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Rosenthal - MIOLO_PESQUISA_SOCIAL_INTERPRETATIVA_08 (1)

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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA
UMA INTRODUÇÃO
Chanceler
Dom Jaime Spengler
Reitor
Joaquim Clotet
Vice-Reitor
Evilázio Teixeira
Conselho Editorial
Jorge Luís Nicolas Audy | Presidente
Jorge Campos da Costa | Editor-Chefe
Jeronimo Carlos Santos Braga | Diretor
Agemir Bavaresco
Ana Maria Mello
Augusto Buchweitz 
Augusto Mussi
Bettina S. dos Santos 
Carlos Gerbase
Carlos Graeff Teixeira
Clarice Beatriz da Costa Sohngen
Cláudio Luís C. Frankenberg
Érico João Hammes 
Gilberto Keller de Andrade
Lauro Kopper Filho
Porto Alegre, 2014
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA
UMA INTRODUÇÃO
Gabriele Rosenthal
Traduzido do alemão por
Tomás da Costa
Revisão técnica da tradução e apresentação 
de Hermílio Santos
5ª edição
© EDIPUCRS, 2014.
Traduzido para o português de:
Interpretative Sozialforschung. Eine Einführung, de Gabriele Rosenthal.
© 2005 Beltz Juventa • Weinheim Basel
1ª edição: 2005; 2ª edição: 2008; 3ª edição: 2011; 4ª edição: 2014.
© 2005 Juventa Verlag Weinheim und München
© 2014 Beltz Juventa · Weinheim und Basel HYPERLINK “http://www.beltz.de-/” www.beltz.de- HYPERLINK 
“http://www.juventa.de/” www.juventa.de
Printed in Germany
ISBN 978-3-7799-2608-5
DESIGN GRÁFICO [CAPA] Shaiani Duarte
DESIGN GRÁFICO [DIAGRAMAÇÃO] Thiara Speth 
REVISÃO DE TEXTO PORTUGUÊS Gaia Assessoria Linguística
TRADUÇÃO DO ALEMÃO Tomás da Costa
REVISÃO TÉCNICA DA TRADUÇÃO Hermílio Santos
IMPRESSÃO E ACABAMENTO 
Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, 
especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. 
Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta 
obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características 
gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, 
do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas 
(arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS
Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33
Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 
Porto Alegre – RS – Brasil
Fone/fax: (51) 3320 3711
E-mail: edipucrs@pucrs.br – Site: www.pucrs.br/edipucrs
Sumário
17INTRODUÇÃO | 17
19 1. PESQUISA SOCIAL QUALITATIVA 
E INTERPRETATIVA
1.1 O que podemos entender por pesquisa 
social qualitativa? | 19
1.2 O que a pesquisa social interpretativa 
pode oferecer? | 25
1.3 Origens históricas da pesquisa social 
interpretativa | 35
492. FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS DA PESQUISA SOCIAL 
 INTERPRETATIVA
2.1 O mundo social interpretado | 49
2.2 O princípio da comunicação | 54
2.3 Exemplo empírico: enquadramentos variáveis no contexto 
de uma entrevista com uma família | 56
2.4 O princípio da abertura no processo de pesquisa e no 
levantamento | 59
2.4.1 Abertura a alterações no plano de pesquisa | 59
2.4.2 Exemplo empírico: a descoberta do significado de gerações históricas | 61
2.4.3 Abertura na situação de levantamento de dados | 64
2.5 O princípio da abertura na análise interpretativa 
de texto  | 68
2.5.1 O princípio da reconstrução | 69
2.5.2 O princípio de um procedimento abdutivo | 72
2.5.3 Exemplo empírico: reconstruindo a função do “genro inconveniente” | 76
2.5.4 O princípio da sequencialidade | 86
2.5.5 Generalização teórica e construção tipológica a partir do caso particular | 90
2.5.6 Exemplo empírico: construção de tipos diferentes com base em uma 
reconstrução de caso | 93
101 3. PROCESSO E DESENHO DE PESQUISA
3.1 Amostra e saturação teórica | 101
3.2 O processo de pesquisa em estudos realizados 
a partir de entrevistas | 105
3.2.1 Contato e acordos com o entrevistado | 106
3.2.2 Análise global e notas (memos) | 109
3.2.3 Primeira e segunda amostragens teóricas | 112
3.2.4 Estudo comparativo de caso: contraste mínimo e máximo | 115
3.2.5 Apresentação dos resultados da pesquisa: a compreensão intersubjetiva e a 
confidencialidade dos dados  | 117
121 4. PESQUISA DE CAMPO ETNOGRÁFICA – OBSERVAÇÃO 
PARTICIPANTE – ANÁLISE DE VÍDEO
4.1 Das origens históricas da pesquisa de campo 
até a etnografia contemporânea | 121
4.2 A participação em campo | 126
4.3 Exemplo empírico: o desgaste físico e psicológico 
dos observadores participantes | 129
4.4 O protocolo da observação e sua análise sequencial | 132
4.4.1 Protocolos de observação ou memos | 132
4.4.2 Análise sequencial dos protocolos de observação | 138
4.5 Análise de dados videografados | 148
Nicole Witte, Gabriele Rosenthal
169 5. DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA À ENTREVISTA 
NARRATIVA
5.1 Introdução | 169
5.2 Trabalhando em um procedimento aberto que toma o 
entrevistado como referência | 170
5.3 Diferentes variantes de um procedimento parcialmente 
aberto | 176
5.4 Entrevista narrativa e condução de entrevista narrativa  | 183
5.4.1 A ideia por trás da entrevista narrativa | 183
5.4.2 A vantagem de narrativas mais longas | 185
5.4.3 A técnica da entrevista narrativa e as regras da realização de entrevistas | 191
5.5 A importância de se realizar perguntas com vistas ao 
aprofundamento | 202
5.5.1 Processos de interpretação na situação da entrevista | 202
5.5.2 Exemplo empírico: qual o significado tem a morte da mãe para diferentes 
perguntas de pesquisa? | 205
2116.PESQUISA BIOGRÁFICA E RECONSTRUÇÕES 
 DE CASO
6.1 A pesquisa biográfica e seus fundamentos teóricos | 211
6.2 Exemplo de reconstrução biográfica de caso | 224
6.2.1 História de vida vivenciada e narrada  | 224
6.2.2 Análise sequencial dos dados biográficos | 226
6.2.3 Análise de texto e do campo temático | 235
6.2.4 Reconstrução da vida vivenciada e a análise sequencial detalhada | 243
6.2.5 Comparação entre vida vivenciada e vida narrada. A construção de tipos | 248
6.3 Reconstruções em um outro domínio de caso | 249
255 7.ANÁLISE DE CONTEÚDO – CODIFICAÇÃO NA TEORIA 
FUNDAMENTADA (GROUNDED THEORY) – ANÁLISES DO DISCURSO
7.1 Introdução | 255
7.2 Quão qualitativa pode ser uma análise de conteúdo? | 257
7.3 Exemplo empírico: a decodificação de declarações 
antissemitas  | 262
7.4 Codificação na teoria fundamentada (grounded theory) | 270
7.5 Análises do discurso | 273
Bettina Völter, Gabriele Rosenthal
281REFERÊNCIAS | 281
281ÍNDICE REMISSIVO | 307
9
APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA1 
Relevância e ação em reconstruções biográficas
O meu primeiro contato com a obra de Gabriele Rosenthal não foi nem 
consciente nem sistemático. Durante a elaboração da minha tese de douto-
rado em ciência política na Freie Universität Berlin, em meados da década 
de 1990, me encontrava às vezes com minha amiga de longa data Profa. 
Dra. Bettina Völter, que à época realizava entrevistas para seu doutorado, 
sob a orientação da Profa. Rosenthal. Lembro-me de como a Profa. Bettina 
Völter se mostrava quase sempre exausta ao relatar por alto as entrevistas 
que havia feito, não apenas pelos conteúdos das entrevistas sobre judaísmo 
e comunismo na ex-Alemanha Oriental com três gerações de famílias de 
origem judaica, mas também pelo trabalho minucioso de análise de todo 
o material produzido. Na verdade, eu não compreendia muito bem o que 
estava fazendo e, no meu desconhecimento da diversidade metodológica 
e analítica da sociologia alemã contemporânea, não entendia muito bem 
se todo aquele empreendimento poderia ser considerado sociologia. Essas 
lembranças são importantes para mim, pois é com esse tipo de impressão 
– ou desconfiança e crítica – que tenho que lidar, tanto diariamente em 
sala de aula quanto nos congressos de sociologia que participo no Brasil, 
ao expor a abordagem metodológica proposta por GabrieleRosenthal para 
a análise de narrativas biográficas. 
Durante meu período de graduação, em meados da década de 1980, 
ouvia falar que professores do departamento de sociologia onde estudava 
realizavam pesquisas com biografias. Essas pesquisas estavam restritas 
à elite de políticos, considerados “merecedores” de uma biografia por te-
rem sido testemunhos privilegiados dos acontecimentos importantes da 
sociedade local. Esse tipo de abordagem não me interessava antes. Hoje, 
meu interesse por esse tipo de abordagem tampouco cresceu. 
1 Trata-se de versão modificada de palestra intitulada “Relevanz und Handlung in bio-
graphischen Rekonstruktionen: eine Annäherung an die Soziologie Gabriele Rosenthals” 
[Relevância e ação em reconstruções biográficas: uma aproximação à sociologia de Gabriele 
Rosenthal] que proferi durante as comemorações dos 60 anos da autora, em 9 de maio de 2014, 
na Universität Göttingen, Alemanha.
10
Apenas mais recentemente, depois de assumir meu interesse pela so-
ciologia de Alfred Schütz, que já vinha do período de graduação, mas que 
se mantinha adormecido e quase clandestino, é que passei a buscar formas 
de realizar pesquisa empírica usando explicitamente o método de pesquisa 
proposto por Schütz, ou seja, de fazer do conhecimento do senso comum 
o objeto de análise. Nesse período atuava como assessor na secretaria es-
tadual no Rio Grande do Sul responsável, dentre vários outros temas, por 
lidar com o problema de adolescentes que haviam cometido delitos graves 
e se encontravam cumprindo “medida socioeducativa”. Foi nesse momento 
que me deparei mais sistematicamente com o problema do envolvimento de 
jovens, homens e mulheres, com diversos tipos de delitos e ações violentas. 
