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Questôes_Mill_Laura_Valadão_29 e 31_08_2011

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EAE-120
Questões para as aulas de 19 e 31_08_2011 – Laura Valadão de Mattos
Em que motivação humana se apóia a Economia Política para Mill?
A Economia Política, para Mill, se preocuparia com o homem “[...] somente enquanto um ser que deseja possuir riqueza e que é capaz de julgar a eficácia relativa dos meios para obter tal fim.”
Qual o método de investigação utilizado na economia política? 
O método de investigação utilizado na Economia Política seria o método a priori ou dedutivo direto, por meio do qual se patê de uma abstração sobre a natureza humana e deduzem-se os resultados sociais que dela decorreriam em um dado estado de sociedade. Supondo que no campo da produção e distribuição do produto social os homens agem motivados estritamernte por um desejo de riqueza a Economia Política deriva o curso que se seguiria da ação da humanidade em estado de sociedade.
Porque Mill afirma que “o mero economista político, aquele que não estudou nenhuma ciência além da economia política, se tentar aplicar sua ciência à prática fracassará”? Você concorda com Mill?
Porque as conclusões obtidas pela economia política seriam verdadeiras apenas se as causas consideradas fossem as únicas a operar. Nesse sentido, seriam verdades abstratas. Para Mill, “o que quer que afete , em grau apreciável, qualquer elemento do estado social, afeta através deste todos os outros elementos.” Assim, seria impossível “[...] entender na teoria ou comandar a prática as condições da sociedade em qualquer aspecto particular, sem levar em conta a sua condição em todos os outros aspectos[...]”
Na hierarquia das ciências, qual pode ser considerada ‑ sob o ângulo metodológico ‑ a mais importante para Mill? (p. 74: primazia da psicologia na hierarquia das ciências).
A ciência considerada mais importante para Mill é a psicologia, pois, em última instância, as motivações humanas estariam na base da ação dos homens, e os resultados sociais seriam o efeito conjunto da ação dessas motivações/causas (individualismo metodológico). Devido à multiplicidade das motivações humanas e ao fato de aquilo que Mill chama de natureza humana ser históricamente determinado, assim como as circunstâncias institucionais da sociedade que influenciam na ação das pessoas, seria impossível deduzir a priori como se darão os fenômenos sociais. Assim, Mill defende para as ciências sociais o uso do método dedutivo inverso (ou método histórico), que toma como ponto de partida a realidade empírica e procura obter leis empíricas que, por fim, são “verificadas” ao serem ligadas aos princípios etológicos e psicológicos. Assim, apesar de não serem derivadas diretamente da psicologia, as leis sociais só adquirem o status de científicas após se referirem a ela.
Para Mill auto-interesse é um traço humano permanente, ou varia no curso da história?
Não, a motivação da riqueza, ou auto-interesse, é situada historicamente dentro do que Mill chama de um estado de sociedade particular, ou seja, numa sociedade e num momento histórico específico, com formas de organização social, regras de distribuição do produto e sistemas legais e políticos específicos. Cada estado de sociedade é fruto de estados de sociedades anteriores, ou seja, é um produto histórico, de forma que as próprias “leis da natureza humana” não são imutáveis, mas sim historicamente determinadas. Assim, as conclusões obtidas pela economia política, deduzidas a partir de uma determinada visão da natureza humana na qual se inclui o auto-interesse e a busca de riqueza, deveria ser corrigidas pelo que Mill chama de etologia, a disciplina específica das ciências sociais que teria por objeto as diferenças culturais e institucionais de cada nação em cada período histórico.
Há sociedades em que a vontade de enriquecer não é dominante para Mill?
Sim. Mill acreditava que haveria um tempo em que não seria impossível que houvesse um tempo, no futuro, em que os seres humanos se esforçariam vigorosamente na busca de benefícios que não seria exclusivamente auto-referentes. Além disso, ele recohecia que isso ocorria também em sociedades dominadas pela tradição, onde a vontade de enriquecer tem pouca força e onde “[...] a concorrência não entra para nada, sendo as respectivas transações determinadas ou pela força bruta ou pelo costume consolidado [...]”.
Há situação em que os preços não são determinados pela concorrência?
Em certos países, ainda fortemente influenciados por tradições herdadas do feudalismo, ou até mesmo em certas regiões da Inglaterra, distantes dos centros, a concorrência só age na determinação dos preços como uma infuência perturbadora ocasional. O regulador habitual é o costume, modificado de tempos em tempos por certas noções de eqüidade e justiça existentes na cabeça dos compradores e vendedores.
Quais deveriam ser, para Mill, as motivações humanas em sociedades ricas? 
Para Mill, somente em sociedades pobres o aumento da riqueza seria uma meta importante. Nelas, o incentivo à busca auto-interessada de riqueza seria útil e desejável. Em sociedades ricas essa motivação, quando muito intensa, poderia tornar-se um obstáculo ao progresso humano e social. O estágio mais adequado para o desenvolvimento humano seria aquele em que as inteligências deixassem de ser absorvidas exclusivamente pela preocupação de prosperar na riqueza e se tornassem livres para dedicar-se ao cultivo de outros interesses mais elevados. Mill, com efeito, associa essa situação ao estado estacionário de riqueza e de população. Nele, não estando mais envolvido na corrida para melhorara a sua condição material, o homem teria mais condições de aprimorar-se intelectual, moral e esteticamente. Isso faria avançar indefinidamente o progresso humano. O espaço ocupado por motivações autocentradas seria reduzido e a preocupação com o bem-estar da comunidade passaria a ocupar um lugar proeminente. 
Por que razão “somente pelo princípio da concorrência a economia política tem qualquer chance de ter foro de ciência”?
Porque Mill acreditava que a situação social e institucional na qual os homens perseguem com menos perturbação o seu interesse econômico é aquela onde as variáveis da esfera dos fenômenos materiais são determinadas em um mercado competitivo.
Por que razão, para Mill, o comunismo não daria certo, caso implantado imediatamente?
Porque Mill achava ser problemática a implantação, em sua época, de um critério de distribuição da produção que desvinculasse totalmente remuneração e produtividade. Essa postura teria por base a sua crença de que os seus contemporâneos agiriam de forma auto-interessada, trabalhando o mínimo possível e procurando obter o máximo de remuneração, caso fossem forçados a integrar-se a sociedades comunistas. No entanto, Mill acreditava que esse era uma característica específica de um momento histórico, que poderia ser superada em estágios futuros da civilização (vide a resposta da questão 8). Para ele, seria uma questão em aberto saber como funcionaria uma sociedade socialista ou comunista, ou de que forma se daria a motivação para o trabalho.

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