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– Imunização do Idoso As doenças infecciosas são responsáveis por elevadas taxas de morbidade, hospitalização e letalidade da população idosa. Isso pode ser explicado pela menor reserva funcional e pelas alterações nos mecanismos de defesa próprios da imunossenescência. Para diminuir o risco de certas infeções graves e promover melhor qualidade de vida para essa população, os programas de imunização são ferramentas simples e de comprovado custo/benefício na prevenção e promoção de saúde do idoso. Vale ressaltar que algumas doenças de incidência na infância, por exemplo, sarampo, caxumba, coqueluche e rubéola, e passíveis de prevenção com a vacinação também podem acometer os adultos. Porém, essas doenças apresentam menor taxa de incidência do que em crianças, assim, nenhuma dessas vacinas tem indicação formal na população geriátrica. – A difteria é causada pelo bacilo toxigênico Corynebacterium diphtheriae, pelo contato direto de pacientes suscetíveis com secreções oronasais de pessoas doentes ou portadoras, eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. É caracterizada pelo aparecimento de placas pseudomembranosas típicas que se alojam nas amígdalas, faringe, laringe, nariz ou outras mucosas e pele. O tétano acidental é resultante do contato de ferimentos com locais em que existem esporos do bacilo gram-positivo anaeróbio Clostridium tetani. Caracteriza-se por espasmos dolorosos, rigidez muscular e disautonomia, causados pela tetanospasmina, potente neurotoxina bacilar. Não há transmissão da doença entre humanos. O número de casos de difteria e tétano vem diminuindo acentuadamente nos últimos anos no Brasil graças, sobretudo, à vacinação. Entretanto, casos continuam ocorrendo em indivíduos suscetíveis, predominando naqueles que não foram vacinados, foram incompletamente vacinados ou não receberam os devidos reforços. Em 2013, foram confirmados apenas 263 casos de tétano acidental e 87 óbitos, letalidade considerada alta quando comparada com países desenvolvidos. A difteria teve no mesmo ano apenas 4 casos notificados e 1 óbito (Ministério da Saúde, 2015). A maior suscetibilidade da faixa etária geriátrica a essas infecções pode ser explicada pela diminuição da resposta imunológica própria do processo de envelhecimento. Assim, acredita-se que entre os idosos exista maior proporção de pessoas com título sorológico inadequado de anticorpos para proteção contra essas doenças. Além disso, no caso do tétano, o indivíduo idoso costuma apresentar maiores taxas de déficit psicomotor e de percepção do espaço, estando mais propenso a acidentes, dos quais poderão advir soluções de continuidade na pele, permitindo a exposição à bactéria (SBIM/SBGG, 2013). A vacina disponível na rede pública é uma combinação do toxoide tetânico com o diftérico, sendo, portanto, protetora contra o tétano e a difteria. Na rede particular, existe a dTpa (vacina acelular com cobertura adicional à coqueluche) (SBIM, 2013). Cada dose da vacina é composta pela mistura dos toxoides diftérico e tetânico, contendo timerosal como conservante e hidróxido ou fosfato de alumínio como adjuvante. A concentração do toxoide tetânico é a mesma das vacinas DTP ou DT (dupla tipo infantil), porém a concentração do toxoide diftérico é menor em relação a essas vacinas. Tal redução minimiza a reatividade em pessoas que tenham sido sensibilizadas previamente para toxoide diftérico e é insuficiente para provocar resposta anamnéstica satisfatória. A via de administração é intramuscular profunda e pode ser administrada com outras vacinas do calendário vacinal. Os toxoides diftérico e tetânico são extremamente imunogênicos e falhas vacinais em pessoas já vacinadas são muito raras (SBIM/SBGG, 2013). ➢ ESTRATÉGIAS DE VACINAÇÃO O esquema recomendado pelo Ministério da Saúde para idosos nunca vacinados ou com história vacinal desconhecida consiste em três doses de preparado contendo toxoides diftérico e tetânico, sendo que as primeiras duas doses são aplicadas com intervalo de 4 semanas e a terceira dose é ministrada 6 a 12 meses após a segunda. A Sociedade Brasileira de Imunizações recomenda que os idosos nunca vacinados ou com história