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Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Anticonvulsivantes/Antiepiléticos A epilepsia é o terceiro distúrbio neurológico mais comum, logo atrás da doença cerebrovascular e da doença de Alzheimer. A epilepsia não é uma entidade simples, mas um conjunto de diferentes tipos de convulsões e síndromes originadas por vários mecanismos que têm em comum a descarga repentina, excessiva e sincronizada dos neurônios cerebrais. Essa atividade elétrica anormal pode resultar em uma variedade de eventos, incluindo perda de consciência, movimentos anormais, comportamento atípico ou desigual e percepção distorcida de duração limitada, mas recorrente se não for tratada. O local de origem dos disparos neuronais anormais determina os sintomas produzidos. Por exemplo, se o córtex motor estiver envolvido, o paciente pode sofrer de movimentos anormais ou convulsão generalizada. Ataques originados nos lobos parietal ou occipital podem incluir alucinações visuais, auditivas e olfatórias. Medicamentos são o modo mais comum de tratar pacientes com epilepsia. Em geral, as convulsões podem ser controladas com medicamento em cerca de 75% dos pacientes. Pode ser necessária mais de uma medicação para otimizar o controle das convulsões, e alguns pacientes nunca conseguem obter controle total. Etiologia das convulsões Na maioria dos casos, a epilepsia não tem causa identificável. Áreas focais funcionalmente anormais podem ser ativadas por alterações em fatores fisiológicos, como alteração em gases sanguíneos, pH, eletrólitos e glicemia, e alterações em fatores ambientais, como privação do sono, ingestão de álcool e estresse. A descarga neuronal na epilepsia resulta do disparo de uma pequena população de neurônios em alguma área específica do cérebro denominada foco primário. A epilepsia pode ser devida a uma causa genética, estrutural ou metabólica, ou sua causa pode ser desconhecida. • Epilepsia genética Essas crises resultam de uma anormalidade herdada no sistema nervoso central (SNC). Algumas mutações genéticas foram identificadas em síndromes epiléticas. OBS.: a obtenção de anamnese familiar detalhada pode fornecer informações importantes para avaliar a possibilidade de ligação genética às convulsões. • Epilepsia estrutural ou metabólica Inúmeras causas, como uso de fármacos ilícitos, tumores, traumatismo encefálico, hipoglicemia, infecção meníngea e retirada rápida do álcool em um indivíduo alcoólatra, podem desencadear as crises. Em casos em que a causa de uma convulsão pode ser determinada e corrigida, pode não ser necessária a medicação. OBS.: a convulsão que é causada por reação a fármaco não é epilepsia e não requer tratamento crônico. Em outras situações, quando a causa primária das convulsões não pode ser corrigida, pode ser necessária medicação antiepilética. • Causas desconhecidas Quando não há evidência de causa anatômica específica para as crises, como traumatismo ou neoplasia, o paciente pode ser diagnosticado com convulsões em que a causa subjacente é desconhecida. A maioria dos casos de epilepsia deve-se a causas desconhecidas. Os pacientes podem ser tratados cronicamente com antiepiléticos ou estimulantes vagais. Classificação das crises É importante classificar corretamente as crises para determinar o tratamento apropriado. As crises são classificadas com base em local de origem, etiologia, correlação eletrofisiológica e Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 apresentação clínica. As crises são classificadas em dois grupos gerais: focal e generalizada. • Focais A crise focal envolve somente uma porção do cérebro, normalmente parte de um lobo de um hemisfério. Os sinais de cada tipo de crise dependem do local da descarga neuronal e da extensão pela qual a atividade elétrica se espalha nos demais neurônios do cérebro. Crises focais podem evoluir, tornando-se crises tônico- clônicas generalizadas. ➢ Parciais simples: essas crises são causadas por um grupo de neurônios hiperativos que apresentam atividade elétrica anormal e fica confinada em um local único no cérebro. A descarga elétrica não se alastra, e o paciente não perde a consciência ou a percepção. Com frequência, o paciente apresenta atividade anormal em um dos membros ou em um grupo muscular controlado pela região cerebral que apresenta o distúrbio. O paciente também pode apresentar distorções sensoriais. A atividade pode se alastrar. Crises parciais simples podem ocorrer