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APOSTILA -CRIMINOLOGIA APLICADA A SEGURANÇA PÚBLICA - CASP

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APOSTILA DA DISCIPLINA CRIMINILOGIA APLICADA À 
SEGURANÇA PÚBLICA1 
1. CRIMINOLOGIA 
1.1 Origens e Conceitos 
Criminologia é o nome dado a um ramo do conhecimento que se 
concentra na ação criminosa e seu autor, na respectiva vítima e nas 
possíveis formas de combate ao delito. Segundo o criminólogo Pablos de 
Molina, é um conjunto de conhecimentos que envolvem várias ciências 
como: Sociologia, Psicologia, Psicopatologia, Biologia, Filosofia e 
Antropologia, e que se propõe a estudar cientificamente o fenômeno 
criminal, de forma empírica e interdisciplinar. 
Sua origem remonta ao século XVIII, com o advento do que se 
convencionou denominar "Escola Clássica" da criminologia, através da obra 
de Cesare Beccaria (Dei Delitti e delle Pene) e de outros filósofos, inspirados 
pela doutrina de Rousseau2, principalmente, afirmavam que a origem do 
crime está na sociedade e em seus valores e desvios. A Criminologia clássica 
asseverava que o indivíduo agia livremente, pois detentor de livre arbítrio, 
sendo por isto, inteiramente responsável por seus atos. 
Com o surgimento do método de investigação positivo, o crime passou 
a ser objeto de investigação científica, não como ente abstrato, mas sim, no 
seu aspecto fenomênico, juntamente com o homem delinquente, agora 
centro de investigações das ciências criminológicas. Neste clima, nascia a 
Escola Positiva Italiana e, com ela, a Criminologia científica. 
O delito passava a ser concebido como fato real, natural, não 
derivando seu cometimento de mera contradição imposta pela norma. Sua 
compreensão e o estudo de suas causas eram inseparáveis do delinquente. 
Para o Positivismo criminológico, o estudo do criminoso estava acima do 
próprio exame do ilícito praticado. A Escola Positivista, no campo científico, 
fez premente o estudo do delinquente como possuidor de uma personalidade 
reveladora de maior ou menor periculosidade, e contra o qual se devia dirigir 
uma apropriada defesa social, largamente incentivada pelo uso das medidas 
de segurança, inclusive como substitutas da própria pena. 
Foi na Escola Positivista que a criminologia começou a ser tratada 
como ciência, e isto se deu especialmente em razão do método científico 
 
1 Compilação de textos originalmente escritos por Emerson Santigo; Henrique Hoffman e 
Eduardo Fontes; Jorge da Silva; e André Corrêa. 
2 Jean-Jacques Rousseau, foi um importante filósofo, teórico político e escritor. É considerado 
um dos principais filósofos do iluminismo. (Genebra, 28.06.1712 — Ermenonville, 2.07.1778). 
utilizado nas experiências do médico italiano Cesare Lombroso, que escreveu 
a obra considerada o marco científico da criminologia positivista "L´uomo 
Deliquente", de 1876, destacando a figura do delinquente nato, ressaltando 
a condição genética do criminoso, que é imediatamente identificado por 
defeitos ou inadequações físicas. Na raiz de seu pensamento repousam 
conceitos tomados da psiquiatria (então novidade na época), do Darwinismo 
Social e Eugenia. Resumindo, tratava-se de eliminar o gene criminoso, e 
então, livrar-se-ia a sociedade do crime, numa simples ligação entre causa e 
efeito: eliminando-se a causa (a espécie propensa ao crime), eliminar-se-ia 
o fenômeno (o crime). 
Desenvolvia-se, assim, a antropologia criminal, mais tarde 
denominada Criminologia, muito embora o termo tenha sido empregado pela 
primeira vez na obra de Rafaele Garofalo, em 1885, também de orientação 
positivista, que preconizava que o indivíduo agia por impulso determinado 
pela sua compleição anormal, não constituindo o seu agir em manifestação 
livre de sua vontade. 
Trazendo um diferente ponto de vista às duas correntes conflitantes da 
criminologia, temos a ascensão de uma terceira corrente criminológica, a 
chamada "Escola Sociológica", surgida no final do século XIX. Nela, dava-se 
ênfase às condições sociais do criminoso, cruciais para sua formação. 
Fatores como a vida em guetos, verdadeiros geradores de subculturas 
alheias aos valores da sociedade formal, ou então, o baixo nível educacional, 
ou ainda as condições econômicas precárias, e mesmo o alto consumo de 
álcool eram o estopim ideal na modelagem do criminoso. 
Atualmente, as discussões da criminologia pairam sob as condições 
biopsicossociais do criminoso, envolvendo um pouco das três escolas. Nesta 
fase, a criminologia aproxima-se da endocrinologia, associando a produção 
do hormônio testosterona ao comportamento agressivo, aliando-o a 
transtornos da violência urbana, bem como as dificuldades sociais e 
econômicas. 
