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Nome do professor Sobre o autor Valtency Ferreira Guimarães O autor do caderno de estudos é o professor Valtency Ferreira Guimarães, brasileiro, natural de Barão do Monte Alto/MG, graduado em Matemática (1994), Química (1996) e Física (1997) pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Santa Marcelina (FAFISM), Especialista em Física pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP, 2001), Mestre em Engenharia e Ciência dos Materiais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2009), e Doutor em Engenharia e Ciência dos Materiais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2013). É professor da Faculdade Redentor desde 2009, nos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção. Tem experiência nas disciplinas de Dinâmica I, Dinâmica II, Laboratório de Engenharia Mecânica, Tecnologia Metalúrgica, Química e Princípio de Ciências dos Materiais. Adquiriu vasta experiência em EaD ao atuar como tutor da UAB/CECIERJ de 2004 a 2013. Apresentação Olá querido aluno (a), seja muito bem-vindo (a)! Dando sequência à sua formação em Engenharia, surge um novo desafio em suas mãos. Estudar e entender nossa disciplina intitulada Princípio de Ciências dos Materiais, que envolve a investigação das relações que existem entre as estruturas e as propriedades dos materiais. Esta disciplina é muito importante para a sua formação profissional e aborda tópicos significativos para o sucesso do seu curso, uma vez que, como profissional da Engenharia, você irá uma vez ou outra ficar exposto(a) a um problema de projeto que envolva materiais. A aplicação de materiais é algo extremamente amplo, visto que tudo que enxergamos e tocamos é constituído de algum tipo de material. Desde coisas mais simples como as ferramentas ou talheres que usamos em uma tarefa cotidiana, até modernas roupas utilizadas em competições esportivas de alto desempenho. Você já pensou, por exemplo, nas complexidades que podem estar envolvidas em uma engrenagem de transmissão, na superestrutura de um edifício, no componente de uma refinaria de petróleo, ou em um chip de circuito integrado? Obviamente, os Engenheiros devem ser especialistas que estão totalmente envolvidos na investigação e no projeto dos materiais que integram essas complexidades. É claro que quanto mais familiarizado estiver um(a) Engenheiro(a) com as várias características e relações entre a estrutura e propriedade, bem como com as técnicas de processamento dos materiais, mais capacitado e confiante ele ou ela estará para desempenhar suas funções profissionais. Mas lembre-se, não se consegue desenvolver a capacidade só observando o que está sendo descrito ou mesmo os exemplos disponibilizados: é preciso praticar! Esta disciplina foi dividida em 16 aulas, contendo exemplos e atividades a serem resolvidas, sendo importante você manter uma constância em seus estudos. Portanto, não acumule dúvidas! Consulte ao professor, participe dos fóruns, releia o caderno, as bibliografias recomendadas, faça as simulações e os exercícios programados, assista aos vídeos sugeridos e consulte sempre outras fontes que você considerar importantes para sua aprendizagem. Bons estudos! Objetivos A Ciência dos materiais é o campo da ciência de caráter interdisciplinar relativo ao estudo das propriedades dos materiais e a relação entre a sua estrutura em escalas atômicas ou moleculares com suas características macroscópicas, incorporando elementos da física e da química como as formas de caracterização e processamento. A disciplina Princípio de Ciências dos Materiais visa proporcionar uma formação básica, e está sendo amplamente difundida como um campo específico e exclusivo do curso de Engenharia. Esperamos que ao final da disciplina, você aluno(a) tenha condições de correlacionar o arranjo atômico com as propriedades macroscópicas dos materiais cerâmicos, metálicos e poliméricos. Utilizar os conceitos básicos da química geral, física geral e física do estado sólido e matemática, para constituir-se a base cientifica que dá suporte à interpretação dos fenômenos que ocorrem nos materiais. Este caderno de estudos tem como objetivos: Apresentar os fundamentos básicos das Ciências dos Materiais de acordo com um nível apropriado para alunos universitários que buscam ampliar seus conhecimentos e solidificar as bases fundamentais para o sucesso de seu curso de Engenharia; Apresentar a disciplina em uma ordem lógica, desde conceitos mais simples até os mais complexos para otimizar a compreensão dos materiais, propriedades, características e fenômenos relacionados; Proporcionar aos alunos a oportunidade de compreender por completo os assuntos abordados, em parceria com outras fontes de informações, fornecendo alguma aplicabilidade prática; Incluir conceitos e ferramentas que irão acelerar o processo de aprendizado. Numerosas ilustrações, simulações computacionais, vídeos explicativos, perguntas, exemplos e problemas selecionados que auxiliem na auto-avaliação do aluno. Sumário AULA 1 - MATERIAIS DE ENGENHARIA 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 16 1.1 Perspectiva histórica ....................................................................................... 16 1.2 Evolução do uso dos materiais ...................................................................... 18 1.3 A disciplina de ciências dos materiais ......................................................... 19 1.4 Classificação dos materiais ........................................................................... 23 1.5 Metais ............................................................................................................... 23 1.6 Cerâmicos ....................................................................................................... 25 1.7 Polímeros .......................................................................................................... 26 1.8 Compósitos ...................................................................................................... 28 1.9 Semicondutores............................................................................................... 29 1.10 Biomateriais .................................................................................................... 30 AULA 2 - ESTRUTURA ATÔMICA E LIGAÇÃO INTERATÔMICA 2 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 38 2.1 A estrutura dos átomos ................................................................................... 38 2.2 Atrações interatômicas entre os átomos ...................................................... 43 2.2.1 A ligação iônica ...................................................................................... 44 2.2.2 A ligação covalente ............................................................................... 49 2.2.3 A ligação metálica ................................................................................. 52 2.2.4 A ligação secundária, ou de Van Der Waals ..................................... 54 AULA 3 - ESTRUTURA DOS SÓLIDOS CRISTALINOS 3 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 65 3.1 Conceitos fundamentais ................................................................................ 65 3.1.1 A estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC) .................. 70 3.1.2 A estrutura cristalina cúbica de faces centradas (CFC) .................. 71 3.1.3 A estrutura cristalina hexagonal compacta (HC) .............................. 74 3.2 Cálculos da densidade ..................................................................................75 3.3 Polimorfismo e alotropia ................................................................................. 76 AULA 4 - IMPERFEIÇÕES EM SÓLIDOS 4 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 86 4.1 Defeitos pontuais - Lacunas e Auto-Interstício ............................................. 86 4.2 Impurezas em sólidos - soluções sólidas ...................................................... 89 4.3 Defeitos lineares - discordâncias................................................................... 91 4.4 Defeitos planares - imperfeições interfaciais ............................................... 95 4.4.1 Contornos de macla............................................................................... 97 4.5 Defeitos volumétricos ou de massa ............................................................... 98 4.6 Vibrações atômicas ........................................................................................ 98 AULA 5 - DIFUSÃO 5 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 108 5.1 Mecanismos da difusão ............................................................................... 110 5.1.1 Difusão por lacuna ................................................................................ 110 5.1.2 Difusão intersticial .................................................................................. 111 5.2 Difusão em estado estacionário .................................................................. 112 5.3 Difusão em estado não-estacionário .......................................................... 115 5.4 Fatores que influenciam a difusão .............................................................. 116 5.4.1 Espécies difusivas .................................................................................. 116 5.4.2 Temperatura .......................................................................................... 