dados das camadas ________ 116 Figura 4:19. Tela do ‘software’ Pollute para a entrada das condições de contorno ______ 117 Figura 4:20. Tela do ‘software’ Pollute para escolha do tipo de saída dos resultados ____ 117 Figura 5:1. Extração sequencial para a amostra de Latossolo & dose ideal de lodo de esgoto. ________________________________________________________________ 131 Figura 5:2. Extração sequencial para a amostra de Latossolo & dose dupla de lodo de esgoto. ________________________________________________________________ 131 Figura 5:3. Extração sequencial para a amostra de Chernossolo & dose ideal de lodo de esgoto. __________________________________________________________ 132 Figura 5:4. Extração sequencial para a amostra de Chernossolo & dose dupla de lodo de esgoto. __________________________________________________________ 133 Figura 5:5. Fracionamento dos metais nas amostras de Latossolo (1x – dose ideal; 2x – dose dupla de lodo de esgoto) durante a Extração I. ___________________________ 134 Figura 5:6. Fracionamento dos metais nas amostras de Latossolo (1x – dose ideal; 2x – dose dupla de lodo de esgoto) durante a Extração II. __________________________ 135 Figura 5:7. Fracionamento dos metais nas amostras de Chernossolo (1x – dose ideal; 2x – dose dupla de lodo de esgoto) durante a Extração I. ______________________ 136 Figura 5:8. Fracionamento dos metais nas amostras de Chernossolo (1x – dose ideal; 2x – dose dupla de lodo de esgoto) durante a Extração II. ______________________ 136 Figura 5:9. Fracionamento dos metais nas amostras de Latossolo (LT) e Chernossolo (CH) acrescidas da dose ideal de lodo de esgoto durante a Extração I. ____________ 138 Figura 5:10. Fracionamento dos metais nas amostras de Latossolo (LT) e Chernossolo (CH) acrescidas da dose ideal de lodo de esgoto durante a Extração II. ____________ 138 Figura 5:11. Fracionamento dos metais nas amostras de Latossolo (LT) e Chernossolo (CH) acrescidas da dose dupla de lodo de esgoto durante a Extração I. ___________ 140 xii Figura 5:12. Fracionamento dos metais nas amostras de Latossolo (LT) e Chernossolo (CH) acrescidas da dose dupla de lodo de esgoto durante aExtração II. ___________ 141 Figura 5:13. Porcentagem de mortalidade dos organismos testados durante o ensaio de toxicidade aguda nos diferentes tipos de solo. ___________________________ 147 Figura 5:14. Perda de peso (biomassa) dos organismos testados após 14 dias de exposição no teste de toxicidade aguda. ________________________________________ 148 Figura 5:15. Resultado do teste de fuga e limite crítico para função de habitat (<20%). __ 149 Figura 5:16. Volume total do efluente coletado nas colunas de Latossolo _____________ 151 Figura 5:17. Volume total do efluente coletado nas colunas de Chernossolo ___________ 151 Figura 5:18. Vazão nas colunas de Latossolo, com as 3 zonas de Vv destacadas. ______ 152 Figura 5:19. Vazão nas colunas de Chernossolo. Em destaque as três zonas de Vv distintas. ________________________________________________________________ 152 Figura 5:20. Concentração de Cd, Zn e Ni no efluente das colunas de Latossolo e detalhe das concentrações mais baixas. __________________________________________ 155 Figura 5:21. Concentração de Cd, Zn e Ni no efluente das colunas de Chernossolo e detalhe das concentrações mais baixas. ______________________________________ 156 Figura 5:22. Adsorção de Cu nas amostras de Latossolo e Chernossolo do ensaio de coluna ________________________________________________________________ 160 Figura 5:23. Adsorção de Zn nas amostras de Latossolo e Chernossolo do ensaio de coluna ________________________________________________________________ 161 Figura 5:24. Adsorção de Ni nas amostras de Latossolo e Chernossolo do ensaio de coluna ________________________________________________________________ 162 Figura 5:25. Comportamento do Cu nas colunas de Latossolo nos períodos de 1 dia, 1 mês, 6 meses, 1 ano e 10 anos, modelados no software Pollute v7 _________________ 164 Figura 5:26. Comportamento do Zn nas colunas de Latossolo nos períodos de 1 dia, 1 mês, 6 meses, 1 ano e 10 anos, modelados no software Pollute v7 _________________ 165 Figura 5:27. Comportamento do Ni nas colunas de Latossolo nos períodos de 1 dia, 1 mês, 6 meses, 1 ano e 10 anos, modelados no software Pollute v7 _________________ 167 Figura 5:28. Comportamento do Cu nas colunas de Chernossolo nos períodos de 1 dia, 1 mês, 6 meses, 1 ano e 10 anos, modelados no software Pollute v7 ___________ 168 Figura 5:29. Comportamento do Zn nas colunas de Chernossolo nos períodos de 1 dia, 1 mês, 6 meses, 1 ano e 10 anos, modelados no software Pollute v7 ___________ 170 Figura 5:30. Comportamento do Ni nas colunas de Chernossolo nos períodos de 1 dia, 1 mês, 6 meses, 1 ano e 10 anos, modelados no software Pollute v7 _______________ 171 Figura 5:31. Visada da base da lâmina LAT 1. Destaques: pequenos poros cavitários preenchidos com lodo de esgoto (canto inferior direito) e grandes sem o dito preenchimento (parte superior da foto). _________________________________ 176 xiii Figura 5:32. Visada da porção intermediária da lâmina LAT 1. Destaque: poros fissurais alongados preenchidos por lodo de esgoto. _____________________________ 176 Figura 5:33. Detalhe da porção superior da lâmina LAT 1. Maior retenção de lodo de esgoto nos poros cavitários do que nos fissurais. _______________________________ 176 Figura 5:34. Lâmina LAT 2. Porosidade bem aberta na parte superior da visada. Destaque para a presença de lodo de esgoto na forma de filamentos. _________________ 177 Figura 5:35. Porção intermediária da lâmina LAT 2. Presença de lodo de esgoto sob forma de filamentos, orientados. ______________________________________________ 177 Figura 5:36. Detalhe (zoom) da figura anterior mostrando a orientação dos filamentos de lodo de esgoto. _______________________________________________________ 177 Figura 5:37. Base da lâmina LAT 2. Porosidade mais fechada e destaque para os poros fissurais bem conectados na direção Ne-Se. _____________________________ 178 Figura 5:38. Parte superior da lâmina LAT 3. Destaque para alguns poros fissurais com orientação topo-base bem conectados, ligados a outros de direções variáveis. __ 178 Figura 5:39. Parte superior da lâmina LAT 3. Porosidade mais aberta entre os poros cavitários, preenchidos com filamentos de lodo de esgoto (em destaque). _____ 178 Figura 5:40. Parte mediana da lâmina LAT 3. Porosidade cavitária mais aberta e resquícios de lodo de esgoto no seu interior. ________________________________________ 179 Figura 5:41. Lâmina LAT 3. Na parte superior da visada tem-se uma porosidade cavitária mais fechada, diferentemente da parte inferior. Também na parte inferior ocorre a presença de lodo de esgoto. Na parte intermediária observam-se poros fissurais. 179 Figura 5:42. Base da lâmina CH 1. Poros cavitários de diâmetros menores, em destaque poros preenchidos por lodo de esgoto. _________________________________ 181 Figura 5:43. Porção intermediária da lâmina CH 1. Minerais expansíveis preenchendo poros fissurais. _________________________________________________________ 181 Figura 5:44. Porção superior da lâmina CH1. Poros fissurais bem finos com pouco preenchimento de lodo de esgoto. _____________________________________ 181 Figura 5:45. Base da lâmina CH 2. Em destaque um poro fissural grande sem preenchimento de lodo e poros cavitários circunvizinhos preenchidos com lodo de esgoto. _____ 182 Figura 5:46. Porção intermediária da lâmina CH 2. Poros cavitários pouco conectados e destaque para os poros fissurais com orientação topo-base. ________________ 182 Figura 5:47. Porção superior da lâmina CH 2. Poros cavitários preenchidos por lodo de esgoto. Destaque para o preenchimento dos poros com material expansivo. ___ 182 Figura 5:48. Porção superior da lâmina CH 3. Poros cavitários, alguns preenchidos por lodo de esgoto, e poros fissurais bem conectados. ____________________________ 183 Figura 5:49. Porção intermediária da lâmina CH 3. Maior quantidade de poros