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APOSTILA DA DISCIPLINA CRIMINILOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA1 1. CRIMINOLOGIA 1.1 Origens e Conceitos Criminologia é o nome dado a um ramo do conhecimento que se concentra na ação criminosa e seu autor, na respectiva vítima e nas possíveis formas de combate ao delito. Segundo o criminólogo Pablos de Molina, é um conjunto de conhecimentos que envolvem várias ciências como: Sociologia, Psicologia, Psicopatologia, Biologia, Filosofia e Antropologia, e que se propõe a estudar cientificamente o fenômeno criminal, de forma empírica e interdisciplinar. Sua origem remonta ao século XVIII, com o advento do que se convencionou denominar "Escola Clássica" da criminologia, através da obra de Cesare Beccaria (Dei Delitti e delle Pene) e de outros filósofos, inspirados pela doutrina de Rousseau2, principalmente, afirmavam que a origem do crime está na sociedade e em seus valores e desvios. A Criminologia clássica asseverava que o indivíduo agia livremente, pois detentor de livre arbítrio, sendo por isto, inteiramente responsável por seus atos. Com o surgimento do método de investigação positivo, o crime passou a ser objeto de investigação científica, não como ente abstrato, mas sim, no seu aspecto fenomênico, juntamente com o homem delinquente, agora centro de investigações das ciências criminológicas. Neste clima, nascia a Escola Positiva Italiana e, com ela, a Criminologia científica. O delito passava a ser concebido como fato real, natural, não derivando seu cometimento de mera contradição imposta pela norma. Sua compreensão e o estudo de suas causas eram inseparáveis do delinquente. Para o Positivismo criminológico, o estudo do criminoso estava acima do próprio exame do ilícito praticado. A Escola Positivista, no campo científico, fez premente o estudo do delinquente como possuidor de uma personalidade reveladora de maior ou menor periculosidade, e contra o qual se devia dirigir uma apropriada defesa social, largamente incentivada pelo uso das medidas de segurança, inclusive como substitutas da própria pena. Foi na Escola Positivista que a criminologia começou a ser tratada como ciência, e isto se deu especialmente em razão do método científico 1 Compilação de textos originalmente escritos por Emerson Santigo; Henrique Hoffman e Eduardo Fontes; Jorge da Silva; e André Corrêa. 2 Jean-Jacques Rousseau, foi um importante filósofo, teórico político e escritor. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo. (Genebra, 28.06.1712 — Ermenonville, 2.07.1778). utilizado nas experiências do médico italiano Cesare Lombroso, que escreveu a obra considerada o marco científico da criminologia positivista "L´uomo Deliquente", de 1876, destacando a figura do delinquente nato, ressaltando a condição genética do criminoso, que é imediatamente identificado por defeitos ou inadequações físicas. Na raiz de seu pensamento repousam conceitos tomados da psiquiatria (então novidade na época), do Darwinismo Social e Eugenia. Resumindo, tratava-se de eliminar o gene criminoso, e então, livrar-se-ia a sociedade do crime, numa simples ligação entre causa e efeito: eliminando-se a causa (a espécie propensa ao crime), eliminar-se-ia o fenômeno (o crime). Desenvolvia-se, assim, a antropologia criminal, mais tarde denominada Criminologia, muito embora o termo tenha sido empregado pela primeira vez na obra de Rafaele Garofalo, em 1885, também de orientação positivista, que preconizava que o indivíduo agia por impulso determinado pela sua compleição anormal, não constituindo o seu agir em manifestação livre de sua vontade. Trazendo um diferente ponto de vista às duas correntes conflitantes da criminologia, temos a ascensão de uma terceira corrente criminológica, a chamada "Escola Sociológica", surgida no final do século XIX. Nela, dava-se ênfase às condições sociais do criminoso, cruciais para sua formação. Fatores como a vida em guetos, verdadeiros geradores de subculturas alheias aos valores da sociedade formal, ou então, o baixo nível educacional, ou ainda as condições econômicas precárias, e mesmo o alto consumo de álcool eram o estopim ideal na modelagem do criminoso. Atualmente, as discussões da criminologia pairam sob as condições biopsicossociais do criminoso, envolvendo um pouco das três escolas. Nesta fase, a criminologia aproxima-se da endocrinologia, associando a produção do hormônio testosterona ao comportamento agressivo, aliando-o a transtornos da violência urbana, bem como as dificuldades sociais e econômicas. 1.2 Principais Correntes Criminológicas (Escolas) a) Escola Clássica: tinha como valores principais o livre arbítrio, vale dizer, o dogma da liberdade de escolha, quando o delito é visto como pecado e o criminoso é comparado a um pecador, ele erra porque escolhe errar; b) Escola Positivista: priorizava os fatores endógenos (biológicos), na linha de Cesare Lombroso, e exógenos (socio-ambientais), na linha de Enrico Ferri, suas causas e efeitos. O crime é visto como uma patologia intolerável e os criminosos como indivíduos diferentes dos “normais”; c) Escola Sociológica: da ênfase às condições sociais do criminoso, cruciais para sua formação, relacionados ao ambiente, ao nível educacional, às condições econômicas e ao consumo de álcool; d) Escola Correcionalista: enfatiza teorias relativas da pena, a qual teria como função principal a correção ou melhora do indivíduo para que ele não venha a reincidir na prática de condutas criminosas. A pena é um instrumento útil a determinado fim, qual seja o de fazer cessar no agente o impulso motivador de sua conduta reprovável e torná-lo apto ao convívio social. Nesta escola o criminoso é visto como um ser inferior e incapaz de se autodeterminar, a merecer do Estado resposta pedagógica e piedosa; e) Escola Marxista: interessada em explicar o crime a partir das relações de produção e das diferenças de classe. O crime estaria ligado à exploração, a uma estrutura socioeconômica injusta. A injustiça social é que produziria