em qualquer idade. ➢ Parciais complexas: Essas crises provocam alucinações sensoriais complexas e distorção mental. A disfunção motora pode envolver movimentos mastigatórios, diarreia e/ou micção. A consciência se altera. A crise parcial simples pode se alastrar, tornar- se complexa e então evoluir para uma convulsão generalizada secundária. As crises parciais complexas podem ocorrer em qualquer idade. • Generalizadas As crises generalizadas podem iniciar localmente e então avançar, incluindo descargas elétricas anormais pela totalidade de ambos os hemisférios cerebrais. As crises generalizadas primárias podem ser convulsivas ou não convulsivas, e o paciente normalmente apresenta perda imediata da consciência. ➢ Tônico-clônicas: essas crises resultam em perda da consciência, seguida das fases tônica (de contração contínua) e clônica (de contração e relaxamento rápidos). A crise pode ser seguida por um período de confusão e exaustão, devido à depleção de glicose e dos estoques energéticos. ➢ Ausências: essas crises envolvem uma perda breve, abrupta e autolimitante da consciência. Em geral, iniciam-se em pacientes de 3 a 5 anos de idade e perduram até a puberdade ou mais. O paciente permanece com o olhar fixo e pisca rapidamente, o que dura de 3 a 5 segundos. A crise de ausência tem um pico muito distinto de 3 picos de registro de atividade elétrica no EEG por segundo e descarga em ondas vista no eletrencefalograma (EEG). ➢ Mioclônicas: essas crises consistem em episódios curtos de contração muscular que podem recorrer por vários minutos. Em geral, elas ocorrem após o despertar e se revelam como breves contrações espasmódicas dos membros. ➢ Clônicas: essas crises consistem em episódios curtos de contração muscular que podem parecer muito com crises mioclônicas. A consciência está mais comprometida nas crises clônicas em comparação com as mioclônicas. ➢ Tônicas: essas crises envolvem aumento do tônus nos músculos extensores e, em geral, duram menos de 60 segundos. ➢ Atônicas: também chamadas de ataques de queda, essas crises se caracterizam pela perda súbita de tônus muscular. • Mecanismo de ação das medicações antiepiléticas Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Os fármacos reduzem as crises por meio de mecanismos como bloqueio dos canais voltagem- dependentes (Na+ ou Ca2+), potencializando impulsos inibitórios gabaérgicos e interferindo na transmissão excitatória do glutamato. Alguns antiepiléticos parecem ter múltiplos alvos no SNC, ao passo que o mecanismo de ação de alguns fármacos é mal definido. OBS.: a medicação antiepilética suprime as crises, mas não cura nem previne a epilepsia. Seleção do fármaco A escolha do tratamento farmacológico se baseia no tipo específico de crise, nas variáveis do paciente e nas características do fármaco. Por exemplo, crises de início focal são tratadas com medicamentos diferentes dos usados em crises generalizadas primárias,ainda que a relação de fármacos eficazes se sobreponha. A toxicidade do fármaco e as características do paciente são as principais considerações na seleção do fármaco. Em pacientes, recém-diagnosticados, é instituída monoterapia com um único fármaco até que a crise seja controlada ou que ocorram sinais de toxicidade. Se a crise não é controlada com a primeira medicação, é considerada a monoterapia com fármaco alternativo ou a adição de outro fármaco. Se isso falhar, deve ser considerado outro manejo médico (estimulação vagal, cirurgia, etc.). O conhecimento dos antiepiléticos disponíveis e seus mecanismos de ação, farmacocinética, potencial de interação com outros fármacos e efeitos adversos é essencial para o tratamento bem-sucedido do paciente. Antiepilépticos Alguns dos fármacos são considerados vantajosos em comparação com os aprovados antes de 1990 em termos de farmacocinética, tolerância e risco de interações entre fármacos. Contudo, os estudos não demonstraram que os novos fármacos são significativamente mais eficazes do que os antigos. Por essa razão, os antiepiléticos são apresentados a seguir em ordem alfabética, em vez de ordenados por eficácia. OBS.: comportamento suicida e ideias suicidas foram identificados como risco da medicação antiepilética. Além disso, praticamente todas as medicações antiepiléticas foram associadas com reações multiorgânicas de hipersensibilidade, uma reação idiossincrática rara caracterizada por urticária, febre e envolvimento orgânico sistêmico. • Ácido valproico e divalproex Mecanismos