117 5.5 Caminhos alternativos de difusão ............................................................... 119 AULA 6 - DIAGRAMAS DE FASES 6 A REGRA DA ALAVANCA ....................................................................................... 129 6.1 Definições e conceitos básicos ................................................................... 129 6.2 Fases ............................................................................................................... 130 6.3 Microestrutura ................................................................................................ 131 6.4 Equilíbrio de fases ......................................................................................... 132 6.5 Diagramas de fases em condições de equilíbrio ...................................... 133 6.5.1 Solução sólida completa ..................................................................... 134 AULA 7 - DIAGRAMAS DE FASES CONTINUAÇÃO 7 DIAGRAMA EUTÉTICO SEM SOLUÇÃO SÓLIDA ...................................................... 149 7.1 Diagrama eutético com solução sólida limitada....................................... 151 7.2 A transformação eutética ............................................................................ 154 7.3 Desenvolvimento das microestruturas em ligas isomorfas durante o resfriamento lento - condições de equilíbrio....................................................... 157 AULA 8 - O SISTEMA FERRO-CARBONO 8 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 174 8.1 O diagrama de fases ferro-carbeto de ferro (Fe-Fe3C) ............................. 174 8.1.1 Discussão sobre o diagrama de fases ferro-carbono ..................... 177 8.1.2 A transformação eutetoide ................................................................. 179 8.1.3 Comentário sobre as ligas ferrosas presentes no diagrama Fe-C . 179 8.2 Desenvolvimento das microestruturas em ligas Fe-C ................................ 180 8.2.1 As ligas eutetoides ................................................................................ 181 8.2.2 As ligas hipoeutetoides ......................................................................... 184 8.2.3 As ligas hipereutetoides........................................................................ 188 8.3 Resfriamento fora das condições de equilíbrio .......................................... 191 AULA 9 - O SISTEMA FERRO-CARBONO - FERROS FUNDIDOS 9 OS FERROS FUNDIDOS ............................................................................................. 201 9.1 O diagrama de equilíbrio ............................................................................. 201 9.2 A reação eutética no diagrama Fe-C ........................................................ 204 9.3 Discussão sobre o diagrama de equilíbrio ................................................. 206 9.3.1 Microestrutura dos ferros fundidos no diagrama Fe-C .................... 207 AULA 10 - LIGAS METÁLICAS 10 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 221 10.1 Ligas ferrosas ................................................................................................ 221 10.1.1 Aços carbono e de baixa liga .......................................................... 222 10.1.2 Aços de alta liga ................................................................................. 224 10.1.3 Superligas ............................................................................................. 228 10.1.4 Ferros fundidos ..................................................................................... 229 10.2 Ligas não-ferrosas ........................................................................................ 233 10.2.1 Ligas de alumínio ................................................................................. 233 10.2.2 Ligas de cobre ..................................................................................... 235 10.2.3 Ligas de magnésio .............................................................................. 236 10.2.4 Ligas de titânio ..................................................................................... 236 10.2.5 Ligas de níquel ..................................................................................... 237 10.2.6 Zinco, chumbo e outras ligas ............................................................ 238 10.3 Processamento de metais ........................................................................... 241 10.3.1 Operações de conformação ........................................................... 242 10.3.2 Forjamento ........................................................................................... 243 10.3.3 Laminação ........................................................................................... 244 10.3.4 Extrusão ................................................................................................. 244 10.3.5 Estiramento ........................................................................................... 244 10.3.6 Fundição ............................................................................................... 245 10.3.7 Fundição em molde de areia ........................................................... 246 10.3.8 Fundição com matriz .......................................................................... 246 10.3.9 Fundição de precisão ........................................................................ 247 10.3.10 Fundição contínua ............................................................................ 247 10.4 Técnicas diversas ......................................................................................... 248 10.4.1Metalurgia do pó ................................................................................ 248 10.4.2 Soldagem ............................................................................................. 249 10.5 Efeitos do processamento de metais ......................................................... 251 AULA 11 - PROCESSAMENTO TÉRMICO DE LIGAS METÁLICAS 11 TRATAMENTOS TÉRMICOS ....................................................................................... 265 11.1 Introdução .................................................................................................... 265 11.2 Definição e objetivos ................................................................................... 265 11.3 Fatores de influência nos tratamentos térmicos ....................................... 266 11.3.1 Aquecimento ....................................................................................... 267 11.4 Tempo de permanência à temperatura de aquecimento ...................... 269 11.4.1 Resfriamento ........................................................................................ 270 11.4.2 Atmosfera do forno ............................................................................. 272 11.5 Tratamentos térmicos usuais ....................................................................... 273 11.5.1 Recozimento ........................................................................................ 273 11.5.2 Recozimento pleno ou total .............................................................. 274 11.5.3 Recozimento para alívio de tensões ou subcrítico ........................ 275 11.5.4 Normalização ...................................................................................... 276 11.5.5 Esferoidização ...................................................................................... 277 11.5.6 Tratamento térmico de têmpera ...................................................... 277 11.6 Revenido ....................................................................................................... 285 11.6.1 Fragilidade do revenido ..................................................................... 285 11.6.2 Transformação da austenita retida .................................................. 286 11.7 Martêmpera e Austêmpera ........................................................................ 287 11.8 Têmpera superficial ..................................................................................... 288 11.8.1 Têmpera por chama .......................................................................... 289 11.8.2 Têmpera por indução ........................................................................ 289 11.9 Tratamentos termoquímicos ....................................................................... 291 11.9.1 Cementação (carbonetação) ......................................................... 292 11.9.2 Nitretação ............................................................................................ 297 11.9.3 Carbonitretação ................................................................................. 298 11.9.4 Cianetação.......................................................................................... 299 AULA 12 - PROCESSAMENTO TÉRMICO DE LIGAS METÁLICAS- APROFUNDAMENTO NOS TRATAMENTOS TÉRMICOS 12 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 307 12.1 Processos de recozimento .......................................................................... 308 12.2 Recozimento intermediário ......................................................................... 309 12.3 Alívio de tensão ........................................................................................... 309 12.4 Recozimento de ligas ferrosas .................................................................... 