vacinal desconhecida devem receber uma dose de dTpa, seguida de duas doses de dT (dois e de 4 a 8 meses depois) e que aqueles vacinados para difteria e tétano com pelo menos três doses no passado deveriam receber uma única dose da vacina dTpa (SBIM/SBGG, 2013). Todos os adultos que completarem um intervalo de 10 anos após a série primária da vacinação deverão receber uma dose de reforço da vacina dT (rede pública) ou dTpa (rede privada). Não haverá necessidade de reiniciar o esquema para as pessoas que apresentarem comprovação de uma ou duas doses de vacinação contra o tétano, devendo-se aplicar, conforme o caso, duas doses ou apenas uma de vacina dT a fim de completar as três doses (SBIM/SBGG, 2013). – ➢ EFEITOS ADVERSOS Após administração da vacina dT, podem ocorrer reações locais como dor, eritema e enduração. Febre e outras manifestações sistêmicas são menos comuns. Encefalopatia e convulsões não foram relatadas em idosos e foram relacionadas com o uso de vacinas de células inteiras e na faixa etária infantil (SBIM, 2013). ➢ CONTRAINDICAÇÕES A vacina dever ser adiada no caso de doença febril aguda. No caso de reação anafilática prévia às vacinas ou a algum de seus componentes, a vacina tem contraindicação absoluta (SBIM/SBGG, 2013). A influenza (gripe) é causada por vírus representantes da família Orthomyxoviridae, classicamente divididos em três tipos imunológicos: A, B e C, sendo que apenas os tipos A e B têm relevância em humanos. Todos compartilham as seguintes características: o genoma viral, uma fita simples de ácido ribonucleico (RNA) e o envelope derivado da célula hospedeira. O envelope viral contém, na sua superfície, glicoproteínas importantes para a entrada, replicação e saída do vírus da célula. As principais glicoproteínas são a hemaglutinina (H), responsável pela adsorção do vírus à célula hospedeira, e a neuraminidase (N), que favorece a liberação do vírus da célula infectada. Esses dois antígenos (H e N) estão sujeitos a apresentar, ocasionalmente, alterações estruturais que propiciam a mutação viral responsável pelos surtos periódicos de influenza (CRIE, 2006). O vírus da influenza A é o mais suscetível às variações antigênicas, contribuindo assim para a existência de diversos subtipos, sendo, portanto, o principal causador de quadros epidêmicos. Devido à alta taxa de mutação, a composição da vacina é anualmente alterada, a partir dos resultados de um sistema de monitoramento global. Desde 1947, o Global Influenza Surveillance Network (GISN) realiza o monitoramento do vírus com informações coletadas por 130 centros nacionais de influenza em 101 países. Essa ação permite a identificação das cepas mais prevalentes e do risco de uma nova pandemia (SBIM/SBGG, 2013). A vacinação dos grupos prioritários, incluindo os maiores de 60 anos, é fundamental como uma estratégia de prevenção e promoção de saúde, reduzindo a ocorrência da doença, internações e óbitos atribuíveis ao vírus influenza (Ministério da Saúde, 2015). As vacinas contra influenza utilizadas em nosso meio são preparadas a partir do cultivo do vírus em fluidos alantoicos de embriões de galinha. O vírus é purificado, inativado e fragmentado, ou seja, a vacina não oferece risco de causar doença no paciente e apresenta boa imunogenicidade e tolerabilidade. Na composição das vacinas são incluídas duas cepas de vírus influenza A, em combinação com uma cepa de vírus B. Em 2015, a vacina influenza (fragmentada e inativada) teve a seguinte composição: A/California/7/2009 (H1N1) pdm09, A/South Australia/55/2014 (H3N2) similar ao A/Switzerland/9715293/2013 (H3N2) e B/Phuket/3073/2013 (Ministério da Saúde, 2015). Vacinas quadrivalentes,com duas linhagens do vírus influenza B, atenuada e inativada, estão sendo utilizadas em outros países desde 2014, com a vantagem de oferecer maior cobertura em relação aos vírus influenza circulantes atualmente. A proteção conferida pela vacina muda dependendo da dose, esquema de imunização, doença subjacente e experiência antigênica prévia, além do grau de cruzamento antigênico entre a vacina, o vírus epidêmico e o padrão da epidemia. Tais fatores podem influenciar individual ou coletivamente a ocorrência da resposta imune protetora. Não