os criminosos. Aqui também o criminoso não deixaria de ser uma vítima da sociedade e das estruturas econômicas (determinismo social e econômico). Essa visão se desenvolveu a partir dos escritos do economista, filósofo e teórico político alemão Karl Marx (1818-1883), e seus conceitos convergiram na chamada criminologia crítica; f) Escola Crítica ou Nova Criminologia: Também toma o crime como um fato social e é baseada na teoria do etiquetamento, movimento científico caracterizado não pelo estudo das características do criminoso ou o que leva a delinquir, mas pelo foco nas estruturas de poder e no sistema em si, nos órgãos de controle responsáveis pela produção normativa e por sua aplicação. O funcionamento do sistema penal pode, no limite, constituir-se em fator de aumento da criminalidade e da violência, justo o oposto daquilo que o mesmo, em teoria, tem como objetivo; g) Escola Radical: corrente de pensamento vinculada a classe trabalhadora, enfatizava as questões de classe, as relações de poder, o universo político e as desigualdades. Essa corrente discutiu a repressão na sociedade capitalista e as ideologias hegemônicas que mascaravam a natureza “real” do crime; h) Escola Moderna ou Contemporânea: baseada nos estudos pioneiros de Émile Durkheim, a criminalidade e a violência são vistas como fenômenos sociopolíticos, históricos e culturais, ou seja, como “fatos sociais”, e não necessariamente como uma patologia social. O crime é inerente à convivência social e o criminoso é visto como homem normal que viola a lei penal por razões diversas que merecem ser investigadas e nem sempre são compreendidas; i) Escola de Chicago: aborda estudos em antropologia, seu foco de análise principal é o meio urbano, relacionados ao surgimento de favelas, a proliferação do crime e da violência, ao aumento populacional, tão marcantesno início do século XX. É precursora da teoria Broken Windows, que origina a ideia da “tolerância zero”. No âmbito da ciência criminológica, o delinquente é visto, hoje, como uma pessoa que possui características comuns à maioria da comunidade na qual se insere. É um ser humano do seu tempo, ou seja, influenciado tanto por sua herança genética, como pelo seu entorno. É plenamente suscetível a um incessante e dinâmico processo de interação com os outros indivíduos e o próprio meio em que vive. É, em suma, um ser perfectível, sempre em evolução, que almeja um futuro e pode ultrapassar seus condicionamentos. Sabendo que o ser humano não é apenas um ser biológico, reveste-se de importância o conhecimento de sua história, cultura e experiências, pessoais e coletivas. A Criminologia reúne estes conhecimentos variados objetivando subsidiar dados para uma intervenção positiva no âmbito da segurança pública. 2. CRIMINOLOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA 2.1 Importância da criminologia para a Segurança Pública A criminologia é essencial para todos os profissionais envolvidos no sistema judiciário, penitenciário, penal e demais órgãos responsáveis pela reinserção social dos indivíduos punidos pela esfera da lei. Esses profissionais devem compreender a criminalidade de maneira diferenciada, permitindo assim fazer um julgamento coerente sobre as punições previstas e políticas públicas mais adequadas em determinado contexto criminológico. O mapeamento das zonas com maiores incidências de crimes é uma das análises importantes que a criminologia oferece a todas as esferas envolvidas na questão da segurança pública. O caráter estatístico da região fornece subsídios para diversos planejamentos que visem diminuir as taxas de crimes em áreas críticas, seja pelo aumento do policiamento ostensivo, aumento da corporação, melhora da iluminação ou até mesmo o desenvolvimento de projetos sociais que reduzam o número de jovens que ingressam no crime. O desmembramento dos crimes incidentes sobre determinada região auxilia também em políticas preventivas à prática criminosa, a criação de oficinas de artesanato, projetos de dança e música, oficinas profissionalizantes e bolsas-auxílios que ajudem na diminuição da vulnerabilidade social, são importantes políticas preventivas ao desenvolvimento do comportamento criminoso, em especial nas crianças e adolescentes. A criminologia aplicada à segurança pública é a maneira mais coerente e eficiente na construção de políticas mais adequadas ao cenário criminológico de determinada região. Esse planejamento ajuda em especial secretarias com orçamentos reduzidos, uma vez que os projetos são desenvolvidos sempre com um foco específico, reduzindo gastos desnecessários com áreas sem necessidade iminente. O estudo da Criminologia faz-se necessário principalmente por buscar abranger a totalidade do sistema de aplicação da justiça penal, nomeadamente as instâncias formais (a lei penal, a Polícia, o Ministério Público, Poder Judiciário, Administração Penitenciária e os órgãos de reinserção social) e informais (família, escola, associações privadas de ajuda social) de controle da delinquência. No processo rotineiro de investigação criminal, as práticas dos policiais geralmente estão orientadas apenas na observação (seja ela prática ou empírica), o que leva muitas das vezes a uma tomada de decisões que produzem resultados duvidosos ou ineficazes. Ou seja, não há a aplicação de um conhecimento (teoria) específico, que possa fundamentar a metodologia utilizada na investigação policial. Hoje, a Criminologia ostenta rigoroso caráter científico e é definida como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social, e que trata de subministrar uma informação válida sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social –, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva relacionadas ao delinquente e aos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito. São estudos que em muito interessam ao campo da segurança pública, compensando o desmedido biologismo positivista que lhe deu origem, interessando-lhe mais prevenir eficazmente o delito, substituindo conceitos