Passei a dedicar-me a compreender o que faz com que jovens se en-
volvessem com ações violentas. Equipado com gravador, filmadora e um 
roteiro de perguntas, iniciei minhas incursões semanais à instituição que 
albergava os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, onde 
realizava as entrevistas. Passados alguns meses, me dei conta que havia 
algo inconsistente em meu procedimento. Nunca perdi de vista que uma 
das minhas motivações originais era, e continuava sendo, incorporar a 
sociologia de Schütz em minhas atividades de pesquisador. Nessa socio-
logia, três elementos se destacavam para mim: o interesse pela ação, o 
sistema de relevância dos sujeitos pesquisados e as motivações dos sujeitos. 
Minha conclusão ou pelo menos minha suspeita inicial foi que com meu 
roteiro de perguntas, que inclusive expunha cenários hipotéticos aos meus 
entrevistados para que se posicionassem diante deles, acabava por reali-
zar o que passei a chamar de “colonização do sistema de relevância” dos 
entrevistados, já que o que ocorria, na prática, era que os entrevistados 
deveriam reagir a uma diversidade de temas – que eu supunha, poderiam 
me oferecer elementos para a compreensão das ações e motivações daque-
les adolescentes. A partir daí, passei a procurar de maneira sistemática 
por procedimentos que estivessem mais de acordo com meus interesses 
de pesquisa, orientados, como afirmei, pela sociologia de Alfred Schütz.
A partir de um texto de Fritz Schütze – um dos sociólogos alemães 
contemporâneos mais influentes – publicado em Neue Praxis, cheguei aos 
textos de Ralf Bohnsack e, em seguida, aos textos de Gabriele Rosenthal. As 
diferenças entre essas diferentes abordagens foram ficando mais evidentes, 
assim como a grande proximidade da abordagem da Profa. Rosenthal com a 
sociologia de Schütz. Ao mesmo tempo, a leitura mais sistemática dos textos 
da Profa. Rosenthal me parecia ter uma vantagem adicional: a incorporação 
11
da obra de Aron Gurwitsch. Gurwitsch, com quem Schütz manteve grande 
amizade, sobretudo em seu período em Paris, além de ter contribuído para que 
Gurwitsch pudesse escapar da França durante a Segunda Guerra Mundial e 
encontrasse trabalho nos Estados Unidos, também assumiu a cátedra na New 
School for Social Research após a morte de Schütz, em 1959. Já estava nos 
meus planos realizar leituras sistemáticas dos textos de Gurwitsch. Minha 
feliz surpresa foi deparar-me com Gurwitsch já incorporado adequadamente 
na abordagem analítica da Profa. Rosenthal, a partir da análise dos chamados 
“campos temáticos” de uma narrativa biográfica. Com isso, minha busca por 
um procedimento metodológico já sistematizado tinha dado os melhores frutos. 
Em que consistem as vantagens da abordagem proposta por Rosenthal? 
Trata-se de uma sociologia que explicita as influências sobre as quais cons-
trói sua própria proposta analítica, isso é positivo e didático, e de maneira 
alguma um procedimento recorrente. Rosenthal é uma herdeira de Fritz 
Schütze, mas que realizou incrementos importantes sobretudo no processo 
de análise, ainda que a condução da entrevista narrativa mantenha-se em 
sua essência idêntica àquela proposta por Schütze. Rosenthal incorporou 
também à produção de “dados”, por exemplo, a realização de entrevistas 
narrativas biográficas com membros de distintas gerações de uma mesma 
família. A partir da distinção, no processo de análise, entre vida narrada 
e vida vivenciada, a abordagem adotada por Rosenthal permite explicitar, 
no fluxo biográfico e na Gestalt de uma narrativa, elementos importantes 
para a compreensão de diferentes tipos de ação social presentes em um 
tempo histórico e em um contexto social específico. O ponto de partida é 
precisamente que já na condução da entrevista, mas também e especial-
mente no processo de análise, o sistema de relevância dos entrevistados 
seja evidenciado. Isso se dá quando o pesquisador não organiza a entrevista 
a partir dos seus próprios interesses de pesquisa e quando, na análise, 
procura evidenciar os campos temáticos das biografias produzidas, uma 
contribuição incorporada da obra de Gurwitsch. Além disso, apresenta a 
sequencialidade na análise, proposta por Oevermann, e o processo siste-
mático de produção de hipóteses, considerando rigorosamente o que foi 
trazido pelos próprios entrevistados, contribuição da Grounded Theory, 
seguindo o método abdutivo de Charles Peirce. Todo esse procedimento 
analítico, que vai exposto na presente obra, permite uma análise bastante 
rigorosa para se aproximar ao sistema de relevância tanto do entrevistado 
quanto do contexto em que vive ou é socializado. Com isso, evita-se cair 
na armadilha, bastante recorrente na realização de pesquisa empírica, 
12
de se “colonizar” o sistema de relevância dos entrevistados. Todo esse 
complexo procedimento metodológico tem por objetivo chegar-se à re-
construção de biografias marcadas pelas mais diferentes experiências 
que se queira pesquisar, como migração, violência, desemprego, dentre 
inúmeras outras que possam ser objeto de interesse de pesquisadores da 
sociologia e de disciplinas afins.
Sendo o sistema de relevância o fio condutor para a compreensão 
das ações e escolhas realizadas pelos indivíduos em um determinado 
contexto social, a abordagem narrativa biográfica proposta por Schütze, 
e especialmente como reelaborada por Gabriele Rosenthal, oferece uma 
possibilidade bastante sistematizada para sua apreensão. Alfred Schütz, 
nos últimos anos de sua atividade profissional na New School for Social 
Research em Nova York, se interessou por pesquisas empíricas sobre de-
linquência juvenil nos bairros pobres da cidade. Suspeito, no entanto, que 
o próprio Schütz não saberia empregar seus escritos teóricos de maneira 
mais adequada na condução de pesquisas empíricas. 
Embora tenha havido outras tentativas importantes de adotar a 
sociologia de Schütz em pesquisa empírica, como a Etnometodologia 
de Garfinkel, tivemos que esperar até que um grupo de pesquisadores 
liderados por Fritz Schütze, cerca de vinte anos após a morte de Schütz, 
pudesse propor um procedimento que faz jus a seus escritos, ainda que 
informado igualmente por outras escolas interpretativas da sociologia. 
Importa destacar que as reflexões e os desenvolvimentosmetodológicos 
prosseguem, sejam nas atividades de pesquisa do próprio Schütze, assim 
como da Prof. Rosenthal e de seus ex-colaboradores e equipe atual no 
Methodenzentrum Sozialwissenschaften (Centro de Métodos em Ciências 
Sociais) da Universidade Göttingen. 
Se hoje essas abordagens, tanto aquela desenvolvida por Schütze quan-
to aquela desenvolvida por Rosenthal, já estão consolidadas em diversos 
países, não apenas na Alemanha, não se pode perder de vista a resistência 
que esses autores sofreram por parte de representantes de outras escolas 
interpretativas que dominavam – e dominam ainda – a produção sociológica 
aqui e em outros lugares. A sociologia dominante via com desconfiança, 
e até mesmo desdém, as contribuições que a pesquisa com narrativas 
biográficas poderia aportar ao conhecimento sociológico da realidade. 
Pode-se dizer que a resistência, onde ainda hoje persiste, é fruto muito 
mais do desconhecimento da riqueza analítica que a análise de narrativas 
já demonstrou do que propriamente da desconfiança em relação ao seu 
13
potencial analítico, já que encontra-se disponível uma vasta produção, tanto 
teórica quanto empírica, a partir de diversas perspectivas analíticas. Esse 
me parece ser o caso da comunidade acadêmica do Brasil, onde a pesquisa 
biográfica permanece relativamente marginal, mesmo considerando que 
já na década de 1940 sociólogos brasileiros já tenham realizado pesquisa 
utilizando relatos orais e que alguns poucos sociólogos brasileiros tenham 
participado da criação do Comitê de Pesquisa “Biografia e Sociedade” da 
ISA (International Sociological Association), que foi primeiro presidido pelo 
francês Daniel Bertaux e posteriormente dirigido por Gabriele Rosenthal 
durante oito anos. Nos anos mais recentes, observa-se um interesse cres-
cente de pesquisadores brasileiros pela adoção de narrativas, ou mais 
especificamente de narrativas biográficas, em pesquisas empíricas. É 
nesse contexto que a abordagem da Profa. Gabriele Rosenthal vem sendo 
introduzida no Brasil de maneira sistemática. 
A abordagem metodológica apresentada por Gabriele Rosenthal 
permite distinguir entre sociologia de viés positivista e sociologia inter-
pretativa, cuja vantagem desta última residiria no fato de considerar as 
interpretações dos sujeitos para a compreensão das diversas facetas da 
realidade social. Sempre foi um desafio estabelecer mecanismos seguros 
para dar conta da experiência dos sujeitos como elemento fundamental 
para a atividade sociológica. Com sua abordagem de narrativas biográ-
ficas, Gabriele Rosenthal parte do pressuposto, com Alfred Schütz, que 
indivíduos têm passado, presente e agem igualmente em consideração ao 
futuro, enfim, constroem uma biografia e, ao mesmo tempo, um discurso 
sobre sua experiência biográfica. Partindo desse pressuposto, seu rigor 
metodológico, tanto no processo de produção dos “dados” – a apresentação 
biográfica – quanto no processo de análise desses discursos biográficos, 
permite-nos obter acesso a aspectos da realidade social que de outra ma-
neira nos escaparia. Esse procedimento metodológico tem sido adotado por 
pesquisadores em diversos países e tem sido responsável por incrementar 
o conhecimento que se tem da realidade. 
A publicação desta obra, baseada em muitos anos de pesquisa empírica e 
reflexão metodológica, deverá contribuir para preencher importantes lacunas 
na formação de sociólogos no Brasil, assim como para orientar pesquisas 
na sociologia e em disciplinas afins que se valem de narrativas biográficas. 
Hermílio Santos
Göttingen, junho de 2014
15
PREFÁCIO
Esta obra, resultado de anos de trabalho, teve origem no meu curso 
“Introdução à pesquisa social qualitativa”, ministrado no Centro de Métodos 
em Ciências Sociais da Georg-August-Universität Göttingen, Alemanha. 