existem evidências de que os idosos respondam de modo insatisfatório à imunização. Normalmente, o relato de que o declínio da função dos linfócitos B poderia ser responsável pela diminuição da resposta de anticorpos anti- hemaglutinina não encontra comprovação, já que uma série de restrições pode ser feita à metodologia dos trabalhos sugestivos desse fato. A produção de anticorpos é prontamente detectada 2 semanas após a vacinação; seu pico máximo ocorre entre 4 e 6 semanas. O nível de anticorpos declina progressivamente, após 6 – meses é duas vezes menor em comparação com o pico observado após a vacinação. Os estudos da eficácia de vacina contra influenza são de difícil realização pela presença de outros vírus respiratórios que causam enfermidades semelhantes durante a incidência sazonal da doença; portanto, precisam ser avaliados com precaução. A vacina com adjuvante pode ser utilizada na população de idosos com boa resposta imune, o que compensaria a resposta imune deficiente pela própria imunossenescência, mas só está disponível no sistema privado (SBIM/SBGG, 2013). ➢ ESTRATÉGIAS DE VACINAÇÃO As campanhas nacionais de vacinação contra influenza são realizadas no país desde o ano de 1999. No primeiro ano foi contemplada apenas a população de idosos a partir de 65 anos de idade, estendendo-se já no ano seguinte para idosos a partir de 60 anos de idade. Durante a campanha de vacinação contra a influenza, em 2014, foram vacinadas 9.937.402 pessoas. Foram administradas 7.587.688 doses nos grupos prioritários (crianças, gestantes, trabalhadores de saúde, puérperas, idosos, indígenas e população privada de liberdade) e 1.808.585 doses nos grupos com comorbidades. A cobertura vacinal entre a população idosa foi de 81,9%. A vacina deve ser aplicada anualmente, no período que precede o outono e o inverno. Deve ser administrada em dose única anual, por via subcutânea ou intramuscular, e pode ser aplicada simultaneamente com outras vacinas ou medicamentos, em diferentes sítios anatômicos. ➢ EFEITOS ADVERSOS A vacina é composta por vírus morto e fragmentado, o que permite boa tolerabilidade e segurança. Reações sistêmicas como mialgia, febre baixa, mal-estar geral e cefaleia, ou locais como dor, sensibilidade no local da injeção, eritema e enduração regridem espontaneamente em no máximo 48 h. A reação anafilática (eritema, angioedema, asma alérgica e anafilaxia) raramente acontece e resulta provavelmente de hipersensibilidade a alguns componentes da vacina, geralmente a proteínas residuais do ovo. Há relatos raros da ocorrência de síndrome de Guillain-Barré (SGB): geralmente, os sintomas aparecem entre 7 e 21 dias, no máximo, até 42 dias (7 semanas) após a exposição ao possível agente desencadeante. É importante dizer que a incidência aumentada dessa síndrome esteve relacionada com alguns lotes específicos da vacina há alguns anos e que o risco de SGB causada pela infecção por influenza é muito maior do que o risco pela vacina contra influenza (SBIM/SBGG, 2013) ➢ CONTRAINDICAÇÕES A vacinação deve ser adiada na presença de doença febril aguda moderada ou grave. Para pacientes com trombocitopenia ou qualquer distúrbio de coagulação, com risco de sangramento pela via intramuscular, deve-se considerar a via subcutânea. A vacina é contraindicada nos casos de reação anafilática prévia ou alergia grave relacionada com o ovo de galinha e seus derivados, assim como a qualquer componente da vacina. É importante a orientação dos profissionais de saúde – e mesmo da população, principalmente da de risco – sobre a possibilidade de, após a vacinação, ocorrer a manifestação de quadros clínicos semelhantes (“síndrome gripal” de outra etiologia) e, ainda, sobre o fato de que o grau de proteção fornecido pela vacina para influenza gira em torno de 70 a 75%. Esse esclarecimento faz-se necessário para que, no ano seguinte, esses indivíduos não deixem de vacinar-se por julgarem ter havido falha da vacina no ano anterior. O Streptococcus pneumoniae – o pneumococo – é um coco gram-positivo de forma esférica ou oval que aparece tipicamente aos pares. Os pneumococos patogênicos são encapsulados por uma camada de polissacarídios complexos, que protege o microrganismo