cavitários do que poros fissurais, ao contrário do observado no topo da lâmina. ____________ 183 xiv Figura 5:50. Base da lâmina CH 3. Porosidade cavitária pouco conectada, preenchida completamente ou parcialmente por lodo de esgoto. ______________________ 183 xv LISTA DE TABELAS Tabela 2:1. Síntese das fontes de contaminação e efeitos sobre a saúde dos principais metais encontrados no lodo (SILVA et al., 2001 modificado). _______________________ 49 Tabela 2:2. Principais agentes patogênicos no lodo e doenças causadas pela sua exposição (PROSAB, 1999). ___________________________________________________ 51 Tabela 2:3. Principais impactos ambientais relacionados a disposição de lodo de esgoto no solo (LARA et al., 2001; PROSAB, 1999). ________________________________ 53 Tabela 2:4. Limites máximos de concentração de substâncias inorgânicas permitidos em lodo de esgoto destinado para fins agrícolas (BRASIL, 2006a). ___________________ 55 Tabela 2:5. Limites máximos de agentes patogênicos permitidos em lodo de esgoto destinado para fins agrícolas e suas respectivas classes (BRASIL, 2006a). ______________ 55 Tabela 3:1. Relação entre Eh, pH e mobilidade de alguns elementos essenciais e potencialmente tóxicos (hachurados). Adaptado de PLANT et al. (1996) apud BELL (1998). ___________________________________________________________ 63 Tabela 3:2. Capacidade de troca catiônica dos principais argilominerais atribuídos por GRIM, 1968 (adaptado de ELBACHÁ, 1989). ___________________________________ 71 Tabela 3:3. Série típica de Mitchell e de Triegel quanto a preferência da troca catiônica. Adaptado de ELBACHÁ (1989). ________________________________________ 71 Tabela 3:4. Síntese dos métodos de extração seqüencial com respectivos extratores. ____ 80 Tabela 3:5. Coeficientes de difusão em solução para diluição infinita, a 25°C. __________ 85 Tabela 4:1. Relação de amostras obtidas no ensaio de coluna de lixiviação ___________ 111 Tabela 5:1. Resultados dasanálises granulométricas e dos limites de Atterberg ________ 119 Tabela 5:2. Resultados dos índices físicos (umidade, massas específicas dos solos e aparente, porosidade) ______________________________________________ 120 Tabela 5:3. Valores de pH e complexo sortivo para o Latossolo e o Chernossolo _______ 121 Tabela 5:4. Resultado do potencial agronômico do lodo de esgoto. __________________ 122 Tabela 5:5 Resultados (%) do ataque sulfúrico e da análise química total dos solos _____ 123 Tabela 5:6. Resultado das avaliações de metais totais nas amostras de Chernossolo e Latossolo ________________________________________________________ 124 Tabela 5:7. Caracterização do lodo quanto à presença de substâncias inorgânicas _____ 124 Tabela 5:8. Caracterização do lodo de esgoto quanto à presença de patógenos ________ 125 Tabela 5:9. Mineralogia dos solos estudados por DRX e percentual de argilominerais ___ 126 Tabela 5:10. Percentual de metais extraídos das frações residuais das amostras estudadas. ________________________________________________________________ 130 xvi Tabela 5:11. Sequência de disponibilidade dos metais nas Extrações I e II de acordo com as frações analisadas (LT – Latossolo, CH – Chernossolo, 1x – dose ideal de lodo, 2x – dose dupla de lodo) ________________________________________________ 142 Tabela 5:12. Sequência de disponibilidade das frações nas Extrações I e II de acordo com os metais Cd, Cu, Ni e Zn (LT – Latossolo, CH – Chernossolo, 1x – dose ideal de lodo, 2x – dose dupla). __________________________________________________ 143 Tabela 5:13. Valores de pH, condutividade elétrica e força iônica dos extratos _________ 143 Tabela 5:14. Distribuição percentual das espécies químicas de Ni, Cd, Zn e Cu nas frações das amostras de Latossolo e de Chernossolo acrescidas de dose ideal e de dose dupla de lodo de esgoto _____________________________________________ 146 Tabela 5:15. Atributos físicos dos solos para o ensaio de coluna ____________________ 150 Tabela 5:16. Vazões médias nas colunas de Chernossolo e Latossolo. _______________ 153 Tabela 5:17. Condutividade hidráulica (K), velocidade de Darcy (q), velocidade média de deslocamento (v), velocidade da partícula (vp) e número de Reynolds (Re). ____ 153 Tabela 5:18. Concentrações inicias (C0) dos metais estudados. _____________________ 155 Tabela 5:19. Concentração mínima e máxima dos metais detectados na lixiviação. _____ 155 Tabela 5:20. Resultados da análise química total de metais nas amostras retiradas dos cilindros das colunas ensaiadas. Valores hachurados acima dos limites de referência estipulados pela CETESB (2005) para solos. ____________________________ 158 Tabela 5:21. Análises químicas totais de metais no lodo (equivalente a 100%) e nas amostras de Latossolo e Chernossolo __________________________________________ 159 Tabela 5:22. Resultados das análises de rotina (fertilidade) nas amostras de Latossolo e Chernossolo, antes e depois do ensaio de lixiviação em colunas. ____________ 172 Tabela 5:23. Resultados das análises de carbono orgânico e matéria orgânica (calculada) nas amostras de Latossolo e Chernossolo, antes e depois do ensaio de lixiviação em colunas. _________________________________________________________ 172 xvii Lista de Símbolos Va – velocidade linear de advecção [LT -1] C – concentração de espécie química em solução [ML-3] x – distância na direção do fluxo [L] t – tempo [T] ρ – massa específica aparente seca do solo [ML-3] γs – massa específica dos sólidos [ML -3] γn – massa específica aparente do solo [ML -3] η – porosidade do solo v – velocidade média da água subterrânea [LT-1] k – condutividade hidráulica [LT2] i – gradiente hidráulico [LL-1] Dh – coeficiente de dispersão hidrodinâmica da espécie química [L 2T-1] De – coeficiente de difusão molecular da espécie em meio poroso [L 2T-1] Dm – coeficiente de dispersão mecânica [L 2T-1] αL – coeficiente de dispersividade longitudinal [L] αT – coeficiente de dispersividade transversal [L] v – velocidade linear média [LT-1] W – coeficiente de tortuosidade (W<1) D0 – coeficiente de difusão na solução [L 2T-1] Pe – número de Peclet Va – velocidade média de advecção [LT -1] x/m – quantidade de soluto adsorvido por massa unitária de solo [MM-1] C0 – Concentração inicial da solução (determinada analiticamente) antes do contato com o solo [ML-3] Ce – concentração de equilíbrio na solução [ML -3] Kf – constante proporcional a capacidade de adsorção máxima do solo N – constante relacionada a declividade da curva que reflete a intensidade de adsorção com o aumento de concentração de equilíbrio xviii M – constante, quantidade máxima de soluto adsorvida pelo solo [MM-1] KL – constante relacionada com a energia de adsorção [L 3M-1] Kd – coeficiente de partição ou distribuição [L 3M-1] Rd – fator de retardamento v – velocidade linear média do fluido no meio poroso (velocidade de percolação) [LT-1] vc – taxa média de migração do centro de massa de uma dada espécie química [LT -1] IP – índice de plasticidade LL – limite de liquidez LP – limite de plasticidade As – atividade de Skempton m – massa de solo seca adicionada ao recipiente [M] V – volume de solução adicionado ao recipiente [L] xix Sumário 1 INTRODUÇÃO_______________________________________________________ 22 1.1 Considerações Gerais ________________________________________________ 22 1.2 Objetivo da Pesquisa_________________________________________________ 26 1.3 Conteúdo da Dissertação _____________________________________________ 26 2 LODO DE ESGOTO: CARACTERÍSTICAS, PRODUÇÃO E DISPOSIÇÃO _______ 28 2.1 Considerações Gerais ________________________________________________ 28 2.2 Etapas de Tratamento de Esgoto e Processamento do Lodo ________________ 29 2.2.1 TRATAMENTO DA FASE LÍQUIDA___________________________________ 30 2.2.1.1 Tratamento Preliminar ___________________________________________ 31 2.2.1.2 Tratamento primário _____________________________________________ 31 2.2.1.3 Tratamento secundário __________________________________________ 32 2.2.1.4 Tratamento Terciário ____________________________________________ 33 2.2.2 PROCESSAMENTO DO LODO (TRATAMENTO DA FASE SÓLIDA) ________ 33 2.2.2.1 Adensamento __________________________________________________ 35 2.2.2.2 Estabilização biológica ___________________________________________ 35 2.2.2.3 Condicionamento do lodo ________________________________________ 36 2.2.2.4 Desaguamento _________________________________________________ 36 2.2.2.5 Disposição final ________________________________________________ 37 2.3 Alternativas para a Disposição Final de Lodos Gerados em ETEs ___________ 37 2.3.1 DISPOSIÇÃO NO SOLO ___________________________________________ 38 2.3.1.1 Reciclagem Agrícola e Florestal ___________________________________ 38 2.3.1.2 Disposição em aterro sanitário _____________________________________ 40 2.3.1.3 Recuperação de áreas degradadas _________________________________ 41 2.3.1.4 Landfarming ___________________________________________________ 43 2.3.2 REUSO INDUSTRIAL _____________________________________________ 43 2.3.3 INCINERAÇÃO __________________________________________________ 45 2.3.4 CONVERSÃO EM ÓLEO COMBUSTÍVEL _____________________________ 45 2.3.5 DISPOSIÇÃO OCEÂNICA __________________________________________ 46 2.4 Fatores Limitantes à Aplicação de Lodo nos Solos ________________________ 47 2.4.1 METAIS PESADOS _______________________________________________ 47 2.4.2 AGENTES PATOGÊNICOS_________________________________________ 50 2.4.3 COMPOSTOS ORGÂNICOS ________________________________________ 51 2.5 Possíveis Impactos Ambientais ________________________________________ 52 2.6 Diretrizes para Disposição de Lodo no Solo ______________________________ 54 3 CONTAMINANTES INORGANICOS: MIGRAÇÃO, (BIO)DISPONIBILIDADEE MOBILIDADE ___________________________________________________________ 57 3.1 Considerações Gerais ________________________________________________ 57 3.2 Conceituação de Áreas Degradadas ____________________________________ 60 xx 3.3 Migração e Processos de Interação dos Metais nos Solos __________________ 62 3.3.1 PROCESSOS DE INTERAÇÃO ENTRE O SOLO E OS CONTAMINANTES ___ 64 3.3.1.1 Especiação Química ____________________________________________ 64 3.3.1.2 Oxidação e redução _____________________________________________ 66 3.3.1.3 Dissolução e precipitação das fases sólidas __________________________ 69 3.3.1.4 Troca Iônica ___________________________________________________ 70 3.3.1.5 Adsorção na Matriz do Solo _______________________________________ 72 3.4 A (Bio)disponibilidade dos Compostos Inorgânicos _______________________ 74 3.4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ________________________________________ 74 3.4.2 EXTRAÇÃO SEQUENCIAL QUÍMICA _________________________________ 76 3.4.3 MÉTODOS DE FRACIONAMENTO QUÍMICO __________________________ 77 3.5 O Estudo da Mobilidade dos Metais ____________________________________ 82 3.5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ________________________________________ 82 3.5.2 O TRANSPORTE – PROCESSOS FÍSICOS ___________________________ 83 3.5.3 ENSAIOS DE COLUNA DE LIXIVIAÇÃO ______________________________ 86 3.5.4 SIMULAÇÃO NO PROGRAMA POLLUTE® V7 __________________________ 88 4 METODOLOGIA DA PESQUISA ________________________________________ 90 4.1 Considerações Gerais ________________________________________________ 90 4.2 Caracterização e Coleta dos Solos e do Lodo de Esgoto ___________________ 91 4.2.1 ANÁLISES FÍSICAS ______________________________________________ 95 4.2.2 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E QUÍMICAS (TOTAIS E SELETIVAS) _______ 95 4.2.2.1 Determinação do pH ____________________________________________ 95 4.2.2.2 Complexo sortivo _______________________________________________ 95 4.2.2.3 Caracterização do lodo quanto ao potencial agronômico ________________ 96 4.2.2.4 Ataque sulfúrico ________________________________________________ 96 4.2.2.5 Análise química total ____________________________________________ 97 4.2.3 ENSAIOS MICROBIOLÓGICOS _____________________________________ 97 4.2.4 ENSAIOS MINERALÓGICOS _______________________________________ 98 4.2.5 CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E MICROMORFOLÓGICA___________ 98 4.3 Ensaios de Disponibilidade de Metais (Fracionamento / Especiação) ________ 100 4.3.1 EXTRAÇÃO SEQUENCIAL DOS METAIS ____________________________ 100 4.3.2 ESPECIAÇÃO QUÍMICA - VISUAL MINTEQ® __________________________ 103 4.4 Ensaios de Toxicidade dos Solos _____________________________________ 104 4.4.1 TESTE DE TOXICIDADE AGUDA ___________________________________ 105 4.4.2 TESTE COMPORTAMENTAL ______________________________________ 106 4.5 Ensaios de Mobilidade dos Metais_____________________________________ 107 4.5.1 ENSAIOS DE COLUNA DE LIXIVIAÇÃO _____________________________ 107 4.5.1.1 Montagem do Ensaio ___________________________________________ 108 4.5.1.2 Procedimentos do ensaio________________________________________ 111 4.5.2 SIMULAÇÕES COM O PROGRAMA COMPUTACIONAL POLLUTE® _______ 115 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS _______________________ 118 5.1 Considerações Iniciais ______________________________________________ 118 5.2 Análises Físicas ____________________________________________________ 118 xxi 5.3 Análises Físico-Químicas e Químicas Totais e Seletivas __________________ 120 5.4 Ensaios Microbiológicos_____________________________________________ 125 5.5 Ensaios Mineralógicos ______________________________________________ 126 5.6 Caracterização Morfológica e Micromorfológica _________________________ 127 5.7 Ensaio de Disponibilidade de Metais ___________________________________ 129 5.8 Ensaios de Toxicidade dos Solos _____________________________________ 147 5.9 Ensaios de Mobilidade dos Metais_____________________________________ 149 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ________________________________________ 184 6.1 Conclusões Parcias _________________________________________________ 184 6.1.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS ESTUDADOS ______________________ 184 6.1.2 ENSAIOS DE DISPONIBILIDADE DE METAIS_________________________ 185 6.1.3 ENSAIOS DE TOXICIDADE DOS SOLOS ____________________________ 186 6.1.4 ENSAIOS DE MOBILIDADE DOS METAIS ____________________________ 186 6.2 Conclusão Geral ___________________________________________________ 188 6.3 Sugestões _________________________________________________________ 189 22 1 INTRODUÇÃO 1.1 Considerações Gerais O crescimento das demandas da sociedade por melhores condições do ambiente tem exigido das empresas a definição de políticas ambientais mais avançadas, que geralmente se iniciam pelo tratamento de efluentes líquidos. Esse tratamento gera um resíduo sólido, rico em matéria orgânica e nutrientes, denominado lodo de esgoto. O percentual do esgoto coletado que recebe algum tipo de tratamento é baixo no Brasil (em torno de 1/3), especialmente quando se tem em conta que boa parte do esgoto produzido no País não é recolhido por sistemas de coleta, sendo lançado diretamente no solo e em corpos d’água (BRASIL, 2008). Assim como o esgoto que não é coletado no País, a maior parte do resíduo tratado tem destino incerto e, na maioria das vezes, fica exposto ao meio ambiente ou acaba sendo encaminhado aos aterros de resíduos sólidos urbanos. A disposição final e o tratamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, segundo dados do IBGE (1991), são distribuídos da seguinte maneira: 76% em céu aberto (lixão); 13% aterro controlado (lixão controlado); 10% aterro sanitário; 1% passa por tratamento (compostagem, reciclagem e incineração). Já no Reino Unido, aproximadamente 76% dos resíduos são dispostos em aterros sanitários (BELL, 1993), uma diferença significativa ao se comparar com a realidade brasileira. Nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e em vários países da Europa, grande parte do lodo doméstico vai para a agricultura, aproveitamento que chega a 65% no caso dos norte-americanos. Sendo aparentemente tão simples, por