Ali, sempre busquei estabelecer relações entre o conteúdo do curso e os 
temas abordados nas aulas introdutórias de pesquisa social quantitativa 
do meu colega Steffen Kühnel. Graças a esse diálogo, pude perceber que 
a distância entre ambos os paradigmas – tanto com relação à forma de 
pensar o método quanto no que diz respeito à prática da pesquisa empí-
rica – é mais facilmente superável do que supunha.
Agradeço a todos aqueles que participaram dos meus cursos, sobretudo 
pelas questões levantadas e também pelos trabalhos finais apresentados, 
os quais me fizeram voltar ao manuscrito repetidas vezes, sempre na 
busca por satisfazer ao princípio da clareza e, ao mesmo tempo, do rigor. 
O trabalho, porém, ainda não está concluído. Ainda me deparo, durante a 
correção de provas e trabalhos finais, com a repetição de ideias às vezes 
distantes daquelas que eu a princípio buscava fixar. Para a publicação, 
fui obrigada, porém, a dar ao manuscrito um ponto final.
Agradeço a Klaus Hurrelmann, por ter me solicitado a elaboração deste 
volume e por sua generosidade ao me conceder tempo mais que suficiente 
para o desenvolvimento do texto final.
Aos colegas Anne Blezinger, Dorothea Boldt-Jaremko, Anke Fesenfeld, 
Markus Gerdiken, Tobias Moosbach, Christine Müller, Viola Stephan, 
Carla Wesselmann, Nicole Witte e Rixta Wundrak sou profundamente 
grata pelas sugestões e comentários críticos de alguns capítulos e pelas 
correções na última fase de elaboração. Agradeço a Susanne Litzka pela 
revisão final do volume.
Sou grata também a todos os participantes das oficinas de pesquisa 
que organizamos nos últimos anos. Orientando seus trabalhos empíricos, 
tive com alguma frequência que enfrentar alguns dilemas, como: quando 
pode ser útil lhes oferecer uma fórmula pronta para a pesquisa? A partir 
de que momento isso representaria um obstáculo à criatividade científica 
ou a enxergar particularidades de cada objeto? Ao me ocupar com seus 
16
estudos, e em especial na interpretação conjunta dos materiais empíricos, 
não apenas entrei em contato com mundos da vida bastante diversos, mas 
certamente aprendi mais sobre metodologia do que imaginava ser possível.
Um agradecimento especial a Bettina Völter, pelo diálogo já de anos 
sobre questões teóricas e de método – assim como por sua crítica constru-
tiva das minhas reflexões sobre análise de discurso –, e outro a Michaela 
Köttig, não apenas pelo estímulo gerado na didática conjunta e pelas dis-
cussões sobre seu trabalho empírico e seu ensino engajado, mas também 
por ter me possibilitado, como minha assistente no recém-fundado – e 
ainda em construção – Centro de Métodos, que encontrasse tempo e base 
emocional para escrever este livro. Artur Bogner, com sua sofisticada 
perspectiva teórica, chamou minha atenção para algumas inconsistências 
e, sobretudo, imprecisões, além de ter motivado alguns ajustes. Por esses 
e outros apoios, meus sinceros agradecimentos.
Berlim, março de 2005
Gabriele Rosenthal
17
INTRODUÇÃO
Os leitores poderão se perguntar: mas para que mais um livro sobre 
métodos qualitativos? De fato, o número de publicações nesse campo 
cresceu bastante nos últimos 20 anos. Hoje já é possível encontrar vários 
volumes e monografias trazendo interessantes panoramas dos diversos 
procedimentos qualitativos, explicando seus princípios de pesquisa e seus 
fundamentos teóricos e epistemológicos mais importantes.2 Por essa razão, 
meu objetivo aqui é menos apresentar uma visão geral sobre os vários 
procedimentos e tradições do que atentar diretamente para os métodos de 
análise e levantamento de dados do paradigma interpretativo (ver Cap. 2) 
que seguem uma lógica da descoberta de hipóteses e teorias desenvolvidas 
a partir do objeto investigado.3 Com base na minha própria experiência em 
pesquisa social qualitativa e no ensino desses métodos – seja orientando 
trabalhos ou lecionando –, meu interesse, aqui, está voltado sobretudo à 
sua aplicação prática e aos problemas concretos do cotidiano de pesquisas 
empíricas. Pretendo falar, nesse contexto, das exigências e das crises que 
costumam surgir com a abordagem de um objeto específico ou entre os 
envolvidos no estudo (sejao pesquisador, seja o indivíduo “a investigar”). 
O que busco é oferecer, com uma discussão sobre os diferentes métodos 
de análise e levantamento de dados, uma espécie de “roteiro aberto” para 
a pesquisa empírica, o que implica ter que lidar com o seguinte dilema: se 
por um lado necessitamos de certas regras e determinados instrumentos 
para a pesquisa, isso pode representar, por outro lado, sério empecilho 
para um envolvimento menos restritivo com o objeto de pesquisa e para 
uma eventual necessidade de trocar os instrumentos ou os procedimentos 
2 Das publicações recentes sobre métodos que buscam satisfazer a esse interesse, pode-
mos citar: Bohnsack (2003); Flick et al. (2000); Hitzler e Honer (1997); e Schröer (1994). Os 
dois volumes de Lamnek (1988; 1989) trazem, por seu lado, uma pesquisa social que em parte 
ainda se orienta pelos critérios do procedimento quantitativo.
3 Glaser e Strauss (1979) apontam para as diferenças entre teorias que partem do objeto, 
as que dizem respeito a um campo de estudos específico – que abordam por exemplo a assis-
tência a doentes – e as teorias formais, essas desenvolvidas a partir das primeiras e que se 
caracterizam por um alto grau de generalização.
18
de investigação durante o trabalho. Uma “fórmula”, por exemplo, para a 
realização de entrevistas – como o modo narrativo – ou então para o acesso 
a determinado campo – através de um anúncio em um jornal, por exem-
plo – pode se mostrar bastante eficaz neste ou naquele estudo, mas, em 
outro, uma medida contraprodutiva. Espero conseguir, ao longo da minha 
exposição, mostrar a necessidade de uma aplicação flexível e criativa de 
certos instrumentos e, assim, encorajar a realização de pesquisas pouco 
comprometidas com um esquema fixo de regras, mas, antes, atentas às 
especificidades dos cotidianos que queremos investigar.
Por causa da minha formação sociológica, raramente abandono o âm-
bito da minha disciplina ao falar da metodologia, da história da pesquisa 
interpretativa e de suas proposições teóricas fundamentais. Os métodos 
por mim apresentados, tanto para o levantamento quanto para a análise 
de dados – sempre que se trate da pesquisa de fenômenos sociais –, não 
estão vinculados, porém, a uma ou outra área do saber. As regras para um 
levantamento de dados realizado de acordo com o princípio da abertura 
(ver subcapítulo 2.4), isto é, para uma entrevista aberta ou para uma ob-
servação participante, são as mesmas para um sociólogo, para um etnólogo, 
psicólogo, para um historiador e para um pedagogo. Da mesma forma, os 
princípios que regulam uma análise sequencial e reconstrutiva – seja para 
a análise de transcrições de entrevistas, de registros audiovisuais ou de 
protocolos de observação – não são restritos a uma disciplina específica. 
No que diz respeito à reconstrução de casos – diferente dos procedimentos 
que tomam hipóteses como referência e dos voltados à análise de conteú-
do –, essas disciplinas só tomam seu rumo próprio depois que o processo 
de reconstrução esteja concluído, isto é, quando se trata de desenvolver 
teorias e realizar outras generalizações teóricas.
19
1
PESQUISA SOCIAL QUALITATIVA 
E INTERPRETATIVA
1.1 O QUE PODEMOS ENTENDER POR PESQUISA 
SOCIAL QUALITATIVA?
Toda tentativa de responder claramente à pergunta sobre o que deve 
ser compreendido por pesquisa social qualitativa acabaria por ignorar 
a variedade e as diferenças entre os procedimentos qualitativos. Nesse 
campo, ao contrário do que ocorre com os métodos quantitativos, estamos 
relativamente distantes de encontrar um entendimento comum, seja com 
relação ao modo de proceder da investigação qualitativa, seja com respeito 
às concepções metodológicas que o fundamentam. A denominação “métodos 
qualitativos” compreende variados modos de levantamento e análise, assim 
como posições bastante diversas quanto às bases teóricas. Entretanto, é 
possível distinguir entre aqueles métodos que, em suas regras e critérios, 
ainda se orientam segundo a lógica quantitativa – que busca generalização 
estatística –, e os procedimentos qualitativos que, em suas teorizações e 
interpretações, não estão fundamentalmente preocupados em identificar 
a frequência da ocorrência de determinados fenômenos sociais, mas que 
tomam por base uma lógica da generalização realizada a partir do caso 
particular (seja esse caso uma determinada biografia, uma instituição ou 
meio específico) ou – com a mesma pretensão generalizante – uma lógica 
da descrição microscópica ou densa (GEERTZ, 1983, p. 37), do domínio do 
mundo cotidiano que configura objeto de interesse. A lógica da genera-
lização, assim como a lógica da descoberta e da verificação de hipóteses 
alcançadas ao longo da investigação do caso particular, conta com regras 
e critérios diferentes dos da pesquisa quantitativa, na qual o que está em 
jogo é o exame de hipóteses já disponíveis e a padronização de instru-
mentos metodológicos. Em sentido estrito, à pesquisa social qualitativa 
corresponde uma lógica de descobrir, isto é, de gerar hipóteses e teorias 
20
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
sobre o objeto em questão, e isso ao longo do processo mesmo de inves-
tigação; a ela corresponde uma lógica contrária, ou seja, a apresentação 
de hipóteses logo no início da pesquisa. Daí o pressuposto de abertura do 
procedimento: ao invés de se chegar a uma padronização dos instrumentos, 
alcança-se um modo de proceder que orienta observações ou entrevistas 
– seja em entrevistas individuais, seja em discussões em grupo – pelas 
especificidades e relevâncias dos próprios entrevistados ou observados, 
dando-lhes maior espaço possível para a configuração da situação.