da fagocitose. A cápsula é responsável pela sua virulência e a diferença na estrutura química dos polissacarídios é a base para classificar os pneumococos em pelo menos 90 sorotipos diferentes. Cada sorotipo induz a produção de um anticorpo específico. Os sorotipos – mais frequentemente associados à doença invasiva nos EUA são 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F, 23F. No Brasil, além desses, são importantes os sorotipos 1 e 5. Quando colonizam o trato respiratório, podem causar doenças como infecções invasivas disseminadas (incluindo bacteriemia e meningite), pneumonia e outras infecções do trato respiratório baixo, além de infecções do trato respiratório alto, como otite média e sinusite (CRIE, 2006). O pneumococo é uma das principais causas de pneumonia adquirida na comunidade em idosos e resulta em elevada morbimortalidade, mas nem sempre é acompanhada de bacteriemia. A doença pneumocócica invasiva, ou seja, aquela que acomete locais normalmente estéreis (sangue, líquido pleural, liquor), ocorre em cerca de 25% dos casos. A infecção pelo pneumococo é mais comum nos extremos de vida. Além disso, doença cardiovascular, pulmonar, hepática, renal, diabetes e imunossupressão são comorbidades frequentes em pacientes acima de 60 anos e fatores de risco bem estabelecidos para doença invasiva. Assim, a vacinação da população idosa é de extrema importância. Existem atualmente duas opções estabelecidas para a vacina pneumocócica: vacina polissacarídica e vacinas conjugadas. A vacina polissacarídica induz resposta T- independente, de curta duração, que não que induz memória imunológica e, portanto, não confere soroproteção abaixo de 2 anos de idade. A vacina protege contra doença invasiva, porém a prevenção contra outros tipos de infecção pneumocócica é menos estabelecida. Em virtude dessas limitações, a vacina contra pneumococo polissacarídica não conjugada é utilizada apenas para determinados grupos de pacientes que apresentam suscetibilidade aumentada à infecção pneumocócica, como por exemplo, os idosos. A vacina disponível atualmente no Brasil contém polissacarídios da cápsula de 23 sorotipos do Streptococcus pneumoniae: 1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N, 9V, 10A, 11A, 12E, 14, 15B, 17E, 18C, 19A, 19E, 20, 22F, 23F e 33F. Esses sorotipos são responsáveis por cerca de 90% dos casos de doença pneumocócica invasiva. As vacinas conjugadas conjugam os polissacarídios do pneumococo com uma proteína transportadora, resultando em um antígeno capaz de induzir alta imunogenicidade, resposta T- dependente, memória imunológica e resposta anamnésica, o que possibilita sua utilização em crianças a partir dos 2 meses de idade, faixa em que a morbimortalidade da doença pneumocócica é muito elevada. No entanto, as vacinas disponíveis têm cobertura para apenas dez ou treze sorotipos ➢ ESQUEMA DE VACINAÇÃO Para aqueles nunca vacinados anteriormente: Iniciar esquema com dose única de vacina 13-valente, seguida 2 meses depois de uma dose de vacina 23-valente. Uma segunda dose da 23-valente deve ser aplicada 5 anos após a primeira. Paraaqueles anteriormente vacinados com uma dose da vacina polissacarídica com 23 sorotipos: Após 12 meses da administração da vacina 23-valente administrar uma dose da vacina 13-valente. Aplicar uma segunda dose de 23- valente 5 anos após a dose de 23-valente e no mínimo 2 meses após a 13 valente. Para aqueles anteriormente vacinados com duas doses da vacina polissacarídica com 23 sorotipos: Se a segunda dose foi aplicada antes dos 65 anos, está indicada uma terceira dose depois dessa idade, com intervalo mínimo de 5 anos da última dose. Ambas as vacinas são aplicas IM e podem ser administradas juntamente com outras vacinas. ➢ CONTRAINDICAÇÕES A única contraindicação formal é história de reação anafilática a dose anterior da vacina ou algum de seus componentes. No caso de síndrome febril aguda, a vacina pode ser adiada e, no caso de trombocitopenia grave, deve-se considerar a administração por via subcutânea (SBIM/SBGG, 2013). – ➢ EFEITOS ADVERSOS Os eventos adversos mais comuns são os locais (dor, eritema), que regridem espontaneamente em curto intervalo de tempo. Febre ou reações mais