meramente repressivos ou então de “tratamento”, pelo de “intervenção”, em consonância com o substrato real, individual e comunitário do fenômeno delitivo. O indivíduo não é um ser solitário com sua liberdade (como pensavam os clássicos, defensores da tese do livre arbítrio), nem um prisioneiro do seu código genético, nem mesmo um inválido ou vítima da sociedade, mas sim um ente em constante processo de interação consigo mesmo e com o meio que o cerca. Quanto à vítima, historicamente foi colocada em segundo plano, tendo em vista que o objetivo principal da persecução penal era a punição do criminoso. Com o avanço dos estudos criminológicos, a vítima também adquiriu um papel relevante e passou a ter papel de destaque através da vitimologia, ramo da criminologia que estuda o comportamento da vítima, buscando entender a “real” função que esta desempenha no decorrer do delito. Os estudos sobre vítima ganham destaque após a 2ª Guerra Mundial, em decorrência das atrocidades praticadas naquele evento. A vítima tem papel importante pois influencia no fato delituoso, toma atitudes que a colocam como potencial sujeito passivo e possui características pessoais (cor, sexo, condição social) relevantes. Este enfoque carrega uma imagem mais real e dinâmica da vítima, de seu comportamento, de suas relações com os demais protagonistas do delito, e da correlação das forças que convergem para o acontecimento criminal, desse modo, é possível prevenir que a mesma figure como sujeito passivo nas infrações penais. Por fim, vale mencionar que controle social é o conjunto de instituições e sanções da sociedade para submeter os indivíduos às normas de convivência em comunidade. Esse conhecimento é fundamental para entender o papel da polícia no fenômeno criminal. Fácil perceber que a criminologia hodiernamente constitui-se em ciência indispensável para a boa atuação da polícia e dos demais órgãos de persecução penal. Evidentemente o policial, na tomada de suas decisões, não pode abrir mão da aplicação das ciências jurídicas (principalmente o Direito Penal, Processual Penal, Constitucional e Administrativo), que continuam sendo o substrato imediato de conhecimento a incidir no caso concreto. Sobre a importância do estudo do controle social pela Criminologia há que se verificar vários meios ou sistemas normativos, com distintas estratégias e modalidades de penas. A prevenção eficaz do crime não deve limitar-se tão somente ao aperfeiçoamento dos mecanismos de controle, mas, também, da melhor integração das instâncias de controle social formal e informal. Conhecer as premissas e métodos da criminologia como ciência apura a visão crítica e científica daquele que se propõe a analisar o problema da delinquência. De maneira geral, as pessoas que desconhecem a criminologia são facilmente influenciadas por informações equivocadas, divulgadas torrencialmente todos os dias na mídia e nas redes sociais. Assim, essa parcela leiga da população aceita e reproduz comentários fundados em teorias e conceitos não científicos, que anuviam sua percepção a respeito das causas reais do fenômeno delitivo, e que permitem a manipulação da opinião popular para aprovação de medidas meramente paliativas, que nada fazem para atingir o cerne do problema. Portanto, estudar criminologia, além de importante, é extremamente necessário. O incremento da complexidade dos fenômenos criminais, como o aumento da violência urbana e o crescimento gradativo da população carcerária e docaos dos estabelecimentos penais, são motivos significativos para a ascensão da criminologia, ciência que pode fornecer respostas mais pormenorizadas a esses problemas. O estudo da criminologia ganha relevo porque é ela quem deve analisar quais são os fatores que culminaram no cenário atual. É a ciência que possui as ferramentas e saberes para examinar o fenômeno criminológico que ocorre na sociedade. Não incumbe à criminologia punir o transgressor (tarefa do Direito Penal), muito menos definir qual é o procedimento de persecução penal durante a investigação ou o processo (missão do Direito Processual Penal). Sua finalidade, de índole diagnóstica e profilática, é buscar entender o contexto da prática delituosa, analisando o modelo social de justiça criminal, a pessoa do delinquente, a vítima, o controle social e até mesmo o reflexo da lei penal na sociedade. A criminologia entende o fenômeno criminal como problema não meramente individual, mas também social. Estuda a questão criminal sob o ponto de vista biopsicossocial (métodos biológicos e sociológicos), investigando as causas do crime, a personalidade do delinquente, a vitimização e as formas de prevenção e ressocialização no contexto do controle social. A criminologia busca reunir conhecimentos sobre o crime, o criminoso, a vítima e o controle social para compreender cientificamente o fenômeno criminal, para assim possibilitar que o crime possa ser prevenido e reprimido com eficiência (intervenção no delinquente) e que os diferentes modelos de resposta ao fenômeno criminal possam ser valorados. Destarte, a criminologia deve orientar a política criminal possibilitando a prevenção de crimes, e influenciar o Direito Penal na repressão das condutas indesejadas que não foram evitadas. Essa ciência busca adotar programas de prevenção eficaz do comportamento delitivo, técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos sistemas de resposta ao delito. Na visão da criminologia, o crime é um fenômeno social, o qual exige uma percepção apurada para que seja compreendido em seus diversos sentidos. Para a criminologia, somente se pode falar em delito se a conduta preencher os seguintes elementos constitutivos: a) incidência massiva na população: reiteração na sociedade; b) incidência aflitiva: produção de dor à vítima e à sociedade; c) persistência espaço-temporal: prática ao longo do território por um período de tempo relevante; d) consenso sobre sua etiologia e técnicas de intervenção: concordância sobre suas causas e métodos de enfrentamento. O reconhecimento