Assim, considerando o horizonte dos estudos qualitativos, é possível 
diferenciar entre interpretações que se referem à frequência de ocorrên-
cia conjunta de fenômenos sociais e aquelas voltadas à reconstrução de 
relações causais a partir de caso concreto; entre aqueles que seguem uma 
lógica da verificação e os comprometidos com a descoberta de hipóteses; 
e identificar se seus instrumentos de levantamento e análise oferecem 
abertura ou não.
CRITÉRIOS PARA A DIFERENCIAÇÃO DOS TIPOS DE 
ESTUDOS QUALITATIVOS
• As interpretações têm por base a frequência de surgimento 
de fenômenos sociais ou a reconstrução de relações causais a 
partir do caso concreto.
• Lógica da verificação ou lógica da descoberta de hipóteses e 
teorias.
• O grau de abertura dos procedimentos de levantamento e de 
análise.
Ao observarmos o desenvolvimento de determinadas investigações, é 
possível perceber que um grande número de pesquisas qualitativas oscila 
entre os dois polos. Agindo assim, o investigador pretende, de um lado, 
aproveitar as vantagens das análises qualitativas, e, de outro, satisfazer 
critérios da pesquisa social quantitativa. Por conta dessa diversidade e 
de outras diferenças de fato marcantes, aqueles que defendem uma lógica 
rigorosa de pesquisa reconstrutiva e interpretativa – representantes de 
tradições da ciência social compreensiva como o interacionismo simbó-
lico, a sociologia do conhecimento de orientação fenomenológica ou a 
21
GABRIELE ROSENTHAL
etnometodologia – preferem, com o intuito de deixar clara sua posição 
e para diferenciá-la de outros métodos, utilizar outras denominações 
que não a de métodos qualitativos. Alguns se referem, assim, à pesquisa 
social comunicativa (Fritz Schütze) ou reconstrutiva (Ralf Bohnsack), 
enquanto outros defendem a ideia de uma hermenêutica sociológica ou 
uma sociologia do conhecimento (Hans-Georg Soeffner, 1989; Ronald 
Hitzler e Anne Honer, 1997; Jo Reichertz e Norbert Schröer, 1994), ou 
utilizam o termo pesquisa social interpretativa, buscando assim unificar 
as diferentes correntes (SCHRÖER, 1994). A essa perspectiva pertencem 
a teoria fundamentada (grounded theory) – na tradição de Barney Glaser e 
Anselm Strauss (1967) –, a hermenêutica objetiva, desenvolvida por Ulrich 
Oevermann, assim como as abordagens de pesquisaetnometodológica da 
corrente de Harold Garfinkel (1986) e Aaron Cicourel (1970) e da análise 
etnometodológica de entrevistas (Harvey Sacks, 1992; Jörg Bergmann, 
1994; 2000). A denominação “pesquisa social interpretativa ou métodos 
interpretativos”, a qual passarei a utilizar a seguir, remonta à diferen-
ciação introduzida por Thomas Wilson (1970; 1973) entre os paradigmas 
normativo e interpretativo. De acordo com Wilson, enquanto os defensores 
do paradigma normativo compreendem o indivíduo como organismo que 
reage a um sistema simbólico compartilhado, o paradigma interpretativo 
concebe o sujeito como organismo agente e conhecedor, de modo que o 
indivíduo não surge como contraposto ao mundo, reagindo a ele, mas, 
antes, como produtor da realidade social a partir da interação com seus 
pares. Significados formam-se, assim, sequencialmente em processos inte-
rativos e se modificam continuamente. No próximo capítulo (2), abordarei 
detalhadamente essa ideia da construção histórica e social de realidade(s) 
(BERGER; LUCKMANN, 1969; SOEFFNER, 1989) e as implicações meto-
dológicas dela(s) resultantes.1
Comum às diversas correntes da pesquisa social qualitativa é a forma 
com que o investigador, com o auxílio de procedimentos assim chamados 
“abertos”, aproxima-se, em diferentes graus, da realidade social – ao 
contrário do que ocorre na pesquisa quantitativa. Diferente do experi-
mento sociológico, da observação padronizada ou do questionário, tais 
procedimentos podem oferecer ao participante do estudo ou entrevistado 
a possibilidade de moldar a situação e os processos comunicativos (HOPF, 
1 Nisso, e não na distinção entre quantitativo e qualitativo (BOHNSACK, 1991; SOEFFNER, 
1989), consiste a diferença entre os vários métodos de pesquisa das Ciências Sociais. 
22
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
1979, p. 14). A essas formas de levantamento pertencem diversas modali-
dades da entrevista aberta, assim como pesquisas de campo nas quais se 
trabalha sobretudo com observação participante, gravações em áudio ou 
em vídeo de situações cotidianas, entrevistas em grupo ou também entre 
familiares. Todos esses procedimentos têm por objetivo investigar práticas 
da ação social na complexidade do dia a dia e apreender o mundo a partir 
da perspectiva dos agentes no cotidiano, não do ponto de vista do cientista 
social.2 Os métodos de levantamento e também de análise devem permitir 
descobrir o modo como o indivíduo interpreta e produz seu mundo em 
processos interativos. Nesse contexto, não se trata apenas de chegar às 
perspectivas e aos estoques de conhecimento dos atores que lhe são cons-
cientemente acessíveis, mas também de analisar o conhecimento implícito, 
a produção interativa de significados para além das intenções dos agentes.
Uma aplicação sistemática do princípio da abertura no levantamento 
e na análise será analisada mais adiante, nos subcapítulos 2.4 e 2.5. Por 
ora pode-se dizer que, no começo de um estudo empírico, o problema que 
fundamenta a pesquisa ainda não se encontra claramente determinado, e 
que nenhuma hipótese deve ser formulada de antemão.3 Tem-se de início, 
ao contrário, um interesse ainda vago em determinado fenômeno social, 
em determinado meio ou contexto. É esse interesse vago, entretanto, que 
definirá já no início da pesquisa a forma de abordar os fenômenos e, com 
ela, o procedimento metodológico. De acordo com Anselm Strauss e Juliet 
Corbin (1996, p. 23), com essa abertura no começo da pesquisa o que se 
busca é apenas determinar “o que se pretende saber sobre o objeto de 
investigação e o tema-chave que se pretende investigar”. Por exemplo, o 
tema “idade” pode ser abordado a partir de diversas perspectivas: caso 
queiramos investigar o modo como os mais velhos vivenciam o processo de 
envelhecimento, assim como o fato de ser uma pessoa velha, podemos tomar 
como método de levantamento uma entrevista aberta ou talvez também 
uma entrevista em grupo – com isso, torna-se possível aos participantes 
do estudo, em conversa com os pesquisadores, expor suas perspectivas e 
2 Sobre as diferenças e semelhanças entre mundo cotidiano e mundo das ciências, ver: 
Alfred Schütz (1971a; 1971b). 
3 Sempre que, nesse estágio, as hipóteses puderem ser discutidas pelos membros do gru-
po de pesquisa, isso servirá para torná-los conscientes dos pressupostos científicos e cotidianos 
envolvidos na investigação, mas também para estabelecer um distanciamento crítico, reflexivo 
dos primeiros com relação aos últimos. 
23
GABRIELE ROSENTHAL
suas experiências enquanto apresentam suas próprias relevâncias –, ao 
passo que em uma discussão em grupo4 é possível não apenas vivenciar a 
interação entre essas pessoas, mas também observar as representações 
que consensualmente se consolidam e aquelas que acabam sendo relegadas 
à margem. Uma entrevista com uma família poderia também nos informar 
sobre as estruturas de interação entre gerações.5 Por outro lado, caso es-
tejamos interessados a princípio nos processos interacionais entre pessoas 
mais velhas ou mais jovens em suas relações cotidianas – por exemplo, no 
modo com que jovens, em diferentes situações, se comportam na presença 
dos mais velhos –, podemos optar como meio de acesso a observação par-
ticipante ou o registro audiovisual de situações “naturais” cotidianas6, os 
quais também se mostram úteis quando a realidade social de um asilo, por 
exemplo, configura o objeto de interesse. Aqui, o recurso de entrevistas 
está, assim, relacionado a um interesse pela perspectiva dos idosos, por 
sua vivência, por suas experiências e por seu conhecimento e ação; e, no 
caso da entrevista biográfica, também a um interesse na gênese de suas 
perspectivas e no histórico de vivência do processo mesmo de envelhe-
cimento. A observação participante e a análise de situações do dia a dia 
documentadas em vídeo têm como foco, por sua vez, a reconstrução da 
vida cotidiana de idosos em seus contextos interativos. Caso se pretenda 
pesquisar, do contrário, o modo com que o fenômeno da velhice aparece 
no discurso público, médico, nas diferentes formas de discurso midiático 
ou de determinadas organizações sociais, pode-se optar pela análise tex-
tual para cada um desses contextos. A análise de discurso seria de grande 
ajuda para responder à pergunta sobre a origem do fenômeno “velhice” 
enquanto fenômeno social, a partir da investigação do modo com que o 
mesmo surge, da maneira como se fala sobre ele, a partir também da 
identificação de quem fala sobre o fenômeno (ver subcapítulo 7.4).
No entanto, por terem vários elementos em comum, tais procedimen-
tos não são facilmente discerníveis uns dos outros. Por exemplo, a fim de 
4 Na Alemanha, o método da discussão em grupo foi desenvolvido sobretudo por Ralf 
Bohnsack, autor de manuais bastante instrutivos tanto sobre levantamento como também sobre 
análise (BOHNSACK, 2003). Sobre a história da discussão em grupo, ver: Bohnsack (1997).
5 Sobre a análise desse tipo de discussão, ver: Angela Keppler (1994).
6 Sobre o procedimento da análise sequencial de vídeo, ver Witte e Rosenthal (2007). Para 
uma análise dos assim denominados dados “naturais”, ver os textos publicados em Schröer 
(1994).
24
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
reunir mais informações a respeito do entendimento e das perspectivas 
dos atores na pesquisa de campo, entrevistas e pequenas conversas podem 
ser desenvolvidas em conjunto com a observação participante. No levan-
tamento por meio de entrevistas – com frequência realizadas em contexto 
familiar aos entrevistados, ao qual os entrevistadores também se fami-
liarizam –, é aconselhável a produção de notas de campo, em geral sobre 
o modo com que o contato foi estabelecido, sobre o histórico do encontro 
com os entrevistados e sobre as particularidades de seu mundo da vida. 