310 12.4.1 Normalização ...................................................................................... 311 12.4.2 Recozimento pleno ............................................................................. 313 12.5 Recozimento para recristalização ............................................................. 315 12.6 Recozimento para alívio de tensões .......................................................... 316 12.7 Recozimento de recristalização x recozimento para alívio de tensões . 317 12.8 Cementita globulizada ................................................................................ 318 12.9 Sobre os tratamentos de recozimento ....................................................... 320 12.9.1 Trabalho a frio ...................................................................................... 320 12.9.2 Recuperação ...................................................................................... 321 12.9.3 Recristalização ..................................................................................... 322 12.9.4 Crescimento de grão ......................................................................... 322 12.10 Tratamento térmico de aços .................................................................... 325 12.10.1 Martensita ........................................................................................... 326 12.11 Bainita ......................................................................................................... 329 12.12 Austêmpera e Martêmpera ...................................................................... 330 12.12.1 Austêmpera ....................................................................................... 330 12.12.2 Martêmpera ....................................................................................... 333 12.12.3 Endurecibilidade ............................................................................... 335 12.12.4 Ensaio Jominy..................................................................................... 335 12.12.5 Curvas de endurecibilidade ............................................................ 338 12.12.6 Influência do meio de resfriamento, do tamanho e da geometria da amostra ......................................................................................................... 341 12.13 Endurecimento por precipitação e por solubilização (envelhecimento) .. ..................................................................................................................... 344 12.13.1 Considerações................................................................................... 346 AULA 13 - CERÂMICAS E VIDROS 13 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 357 13.1 Cerâmicas - Materiais cristalinos ............................................................... 358 13.2 Vidros - materiais não-cristalinos ............................................................... 362 13.3 Vitrocerâmicas ............................................................................................. 364 13.4 A cinética das transformações de fase ..................................................... 366 13.5 Processamento de cerâmicas e vidros ..................................................... 368 AULA 14 - POLÍMEROS 14 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 383 14.1 Polimerização............................................................................................... 383 14.1.1 Características estruturais dos polímeros ......................................... 390 14.1.2 4 Polímeros termoplásticos ................................................................. 396 14.1.3 Polímeros termofixos ............................................................................ 402 14.2 Aditivos .........................................................................................................407 14.2.1 Processamento de polímeros ............................................................ 409 AULA 15 - COMPÓSITOS 15 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 420 15.1 Compósitos reforçados com fibra .............................................................. 423 15.1.1 Fibra de vidro convencional ............................................................. 423 15.1.2 Compósitos avançados ..................................................................... 425 15.1.3 Madeira - um compósito natural reforçado com fibra ................. 429 15.1.4 Compósitos agregados ...................................................................... 432 15.1.5 Resistência interfacial ......................................................................... 439 15.2 Processamento de compósitos .................................................................. 441 AULA 16 - ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS (ENDS) 16 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 454 16.1 Ensaio visual ................................................................................................. 456 16.1.1 Sequência do ensaio .......................................................................... 457 16.1.2 Vantagens e desvantagens do ensaio ........................................... 458 16.2 Líquido penetrante ....................................................................................... 459 16.2.1 Etapas do ensaio ................................................................................. 460 16.2.2 Vantagens e desvantagens do ensaio ........................................... 466 16.3 Ultrassom....................................................................................................... 467 16.3.1 Vantagens e desvantagens em relação a outros ensaios ........... 469 16.4 Ensaio por partículas magnéticas .............................................................. 470 16.4.1 Comportamento do campo magnético ........................................ 471 16.4.2 As partículas magnéticas ................................................................... 473 16.4.3 Magnetização da peça .................................................................... 474 16.4.4 Radiografia industrial .......................................................................... 479 16.4.5 Correntes parasitas ............................................................................. 484 16.4.6 Emissão acústica ................................................................................. 488 16.4.7 Termografia .......................................................................................... 490 Iconografia Materiais de engenharia Aula 1 APRESENTAÇÃO DA AULA Caro(a) aluno(a), nesta aula faremos uma breve introdução sobre os materiais, apresentando uma perspectiva histórica e uma abordagem de suas principais classes, destacando que os materiais desempenham um papel fundamental no amplo espectro da ciência e tecnologia contemporâneas. Estudaremos as categorias que os materiais sólidos têm sido convenientemente agrupados em três classificações básicas, a saber metais, cerâmicos e polímeros, além dos três outros grupos de materiais importantes na Engenharia - compósitos, semicondutores e biomateriais. Veremos que para entender as propriedades desses materiais diversos, é preciso examinar a estrutura em escala microscópica ou atômica. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Proporcionar uma ideia inicial da importância dos materiais para o desenvolvimento da ciência e tecnologia; Introduzir uma série de conceitos básicos relacionados à estrutura, propriedades e aplicação dos materiais; Conhecer os principais materiais, suas propriedades e aplicações visando a especificação de materiais; Citar os quatro componentes que estão envolvidos no projeto, produção e utilização de materiais, e descrever sucintamente as relações entre estes componentes; Listar seis classificações diferentes de propriedades dos materiais que determinam a sua aplicabilidade. P á g i n a | 16 1 INTRODUÇÃO Nesse momento vale a pena fazer uma breve perspectiva histórica para que você se situe de maneira adequada em relação à disciplina. Vale destacar que os materiais estão provavelmente mais entranhados na nossa cultura do que a maioria de nós imagina. Transportes, habitação, vestuário, comunicação, recreação e produção de alimentos - virtualmente, cada seguimento de nossas vidas diárias é influenciado em maior ou menor grau pelos materiais. 