que o Brasil ainda não faz melhor uso desses resíduos? COLODRO (2005) explica que aqui se importou a técnica de tratamento, mas não houve preocupação com o destino do resíduo produzido. Distribuído desordenadamente, o resíduo pode causar três tipos de impacto ao meio-ambiente: as presenças de nitrato, de patógenos e de metais pesados. Ele acrescenta que, enquanto os países mencionados já usam o lodo de esgoto há 60 anos, o Brasil soma apenas 10 ou 15 anos de trabalho efetivo na área. 23 Em todo o mundo, rejeitar o lodo de esgotos é um problema ambiental, pois as estações de tratamento de esgotos produzem mensalmente uma quantidade elevada deste material. A rica composição em matéria orgânica, nitrogênio e fósforo faz com que o lodo seja considerado um adubo útil para condicionar e fertilizar solos agrícolas ou recuperar áreas degradadas. A política ambiental deve ser baseada primordialmente no ecological cycle management. Nada mais é do que um sistema circular onde a quantidade de resíduos reaproveitados deva ser cada vez maior, ao contrário da quantidade de resíduos gerados (DEMAJOROVIC, 1995). A busca de alternativas viáveis para a disposição final do lodo de esgoto enquadra-se na preocupação mundial definida pela Agenda 21, que incluiu o tema manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões relacionadas com esgotos, e definiu como programas prioritários: a redução ao mínimo dos resíduos; o aumento ao máximo da reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos; a promoção do depósito e tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos e a ampliação do alcance dos serviços que se ocupam dos resíduos. Dentre as alternativas para o aproveitamentoe/ou disposição final do lodo de esgotos, TSUTIYA, (2000) cita a disposição em aterro sanitário, o reuso industrial, a incineração, a conversão em óleo combustível, a recuperação de solos e áreas degradadas, o landfarming e a disposição oceânica. Destas alternativas, a disposição oceânica foi proibida nos Estados Unidos e em alguns países da Europa (PROSAB, 1999). Na ótica sustentável, a eliminação final do lodo de esgoto através da incineração, do uso de landfarming ou pela disposição em aterros sanitários é empregada apenas quando sua valorização é impossível, seja porque o lodo apresenta contaminações ou, então, quando nas áreas próximas às estações não existirem solos adequados ou disponíveis (FERNANDES et al., 2001). As principais formas de tratamento e destinação final dos resíduos produzidos no Estado do Rio de Janeiro são: reciclagem, aterro municipal, co-processamento, aterro industrial, estocagem, incineração, incorporação, fertilização ou landfarming e aterro de terceiros (FEEMA1, 2000). 1 Atual INEA. 24 A escolha da alternativa de disposição do lodo passa por avaliações de ordem técnica, econômica e ambiental. Sob a ótica ambiental, cada uma das alternativas apresenta potenciais impactos ao ambiente, que podem ser positivos ou negativos, podendo valorizar ou condenar a forma de disposição adotada. A sua aplicação exige ainda investigações prévias, que devem ser cumpridas, e que devem ser diferenciadas em função das condições locais da sua aplicação e do material a ser utilizado. A aplicação de lodo de esgotos em solos agrícolas e/ou florestais e também em áreas degradadas é uma prática aceitável, tanto como forma de disposição final destes materiais, quanto de melhorar as características físicas, químicas e biológicas dos solos. Como a área degradada se caracteriza por não fornecer condições ao desenvolvimento e fixação da vegetação em função da falta de matéria orgânica e de nutrientes no solo e da atividade biológica, a adição do lodo apresenta uma série de características que favorecem a recuperação e o reaparecimento da vegetação (TSUTIYA, 2000). No Brasil, o número de áreas degradadas tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos devido às atividades antrópicas, tais como: construção de estradas e barragens, mineração e áreas agrícolas mal manejadas (DUDA et al., 1999 apud BEZERRA et al., 2006). Do ponto de vista econômico, o uso do lodo como fertilizante orgânico representa o reaproveitamento integral de seus nutrientes e a substituição de adubação química, com rendimentos equivalentes, ou superiores aos conseguidos com fertilizantes comerciais. O lodo de esgoto também pode influenciar positivamente características físicas dos solos, como a formação de agregados de partículas do solo, com consequente melhoria da infiltração, da retenção de água e da aeração, com reflexos ambientais imediatos, como a redução da erosão e a consequente melhoria da qualidade dos recursos hídricos. Dentre as variáveis químicas, físicas e biológicas que afetam a estrutura dos solos, a matéria orgânica pode ser o fator mais importante na formação e estabilidade dos agregados. A influência da matéria orgânica na agregação do solo é um processo dinâmico, sendo necessário o acréscimo contínuo de material orgânico para manter a estrutura adequada ao desenvolvimento das plantas. Dessa forma, as propriedades do lodo de esgoto o tornam interessante para aplicação em solos agrícolas desgastados por 25 manejo inadequado, bem como para recuperação de áreas degradadas (KOCSSIS & MARIA, 2004). Alguns impactos negativos que podem ser citados devido à utilização não controlada do lodo de esgoto são: o acúmulo de metais pesados, a presença de compostos orgânicos e agentes patogênicos no solo, a lixiviação de compostos resultantes da decomposição do lodo no solo, a contaminação de corpos hídricos e áreas adjacentes, devido ao escorrimento superficial do material e a volatilização de compostos (ANDREOLI et al., 2001). A disponibilidade e a solubilidade destes metais contidos nos lodos são controladas por fenômenos de adsorção, complexação, oxi-redução, e precipitação, podendo alcançar níveis tóxicos nos solos. Por essa razão, diversos países possuem normas técnicas regulamentando a maneira adequada de sua utilização. No Brasil, em agosto de 2006, foi publicada a Resolução Conama nº 375, que “define critérios e procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências”. Uma forma de se estudar a distribuição dos metais em suas diversas formas no solo é pela extração seletiva ou sequencial, também chamada de fracionamento sequencial. Em geral, usa-se uma sequência de extratores cada vez mais fortes para retirar os metais das diversas frações dos solos. Toda e qualquer discussão envolvendo o uso de materiais contendo possíveis elementos tóxicos deve ser embasada em resultados de pesquisa, para definir o destino desses elementos no solo e o risco de sua entrada na cadeia alimentar. Assim, é importante buscar ferramentas que permitam interpretar o efeito da ocorrência dos metais dentro de uma perspectiva racional. A literatura internacional sobre o assunto é relativamente abundante, de maneira especial nos EUA e nos países da Europa Ocidental (SLOAN et al., 1997; SPOSITO et al., 1982; LAKE et al., 1984; SIMS & KLINE, 1991; ALLOWAY & JACKSON, 1991; BERTI & JACOBS, 1996; BASTA et al., 2001; BROWN et al., 2004, etc.). A literatura nacional também dispõe de algumas importantes contribuições (PIRES (2003, 2006); BELTIOL et al., 1989; ANDREOLI et al., 2001; BRASIL, 2006a,b), mas ainda tem-se muito o que descobrir para adaptar as normas e bases estrangeiras a nossa realidade tropical. Dessa forma, é indispensável o envolvimento dos órgãos de pesquisa e ensino nos estudos sobre os efeitos do lodo 26 de esgoto nos solos tropicais, bem como os seus impactos no ambiente. Esses estudos devem ser executados preferencialmente por equipes interdisciplinares. 