1.2 Principais Correntes Criminológicas (Escolas) 
a) Escola Clássica: tinha como valores principais o livre arbítrio, vale 
dizer, o dogma da liberdade de escolha, quando o delito é visto como pecado 
e o criminoso é comparado a um pecador, ele erra porque escolhe errar; 
b) Escola Positivista: priorizava os fatores endógenos (biológicos), 
na linha de Cesare Lombroso, e exógenos (socio-ambientais), na linha de 
Enrico Ferri, suas causas e efeitos. O crime é visto como uma patologia 
intolerável e os criminosos como indivíduos diferentes dos “normais”; 
c) Escola Sociológica: da ênfase às condições sociais do criminoso, 
cruciais para sua formação, relacionados ao ambiente, ao nível educacional, 
às condições econômicas e ao consumo de álcool; 
d) Escola Correcionalista: enfatiza teorias relativas da pena, a qual 
teria como função principal a correção ou melhora do indivíduo para que ele 
não venha a reincidir na prática de condutas criminosas. A pena é um 
instrumento útil a determinado fim, qual seja o de fazer cessar no agente o 
impulso motivador de sua conduta reprovável e torná-lo apto ao convívio 
social. Nesta escola o criminoso é visto como um ser inferior e incapaz de se 
autodeterminar, a merecer do Estado resposta pedagógica e piedosa; 
e) Escola Marxista: interessada em explicar o crime a partir das 
relações de produção e das diferenças de classe. O crime estaria ligado à 
exploração, a uma estrutura socioeconômica injusta. A injustiça social é que 
produziria os criminosos. Aqui também o criminoso não deixaria de ser uma 
vítima da sociedade e das estruturas econômicas (determinismo social e 
econômico). Essa visão se desenvolveu a partir dos escritos do economista, 
filósofo e teórico político alemão Karl Marx (1818-1883), e seus conceitos 
convergiram na chamada criminologia crítica; 
f) Escola Crítica ou Nova Criminologia: Também toma o crime 
como um fato social e é baseada na teoria do etiquetamento, movimento 
científico caracterizado não pelo estudo das características do criminoso ou o 
que leva a delinquir, mas pelo foco nas estruturas de poder e no sistema em 
si, nos órgãos de controle responsáveis pela produção normativa e por sua 
aplicação. O funcionamento do sistema penal pode, no limite, constituir-se 
em fator de aumento da criminalidade e da violência, justo o oposto daquilo 
que o mesmo, em teoria, tem como objetivo; 
g) Escola Radical: corrente de pensamento vinculada a classe 
trabalhadora, enfatizava as questões de classe, as relações de poder, o 
universo político e as desigualdades. Essa corrente discutiu a repressão na 
sociedade capitalista e as ideologias hegemônicas que mascaravam a 
natureza “real” do crime; 
h) Escola Moderna ou Contemporânea: baseada nos estudos 
pioneiros de Émile Durkheim, a criminalidade e a violência são vistas como 
fenômenos sociopolíticos, históricos e culturais, ou seja, como “fatos 
sociais”, e não necessariamente como uma patologia social. O crime é 
inerente à convivência social e o criminoso é visto como homem normal que 
viola a lei penal por razões diversas que merecem ser investigadas e nem 
sempre são compreendidas; 
i) Escola de Chicago: aborda estudos em antropologia, seu foco de 
análise principal é o meio urbano, relacionados ao surgimento de favelas, a 
proliferação do crime e da violência, ao aumento populacional, tão 
marcantesno início do século XX. É precursora da teoria Broken Windows, 
que origina a ideia da “tolerância zero”. 
No âmbito da ciência criminológica, o delinquente é visto, hoje, como 
uma pessoa que possui características comuns à maioria da comunidade na 
qual se insere. É um ser humano do seu tempo, ou seja, influenciado tanto 
por sua herança genética, como pelo seu entorno. É plenamente suscetível a 
um incessante e dinâmico processo de interação com os outros indivíduos e 
o próprio meio em que vive. É, em suma, um ser perfectível, sempre em 
evolução, que almeja um futuro e pode ultrapassar seus condicionamentos. 
Sabendo que o ser humano não é apenas um ser biológico, reveste-se de 
importância o conhecimento de sua história, cultura e experiências, pessoais 
e coletivas. A Criminologia reúne estes conhecimentos variados objetivando 
subsidiar dados para uma intervenção positiva no âmbito da segurança 
pública. 
2. CRIMINOLOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA 
2.1 Importância da criminologia para a Segurança Pública 
A criminologia é essencial para todos os profissionais envolvidos no 
sistema judiciário, penitenciário, penal e demais órgãos responsáveis pela 
reinserção social dos indivíduos punidos pela esfera da lei. Esses 
profissionais devem compreender a criminalidade de maneira diferenciada, 
permitindo assim fazer um julgamento coerente sobre as punições previstas 
e políticas públicas mais adequadas em determinado contexto criminológico. 
O mapeamento das zonas com maiores incidências de crimes é uma 
das análises importantes que a criminologia oferece a todas as esferas 
envolvidas na questão da segurança pública. O caráter estatístico da região 
fornece subsídios para diversos planejamentos que visem diminuir as taxas 
de crimes em áreas críticas, seja pelo aumento do policiamento ostensivo, 
aumento da corporação, melhora da iluminação ou até mesmo o 
desenvolvimento de projetos sociais que reduzam o número de jovens que 
ingressam no crime. 
O desmembramento dos crimes incidentes sobre determinada região 
auxilia também em políticas preventivas à prática criminosa, a criação de 
oficinas de artesanato, projetos de dança e música, oficinas 
profissionalizantes e bolsas-auxílios que ajudem na diminuição da 
vulnerabilidade social, são importantes políticas preventivas ao 
desenvolvimento do comportamento criminoso, em especial nas crianças e 
adolescentes. 
A criminologia aplicada à segurança pública é a maneira mais coerente 
e eficiente na construção de políticas mais adequadas ao cenário 
criminológico de determinada região. Esse planejamento ajuda em especial 
secretarias com orçamentos reduzidos, uma vez que os projetos são 
desenvolvidos sempre com um foco específico, reduzindo gastos 
desnecessários com áreas sem necessidade iminente. 
O estudo da Criminologia faz-se necessário principalmente por buscar 
abranger a totalidade do sistema de aplicação da justiça penal, 
nomeadamente as instâncias formais (a lei penal, a Polícia, o Ministério 
Público, Poder Judiciário, Administração Penitenciária e os órgãos de 
reinserção social) e informais (família, escola, associações privadas de ajuda 
social) de controle da delinquência. 
No processo rotineiro de investigação criminal, as práticas dos policiais 
geralmente estão orientadas apenas na observação (seja ela prática ou 
empírica), o que leva muitas das vezes a uma tomada de decisões que 
produzem resultados duvidosos ou ineficazes. Ou seja, não há a aplicação de 
um conhecimento (teoria) específico, que possa fundamentar a metodologia 
utilizada na investigação policial. 