de ação possíveis desses fármacos incluem bloqueio de canais de sódio, bloqueio da transaminase GABA e ações nos canais de cálcio tipo T. São eficazes para o tratamento de epilepsias focais e primárias generalizadas. O ácido valproico está disponível como ácido livre. O divalproex sódico é a associação de valproato de sódio e ácido valproico, que é convertido em valproato quando alcança o trato gastrintestinal (TGI). • Benzodiazepínicos Se ligam aos receptores do GABA, que são inibitórios, para reduzir a taxa de disparos. A maioria dos benzodiazepínicos é reservada para emergências ou tratamento de crises agudas, devido à sua tolerância. Contudo, clonazepam e clobazam podem ser prescritos como auxiliares no tratamento em tipos particulares de crises. O diazepam também está disponível para administração retal para evitar ou interromper Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 convulsões tônico-clônicas generalizadas prolongadas ou agrupadas, quando a administração oral não é possível. • Carbamazepina Bloqueia os canais de sódio, inibindo, assim, a geração de potenciais de ação repetitivos no foco epilético e evitando seu alastramento. Ela é eficaz para tratar as crises focais e, adicionalmente, as convulsões tônico-clônicas generalizadas, a neuralgia do trigêmio e os transtornos bipolares. A carbamazepina tem absorção lenta e errática após administração por via oral. Ela induz sua própria biotransformação, resultando em concentrações séricas menores nas doses mais altas. É indutora das enzimas CYP1A2, CYP2C e CYP3A e da uridina 5’-difosfato (UDP) – glicuronosiltransferase (UGT), o que aumenta a depuração de outros fármacos. Pode ser notada hiponatremia em alguns pacientes, especialmente em idosos, o que requer a troca de medicação. OBS.: não deve ser prescrita para pacientes com crises de ausência, porque pode aumentá-las. • Eslicarbazepina Acetato de eslicarbazepina é uma pró- fármaco convertida ao metabólito ativo eslicarbazepina (S-licarbazepina) por hidrólise. S- licarbazepina é o metabólito ativo da oxcarbazepina. Ela é um bloqueador do canal de sódio disparado por voltagem; tem farmacocinética linear e é eliminada por glicuronidação. O perfil de efeitos adversos inclui tonturas, sonolência, diplopia e cefaleia. • Etossuximida Reduz a propagação da atividade elétrica anormal no cérebro provavelmente inibindo os canais de cálcio tipo T. Ela é eficaz apenas no tratamento de crises de ausência. • Ezogabina Parece abrir canais de potássio tipo M disparados por voltagem, levando à estabilização do potencial de repouso; tem farmacocinética linear sem interações com outros fármacos nas dosagens baixas. Os efeitos adversos são retenção urinária, prolongamento do intervalo QT, coloração azulada da pele e anormalidade na retina • Felbamato Tem amplo espectro de ação anticonvulsivante com múltiplos mecanismos propostos, incluindo o bloqueio de canais de sódio voltagem-dependente, competindo com o local de ligação do coagonista glicina no receptor N-metil- D-aspartato (NMDA) glutamato, bloqueando canais de cálcio e potencializando a ação do GABA. O felbamato é um inibidor dos fármacos biotransformados por CYP2C19 e induz os fármacos biotransformados por CYP3A4. Ele é reservado para uso em epilepsias refratárias (particularmente a síndrome Lennox-Gastaut) devido ao risco de anemia aplástica e insuficiência hepática. • Fenitoína e fosfenitoína A fenitoína bloqueia os canais de sódio voltagem-dependentes, ligando-se seletivamente ao canal no estado inativo e tornando lenta a sua recuperação. Ela é eficaz para o tratamento de crises focais e tônico-clônicas generalizadas e no tratamento do estado epilético. Ela induz os sistemas enzimáticos CYP2C, CYP3A e UGT, acelerando a biotransformação dos fármacos substratos desses sistemas; exibe biotransformação por enzima saturável, resultando em propriedades farmacocinéticas não lineares. Ocorre depressão do SNC, particularmente no cerebelo e no sistema vestibular, causando nistagmo e ataxia. Os idosos são muito suscetíveis a este efeito. Hiperplasia gengival pode levar ao crescimento da gengiva sobre os dentes. O uso por tempo prolongado pode levar ao desenvolvimento de neuropatias periféricas e osteoporose. A fosfenitoína é um pró-fármaco que rapidamente é convertido em fenitoína no sangue (em poucos minutos). Ao passo que a fosfenitoína pode ser administrada por via intramuscular (IM), a fenitoína sódica nunca deve ser administrada por essa