1.2 Objetivo da Pesquisa Diante deste cenário preocupante e da necessidade de criação e aperfeiçoamento de novas alternativas que minimizem o problema da geração de resíduos domésticos, esta pesquisa buscou contribuir no cunho ambiental no que diz respeito ao tema reuso e reciclagem, avaliando o reaproveitamento do resíduo lodo de esgoto na recuperação de áreas degradadas em ambientes tropicais. Assim, procurou-se simular em laboratório, sob condições controladas e homogêneas, a aplicação deste resíduo em campo. Para isso, em duas classes de solos com características e composições mineralógicas bem distintas, observou-se o comportamento dos sistemas solo e lodo antes da incorporação do resíduo, e do sistema solo-lodo durante e após a aplicação do mesmo. Objetivou-se então com essa pesquisa avaliar: (i) os teores (bio)disponíveis de compostos inorgânicos por meio de fracionamento químico e colunas de lixiviação; (ii) a distribuição dos elementos nas frações do sistema solo-lodo após a incorporação do lodo de esgoto e sua especiação; (iii) o transporte por meio dos ensaios de coluna de lixiviação e do programa computacinal Pollute. 1.3 Conteúdo da Dissertação O capítulo 1 refere-se à questão temática do presente trabalho, relacionando as metas e os objetivos e fazendo um apanhado de toda a dissertação. O capítulo 2 apresenta a definição de lodo de esgotos: elucida suas principais características e faz um apanhado desde a sua produção até sua disposição final, benéfica ou não, apontando os principais impactos ambientais e as diretrizes a que estão sujeitas. No capítulo 3 tem-se uma visão geral sobre a questão da contaminação inorgânica nos meios porosos, sendo introduzidas as definições deárea degradada, biodisponibilidade, migração e fracionamento químico. 27 No capítulo 4, está relatada a metodologia da pesquisa, sendo apresentados os ensaios de disponibilidade e mobilidade dos metais e toxicidade dos solos que foram realizados ao longo dos cinco anos, juntamente com as descrições de cada etapa da caracterização mineralógica, morfológica, micromorfológica, química, físico química, biológica e física das amostras de solos e de lodo de esgoto estudados. Posteriormente, no capítulo 5, são apresentados os resultados das referidas análises, seguidas das discussões baseadas nos fundamentos avaliados, buscando- se possíveis explicações para dar sustento aos achados, tomando como referência a literatura existente na área. Por fim, no capítulo 6, é apresentada uma avaliação do estudo no conjunto, levando em conta suas repercussões e as questões levantadas a partir desse trabalho, bem como sugestões para futuras pesquisas. No final da dissertação são listadas as referências bibliográficas e apresentados os anexos. 28 2 LODO DE ESGOTO: CARACTERÍSTICAS, PRODUÇÃO E DISPOSIÇÃO 2.1 Considerações Gerais Os esgotos, tanto no Brasil quanto no mundo, são classificados em dois grupos principais: domésticos e industriais. Os primeiros são constituídos essencialmente de despejos domésticos, uma parcela de águas pluviais e águas de infiltração. Eventualmente uma parcela de despejos industriais é misturada ao esgoto doméstico. Os esgotos domésticos ou domiciliares provêm principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas, ou qualquer dispositivo de utilização de água para fins domésticos. Já os industriais, extremamente diversos, provêm de qualquer utilização de água para fins industriais, adquirindo características próprias em função, por exemplo, do processo industrial empregado e do sistema de tratamento utilizado pela empresa (FERREIRA et al., 1999). A composição média do esgoto aponta para uma mistura de água (99,9%) e sólidos (0,1%), sendo que, do total de sólidos, 70% são orgânicos (proteínas, carboidratos, gorduras) e 30% inorgânicos (partículas minerais, sais e metais). Durante o processo de tratamento, ocorre a separação das frações sólida e líquida. O tratamento de esgotos resulta na produção de um lodo rico em nutrientes e matéria orgânica, denominado lodo de esgoto (FERNANDES, 2000; GRAY, 2005). Durante o processo de tratamento, ocorre a separação por decantação das frações sólida e líquida. A fase líquida pode ser composta por esgotos domésticos, águas de infiltração e despejos industriais e a sólida denominada de lodo de esgoto (MELO & MARQUES, 2000). Apesar da constituíção do lodo ser de mais de 95% de água, por convenção, ele é designado de fase sólida visando distingui-lo do fluxo do líquido tratado que é chamado de fase líquida (VON SPERLING & GONÇALVES, 2001). As características qualitativas e quantitativas do lodo estão relacionadas com a densidade populacional, tipo de urbanização, hábitos sanitários, condições ambientais, estação do ano, perfil de saúde da comunidade que gera o lodo e tipo de sistema de tratamento existente (PROSAB, 1999). 29 Segundo BETTIOL et al. (1989) o lodo de esgoto apresenta uma composição variável, pois depende da origem e do processo de tratamento do esgoto. Um lodo de esgoto típico apresenta em torno de 40% de matéria orgânica, 4% de nitrogênio, 2% de fósforo e os demais macro (Mg, S e Ca) e micronutrientes (B, Cu, Fe, Zn, Mo, Cl, Co, Si, Mn e Na). Note-se a ausência do potássio. Os principais riscos ambientais relacionados com a reciclagem do lodo no meio ambiente são representados pelo seu conteúdo de metais, de compostos orgânicos, de microrganismos patogênicos e pelos riscos de poluição das águas superficiais e subterrâneas. A dinâmica de cada elemento químico deve ser analisada frente às dosagens consideradas tóxicas e aos diferentes níveis de exposição. Os agentes patogênicos devem ser analisados segundo seus diferentes graus de atividade biológica e concentrações, que definem a sua virulência, já que, associada às condições do meio e às suscetibilidades dos hospedeiros, pode se refletir em algumas alterações na saúde das populações (PROSAB, 1999). 2.2 Etapas de Tratamento de Esgoto e Processamento do Lodo Os sistemas de tratamento de esgotos domésticos foram originalmente concebidos para remover a matéria orgânica e os sólidos. Posteriormente surgiu a preocupação em reduzir outros constituintes, como nutrientes e organismos patogênicos (GASI & ROSSIN, 1993 apud CHAGAS, 2000). Atualmente considera- se que as estações de tratamento devam atuar como verdadeiras barreiras à disseminação de diversas enfermidades. Pode-se, então, separar o tratamento de esgoto domiciliar em 4 níveis básicos: preliminar, tratamento primário e tratamento secundário que tem quase a mesma função, e tratamento terciário ou pós-tratamento. Cada um deles têm, respectivamente, o objetivo de remover os sólidos suspensos (lixo, partículas minerais), remover os sólidos dissolvidos, a matéria orgânica, e os nutrientes e organismos patogênicos. Esses níveis de tratamentos são comum ao Brasil e aos Estados Unidos. 30 2.2.1 TRATAMENTO DA FASE LÍQUIDA A produção do lodo a ser gerado é função principal do sistema de tratamento utilizado para a fase líquida. Todos os processos de tratamento são iniciados pelo tratamento preliminar, onde há, necessariamente, a geração de material gradeado e areia. Os processos que recebem o esgoto bruto em decantadores primários geram o lodo primário, composto pelos sólidos sedimentáveis do esgoto bruto. Na etapa biológica de tratamento, tem-se o lodo biológico ou lodo secundário. Esse lodo é a própria biomassa que cresceu à custa do alimento fornecido pelo esgoto afluente (Figura 2:1). Dependendo do tipo de sistema, o lodo primário pode ser enviado para o tratamento juntamente com o lodo secundário, resultando o chamado lodo misto. Em sistemas de tratamento que incorporam uma etapa físico-química (para melhorar o desempenho do lodo primário ou para dar um polimento ao efluente secundário) tem-se o lodo químico ou terciário. Figura 2:1. Tratamento da fase líquida de esgotos. (1) cidade (2) rede de esgotos (3) e (4) tratamento preliminar, grades e caixa de areia (5) tratamento primário, decantador (6) e (7) 31 tratamento secundário, tanque de aeração e decantador (8) desaguamento no rio. Fonte: Sabesp (2009). 2.2.1.1 Tratamento Preliminar O tratamento preliminar consiste basicamente na remoção de sólidos grosseiros e areia, feita normalmente por meio de grades. Nesta etapa, chamada de gradeamento, o resíduo com dimensões maiores do que o espaço entre as barras nas grades fica retido (FONTES, 2003). A remoção da areia é feita através de uma unidade denominada caixa de areia ou desarenador. Estas unidades são dimensionadas para a remoção apenas deste sólido. Neste processo, o grão de areia sedimenta no fundo da caixa por causa do seu tamanho e densidade, enquanto a matéria orgânica permanece em suspensão no meio líquido, seguindo para a unidade seguinte (FONTES, 2003). Normalmente, o material resultante deste tratamento preliminar é disposto em aterros sanitários. 