Hoje, a Criminologia ostenta rigoroso caráter científico e é definida 
como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, 
da pessoa do infrator, da vítima e do controle social, e que trata de 
subministrar uma informação válida sobre a gênese, dinâmica e variáveis 
principais do crime – contemplado este como problema individual e como 
problema social –, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do 
mesmo e técnicas de intervenção positiva relacionadas ao delinquente e aos 
diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito. São estudos que em 
muito interessam ao campo da segurança pública, compensando o 
desmedido biologismo positivista que lhe deu origem, interessando-lhe mais 
prevenir eficazmente o delito, substituindo conceitos meramente repressivos 
ou então de “tratamento”, pelo de “intervenção”, em consonância com o 
substrato real, individual e comunitário do fenômeno delitivo. 
O indivíduo não é um ser solitário com sua liberdade (como pensavam 
os clássicos, defensores da tese do livre arbítrio), nem um prisioneiro do seu 
código genético, nem mesmo um inválido ou vítima da sociedade, mas sim 
um ente em constante processo de interação consigo mesmo e com o meio 
que o cerca. 
Quanto à vítima, historicamente foi colocada em segundo plano, tendo 
em vista que o objetivo principal da persecução penal era a punição do 
criminoso. Com o avanço dos estudos criminológicos, a vítima também 
adquiriu um papel relevante e passou a ter papel de destaque através da 
vitimologia, ramo da criminologia que estuda o comportamento da vítima, 
buscando entender a “real” função que esta desempenha no decorrer do 
delito. Os estudos sobre vítima ganham destaque após a 2ª Guerra Mundial, 
em decorrência das atrocidades praticadas naquele evento. 
A vítima tem papel importante pois influencia no fato delituoso, toma 
atitudes que a colocam como potencial sujeito passivo e possui 
características pessoais (cor, sexo, condição social) relevantes. Este enfoque 
carrega uma imagem mais real e dinâmica da vítima, de seu 
comportamento, de suas relações com os demais protagonistas do delito, e 
da correlação das forças que convergem para o acontecimento criminal, 
desse modo, é possível prevenir que a mesma figure como sujeito passivo 
nas infrações penais. 
Por fim, vale mencionar que controle social é o conjunto de instituições 
e sanções da sociedade para submeter os indivíduos às normas de 
convivência em comunidade. Esse conhecimento é fundamental para 
entender o papel da polícia no fenômeno criminal. 
Fácil perceber que a criminologia hodiernamente constitui-se em 
ciência indispensável para a boa atuação da polícia e dos demais órgãos de 
persecução penal. Evidentemente o policial, na tomada de suas decisões, 
não pode abrir mão da aplicação das ciências jurídicas (principalmente o 
Direito Penal, Processual Penal, Constitucional e Administrativo), que 
continuam sendo o substrato imediato de conhecimento a incidir no caso 
concreto. 
Sobre a importância do estudo do controle social pela Criminologia há 
que se verificar vários meios ou sistemas normativos, com distintas 
estratégias e modalidades de penas. A prevenção eficaz do crime não deve 
limitar-se tão somente ao aperfeiçoamento dos mecanismos de controle, 
mas, também, da melhor integração das instâncias de controle social formal 
e informal. 
Conhecer as premissas e métodos da criminologia como ciência apura 
a visão crítica e científica daquele que se propõe a analisar o problema da 
delinquência. De maneira geral, as pessoas que desconhecem a criminologia 
são facilmente influenciadas por informações equivocadas, divulgadas 
torrencialmente todos os dias na mídia e nas redes sociais. Assim, essa 
parcela leiga da população aceita e reproduz comentários fundados em 
teorias e conceitos não científicos, que anuviam sua percepção a respeito 
das causas reais do fenômeno delitivo, e que permitem a manipulação da 
opinião popular para aprovação de medidas meramente paliativas, que nada 
fazem para atingir o cerne do problema. Portanto, estudar criminologia, 
além de importante, é extremamente necessário. 
O incremento da complexidade dos fenômenos criminais, como o 
aumento da violência urbana e o crescimento gradativo da população 
carcerária e docaos dos estabelecimentos penais, são motivos significativos 
para a ascensão da criminologia, ciência que pode fornecer respostas mais 
pormenorizadas a esses problemas. 
O estudo da criminologia ganha relevo porque é ela quem deve 
analisar quais são os fatores que culminaram no cenário atual. É a ciência 
que possui as ferramentas e saberes para examinar o fenômeno 
criminológico que ocorre na sociedade. Não incumbe à criminologia punir o 
transgressor (tarefa do Direito Penal), muito menos definir qual é o 
procedimento de persecução penal durante a investigação ou o processo 
(missão do Direito Processual Penal). 
Sua finalidade, de índole diagnóstica e profilática, é buscar entender o 
contexto da prática delituosa, analisando o modelo social de justiça criminal, 
a pessoa do delinquente, a vítima, o controle social e até mesmo o reflexo 
da lei penal na sociedade. 
A criminologia entende o fenômeno criminal como problema não 
meramente individual, mas também social. Estuda a questão criminal sob o 
ponto de vista biopsicossocial (métodos biológicos e sociológicos), 
investigando as causas do crime, a personalidade do delinquente, a 
vitimização e as formas de prevenção e ressocialização no contexto do 
controle social. 
A criminologia busca reunir conhecimentos sobre o crime, o criminoso, 
a vítima e o controle social para compreender cientificamente o fenômeno 
criminal, para assim possibilitar que o crime possa ser prevenido e reprimido 
com eficiência (intervenção no delinquente) e que os diferentes modelos de 
resposta ao fenômeno criminal possam ser valorados. 
Destarte, a criminologia deve orientar a política criminal possibilitando 
a prevenção de crimes, e influenciar o Direito Penal na repressão das 
condutas indesejadas que não foram evitadas. Essa ciência busca adotar 
programas de prevenção eficaz do comportamento delitivo, técnicas de 
intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos sistemas de 
resposta ao delito. 
Na visão da criminologia, o crime é um fenômeno social, o qual exige 
uma percepção apurada para que seja compreendido em seus diversos 
sentidos. Para a criminologia, somente se pode falar em delito se a conduta 
preencher os seguintes elementos constitutivos: 
a) incidência massiva na população: reiteração na sociedade; 
b) incidência aflitiva: produção de dor à vítima e à sociedade; 
c) persistência espaço-temporal: prática ao longo do território por um 
período de tempo relevante; 
d) consenso sobre sua etiologia e técnicas de intervenção: 
concordância sobre suas causas e métodos de enfrentamento. 