Na análise do material, reconstruímos o histórico interativo dos entre-
vistados, analisamos os processos de interação com os entrevistadores e 
com outrosque, eventualmente, surjam na conversa com os participantes 
do estudo, como cônjuges, amigos ou filhos. Considerar as perspectivas 
e os estoques de conhecimento subjetivos a partir dos discursos em que 
surgem ou se modificam exige, da mesma forma, uma avaliação sistemática 
das entrevistas em seus aspectos sociais.
Este livro trata principalmente de apresentar os métodos da obser-
vação participante (capítulo 4), da entrevista aberta (capítulo 5) e da re-
construção biográfica de caso (subcapítulo 6.2). Com relação à pesquisa 
de campo, abordaremos as modalidades mais importantes da observação 
participante e das formas abertas de realização de entrevistas, em especial 
da entrevista narrativa (subcapítulo 5.4). Em vista da enorme variedade 
de métodos de avaliação e análise, irei me concentrar nos procedimentos 
sequenciais e reconstrutivos (subcapítulos 2.5 e 6.2) e em outros por meio 
dos quais é possível analisar todo tipo de dados – protocolos de observações 
participantes, gravações em áudio e em vídeo de situações cotidianas, 
transcrições de entrevistas, assim como textos disponíveis referentes aos 
mais variados contextos discursivos.
A fim de tornar clara, por um lado, a especificidade dos procedimentos 
interpretativos frente a outros métodos qualitativos, e, por outro, com o intuito 
de expor o alcance dos diferentes modos de proceder, também abordarei 
métodos que não satisfazem princípios de sequencialidade e reconstrução 
(subcapítulos 7.1 e 7.3). Refiro-me, sobretudo, aos diferentes procedimentos 
da análise qualitativa de conteúdo, ao qual pertence por princípio, a meu 
ver, também à codificação da teoria fundamentada (grounded theory). Esses 
procedimentos, ao contrário do sequencial e reconstrutivo, estruturam o 
material textual com a ajuda de categorias gerais. Isso significa que o texto 
é reorganizado e classificado, isto é, reordenado segundo critérios do pes-
quisador. Em contrapartida, no procedimento reconstrutivo e sequencial, 
25
GABRIELE ROSENTHAL
toma-se justamente a estrutura temporal ou forma sequencial do texto 
como base para a interpretação. A composição do material é reconstruída 
e, cada sequência específica, considerada em sua inserção na forma geral. 
Dessa maneira, torna-se possível apreender o conteúdo não apenas mani-
festo – como ocorre na análise de conteúdo –, mas também latente, as “en-
trelinhas”. O objetivo do procedimento interpretativo consiste justamente 
em – metodicamente monitorado e de forma clara – partir da superfície do 
texto até seus estratos de sentido e de significado mais profundos e, em 
princípio, ocultos (HITZLER; HONER, 1997, p. 23).
1.2 O QUE A PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA PODE OFERECER?
Investigação do novo e do desconhecido
Diante da questão sobre as possibilidades da pesquisa social qualitati-
va (e interpretativa em sentido estrito) em comparação com a perspectiva 
quantitativa, predomina de início o consenso de que com a primeira é 
possível, em especial, investigar fenômenos desconhecidos ou mundos da 
vida ainda pouco analisados. Quando não se possui conhecimento sobre 
o mundo social investigado ou quando não se dispõe de qualquer con-
ceito teórico em relação a determinados fenômenos sociais, dificilmente 
chega-se à elaboração de uma pesquisa quantitativa. Para desenvolver 
instrumentos-padrão, como um questionário adequado ou um sistema 
de observação, o procedimento quantitativo pressupõe determinados 
conceitos teóricos e hipóteses deduzidas a partir deles. Também é im-
possível elaborar um questionário adequado quando desconhecemos o 
mundo da vida em questão e sobretudo seus jogos de linguagem próprios. 
Caso tenhamos em vista realizar uma investigação quantitativa, essa 
implicará um estudo qualitativo prévio ou piloto. Entrevistas abertas 
poderão, assim, ser úteis na elaboração de um questionário em estado 
mais avançado da pesquisa. Isso contribuiria, em princípio, para que 
o uso de métodos qualitativos se firmasse como fase inicial de estudos 
quantitativos. No entanto, os defensores da pesquisa social qualitativa – 
da interpretativa em especial – não pretendem reduzi-la a esse papel; e 
mesmo com relação a alguns objetos de investigação parece fazer mais 
sentido optar pelo procedimento inverso, ou seja, realizar primeiro uma 
abordagem quantitativa e em seguida abordar o problema de maneira 
qualitativa. A pesquisa social quantitativa nos permite chamar a aten-
26
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
ção para o desenvolvimento de tendências, para fenômenos frequentes 
ou mesmo raros – de difícil análise ulterior. Métodos interpretativos 
possibilitam lançar outro olhar sobre esses fenômenos, reconstruir as 
correlações e os sentidos latentes de casos concretos particulares.
Apreensão do sentido subjetivamente visado e a reconstrução 
do sentido latente
Fica claro, assim, com base nessas observações, quais são os principais 
objetivos da pesquisa social interpretativa: a reconstituição do sentido 
subjetivamente visado e a reconstrução do sentido latente e, com isso, do 
conhecimento implícito que o acompanha – relativo aos atores no mundo 
social. Por sentido subjetivamente visado não se deve compreender proces-
sos privados ou psíquicos internos; pelo contrário, os atores do cotidiano 
atribuem significados a suas ações e à realidade social a partir da apro-
priação de estoques de conhecimento social ao longo da socialização. Além 
da reconstrução desses estoques de saber – formados e constantemente 
modificados na socialização – e do significado conscientemente intencionado 
de uma ação (como também de um ato de fala), a interpretação de um texto 
visa à reconstrução de seu significado social geral. Além da reconstrução 
desse estoque de conhecimento que se constitui e se transforma de maneira 
consciente ao longo da socialização e do significado intencionado de uma 
ação consciente (como também de um ato de fala), a interpretação de um 
texto procura reconstruir o significado social do texto. Por texto compre-
endem-se trechos de entrevista, artigos de jornal, registros audiovisuais 
de situações cotidianas ou então protocolos de observação. Trata-se de um 
conceito bastante amplo e que se refere a todas as formas de expressão 
produzidas na interação social e que são protocoladas de algum modo. 
Para além das intenções do produtor, o texto representa uma realidade 
autônoma a ser interpretada. Paul Ricoeur (1972, p. 257), cujos trabalhos 
também influenciariam profundamente o método da hermenêutica objetiva, 
descreve a realidade autônoma do texto da seguinte forma:
O destino do texto escapa completamente ao horizonte de vida 
– limitado – de um autor. O que o texto expressa vai além do 
que aquilo que seu autor pretendia expressar, e toda exegese 
desenvolve-se em um campo de significados que perdeu toda 
ligação com a psique de quem o originou.
27
GABRIELE ROSENTHAL
A “objetividade de um texto”, e com ela a possibilidade de explicá-lo, 
resulta, a princípio, de acordo com Ricoeur (1972, p. 268), da fixação do 
conteúdo de sentido, mas também de uma diferenciação entre sentido 
intencionado e sentido latente, do desenvolvimento das relações não 
intencionadas – chamadas por ele também de não ostentativas – e da 
“quantidade ilimitada de destinatários”.
Por conteúdo latente de sentido ou significado objetivo de um texto 
(OEVERMANN, 1979, entre outras de suas obras) não se compreende ape-
nas aquilo que – por conta do mecanismo de defesa psíquico do falante ou 
escritor – não lhe é consciente. Em termos de sentido, produzimos muito 
mais do que a situação de ação ou fala nos é acessível, e isso por causa dos 
estoques de conhecimento implícitos e mantidos à margem na realidade 
social, por ação de ideologias e mitos vigentes (no sentido de um inconsciente 
social) nos vários contextos sociais e nos diferentes períodos históricos, e 
por causa das influências que se exercem sobre cada ação em particular 
(OEVERMANN, 1979, p. 384). Como mostra claramente MichaelPolany 
(1966; 1985) em sua análise do conhecimento implícito, nosso conhecimen-
to é sempre muito maior do que o conhecimento que podemos expressar:
Tomemos um exemplo. Podemos reconhecer um rosto dentro 
de um universo de milhares, talvez até mesmo de um milhão. 
Apesar disso, não sabemos dizer como é possível que reconhe-
çamos uma face familiar. Um conhecimento desse tipo não é 
traduzido em palavras (POLANY, 1985, p. 14).
Mesmo que a pesquisa social interpretativa, com seus métodos de 
produção e de interpretação textual, seja especialmente útil para a tarefa 
de reconstruir o sentido latente, ela ainda está sujeita a certas limitações. 
A diferença entre o conscientemente intencionado e o significado objetivo 
vale também para a ação e o conhecimento disponíveis ao pesquisador. 