2.2.1.2 Tratamento primário Tem por objetivo remover os sólidos em suspensão e os sólidos flutuantes. O tratamento primário é bastante simples - envolve uma tela seguida por um conjunto de reservatórios ou tanques que deixam a água em repouso, de modo que os sólidos sejam separados. Nessa unidade, os sólidos que possuem densidade maior do que a da massa líquida vão se depositando lentamente no fundo do tanque e recebem o nome de lodo primário. Em seguida, o efluente líquido é encaminhado para o tratamento secundário, oupara o corpo receptor e o lodo primário é encaminhado para o tratamento da fase sólida, ambos por meio de tubulações. Os sólidos flutuantes (graxas, óleos), em função da sua densidade, sobem para a superfície, onde são removidos, manualmente ou mecanicamente, para tratamento posterior. O tratamento primário pode remover metade dos sólidos, materiais orgânicos e bactérias da água. 32 Os tipos mais comuns de tratamentos primários de acordo com a COPASA (2009) são: (a) Filtros anaeróbios, onde os sólidos em suspensão se sedimentam no fundo da fossa séptica e formam o lodo onde ocorre a digestão anaeróbia. O líquido então encaminha-se para o filtro anaeróbio que possui bactérias as quais crescem aderidas a uma camada suporte formando a biomassa que reduz a carga orgânica dos esgotos; e (b) Reator Anaeróbio de Manta de Lodo (UASB), onde a biomassa cresce dispersa no meio e não aderida como nos filtros. Essa biomassa, ao crescer, forma pequenos grânulos, que por sua vez, tendem a servir de meio suporte para outras bactérias. O fluxo do líquido é ascendente e são formados gases – metano e gás carbônico, resultantes do processo de fermentação anaeróbia. 2.2.1.3 Tratamento secundário Tem por objetivo remover a matéria orgânica através de processos biológicos (nos tratamentos anteriores o processo é puramente físico) (FONTES, 2003). O esgoto vai para grandes tanques de aeração onde é fornecido ar para os microorganismos contidos nele, fazendo com que esses se multipliquem e se alimentem de material orgânico, o que formará o lodo e diminuirá a carga poluidora do esgoto. Depois, o material segue novamente para tanques de sedimentação onde o lodo formado se deposita no fundo do decantador, deixando a parte líquida livre de 90% das impurezas. Essa água não é potável, mas pode ser lançada nos rios ou reaproveitada para fins de limpeza. Os tipos mais comuns de tratamento secundário, segundo COPASA (2009) são: (a) Lagoas de estabilização, onde os esgotos entram em uma extremidade e saem na oposta. A matéria orgânica, na forma de sólidos em suspensão, fica no fundo da lagoa, formando um lodo que vai aos poucos sendo estabilizado. As algas existentes no esgoto, na presença de luz, produzem oxigênio que é liberado através da fotossíntese. Esse oxigênio dissolvido (OD) é utilizado pelas bactérias aeróbias (respiração) para se alimentarem da matéria orgânica presente no esgoto, que está dissolvida e em suspensão. O resultado é a produção de sais minerais – alimento das algas - e de gás carbônico (CO2); (b) Lodos ativados, composto, essencialmente, por um tanque de aeração (reator biológico), um tanque de 33 decantação (decantador secundário) e uma bomba de recirculação do lodo. O princípio do sistema é a recirculação do lodo do fundo de uma unidade de decantação para uma de aeração. Em decorrência da recirculação contínua de lodo do decantador e da adição contínua da matéria orgânica, ocorre o aumento da biomassa de bactérias, cujo excesso é descartado periodicamente; (c) Tratamento aeróbio com biofilme, onde os esgotos são aplicados sobre um leito de material grosseiro, como pedras e ripas ou material plástico, e percola em direção a drenos no fundo. Este fluxo do esgoto permite o crescimento de bactérias na superfície do leito, formando uma película de microorganismos. O ar circula nos espaços vazios entre as pedras ou ripas, fornecendo oxigênio para os microorganismos decomporem a matéria orgânica. 2.2.1.4 Tratamento Terciário O tratamento avançado destina-se a remover do efluente secundário as substâncias que o tornam impróprio para determinado fim ou para ser lançado num manancial d’água. Um exemplo de tratamento terciário é a remoção de partículas minerais e orgânicas diminutas, em suspensão e dissolvidas no efluente, a fim de transformá-lo em água potável. O exemplo mais comum é a remoção de nitrogênio e de fósforo presentes, para que estes não favoreçam a proliferação de algas capazes de causar odor e sabor na água do corpo receptor (PROSAB, 1999). 2.2.2 PROCESSAMENTO DO LODO (TRATAMENTO DA FASE SÓLIDA) Durante o tratamento da fase líquida e dos processos de estabilização, há a geração de um material com elevado teor de umidade, cuja desidratação é extremamente necessária caso haja necessidade de qualquer operação subsequente ao tratamento. Apesar de não ser o único subproduto gerado em uma estação de tratamento de esgotos, o lodo tem uma importância maior por ser um resíduo de difícil tratamento e disposição final (JORDÃO & PESSÔA, 1995 apud FONTES, 2003). 34 A maior preocupação com esse lodo restringe-se na remoção da sua umidade para se atingir um teor de sólidos na faixa de 15% a 40% (SOBRINHO, 2000). É uma operação fundamental para a redução de massa e volume do lodo a ser tratado ou descartado (Figura 2:2). Figura 2:2. Tratamento da fase sólida. (1) cidade (2) entrada do lodo primário (3) entrada do lodo secundário (4) adensadores (5) flotadores (6) digestores (7) filtro prensa (8) esteira (9) tortas para o aterro sanitário. Fonte: SABESP (2009). As principais etapas do tratamento do lodo são: adensamento, estabilização, condicionamento, desaguamento e disposição final. A implantação ou não de cada unidade vai depender das características do lodo gerado e do produto final que se queira obter, além dos custos. Os custos representam em torno de 20 a 60% do total gasto com a operação de uma ETE (ANDREOLI et al., 2001; FERNANDES et al., 1999; TSUTIYA et al., 2001). 35 2.2.2.1 Adensamento O adensamento ou espessamento é um processo físico de concentração de sólidos no lodo visando reduzir sua umidade e, em decorrência, seu volume, facilitando as etapas subsequentes de tratamento do lodo. As alternativas de adensamento incluem o adensamento por gravidade e por flotação. Os adensadores por gravidade apresentam melhor eficiência quando utilizados no de lodo proveniente de tratamento primário. Estas unidades são semelhantes a um decantador primário, no qual o lodo sedimenta e adensa no fundo do tanque, sendo removido por raspadores e encaminhado para a etapa de estabilização. O líquido sobrenadante retorna ao início do processo de tratamento primário (JORDÃO & PESSÔA, 1995 apud FONTES, 2003). Já os adensadores por flotação são utilizados com maior eficiência quando o lodo é proveniente de tratamento secundário ou de lodo ativado (excedente). Esse processo consiste na injeção de bolhas de ar no meio líquido, que aderem às partículas sólidas, fazendo com que a sua densidade diminua e as mesmas sejam arrastadas para a superfície, onde são removidas por raspadores (JORDÃO & PESSÔA, 1995). 2.2.2.2 Estabilização biológica A estabilização visa atenuar o inconveniente de maus odores no tratamento e manuseio do lodo. A redução dos odores é alcançada através da remoção da matéria orgânica biodegradável componente do lodo. O método mais empregado para estabilizar o lodo é a digestão anaeróbia, onde o lodo bruto é encaminhado para o interior de digestores biológicos totalmente fechados onde bactérias anaeróbias e facultativas estabilizam a matéria orgânica produzindo gás carbônico, metano, massa celular e outros micronutrientes (ANDREOLI et al., 2001). 