O reconhecimento de que a criminalidade é um fenômeno inerente à 
convivência em sociedade é crucial para que as autoridades e os operadores 
do sistema dimensionem de forma adequada as possibilidades e os limites 
da polícia. Caso contrário, sobretudo em se tratando dos policiais, estarão 
permanentemente frustrados e atribuindo-se “culpa” diante da continuidade 
do crime e da violência, assumindo postura negativa diante do próprio 
trabalho. 
Daí a adotar procedimentos condenáveis é um passo. No campo 
político, a abordagem do crime como fenômeno social permitirá o embate 
entre as forças que defendem a ordem estabelecida e as que defendem a 
mudança da ordem, incluída a ordem jurídica. 
Isto posto, deve ficar claro que: 
(a) definir o que seja crime, ou melhor, tipificar condutas como tal 
numa sociedade é função do direito; 
(b) a resposta a crimes específicos que tenham sido consumados ou 
tentados é função do aparelho policial-penal; 
(c) a “reação ao crime” como questão social não é função exclusiva do 
direito, muito menos do direito penal, e não pode circunscrever-se à reação 
policial-penal. 
A compreensão da dinâmica que, em dado momento e em dado lugar, 
condiciona a manifestação da criminalidade, e a análise da atitude dos 
cidadãos, das comunidades, dos agentes do crime, das vítimas, da mídia, do 
poder público e do próprio sistema policial-penal permitirão aos estudiosos 
propor mudanças no sistema jurídico mais racionais e conceber políticas 
para a área de segurança pública menos inconsequentes. Neste ponto 
evidencia-se a importância dos estudos criminológicos críticos, pois estes 
procuram conhecer o crime e a violência em todas as suas dimensões, por 
um lado, e democratizar o sistema, por outro. 
Esta observação é importante porque as correntes criminológicas 
tradicionais, deixaram marcas indeléveis nos campos jurídico e médico. 
Embora tenham perdido força, ainda hoje se ouve falar em criminoso por 
tendência, em criminoso nato, em traços fisionômicos supostamente 
característicos de criminosos, em raças propensas ao crime, em valores 
negativos atados à condição de pobreza etc. Tais ideologias impregnaram o 
sistema policial-penal de tal forma que não é difícil ainda hoje encontrar 
operadores do sistema articulando essas ideias como se ainda fossem 
válidas. 
Em suma, a Criminologia Aplicada à Segurança Pública; deve ser uma 
criminologia também crítica, tendo em mente o propósito de: 
a) produzir conhecimento de cunho científico e técnico para dar 
suporte à elaboração e execução das políticas públicas na área da 
segurança, com vistas a adequar os meios empregados aos fins perseguidos 
em conjunto pelo poder público e a comunidade, destinatária dos serviços; 
b) possibilitar uma visão o mais abrangente possível da segurança 
pública por parte de governantes, autoridades e operadores do sistema, 
para além dos limites da lei penal e do emprego da força; 
c) direcionar as ações dos policiais e demais operadores do sistema 
para objetivos que atendam às expectativas do público em geral, e não 
somente para cumprir objetivos corporativos e partidários, ou para atender 
a interesses particularistas de segmentos sociais específicos. 
É necessário fazer uma escolha quanto ao caminho que se pretende 
seguir: se, por exemplo, o de uma criminologia baseada em determinismos 
biológicos, psicológicos e sociais, ou o de uma criminologia calcada em 
cânones democráticos, que veja a segurança como um bem do interesse da 
coletividade, e aborde o sistema de segurança na linha do pensamento da 
chamada criminologia crítica. Trata-se de uma criminologia cuja 
característica é manter-se aberta ao diálogo, em contraposição a outras 
criminologias “fechadas”. 
2.2 Racionalidade na Segurança Pública 
Se considerarmos exclusivamente a perspectiva técnico-jurídica, a qual 
se preocupa em tipificar as condutas em abstrato de forma isolada a cada 
caso, crime é definido como uma ação típica, antijurídica, culpável e punível. 
Essa perspectiva, no entanto, tem dificuldade de ver o crime no atacado, ou 
seja, como fenômeno inerente à convivência social, sendo a resposta 
insuficiente para a compreensão do que seja crime do ponto de vista sócio-
político-histórico-cultural. Se a visão técnico-jurídica do crime pode, até 
certo ponto, ser considerada suficiente para o trabalho de juízes, 
promotores, delegados de polícia, advogados criminais, defensores públicos 
e autoridades carcerárias, não se pode dizer o mesmo quando se está 
falando de operadores da polícia urbana, ostensiva (no nosso caso, a Polícia 
Militar), encarregada de garantir a ordem e a tranquilidade públicas em 
sentido lato, empenhando-se, com sua presença, em evitar que os crimes 
ocorram e em mediar conflitos no espaço público. 
Assim, caso o operador da polícia ostensiva se oriente unicamente pela 
lógica penal, estaremos diante de um problema, o de que ele tem uma visão 
estreita do seu papel, pensando só nos criminosos, e não na proteção que 
deve aos cidadãos em geral, tendendo a vê-los sempre como suspeitos. Pior 
se esta visão for compartilhada pelo poder político, pois o papel deste é, 
muito mais que encarar o crime como um problema policial-penal, tê-lo 
como um fenômeno social cuja solução comporta muitas frentes, para além 
das ações dopoder público. 
O reconhecimento de que a criminalidade é um fenômeno inerente à 
convivência em sociedade é crucial para que as autoridades e os operadores 
do sistema dimensionem de forma adequada as possibilidades e os limites 
da polícia. Caso contrário, sobretudo em se tratando dos policiais, estarão 
permanentemente frustrados e atribuindo-se “culpa” diante da continuidade 
do crime e da violência, assumindo postura negativa diante do próprio 
trabalho. 