De fato, a correlação entre ambos – não no momento do agir, mas, sim, na 
reflexão sobre a ação ocorrida – é a princípio possível; porém, os pesqui-
sadores também se encontram submetidos às condições que possibilitam 
a diferenciação. Conhecimento implícito, por exemplo, também influencia 
na atividade do pesquisador, e pode ser que jamais seja objeto de reflexão 
ou mesmo que se torne consciente por completo. Sem notar, o pesquisador 
também aplica conhecimento adquirido por hábito. Distúrbios no curso 
da atividade apontam com frequência para a necessidade de se utilizar a 
intuição, para a necessidade de permanente reflexão. Por exemplo, certa 
28
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
vez, durante uma entrevista com uma deficiente visual, pude perceber 
como expressava minha atenção mais por meio do olhar do que com sinais 
acústicos. Também quando comecei a realizar entrevistas para um proje-
to de pesquisa sobre famílias constituídas por pessoas de três gerações 
(ROSENTHAL, 1997), estava de fato consciente – na condução da entrevista 
não havia enfrentado grandes problemas – de que utilizava determinadas 
técnicas adquiridas ao longo da minha formação e da minha prática em 
consultoria pedagógica, mas de início me pareceu bastante complicado 
explicar aos colegas do projeto como procedia nessas entrevistas. Antes 
mesmo que as transcrições da conversa gravada estivessem prontas – as 
quais esclareceriam meu procedimento –, tornou-se evidente, através de 
observações feitas pelos colegas que participaram das entrevistas, que eu 
aplicava, quase de forma automática, sempre a mesma técnica de fazer com 
que os membros da família se posicionassem em relação a declarações de 
seus parentes e que também trocassem mutuamente de papéis. Pode-se 
dizer que essa técnica, a qual havia desenvolvido vários anos antes – de 
forma consciente e, por sinal, trabalhosa –, tinha se tornado rotina não 
consciente. Com relação à pesquisa social interpretativa, podemos, de fato, 
afirmar ser possível analisar muitas dessas ações rotinizadas dos pesqui-
sadores e também seus efeitos na interação com os entrevistados, com a 
ajuda de registros em áudio e vídeo e dos nossos sistemas de anotação. Mas 
a busca por revelar todo o conhecimento implícito ou habitual não apenas 
acabaria por exigir demais, como também tornaria impossível a conclusão 
de projetos empíricos. Além disso, por conta da nossa socialização em um 
contexto histórico e social específico e do inconsciente social que age sobre 
nós pesquisadores, determinados conteúdos de sentido, de forma seme-
lhante como ocorre no cotidiano, não se oferecem à interpretação textual. 
Por essa razão que, na atualidade da situação histórica, não temos acesso 
a significados que são apenas exploráveis a posteriori, tendo em vista que 
estão baseados em estoques de conhecimento social amplos (RITSERT, 
1972, p. 41-42). Tal como, a título de exemplo, os cidadãos da República 
Democrática Alemã, que, após a queda do muro e os acontecimentos de 
1989, enxergam o período anterior de maneira bastante particular e, com 
base no conhecimento adquirido desde então, atribuem a determinadas 
vivências novos significados, também ocorrem, na análise social, reinter-
pretações do tipo, isto é, são descobertos novos modos de leitura.
A interpretação científica – à exceção, porém, das atitudes do pesquisa-
dor em uma entrevista ou durante uma observação participante – difere-se 
29
GABRIELE ROSENTHAL
das interpretações cotidianas por conta de uma maior independência com 
relação às exigências impostas pela ação. Enquanto intérpretes textuais, 
não precisamos reagir de imediato ao comentário do interlocutor, ou, 
quando seguindo a formação de uma sequência textual, tampouco temos 
que continuar participando dela, seja essa sequência uma comunicação 
escrita ou falada. Podemos registrar o significado e, caso necessário, re-
fletir por mais tempo sobre as diversas possibilidades do sentido de uma 
expressão ou debatê-las com outros pesquisadores.
Descrição de ações e de contextos sociais 
Por não estarem atados à exigência de representatividade dos seus re-
sultados, os estudos qualitativos, diferentemente dos métodos quantitativos, 
podem se concentrar de forma mais detalhada em determinados domínios 
do mundo cotidiano. A exploração de mundos da vida desconhecidos ou 
“causadores de estranhamento” – tal como realizada pela antropologia na 
investigação de culturas ou pela análise socioetnográfica ou fenomeno-
logicamente orientada de contextos sociais ou de mundos da vida – tem 
por objetivo, em especial, descrições microscopicamente detalhadas. Na 
etnografia sociológica (HIRSCHAUER; AMANN, 1997) ou na etnografia 
do mundo da vida (como representada na Alemanha por Ronald Hitzler, 
Anne Honer ou Hubert Knoblauch), o sociólogo toma seu mundo da vida 
relativamente mais próximo como algo de tal forma desconhecido e pou-
co familiar “que parece se tratar de visões de mundo, usos e costumes 
‘exóticos’” (HITZLER; HONER, 1997, p. 13). A tarefa do cientista social 
consiste, segundo Anne Honer (1994, p. 87), “não em explicar estados 
de coisas, mas, antes, em descrever ‘settings’ originais, e isso a partir 
da reflexão sobre suas próprias interpretações do dia a dia, para assim 
compreender ‘explicações’ e agir cotidianos”. Porém, isso não significa 
que descrições sejam totalmente desprovidas de teoria (HOPF, 1979, p. 
17) ou que não se pretenda gerar teorias a partir de descrições detalha-
das. Clifford Geertz (1983, p. 29) considera o etnógrafo um observador, 
um analista e documentarista, e vê na descrição etnográfica uma tarefa 
sobretudo de interpretação. Geertz (1983, p. 30) também defende a tese 
segundo a qual o etnógrafo, da mesma forma, visa interpretar contextos 
mais amplos, como o social, mas “que, comumente, o chega a essas análises 
abstratas e a essas amplas interpretações por conta de um conhecimento 
muito intenso de elementos bastante simples”. A partir de uma descrição 
30
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
densa do caso particular, busca-se chegar, também de acordo com essa 
perspectiva, afirma Geertz, a “conclusões amplamente válidas e, por meio 
de uma caracterização precisa desses fatos no interior de cada um de seus 
contextos, a julgamentos sobre o papel da cultura na estrutura da vida 
coletiva em geral” (p. 40).
Reconstrução da complexidade das estruturas de ação a partir do 
caso particular
Em um procedimento interpretativo, é ao buscar vislumbrar em suas 
especificidades o caso particular ou um domínio isolado do mundo cotidiano 
que se passa da descrição detalhada de casos concretos para a descoberta 
de correlações. Diferente de procedimentos quantitativos, que, a partir 
da análise da ocorrência conjunta de variáveis, considerando diferentes 
casos, identifica relações entre esses elementos (demonstradas também 
estatisticamente), busca-se, aqui, mostrar como correlações em fenôme-
nos específicos se formam. “Em cada cenário, a interação entre todas 
as variáveis e condições relevantes assume centralidade [...] e busca-se 
reconstruí-la em sua complexidade, sucessivamente” (OEVERMANN et 
al., 1975, p. 14). Não se trata de tomaremprestado das ciências naturais 
o modelo de investigação de nexos causais lineares, mas, sim, de tentar 
reconstruir relações de efeitos recíprocos de cada componente em parti-
cular. A partir de análises sequenciais (ver subcapítulo 2.5.4) é possível 
reconstruir os processos de formação de fenômenos sociais, enquanto que 
investigações quantitativas apreendem apenas os resultados de processos 
(KÖCKEIS-STANGL, 1980, p. 353).
Enquanto que um estudo quantitativo buscaria apontar ou negar, a 
título de exemplo, uma tendência ao comportamento violento em grupos de 
jovens de extrema-direita, um estudo interpretativo poderia se preocupar 
em responder às seguintes questões:
• É possível reconhecer, no caso particular concreto, uma relação 
entre violência e uma postura política de direita?
• Como se forma essa correlação?
• É possível reconstruir diferentes padrões de correlação presen-
tes em diferentes casos?
Com a reconstrução empírica de casos particulares é de fato possível 
demonstrar quando há correlação em um caso e quando em outro caso 
31
GABRIELE ROSENTHAL
a postura política de direita e a tendência a agir violentamente não se 
implicam mutuamente; da mesma forma, podemos descobrir, a partir 
da reconstrução, os mais diversos padrões e as mais variadas bases do 
surgimento de tais relações. Uma relação entre dois ou mais fenômenos 
simultaneamente gerados pode, em alguns casos, existir, enquanto que, em 
outros, não; além disso, uma relação existente pode em casos diferentes 
assumir formas bastante diversas. 
As conclusões de uma reconstrução biográfica apresentadas por 
Michaela Köttig (2004) são bastante úteis para esclarecer essa relação. 
Trata-se, em seu estudo, do caso de uma jovem de extrema-direita que 
defende a violência contra aqueles que se declaram inimigos do grupo e 
que admira todo tipo de sacrifício em combate. A reconstrução do caso 
mostra claramente uma ligação entre a violência exercida por seus pais 
sobre ela na infância e a identificação da jovem com seu avô. O avô exalta 
a morte durante a Segunda Guerra Mundial e transmite essa admiração à 
sua neta. Pode-se também afirmar: a possibilidade de extravasar através 
do grupo a violência sofrida durante a infância faz com que a visão de 
mundo do avô e o passado transmitido à jovem assuma para ela relevância 
biográfica. Dito de uma forma geral, a reconstrução desse caso mostra que 
o engajamento no movimento de extrema-direita em questão e a violência 
ali praticada são condicionados pelas próprias experiências de vida – como 
a vivência de coerção e a existência de um ambiente extremista dominante 
– e também pela identificação com o avô. São diversos componentes que, 
aqui, atuando em conjunto, condicionam a busca pela participação no mo-
vimento de extrema-direita. Contudo, não é possível chegar, a partir dessa 
análise, a afirmações como: “experiências violentas na infância levam a um 
posicionamento político de direita”. Trata-se, antes, para além desse caso 
e ao mesmo tempo baseado em sua análise, de uma hipótese mais geral, 
segundo a qual o tipo de estrutura biográfica e familiar cria condições 
propícias para o engajamento no movimento de extrema-direita ao atuar 
conjuntamente com os elementos “comportamento violento dos pais”, “um 
avô alinhado a ideias fundamentais da visão de mundo direitista e que 
atua como substituto na identificação com o elemento maternal e paternal” 
e “socialização em um ambiente juvenil predominantemente de direita”. 
Na pesquisa biográfica (ver Capítulo 6), tem-se por objetivo sobretudo a 
reconstrução da trajetória da história de vida que conduziria a essa orien-
tação. Segundo Bettina Dausien (1999, p. 228), por exemplo, a pesquisa 
32
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
biográfica consiste em uma “abordagem histórico-reconstrutiva” do tipo 
de uma narrativa de “como é que se chegou a...” (DAUSIEN, 1999, p. 228).
Com esse exemplo, acredito ter chamado a atenção para mais uma 
“potencialidade” das ciências sociais interpretativas.