via, pois causa lesão tecidual e necrose. A Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 fosfenitoína é o fármaco de escolha e padrão quando se precisa do efeito da fenitoína por via intravenosa ou intramuscular. Devido a denominações com sons e apresentações similares, há risco de ocorrerem erros de prescrições. • Fenobarbital e primidona O mecanismo de ação primário do fenobarbital é a potenciação dos efeitos inibitórios dos neurônios mediados por GABA. A primidona é biotransformada a fenobarbital (principalmente) e feniletilmalonamida, ambos com atividade anticonvulsivante. O fenobarbital é usado principalmente no tratamento do estado epilético quando outros fármacos falham. • Gabapentina A gabapentina é um análogo do GABA. Contudo, ela não atua nos receptores GABA, potencializa as ações do GABA nem se converte em GABA. O mecanismo de ação preciso é desconhecido. Ela é usada no tratamento auxiliar para crises focais e tratamento da neuralgia pós- herpética. A gabapentina apresenta farmacocinética não linear devido à sua captação do intestino por um sistema de transporte saturável. Ela não se liga às proteínas plasmáticas e é excretada inalterada pelos rins. É necessário diminuir sua dosagem em caso de doenças renais. • Lacosamida A lacosamida in vitro afeta canais de sódio disparados por voltagem, resultando na estabilização de membranas neuronais hiperexcitáveis e na inibição de disparos neuronais repetitivos. A lacosamidase liga à proteína 2, mediadora da resposta colapsina (P2MRC), uma fosfoproteína envolvida na diferenciação neuronal e no controle do crescimento axonal. A função da ligação da P2MRC no controle das convulsões é desconhecida. A lacosamida está aprovada para o tratamento auxiliar de convulsões focais. O efeito adverso mais comum que limita o tratamento inclui tonturas, cefaleia e fadiga. • Lamotrigina Bloqueia os canais de sódio, bem como os canais de cálcio alta voltagem-dependentes. A lamotrigina é eficaz em uma variedade de tipos de crises, incluindo focais, generalizadas, de ausência e de Lennox-Gestaut. É também usada para tratar o transtorno bipolar. Ela é biotransformada principalmente ao metabólito 2-N-glicuronídeo pela via da UGT1A4. Como com outras medicações antiepiléticas, os indutores gerais aumentam a depuração da lamotrigina baixando a concentração, enquanto o divalproex resulta em diminuição significativa na depuração de lamotrigina. A dosagem de lamotrigina deve ser reduzida quando se acrescentar valproato ao tratamento. É necessária lenta titulação com a lamotrigina devido ao risco de urticária, que pode evoluir para reação grave, ameaçando a vida. • Levetiracetam É aprovado para o tratamento auxiliar de crises focais, mioclônicas e tônico-clônicas primárias generalizadas em adultos e crianças. O mecanismo exato de ação anticonvulsivante é desconhecido, mas é sabido que o fármaco tem alta afinidade por uma proteína vesicular sináptica (SV2A). O levetiracetam é bem absorvido por via oral e excretado na urina em sua maior parte inalterado, resultando em pouca ou nenhuma interação com fármacos. O levetiracetam pode causar alterações de humor que podem exigir diminuição da dosagem ou alteração do fármaco. • Oxcarbazepina É um pró-fármaco que é rapidamente reduzido ao metabólito 10-monoidróxi (MHD), responsável pela atividade anticonvulsivante. O MHD bloqueia canais de sódio, prevenindo o alastramento das descargas anormais. A modulação dos canais de cálcio também é uma das hipóteses. Está aprovada para uso em adultos e crianças com crises de ataque focal. A oxcarbazepina é indutora menos potente do CYP3A4 e do UGT do que a carbamazepina. O efeito adverso de hiponatremia limita seu uso em idosos. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 • Perampanel É um antagonista ácido α-amino-3-hidroxi-5- metil-4-isoxazolepropiônico seletivo que resulta em atividade excitatória reduzida. Ele tem longa meia- vida, permitindo dosificação única por dia. Está aprovado como tratamento auxiliar de crises de começo focal em pacientes a partir dos 12 anos de idade. Esse fármaco é um antiepilético novo, e apenas dados limitados em pacientes estão disponíveis. • Pregabalina Se liga ao local α2-δ, uma subunidade auxiliar de canais de cálcio disparado por voltagem no SNC, inibindo a liberação do neurotransmissor excitatório. A função exata que isso tem no tratamento é desconhecida, mas o fármaco comprovou eficácia em crises de início focal, neuropatia periférica