Daí a adotar procedimentos condenáveis é um passo. No campo 
político, a abordagem do crime como fenômeno social permitirá o embate 
entre as forças que defendem a ordem estabelecida e as que defendem a 
mudança da ordem, incluída a ordem jurídica. 
Isto posto, deve ficar claro que: 
(a) definir o que seja crime, ou melhor, tipificar condutas como tal 
numa sociedade é função do direito; 
(b) a resposta a crimes específicos que tenham sido consumados ou 
tentados é função do aparelho policial-penal; 
(c) a “reação ao crime” como questão social não é função exclusiva do 
direito, muito menos do direito penal, e não pode circunscrever-se à reação 
policial-penal. 
A compreensão da dinâmica que, em dado momento e em dado lugar, 
condiciona a manifestação da criminalidade, e a análise da atitude dos 
cidadãos, das comunidades, dos agentes do crime, das vítimas, da mídia, do 
poder público e do próprio sistema policial-penal permitirão aos estudiosos 
propor mudanças no sistema jurídico mais racionais e conceber políticas 
para a área de segurança pública menos inconsequentes. Neste ponto 
evidencia-se a importância dos estudos criminológicos críticos, pois estes 
procuram conhecer o crime e a violência em todas as suas dimensões, por 
um lado, e democratizar o sistema, por outro. 
Esta observação é importante porque as correntes criminológicas 
tradicionais, sobretudo as de cunho biologicista, deixaram marcas indeléveis 
nos campos jurídico e médico. Embora tenham perdido força, ainda hoje se 
ouve falar em criminoso por tendência, em criminoso nato, em traços 
fisionômicos supostamente característicos de criminosos, em raças 
propensas ao crime, em valores negativos atados à condição de pobreza etc. 
Tais ideologias impregnaram o sistema policial-penal de tal forma que não é 
difícil ainda hoje encontrar operadores do sistema articulando essas idéias 
como se ainda fossem válidas. 
Mesmo em se tratando da Criminologia Contemporânea, em boa 
medida liberta desses e de outros determinismos, não basta tomá-la em si 
mesma, abstratamente, sem relacioná-la ao contexto, ao momento e aos 
incontáveis fatores que envolvem a questão, principalmente no que se refere 
às práticas do sistema. E aí estaremos falando em questionar essas práticas; 
na necessidade de se buscar permanentemente o aprofundamento do 
igualitarismo penal, com a aplicação dos princípios da Criminologia Crítica. 
Em suma, estamos falando de Criminologia Aplicada à Segurança 
Pública; de uma criminologia também crítica, tendo em mente o propósito 
de: 
(a) produzir conhecimento de cunho científico e técnico para dar 
suporte à elaboração e execução das políticas públicas na área da 
segurança, com vistas a adequar os meios empregados aos fins perseguidos 
em conjunto pelo poder público e a comunidade, destinatária dos serviços; 
(b) possibilitar uma visão o mais abrangente possível da segurança 
pública por parte de governantes, autoridades e operadores do sistema, 
para além dos limites da lei penal e do emprego da força; 
(c) direcionar as ações dos policiais e demais operadores do sistema 
para objetivos que atendam às expectativas do público em geral, e não 
somente para cumprir objetivos corporativos e partidários, ou para atender 
a interesses particularistas de segmentos sociais específicos. 
 
 
 
 
3. CRIMINALIDADE E PREVENÇÃO 
3.1 Controle Social 
Busca se estudar e compreender os meios de controle da criminalidade, por 
meio da prevenção de comportamentos desviantes e a punição, quando do resultado 
da falha do primeiro. É o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que 
pretendem promover e garantir a submissão do indivíduo aos modelos e normas 
comunitários. 
O controle social pode ser informal e formal: 
a) Controle social informal: mecanismos de controle casuais. É 
exercido de forma difusa pela sociedade, através da família, escola, 
associações, igreja, opinião pública, etc. Em regra, o processo de 
socialização do indivíduo se dá nos meios informais. 
b) Controle social formal: mecanismos de controle oficiais, oriundos 
do Estado. É a própria atuação do aparelho político do Estado (polícia, a 
justiça, a Administração Penitenciária, o Ministério Público, o Exército dentre 
outros). Os agentes do Estado atuam de forma subsidiária e coercitiva, 
quando o controle informal falhou e não foi capaz de evitar o crime. Desse 
modo, a efetividade do controle formal é bem menor em relação ao controle 
informal. 
 
BIBLIOGRAFIA: 
ALVES, Roque de Brito. Criminologia. Ed. Forense, Rio de Janeiro. 1986. 
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CARVALHO, Salo. Antimanual de Criminologia. Ed. Lúmen Júris, Rio de Janeiro. 2008. 
CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da reação social. Rio de Janeiro: Forense, 1983. 
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GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio Garcia-Pablos de. Criminologia. São Paulo: Revista 
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PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. São Paulo: 
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https://sites.google.com/site/arytjrfylosofia/minhas-notas 
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/21822/criminologia-critica-e-seu-conceito 
 
 
O CRIME E A VIOLÊNCIA NO BRASIL: UM BREVE CONTEXTO
FATOS RELACIONADOS À VIOLÊNCIA
FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O AUMENTO DA VIOLÊNCIA NO BRASIL
A VIOLÊNCIA COMO OBJETO DE ESTUDO
OBJETIVOS DAS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO:
Justiça
Há evidências de que certas ações (estratégicas e táticas), desde que bem definidas, 
podem produzir resultados positivos no controle da violência e do crime. Entre elas se 
encontram:
AÇÕES PARA CONTROLE DA VIOLÊNCIA (ESTRATÉGICAS E TÁTICAS)
APOSTILA DA DISCIPLINA CRIMINILOGIA APLICADA À SEGURANÇA 
PÚBLICA1 
1. O CRIME E A VIOLÊNCIA NO BRASIL: UM BREVE CONTEXTO 
O Brasil, nos últimos anos, passou a estar associado, tanto no âmbito 
interno quanto internacionalmente, ao fenômeno do crime e da violência. Tal 
situação fica pautada pelos conteúdos da mídia nacional e estrangeira, onde 
são regularmente veiculadas matérias que mostram rebeliões de presos, 
conflitos entre a polícia e movimentos sociais, sequestros,dentre outros. 