1.1 Perspectiva histórica Historicamente, o desenvolvimento e o avanço das sociedades têm estado intimamente ligados às habilidades dos seus membros em produzir e manipular materiais para satisfazer as suas necessidades. De fato, as civilizações antigas foram designadas pelo nível de seus desenvolvimentos em relação aos materiais, como, Idade da Pedra, Idade do Bronze, outros. Os primeiros seres humanos tiveram acesso a apenas um número limitado de materiais, aqueles que ocorrem naturalmente: pedra, madeira, argila, peles, e assim por diante. Com o tempo eles descobriram técnicas para a produção de materiais que tinham propriedades superiores às dos produtos naturais; estes novos materiais incluíam as cerâmicas e os vários metais. Além disso, foi descoberto que as propriedades de um material poderiam ser alteradas através de tratamentos térmicos e pela adição de outras substâncias. Até meados do século XIX, o que se conhecia acerca dos materiais era essencialmente empírico, ou na melhor das hipóteses, resultado de alquimia. Apenas P á g i n a | 17 em tempos relativamente recentes que os cientistas compreenderam as relações entre os elementos estruturais dos materiais e as suas propriedades. Este conhecimento, adquirido ao longo do último século, deu-lhes condições de moldar, em grande parte, as características dos materiais. O desenvolvimento do microscópio eletrônico no início do século XX, permitiu um grande salto no conhecimento dos materiais. A observação ao microscópio, permitiu estudos sistemáticos, que por sua vez conduziram ao domínio dos materiais e de seus processos de fabricação e transformação. Hoje, dispõe-se de aproximadamente dezenas de milhares de materiais que compõem o cenário industrial moderno, desenvolvidos com características relativamente específicas que atendem as necessidades de nossa moderna e complexa sociedade; estes incluem os metais, os plásticos, os vidros e fibras. O desenvolvimento de muitas tecnologias que tornam nossa existência tão confortável tem estado intimamente associado com a acessibilidade a materiais adequados. Um avanço na compreensão de um tipo de material é frequentemente o precursor da progressão escalonada de uma tecnologia. Por exemplo, os automóveis não teriam sido possíveis sem a disponibilidade de aço a baixo custo ou de algum outro substituto comparável. Em nossos tempos, dispositivos eletrônicos sofisticados dependem de componentes que são feitos a partir dos chamados materiais semicondutores. Neste momento, caro(a) aluno(a), você deve estar se perguntando "mas como será possível para o Engenheiro ter um conhecimento detalhado dos muitos milhares de materiais agora disponíveis, assim como manter-se a par dos novos desenvolvimentos?" Pois acalme-se. Um bom Engenheiro deve é ter um conhecimento adequado dos princípios gerais que governam as propriedades de todos os materiais. E lembre- se sempre, esta disciplina irá lhe auxiliar no estudo da estrutura, que vai incluir desde as característicaspossíveis de uma observação direta até aquelas submicroscópicas; P á g i n a | 18 desde as peças componentes até os grãos e cristais que compõem as mesmas e, até mesmo, as partículas subatômicas que determinam as propriedades do material. 1.2 Evolução do uso dos materiais Após essa explanação inicial, acompanhe na página a seguir a figura 1.1 que apresenta de A-H um diagrama da evolução dos materiais de Engenharia ao longo dos tempos e suas importâncias relativas. Observe que a escala não é linear. Figura 1.1: A evolução dos materiais da Engenharia com o tempo. P á g i n a | 19 Figura 1.1: A evolução dos materiais da Engenharia com o tempo (conclusão). 1.3 A disciplina de ciências dos materiais Caro(a) aluno(a), você deve sempre ter em mente que a Ciência e Engenharia dos Materiais é um campo interdisciplinar que estuda e manipula a composição e a estrutura de materiais utilizando escalas de proporção, a fim de controlar as propriedades dos materiais através de síntese e do processamento. Aí você pode se perguntar, mas o que vem a ser composição, estrutura e processamento diante do novo desafio de cursar essa disciplina?... Bem, então, vamos ver... O termo composição indica a constituição química de um material. Já o termo estrutura se refere à descrição detalhada do arranjo de átomos. Os cientistas e Engenheiros lidam não só com o desenvolvimento de materiais, mas também com sua síntese e seu processamento, bem como com os processos de fabricação relacionados à produção de componentes. Tenha em mente caro(a) aluno(a), o termo "síntese" refere-se ao modo como os materiais são feitos, a partir de quais substâncias químicas naturais ou produzidas pelo homem; o termo "processamento" diz respeito P á g i n a | 20 ao modo como os materiais são transformados em componentes úteis e com propriedades adequadas. Parece complexo não é mesmo?... Mas lembre-se, uma das mais importantes funções dos Engenheiros consiste exatamente em estabelecer a correlação entre as propriedades e o desempenho de um material ou dispositivo, a sua microestrutura, além da sua composição e do modo como o dispositivo foi sintetizado e processado. Então, a Ciência dos Materiais concentra-se nos fundamentos científicos da correlação entre síntese e processamento, microestrutura e propriedades dos materiais; e a Engenharia dos Materiais desenvolve modos de converter ou transformar materiais em dispositivos ou estruturas úteis. Um dos aspectos mais fascinantes da Ciência dos Materiais envolve a investigação da estrutura de cada material. De fato, a estrutura dos materiais tem grande influência sobre muitas de suas propriedades, mesmo que a composição química global não seja alterada. Se você, por exemplo, dobrar um fio de cobre puro repetidamente, ele vai se tornar não só mais rígido, mas também mais frágil. Por fim, o fio de cobre puro vai ser rígido e frágil a ponto de quebrar. Além disso, a resistividade elétrica do fio vai aumentar ao ser dobrado repetidamente. Observe nesse exemplo simples, caro(a) aluno(a), que não alteramos a composição do material (ou seja, sua composição química). As mudanças nas propriedades do material decorrem de uma alteração de sua estrutura interna. Se você observar o fio já dobrado, notará que ele parece o mesmo; no entanto, sua estrutura interna foi alterada em escala microscópica. Nessa escala, a estrutura é conhecida como microestrutura. Se você puder compreender o que mudou microscopicamente, começará a descobrir meios de controlar as propriedades dos materiais. Agora vamos analisar um exemplo utilizando o tetraedro da ciência e Engenharia de materiais, apresentado na figura 1.2, tendo como exemplo "chapas de aço" usadas na fabricação de chassis de automóveis (figura 1.3). E lembre-se sempre, você está estudando uma Engenharia situada na fronteira entre ciências naturais (física e química) e aplicações na Engenharia. P á g i n a | 21 Figura 1.2: Tetraedro da ciência e Engenharia de materiais. Figura 1.3: Material utilizado na Engenharia em diferentes escalas. Como você provavelmente sabe, o aço tem sido empregado na manufatura de componentes há mais de cem anos, mas é provável que na Idade do Ferro, há milhares de anos, já existisse alguma forma rudimentar de aço. Você deve saber também que na fabricação de chassis de automóveis é preciso empregar um material com resistência mecânica bastante elevada, mas que ainda possibilite a conformação de superfícies com boas propriedades aerodinâmicas. Outro aspecto a considerar é a economia de combustível, portanto, o aço em chapas deve ser também fino e leve. Além disso, tais tipos de aço precisam, em caso de colisão, absorver quantidades significativas de energia, elevando assim a segurança do veículo. Em suma, são requisitos contraditórios. Portanto, nesse caso, os Engenheiros preocupam-se com as seguintes características do aço na forma de chapas: P á g i n a | 22 Composição química; Resistência mecânica; Peso; Propriedades de absorção de energia; Maleabilidade (conformabilidade). Na figura 1.4 está destacado a aplicação do tetraedro da ciência e Engenharia de materiais a chapas de aço para chassis de automóveis. Observe que os fatores composição-propriedades, microestrutura e processamento-síntese estão inter- relacionados e afetam a razão desempenho-custo. Figura 1.4: Tetraedro da ciência e Engenharia de materiais aplicado a chapas de aço para chassis de automóveis. - O que é razão resistência mecânica-densidade? - O que é conformabilidade? - Como isso se relaciona com a resistências de um veículo a impactos? - O que é custo de fabricação? - À base de ferro? - À base de alumínio? - Quais elementos de liga devem ser utilizados? - Em que quantidades? - Como a síntese e o processamento do aço podem ser controlados de modo que forneçam um alto nível de tenacidade e conformabilidade? - Como um chassi de carro com boas propriedades aerodinâmicas pode ser conformado? - Quais características da microestrutura limitam a resistência mecânica e a conformabilidade? - O que controla a resistência? P á g i n a | 23 1.4 Classificação dos materiais Uma pergunta óbvia feita por um aluno ou aluna de Engenharia que, como você, ingressa nos estudos das Ciências dos Materiais é "que materiais estão disponíveis para mim?"... Pois bem, saiba caro(a) aluno(a) que diversos sistemas de classificação são possíveis para o amplo espectro de respostas a essa pergunta, porém, segundo Callister (veja referência bibliográfica), os materiais sólidos têm sido convenientemente agrupados em três classificações básicas: metais, cerâmicos e polímeros. Esse esquema está baseado principalmente na composição química e na estrutura atômica, e a maioria dos materiais se encaixa em um ou outro grupamento distinto, embora existam alguns materiais intermediários. Adicionalmente, existem três outros grupos de materiais importantes na Engenharia - compósitos, semicondutores e biomateriais. Os compósitos consistem em combinações de dois ou mais materiais diferentes, enquanto os semicondutores são utilizados devido às suas características elétricas peculiares; os biomateriais são implantados no interior do corpo humano. Antes de fazer uma pausa para o café, acompanhe a seguir uma explicação sucinta dos tipos de materiais e suas características representativas. 