graves são muito raras (anafilaxia, por exemplo). ➢ HERPES-ZÓSTER A taxa de incidência da varicela diminuiu cerca de 80% em comparação com os índices pré-vacinação avaliados nos EUA. Estes números indicam que a vacina contra a varicela apresenta grande impacto sobre a epidemiologia da doença. Consequentemente, há menor circulação do vírus varicela-zóster (VVZ), com menor exposição, provocando a queda da imunidade celular contra o VVZ. Ainda não se sabe ao certo o impacto clínico deste fato, mas alguns especialistas especulam que indivíduos infectados naturalmente pelo VVZ seriam menos propensos a desenvolver herpes- zóster (HZ) (Dworkin e Schmader, 2001). No Brasil, a prevalência de anticorpos anti-VVZ é de 94,2%, mostrando que quase todos os adultos estão propensos a desenvolver HZ. O herpes-zóster (HZ), conhecido popularmente como “cobreiro”, é uma doença resultante da reativação da infecção latente causada pelo VVZ que se mantém não manifesta nas células dos gânglios da raiz dorsal dos nervos sensoriais após a infecção primária. A doença é caracterizada por rash cutâneo e erupções com vesículas e bolhas localizadas e dolorosas, envolvendo um ou mais dermátomos adjacentes com período prodrômico de aproximadamente 4 dias e manifestações de dor e astenia. Aproximadamente 3% dos pacientes acometidos por HZ são hospitalizados. A principal complicação do HZ é a neuralgia pós-herpética (NPH). Aproximadamente 10 a 18% dos pacientes com HZ são acometidos pela NPH que interfere negativamente nas atividades de vida diária, piorando a qualidade de vida (Gilden et al., 2000). A NPH pode durar meses ou anos, frequentemente é refratária ao tratamento e apresenta manifestação clínica heterogênea. O HZ e a NPH provocam grande impacto na saúde pública, causando altos custos sociais e econômicos, com hospitalizações, consultas médicas e medicações. O herpes-zóster acomete geralmente adultos com mais de 50 anos, mais da metade das pessoas acometidas são idosas. Essa alta prevalência em idosos pode ser explicada pelo fato de que à medida que envelhecemos, ocorre o declínio fisiológico da imunidade celular, o que parece estar relacionado com o aumento da incidência e prevalência do HZ e da NPH, assim, a idade é o maior fator de risco para HZ. Entre 10 e 20% dos adultos imunocompetentes sofrem de HZ em algum momento da vida. Estima-se que aproximadamente 50% das pessoas com mais de 85 anos apresentarão um episódio de HZ na vida e a gravidade também é maior nas faixas etárias maiores. No Brasil, não há grandes estudos sobre a prevalência e a incidência de HZ em idosos. Uma investigação epidemiológica realizada na cidade de São Paulo demonstrou prevalência de 4,8%. Há risco de recorrência da doença, com taxa de incidência similar à do primeiro episódio, de 6,2% em 7,5 anos. A NPH ocorre em mais de 50% dos idosos. Estudo (Hope-Simpson, 1975) demonstra que a prevalência da NPH foi zero em pessoas de 0 a 29 anos; 3 a 4%, de 30 a 49 anos; 21%, de 60 a 69 anos; 29%, de 70 a 79 anos; e 34% no grupo com mais de 80 anos. Outro estudo demonstra que 36,6 e 47,5% dos pacientes com idade maior que 60 anos e 70 anos, respectivamente, apresentaram NPH por mais de 1 ano, ou seja, a NPH torna-se mais frequente e mais prolongada à medida que envelhecemos. O tratamento do HZ é feito com uso da terapia antiviral, sendo que o tratamento precoce, dentro de 72 h a partir do início do rash cutâneo, implica melhor controle da doença e menor incidência de NPH. O tratamento medicamentoso para a NPH se baseia no tratamento sintomático com antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes, patch de lidocaína e opioides. A vacina que atualmente está no mercado (ZostavaxTM) é feita de vírus vivo atenuado, 14 – vezes mais potente que a vacina contra a catapora. Esta vacina foi desenvolvida para evitar ou atenuar os sintomas do HZ. Aumenta significativamente a imunidade celular e humoral específica contra o VVZ e a aplicação é subcutânea, no músculo deltoide (Oxman et al., 2005). É indicada, segundo a Sociedade Brasileira de Imunização, a partir dos 60 anos, dose única. A bula da ZostavaxTM apresenta a indicação a partir dos 50 anos. Indivíduos que já tiveram HZ devem ser vacinados