As estatísticas da violência e da criminalidade também mostram que a 
situação merece ser analisada de forma séria e responsável, para que as 
políticas públicas possam ser efetivas. 
2. FATOS RELACIONADOS À VIOLÊNCIA 
A violência é um fenômeno complexo, que não tem causa única, mas sim 
uma multiplicidade de fatores. 
Medidas e ações de enfrentamento da violência representam um verdadeiro 
desafio para o mundo contemporâneo, pois a violência produz impactos 
adversos multidimensionais, incluindo aspectos de ordem econômica, política 
e social. 
Sendo assim, faz-se necessário que qualquer medida ou ação que venha 
a ser planejada possa a considerar: os fatores que promovem a violência, os 
chamados fatores de risco; os fatores que inibem sua manifestação, os 
chamados fatores de proteção e a relação existente entre eles e o grau de 
incidência e efeitos negativos de crimes e violência. 
3. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O AUMENTO DA VIOLÊNCIA NO 
BRASIL 
a) Fatores socioeconômicos - oriundos das desigualdades sociais, da 
falta de oportunidade e de aspectos relacionados a ampliação da 
vulnerabilidade social; 
b) Fatores institucionais - relacionadas a insuficiência do Estado, crise do 
modelo familiar, recuo do poder da igreja; 
c) Fatores culturais - problemas de origem histórica, conflitos étnicos e 
desordem moral; 
d) Demografia urbana - crescimento das taxas de natalidade e, 
principalmente, a expansão urbana súbita e desordenada, o que 
favoreceu o aparecimento de grandes aglomerados urbanos; 
 
1 Compilação do conteúdo dos módulos do Curso “Violência, Criminalidade e Prevenção”, promovido 
pela SENASP na modalidade EaD. 
e) O poder da mídia - ênfase em notícias sobre crimes violentos que 
acabam por influenciar a percepção do cidadão sobre o fenômeno; 
f) A globalização mundial – a diminuição e contestação a noção de 
fronteira e a capilaridade do crime organizado (narcotráfico, posse e 
uso de armas de fogo, guerra entre gangues). 
4. VARIÁVEIS TIPOLÓGICAS DA VIOLÊNCIA 
A violência pode ser caracterizada de acordo com diferentes variáveis: 
• Quanto ao tipo de vítima: crianças, mulheres, idosos, deficientes 
físicos, etc.; 
• Quanto ao tipo de agente: gangues, jovens, narcotraficantes, 
multidões, policiais, etc.; 
• Quanto à natureza da ação violenta empreendida: física, psicológica, 
sexual, etc.; 
• Quanto a motivação, no caso da ação ser instrumental para algum 
propósito último: violência política, econômica, social, étnica, racial 
etc.; 
• Quanto ao tipo geral de local de ocorrência da violência: urbana ou 
rural; 
• Quanto a relação entre a vítima e o agente da violência: violência 
familiar, violência entre conhecidos, violência entre desconhecidos, 
etc. 
5. A VIOLÊNCIA COMO OBJETO DE ESTUDO 
Mesmo que a mídia favoreça uma imagem distorcida da violência, o 
fenômeno existe e para melhor compreendê-lo é necessário analisar as 
contribuições de alguns campos de conhecimento que utilizam a violência 
como objeto de estudo. Dentre eles: a biologia, epidemiologia, a ciência 
política, criminologia, economia, etiologia, psicologia, sociologia, bem como 
atualmente, da neurociência. 
Os estudos destas áreas têm favorecido para que a violência seja 
entendida como um fenômeno multidisciplinar, modificando o foco das 
políticas públicas e de enfrentamento do problema, ou seja, intensificando 
ações preventivas ao invés de repressivas, valorizando o investimento em 
ações educativas ao invés de punitivas. 
Crime - transgressão imputável da lei penal, por dolo ou culpa, ação ou 
omissão. (Houaiss2) 
 
2 Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Elaborado pelo lexicógrafo brasileiro Antônio 
Houaiss. A primeira edição foi lançada em 2001, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Antônio Houaiss. 
Violência - uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, 
contra outra pessoa ou contra si próprio ou contra outro grupo de pessoas, 
que resulte ou tenha grande possibilidade em resultar em lesão, morte, 
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento, ou privação (Organização 
Mundial da Saúde - OMS). 
Prevenção do crime e da violência - resultado de políticas, programas 
e/ou ações de redução do crime e da violência e/ou seu impacto sobre os 
indivíduos e a sociedade, atuando sobre os fatores de risco e os fatores de 
proteção que afetam a incidência do crime e da violência e seu impacto 
sobre os indivíduos, famílias, grupos e comunidades, e sobre a 
vulnerabilidade e a resiliência dos indivíduos, famílias, grupos e 
comunidades diante do crime e da violência. 
6. PREVENÇÃO E CONTROLE: PROPOSTAS DE AÇÃO 
Como fenômeno multidisciplinar a violência recebe contribuições de 
diversos campos de conhecimento, o que vem contribuindo para uma melhor 
compreensão dos fatores de risco e a necessidade de que os fatores de 
proteção envolvam diferentes forças governamentais e sociais. 
Não há, entretanto, soluções previamente estabelecidas para a 
prevenção da violência. Há sim, uma boa quantidade de proposta de ação 
com diferentes abordagens teóricas que podem ser divididas em dois 
grandes grupos: os que propugnam pela prevenção da violência e os que 
defendem a abordagem do controle da violência. Ao primeiro caso, o da 
prevenção, a epidemiologia e o enfoque de saúde pública têm proporcionado 
metodologias antes vistas como aplicáveis apenas ao campo da saúde 
propriamente dito. Ao segundo, o do controle, a criminologia e os estudos 
jurídicos tem oferecido considerável suporte de conhecimento. 