de que a criminalidade é um fenômeno inerente à convivência em sociedade é crucial para que as autoridades e os operadores do sistema dimensionem de forma adequada as possibilidades e os limites da polícia. Caso contrário, sobretudo em se tratando dos policiais, estarão permanentemente frustrados e atribuindo-se “culpa” diante da continuidade do crime e da violência, assumindo postura negativa diante do próprio trabalho. Daí a adotar procedimentos condenáveis é um passo. No campo político, a abordagem do crime como fenômeno social permitirá o embate entre as forças que defendem a ordem estabelecida e as que defendem a mudança da ordem, incluída a ordem jurídica. Isto posto, deve ficar claro que: (a) definir o que seja crime, ou melhor, tipificar condutas como tal numa sociedade é função do direito; (b) a resposta a crimes específicos que tenham sido consumados ou tentados é função do aparelho policial-penal; (c) a “reação ao crime” como questão social não é função exclusiva do direito, muito menos do direito penal, e não pode circunscrever-se à reação policial-penal. A compreensão da dinâmica que, em dado momento e em dado lugar, condiciona a manifestação da criminalidade, e a análise da atitude dos cidadãos, das comunidades, dos agentes do crime, das vítimas, da mídia, do poder público e do próprio sistema policial-penal permitirão aos estudiosos propor mudanças no sistema jurídico mais racionais e conceber políticas para a área de segurança pública menos inconsequentes. Neste ponto evidencia-se a importância dos estudos criminológicos críticos, pois estes procuram conhecer o crime e a violência em todas as suas dimensões, por um lado, e democratizar o sistema, por outro. Esta observação é importante porque as correntes criminológicas tradicionais, deixaram marcas indeléveis nos campos jurídico e médico. Embora tenham perdido força, ainda hoje se ouve falar em criminoso por tendência, em criminoso nato, em traços fisionômicos supostamente característicos de criminosos, em raças propensas ao crime, em valores negativos atados à condição de pobreza etc. Tais ideologias impregnaram o sistema policial-penal de tal forma que não é difícil ainda hoje encontrar operadores do sistema articulando essas ideias como se ainda fossem válidas. Em suma, a Criminologia Aplicada à Segurança Pública; deve ser uma criminologia também crítica, tendo em mente o propósito de: a) produzir conhecimento de cunho científico e técnico para dar suporte à elaboração e execução das políticas públicas na área da segurança, com vistas a adequar os meios empregados aos fins perseguidos em conjunto pelo poder público e a comunidade, destinatária dos serviços; b) possibilitar uma visão o mais abrangente possível da segurança pública por parte de governantes, autoridades e operadores do sistema, para além dos limites da lei penal e do emprego da força; c) direcionar as ações dos policiais e demais operadores do sistema para objetivos que atendam às expectativas do público em geral, e não somente para cumprir objetivos corporativos e partidários, ou para atender a interesses particularistas de segmentos sociais específicos. É necessário fazer uma escolha quanto ao caminho que se pretende seguir: se, por exemplo, o de uma criminologia baseada em determinismos biológicos, psicológicos e sociais, ou o de uma criminologia calcada em cânones democráticos, que veja a segurança como um bem do interesse da coletividade, e aborde o sistema de segurança na linha do pensamento da chamada criminologia crítica. Trata-se de uma criminologia cuja característica é manter-se aberta ao diálogo, em contraposição a outras criminologias “fechadas”. 2.2 Racionalidade na Segurança Pública Se considerarmos exclusivamente a perspectiva técnico-jurídica, a qual se preocupa em tipificar as condutas em abstrato de forma isolada a cada caso, crime é definido como uma ação típica, antijurídica, culpável e punível. Essa perspectiva, no entanto, tem dificuldade de ver o crime no atacado, ou seja, como fenômeno inerente à convivência social, sendo a resposta insuficiente para a compreensão do que seja crime do ponto de vista sócio- político-histórico-cultural. Se a visão técnico-jurídica do crime pode, até certo ponto, ser considerada suficiente para o trabalho de juízes, promotores, delegados de polícia, advogados criminais, defensores públicos e autoridades carcerárias, não se pode dizer o mesmo quando se está falando de operadores da polícia urbana, ostensiva (no nosso caso, a Polícia Militar), encarregada de garantir a ordem e a tranquilidade públicas em sentido lato, empenhando-se, com sua presença, em evitar que os crimes ocorram e em mediar conflitos no espaço público. Assim, caso o operador da polícia ostensiva se oriente unicamente pela lógica penal, estaremos diante de um problema, o de que ele tem uma visão estreita do seu papel, pensando só nos criminosos, e não na proteção que deve aos cidadãos em geral, tendendo a vê-los sempre como suspeitos. Pior se esta visão for compartilhada pelo poder político, pois o papel deste é, muito mais que encarar o crime como um problema policial-penal, tê-lo como um fenômeno social cuja solução comporta muitas frentes, para além das ações dopoder público. O reconhecimento de que a criminalidade é um fenômeno inerente à convivência em sociedade é crucial para que as autoridades e os operadores do sistema dimensionem de forma adequada as possibilidades e os limites da polícia. Caso contrário, sobretudo em se tratando dos policiais, estarão permanentemente frustrados e atribuindo-se “culpa” diante da continuidade do crime e da violência, assumindo postura negativa diante do próprio trabalho. Daí a adotar procedimentos condenáveis é um passo. No campo político, a abordagem do crime como fenômeno social permitirá o embate entre as forças que defendem a ordem estabelecida e as que defendem a mudança da ordem, incluída a ordem jurídica. Isto posto, deve ficar claro que: (a) definir o que seja crime, ou melhor, tipificar condutas como tal numa