1.5 Metais Materiais metálicos são normalmente combinações de elementos metálicos. Eles possuem um número grande de elétrons não-localizados; isto é, estes elétrons não estão ligados a qualquer átomo em particular. Muitas propriedades dos metais são atribuídas diretamente a estes elétrons.Os metais são condutores extremamente bons de eletricidade e calor, e não são transparentes à luz visível; uma superfície metálica polida possui uma aparência lustrosa. Além disso, os metais são muito resistentes, e ainda assim deformáveis, o que é responsável pelo seu uso extenso em aplicações estruturais. Propriedades básicas dos metais: Fortes e podem ser moldados; Dúcteis (deformam antes de quebrar); Superfície "metálica"; Bons condutores de corrente elétrica e de calor. P á g i n a | 24 A figura 1.5 apresenta exemplos de peças metálicas comuns, incluindo várias molas e garras, que são características de sua grande variedade de aplicações; e a figura 1.6 apresenta a tabela periódica dos elementos com os elementos inerentemente metálicos na natureza em destaque. Figura 1.5: Exemplos de peças metálicas comuns. Figura 1.6: Tabela periódica dos elementos. Os elementos metálicos aparecem em fundo cinza. Estudaremos com mais detalhes os metais em diversas aulas de nosso curso. Entre eles os aços, ferros fundidos e as principais ligas ferrosas e não ferrosas. P á g i n a | 25 1.6 Cerâmicos Os cerâmicos são compostos entre os elementos metálicos e não-metálicos; eles são frequentemente óxidos, nitretos e carbetos. A grande variedade de materiais que se enquadra nesta classificação inclui cerâmicos que são compostos por minerais argilosos, cimento e vidro. Estes materiais são tipicamente isolantes à passagem de eletricidade e calor, e são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes abrasivos do que os metais e polímeros. Com relação aos comportamentos mecânicos, os cerâmicos são duros, porém muito quebradiços. Saiba, caro(a) aluno(a), que nos aprofundaremos no estudo das cerâmicas na aula 13. Acompanhe algumas propriedades básicas das cerâmicas e vidros: Combinação de metais com O, N, C, P e S; Altamente resistentes a temperatura (refratários); Isolantes térmicos e elétricos; Frágeis (quebram sem deformar); Menos densos do que metais; Podem ser transparentes. Acompanhe na figura 1.7 um material de cozinha fabricado de uma cerâmica vítrea, que oferece boas propriedades mecânicas e térmicas por suportar um choque térmico de temperaturas simultaneamente altas (uma chama de fogo) e baixa (um bloco de gelo); e a figura 1.8 apresenta a tabela periódica com os compostos cerâmicos indicados por uma combinação de um ou mais elementos metálicos (em cinza claro) com um ou mais elementos não-metálicos (em cinza escuro). Figura 1.7: Material de cozinha fabricado de uma cerâmica vítrea. P á g i n a | 26 Figura 1.8: Tabela periódica indicando a combinação de elementos metálicos (em cinza claro) com elementos não-metálicos (em cinza escuro). Estudaremos com mais detalhes os materiais cerâmicos, suas propriedades e tecnologia na aula 13 de nosso curso. 1.7 Polímeros Os polímeros compreendem os materiais comuns de plástico e borracha. Muitos deles são compostos orgânicos que têm sua química baseada no carbono, no hidrogênio e em outros elementos não- metálicos; além disso, eles possuem estruturas moleculares muito grandes. Estes materiais possuem tipicamente baixas densidades e podem ser extremamente flexíveis. Estudaremos a fundo os polímeros na aula 14. Acompanhe, por enquanto, algumas propriedades básicas dos polímeros: São na maioria sintéticos - feitos pelo homem; Altamente moldáveis - plásticos; Formados pela combinação de unidades - "meros"; Formados por um número bem limitado de elementos: C e H, O (acrílicos), N (nylons), F (fluor-plásticos) e Si (silicones); Leves e não frágeis; e em geral, são menos resistentes do que metais e cerâmicas. P á g i n a | 27 Veja na figura 1.9 alguns exemplos de classes de polímeros e na figura 1.10 a tabela periódica destacando os elementos associados aos polímeros. Figura 1.9: Classes de polímeros comuns do nosso cotidiano. Figura 1.10: Tabela periódica com os elementos associados aos polímeros comerciais em fundo cinza. P á g i n a | 28 Fique tranquilo, caro(a) aluno(a), que estudaremos com mais detalhes a tecnologia dos materiais poliméricos na aula 14 de nosso curso. 1.8 Compósitos Você deve saber que materiais compósitos, que consistem em mais de um tipo de material, têm sido cada vez mais desenvolvidos pela Engenharia. Pois bem, a fibra de vidro é um exemplo familiar, no qual fibras de vidro são incorporadas no interior de um material polimérico. Um compósito é projetado para mostrar uma combinação das melhores características de cada um dos materiais que o compõe. A fibra de vidro adquire resistência do vidro e flexibilidade do polímero. Muitos dos desenvolvimentos recentes de materiais têm envolvido materiais compósitos. Estudaremos os compósitos de forma aprofundada na aula 15. Para entendê- los melhor neste momento, dê uma olhada na figura 1.11, que destaca em escala microscópica um composto de fibras de vidro reforçando uma matriz de polímero; a madeira, que também é um excelente exemplo de material natural com propriedades mecânicas úteis, devido à sua estrutura reforçada com fibra; também o concreto, que é um exemplo comum de compósito agregado, com a brita e a areia reforçando uma complexa matriz cimento-silicato. Nem é preciso ilustrar uma região da tabela periódica como característica dos compósitos, pois eles envolvem praticamente a tabela inteira, exceto os gases nobres. Propriedades básicas dos compósitos: Combinação de metais, cerâmicas e polímeros; Preservam as propriedades "boas" dos componentes e possuem propriedades superiores às de cada componente separado. Figura 1.11: Exemplo de um compósito de fibra de vidro. P á g i n a | 29 Teremos a oportunidade de nos aprofundarmos nos fundamentos e na tecnologia dos materiais compósitos na aula 15 de nosso curso. 1.9 Semicondutores Os semicondutores possuem propriedades elétricas que são intermediárias entre aquelas apresentadas pelos condutores elétricos e pelos isolantes. Além disso, as características elétricas destes materiais são extremamente sensíveis à presença de minúsculas concentrações de átomos de impurezas, concentrações que podem ser controladas ao longo de regiões espaciais muito pequenas. Os semicondutores tornaram possível o advento dos circuitos integrados, que revolucionaram totalmente as indústrias de produtos eletrônicos e de computadores, isso sem mencionar a sua vida, caro(a) aluno(a), ao longo das últimas duas décadas. Propriedades básicas dos semicondutores: compõem todos os componentes eletrônicos do computador; condutividade finamente controlada pela presença de elementos impurezas - dopantes; podem ser combinados entre si para gerar propriedades eletrônicas e óticas "sob medida"; são a base da tecnologia de optoeletrônica - lasers, detetores, circuitos integrados óticos e células solares. Acompanhe na figura 1.12 a imagem de um microcircuito típico contendo um complexo arranjo de regiões semicondutoras; e na figura 1.13 a tabela periódica com os semicondutores elementares em cinza escuro e os elementos que formam os compostos semicondutores em cinza claro. Os compostos semicondutores são formados por partes de elementos das colunas IIIA e VA (por exemplo, GaAs) ou das colunas IIB e VIA (por exemplo, CdS). P á g i n a | 30 Figura 1.12: Microcircuito contendo complexo arranjo de regiões semicondutoras. Figura 1.13: Tabela periódica com os semicondutores elementares e com os elementos que formam os compostos semicondutores. 1.10 Biomateriais Os biomateriais são empregados em componentes implantados no interior do corpo humano para a substituição de partes do corpo doentes ou danificadas. Esses materiais não devemproduzir substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com os tecidos do corpo; isto é, não devem causar reações biológicas adversas. Todos os materiais P á g i n a | 31 citados nos itens anteriores - metais, cerâmicos, polímeros, compósitos e semicondutores - podem ser usados como biomateriais. Propriedades básicas dos biomateriais: Materiais utilizados na área da saúde para ajudar o ser humano; Usado em medicina na substituição de partes do corpo humano. Formados pela combinação de unidades - "meros"; Formados por um número bem limitado de elementos: C e H, O (acrílicos), N (nylons), F (fluor-plásticos) e Si (silicones). A figura 1.14 apresenta exemplos de biomateriais que possuem ampla gama de aplicações clínicas típicas para a vida do ser humano. Figura 1.14: Biomateriais de uso difundido para melhorar a vida do ser humano. Bem, solícito(a) aluno(a), até aqui você iniciou a exploração do campo da Engenharia e Ciência dos Materiais focalizando a ciência dos materiais. Entendendo que se trata de um campo interdisciplinar que se ocupa da descoberta de novos materiais e dispositivos e do aperfeiçoamento dos materiais já existentes, pelo desenvolvimento de uma maior compreensão das relações entre microestrutura-composição-síntese-processamento; além da classificação dos materiais. Nesse momento, é bom fazer uma breve pausa antes de dar prosseguimento aos seus estudos. Mas não se preocupe, você verá que muitos dos conceitos que dão continuidade a este capítulo podem já ter sido vistos em algum momento do seu curso. Boa pausa e bom café. P á g i n a | 32 Assista agora a três pequenos vídeos que tratam dos conceitos iniciais que acabamos de ver nesta aula. Estes vídeos vão te proporcionar uma visão geral mais ampla sobre a classificação dos "materiais de Engenharia": <https://www.youtube.com/watch?v=LkCyXRwbQ6E&list=PLwUJv5gwq1xmRXdOG3- o4P7yTbxNT8Kwt&index=5>. <https://www.youtube.com/watch?v=ercdzLrY27Q&list=PLA90935055A0C9030&index =2>. <https://www.youtube.com/watch?v=qsDQ4lLO0g>. https://www.youtube.com/watch?v=LkCyXRwbQ6E&list=PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt&index=5 https://www.youtube.com/watch?v=LkCyXRwbQ6E&list=PLwUJv5gwq1xmRXdOG3-o4P7yTbxNT8Kwt&index=5 https://www.youtube.com/watch?v=ercdzLrY27Q&list=PLA90935055A0C9030&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=ercdzLrY27Q&list=PLA90935055A0C9030&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=qsDQ4lLO0g Resumo Nesta breve aula, caro(a) aluno(a), vimos que o desenvolvimento e o avanço das sociedades está intimamente ligados à produção e manipulação dos materiais para satisfazer as necessidades das civilizações, e que o desenvolvimento de muitas tecnologias tornaram nossa existência muito mais confortável; por isso, um bom Engenheiro deve ter um conhecimento adequado dos princípios gerais que governam as propriedades de todos os materiais. Fizemos também a abordagem sobre: A evolução do uso dos materiais; Como a Ciência e Engenharia dos Materiais estuda e manipula a composição e a estrutura de materiais, a fim de controlar as propriedades dos materiais através de síntese e do processamento; A classificação dos materiais, destacando os metais, as cerâmicas, os polímeros, além dos compósitos, semicondutores e biomateriais. Complementar Caro(a) aluno(a), como esta nossa primeira aula é relativamente simples e faz apenas abordagens sobre conceitos fundamentais, sendo muitos deles para você somente uma revisão, recomendamos que faça os poucos exercícios sugeridos. Você deve também continuar e iniciar o estudo da aula 2. Porém, seria muito interessante, para fixar ainda mais e para enriquecer nosso material, que você reveja as vídeoaulas indicadas, leia o capítulo 1 dos dois primeiros livros sugeridos nas referências bibliográficas, e também acesse o link abaixo que traz uma boa e concisa informação preparada pela UNICAMP sobre a introdução ao estudo dos "materiais de Engenharia": <http://www.fem.unicamp.br/~caram/capitulo1.pdf>. http://www.fem.unicamp.br/~caram/capitulo1.pdf Referências Bibliográficas Básica: ASKELAND, D. R., WRIGHT, W.J.; Ciência e Engenharia dos Materiais. Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER Jr., W. Ciência e Engenharia de Materiais - Uma introdução. Editora LTC, 2002. GUY, A. G., Ciências dos Materiais. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos. SHACKELFORD, J., Ciência dos Materiais. 6. edição, São Paulo, Editora Pearson Education do Brasil, 2008. VAN VLACK, L. H., Princípios de Ciência e Tecnologia dos Materiais. Rio de Janeiro, Editora Campus. Disponível em: <www.cienciadosmateriais.org>. Acesso em: 10 jan. 2017. Material do projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola Profissionalizante”, financiado pela FINEP no Edital “Ciência para Todos”, 2004. AULA 1 Exercícios Questão 1. Com relação às afirmativas sobre a classificação dos materiais, assinale a alternativa incorreta: a) Materiais metálicos são formados essencialmente por um metal ou pela combinação de elementos metálicos, mas que podem conter elementos não metálicos ou semi-metálicos em menor proporção. Características: são opacos, possuem brilho, conduzem bem o calor e a eletricidade, e podem ser deformados. Ex. Aço (Fe-C), latão (Cu-Zn). b) Materiais cerâmicos são materiais inorgânicos formados por elementos metálicos e não- metálicos. Características: não tem o brilho metálico, são isolantes de calor e eletricidade, possuem dureza elevada e são frágeis. Ex.: Alumina (óxido de alumínio), quartzo (óxido de silício), zircônia (óxido de zircônio). c) Materiais plásticos (polímeros) são materiais orgânicos formados pela união de grandes cadeias moleculares (polímeros), com estrutura constituída por carbono, hidrogênio e elementos não-metálicos. Ex.: Polietileno ...-C2H4-..., PVC ...- C2H3Cl-... d) Compósitos são materiais formados pela combinação de mais de um tipo de material. Ex.: Fibra de vidro e concreto. e) Semicondutores são materiais que exibem propriedades intermediárias entre aquelas apresentadas pelos metais e pelos sólidos iônicos. Ex.: Si, Ge, GaAs. Questão 2. Compare alguns tipos de materiais de Engenharia - metálicos, cerâmicos, poliméricos e compósitos - quanto à propriedade de densidade. Questão 3. O que é microestrutura de um material? Questão 4. Faça uma pesquisa e responda de forma sucinta o que são materiais avançados? Estrutura atômica e ligação interatômica Aula 2 APRESENTAÇÃO DA AULA Caro(a) aluno(a), esta aula será um pouco mais longa que a primeira, porém você não deve se preocupar pois muitos assuntos abordados já foram estudados em algum momento do seu curso. Além disso, uma leitura mais ampla, porém elaborada, lhe poupará tempo evitando necessidade de voltar várias vezes a um mesmo tópico. Nesta aula, faremos uma breve introdução sobre os materiais, apresentando uma perspectiva histórica e uma abordagem de suas principais classes, além de estudarmos os conceitos básicos da estrutura atômica e das ligações interatômicas, que nos permite explicar as propriedades de um material, dando ênfase às forças e energias atrativa, repulsiva e líquida em função da separação interatômica para dois átomos ou íons. Para auxiliá-lo ainda mais no estudo sobre esses conceitos, indicaremos diversas simulações ao longo desta aula (e também nas próximas) desenvolvidas pelo projeto “Ciência dos Materiais no Ensino Médio e na Escola Profissionalizante”, disponíveis no site <http://www.cienciadosmateriais.org>. São realmente muito interessantes e de fácil navegação. Bem-vindo! OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: Identificaros modelos atômicos e observar as diferenças entre eles; Descrever o importante princípio quântico-mecânico que se relaciona às energias dos elétrons; Entender esquematicamente os diagramas de força e energia líquida em função da distância interatômica; Descrever sucintamente as ligações iônica, covalente, metálica, de hidrogênio e de van der Waals; Entender quais materiais exibem cada tipo de ligação estudada. P á g i n a | 38 2 INTRODUÇÃO Na aula anterior, você estudou uma introdução dos tipos básicos de materiais disponíveis aos Engenheiros. Porém, deve entender que uma base desse sistema de classificação é encontrada na natureza da ligação atômica dos materiais. Logo, uma razão importante para se ter uma compreensão da ligação interatômica em sólidos se deve ao fato de que, em alguns casos, o tipo de ligação nos permite explicar as propriedades de um material. Por exemplo, considere o carbono, que pode existir tanto na forma de grafite como na de diamante. Enquanto o grafite é relativamente macio o diamante é o mais duro material conhecido. Essa disparidade drástica nas propriedades é atribuída diretamente a um tipo de ligação interatômica encontrada no grafite que não existe no diamante. Você terá oportunidade de visualizar essa estrutura ao longo desta aula. Assim, levaremos em consideração agora diversos conceitos fundamentais e importantes, com o objetivo de preparar para discussões subsequentes, quais sejam: estrutura atômica, configurações eletrônicas dos átomos e tabela periódica, e os vários tipos de ligações interatômicas primárias e secundárias que mantêm unidos os átomos que compõem um sólido. 2.1 A estrutura dos átomos Lembramos a você, caro(a) aluno(a), que os conceitos mencionados a seguir foram abordados no seu curso na disciplina introdutória de Química Geral. Mas não se preocupe se você se sentir em uma aula de Química, o que forneceremos aqui será apenas uma breve análise. Para entender a ligação entre os átomos, temos de apreciar a estrutura dentro dos átomos individuais. Para esse propósito, basta usar um modelo planetário relativamente simples da estrutura atômica - ou seja, elétrons (os planetas) giram em torno de um núcleo (o Sol). Não é preciso considerar a estrutura detalhada do núcleo, para a qual os físicos catalogaram uma grande Amadeo Avogadro (1776- 1856), físico italiano que, entre outras contribuições, criou o termo molécula. Infelizmente, sua hipótese de que todos os gases (em determinada temperatura e pressão) contém o mesmo número de moléculas por unidade de volume, de modo geral, não foi aceita como correta antes de sua morte. P á g i n a | 39 quantidade de partículas elementares. Só precisamos considerar o número de prótons e nêutrons no núcleo como base da identificação química de determinado átomo. A figura 2.1 destaca um modelo planetário de um átomo de carbono. Mas lembre-se, essa ilustração é esquemática e definitivamente não está em escala. Na realidade o núcleo é muito menor, embora contenha quase toda a massa do átomo. Cada próton e nêutron possui uma massa de aproximadamente 1,66.10-24 g. Esse valor é denominado unidade de massa atômica (uma). É conveniente expressar a massa dos materiais elementares nessas unidades. Por exemplo, o isótopo de carbono mais comum, C12 (que aparece na figura 2.1), contém em seu núcleo seis prótons e seis nêutrons, com uma massa atômica de 12 uma. É também conveniente destacar que existem 6,023.1023 uma por grama, e que esse valor enorme é conhecido como número de Avogadro, representando o número de prótons ou nêutrons necessários para produzir uma massa de 1 g. Então, o número de Avogadro de átomos de C12 teria uma massa de 12,00 g. Figura 2.1: Esquema do modelo planetário de um átomo de C12. P á g i n a | 40 O número de Avogadro de átomos de determinado elemento é denominado átomo-grama. Para um composto, o termo correspondente é mol; ou seja, um mol de