A busca de soluções para a questão dos crimes violentos tem colocado a 
prevenção e o controle em posições opostas. A prevenção, por exemplo, 
busca a solução na correção de distorções sociais, tais como a diminuição da 
pobreza, a melhoria da educação e da melhor distribuição de renda. Essas 
são conhecidas como “soluções brandas”. Por outro lado, as “soluções duras” 
para os crimes violentos, proposta pelos defensores das medidas de 
controle, apontam o estabelecimento de maior quantidade e disponibilidade 
de recursos policiais, bem como no aumento das prisões e disponibilidade de 
vagas no sistema prisional, com o caminho a ser seguido. 
É preciso ter em conta, entretanto, que ambos, prevenção e controle, 
fazem parte de um contínuo em que o castigo efetivo, classificado como uma 
”solução dura” por natureza, pode ser um eficaz fator dissuasório do crime 
e, portanto, um mecanismo de prevenção contra alguns tipos de conduta 
violenta. Assim, de acordo com os especialistas na matéria, as ações de 
prevenção não devem ser definidas de acordo com as soluções que 
produzem e sim, pelos seus efeitos observáveis nas condutas futuras. 
7. PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E DA CRIMINALIDADE 
Chama-se de monitoração ou vigilância epidemiológica a coleta, análise e 
interpretação sistemática de dados para sua utilização no planejamento, 
execução e avaliação de políticas públicas e de programas contra a violência 
e a criminalidade. 
Segunda visão do Banco Interamericano de Desenvolvimento3 (BID), ela se 
compõe de quatro etapas: 
a) Definição do problema e coletada de dados confiáveis; 
b) Identificação das causas e fatores de risco; 
c) Desenvolvimento e teste das intervenções; 
d) Análise e avaliação da efetividade das ações preventivas contra 
violência. 
8. ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO 
Uma das regras mais importantes da prevenção é que quanto mais cedo 
se atuar na vida de um indivíduo evitando desenvolvimento de condutas 
violentas, mais efetiva será ação preventiva. Em decorrência, as estratégias 
de prevenção devem estar orientadas previamente a redução dos fatores de 
risco de violência e/ou criminalidade ou aumento dos fatores de proteção 
contra violência e/ou a criminalidade. 
9. OBJETIVO DAS ESTRATÉGIAS DE PREVEÇÃO 
a) Modificar fatores estruturais ou proximais; 
b) Modificar fatores sociais ou situacionais; 
c) Modificar fatores específicos de riscose/ou proteção (programas 
pontuais) ou modificar um conjunto de fatores (programas integrais); 
d) Alcançar toda a população (prevenção primária), grupo de alto risco 
(prevenção secundária), agente violento e/ou sua vítima (prevenção 
terciária). 
10. PREVENÇÃO ESTRUTURAL 
Redução da pobreza e da desigualdade, por exemplo, são duas medidas 
estruturais de longo prazo que, alterar as relações incentivos de mercado de 
trabalho, bem como o acesso a este, tendem a reduzir a privação e a 
 
3 O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é uma organização financeira internacional com 
sede nos Estados Unidos, criada e 1959 com o propósito de financiar projetos de desenvolvimento 
econômico, social e institucional e promover a integração comercial na área da América Latina e Caribe. 
frustração e, por consequência, a probabilidade de condutas violentas e/ou 
criminosas futuras. 
É fundamental o aumento das oportunidades econômicas para jovens em 
situação de pobreza que se constituem, na maioria, das vítimas e nos 
agentes da violência social e da criminalidade, assim como também é 
importante a atenção e desenvolvimento de medidas destinadas a prevenção 
à violência doméstica a qual tem sido o fator responsável por significativa 
redução na oportunidade de trabalho e diminuição na produtividade das 
mulheres. 
11. PREVENÇÃO PROXIMAL OU IMEDIATA 
São ações de prevenção imediata, aquelas dirigidas alterar o curso de 
eventos contingente que produzem ou instigam a violência e/ou a 
criminalidade. Dentre eles estão, por exemplo, o fácil acesso a arma de 
fogo, álcool e drogas. 
12. PREVENÇÃO SOCIAL 
Esse tipo de prevenção tem por base o desenvolvimento social. Atua 
sobre grupos de alto risco aumentando a probabilidade de que deixem de 
ser vítimas ou agentes da violência e/ou criminalidade. As atividades de 
prevenção nesse campo englobam uma ampla gama de ações dos mais 
diferentes matizes. A que podem ser incluídas, por exemplo, a tensão pré e 
pós-natal a mães em situação de pobreza de alto risco; programas 
educacionais infantis; programa de incentivo ao término dos estudos 
secundários para jovens pobres e/ou em situação de risco; programas de 
treinamentos em resolução pacífica de conflitos para grupos e comunidades 
em situação de risco. 
13. PREVENÇÃO SITUACIONAL 
A prevenção situacional reduz a probabilidade de alguém ser vítima 
potencial da violência e/ou crime, através da redução na oportunidade, 
tornando a possibilidade de ocorrência do crime mais difícil, mais arriscada e 
menos vantajosa ou lucrativo para o criminoso. Dentre as ações de 
prevenção situacional encontram-se a implantação de obstáculos físicos, 
controle de acesso a instalações ou locais, sistema de vigilância e 
monitoramento que inibam a execução de atos criminosos e de vandalismo. 
14. PREVENÇÃO PONTUAL E INTEGRAL 
Conforme apontam especialistas do BID e da OMS, ainda que não seja 
uma distinção normal, é útil falar da prevenção localizada sobre um ou em 
um grupo reduzido de fatores de risco de violência e/ou criminalidade como, 
por exemplo, o controle de arma de fogo ou os programas de 
desenvolvimento infantil dirigido a grupos de alto risco ou, em prevenção 
integral que atua sobre um conjunto amplo de fatores de risco. Segundo 
aquelas organizações, existe consenso na literatura especializada de que a 
violência e a criminalidade, por terem multicausalidades, devem ser 
atacadas através de conjuntos de medidas tanto no âmbito da prevenção 
quanto do controle. Todavia se sabe que, em decorrência dessa 
complexidade, programas que requerem alto grau de coordenação 
institucional são mais difíceis de serem implantados. 
15. PREVENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA 
As intervenções para prevenção da violência podem, ainda, ser 
classificadas, tanto segundo o BID quanto a OMS, em três diferentes níveis: 
primário, secundário e terciário. Veja. 
a) Prevenção Primária: São as intervenções que buscam prevenir a 
violência e/ou a criminalidade antes que ocorram. Está voltada para 
redução dos fatores de risco e no aumento dos fatores de proteção 
para toda a população ou para grupos específicos dela; 
b) Prevenção Secundária: Configura-se em ações que objetivam dar 
respostas mais imediatas à violência e a criminalidade. Esse tipo de 
prevenção está focado em grupos de alto risco de desenvolvimento de 
condutas violentas e/ou criminais, como por exemplo, os jovens em 
situações de desigualdade econômica e social; 
c) Prevenção terciária: São as intervenções centradas em programas e 
projetos de longo prazo realizados posteriormente às condutas 
violentas e/ou criminosas, como a reabilitação e reinserção social e as 
ações destinadas à redução dos traumas decorrentes da violência e da 
criminalidade. Nesse nível, as ações estão dirigidas aos indivíduos que 
tenham manifestado ou tenham sido vítimas de condutas violentas 
e/ou criminosas, na tentativa de evitar que voltem a reincidir no 
comportamento ou serem vítimas de violência e/ou criminalidade 
respectivamente. 
16. AMBIENTES INSTITUCIONAIS E AÇÕES DE PREVENÇÃO 
RECOMENDADAS 
Educação; Saúde; Desenvolvimento urbano; Justiça; Policia; 
Sociedade Civil; Serviços Sociais; Meios de Comunicação. 
Justiça 
a) Centros alternativos, descentralizados para a solução de conflitos; 
b) Incorporação de atividades de prevenção contra a violência e 
criminalidade nos projetos de reforma judiciária; 
c) Lei e normas que limitem a venda de álcool durante determinados 
períodos do dia; 
d) Acordos nacionais e internacionais para controlar a disponibilidade de 
armas; 
e) Reformas no sistema judiciário para reduzir os níveis de impunidade 
na sociedade; 
f) Treinamento dos diversos atores do sistema judiciário sobre temas 
relacionados à criminalidade e a violência. 
Polícia 
a) Polícia comunitária orientada para a solução de problemas; 
b) Capacitação policial, incluindo capacitação sobre assuntos de violência 
doméstica e direitos humanos; 
c) Maior cooperação com outras instituições dos sistemas de segurança 
pública, instituições governamentais e não governamentais; 
d) Programas voluntários para coletas de armas que se encontram n as 
mãos da sociedade civil; 
e) Maior índice de casos solucionados, processados e apenados para 
reduzir os níveis de impunidade; 
f) Ações afirmativas nos recrutamentos de policiais; 
g) Melhor coletas de dados, manutenção de registros produção de 
informação e relatórios. 
17. AÇÕES PARA CONTROLE DA VIOLÊNCIA (ESTRATÉGICAS E 
TÁTICAS) 
Há evidencias de que ações (estratégicas e táticas), desde que bem 
definidas, podem produzir resultados positivos no controle da violência e do 
crime. entre elas se encontram: 
a) Patrulhamento ostensivo dirigido a lugares com altas concentrações de 
delitos em certas horas do dia; 
b) Polícia orientada à resolução de problemas, ou seja, voltada para a 
identificação e resposta às causas mais imediatas da criminalidade em 
uma determinada comunidade ou local; 
c) Polícia comunitária. 
18. POLÍCIA DE “JANELAS QUEBRADAS” E “TOLERÂNCIA ZERO” 
A expressão “tolerância zero” não se aplica muito ao que fizemos em 
nova York. Prefiro a teoria que chamamos de “janela quebrada” –ou seja, 
uma casa com um rombo na vidraça é convite para que seja alvo de crimes 
mais graves. Portanto, decidimos que tentaríamos sempre, em qualquer 
ocasião, impedir as “janelas quebradas”, ou seja, prevenir os crimes menos 
perigosos, mas muito visíveis. (Trecho da entrevista: Rudolfph W. Giuliani, 
ex prefeito de NOVA IORQUE) 
Essa estratégia de ação policial tem como base um conhecido estudo de 
James Q. Wilson y George Kelling que propõem a teoria de que a desordem 
geral (põe exemplo, janelas quebradas em edifícios, lixo amontoado nas 
ruas e falta de iluminação pública nas ruas) criam ambiente de desordem 
social propício à delinquência. Eles agregam que mesmo os problemas 
considerados pequenos comocasas e edifícios abandonados, o grafitti e os 
mendigos, criam um ambiente que fomenta a ocorrência de delitos mais 
graves. 
Sob essa ótica, um programa que aplica as leis de forma mais severa, 
para os crimes ou comportamentos delituosos menos graves ( como, por 
exemplo, o caso de mendicância em muitas cidades brasileiras, ou ainda a 
perturbação da ordem através de dispositivos de som musical ligados em 
alto volume em áreas residenciais) e que envolve todas as demais 
instâncias sociais da administração pública, cada uma cuidando efetivamente 
de suas competências, produz uma aparência mais seguras nas 
comunidades e bairros, os moradores se sentem mais protegidos e há um 
nível desejável de inibição para o crime nessas comunidades. 
Numa variação da polícia de “janelas quebradas”, a estratégia 
denominada “tolerância zero” impõe a prisão a maioria das infrações indicam 
tal tipo de sanção, mas que comumente não e aplicada. Nesse caso, ao 
invés de se utilizar de outras medidas tais como uma advertência, por 
exemplo, ou mesmo “passar por cima” a infração penal, a polícia 
efetivamente prende o infrator. Aqui, uma vez mais é importante que se 
tenha em conta a legislação brasileira e as restrições nela imposta para a 
prisão de qualquer cidadão. Isso, no entanto, não tem impedido, que velhas 
e tradicionais praticas do tipo “detenção para averiguação” ainda seja 
aplicada. (www.interbureau.org/reportagens/tolerancia.htm)

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