após 1 ano do episódio. Ainda aguardamos estudos para conhecermos melhor a duração da imunidade desta vacina e a necessidade da revacinação. Os resultados demonstraram que a vacina foi eficaz para reduzir a incidência de HZ e de NPH. É a primeira e única opção para a prevenção do HZ em adultos, bem como para diminuir a incidência da NPH, porém a vacina não trata a doença HZ ou a NPH. Trata-se de uma vacina segura; os efeitos colaterais mais comuns foram eritema, dor e prurido no local da aplicação. É contraindicada em pessoas com histórico de hipersensibilidade a qualquer componente da vacina, incluindo a gelatina, reação anafilática a neomicina, estados de imunodeficiência primária adquirida, em vigência de tratamento com imunossupressores (incluindo elevadas doses de corticosteroides), tuberculose ativa não tratada e gestação. No futuro breve teremos outras vacinas contra o HZ. A exemplo das vacinas de glicoproteínas recombinantes e não de vírus vivo atenuado. Aguardamos maiores estudos e aprovação para o uso populacional. ➢ HEPATITE B A indicação de vacina contra hepatite B para idosos não é recomendação de rotina, porém as especificidades dessa faixa da população, como baixa imunidade, concomitância de doenças crônicas e internações hospitalares recidivantes, requerem que sua utilização, por vezes, seja considerada. Além disso, houve uma mudança no padrão de atividade sexual entre os idosos após o surgimento de medicações para o tratamento de disfunção erétil, o que deve deixar os médicos atentos na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis nessa faixa etária. A vacina dever ser administrada por via intramuscular (IM) em esquema de três doses, sendo a segunda 1 mês depois da primeira e a terceira 6 meses após a primeira (esquema 0-1-6 meses). Esquemas especiais de vacinação para a hepatite B são necessários para pacientes imunossuprimidos e renais crônicos: dose dobrada em quatro aplicações (esquema 0-1-2 a 6 meses). ➢ HEPATITE A A maioria dos adultos e idosos em nosso país apresenta positividade sorológica para essa infecção. Aos 50 anos, são poucos os indivíduos que não tiveram ainda contato com o vírus. Assim sendo, para os idosos, a vacinação é indicada apenas para aqueles suscetíveis, com sorologia negativa para a doença. A vacina deve ser administrada IM em esquema de duas doses, com intervalo de 6 meses após a primeira (esquema 0 a 6 meses). Essa vacina está disponível apenas na rede particular, onde também é encontrada na formacombinada com a vacina contra hepatite B. ➢ FEBRE AMARELA A vacina contra febre amarela deve ser realizada em todos os residentes em área de risco e habitantes de outras regiões maiores de 9 meses de idade que se dirijam às áreas de risco. A vacina é realizada por via subcutânea em dose única, porém é importante a realização de dose de reforço a cada dez anos. Recomenda-se que a administração ocorra no mínimo dez dias antes da viagem. A vacina é composta por vírus vivo atenuado e já foram descritos efeitos adversos graves da vacina, sobretudo na população acima de 60 anos, fato esse não verificado no Brasil. Assim, a Sociedade Brasileira de Imunização recomenda que o médico esclareça ao idoso que vai viajar para área endêmica os riscos potenciais para que o paciente possa decidir sobre o risco- benefício da viagem e da vacina. ➢ TRÍPLICE VIRAL A vacina contra sarampo, caxumba e rubéola não é recomendada de forma rotineira para idosos, uma vez que a maioria deles já é imune a essas doenças. Pode ser indicada em casos de surto ou caso o paciente tenha viagem programada para locais onde essas doenças são endêmicas. É considerado protegido o indivíduo que tenha recebido duas doses da vacina após 1 ano de – idade, com intervalo mínimo de 1 mês entre elas. Está disponível em redes privadas e na rede pública apenas em situações especiais. ➢ MENINGOCÓCICA CONJUGADA A vacina contra meningite apresenta cobertura contra meningococo A, C, W135 e Y. São poucos os estudos na população idosa e não é uma vacina recomendada no calendário de rotina para idosos, devendo ser realizada apenas em situações de epidemia. REFERÊNCIAS: TRATADO DE GERIATRIA
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