NaCl contém o número de Avogadro de átomos de sódio (Na) e o número de Avogadro de átomos de cloro (Cl). De modo geral, o número de prótons no núcleo é conhecido como número atômico do elemento. A periodicidade bem conhecida dos elementos químicos é baseada nesse sistema de números atômicos e massas atômicas elementares, organizado em grupos (ou famílias) quimicamente semelhantes - colunas verticais - em uma tabela periódica. Você já estudou por diversas vezes a tabela periódica, lembra? Pois bem, olha ela sendo útil aí mais uma vez. A figura 2.2 destaca essa importante ferramenta de estudos, mas você pode visitar o endereço: <http://www.ptable.com/?lang=pt>. e fazer uma fantástica "viagem" pelo mundo da tabela periódica. Figura 2.2: Tabela periódica dos elementos, indicando o número atômico e a massa atômica (em uma - unidades de massa atômica). http://www.ptable.com/?lang=pt P á g i n a | 41 Enquanto a identificação química é feita em relação ao núcleo, a ligação atômica envolve os elétrons e os orbitais eletrônicos. O elétron tem uma carga negativa de 1,6.10-19 C (Coulomb) e é igual em magnitude à carga de +1,6.10-19 C de cada próton. Naturalmente, o nêutron é eletricamente neutro. Os elétrons são excelentes exemplos de dualidade onda-partícula; ou seja, eles são entidades em escala atômica que exibem um comportamento tipo onda e tipo partícula. Mas calma caro(a) aluno(a) que está além do escopo de nossos estudos nesse momento tratar dos princípios da mecânica quântica que definem a natureza dos orbitais eletrônicos (com base na característica ondulatória dos elétrons). Entretanto, um breve resumo da natureza dos orbitais eletrônicos é útil neste ponto. Como você pôde ver na figura 2.1, os elétrons são agrupados em posições orbitais fixas em relação a um núcleo. Além disso, o raio de cada orbital é caracterizado por um nível de energia, uma energia de ligação fixa entre os elétrons e seu núcleo. Acompanhe na figura 2.3 um diagrama de níveis de energia para os elétrons em um átomo do gás nobre criptônio (Kr). Figura 2.3: Representação esquemática dos estados energéticos preenchidos para um átomo de criptônio (36Kr). É importante observar que os elétrons em torno de um núcleo de Kr ocupam esses níveis de energia específicos, com energias intermediárias proibidas. Isto quer dizer que as energias dos elétrons de um átomo são quantizadas; isto é, a energia de um elétron pode mudar, mas ao fazê-lo, ele deve efetuar um salto quântico para uma energia permitida mais elevada (com absorção de energia) ou para uma energia permitida mais baixa (com emissão de energia). Com frequência, é conveniente pensar nestas energias eletrônicas permitidas como estando associadas com níveis P á g i n a | 42 ou estados energéticos. Você com certeza já ouviu falar em níveis de energia, não é mesmo caro(a) aluno(a)?!... A figura 2.4 representa esquematicamente as energias relativas dos elétrons para as várias camadas e subcamadas. Figura 2.4: Níveis de energia associados com os orbitais atômicos. Você tem agora a oportunidade de visualizar uma simulação sobre os níveis de energia e os orbitais atômicos. Acesse o endereço eletrônico: <http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2>. Mas atenção, caro(a) aluno(a), para o perfeito funcionamento das imagens interativas do link é necessário ter instalado os plug-in´s ShockWavePlayer e FlashPlayer no seu computador. Se ainda não tiver, o próprio site te proporciona essa ferramenta. Boa navegação! Obviamente, nem todos os estados possíveis em um átomo estão preenchidos com elétrons. Para a maioria dos átomos, os elétrons preenchem os orbitais energéticos mais baixos possíveis nas camadas e subcamadas eletrônicas. Você mesmo acompanhou na figura 2.3 a representação esquemática dosestados energéticos preenchidos para um átomo de criptônio (36Kr). Quando todos os elétrons ocupam as menores energias possíveis de acordo com as restrições anteriores, diz- se que o átomo está em seu estado fundamental. Na notação convencional, o http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2 P á g i n a | 43 número de elétrons em cada subcamada (ou subnível) é indicado por um índice sobrescrito após a designação da camada e subcamada. Por exemplo, as configurações eletrônicas para o hidrogênio, hélio e sódio são, respectivamente1s1, 1s2 e 1s22s22p63s1. Você certamente se lembra quando estudou as configurações eletrônicas para os elementos de acordo com o famoso diagrama de Pauling, não é verdade?! É importante alguns comentários em relação a estas configurações eletrônicas. Em primeiro lugar, os elétrons de valência são aqueles que ocupam a camada preenchida mais externa. Esses elétrons são extremamente importantes. Como será visto, eles participam da ligação entre os átomos para formar os agregados atômicos e moleculares. Além disso, muitas das propriedades físicas e químicas dos sólidos estão baseadas nesses elétrons de valência. A figura 2.5 ilustra a distribuição em níveis de energia dos elétrons do sódio, considerando o modelo planetário já discutido anteriormente, para destacar a camada de valências. Figura 2.5: Esquema do modelo planetário para o átomo de sódio (11Na). 2.2 Atrações interatômicas entre os átomos Como a maioria dos materiais usados pelo Engenheiro é sólida ou líquida, é desejável conhecer-se as atrações que mantêm os átomos unidos nesses estados. Para que você entenda bem caro(a) aluno(a), pense que na importância destas atrações ilustrada através de um pedaço de fio de cobre. Nas condições usuais, as forças de atração que mantêm os átomos unidos são fortes. Se tal não ocorresse, os átomos seriam facilmente separados, e o cobre se deformaria sob pequenas solicitações. Assim, como no caso deste fio, as propriedades de qualquer material dependem das forças P á g i n a | 44 interatômicas presentes. Mas lembre-se, as atrações interatômicas são consequência das estruturas eletrônicas dos átomos. Três tipos diferentes de ligações primárias ou ligações químicas são encontradas nos sólidos - iônica, covalente e metálica. Você com certeza já as estudou nesse curso e no seu ensino básico. Para cada tipo, a ligação envolve necessariamente os elétrons de valência; além disso, a natureza da ligação depende das estruturas eletrônicas dos átomos constituintes. Em geral, cada um desses três tipos de ligação se origina da tendência dos átomos para adquirir estruturas eletrônicas estáveis, como as dos gases nobres, pelo preenchimento total da camada eletrônica mais externa. Forças e energias secundárias também são encontradas em muitos materiais sólidos; elas são mais fracas do que as primárias, mas ainda assim influenciam as propriedades físicas de alguns materiais. 2.2.1 A ligação iônica A ligação interatômica que é mais fácil de ser descrita é a ligação iônica, que é o resultado da transferência de elétrons de um átomo para outro. A figura 2.6 ilustra uma ligação iônica entre o sódio e o cloro. A transferência de um elétron do sódio é favorecida porque produz uma configuração eletrônica mais estável; ou seja, o íon positivo (cátion) Na+ resultante tem uma camada orbital externa completa, definida como um conjunto de elétrons em determinada órbita. De modo semelhante, o cloro aceita prontamente o elétron, produzindo um íon negativo (ânion) Cl- estável, também com uma camada orbital externa completa. Assim, querido(a) aluno(a), lembre-se que a transferência de elétrons na formação do NaCl produz camadas externas estáveis, com íons positivos e negativos que se formam atraindo-se mutuamente através de forças coulombianas formando a ligação iônica. P á g i n a | 45 Figura 2.6: Ligação iônica entre átomos de sódio e cloro. É importante observar que a ligação iônica é não-direcional; isto é, uma carga positiva é atraída por todas as cargas negativas e uma carga negativa por todas as positivas. Consequentemente, os íons Na+ ficam envolvidos por íons Cl-, e os íons Cl- por íons Na+, sendo a atração igual em todas as direções. O principal requisito que um material iônico sempre satisfaz é a neutralidade elétrica, isto é, o número de cargas positivas é sempre igual ao número de cargas negativas. A figura 2.7 mostra a representação esquemática da ligação iônica no cloreto de sódio (sal de cozinha). Figura 2.7: Representação da ligação iônica no cloreto de sódio. Como dito anteriormente, a ligação iônica é o resultado da atração coulombiana entre as espécies com cargas opostas. Logo, é conveniente ilustrar a natureza da força de ligação para a ligação iônica, uma vez que a Lei de Coulomb é uma relação simples já conhecida por você, Charles-Augustin de Coulomb (1736-1806), físico francês, foi o primeiro a demonstrar experimentalmente a natureza das equações de atração entre cargas opostas. Além das importantes contribuições para a compreensão da eletricidade e do magnetismo, Coulomb foi um pioneiro importante no campo da mecânica aplicada (especialmente nas áreas da fricção e torção). P á g i n a | 46 onde F é a força de atração coulombiana entre dois íons de cargas opostas, k é uma constante de proporcionalidade, Z é a valência do íon carregado (por exemplo, +1 para Na+ e -1 para Cl-), q é a carga de um elétron isolado (1,6.10-19 C) e a é a distância de separação entre os centros dos íons. Uma representação gráfica da equação 2.1, mostrada na figura 2.8(a), demonstra que a força de atração coulombiana aumenta drasticamente à medida que a distância de separação entre centros de íons adjacentes (a) diminui. Essa relação por sua vez, implica que o comprimento de ligação (a) ideal seria zero. De fato, os comprimentos de ligação definitivamente não zero, pois, a tentativa de juntar dois íons com cargas opostas para aumentar a atração coulombiana é combatida por uma força repulsiva oposta, que é devida à sobreposição dos campos elétricos com carga semelhante (negativa) de cada íon, além da tentativa de juntar os dois núcleos carregados positivamente. A força de ligação é a força de atração (ou repulsão) líquida em função da distância de separação entre dois átomos ou íons. A figura 2.8(b) mostra a curva da força de ligação (resultante) para um par de íons. Figura 2.8: Representações gráficas (a) da força coulombiana em função da distância a, e (b) da força de ligação resultante mostrando um comprimento de ligação em equilíbrio (a0) para um par Na+Cl-. P á g i n a | 47 Parece complexo não é mesmo caro(a) aluno(a)?!... Mas calma que estamos apenas fazendo um estudo mais aprofundado sobre a ligação iônica, bem ao nível do seu curso. Também é importante destacar a energia de ligação, E, que se relaciona com a força de ligação por meio da expressão diferencial que aparece na figura 2.9. 