sociedade é função do direito; (b) a resposta a crimes específicos que tenham sido consumados ou tentados é função do aparelho policial-penal; (c) a “reação ao crime” como questão social não é função exclusiva do direito, muito menos do direito penal, e não pode circunscrever-se à reação policial-penal. A compreensão da dinâmica que, em dado momento e em dado lugar, condiciona a manifestação da criminalidade, e a análise da atitude dos cidadãos, das comunidades, dos agentes do crime, das vítimas, da mídia, do poder público e do próprio sistema policial-penal permitirão aos estudiosos propor mudanças no sistema jurídico mais racionais e conceber políticas para a área de segurança pública menos inconsequentes. Neste ponto evidencia-se a importância dos estudos criminológicos críticos, pois estes procuram conhecer o crime e a violência em todas as suas dimensões, por um lado, e democratizar o sistema, por outro. Esta observação é importante porque as correntes criminológicas tradicionais, sobretudo as de cunho biologicista, deixaram marcas indeléveis nos campos jurídico e médico. Embora tenham perdido força, ainda hoje se ouve falar em criminoso por tendência, em criminoso nato, em traços fisionômicos supostamente característicos de criminosos, em raças propensas ao crime, em valores negativos atados à condição de pobreza etc. Tais ideologias impregnaram o sistema policial-penal de tal forma que não é difícil ainda hoje encontrar operadores do sistema articulando essas idéias como se ainda fossem válidas. Mesmo em se tratando da Criminologia Contemporânea, em boa medida liberta desses e de outros determinismos, não basta tomá-la em si mesma, abstratamente, sem relacioná-la ao contexto, ao momento e aos incontáveis fatores que envolvem a questão, principalmente no que se refere às práticas do sistema. E aí estaremos falando em questionar essas práticas; na necessidade de se buscar permanentemente o aprofundamento do igualitarismo penal, com a aplicação dos princípios da Criminologia Crítica. Em suma, estamos falando de Criminologia Aplicada à Segurança Pública; de uma criminologia também crítica, tendo em mente o propósito de: (a) produzir conhecimento de cunho científico e técnico para dar suporte à elaboração e execução das políticas públicas na área da segurança, com vistas a adequar os meios empregados aos fins perseguidos em conjunto pelo poder público e a comunidade, destinatária dos serviços; (b) possibilitar uma visão o mais abrangente possível da segurança pública por parte de governantes, autoridades e operadores do sistema, para além dos limites da lei penal e do emprego da força; (c) direcionar as ações dos policiais e demais operadores do sistema para objetivos que atendam às expectativas do público em geral, e não somente para cumprir objetivos corporativos e partidários, ou para atender a interesses particularistas de segmentos sociais específicos. 3. CRIMINALIDADE E PREVENÇÃO 3.1 Controle Social Busca se estudar e compreender os meios de controle da criminalidade, por meio da prevenção de comportamentos desviantes e a punição, quando do resultado da falha do primeiro. É o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover e garantir a submissão do indivíduo aos modelos e normas comunitários. O controle social pode ser informal e formal: a) Controle social informal: mecanismos de controle casuais. É exercido de forma difusa pela sociedade, através da família, escola, associações, igreja, opinião pública, etc. Em regra, o processo de socialização do indivíduo se dá nos meios informais. b) Controle social formal: mecanismos de controle oficiais, oriundos do Estado. É a própria atuação do aparelho político do Estado (polícia, a justiça, a Administração Penitenciária, o Ministério Público, o Exército dentre outros). Os agentes do Estado atuam de forma subsidiária e coercitiva, quando o controle informal falhou e não foi capaz de evitar o crime. Desse modo, a efetividade do controle formal é bem menor em relação ao controle informal. BIBLIOGRAFIA: ALVES, Roque de Brito. Criminologia. Ed. Forense, Rio de Janeiro. 1986. BARATTA, Alessandro Coleção Pensamento Criminológico, Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3º ed. Ed. Renavan, Rio de Janeiro. 2002. CALHAU, Lélio Braga. Resumo de criminologia. Niterói: Impetus, 2009. CARVALHO, Salo. Antimanual de Criminologia. Ed. Lúmen Júris, Rio de Janeiro. 2008. CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da reação social. Rio de Janeiro: Forense, 1983. DA SILVA, Jorge. Criminologia crítica: Segurança e polícia. Rio de Janeiro: Forense, 2ª. ed., 2008. Excertos: Capítulo II, tópicos 2.2 e 2.4. Disponível em: http://www.jorgedasilva.com.br/artigo/25/criminologia-critica.-a-questao-da-racionalidade- na-seguranca-publica/; DURKHEIM, Émile. “Regras relativas à distinção entre o normal e o patológico” (Cap. III). In:As regras do método sociológico. São Paulo: Abril Cultural, Coleção “Os Pensadores”, 1973. FONTES, Eduardo; HOFFMANN, Henrique. Criminologia. Salvador: Juspodivm, 2018. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Ed. Vozes. Rio de Janeiro. 2004. GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio Garcia-Pablos de. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. LOPEZ-REY, Manuel y Arrojo. Introducción a la criminología. Madrid: Universidad Complutense, Instituto de Criminología, 1981. MOLINA, Antônio Garcia-Pablos & GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2ª ed.,1997. PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. São Paulo: Saraiva, 2012. ZAFFARONI, Eugenio Raul. A Questão Criminal. Rio de Janeiro: Revan, 2013. SITES: https://www.conjur.com.br/2018-mai-22/academia-policia-criminologia-conhecimento- essencial-policia-judiciaria https://www.infoescola.com/ciencias/criminologia https://sites.google.com/site/arytjrfylosofia/minhas-notas https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/21822/criminologia-critica-e-seu-conceito O CRIME E A VIOLÊNCIA NO BRASIL: UM BREVE CONTEXTO FATOS RELACIONADOS À VIOLÊNCIA FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O AUMENTO DA VIOLÊNCIA NO BRASIL A VIOLÊNCIA COMO OBJETO DE ESTUDO OBJETIVOS DAS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO: Justiça Há evidências de que certas ações (estratégicas e táticas), desde que bem definidas, podem produzir resultados positivos no controle da violência e do crime. Entre elas se encontram: AÇÕES PARA CONTROLE DA VIOLÊNCIA (ESTRATÉGICAS E TÁTICAS) APOSTILA DA DISCIPLINA CRIMINILOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA1 1. O CRIME E A VIOLÊNCIA NO BRASIL: UM BREVE CONTEXTO O Brasil, nos últimos anos, passou a estar associado, tanto no âmbito interno quanto internacionalmente, ao fenômeno do crime e da violência. Tal situação fica pautada pelos conteúdos da mídia nacional e estrangeira, onde são regularmente veiculadas matérias que mostram rebeliões de presos, conflitos entre a polícia e movimentos sociais, sequestros,dentre outros. As estatísticas da violência e da criminalidade também mostram que a situação merece ser analisada de forma séria e responsável, para que as políticas públicas possam ser efetivas. 2. FATOS RELACIONADOS À VIOLÊNCIA A violência é um fenômeno complexo, que não tem causa única, mas sim uma multiplicidade de fatores. Medidas e ações de enfrentamento da violência representam um verdadeiro desafio para o mundo contemporâneo, pois a violência produz impactos adversos multidimensionais, incluindo aspectos de ordem econômica, política e social. Sendo assim, faz-se necessário que qualquer medida ou ação que venha a ser planejada possa a considerar: os fatores que promovem a violência, os chamados fatores de risco; os fatores que inibem sua manifestação, os chamados fatores de proteção e a relação existente entre eles e o grau de incidência e efeitos negativos de crimes e violência. 3. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O AUMENTO DA VIOLÊNCIA NO BRASIL a) Fatores socioeconômicos - oriundos das desigualdades sociais, da falta de oportunidade e de aspectos relacionados a ampliação da vulnerabilidade social; b) Fatores institucionais - relacionadas a insuficiência do Estado, crise do modelo familiar, recuo do poder da igreja; c) Fatores culturais - problemas de origem histórica, conflitos étnicos e desordem moral; d) Demografia urbana - crescimento das taxas de natalidade e, principalmente, a expansão urbana súbita e desordenada, o que favoreceu o aparecimento de grandes aglomerados urbanos; 1 Compilação do conteúdo dos módulos do Curso “Violência, Criminalidade e Prevenção”, promovido pela SENASP na modalidade EaD. e) O poder da mídia - ênfase em notícias sobre crimes violentos que acabam por influenciar a percepção do cidadão sobre o fenômeno; f) A globalização mundial – a diminuição e contestação a noção de fronteira e a capilaridade do crime organizado (narcotráfico, posse e uso de armas de fogo, guerra entre gangues). 4. VARIÁVEIS TIPOLÓGICAS DA VIOLÊNCIA A violência pode ser caracterizada de acordo com diferentes variáveis: • Quanto ao tipo de vítima: crianças, mulheres, idosos, deficientes físicos, etc.; • Quanto ao tipo de agente: gangues, jovens, narcotraficantes, multidões, policiais, etc.; • Quanto à natureza da ação violenta empreendida: física, psicológica, sexual, etc.; • Quanto a motivação, no caso da ação ser instrumental para algum propósito último: violência política, econômica, social, étnica, racial etc.; • Quanto ao tipo geral de local de ocorrência da violência: urbana ou rural; • Quanto a relação entre a vítima e o agente da violência: violência familiar, violência entre conhecidos, violência entre desconhecidos, etc. 5. A VIOLÊNCIA COMO OBJETO DE ESTUDO Mesmo que a mídia favoreça uma imagem distorcida da violência, o fenômeno existe e para melhor compreendê-lo é necessário analisar as contribuições de alguns campos de conhecimento que utilizam a violência como objeto de estudo. Dentre eles: a biologia, epidemiologia, a ciência política, criminologia, economia, etiologia, psicologia, sociologia, bem como atualmente, da neurociência. Os estudos destas áreas têm favorecido para que a violência seja entendida como um fenômeno multidisciplinar, modificando o foco das políticas públicas e de enfrentamento do problema, ou seja, intensificando ações preventivas ao invés de repressivas, valorizando o investimento em ações educativas ao invés de punitivas. Crime - transgressão imputável da lei penal, por dolo ou culpa, ação ou omissão. (Houaiss2) 2 Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Elaborado pelo lexicógrafo brasileiro Antônio Houaiss. A primeira edição foi lançada em 2001, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Antônio Houaiss. Violência - uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra outra pessoa ou contra si próprio ou contra outro grupo de pessoas, que resulte ou tenha grande possibilidade em resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento, ou privação (Organização Mundial da Saúde - OMS). Prevenção do crime e da violência - resultado de políticas, programas e/ou ações de redução do crime e da violência e/ou seu impacto sobre os indivíduos e a sociedade, atuando sobre os fatores de risco e os fatores de proteção que afetam a incidência do crime e da violência e seu impacto sobre os indivíduos, famílias, grupos e comunidades, e sobre a vulnerabilidade e a resiliência dos indivíduos, famílias, grupos e comunidades diante do crime e da violência. 