Verificação de hipóteses e de teorias a partir do caso particular
Como mostrarei e discutirei mais à frente – e a partir de exemplo 
(subcapítulos 2.5.2 e 2.5.3) –, o texto não deve ser confrontado com hipó-
teses já formuladas. Antes, é tendo o texto como ponto de partida que, na 
evolução sequencial da análise do texto, as hipóteses são desenvolvidas 
e sua plausibilidade verificada nas passagens subsequentes do texto. A 
hipótese sobre os elementos biográficos específicos que levam a pessoa 
a assumir uma orientação política de extrema-direita é então examinada 
a partir do caso particular concreto – e não segundo a lógica de verifi-
cação estatística –, para assim avaliar se resultados semelhantes podem 
ser observados em outro caso no qual seja possível identificar os mesmos 
elementos. Em um caso diferente, mas de composição semelhante, tais 
componentes poderiam ser vistos atuando de maneira diversa. Do mesmo 
modo, um elemento – como o avô que admira o nacional-socialismo – pode, 
em um caso específico, ser de relevância funcional, enquanto que, em 
outro, não assumir nenhuma importância estrutural. A teoria da Gestalt 
conseguiu, por exemplo, mostrar de forma bastante clara – sendo essa 
sem dúvida uma de suas maiores contribuições – que “formas” podem 
ser bastante diversas, embora coincidam em várias de suas partes. Por 
Gestalt compreende-se uma totalidade, na qual as partes integrantes, ao 
invés de formarem um “conjunto” de inúmeros elementos independentes, 
configuram uma estrutura inter-relacionada que resulta em uma “Gestalt” 
(WERTHEIMER, 1922; 1928). Partindo do princípio de que histórias de vida, 
assim como outras unidades sociais (uma família, uma comunidade ou uma 
instituição), têm a característica de uma Gestalt (ROSENTHAL, 1995), não 
podemos determinar os casos sociais semelhantes em estrutura ou que 
pertencem à mesma tipologia apenas tendo em vista seus componentes; 
para isso é necessário voltar-se para a configuração desses elementos e 
para a sua relevância funcional para o todo. Compreendida a partir dessa 
visão estruturalista, e própria também à teoria Gestalt, uma construção 
tipológica significa reconstruir a “forma” (Gestalt) do caso social e as re-
33
GABRIELE ROSENTHAL
gras que fundamentam sua constituição, e não – como em uma construção 
tipológica descritiva – listar critérios de cada uma das características. 
Desenvolvimento empiricamente fundado de hipóteses e teorias 
A exigência de gerar hipóteses e teorias a partir do material empírico 
foi posta em discussão sobretudo por Barney Glaser e Anselm Strauss, com 
sua proposta de desenvolvimento de uma teoria fundamentada ou “grou-
nded theory” – de uma teoria empiricamente sedimentada. Pertencentes 
à tradição da Escola de Chicago e do interacionismo simbólico, Glaser 
e Strauss defendem a ideia de uma teoria desenvolvida sobre a base de 
resultantes e conclusões empíricas, além de propor uma diferenciação 
(1969, p 69) entre teorias formais e teorias relativas ao objeto. Enquanto 
teorias formais resultam da comparação entre diferentes teorias relativas 
ao objeto, essas ainda dizem respeito, a princípio, ao domínio concreto de 
investigação e ao contexto natural de vida. O foco da pesquisa de Glaser e 
Strauss não está na verificação de teorias, mas, sim, na geração de teorias, 
na qual eles identificam o progresso científico, “tendo em vista que, entre 
outras coisas, uma teoria ultrapassada, inadequada, só pode ser superada 
por uma teoria alternativa, gerada e desenvolvida sobre o mesmo objeto, 
mas não por rejeição” (BOHNSACK, 2003, p. 28). Isso, entretanto, não sig-
nifica negar o valor da verificação de hipóteses e teorias; trata-se, antes, 
de gerar e verificar hipóteses e teorias simultaneamente (HERMANNS, 
1992, p. 114). No sentido do procedimento abdutivo de Charles S. Peirce 
(ver subcapítulo 2.5.2), é a partir do material empírico que as hipóteses 
são formuladas, verificadas, reexaminadas, refutadas ouampliadas.
Em comparação com a pesquisa social quantitativa, o que a investiga-
ção interpretativa dos fenômenos sociais, então, não consegue alcançar? 
A saber:
• afirmar algo a respeito da representatividade e da dimensão de 
seus resultados; 
• generalizações numéricas, isto é, baseadas na frequência de 
ocorrência.
Investigações qualitativas – tanto em sentido amplo quanto em sentido 
estrito – não são representativas estatisticamente. Isso significa não poder 
determinar a frequência com que, em um dado universo – por exemplo, 
jovens alemães de extrema-direita –, um fenômeno específico – como “dis-
34
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
posição à violência” – venha a surgir. Estudos qualitativos tampouco podem 
dizer algo sobre fenômenos socialmente relevantes considerando apenas 
a frequência que ocorrem. A relevância de tal fenômeno para a realidade 
social não resulta da regularidade com que ocorre. Fenômenos verifica-
dos apenas raramente também podem ter consequências consideráveis e 
exercer grande influência. Se a pesquisa social quantitativa pode fazer 
afirmações sobre a dispersão de fenômenos, a investigação interpretativa 
pretende, sobretudo, reconstruir sua atuação em contextos concretos. 
Harry Hermanns fala, nesse sentido, de representatividade teórica, uma 
vez que “estudos qualitativos, conforme suas exigências, são representa-
tivos do espectro de conceitos teóricos empiricamente fundados, em que 
dados de origem empírica são, por sua vez, adequadamente representados” 
(HERMANNS, 1992, p. 116).
O QUE A PESQUISA SOCIAL QUALITATIVA TORNA 
POSSÍVEL?
• Investigar o novo e o desconhecido.
• Apreender o sentido subjetivamente visado.
• Reconstruir o sentido latente.
• Reconstruir a complexidade de estruturas de ação a partir do 
caso particular.
• Descrever o ambiente e a ação social.
• Desenvolver teorias e hipóteses empiricamente fundadas.
• Verificar hipóteses e teorias a partir do caso particular.
O QUE A PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA E 
QUALITATIVA EM GERAL NÃO PODE REALIZAR?
• Conclusões a respeito da dispersão e representatividade de 
seus resultados.
• Generalizações numéricas ou estatísticas, isto é, baseadas na 
frequência de ocorrência dos fenômenos.
35
GABRIELE ROSENTHAL
1.3 ORIGENS HISTÓRICAS DA PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA
Nota preliminar. Antes de apresentar de forma mais detalhada os 
fundamentos e princípios metodológicos da pesquisa social interpreta-
tiva contemporânea, farei um breve resumo histórico das correntes que 
influenciaram essa pesquisa e seu método de forma mais significativa. 
Irei apresentar sucintamente também alguns pensadores clássicos da 
sociologia e alguns dos seus conceitos que serão retomados adiante.
A pesquisa social interpretativa ganhou força na Alemanha ao longo 
dos anos 1970, com os estudos do “Grupo de Trabalho dos Sociólogos de 
Bielefeld”, liderado por Joachim Matthes, na Universidade de Bielefeld. Fritz 
Schütze, que alcançou renome internacional com suas análises biográficas 
e com o desenvolvimento da entrevista narrativa, e Ralf Bohnsack, com 
suas contribuições para o progresso metodológico da discussão em grupo 
e do método documentário – a partir de Karl Mannheim –, são, dentre ou-
tros, pesquisadores desse grupo ativos até hoje. Nos anos 1970, Matthes, 
Schütze e Bohnsack, entre outros, fizeram uma releitura da tradição da 
sociologia compreensiva com base, por exemplo, nos estudos fenomeno-
lógicos e na sociologia do conhecimento de Thomas Luckmann, que logo 
após seus estudos sob a orientação de Alfred Schütz e um período de do-
cência nos Estados Unidos, assumiria, a partir de 1965, uma cátedra na 
Alemanha. Luckmann é responsável pela formação de vários sociólogos 
hoje em atividade na pesquisa etnográfica do mundo da vida e no campo 
de análise etnometodológica da conversação. Quase no mesmo período, 
em meados da década de 1970, Ulrich Oevermann, com seu projeto de 
pesquisa “Escola e casa dos pais”, trazia para a discussão o método da 
hermenêutica objetiva.7
Passariam a compor essa constelação, por um lado, a “sociologia com-
preensiva” – surgida na Alemanha no início do século XX –, e, por outro lado, 
a pesquisa qualitativa empírica desenvolvida à mesma época na Escola de 
Chicago. O debate sobre o método ocorrido na Alemanha nas décadas de 
1950 e 1960 teve relevância em termos de teoria, mas, em contrapartida, 
não exerceu influência direta sobre os métodos de pesquisa social inter-
pretativa contemporânea. A sociologia e a psicologia alemãs dos primeiros 
anos do pós-guerra, época em que vários representantes judeus das ciên-
7 Ver, entre outros: Oevermann (1975; 1979); sobre a história do desenvolvimento da her-
menêutica objetiva, ver: Reichertz (1986). 
36
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
cias sociais compreensivas haviam sido perseguidos e obrigados a deixar a 
Europa continental8, caracterizavam-se pela pesquisa predominantemente 
quantitativa e realizada com uma apropriação de métodos das ciências 
naturais. Exceções foram a investigação sobre o “Significado de Sociedade 
para os Trabalhadores”, realizada por Heinrich Popitz e Hans Paul Bahrdt, 
entre outros (POPITZ et al., 1957) no contexto de uma sociologia industrial, 
e em especial os estudos empíricos do Instituto de Pesquisa Social de 
Frankfurt9, reaberto em 1950, sobre as tendências nacionais-socialistas – 
ou, como afirma Friedrich Pollock em seu relatório de pesquisa publicado 
em 1955, um estudo sobre “opiniões, orientações e comportamentos da 
população da Alemanha com relação a questões de natureza política e so-
cial mais fundamentais” (POLLOCK, 1955, p. 3). Nos anos 1960, em torno 
de Theodor W. Adorno (1903-1969) – retornado do exílio – e no contexto da 
Escola de Frankfurt, ganhava contorno a “disputa do positivismo”.10 Esses 
debates, entretanto, não levaram a um posterior desenvolvimento, sequer 
ao estabelecimento, na Alemanha, de métodos interpretativos. De fato, o 
interesse de Adorno e de outros representantes da Escola de Frankfurt 
estava voltado à discussão metodológica da incompatibilidade entre uma 
teoria crítica da sociedade e da práxis de pesquisa “positivista”; porém, 
à exceção do procedimento de discussão em grupo (POLLOCK, 1955; 
8 Entre os quais Alfred Schütz, Aron Gurwitsch, Karl Mannheim e Norbert Elias, mas 
também a maioria dos representantes da teoria da Gestalt, como Kurt Lewin, Max Wertheimer, 
Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, e os maiores expoentes da “Escola de Frankfurt”: Theodor W. 