𝐹 = 𝑑𝐸 𝑑𝑎 (2.2) Essa relação demonstra que o comprimento da ligação em equilíbrio, a0, que corresponde a F = 0, também corresponde a um mínimo na curva de energia. Figura 2.9: Comparação entre a curva da força de ligação e a curva da energia de ligação para um par Na+Cl-. Assim, prezado(a) aluno(a), entenda que isso é uma maneira de dizer que as posições estáveis de íons correspondem a um mínimo de energia. Ou seja, para mover os íons de seu espaçamento de equilíbrio, é preciso fornecer energia a esse sistema. Por exemplo, pela carga compressiva ou de tensão, ou ainda, através de energia térmica, relacionando-se com o ponto de fusão do material. Neste momento é importante que você acompanhe uma simulação sobrea energia de ligação entre um par de íons no endereço eletrônico: <http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=203>. http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=203 P á g i n a | 48 Tendo estabelecido que existe um comprimento de ligação em equilíbrio, a0, entenda que esse comprimento de ligação é a soma de dois raios iônicos. No caso do NaCl, 𝑎0 = 𝑟𝑁𝑎+ + 𝑟𝐶𝑙−. Mas é importante dizer que essa equação implica que os dois íons sejam esferas rígidas tocando em um único ponto. A figura 2.10 compara dois modelos de um par de íons Na+ - Cl-: (a) mostra um modelo planetário simples dos dois íons, e (b) mostra um modelo de esfera rígida do par iônico. Figura 2.10: Comparação de (a) um modelo planetário de um par Na+ - Cl- com (b) um modelo de esfera rígida. Antes de seguir para o estudo da ligação covalente, é interessante você observar um exemplo que mostra o cálculo da força de atração coulombiana entre Na+ e Cl- no NaCl. (2.3) P á g i n a | 49 Exemplo 2.1.: Usando a equação 2.1 (lei de Coulomb) e os raios iônicos, calcule a força de atração entre Na+ e Cl- no sólido cristalino NaCl. Solução.:Você saberia refazer o exemplo 2.1 se fosse o sólido cristalino Na2O? Utilize equação 2.1 e aceite este desafio. 2.2.2 A ligação covalente Outra ligação forte é a ligação covalente. O nome covalente vem do compartilhamento cooperativo dos elétrons de valência entre dois átomos adjacentes. Como já foi dito anteriormente caro(a) aluno(a), a estrutura eletrônica de um átomo é relativamente estável se o mesmo contém oito elétrons na camada de valência (com exceção da camada K, que é estável com dois elétrons). Então, muitas vezes, um átomo pode adquirir estes oito elétrons compartilhando elétrons com um átomo adjacente. Um exemplo simples deste compartilhamento é a molécula do gás cloro, Cl2, mostrada na figura 2.11, que destaca em (a) um modelo planetário comparado com (b) a densidade de elétrons real, que é nitidamente concentrada ao longo de uma linha reta entre os dois núcleos de Cl, e em (c) a notação abreviada comum de elétrons como uma linha de ligação. P á g i n a | 50 Figura 2.11: Ligação covalente em uma molécula de gás cloro, Cl2, ilustrada com um modelo planetário comparado com a densidade real de elétrons e um esquema de linha de ligação, respectivamente. Outra característica importante dos sólidos covalentes é o ângulo de ligação, determinado pela natureza direcional do compartilhamento dos elétrons de valência. Pois, enquanto a ligação iônica é não-direcional, a ligação covalente é altamente direcional. A figura 2.12 ilustra o ângulo de ligação para um átomo de carbono típico, que costuma formar quatro ligações igualmente espaçadas. Essa configuração de tetraedro resulta em um ângulo de ligação de 109,5º. Figura 2.12: Configuração de tetraedro das ligações covalentes com carbono. Bem, caro(a) aluno(a), essa característica de ser direcional e formar ângulos bem definidos nos leva à discussão de que a ligação covalente implica em intensas forças de atração entre os átomos, o que pode ser evidenciado no diamante, por exemplo, que é o mais duro material encontrado na natureza e que é inteiramente constituído por carbono. Nele, existe uma ligação covalente entre cada par adjacentes de átomos de carbono (C), como mostrado na figura 2.12 que mostra a estrutura tridimensional da ligação no carbono sólido covalente. A força da ligação covalente no diamante é demonstrada não só pela sua elevada dureza como também pela a) b) c) P á g i n a | 51 temperatura extremamente elevada (> 3500ºC) a que pode ser aquecido antes da destruição da estrutura pela energia térmica, ou seja, promover a fusão do material. Figura 2.13: Estrutura tridimensional das ligações do carbono no diamante. Acesse o endereço para visualizar as estruturas do carbono e do grafite. <http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=6>. Embora as ligações covalentes sejam sempre fortes, nem todos os materiais com ligações covalentes apresentam pontos de fusão e ebulição elevados ou alta dureza. O metano, por exemplo, tem muitas ligações covalentes, mas a molécula resultante tem apenas uma pequena atração pelas moléculas adjacentes, porque camadas eletrônicas externas já estão preenchidas (veja figura 2.13). Portanto, as moléculas do metano, assim como os gases nobres, atuam quase que independentemente das outras moléculas. Uma consequência disso é o fato de o metano não se condensar até que a sua temperatura caia a -161ºC. Figura 2.14: Ligação covalente em uma molécula de metano, CH4, ilustrada pela (a) representação bidimensional, pelo (b) modelo tridimensional de esferas rígidas e por (c) ligações covalentes. http://cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=6 P á g i n a | 52 Nesse momento, caro(a) aluno(a), faça um passeio pelo endereço eletrônico: <http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=203>. para visualizar e comparar as ligações iônica e covalente. Isto vai ajudá-lo(a) a entendê-las melhor. Acompanhe a simulação e aproveite para fazer uma comparação entre elas. 2.2.3 A ligação metálica Bem, caro(a) aluno(a), vamos relembrar, a ligação iônica envolve a transferência de elétrons e é não-direcional; a ligação covalente envolve o compartilhamento de elétrons e é direcional. Pois bem, a ligação metálica, o último tipo de ligação primária, é encontrada em metais e suas ligas e envolve o compartilhamento de elétrons e também é não- direcional. Mas esse não é um compartilhamento qualquer dos elétrons de valência. Para entender isso, foi proposto um modelo relativamente simples que muito se aproxima do esquema de ligação. Os materiais metálicos possuem um, dois ou, no máximo, três elétrons de valência, e estes elétrons não se encontram ligados a qualquer átomo em particular no sólido e estão mais ou menos livres para se movimentar ao longo de todo o metal. Eles podem ser considerados como pertencendo ao metal como um todo, ou como se estivessem formando um "mar de elétrons" ou uma "nuvem de elétrons". A figura 2.14 é uma ilustração esquemática da ligação metálica. Os elétrons livres protegem os núcleos iônicos carregados positivamente das forças eletrostáticas mutuamente repulsivas que eles iriam, de outra forma, exercer uns sobre os outros. Adicionalmente, esses elétrons livres atuam como uma "cola" para manter juntos os núcleos iônicos. Este tipo de ligação pode ser fraco ou forte, o que faz com que as energias de ligação variem muito; para se ter ideias, entre 68 kJ/mol para o mercúrio e 850 kJ/mol para o tungstênio, e com isso as respectivas temperaturas de fusão destes metais são muito diferentes, -39 e 3410ºC, respectivamente. http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=2&top=203 P á g i n a | 53 Figura 2.15: Ilustração esquemática da ligação metálica. Embora esta descrição seja muito simplificada, ela permite uma explicação útil para muitas propriedades dos metais. Por exemplo, o arranjo cristalino dos átomos em um metal sólido (que você irá estudar na próxima aula) ajuda a determinar as propriedades mecânicas do metal. Os elétrons livres dão ao metal sua condutividade elétrica elevada característica, pois podem se mover livremente sob ação de um campo elétrico. Também a condutividade térmica elevada está associada à mobilidade dos elétrons de valência, que podem transferir energia térmica de um nível de alta temperatura para outro de baixa. Um outro efeito da ligação metálica é que os elétrons livres do metal absorvem a energia luminosa, daí serem todos os metais opacos. Nesse momento, querido(a) aluno(a), vale a
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