6. PREVENÇÃO E CONTROLE: PROPOSTAS DE AÇÃO Como fenômeno multidisciplinar a violência recebe contribuições de diversos campos de conhecimento, o que vem contribuindo para uma melhor compreensão dos fatores de risco e a necessidade de que os fatores de proteção envolvam diferentes forças governamentais e sociais. Não há, entretanto, soluções previamente estabelecidas para a prevenção da violência. Há sim, uma boa quantidade de proposta de ação com diferentes abordagens teóricas que podem ser divididas em dois grandes grupos: os que propugnam pela prevenção da violência e os que defendem a abordagem do controle da violência. Ao primeiro caso, o da prevenção, a epidemiologia e o enfoque de saúde pública têm proporcionado metodologias antes vistas como aplicáveis apenas ao campo da saúde propriamente dito. Ao segundo, o do controle, a criminologia e os estudos jurídicos tem oferecido considerável suporte de conhecimento. A busca de soluções para a questão dos crimes violentos tem colocado a prevenção e o controle em posições opostas. A prevenção, por exemplo, busca a solução na correção de distorções sociais, tais como a diminuição da pobreza, a melhoria da educação e da melhor distribuição de renda. Essas são conhecidas como “soluções brandas”. Por outro lado, as “soluções duras” para os crimes violentos, proposta pelos defensores das medidas de controle, apontam o estabelecimento de maior quantidade e disponibilidade de recursos policiais, bem como no aumento das prisões e disponibilidade de vagas no sistema prisional, com o caminho a ser seguido. É preciso ter em conta, entretanto, que ambos, prevenção e controle, fazem parte de um contínuo em que o castigo efetivo, classificado como uma ”solução dura” por natureza, pode ser um eficaz fator dissuasório do crime e, portanto, um mecanismo de prevenção contra alguns tipos de conduta violenta. Assim, de acordo com os especialistas na matéria, as ações de prevenção não devem ser definidas de acordo com as soluções que produzem e sim, pelos seus efeitos observáveis nas condutas futuras. 7. PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E DA CRIMINALIDADE Chama-se de monitoração ou vigilância epidemiológica a coleta, análise e interpretação sistemática de dados para sua utilização no planejamento, execução e avaliação de políticas públicas e de programas contra a violência e a criminalidade. Segunda visão do Banco Interamericano de Desenvolvimento3 (BID), ela se compõe de quatro etapas: a) Definição do problema e coletada de dados confiáveis; b) Identificação das causas e fatores de risco; c) Desenvolvimento e teste das intervenções; d) Análise e avaliação da efetividade das ações preventivas contra violência. 8. ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO Uma das regras mais importantes da prevenção é que quanto mais cedo se atuar na vida de um indivíduo evitando desenvolvimento de condutas violentas, mais efetiva será ação preventiva. Em decorrência, as estratégias de prevenção devem estar orientadas previamente a redução dos fatores de risco de violência e/ou criminalidade ou aumento dos fatores de proteção contra violência e/ou a criminalidade. 9. OBJETIVO DAS ESTRATÉGIAS DE PREVEÇÃO a) Modificar fatores estruturais ou proximais; b) Modificar fatores sociais ou situacionais; c) Modificar fatores específicos de riscose/ou proteção (programas pontuais) ou modificar um conjunto de fatores (programas integrais); d) Alcançar toda a população (prevenção primária), grupo de alto risco (prevenção secundária), agente violento e/ou sua vítima (prevenção terciária). 10. PREVENÇÃO ESTRUTURAL Redução da pobreza e da desigualdade, por exemplo, são duas medidas estruturais de longo prazo que, alterar as relações incentivos de mercado de trabalho, bem como o acesso a este, tendem a reduzir a privação e a 3 O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é uma organização financeira internacional com sede nos Estados Unidos, criada e 1959 com o propósito de financiar projetos de desenvolvimento econômico, social e institucional e promover a integração comercial na área da América Latina e Caribe. frustração e, por consequência, a probabilidade de condutas violentas e/ou criminosas futuras. É fundamental o aumento das oportunidades econômicas para jovens em situação de pobreza que se constituem, na maioria, das vítimas e nos agentes da violência social e da criminalidade, assim como também é importante a atenção e desenvolvimento de medidas destinadas a prevenção à violência doméstica a qual tem sido o fator responsável por significativa redução na oportunidade de trabalho e diminuição na produtividade das mulheres. 11. PREVENÇÃO PROXIMAL OU IMEDIATA São ações de prevenção imediata, aquelas dirigidas alterar o curso de eventos contingente que produzem ou instigam a violência e/ou a criminalidade. Dentre eles estão, por exemplo, o fácil acesso a arma de fogo, álcool e drogas. 12. PREVENÇÃO SOCIAL Esse tipo de prevenção tem por base o desenvolvimento social. Atua sobre grupos de alto risco aumentando a probabilidade de que deixem de ser vítimas ou agentes da violência e/ou criminalidade. As atividades de prevenção nesse campo englobam uma ampla gama de ações dos mais diferentes matizes. A que podem ser incluídas, por exemplo, a tensão pré e pós-natal a mães em situação de pobreza de alto risco; programas educacionais infantis; programa de incentivo ao término dos estudos secundários para jovens pobres e/ou em situação de risco; programas de treinamentos em resolução pacífica de conflitos para grupos e comunidades em situação de risco. 13. PREVENÇÃO SITUACIONAL A prevenção situacional reduz a probabilidade de alguém ser vítima potencial da violência e/ou crime, através da redução na oportunidade, tornando a possibilidade de ocorrência do crime mais difícil, mais arriscada e menos vantajosa ou lucrativo para o criminoso. Dentre as ações de prevenção situacional encontram-se a implantação de obstáculos físicos, controle de acesso a instalações ou locais, sistema de vigilância e monitoramento que inibam a execução de atos criminosos e de vandalismo. 14. PREVENÇÃO PONTUAL E INTEGRAL Conforme apontam especialistas do BID e da OMS, ainda que não seja uma distinção normal, é útil falar da prevenção localizada sobre um ou em um grupo reduzido de fatores de risco de violência e/ou criminalidade como, por exemplo, o controle de arma de fogo ou os programas de desenvolvimento infantil dirigido a grupos de alto risco ou, em prevenção integral que atua sobre um conjunto amplo de fatores de risco. Segundo aquelas organizações, existe consenso na literatura especializada de que a violência e a criminalidade, por terem multicausalidades, devem ser atacadas através de conjuntos de medidas tanto no âmbito da prevenção quanto do controle. Todavia se sabe que, em decorrência dessa complexidade, programas que requerem alto grau de coordenação institucional são mais difíceis de serem implantados. 15. PREVENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA As intervenções para prevenção da violência podem, ainda, ser classificadas, tanto segundo o BID quanto a OMS, em três diferentes níveis: primário, secundário e terciário. Veja. a) Prevenção Primária: São as intervenções que buscam prevenir a violência e/ou a criminalidade antes que ocorram. Está voltada para redução dos fatores de risco e no aumento dos fatores de proteção para toda a população ou para grupos específicos dela; b) Prevenção Secundária: Configura-se em ações que objetivam dar respostas mais imediatas à violência e a criminalidade. Esse tipo de prevenção está focado em grupos de alto risco de desenvolvimento de condutas violentas e/ou criminais, como por exemplo, os jovens em situações de desigualdade econômica e social; c) Prevenção terciária: São as intervenções centradas em programas e projetos de longo prazo realizados posteriormente às condutas violentas e/ou criminosas, como a reabilitação e reinserção social e as ações destinadas à redução dos traumas decorrentes da violência e da criminalidade. Nesse nível, as ações estão dirigidas aos indivíduos que tenham manifestado ou tenham sido vítimas de condutas violentas e/ou criminosas, na tentativa de evitar que voltem a reincidir no comportamento ou serem vítimas de violência e/ou criminalidade respectivamente. 16. AMBIENTES INSTITUCIONAIS E AÇÕES DE PREVENÇÃO RECOMENDADAS Educação; Saúde; Desenvolvimento urbano; Justiça; Policia; Sociedade Civil; Serviços Sociais; Meios de Comunicação. Justiça a) Centros alternativos, descentralizados para a solução de conflitos; b) Incorporação de atividades de prevenção contra a violência e criminalidade nos projetos de reforma judiciária; c) Lei e normas que limitem a venda de álcool durante determinados períodos do dia; d) Acordos nacionais e internacionais para controlar a disponibilidade de armas; e) Reformas no sistema judiciário para reduzir os níveis de impunidade na sociedade; f) Treinamento dos diversos atores do sistema judiciário sobre temas relacionados à criminalidade e a violência. Polícia a) Polícia comunitária orientada para a solução de problemas; b) Capacitação policial, incluindo capacitação sobre assuntos de violência doméstica e direitos humanos; c) Maior cooperação com outras instituições dos sistemas de segurança pública, instituições governamentais e não governamentais; d) Programas voluntários para coletas de armas que se encontram n as mãos da sociedade civil; e) Maior índice de casos solucionados, processados e apenados para reduzir os níveis de impunidade; f) Ações afirmativas nos recrutamentos de policiais; g) Melhor coletas de dados, manutenção de registros produção de informação e relatórios. 17. AÇÕES PARA CONTROLE DA VIOLÊNCIA (ESTRATÉGICAS E TÁTICAS) Há evidencias de que ações (estratégicas e táticas), desde que bem definidas, podem produzir resultados positivos no controle da violência e do crime. entre elas se encontram: a) Patrulhamento ostensivo dirigido a lugares com altas concentrações de delitos em certas horas do dia; b) Polícia orientada à resolução de problemas, ou seja, voltada para a identificação e resposta às causas mais imediatas da criminalidade em uma determinada comunidade ou local; c) Polícia comunitária. 18. POLÍCIA DE “JANELAS QUEBRADAS” E “TOLERÂNCIA ZERO” A expressão “tolerância zero” não se aplica muito ao que fizemos em nova York. Prefiro a teoria que chamamos de “janela quebrada” –ou seja, uma casa com um rombo na vidraça é convite para que seja alvo de crimes mais graves. Portanto, decidimos que tentaríamos sempre, em qualquer ocasião, impedir as “janelas quebradas”, ou seja, prevenir os crimes menos perigosos, mas muito visíveis. (Trecho da entrevista: Rudolfph W. Giuliani, ex prefeito de NOVA IORQUE) Essa estratégia de ação policial tem como base um conhecido estudo de James Q. Wilson y George Kelling que propõem a teoria de que a desordem geral (põe exemplo, janelas quebradas em edifícios, lixo amontoado nas ruas e falta de iluminação pública nas ruas) criam ambiente de desordem social propício à delinquência. Eles agregam que mesmo os problemas considerados pequenos comocasas e edifícios abandonados, o grafitti e os mendigos, criam um ambiente que fomenta a ocorrência de delitos mais graves. Sob essa ótica, um programa que aplica as leis de forma mais severa, para os crimes ou comportamentos delituosos menos graves ( como, por exemplo, o caso de mendicância em muitas cidades brasileiras, ou ainda a perturbação da ordem através de dispositivos de som musical ligados em alto volume em áreas residenciais) e que envolve todas as demais instâncias sociais da administração pública, cada uma cuidando efetivamente de suas competências, produz uma aparência mais seguras nas comunidades e bairros, os moradores se sentem mais protegidos e há um nível desejável de inibição para o crime nessas comunidades. Numa variação da polícia de “janelas quebradas”, a estratégia denominada “tolerância zero” impõe a prisão a maioria das infrações indicam tal tipo de sanção, mas que comumente não e aplicada. Nesse caso, ao invés de se utilizar de outras medidas tais como uma advertência, por exemplo, ou mesmo “passar por cima” a infração penal, a polícia efetivamente prende o infrator. Aqui, uma vez mais é importante que se tenha em conta a legislação brasileira e as restrições nela imposta para a prisão de qualquer cidadão. Isso, no entanto, não tem impedido, que velhas e tradicionais praticas do tipo “detenção para averiguação” ainda seja aplicada. (www.interbureau.org/reportagens/tolerancia.htm)
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