diabética, neuralgia pós- herpética e fibromialgia. Mais de 90% da pregabalina é eliminada por via renal. Não tem biotransformação significativa e apresenta poucas interações com fármacos. Aumento de massa corporal e edema periférico foram observados. OBS.: são necessários ajustes de dosagens em casos de disfunções renais. • Rufinamida Atua nos canais de sódio, sendo um inibidor fraco da CYP2E1 e um indutor fraco da CYP3A4. Os alimentos aumentam a absorção e o pico de concentração no soro. As concentrações séricas de rufinamida são afetadas por outras medicações antiepiléticas. Como com outras medicações antiepiléticas, ela é induzida pela carbamazepina e pela fenitoína, e inibida quando administrada com valproato. Os efeitos adversos incluem o potencial para diminuição do intervalo QT. OBS.: está aprovada para o tratamento auxiliar de crises associadas com a síndrome de Lennox-Gastaut em crianças com mais de 4 anos e em adultos. • Tiagabina Bloqueia a captação de GABA pelos neurônios pré-sinápticos, permitindo que haja uma maior quantidade de GABA disponível para ligação com o receptor; assim, aumenta a atividade inibitória. É eficaz como tratamento auxiliar nas crises de início parcial. No acompanhamento pós- comercialização ocorreram convulsões em pacientes usando tiagabina que não tinham epilepsia. • Topiramato Tem mecanismos de ação múltiplos. Ele bloqueia os canais de sódio voltagem- dependentes, diminui as correntes de cálcio de alta voltagem (tipo L), inibe a anidrase carbônica e pode atuar em locais do glutamato (NMDA). Ele é eficaz para uso em epilepsias parciais e primárias generalizadas. Também é aprovado no tratamento da enxaqueca. Inibe a CYP2C19 e é induzido por fenitoína e carbamazepina. Os efeitos adversos incluem sonolência, perda de massa corporal e parestesias. Cálculos renais, glaucoma, oligoidrose (sudorese reduzida) e hipertermia também foram registrados. • Vigabatrina Atua como inibidor irreversível da transaminase GABA (GABA- T). A GABA-T é a enzima responsável pela metabolização do GABA. Ela está associada com a perda leve ou moderada do campo visual em 30% dos pacientes ou mais. • Zonisamida É um derivado sulfonamida com amplo espectro de ação. O fármaco tem múltiplos efeitos, incluindo o bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem e das correntes de cálcio do tipo T. Tem atividade anidrase carbônica limitada. A zonisamida está aprovada para pacientes com epilepsia focal. Ela é biotransformada pela isoenzima CYP3A4 e pode, em menor extensão, ser afetado pela CYP3A5 e pela CYP2C19. Além dos efeitos adversos típicos dos antiepilépticos no SNC, a zonisamida pode causar cálculos renais. A zonisamida é contraindicada em pacientes com hipersensibilidade a sulfonamidas ou inibidores da anidrase carbônica. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Farmacologia IV – 2020.2 Estado epilético O estado epilético ameaça a vida e exige tratamento de emergência, consistindo na administração de medicação de ação rápida, como um benzodiazepínico, seguida de uma medicação de ação mais lenta, como a fenitoína. Saúde da mulher e epilepsia Mulheres em idade fértil com epilepsia precisam de avaliação de seus medicamentos antiepiléticos em relação à contracepção e ao planejamento da gravidez. Vários antiepiléticos aumentam a biotransformação dos contraceptivos hormonais com possibilidade de torná-los ineficazes, incluindo fenitoína, fenobarbital, carbamazepina, topiramato, oxcarbazepina, rufinamida e clobazam. Estes fármacos aumentam a biotransformação dos contraceptivos, independentemente do sistema de administração usado. Planejar a gestação é vital, pois vários antiepiléticos têm potencial de afetar o desenvolvimento fetal e causar malformações. Todas as mulheres que consideram a gestação devem receber dosagens elevadas de ácido fólico (1 a 5 mg) antes da concepção. Divalproex e os barbitúricos devem ser evitados. Se possível, as mulheres medicadas com divalproex devem receber outro tratamento antes da gestação e ser informadas sobre o potencial de defeitos genéticos, incluindo anormalidades comportamentais e cognitivas e defeitos de tubo neural. A farmacocinética do medicamento antiepilético e a frequência e a gravidade das crises podem mudar durante a gestação. É importante a paciente ser acompanhada pelo obstetra e pelo neurologista. Referências: WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,2016.
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