36 2.2.2.3 Condicionamento do lodo Para auxiliar no desaguamento do lodo é necessária a utilização de produtos químicos conhecidos como agentes coagulantes. Esses produtos são aplicados ao lodo para favorecer a agregação das partículas de sólidos e formação de flocos. O condicionamento do lodo pode ser realizado através da utilização de polímeros orgânicos, produtos químicos inorgânicos ou de tratamento térmico (ANDREOLI et al., 2001). Os polímeros inorgânicos podem ser classificados em neutros, catiônicos e aniônicos do ponto de vista das cargas de superfície. Os catiônicos são os maisutilizados pelo fato do lodo possuir cargas elétricas predominantemente negativas. Os produtos químicos inorgânicos são utilizados principalmente quando a etapa posterior (desaguamento) é realizada por filtro a vácuo ou filtro de pressão (ANDREOLI et al., 2001). 2.2.2.4 Desaguamento O desaguamento do lodo pode ser realizado por métodos naturais ou mecânicos. O objetivo desta fase é remover a água e reduzir ainda mais o volume, produzindo lodo com comportamento mecânico próximo ao dos sólidos. A desidratação do lodo tem impacto importante nos custos de transporte e destino final, além de influenciar de maneira decisiva o manuseio do lodo, já que o comportamento mecânico deste varia com o teor de umidade. Fazem parte do processo de desaguamento por método natural os leitos de secagem e as lagoas de secagem de lodo. Filtros (prensa e esteira) e centrífugas são exemplos de métodos mecânicos, e produzem a chamada torta de lodo, onde a concentração de sólidos totais fica em torno de 20 a 30% (JORDÃO & PESSÔA, 1995). A água está ligada aos sólidos nos lodos através de forças intermoleculares que estão distribuídas em classes distintas de acordo com a facilidade de separação. A remoção da água livre é realizada por simples ação gravitacional ou por flotação. É o que ocorre nos processos de adensamento, que pode produzir lodos com totais de sólidos aproximadamente de 5% e pode resultar na redução do 37 volume em torno de 60% com relação ao volume original (GONÇALVES et al., 2001). Já as águas, adsorvida e capilar, exigem forças maiores para serem separadas dos sólidos presentes no lodo, que podem ser mecânicas ou de origem química. Os filtros-prensa ou centrífugas são exemplos de força mecânica e o uso de floculantes, química. Os totais de sólidos são superiores a 30% resultando um material denominado torta. A remoção das águas livres, adsorvida e capilar reduzem de 90 a 95% do volume original do lodo (GONÇALVES et al., 2001). 2.2.2.5 Disposição final As alternativas mais usuais para o aproveitamento e/ou destino final de lodos, segundo FERNANDES et al., 2001, TSUTYA, 2000, FONTES, 2003, JORDÃO & PÊSSOA, 1995 têm sido: (i) a reciclagem agrícola, (ii) a disposição em aterro sanitário, (iii) o reuso industrial, (iv) a incineração, (v) a conversão em óleo combustível, (vi) a recuperação de áreas degradadas, (vii) landfarming e (viii) a disposição oceânica. Devido à importância deste item, ele será tratado separadamente, no subcapítulo abaixo. 2.3 Alternativas para a Disposição Final de Lodos Gerados em ETEs A avaliação de alternativas para a disposição final do lodo de esgoto é normalmente complexa por envolver aspectos técnicos, econômicos, ambientais e legais, que ultrapassam os limites das estações de tratamento. Por apresentar em sua composição microrganismos patogênicos, metais pesados e outros compostos tóxicos, mesmo após o processo de tratamento, o lodo quando disposto de maneira inadequada, pode trazer danos ao meio ambiente e a saúde humana. As alternativas de processamento e destino final, quando realizadas dentro da ótica sustentável, devem se preocupar em produzir um lodo de melhor qualidade, reduzindo o percentual de patógenos e metais e reciclar ao máximo o lodo produzido (FERNANDES et al., 2001; TSUTYA, 2000). 38 Atualmente existem várias formas de disposição do lodo gerado nas estações de tratamento, conforme descrito a seguir. 2.3.1 DISPOSIÇÃO NO SOLO Resíduos orgânicos provenientes de atividades humanas são usados como fertilizantes há milhares de anos pelos chineses, japoneses e indianos (OUTWATER, 1994 apud ANDREOLI et al., 2001). No século XIX e início do XX, os sistemas de tratamento consistiam na disposição direta do esgoto nos solos. Com o desenvolvimento das tecnologias de tratamento primário e secundário, a disposição no solo decaiu em importância - no entanto, nos anos 40 e 50, o incremento na produção de lodo começou a pressionar as autoridades e o uso agrícola voltou a crescer. As diferentes práticas de disposição de lodo de esgoto no solo podem ser divididas em uso benéfico, quando a aplicação beneficiar-se das propriedades do produto como fertilizante (fornecendo macro e micro nutrientes) e condicionador (melhorando as características químicas e físicas) dos solos; e descarte, quando as práticas utilizam-no como substrato para decomposição do resíduo ou como local de estocagem e descarte (ANDREOLI, et al., 2001). 2.3.1.1 Reciclagem Agrícola e Florestal O lodo proveniente das ETEs, processado de modo a permitir o seu manuseio de forma segura na utilização da agricultura, é denominado de biossólido. Para a WEF (1999), o biossólido também pode ser utilizado em outros usos benéficos. Para sua disposição final devem ser considerados os seguintes aspectos principais: produção, qualidade (presença de metais pesados e microrganismos patogênicos) e grau de umidade. Os biossólidos contêm matéria orgânica, macro e micronutrientes que exercem um papel fundamental na produção agrícola e na manutenção da fertilidade dos solos (TSUTIYA, 2000). 39 Os nutrientes encontrados em maior quantidade são o nitrogênio e o fósforo. Os elementos cálcio e magnésio são encontrados em pequenas quantidades salvo naqueles biossólidos higienizados através de caleação, onde são adicionadas grandes quantidades destes elementos. O potássio está presente em quantidades muito modestas, porém encontra-se em forma prontamente assimilável pelas plantas e normalmente é suplementado por fertilizantes químicos nos solos adubados com lodo (VON SPERLING et al., 2001). As quantidades de micronutrientes são variadas no lodo, contendo geralmente quantidades apreciáveis de cobre, zinco e manganês e menores quantidades de boro, molibdênio e cloro. É importante salientar que os micronutrientes são exigidos em quantidades pequenas e o uso de biossólidos em níveis elevados pode resultar em efeitos tóxicos (VON SPERLING et al., 2001). Além disso, a matéria orgânica exerce importantes efeitos sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, agindo como um condicionador e contribuindo substancialmente para o crescimento e desenvolvimento das plantas. A matéria orgânica melhora as características físicas do solo, agindo como um agente cimentante, promove maior agregação de suas articulas, reduz sua coesão e plasticidade e melhora sua capacidade de retenção de água. De maneira geral, as adubações orgânicas aumentam a infiltração e a retenção de água no solo e a estabilidade dos agregados, tornando estes solos mais resistentes aos processos erosivos (VON SPERLING et al., 2001). O biossólido pode contribuir ainda na melhoria da capacidade de troca catiônica do solo, na melhoria do poder tampão de pH e no estímulo à atividade microbiana do solo. De acordo com a Resolução Conama nº 375 (BRASIL, 2006a) é proibida a utilização de lodo de esgoto ou produto derivado em pastagens e cultivo de olerícolas, tubérculos e raízes, e culturas inundadas, bem como as demais culturas cuja parte comestível entre em contato com o solo. Caso esses solos tenham sido condicionados com biossólidos, essas culturas só ficarão aptas ao consumo após um período mínimo de 48 meses a contar da última aplicação. Para WEBER (1998) apud TSUTYA (2000), a experiência mundial tem mostrado que quando os biossólidos são aplicados obedecendo-se as diretrizes fixadas para o seu uso, não foi constatado efeito adverso à saúde ou ao ambiente 40 decorrente da sua aplicação, apesar das diretrizes variarem consideravelmente. As restrições ambientais na Europa são mais restritivas que nos Estados Unidos. Diversos municípios brasileiros estão coletando e tratando adequadamente os esgotos no sentido de dispor o lodo gerado na agricultura. Algumas cidades como Campinas, Franca, Jundiaí, Limeira, Piracicaba,São José dos Campos e São Paulo, SP; Curitiba e Londrina, PR; Belo Horizonte, MG; Brasília, DF; e Campo Grande, MS entre outras estão tratando os esgotos e gerando lodo (BETTIOL & CAMARGO, 2006). Os cereais são as culturas mais recomendadas, pois passam por processos industriais antes de chegarem ao consumidor. Culturas como café e cana de açúcar são outra alternativa interessante. As culturas que oferecem mais riscos são aquelas em que o produto tenha um contato direto com o solo (olerícolas e tubérculos) e podem ser consumidas in natura (ANDREOLI et al., 2001). 