Adorno, Max Horkheimer e Erich Fromm.
9 O instituto foi fundado em 1924 em Frankfurt. Anos depois, quase todos os seus mem-
bros foram obrigados a deixar a Alemanha nazista e emigrar para os Estados Unidos. Em 1951, 
o instituto seria reaberto por Max Horkheimer, Friedrich Pollock e Theodor W. Adorno. O termo 
“Escola de Frankfurt” faz referência ao trabalho desse círculo de cientistas sociais.
10 Esse termo, cunhado por Theodor W. Adorno, faz referência à controvérsia iniciada no 
encontro da Sociedade Alemã de Sociologia realizado em Tübingen no ano de 1961 a partir 
das apresentações de Karl R. Popper e do próprio Adorno, controvérsia que também encontrou 
eco em textos de Jürgen Habermas e Hans Albert. Dito de uma maneira geral, tratou-se de um 
choque entre os defensores de uma ciência dos “fatos” empíricos voltada à determinação de 
regras (“nomológica”) e “livre de valores”, e os representantes da ideia de uma teoria crítica da 
sociedade com base na filosofia da história e que se encontrasse voltada para o estudo da ordem 
social vigente. Enquanto os primeiros privilegiavam a análise de modelos microssociológicos de 
ação, a Escola de Frankfurt buscava desenvolver concepções macroteóricas de sociedade e de 
“evolução” social.
37
GABRIELE ROSENTHAL
MANGOLD, 1960)11, métodos de investigação que correspondessem aos 
postulados por eles formulados nesse contexto (HOFFMANN-RIEM, 1980, 
p. 341) praticamente não foram aplicados ou pensados.
A tradição daEscola de Chicago, nos Estados Unidos, e a sociologia 
compreensiva, que surgiu ao mesmo tempo na Áustria e na Alemanha no 
início do século XX, tiveram importância sem dúvida muito maior para o 
posterior desenvolvimento dos métodos de pesquisa qualitativos na sociolo-
gia. Ambas as tradições influenciaram-se mutuamente: à época, muitos dos 
cientistas sociais norte-americanos realizaram longas visitas de pesquisa 
na Alemanha, enquanto que vários sociólogos de língua alemã deixaram 
a Áustria e Alemanha nazista na década de 1930 para viver nos Estados 
Unidos. A primeira faculdade de sociologia de Chicago foi fundada em 1892 
por Albion Small, que foi aluno de Georg Simmel na Alemanha e interessado 
sobretudo em estudos sobre pequenas comunidades. A Escola de Chicago 
não estava restrita à faculdade de sociologia; seus estudos consistiam em 
trabalhos interdisciplinares, a partir dos campos da filosofia, da psicolo-
gia e da sociologia, mas voltados especialmente para a práxis do trabalho 
social e para o planejamento urbano. Em contrapartida à pesquisa social 
desenvolvida à época na França por Émile Durkheim (1858-1917) e seus 
alunos, a essa ciência social de orientação quantitativa e voltada à identi-
ficação de regras, firmava-se na Universidade de Chicago uma pesquisa 
empírica de tendência claramente qualitativa, voltada para os problemas 
sociais da cidade e para a utilização de seus resultados na práxis social. 
Era por conta da rasante industrialização e do rápido crescimento notado 
nas cidades que a sociologia e, de maneira geral, as pesquisas sociais 
desenvolvidas nos Estados Unidos se voltavam para questões de ordem 
prática. Por outro lado, a orientação utilitarista predominante no cotidiano 
dos americanos também encontrava correlato no pragmatismo filosófico, 
tão importante para seus cientistas sociais (MIKL-HORKE, 1997, p. 174). 
Ao contrário do empirismo da Escola de Chicago, a sociologia alemã 
da época – em especial representada por Max Weber e Georg Simmel – 
tinha forte orientação teórica e estava claramente interessada em ques-
tões macrossociológicas. Nos trabalhos de Weber e Simmel, contudo, é 
possível encontrar um fundamento bastante importante para os métodos 
interpretativos. Georg Simmel (1858-1918), que pode muito bem ser con-
11 Ver a análise sobre o conceito de grupo de discussão realizada nos anos 1950 por Ralf 
Bohnsack (2003, p. 105).
38
PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO
siderado um intruso na comunidade de pesquisa da época12, desenvolveu 
uma concepção de sociedade como forma produzida por meio de uma 
relação mútua de interação entre indivíduos. Em seu artigo de 1908, “O 
problema da sociologia”, Simmel afirma:
Parto da ideia de sociedade mais distante de polêmicas: ela 
existe quando uma quantidade maior de indivíduos entra em 
uma relação mútua de interação [...]. Não é o caso que um nú-
mero indeterminado de pessoas passe a constituir sociedade 
na medida em que exista para cada um deles conteúdo de vida 
que os ponha em movimento ou que passe a determiná-los 
faticamente; senão é apenas quando a vivacidade desse conte-
údo assume a forma de influências mútuas, quando um passa 
a exercer alguma influência concreta sobre o outro – de forma 
imediata ou através de terceiros –, que uma sociedade surge 
frente ao simples compartilhamento de espaço e de tempo 
(SIMMEL, 1992, p. 17-19).
Entende-se por sociedade o resultado de uma produção sempre reno-
vada do processo de interação, e não como forma estática dada. Simmel 
desenvolve, com isso, uma fundamentação teórica para um procedimento 
microssociológico e sequencial-reconstrutivo da pesquisa social interpre-
tativa (BUDE, 1988; HETTLAGE, 1991).
Os trabalhos de Max Weber (1864-1920), com sua tentativa de fun-
damentar uma “sociologia compreensiva” (1913; 1921)13, assim como o 
exame crítico do sociólogo vienense Alfred Schütz (1899-1959)14 das teses 
12 O antissemitismo predominante à época na Alemanha, o qual também considerava a pessoa 
como judia com base na sua origem, causou a Simmel, cujos pais eram judeus convertidos ao cris-
tianismo, vários problemas durante sua carreira. Foi o antissemitismo que o impediu, por exemplo, 
de assumir uma cátedra de filosofia em Heidelberg em 1908 (NEDELMANN, 2002, p. 129).
13 A primeira formulação do conceito de “sociologia compreensiva” encontra-se no arti-
go de Weber “Algumas categorias da sociologia compreensiva”, publicado em 1913. Sua ela-
boração mais conhecida só viria a público, porém, em 1921, no capítulo inicial – intitulado 
“Conceitos Fundamentais da Sociologia” – de Economia e sociedade, publicado postumamente.
14 Após seus estudos em ciências jurídicas, Alfred Schütz trabalhou como advogado do 
setor financeiro em um banco de Viena. Com a adesão da Áustria ao “Terceiro Reich”, Schütz 
– de origem judaica e que desde 1937 já planejava sua migração – decidiu não retornar de uma 
viagem de negócios a Paris. Mais tarde, sua mulher e seu filho o seguiriam, para, em 1939, 
emigrarem para Nova York. Schütz, que em Nova York continuou desempenhando a função no 
setor financeiro em um banco, passaria paralelamente, em 1943, a lecionar na New School for 
Social Research, onde assumiu, em 1952, uma cátedra em sociologia e psicologia social.
39
GABRIELE ROSENTHAL
weberianas, são considerados ainda hoje elementos essenciais para a 
fundamentação metodológica da pesquisa interpretativa. A tarefa do pes-
quisador consiste, de acordo com Weber, primeiramente em compreender 
o sentido subjetivamente visado do agente, isto é, sobretudo o propósito 
da ação, e, com isso, explicar o agir e seus resultados na interdependência 
com o agir alheio. Em uma de suas passagens mais conhecidas, Weber 
define sociologia da seguinte forma:
Sociologia [...] significa: uma ciência que pretende compreender 
interpretativamente o agir social e, deste modo, esclarecer sua 
causa a partir de seus efeitos e considerando-o em seu curso. 
“Agir” corresponde a um comportamento humano (seja um fazer 
externo ou interno, omissão ou tolerância), sempre e apenas 
quando o agente relaciona a ele um sentido subjetivo. “Agir 
social”, por seu turno, configura um agir que, tendo em vista 
o sentido visado pelo agente ou pelos agentes, faz referência 
ao comportamento alheio, a cujo curso encontra-se orientado 
(WEBER, 1972, p. 3). 
Esse programa de uma sociologia compreensiva – e, de uma maneira 
geral, ciência social15 – aponta para a necessidade de instrumentos de 
levantamento e análise de dados que possibilitem o acesso tanto às per-
cepções e processos de definição dos próprios agentes do cotidiano como 
também à constituição da realidade social – tal como Georg Simmel e 
Alfred Schütz a compreendem – nos processos interativos do agir social.
Em seu livro A construção significativa do mundo social (1932), Schütz 
busca uma solução para o problema da intersubjetividade (da convergência 
entre a interpretação das próprias vivências e a das vivências do parceiro 
de interação) e da constituição de sentido social, ambos não examinados 
por Weber. De acordo com Schütz, a análise de Weber “é interrompida em 
um estágio no qual os componentes do fenômeno social parecem surgir 
em uma forma irredutível ou que não parece exigir reduções subsequen-
15 Fundamental para a compreensão da ideia weberiana de sociologia e das relações entre 
pesquisa social qualitativa e quantitativa é, também, o conceito de “ciências da realidade”, que 
Weber entende como alternativa a “ciências nomológicas”. Com sua definição de sociologia 
como ciência da realidade, Weber expressa a ideia segundo a qual investigar a realidade da 
vida social implica pesquisar essa realidade em seus dados “históricos”, individuais e concretos, 
embora, por diversas causas de natureza prática, isso só seja possível a partir de uma forma 
seletiva e a partir da perspectiva das questões levantadas (WEBER, 1973, p. 170-176; ROSSI, 
1987, p. 20-62).
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PESQUISA SOCIAL INTERPRETATIVA: UMA INTRODUÇÃO

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