2.3.1.2 Disposição em aterro sanitário Segundo TSUTIYA (2000), o aterro é geralmente necessário para atender os objetivos de absorção dos lodos com características inadequadas ao uso benéfico, absorção de volumes excedentes a demanda, disposição de cinzas de incineração e garantia de disposição final adequada independente de quaisquer fatores. Na disposição do lodo em aterro não há qualquer preocupação em se recuperar nutrientes ou se utilizar o lodo para qualquer finalidade útil. O lodopassa por processos de biodegradação anaeróbia, gerando vários subprodutos, dentre eles, o metano (LUDUVICE & FERNANDES, 2001). Os aterros denominados exclusivos são adequados às características do resíduo, sob ponto de vista ambiental e de infra-estrutura, pois neles apenas são dispostos lodos de esgoto na forma de torta desidratada (alto teor de sólidos, superior a 30%) ou ainda secos termicamente (LUDUVICE & FERNANDES, 2001). No Brasil, grande parte do lodo produzido tem como destino final o aterro sanitário, sendo esse processo denominado “co-disposição”, uma vez que o lodo é disposto juntamente com os resíduos sólidos domiciliares (LUDUVICE e FERNANDES, 2001). 41 Esse tipo de disposição apresenta o inconveniente de reduzir a vida útil dos aterros. Tal alternativa só é viável se houver cooperação entre os responsáveis pelo lodo de esgoto e pelo resíduo sólido urbano (TSUTIYA, 2000). 2.3.1.3 Recuperação de áreas degradadas A aplicação de lodos em áreas degradadas traz benefícios às propriedades físicas do solo, pois este desempenha o papel de condicionador do solo melhorando a formação de agregados, a infiltração, a retenção de água e a aeração do solo. Como a área degradada se caracteriza por não fornecer condições de desenvolvimento e fixação da vegetação em função da falta de matéria orgânica, de nutrientes e da atividade biológica, a adição de lodo apresenta uma série de vantagens que favorecem a recuperação e o reaparecimento da vegetação (TSUTIYA, 2000). Segundo BEZERRA et al. (2006), o procedimento para recuperação dessas áreas é lento e está relacionado à capacidade de restabelecimento do solo. Para tanto, são empregadas técnicas semelhantes às usadas na biorremediação, onde os microrganismos têm vital importância e assumem a função de biorremediadores, na degradação de agentes poluidores (SIQUEIRA et al., 1994). Em solos de regiões tropicais, a matéria orgânica desempenha papel de fundamental importância na fertilidade, por se tratarem de solos altamente intemperizados, cujos minerais, já na escala final de intemperismo, possuem baixa capacidade de troca catiônica. A presença de matéria orgânica melhora o estado de agregação das partículas do solo, diminui sua densidade, aumenta a aeração (BERNARDES, 1982), a capacidade de retenção de água e a capacidade de troca de cátions. Segundo MELO & MARQUES (2000), na literatura encontra-se grande número de trabalhos procurando avaliar o efeito do lodo nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, assim como seu efeito fertilizante e sua ação fitotóxica e poluidora do ambiente. A afirmação dos autores acima pôde ser constatada na bibliografia em ALVES et al., 2007; ANJOS & MATIAZZO, 2000, 2001; BARCELAR et al., 2000; BETTIOL & FERNADES, 2004; BEZERRA et al., 2006; BOEIRA, 2004; CEOLLATO, 2007; COLODRO, 2005; ORTEGA et al., 1991; dentre uma série de outros autores. 42 A porosidade e a densidade são outras propriedades físicas que podem ser alteradas pela aplicação de lodo na camada superficial do solo. Ao promoverem a agregação de partículas do solo, a matéria orgânica e os cátions presentes (Ca2+, Al3+ entre outros) determinam o aumento no volume do mesmo, causando redução da sua densidade. A taxa de infiltração da água no solo é afetada pelo volume de poros, enquanto que a capacidade de retenção de água é influenciada pelo número e pela distribuição dos poros na superfície específica. Dessa forma, tanto uma como outra propriedade podem ser afetadas pela adição do lodo no solo. De um modo geral, a aplicação de lodo de esgoto ao solo tem promovido aumento de pH (OLIVEIRA, 1995), diminuição da acidez potencial (BATAGLIA et al., 1983; DIAS, 1994; MARQUES, 1997) e do alumínio trocável (BERTON et al., 1989). O lodo de esgoto tem sido utilizado, largamente, como condicionador de solo - melhorando as capacidades químicas e físicas - e fertilizantes - suprindo as deficiências de macro e micro nutrientes - para recuperação de áreas de mineração (BROFAS et al., 2000). Vários autores (IBÁÑEZ-GRANELL et al., 1993; MARX et al., 1995; NAVAS et al., 1999) ressaltam o efeito positivo da aplicação do lodo, no desenvolvimento da vegetação e na recuperação de solos degradados e ácidos, pois a incorporação de matéria orgânica restabelece a estrutura, melhora a circulação de ar e água e libera nutrientes essenciais ao desenvolvimento da vegetação. Também no Brasil, vários autores comprovaram a eficácia da aplicação de lodo de esgotos nos solos (PIRES, 2003; SILVA et al., 2002; MELO et al., 2004; COLODRO, 2005; KOCSSIS & MARIA, 2004). Dentre alguns dos benefícios estão: o aumento da fertilidade e o aumento da atividade microbiana. Com relação às propriedades físicas, tem-se a redução da densidade, o aumento da porosidade e estabilidade dos agregados (STAMATIADIS et al., 1999 apud LOPES, 2001). O valor da dose de aplicação do lodo nos solos degradados é função da qualidade da matéria orgânica e dos nutrientes necessários ao solo para suportar a vegetação até que o ecossistema de auto-sustentação seja estabelecido. Essa taxa tem variado de 7 a 450 toneladas secas por hectare (MALINA, 1993) e normalmente ele é aplicado ao solo uma única vez. Segundo TSUTYIA (2000), a dose de aplicação típica é de 112 toneladas secas /hectare. Nos EUA, a aplicação do lodo de esgoto em áreas degradadas chega a atingir dosagens de até 495 t/ha (EPA, 1995). 43 2.3.1.4 Landfarming O landfarming (ou tratamento no solo) é um método de tratamento para resíduos sólidos que consiste na mistura do resíduo com a camada de solo existente na zona arável, a qual deve ser revolvida periodicamente. Nesse sistema, uma área recebe doses elevadas de lodo por vários anos e o solo passa a ser o suporte da atividade biológica, retenção de metais, local de exposição ao sol e bioxidação, o que provocará a degradação da matéria orgânica. Não há a utilização dos nutrientes e da matéria orgânica do lodo para fins produtivos. O objetivo é apenas a degradação do lodo pelos microrganismos presentes no perfil arável e a retenção de metais na camada superficial do solo (ANDREOLI et al., 2004). As doses de aplicação variam de 60 a 70 toneladas por ano por hectare, em base seca, para áreas que não têm impermeabilização da camada inferior, e de 300 a 600 toneladas por ano por hectare quando há impermeabilização da camada do solo a 60 - 80cm de profundidade (TSUTYA, 2000). Para a sua utilização devem ser levados em conta os seguintes fatores: características do lodo para definir a taxa de aplicação, implantação e manuseio da vegetação de cobertura e controle ambiental (TSUTYA, 2000) 2.3.2 REUSO INDUSTRIAL Na literatura internacional, GEORGE (1986) já citou o trabalho desenvolvido para a San Diego Region Water Reclamation
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